CONGREGAZIONE DELLO SPIRITO SANTO ESPÍRITO SANTO – VIDA NO ESPÍRITO 02 FEVEREIRO 2015 – 15 MAIO 2016
AC - II/7/4-2016 – PT
INTRODUÇÃO
Cor unum et anima una A unidade da nossa Congregação é como a de um ser humano: Manifesta-se em ações prioritárias comuns: a evangelização dos pobres, concretamente a evangelização dos escravos negros - é a unidade visível do corpo. Manifesta-se também na espiritualidade comum, o carisma particular que nos anima: a consagração ao Espírito Santo sob a invocação do Imaculado Coração de Maria - é a unidade profunda dos corações. O caso dos Espiritanos é particular: somos herdeiros de dois fundadores, Poullart des Places e Libermann. Em 1848, a Sociedade do Sagrado Coração de Maria de Libermann fusionou com a Congregação do Espírito Santo de Poullart. As razões que prevaleceram nesta fusão podem ser procuradas no plano jurídico das constituições e regras de vida - foi este o tema da tese de Michel Legrain, na dimensão do fim missionário comum: a evangelização dos pobres nos mesmos territórios - os escravos e povos negros das colónias. Estes motivos influíram certamente ao nível da Propaganda em Roma para evitar conflitos missionários no terreno. Um carisma comum Mas seria insuficiente ficar nesta dimensão: Libermann não aceitou a fusão do Sagrado Coração de Maria com o Espírito Santo apenas por estratégia missionária. Havia afinidades espirituais mais profundas, um carisma comum que o Espírito Santo semeara no coração dos nossos 2 fundadores e que permaneceu vivo através dos séculos, para além das mudanças das situações e das obras missionárias: a afinidade de uma consagração comum ao Espírito Santo sob a invocação do Imaculado Coração de Maria, para a evangelização dos pobres. Para além das diferenças de proveniência social e religiosa, de contexto histórico e de percurso pessoal, é impressionante ver esta sintonia profunda em Poullart e Libermann, esta comunhão dos nossos dois fundadores numa dupla e única consagração. Esta novena de Pentecostes de 2016, dedicada ao tempo da fusão, quer ajudar-nos a melhor percebê-la para melhor a vivermos juntamente hoje: "Cor unum et anima una". No momento em que procurava o título para a sua futura sociedade, Libermann escreveu em 1844, comentando a Regra provisória de 1840: "Pensava que a Sociedade devia encontrar na sua consagração todas as suas devoções e um modelo perfeito de todas as virtudes fundamentais do apostolado" (p. 39-40) Citaremos amplamente a carta que o P. Libermann escreveu a 20 de Dezembro de 1848, imediatamente depois da fusão, às comunidades de Bourbon e da Maurícia, de Dakar e do Gabão, para tranquilizar os seus missionários, primeiros membros do Sagrado Coração de Maria: ela revela-nos o coração de Libermann, como é que ele viveu o projeto da união do "Sagrado Coração" com o "Espírito Santo". Citaremos também a Notice sobre a Congregação do Espírito Santo e do Imaculado Coração de Maria e as suas obras1, 15 meses depois da fusão. Nesta INFORMAÇÃO, Libermann partilha o seu ponto de vista, como é que viveu estes acontecimentos: A história da Congregação do Espírito Santo desde as origens - único texto em que se refere a Poullart des Places -, a história da sociedade do Sagrado Coração de Maria: a sua inspiração inicial, os seus começos missionários,
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Designá-la-emos nestas notas por "NOTICE", na versão editada pelo P. Coulon: Notice sur la Congrégation du St Esprit et de l'Immaculé Cœur de Marie et sur ses oeuvres par François Libermann (1850) in Claude-François Poullart des Places et les Spiritains, - P. COULON (dir.), ed. Karthala 2009 p. 647-660.
as razões da união entre as duas congregações. "Se tivesse sido melhor conhecido, este texto talvez tivesse evitado muitas ulteriores polémicas sobre a fusão"2. Neste ano da Misericórdia, estes dois textos exprimem bem a compaixão de Libermann, Le Vavasseur, Tisserant e Laval, pelos escravos e pelos negros da África e das Ilhas. 1. Sexta-feira 6 de Maio - Carisma da fundação com Poullart - Pentecostes 1703 O P. Libermann começa a NOTICE com a fundação da Congregação do Espírito Santo mencionando Poullart des Places "venerável fundador" - único documento nos seus escritos: A congregação do Espírito Santo foi fundada no dia de Pentecostes de 1703 pelo Sr. Poullart-Desplaces [sic], da diocese de Rennes, com o fim de formar eclesiásticos destinados a dedicar-se às obras mais abandonadas. Durante muito tempo esta obra só subsistiu com esmolas de pessoas caridosas; o próprio venerável fundador as ia procurar, servia, além disso, os seus estudantes com as suas próprias mãos, e prestava-lhes os mais humildes serviços "3. No princípio, eram apenas dois ou três "estudantes", mas em breve foram 12: na quaresma de 1703, Poullart deixou o quarto do Colégio Luís-o-Grande para ir viver com eles no Gros Chapelet. Este pequeno grupo, segundo a Gallia Christiana4, exprime "ao virtuoso fundador" o desejo "de erigir em associação clerical a sua pequena comunidade ". Era o seu mais caro desejo. Fundação no dia de Pentecostes de 1703 O jovem Poullart des Places vivia então uma profunda experiência do Espírito Santo (Agosto de 1702 - Dezembro de 1703), com graças de oração afetiva e uma grande devoção filial à Imaculada Conceição. É certo que ele rezou à Virgem Maria, para acolher as luzes interiores do Espírito Paráclito. Propôs então aos "estudantes pobres" que se consagrassem ao Espírito Santo, no dia de Pentecostes, aos pés da Virgem Negra, na capela de Nossa Senhora do Bom Sucesso, na igreja de S. Estêvão des Gres, em Paris. Segundo algumas fontes, na véspera, pregou-lhes uma recoleção com o tema: "O Espírito de Deus repousa sobre mim, Consagrou-me com a unção. Enviou-me a proclamar a Boa Nova aos pobres…" (Lc 4,18). Um registo dos Arquivos Espiritanos testemunha: "O Senhor Cláudio Francisco Poullart des Places, no ano mil setecentos e três, na festa de Pentecostes, sendo apenas aspirante ao estado eclesiástico, começou a fundação da referida comunidade e Seminário consagrado ao Espírito Santo, sob a invocação da Santíssima Virgem concebida sem pecado…"5. Era 27 de Maio de 1703: esta celebração é considerada como a fundação da Congregação do Espírito Santo. Ela faz resplandecer os três elementos essenciais do carisma espiritano: consagração ao Espírito Santo, no dia de Pentecostes "sob a invocação da Santíssima Virgem concebida sem pecado", ao pés da Virgem Negra de pobres estudantes seminaristas, destinados à evangelização dos pobres Regulamentos gerais e particulares (1705 - 1707) 2
