Fotozine ARROz #2

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Ficha Técnica Coordenação geral: Beatriz Chaves Direção Artística: Elisa Freitas Curadoria: Humberto Lemos, Elisa Freitas, Beatriz Chaves, Raisa Pina, Luis Felipe Oliveira, Monica Nassar Design: Luis Felipe Oliveira Produção executiva: Raisa Pina Assistente de produção: Beatriz Ramos Assessoria de comunicação: André Porto Apoio: Espaço f/508 de Fotografia Artistas Alejandro Zenha Carla Ribeiro Araújo Cauê Vinicius dos Santos Monteiro Coletivo Tarantino Dario Joffily Deborah Gomes Souza Edna Maria Marques da Luz Ramos Felipi Souza dos Santos Franciele Mussio Mendoza Gabriel Brisola da Cunha Giullia Chaves Gu da Cei Isabella Atayde Henrique João Leite Jonas Gabriel Flores Matos José de Deus Karina Rampazzo Lucas Barbosa Bois Luiz Filipe Barcelos Naiara Pontes Nelson Luiz de Oliveira Raul Brandão Sampaio Romildo Souza Télio Luiz Pacheco


Apresentação A arte tem uma função social de suma importância: é a cristalização de um tempo e espaço específicos, a materialização de um sensível compartilhado, que propicia a reflexão crítica sobre aquilo que, por vezes, passa naturalizado pela inércia cotidiana. A arte é necessária por sua capacidade de construção de discursos históricos, de questionamentos da realidade e por possibilitar um distanciamento simbólico entre sujeito e meio que viabiliza o esclarecimento da população. A partir da poética, é possível ver a política com todas as forças de poder que incidem sobre ela. A sociedade brasileira enfrenta neste 2018 uma intensa crise resultado de uma teia complexa. As reivindicações que começaram em 2013 se transformaram por diversas vezes ao se confrontarem com momentos graves. O país passou pelos protestos estudantis contra o aumento das passagens de ônibus; passou pela Copa do Mundo e a crise dos estádios; passou pelo impeachment em nome de Deus e da família; passou por um momento de diminuição mais machista do que política da ex-presidenta Dilma Rousseff; encarou um governo liderado por homens brancos elitistas, que chegaram congelando gastos com educação e ateando fogo no Museu Nacional do Rio de Janeiro. Não bastasse isso, ainda passou pela prisão estranha de um ex-presidente da República, impedido de falar de dentro da cadeia, e testemunhou a execução política da parlamentar Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes. O que parecia ser ruim piorou ainda mais com a corrida de Jair Bolsonaro à presidência e com todo seu discurso racista, machista, violento e opressor. Em tempos de ameaça à liberdade de expressão, há de se comemorar uma publicação como esta. Apesar de todos esses acontecimentos decisivos que a década de 2010 reservou para o Brasil, não há nada de novo na história. No fim das contas, sempre são homens brancos, herdeiros de antigos colonizadores, por vezes militares, que preferem punição à educação, que parecem vencer em nome de uma ordem cruel e de um progresso para poucos. Onde se coloca o medo, há de se criar formas de expurgação individual que se tornam, querendo ou não, sociais. Como já diz a máxima feminista, "o pessoal é político". As próximas páginas deste segundo volume da Fotozine Arroz apresentam as diversas crises encaradas atualmente: a política, a econômica, a social, a existencial, e, por que não, a amorosa, que apesar da paixão, não deixa de doer menos que todas as outras. Mesmo com todas as tentativas de se enfraquecer a arte e a cultura, a criação poética segue muito bem, obrigada. Em tempos de crise, é ela uma das revolucionárias que irão libertar esse povo da alienação, da exploração e da injustiça da história que ficará registrada para o futuro. Raisa Pina Professora de História da Arte Moderna e Contemporânea


Alejandro Zenha


Fixe o olhar num ponto qualquer. O enquadramento é 3x4: lambe. Grita. Em silêncio. É foto - não é vídeo. Quanto mais silenciado, mais fácil a pele se abre. O rasgo é diagonal. Deixa. Só um dedo primeiro. Aos poucos. Crise é dentro. É a-dentro. Um engasgo ao contrário. Gestação e parto [do verbo partir].


