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III — A terminologia dos discursos de Jesus
concisos e marcantes, parábolas breves e concretas, e tudo gira em torno do reino de Deus e da atitude correta diante de Deus e do semelhante. Não poderia ser que unicamente a apresentação sinótica mostra o Jesus genuíno, histórico, enquanto o “Cristo joanino” representa flagrantemente uma livre invenção do evangelista justamente em seus discursos?
Cabe-nos ser muito cautelosos com o veredicto do que “poderia” ou “não poderia” ter sido histórico. É bem compreensível que as palavras e parábolas de Jesus, como trazidas pelos sinóticos, eram facilmente memorizadas justamente na Galileia e no povo simples, sendo transmitidas nesse contexto. No entanto, é imperioso que por isso Jesus também tenha falado da mesma forma em Jerusalém e no confronto com os grupos dirigentes? Não seria plausível que aqui estivesse em jogo, de maneira bem diferente, também sua pessoa, sua autoridade, a fé nele, a forma como vem ao nosso encontro, logo na primeira ida de Jesus à capital, no episódio da purificação do templo e no diálogo com Nicodemos? Afinal, esses “discursos de Jesus” — inclusive na sinagoga de Cafarnaum! — justamente não são “pregações”, mas sempre “diálogos”, discussões duras, nas quais as respostas de Jesus deixam perceber as perguntas e objeções de seus adversários, mesmo quando João não as insere expressamente.
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Indiretamente, os próprios sinóticos evidenciam que Jesus de fato também falou de maneira “diferente”. Eles têm conhecimento de “longas pregações” (Mc 6.34) e de uma proclamação de Jesus que durou vários dias (Mc 8.2). Nessas ocasiões, porém, não é possível que Jesus tenha alinhavado durante horas apenas ditos e parábolas breves. “Longas pregações” requerem exposições com nexo, assim como João relata no cap. 6 também em relação à atuação de Jesus na Galileia.
É necessário que nos detenhamos ainda mais nesse ponto, uma vez que também comentaristas que sustentam a autoria do apóstolo João nesse evangelho apesar disso consideram os discursos de Jesus como livre elaboração do evangelista. F. Büchsel18 opina: “O quarto evangelho nos traz a realidade histórica de Jesus apenas nos moldes da compreensão, mais precisamente da compreensão adquirida posteriormente pelo evangelista, cuja liberdade bastante marcante se contrapunha à compreensão meramente histórica.” W. Wilkens19 fala da “incrível liberdade do quarto evangelista diante da tradição, fundada sobre a autoridade do testemunho autêntico.” H. Strathmann20 torna-se ainda mais explícito: “Costuma-se dizer que os discursos joaninos de Jesus ‘teriam passado pela pessoa de João’. Correto! Contudo, o que significa isso? Os discursos de Cristo em João são discursos de João sobre Cristo. João serve-se deles como forma para pregar sobre Cristo, motivo pelo qual também ocasionalmente os discursos de Jesus, inclusive na forma, repentinamente transitam para discursos sobre Jesus. Em outras palavras: Em sua exposição, João não presta tributo ao historicismo, mas ao princípio da estilização proclamatória.”
Por trás dessas declarações certamente existem observações corretas. Isso vale sobretudo com vistas à linguagem peculiar no Evangelho de João, que também influi no linguajar de Jesus nessa apresentação. “É frequentemente constatado que em todos os lugares dos escritos joaninos é possível encontrar o mesmo linguajar, independentemente se o que fala é Jesus ou João Batista ou João, filho de Zebedeu. Entre os discursos de Jesus e as cartas de João não existe diferença de estilo”.21 Nesse ponto pode-se perceber nitidamente que em longos anos de trabalho de pregação diversificada João assimilou dentro de si tudo o que havia vivenciado com seu Senhor, reproduzindo-o agora com o seu linguajar.
18 Op. cit., p. 9s. 19 Die Entstehungsgeschichte des vierten Evangeliums, Zollikon 1958. 20 Op. cit., p. 22. 21 F. Büchsel, op. cit., p. 9.