Paul Coulon, Présentation de la Notice ibid. p. 649. NOTICE …, p. 651. 4 Gallia Christiana, t. VII, 1744, col. 1042. 5 Registo dos Associados começado em 1734, reproduzindo as especificidades de um "antigo registo", Arquivos Espiritanos. Ver Sean P. FARRAGHER, Led by the Spirit,… p. 126. 3
Poullart des Places inscreveu este carisma da fundação nos Regulamentos gerais e particulares (1705 - 1707). Os comentários do P. Lécuyer, colocados em nota de rodapé, são importantes para compreender a força das palavras de Poullart. 1. Todos os estudantes adorarão de modo particular o Espírito Santo ao qual foram especialmente consagrados6. Terão também uma singular devoção à Santíssima Virgem, sob a proteção da qual foram oferecidos ao Espírito Santo7. 2. Escolherão as festas do Pentecostes e da Imaculada Conceição como festas principais. Celebrarão a primeira para obter do Espírito Santo o fogo do amor divino8, e a segunda para obter da Santíssima Virgem um pureza evangélica9: duas virtudes que devem constituir todo o fundamento da sua piedade. Estas escolhas inpsiradas por Deus irrigariam toda a história da obra, em breve chamada Seminário do Espírito Santo, depois Congregação do Espírito Santo. Os discípulos de Poullart des Places tiveram uma grandíssima preocupação de fidelidade ao carisma do fundador. Texto bíblico: Com Maria, como os Apóstolos no Cenáculo: At 1,13-14; 2,1-4 J.P. Hoch, Superior Geral, na sua mensagem de Pentecostes de 2011, em preparação para o capítulo de Bagamoyo, recordava "A nossa consagração ao Espírito Santo é inspirada pela nossa filial devoção à Virgem Maria".10 Para a evangelização dos pobres, O Espírito faz contemplar e amar Maria. A Virgem faz descobrir e acolher o Espírito. Qual é o meu caminho espiritual? Sou-lhe fiel? Oração - Fórmula de consagração - Orações diárias 1845 Não conhecemos com certeza a fórmula de consagração feita por Poullart em 1703. É provavelmente aquela que encontramos no livro de oração dos estudantes do Seminário do Espírito Santo, reeditada em 1845: Preces diurnae in Seminario S. Spiritus recitandae, Paris, 1845. Duas vezes por ano, no Pentecostes e na festa da Imaculada Conceiçã0 - e isto até 1848, data da fusão - os espiritanos, durante uma cerimónia solene, renovam a sua consagração ao Espírito Santo por Maria. Possuímos o textos de duas alocuções pronunciadas, na capela da rue Lhomond, mais de 130 anos depois da fundação, por WARNET, sétimo sucessor de Poullart des Places, no dia 8 de Dezembro de 1837, na festa da Imaculada: "O objeto desta cerimónia, que se renova duas vezes por ano, consiste num ato de consagração que fazemos de nós mesmos ao Espírito Santo sob a invocação de Maria concebida sem pecado". e no dia 26 de Maio de 1839, no Pentecostes:
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Devotados: consagrados. A casa foi inaugurada na festa de Pentecostes, mas a consagração especial ao Espírito Santo tem um alcance bem mais profundo do que esta recordação (Lécuyer). 7 O fundador conta com a proteção da Virgem para que os estudantes pertençam inteiramente ao Espírito Santo a quem foram oferecidos (Lécuyer). 8 No princípio da sua obra: a caridade… que o Espírito Santo derrama nos corações como um fogo (Lécuyer) 9 A festa da Imaculada Conceição é uma das duas principais festas da casa. Poullart des Places e os espiritanos foram proféticos, muito antes de 1854… A pureza evangélica não é apenas a castidade corporal, mas uma pureza que imita tanto quanto possível a de Maria, isenta de toda a manhca de pecado (Lécuyer). 10 Extrato do sermão de 8 de Dezembro de 1837 e de 26 de Maio de 1839, Arquivos espiritanos 10 B-I - Citado por J. Michel, Claude François Poullart des Places, p.300-301.
Compreendamos bem a amplitude destas três palavras: se dedicantem, consecrantem et voventem. Dizendo "eu dedico-me, eu consagro-me". É de algum modo a dedicação e a consagração que fazemos de nós mesmos ao Espírito Santo; como os templos dedicados ao seu culto, como os vasos consagrados em sua honra…"11. Podemos recitar esta oração neste primeiro dia da novena… 313 anos depois da fundação: " Santa Maria, minha boa Mãe e minha Soberana, …, humilde e piedosamente prostrado a vossos pés, imploro a vossa assistência. A mim, vosso servo, ajudai-me a dedicar-me, a consagrar-me e devotar-me ao Espírito Santo, vosso celeste Esposo, em honra do qual, apesar da minha fraqueza, quero assumir hoje um compromisso muito importante. Minha boa Mãe, escutai-me; Espírito todo-poderoso, escutai a minha boa Mãe, e, por sua intercessão, dignaivos iluminar o meu espírito com a vossa luz e abrasai o meu coração com o fogo do vosso amor, a fim de que, nesta casa que vos é consagrada, faça tudo o que vos agrada, tudo o que se refere à vossa glória, à minha santificação e à edificação dos meus irmãos…" 12. 2. Sábado 7 de Maio - 1840 - Declínio e agonia da Congregação do Espírito Santo - Primeiros Projetos de restauração de FOURDINIER e LEGUAY 1710-1763: São confiados à "Congregação do Espírito Santo" territórios de missão O P. Bouic, superior durante 53 anos (1710-1763), consolida a obra dos "estudantes pobres". Os "importantes serviços que prestavam às dioceses os padres saídos do seminário do Espírito Santo"13, merecem um reconhecimento oficial do Estado e da Igreja de França. Em 1726, as cartas patentes do rei Luís XIV autorizam o estabelecimento de uma comunidade de estudantes com o título do Espírito Santo e da Imaculada Conceição - "6 diretores… cerca de 80 pessoas". O P. Bouic adquire em 1731 uma casa na rue des Postes (rue Lhomond, 30) e abre-a no dia 1 de Janeiro de 1732. Muitos dos padres formados no Seminário do Espírito Santo partem, com os MEP, para o Canadá, depois para a Ásia. São, entretanto, confiados à "Congregação do Espírito Santo" territórios missionários: S. Pedro e Miquelon (1765), a Guiana francesa (1768), S. Luís do Senegal (1779). Acontece, contudo, uma coisa espantosa: Poullart tinha fundado a sua obra com seminaristas, mas só os que têm a responsabilidade do Seminário são membros da "Congregação do Espírito Santo". Os outros padres, enviados para as missões, mesmo que se digam Espiritanos, são seculares. 1789-1832: O terramoto das Revoluções francesas - A barca do "Espírito Santo" na tempestade "Na grande revolução de 1792, a congregação do Espírito Santo partilhou a sorte de todos os outros estabelecimentos religiosos de França. O seminário foi suprimido, os padres dispersados, a casa vendida pelo Estado… Quando a paz regressou a França com a concordata de 1801, o P. Bertout, só e sem casa, recomeçou a obra de Poullart-Desplaces (sic), no meio de inúmeras dificuldades"14.