Carla Ribeiro AraĂşjo


crise: substantivo feminino. a crise está atrelada a dor, ao momento que define a evolução de algo para pior, é a situação de falta, o estado de incerteza. a crise se faz pergunta quem somos, qual nossa identidade, se estamos perdidas, se temos que nos achar. pra que? porquê? pra onde? essa obra é a representação dessas palavras. estou sem rosto, sou qualquer uma. sou só uma. estou semi-despida, sempre no meio do caminho. estou perdida ou me achei? me acharam? eu pertenço a terra ou morrerei na escassez dela? eu sou crise.


a Escuta: ato político resistência contra discurso de ódio em/são tempos c[rise]ólera


CauĂŞ Vinicius dos Santos Monteiro


Qual a diferença entre os animais ditos racionais e os irracionais? O díptico faz parte de uma série de trabalhos que faz o convite a refletirmos sobre o abismo que se formou entre o instinto e da racionalização exacerbada do ser humano. Estamos vivenciando um momento cuja ideia - enraizada desde o sistema cartesiano do pensamento - de que o ser humano se difere drasticamente dos outros animais por seus aspectos racionais entra em drástico conflito com diversos problemas do mundo contemporâneo. A destruição ambiental e o não respeito a natureza, a vivência em uma sociedade com uma grande quantidade de pessoas desenvolvendo enfermidades como depressão, o crescimento atual do conservadorismo intolerante e violento ao diferente, dentre outras questões sérias nos levam a reflexão de quão racionais somos. Ao mesmo tempo há, concomitantemente, uma busca por aspectos de harmonização entre o emocional, rotulado como mais instintivo, e o racional. Seria um resgate ao instintivo? Seria necessário esse resgate para um maior equilíbrio nas sociedades humanas? O díptico apresentado foi desenvolvido e faz parte de um projeto ainda em andamento do Coletivo Tarantino e almeja despertar esses questionamentos e auto criticas sobre a forma que estamos ocupando e nos relacionando com o mundo e entre nós.


Coletivo Tarantino


Dario Joffily


foi bem ali. bem aqui, no canto da boca. na boca do estômago. um beijo seguido de um soco. com um intervalo entre os dois, de alguns passos, meses ou amassos. é a jornada que importa, diz o povo. mas é o gosto que fica, diz a boca. entre a paixão e a crise, existe mais que o espaço, o tempo ou o desgaste. existe a gente. e é isso que dói. o medo de encontrar você na esquina e não saber o que dizer só não é maior do que a vontade de dizer tudo aquilo que não consigo encontrar. me distraio com o jogo de palavras e esbarro com esse nosso lugar. olha, foi bem ali.


Debbs Gomes


Crise Crise Moral Crise Racional Crise Existencial D.M.N.M Dinheiro Manda no Mundo Dinheiro Manda na Mente Liberem As Armas Clamam os Influentes Liberem As Armas O Pobre Quer Ser Gente Crise Moral O Mito, O Messias, O Mártir Quem? Jesus? Não! O Povo Se Revolta Corrupto Ladrão Colocaram Ele Na Cruz Crise Racional Não Curto Bixa Afrontosa O Gay Padrão Arrota Não Curto Essa Gente Que Gente? Essa Gente Doente O Homem de Bem Mostra O Dente Fábio Assunção Alexandre Frota Não Curto Trans Que Lorota Crise Existencial Dizem Que O Dinheiro Compra Tudo Só Não Compra Moral Charuto Cubano Cordão de Ouro Em Brasília É Normal Que Crise? Isso Não Há No Planalto Central Dinheiro Manda no Mundo Dinheiro Manda na Mente Crise Financeira? Crise Moral, Racional, Existencial


Crises distanciam. Forçam mudanças, causam desencontro. A dureza da vida urbana cria barreiras - visíveis e invisíveis. Nesse estado de incerteza, escassez e desequilíbrio, pessoas - na busca incessante de suprir suas necessidades são submetidas a um ritmo, onde as pausas impostas os obrigam a enxergar o outro. Não existe solidão. Existe solidão.


Edna Maria Marques da Luz Ramos


Felipi Souza dos Santos


CONTER [ ] Verbo 1. transitivo direto Frear o ímpeto de; impedir de avançar. 2. transitivo direto e pronominal Exercer controle sobre (alguÊm, algo, ou si mesmo); reprimir(-se), refrear(-se). 3. transitivo direto e pronominal Ter em si; encerrar(-se). 4. pronominal Consistir, resumir-se. 5. pronominal Manter-se, preservar-se.


Meta um grelo na geopolítica A palavra crise pode nos ajudar na compreensão sobre a atual conjuntura política e social do país e ao mesmo tempo é uma noção pouco explorada em sua complexidade. Mas será que a crise é somente um período crítico? Deixamos de lado o exercício de pensar a sociedade de forma dialética e de exercer a potencialidade transformadora da crise. Nesse momento de avanço conservador e da agudização da democracia liberal, a crise nos leva a tomar decisões. Os movimentos feministas são um brilhante exemplo de contribuição desta luta que vai além dos limites da política institucionalizada e que nos demonstram a necessidade de superação do nosso atual modo de vida.


Franciele Mussio Mendoza


Gabriel Brisola da Cunha


Tentar ser, ser de novo, repetir-se, desfazer-se, ser outro, nĂŁo mais ser.


