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Ofélia
uma publicação Passaporte Cultural f/508
Artistas: Ana Antonelli Dani Almeida Graziella Cerveira Humberto Lemos Isabel Fonseca Lucas Basílio Mariana Kobal Paula Basso Raquel Pellicano Suely Iwamoto Tati Ximenes Thico Lopes
Curadoria orientação: Humberto Lemos
Diagramação: Raquel Pellicano
Texto: Dani Almeida
e
Imersa nas águas do rio, entre flores e
Foi pertinente a escolha do tema
canções, Ofélia navega do
para os trabalhos lançados nesta
apagamento da existência para a
publicação. Ao completar 420 anos,
imortalidade. Coadjuvante na trama,
o texto shakespeariano encontra um
sua morte repleta de simbolismos não
mundo pandêmico, onde ficamos, tal
é sequer encenada (apenas descrita)
qual Ofélia, à deriva no espaço e no
em Hamlet, considerada uma das
tempo e submergimos no dualismo
principais peças do dramaturgo
tão presente na peça. Nos
inglês William Shakespeare.
defrontamos com questionamentos sobre vida e morte, incerteza e medo,
À margem da tragédia, a
loucura e razão: “ser ou não ser?”.
personagem faz a travessia da imaterialidade ao corpóreo quando
Em Hamlet, Ofélia está inserida num
ganha vida em pinturas, esculturas e
cenário montado por relações de
diversas produções artísticas ao
poder, violência e morte que a
longo dos séculos. Retirada do
arrastam para o luto, a dor, angústia
espaço e do tempo que ocupava e
e, por fim, o suicídio.
realocada em novas dinâmicas e dimensões, Ofélia renasce.
Ao se debruçar sobre a personagem, as alunas e os alunos do F508 se
Em 2021, ela vem novamente se
apropriam de sua imagem,
materializar de formas distintas,
abraçaram os simbolismos por trás de
habitar outros corpos e apropriar-se
sua morte e subverteram sua lógica.
de discursos a partir da proposta do
Ofélia ganha, assim, novos sentidos a
f508 aos participantes do Passaporte
partir de múltiplas representações e
Cultural: revisitar a personagem,
interpretações. Retratos e
investigar seus significados e explorar
autorretratos, releituras
as possibilidades de representá-la;
performáticas, imagens abstratas e
representações que atravessam a
fotografias de objetos revelam uma
forma como enxergamos, revelamos,
pluralidade de técnicas, estilos e
manifestamos e apresentamos a nós
poéticas.
mesmos e nossas experiências.
As produções trazem leituras líricas,
Em meio a tantas versões de si
oníricas, incômodas, críticas ou
mesma durante esses quatro séculos,
políticas, que rompem com padrões e
Ofélia sai da literatura e vai para
estereótipos, desconstroem para
outras manifestações artísticas,
ressignificar. Vemos uma Ofélia
ganhando ares de
neutra, que se identifica de várias
contemporaneidade quando
formas e com gêneros distintos,
entendida como obras que
abertos à autodeterminação. Nas
referenciam outras obras.
obras, tal como na peça, a dualidade se faz presente.
Assumindo uma arte de autoprodução, de suporte em suporte
Viva ou inanimada, ela ressurge
ela fabrica a si própria, mantendo-se
encarnada na natureza e interagindo
atemporal. Com a morte, Ofélia
com o mundo de diversos modos. Sua
sobrevive ao tempo e a tempos
presença é marcada, sugerida ou
sombrios, resistindo e se
apagada. A corporeidade da
transformando. Afinal, a arte é viva.
personagem antes fictícia extrapola os limites dos corpos, e transcende a concretude do sujeito ao explicitar sua imaterialidade e imortalidade.
1601 - 2021 420 anos da obra Ofélia, de William Shakespeare
Ana Antonelli
Dani Almeida
Graziella Cerveira
Humberto Lemos
Isabel Fonseca
Lucas Basílio
making of clipe de Rhaissa Bittar
Mariana Kobal
Paula Basso
Raquel Pellicano
Suely Iwamoto
Tati Ximenes
Thico Lopes
O f/508, ao longo dos seus 16 anos de história, promove e instiga intensas reflexões acerca da fotografia enquanto meio de expressão e produção pessoal e autoral, e não como fim. Construímos, desconstruímos e reconstruímos conceitos e diálogos multidisciplinares com propostas de encontros entre a literatura, a fotografia, as artes visuais e os suportes multimídias clássicos e contemporâneos.
f508.art