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Preces diurnæ in Seminario S. Spiritus recitandæ, Paris, 1845. Citado por Joseph MICHEL, biographie 1962, p.288s. NOTICE …, p. 651. 13 NOTICE p. 651 14 Ibidem p. 651 12
Napoleão restabeleceu a Congregação do Espírito Santo a 23 de Março de 1805, mas suprimiu-a quatro anos depois. "Em 1816, um decreto real legalizou a aprovação". O P. Bertout pôde comprar de novo a casa da rue des Postes e, em 1822, a Congregação tomou posse do Seminário.
1830 - Depois das Revoluções: Uma obra muito enfraquecida, em declínio, com uma missão impossível A partir de 1830, a França pondera uma emancipação progressiva dos escravos e o Governo encarrega o Seminário do Espírito Santo de formar o clero colonial: "O Seminário do Espírito Santo é a única Congregação que, pelo fim da sua instituição, se encontra hoje em condições de formar e de fornecer às colónias eclesiásticos recomendáveis… É, portanto, a vós, que é entregue exclusivamente a instrução, a escolha e a direção geral dos padres chamados a trabalhar na obra laboriosa e delicada da moralização dos Negros nas colónias"15 Pesada missão para uma Congregação muito debilitada, que tem falta de diretores e de padres:
"Apesar de todos os esforços do P. Bertout e dos seus sucessores…o seminário tinha falta de diretores e fomos obrigados a recorrer a estranhos… As dioceses de França, até então pobres em pessoal, estavam longe de fornecer o número de padres que as necessidades das colónias reclamavam. Em 1830, foi retirada ao Seminário qualquer subvenção… Na aflição em que a obra se encontrava pela privação de qualquer subsídio, fomos obrigado a aceitar padres sem os poder conhecer bem, e esta foi uma das causas de todas as desgraças que a nossa santa religião teve que deplorar nas colónias"16. Fourdinier 7º Superior (1832-1845): Um projeto ambicioso que aborta O P. Amable Fourdinier, eleito Superior do Seminário e da Congregação do Espírito Santo em 1832, tem falta de pessoal e de meios. Mas surge uma nova provação com uma epidemia de cólera em 1832: o Seminário é confiscado para ser hospital militar; será dificilmente recuperado em 1835. Em 1836, Fourdinier concebeu um projeto ambicioso: reagrupar numa congregação todos os antigos padres do Seminário. Apresenta-o numa circular aos Prefeitos apostólicos e noutra ao clero colonial. Quase todos os padres declinam a sua oferta e os Prefeitos da Martinica, de Guadalupe e de Bourbon opõem-se firmemente ao projeto. Única luz neste céu cinzento, no dia 19 de Setembro de 1840, na capela do Seminário do Espírito Santo, são ordenados os 3 primeiros padres africanos, senegaleses, PP. David Boilat, Arsénio Fridoil e João Pedro Moussa, enviados a estudar pela Madre Javouhey. WARNET, 8º Superior (Janeiro-Abri de 1845) - Uma Congregação agonizante
Aquando da morte de Fourdinier a 5 de Janeiro de 1845, a Congregação do Espírito Santo está em agonia: conta só com 3 membros. Sucede-lhe o P. Nicolau Warnet, mas demissionará pouco depois (Janeiro-Abril de 1845). Escrevendo à Madre Javouhey, sua confidente, a 9 de Março de 1845, Libermann não esconde a sua séria inquietação sobre a situação do "Espírito Santo", que goza de má reputação:
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Carta do Ministro da Maria ao P. Bertout, 22 de Nov. 1839, Arch. CSSp, Notices biographiques, nº 21, Março 1911, p. 294. 16 NOTICE p. 652.
"Os males do Espírito Santo foram bem grandes, a sua destruição quase total; a sua ressurreição parece impossível. Tudo isto tem em grande parte a ver com o descrédito universal no qual esta Congregação tão excelente em si e nos seus membros, caiu. Foram obrigados a alimentar o Seminário com uma multidão de jovens e de padres idosos que as dioceses de França rejeitam como incapazes ou indignos de exercer as santas funções do sacerdócio; e, em consequência, a constituição de um clero colonial desprezado, interesseiro e pouco edificante, para não dizer mais. Pessoas… dedicadas, não ousariam sequer pensar em ir para lá"17. Com LEGUAY, 9º Superior (1845-1848) - Tentativa fracassada de restauração Alexandre LEGAUY, eleito superior a 29 de Abril de 1845, tem a ambição de restaurar "o Espírito Santo". Retoma o projeto de Fourdinier - construir uma Congregação com todos os padres coloniais -, mas com exigências bem mais fortes: fazer Noviciado, viver em comunidade, praticar uma verdadeira Pobreza. Envia um projeto de Regulamento a Roma, pedindo correções18. Um acontecimento exterior vai aniquilar o seu sonho: a Revolução de Fevereiro de 1848: "Derruba do trono Luís Filipe, estabelece a república… O Sr. Schoelcher, nomeado diretor das Colónias, fez declarar a emancipação imediata dos escravos em todas as colónias francesas, mostrou-se muito hostil a Leguay e aos diretores do Espírito Santo, que acusava de ser anti negrófilos e contrários a esta medida. Ameaçou abertamente pôr-lhes fim e substituí-los por outra Congregação. Chamou a França os Prefeitos apostólicos e os Missionários que Leguay tinha enviado para as colónias e reenviou para lá aqueles que Leguay tinha chamado e que se apresentavam como vítimas do seu zelo pelos Negros. Leguay… demitiu-se apesar da resistência dos seus confrades, e, a fim de salvar este estabelecimento, fez nomear para o seu lugar o padre Monnet, antigo Missionário de Bourbon que tinha reputação de ser muito dedicado aos Negros 19. At 16,1-8: Tendo-lhes o Espírito Santo impedido de… Na nossa vida missionária, projetos ambiciosos fracassam. É preciso às vezes perseverar e transpor os obstáculos. Outras vezes, é o Espírito Santo que fecha caminhos para abrir outros mais tarde… Acontece isto na minha vida missionário? Qual é a minha reação? Qual é a minha leitura de fé? Orações Bíblicas (L. Deiss) Espírito Santo, que conduziste o diácono Filipe pelos caminhos de Gaza, ao encontro do Intendente da rainha da Etiópia, dirige, nós te pedimos, os passos dos teus missionários para todos os que procuram a verdade. Espírito Santo, que traçaste o caminho diante dos teus discípulos, para o anúncio do Evangelho, guia, nós te pedimos, como no tempo dos Apóstolos, os mensageiros da Boa Nova.