Giullia Chaves


dualidade. a mesma água que salva e dá a vida também tem o poder de danificar. assim nos vemos em meio à crise: ou falta ou devasta. origem. água. sentir. viver. afogar. secar. morrer. o ideal é sempre o como mantê-lo?

equilíbrio, mas


Gu da Cei


Momento que me define e me restringe de ser e mover como realmente sou ou estou para alĂŠm de um perfil fĂ­sico e moral. Crise de imagem. Crise de cidade. Crise da estrutura que insiste em me enquadrar para me controlar. Crise-me. Cuidado.


Isabella Atayde Henrique


Na iminência da partida com a promessa vazia da volta, sinto que, mesmo antes de partir, já não quero voltar. É a vida dando infinitas voltas em minha volta. Tantas e tantas vezes que perco meu eixo. Aperto o passo ou me detenho? Não importa, não saio do lugar. O apego é mesmo cruel. Abandono-me... Abandona-me!


JoĂŁo Leite


Apontamento Perder-se Quais caminhos escolher em meio, pisar devagar no frente. É um dedo que sobe ao céu rapidamente e desce já com intenção de guiar. Mas pra onde que se guia? Ali, parado e rente. Na necessidade de uma razão frágil para chegar em curvas, os nós e o ir em deriva. Todo dia.


O buraco, a falta de proteção, algo que impeça algum tropeção e o lixo. São sinais de crise e ver isso acontecee tão perto de um monumento,me fez pensar um momento, que na periferia longe desses previlégios, esse descaso é o único "caso" que existe.


Jonas Gabriel Flores Matos


JosĂŠ Lucas de Deus Alvarenga


''Vendo' é uma série de faixas amarelas com 'Vendo' escrito, e nada mais. O cenário em que essas faixas se instalam é uma organização urbana cada vez mais focada na individualização de espaços, elas surgem numa tentativa desesperada de venda de qualquer lugar o tempo todo, e fazem parte de um sistema crescente de especulação imobiliária.


Karina Rampazzo


No desdobramento da realidade a memória recorre a sonhos estranhos, incorporando reflexos do inconsciente para lidar com o obscuro. Do trauma e desconforto das imposições afetivas, vestígios já desprezados incorporam novos territórios. Em tempos disformes Apolo e Dionísio são o mesmo vulto. Subimos ou descemos as escadas?


Afinal, quantas crises haverão de existir para que o homem se liberte do sistema econômico que o condena à morte espiritual? Quantos noticiários não serão publicados para alertar do perigo que corre a humanidade por se render ao modelo que enriquece poucos e mata tantos de fome? A quem protegem essas grades que separam o povo do que é seu?


Lucas Barbosa Bois


Luiz Filipe Barcelos


KRISIS condição do metal que toma forma não ser mais o mesmo não mais faca, fogo, fuga não mais fé, foice, farpa não mais o mesmo


Cidade Repleta de Incertezas... Socorro! Lá vem as Eleições.


Naiara Pontes


Nelson Luiz de Oliveira


dimensão ignota desfeita a expectativa quanto à vinda de um quarteto de cordas alguém acendeu seu cigarro auscultando o nada o que foi registrado como quase tudo sem muito critério do murmúrio leviano e fragmentado extraíram-se velhas cantilenas sobre a incapacidade coletiva gosto de traição e auto sabotagem debalde o vórtice nos aguardava sequioso


Raul BrandĂŁo Sampaio


Seu João Fernandes apareceu do nada e com um facão na mão enquanto atravessámos uma das pontes da abandonada Barragem Bico de Pedra, região perto de Itatiaia me Minas Gerais. Era a gente de um lado e ele do outro. Seu João nasceu no Paraná, mas vivia em Roraima cuidando de gado, até escutar a história de que tinha ouro por aqui. Achou só Topázio. Tem 70 anos e disse que ainda vai viver muito. Vez ou outra, ele volta a garimpar.


O que fazer quando a vida nos tira tudo e nos deixa sem direção ou motivos para seguir o caminho, que nem mais sabemos se ainda existe? Para alguns resta apenas o tempo a ser preenchido com o mais absoluto nada. Para outros, o auge da crise é o momento de retomar as rédeas do próprio destino.


Romildo Borges de Souza


Télio Luiz Pacheco


Prato Vazio Já diziam os Titãs, Você tem sede de quê? Você tem fome de quê?..... O prato está... cheio de intolerância política, racial, de gênero, cheio de homofobia.... vazio de bom senso, ética, relacionamento humano... cheio de redes sociais, imagens que não dizem nada, cheio de likes... vazio de arte, cordialidade, paciência, tempo... cheio de eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu... O prato está vazio, vazi, vaz, va, v............



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