3. Domingo, 8 de Maio - LIBERMANN e o Sagrado Coração de Maria"; jovem sociedade missionária em plena expansão
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ND VII, p. 111 Carta de Libermann à Madre Javouhey, 9 Março 1845. Prever a entrada massiva de todo o clero colonial em exercício na Congregação era uma utopia. O projeto só será aprovado a 21 Fevereiro de 1848, depois da demissão de Leguay. 19 ND X 414 Extrato da Autobiografia de Leguay. 18
1839 - Le Vavasseur e Tisserant, iniciadores da "Obra dos negros" Em 1839, Le Vavasseur e Tisserant, seminaristas crioulos de Bourbon (ilha da Reunião) e do Haiti, partilham a sua preocupação com a evangelização dos escravos negros nos seus países e nas colónias. "Pela mesma época, alguns padres saídos do seminário de S. Sulpício, tocados profundamente pelo estado de degradação e de abandono em que estavam mergulhados os pobres escravos das colónias, que constituíam pelo menos dois terços da população, conceberam o projeto de se unir para irem socorrê-los. Vendo as dificuldades da obra que queriam empreender, e a sua impotência para a realizar, resolveram uni-la à obra da Arquiconfraria20, persuadidos de que ela triunfaria sobre todos os obstáculos pelo Imaculado Coração de Maria, tão cheio de misericórdia para com as almas pecadoras e 21 abandonadas" . No dia 2 de Fevereiro, confiam as suas preocupações missionárias ao P. Desgenettes, pároco de Nossa Senhora das Vitórias, que lança nesse mesmo dia uma cruzada de orações pelos Negros. Le Vavasseur, depois Tisserant, escrevem a Libermann, então no noviciado dos Eudistas em Rennes. Durante as férias de Verão em Issy, Libermann ajuda-os a organizar a "Obra dos Negros". De La Brunière, que se une ao projeto, é designado como superior da futura associação. No dia 28 de Outubro, na festa dos Santos apóstolos Simão e Judas, Libermann recebe "uma pequena luz" que o leva a juntar-se à Obra dos Negros. 1840 - As diligencias em Roma - Libermann torna-se responsável do projeto Libermann e de la Brunière decidem ir a Roma. De passagem por Lião, Libermann recebe graças de força e de paz em Nossa Senhora de Fourvière. A 6 de Janeiro de 1840, Libermann e de la Brunière chegam a Roma. "Para se certificar da santa vontade de Deus, expuseram o seu projeto à Propaganda… Fortificados pelas mais encorajantes palavras da … Congregação, propuseram-se realizálo". Libermann redige o seu pequeno Memorando sobre as Missões estrangeiras e apresenta-o à Propaganda no dia 27 de Março de 1840. Mas, em fins de Março, de la Brunière, cansado de esperar, renuncia e deixa Roma. Libermann fica só para levar por diante o projeto da "Obra dos Negros": tem de ir viver numa pobre mansarda! A 6 de Junho, Libermann recebe da Propaganda uma resposta favorável ao projeto, com a condição de ser ordenado sacerdote! A sua epilepsia, porém, tinha-lhe, até aqui, barrado o caminho do sacerdócio: ele abandona-se a Deus. Desde Maio que esforça-se por redigir uma Regra provisória, mas logo que pensa consagrar a obra ao Sagrado Coração de Maria, vê claro e termina rapidamente, em fins de Julho, a Regra provisória dos missionários do Sagrado Coração de Maria. A meados de Novembro, Libermann vai em peregrinação à Santa Casa da Virgem, em Loreto, e passa depois por Assis. No seu regresso a meados de Dezembro, recebe a notícia que Monsenhor Raess, novo coadjutor de Estrasburgo, aceita ordená-lo padre! 25 de Setembro de 1841 - Missa da fundação da Sociedade do Sagrado Coração de Maria
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Trata-se da arquiconfraria do Sagrado Coração de Maria, Refúgio dos pecadores, fundada pelo abade DufricheDesgenettes, pároco da paróquia parisiense de Nossa Senhora das Vitórias, no 3º domingo de Advento de 1836, cf. N.D., pp. 641ss. 21 NOTICE, p. 652. São ainda seminaristas: Tisserant será ordenado padre a 21 de Dezembro de 1840 e Le Vavasseur a 18 de Setembro de 1841.
No começo de Janeiro, Libermann deixa Roma; em Paris, encontra Le Vavasseur, Tisserant e outros que querem comprometer-se na Obra dos Negros. A 9 de Junho, o P. Laval embarca para a ilha Maurícia. A 18 de Setembro, Libermann é ordenado padre em Amiens. A 25 de Setembro de 1841, aos pés de Nossa Senhora das Vitórias, na presença do P. Desgenettes, Libermann, com Le Vavasseur e Tisserant, celebra a primeira missa de comunidade, considerada como a missa da fundação do Sagrado Coração de Maria. "Eles formaram uma congregação, e, tanto pelo reconhecimento das graças que tinham recebido e que atribuíam às orações da Arquiconfraria como por seguir a atração que lhes fora dada interiormente, decidiram que receberia o nome de Sagrado Coração de Maria". Dois dias depois, a 27 de Setembro, dá-se a abertura do noviciado: "A congregação nascente teve a sua primeira casa em la Neuville, na diocese de Amiens, em Setembro de 1841; Libermann foi nomeado superior… Os começos da nova sociedade foram muito frágeis e os seus meios de existência absolutamente nenhuns; só Deus era a sua força e sustentáculo; a sua divina providência, o seu único recurso, e o Sagrado Coração de Maria, a sua esperança… A graça de Deus… fê-los tomar a resolução de sacrificar antes tudo do que abandonar a obra que a divina bondade lhes havia inspirado" 22. Envio dos primeiros missionários do Sagrado Coração de Maria - A provação da cruz Rapidamente afluíram numerosas e fervorosas vocações. Libermann pode enviar os primeiros missionários do Sagrado Coração: Laval, que já partira para a ilha Maurícia (9 de Junho de 1841). Le Vavasseur para a ilha Bourbon (16 de Fevereiro de 1842). Tisserant para a Martinica, na expetativa de entrar no Haiti (12 de Novembro de 1842). No dia 21 de Novembro, 7 membros do Sagrado Coração de Maria fazem a consagração ao apostolado. Mas para onde enviá-los? Libermann vai rezar a Nossa Senhora das Vitórias e confiar a sua preocupação ao P. Desgenettes. Na manhã de 18 de Dezembro, passa Monsenhor Barron, nomeado Vigário apostólico das duas Guinés, à procura de operários: o P. Desgenettes dá-lhe a conhecer o Sagrado Coração de Maria. Libermann aceita o vasto território da missão da Guiné. "Pelo fim deste ano (Setembro de 1843)…, partiram sete missionários da nova sociedade , para começar a missão das duas Guinés". Bessieux e seus companheiros desembarca no Cabo das Palmas (Libéria), que era uma região insalubre. A jovem sociedade do Sagrado Coração vai conhecer a cruz numa série de provações: "a morte de cinco dentre eles nos primeiros meses de estadia no país", levados pelo paludismo. Quando o sabe, Libermann não pode conter um grito: "Infeliz Guiné!" 1844: expulsão dos cinco primeiros missionários que acabavam de chegar ao Haiti (São Domingos) no 8 de Dezembro de 1845: Tisserant, nomeado Prefeito apostólico das duas Guinés, perece num naufrágio ao largo de Marrocos. Janeiro de 1847, Morte de Monsenhor Truffet, primeiro Vigário apostólico, por causa da sua austeridade de vida. 1846 - 1848 - A Sociedade do Sagrado Coração, uma obra em plena expansão As vocações afluem: 23 em teologia, 10 em filosofia, 10 Irmãos. Em Novembro de 1848, o noviciado muda-se de la Neuville para Notre-Dame du Gard, perto de Amiens. Libermann pensa aceitar a vasta missão da Austrália: "Mas a Guiné será sempre a nossa missão querida". "Enfim, o sacrifício da vida de sete fervorosos missionários e de um grande número de almas piedosas, atraíram os olhares favoráveis de Deus sobre a Obra dos Negros. Em 1848, a Santa Sé concedeu à congregação dois bispos para as duas Guinés e a Senegâmbia. Tiveram a
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felicidade de organizar esta missão, desde há muito tempo abandonada e tão dolorosamente provada"23. At 13,1-4: O Espírito Santo diz: Ponde à parte… O Espírito Santo arrancou Paulo e Barnabé a um ministério frutuoso para a comunidade de Antioquia. E eu, espiritano, estou "instalado" numa "pastoral de manutenção" gratificante ou estou habitado pelo apelo missionário para "os pobres, os povos, os grupos e as pessoas, que ainda não ouviram ou que mal ouviram a mensagem evangélica, para aqueles cujas necessidades são maiores e para os oprimidos" (RVE 4)? Que disponibilidade me pede hoje o Espírito de Pentecostes? Oração do Papa Francisco para o ano da Misericórdia (2ª parte) Vós quiseste que os vossos ministros fossem também eles revestidos de fraqueza para sentirem uma verdadeira compaixão por aqueles que estão na ignorância e no erro: fazei que todos os que se aproximarem de cada um deles se sintam esperados, amados e perdoados por Deus. Enviai o vosso Espírito e consagrai-nos a todos com a sua unção para que o Jubileu da Misericórdia seja um ano de graça do Senhor e a vossa Igreja possa, com renovado entusiasmo, levar aos pobres a alegre mensagem, proclamar aos cativos e oprimidos a libertação e restaurar a vista aos cegos. Nós vo-lo pedimos por intercessão de Maria, Mãe de Misericórdia, a Vós que viveis e reinais com o Pai e o Espírito Santo, pelos séculos dos séculos. Ámen! 4. Segunda-feira 9 de Maio - A união: As primeiras diligências e os obstáculos Desde 1840, pessoas de Roma tinham dito a Libermann que não havia necessidade de uma nova sociedade: "Esta ideia foi-me severamente dita em 1840, em Roma, por homens zelosos… a 24 Sociedade do Espírito Santo ocupa-se desta obra; não temos necessidade de vós" . A Propaganda ajuizou de outro modo e encorajou a fundação do "Sagrado Coração de Maria". 1843-1845 - Fracasso das primeiras diligências junto de FOURDINIER O "Sagrado Coração de Maria" acabava de nascer, no dia 25 de Setembro de 1841: Monsenhor Garibaldi, núncio em Paris, aconselha, desde 1842, a Libermann a união com o "Espírito Santo": "Le Vavassuer e eu, fizemos várias diligências junto de Fourdinier…; oferecemos-lhe entrar na Sociedade com a condição de que viveríamos em comunidade, e que não trabalharíamos 25 em paróquias, mas com os Negros" . Na NOTICE, Libermann diz o que o anima profundamente: a "salvação dos Negros… almas pobres e abandonadas, cujo estado desolador os havia emocionado com uma profunda compaixão" e a vida "em comunidade sob uma regra" para "manter o fervor da vida sacerdotal e religiosa… e o espírito apostólico". Mas Fourdinier, que continuava a alimentar outro projeto, recusou estas duas condições:
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Ibid p. 654-655. ND X p. 339. Carta às comunidades de Bourbon e Reunião, Dakar et Gabão, 20 de Dezembro de 1848. 25 Ibid. p. 339. 24
"Ainda não tinha chegado o momento da divina Providência… Fourdinier, tendo recusado qualquer condição, empreendeu só a obra que tinha tanto a peito"26. "O santo homem… faz tudo contra nós para nos arruinar" ; ele "aniquilar-nos-ia se pudesse"27. No dia 5 de Janeiro de 1845, Fourdinier morre. O Seminário do Espírito parece estar na agonia: Estes Senhores do Espírito Santo… só são três. Warnet é superior interino… A ruína da casa do Espírito Santo pôs uma desordem completa no assunto" 28. Janeiro-Abril de 1845: Um fulgor de esperança com WARNET Vendo o declínio do "Espírito Santo", o Núncio submete um projeto à Propaganda: "O Núncio… quer a todo o custo que o Seminário do Espírito Santo nos seja entregue. Estou assustado. Não fiz nenhuma diligência para isto; não farei nenhuma… não ousarei pedir nada, nada ousarei recusar. Deixo a Providência agir… Permaneço numa perfeita 29 indiferença" . Esta "indiferença mística"30 não impede Libermann de ter uma intensa correspondência. Em Fevereiro de 1845, está totalmente conquistado pelo projeto de união, como escreve ao ministro da Marinha: "O meu projeto é reunir a nossa Sociedade à do Espírito Santo, formar uma só e mesma Sociedade, afim de trabalhar conjuntamente na obra da moralização das Colónias"31. A Schwindenhammer, precisa bem que não se trata de substituição, mas de união: encara mesmo a perda do nome "Sagrado Coração de Maria": "Custa-me imenso conseguir a destruição do Espírito Santo para nos colocarmos no seu lugar. É penoso construir sobre as ruínas de outrem… Pensei, por isso, de novo na nossa união com o Espírito Santo. Esta reunião das duas Congregações teria grandes vantagens, por um lado, e dificuldades, por outro… Perderemos o nosso nome entre os homens, que não deixarão de nos chamar Espiritanos; porém, não nos atenhamos às palavras, mas às coisas"32. Aquilo a que Libermann se atém acima de tudo, di-lo claramente ao Cardeal FRANSONI: "Custar-me-ia trabalhar para nos estabelecermos sobre as ruinas de uma Congregação mais antiga do que a nossa. A reunião das duas Sociedades parece-me mais conforme com a santa vontade de Deus, desde que não tenhamos de nos arriscar a perder o espírito de piedade, fervor, zelo, dedicação, e a caridade que procuro estabelecer entre os nosso missionários"33. Em toda a sua correspondência do princípio de 1845, Libermann nunca fala de fusão, menos ainda de substituição, mas de união, de reunião. Contudo, no dia 5 de Abril, confessará à Madre Javouhey a sua hesitação em "fazer diligências junto de Warnet, não conhecendo suficientemente as suas disposições"34. Infelizmente Warnet apresenta a sua demissão em Abril de 1845! Com Leguay (1845-1847) abandono (provisório) do projeto de união
NOTICE …p.653. Libermann a Le Vavasseur, 26 Agosto de 1844 e a Collin, Agosto de 1844. 28 ND, VII, p. 33. Libermann a Le Vavasseur, Janeiro de 1845. 29 ND, VII, ibidem p. 32-33. 30 A expressão é de Pierre BLANCHARD, Le Vénérable Libermann, Tome II, Desclée de Brouwer, 1960. 31 ND, VII, p. 52-53. Libermann ao Ministro da Marinha, 7 de Fevreiro de 1845. 32 ND, VII, p. 69. Libermann a Schwindenhammer, 24 de Fevereiro de 1845. 33 ND, VII p. 95. Libermann ao Cardeal Fransoni, 19 de Março de 1845. 34 ND, VII, p. 111 Libermann à Madre Javouhey, 5 de Abril de 1845. 26 27
Leguay, novo superior, tem um projeto ambicioso de restauração e submete o seu regulamento a Roma. Libermann não está convencido: continua a acreditar na união; escreve no dia 26 de Junho à Madre Javouhey: "É preciso que a união seja perfeita, a fusão total; mas é preciso que o acordo se faça 35 entre as duas partes, e as condições sejam favoráveis a ambas" . Pela primeira vez, Libermann fala de "fusão". Infelizmente, muito rapidamente ficou dececionado. A 6 de Setembro de 1845, Libermann confessa a Le Vavasseur: "Tinha a ideia da reunião com o Espírito Santo… mas o superior atual, embora seja um santo homem, será um obstáculo absoluto… O Núncio queria realmente ver-nos no lugar do Espírito Santo; mas já não se intromete neste assunto" 36. No dia 11 de Outubro de 1845, Libermann conta ao Cardeal Fransoni dois graves incidentes. Tendo Roma confiado a missão das duas Guinés ao "Sagrado Coração de Maria", Libermann pensa numa "reunião do Senegal à Prefeitura apostólica das Duas Guinés" e, imprudentemente, dá-o a saber ao Governo. Infelizmente, "O Ministério mostrou este plano ao Superior do Espírito Santo, e o Governador do Senegal, ao clero da Goreia e de S. Luís"37. Tisserant, regressado do Haiti e nomeado Prefeito apostólico das Duas Guinés foi pedir a Leguay a permissão para entrar no Senegal. Leguay fez-lhe graves censuras de que queríamos usurpar a jurisdição do Espírito Santo, com a ideia de invasão, e que queríamos ser independentes dos legítimos superiores eclesiásticos… Ele diz que qualquer jurisdição nas colónias deve vir do Espírito Santo, e que só a ele nos devemos dirigir…"38. Esta questão de jurisdição paralisa o projeto de união, mas mostra a sua urgência. Na semana seguinte, no dia 18 de Outubro de 1845, Libermann alerta o Núncio em Paris sobre outro aspeto do problema: "Sei que desde há muito tempo o Ministério procura usurpar a jurisdição eclesiástica das Colónias… Sendo o governo dono do Superior do Espírito Santo, deve naturalmente procurar pôr-lho nas mãos para dominar mais facilmente nos assuntos eclesiásticos nas colónias. Leguay reclama para o Espírito Santo um poder que a Santa Sé nunca lhe concedeu"39. NO dia 6 de Novembro de 1845, Libermann confia dolorosamente a Le Vavasseur: "Está tudo desfeito… abandono, por isso, a coisa à divina Providência e rezo por Leguay"40. Leitura: At 1,4-8 Esperar o que o Pai prometeu… Não vos cabe saber Este ano de 1845, tão promissor nos seus começos, com Warnet, termina assim em deceção. Libermann deverá esperar pacientemente a hora de Deus durante dois longos anos (1845-1847). Sei esperar a hora de Deus? Invocar o Espírito Santo, inclusive para os opositores? Oração - Veni Sancte Spiritus 1. Vinde Espírito Santo, Pai dos pobres, 2. Consolador supremo, vinde, dispensador dos dons, Doce hóspede das nossas almas, vinde, luz dos nossos corações. suave frescura. 3. Descanso no trabalho, 4. Abradai o que é duro
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ND, VII, p. 226-227. Libermann à Madre Javouhey, 26 de Junho 1845. ND VII p. 288. Libermann a Le Vavasseur, 6 Setembro de1845. 37 ND, VII, p. 319. Libermann ao Cardeal Fransoni, 11 de Outubro de 1845. Desde 1779, existia a Prefeitura aposólica do Senegal (S. Luís, Goreia) confiada aos Senhores do Espírito Santo. 38 ND, VII, ibid. p. 320. 39 ND, VII, p. 334-335. Libermann a Fornari, 18 de Outubro de 1845. 40 ND, VII, p. 368. Libermann a Le Vavasseur, 6 de Novembro de 1845. 36
Na febre, frescura, Conforto, no pranto.
Aquecei o que é frio Endireitai o que é torto.
5. Terça-Feira 10 de Março - A hora de Deus: em direção à realização da fusão A mão de Deus na ilha Bourbon e em Paris: "A ideia de fusão ou de reunião" faz caminho Na ilha Bourbon, Warnet e Monnet tinham conhecido Le Vavasseur e tinham-no apreciado na sua missão junto dos negros. Monnet, expulso em Setembro de 1847 pelos opositores da abolição da escravatura, torna-se superior do Espírito Santo no dia 2 de Março de 1848. Demasiado depressa, Loevenbruck julga-o incapaz de "levantar, suster e fazer caminhar a caduca Congregação do Espírito Santo. O P. Warnet era do meu parecer. Falámos disto amiúde. Foi então que germinou e se desenvolveu a ideia de fusão ou de reunião com o Sagrado Coração de Maria. Monnet gostou dela… O plano projetado era enxertar a nova Congregação do Sagrado Coração de Maria no velho tronco do Espírito 41 Santo" . Com Monnet: Maio de 1848: "Os primeiros encontros" Monnet estava em conflito com o "déspota Schoelcher", subsecretário das colónias, que queria impor-lhe dois Superiores para a Martinica e Guadalupe. Libermann confia a Le Vavasseur: "Ele escreveu-me a este respeito uma carta cheia de inquietação. Eu procurei tranquilizálo; disse-lhe que, desde há muito tempo, tinha o desejo bem sincero de ver as duas congregações formar apenas uma. Esta frase inflamou Monnet. No dia a seguir àquele em que a minha carta partiu, ele veio até nós, ao Gard, e pediu para começar seriamente a questão da reunião. 42 Não esperava nada melhor" . No dia 8 de Maio, ele enviou Loevenbruck ao Gard como negociador. Libermann foi consultar o Núncio: Roma não quer "que só a comunidade do Espírito Santo forneça os chefes de Missão para as colónias; menos ainda que os padres das colónias sejam tirados unicamente da Comunidade"43. Monnet pretendia, ao invés, que "a comunidade tinha sido plenamente encarregada das colónias". Fica admirado com a visita de Libermann ao Núncio e reage vivamente: "A pátria do Espírito Santo não está em perigo. Não tínhamos pensado que a aceitação da reunião passaria por uma aflição que nos fizesse gritar por socorro! O acordo que projetais para o fim da Congregação não é muito claro. A Congregação não será nem 44 enfraquecida, nem comprometida por mim" . Com toda a evidência, Monnet e Libermann não estão de acordo quanto à jurisdição do "Espírito Santo".
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ND X 416 Mémoires de Loevenbruck. ND X, 218 Carta de Libermann a Le Vavasseur, Notre-Dame du Gard, 14 de Junho de 1848. Citada aqui diversas vezes. 43 ND X 184s - Carta de Libermann a Loevenbruck, 15 de Junho de 1848. Esta carta é antes de meados de Maio de 1848 - depois da visita. 44 ND X p.399 - Carta de Monnet a Libermann, Seminário do Espírito Santo, Paris, 29 de Maio de 1848. 42
Pentecostes 11 de Junho de 1848: Libermann no Seminário do Espírito Santo. Um passo importante Monnet convida Libermann para a festa de Pentecostes. Chegam a acordo a respeito da união das duas congregações. Entusiasta, Monnet apressa-se a escrever a Le Vavasseur: "Pronto, doravante não temos senão um só coração e uma só alma, do mesmo modo que não formamos a não ser uma só e mesma Congregação. A nossa reunião e fusão foram declaradas ontem!!!"45 Libermann também escreve a Le Vavasseur: "Reunimo-nos pela última vez, hoje. Concluímos a reunião em unanimidade. P.S. (acrescentado por outra mãos) O P. Libermann e o P. Monnet têm um só coração e uma só alma"46. Mas Monnet tinha pedido que lhe comunicasse esta carta! Na sua segunda carta, Libermann é muito mais reservado sobre o estado das negociações: "Dir-te-ei, portanto, que espero que a reunião se dará, mas não sobre as bases como Monnet talvez possa ter dito ou escrito". A princípio, ele tinha pensado e proposto que Monnet e ele ficassem superiores e governassem juntos; mas agora é impossível: "Tendo visto Monnet agir, antes de ter podido terminar de propor bem todas as minhas condições, fiquei desconcertado"47. No Pentecostes, a união fica decidida, mas a questão do Superior permanece indefinida. No dia 19 de Junho, Libermann lembra a Monnet a urgência: Para chegar a esta união efetiva é urgente que tenhamos a aprovação de Roma, como acordamos, no dia de Pentecostes. 1º Temos de redigir todas as condições do acordo já discutidas no dia de Pentecostes. 2º Assinaremos os dois os artigos redigidos; juntaremos uma carta assinada também por nós dois. 3º Será necessário enviar alguém a Roma"48. Libermann propõe Monnet como Vigário apostólico de Madagáscar O desfecho da espinhosa questão do Superior vai vir de Roma. A Propaganda pede a Libermann para propor alguém para o Vicariato apostólico de Madagáscar. Ele pensa em Monnet, "que tinha passado algum tempo nesta ilha"; consulta Loevenbruck, que responde que o melhor "Seria enviar imediatamente o P. Inácio Sw49 a Roma com a vossa carta de proposta para Madagáscar. Logo que tenhamos a palavra da Propaganda, será dada a demissão e a vossa nomeação feita por unanimidade. Todos pensamos que Monet tem aptidão para a Missão, e não para dirigir aqui a nossa obra"50. Mas em fins de Junho, Paris vive 4 dias de violentas insurreições. No começo de Julho, são retomadas as negociações e chegam, a 3 de Julho, a decisões importantes: "Monnet é proposto a Roma como Vigário apostólico de Madagáscar" e Loevenbruck é designado para partir rapidamente para Roma. No dia 5 de Julho, cada um dos dois superiores escreve uma carta oficial de pedido de fusão. Libermann responde primeiramente ao Cardeal FRASONI sobre a nomeação do Vigário apostólico de Madagáscar e propõe Monnet, antigo missionário na ilha: isso evitaria também a humilhação de uma demissão sem compensações. Monnet pensa na eleição do Superior geral e diz-se pronto para apresentar a sua demissão:
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ND X p. 399 - Carta de Monnet a Le Vavasseur, Seminário do Espírito Santo, 11 de Junho de 1848. ND X p.214 - Carta de Libermann a Le Vavasseur, Seminário do Espírito Santo, 11 de Junho de 1848. 47 ND X p. 222 -de Libermann a Le Vavasseur, Notre-Dame du Gard, 14 de Junho de 1848. 48 ND X p.241-242 - Carta de Libermann a Monnet, Gard, 19 de Junho de 1848. 49 O P. Inácio Schwindenhammer. 50 ND X p. 400 - Carta de Loevenbruck a Libermann, 19 de Junho de 1848. 46
"Imediatamente depois de ter recebido a aprovação de Vossa Eminência, Libermann e eu demitir-nos-emos e procederemos à eleição do Superior geral". Esta união será "um poderoso meio de perseverança para os duzentos missionários dispersos pelas nossas diferentes colónias"51. Loevenbruck em Roma No dia 12 de Julho, Loevenbruck parte para Roma afim de apresentar o dossier da união. Dois dias depois, já encontrou o Prefeito e o Secretário da Congregação; escreve a sua satisfação a Libermann: "A Fusão foi aplaudida, e Monnet será Vigário apostólico de Madagáscar…"52 . Mas não fala das exigências pedidas por Libermann. No dia 3 de Agosto, ele escreveu-lhe de Paris: "Eis-me de volta a Paris; ficareis admirado… antes da minha partida tudo estava parado no pequeno Conselho, e, para a forma, pensamos submeter o assunto ao grande Conselho que deve realizar-se no dia 15 deste mês, depois notificaremos oficialmente a vós e a Monnet o resultado"53. A volta atrás de Monnet A carta terminava, entretanto, com uma nota inquietante: Loevenbruck é mais claro nas suas memórias. "Instigado pelos dois opositores (Gaultier e Hardy), Monnet tinha mudado de parecer…"54. Muito influenciável, Monnet é versátil "ora por, ora contra" a fusão. Chegou mesmo a dizer que desejava as Antilhas". Loevenbruck teve de garantir "que, em breve, chegaria o anúncio oficial da sua nomeação de Bispo e de Vigário apostólico de Madagáscar", para o fazer voltar às decisões já tomadas. Escrevendo a Libermann no dia 9 de Agosto, Monnet fala da fusão como se sempre tivesse acreditado nela: "A fusão será aprovada… Disseram ao P. Loevenvruck que era certa"55. No dia 20 de Agosto, domingo, Libermann vai consultar Desgenettes e os Sulpicianos. Escreve a Le Vavassuer: "Eis-me ainda em Paris… Ainda não pude ver estes Senhores, para concluir definitivamente. O assunto está muito avançado e parece dever terminar. Repito-te de novo que, mesmo no ponto em que as coisas estão, recuarei se não tiver a certeza que, feita a fusão, a Congregação conservará o seu fervor e a sua perfeita regularidade… Aliás, repito, nada está terminado,… Em Roma, estão encantados de ver-nos reunidos ao Espírito Santo e de me ver encarregado da obra. O Conselho particular da Propaganda aceitou a minha proposta de Monnet para bispo de Madagáscar"56. Texto da Escritura At 2,33-38: Exaltai e difundi o Espírito Santo. Que devemos fazer? Converteivos Libermann faz questão de que "feita a fusão, a Congregação conservará o seu fervor e a sua perfeita regularidade". Guardei o fervor do Sagrado Coração de Maria? E quanto à minha fidelidade à Regra? Oração Veni Creator Spiritus ou Oração para o Conselho Geral Alargado, p 19 6. Quarta-Feira - 11 de Maio - União do "Sagrado Coração de Maria" com o "Espírito Santo"
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ND X 370-371 - Carta de Monnet ao Cardeal Fransoni, 5 de Julho de 1848. ND X 404-405 - Carta de Loevenbruck a Libermann, Roma 14 de Julho de 1848. 53 ND X 407 - Carta de Loevenbruck a Libermann, Paris 3 de Agosto de 1848. 54 ND X p.416-417 -Mémoires de Loevenbruck. 55 ND X 408 - Carta de Monnet a Libermann, 9 de Agosto de 1848. 56 ND X 288-289 - Carta de Libermann a Le Vavasseur, 20 de Agosto de 1848. 52
"Todas as dificuldades, que, até então, se opunham invencivelmente a esta fusão, desapareceram, e, pelo fim de 1848, realizou-se a reunião de todos os membros da sociedade do Sagrado Coração de Maria e a sociedade do Espírito Santo"57. 24 de Agosto de 1848: Assinatura do acordo (de princípio) para a fusão No princípio de Agosto, Loevenbruck volta de Roma com a garantia de que a fusão seria aprovada. As conversações continuam, contudo, todo o mês de Agosto para precisar ainda algumas modalidades da fusão. Por fim, o "Espírito Santo" e o "Sagrado Coração de Maria" chegam a um texto comum. No dia 24 de Agosto de 1848, assinam o registro do acordo das duas partes para a fusão; este texto comporta importantes cláusulas, pedidas por Libermann, especialmente para a pobreza: "Os dois Superiores das Congregações do Espírito Santo e do Sagrado Coração de Maria, realizando a fusão das duas Congregações, em nome dos seus Confrades, assinaram os seguintes artigos: Art.º1 - A Congregação permanecerá consagrada ao Espírito-Santo sob a invocação do Santo e Imaculado Coração de Maria. Art.º2- As Constituições da Congregação do Espírito Santo, tendo sido aprovadas pela Sagrada Congregação da Propaganda, serão conservadas, salvo as modificações do seguinte artigo: Art.º 3 - Quanto à pobreza, todos os membros se comprometerão: 1º) a renunciar, durante todo o tempo que estiverem na Congregação, ao uso de todo o bem ou ingresso de que as supracitadas Constituições lhes permitem conservar a propriedade ou a disposição; 2º) a não possuir nenhuma quantia de dinheiro sem a autorização do seu Superior; 3º Nas situações em que o Superior lhes entregar dinheiro para os seus gastos, expirado o tempo ou a circunstância, prestar-lhe-ão contas das suas despesas e entregar-lheão o que tiverem nas mãos. Art.º 4 - Os Membros da Congregação, todas as vezes que, na sua assinatura ou noutro lugar, quiserem indicar o nome da Congregação a que pertencem, exprimirão o duplo título mencionado no artigo primeiro. Art.º 5 - A admissão dos Membros de segunda ordem será suspendida até nova decisão da Propaganda. Art.º6 -Será enviada uma cópia deste acordo aos Membros das duas Congregações que, doravante, se olharão como irmãos e como tais se amarão. Será ulteriormente estatuído, nos itens previstos pelas Constituições, por regulamentos aprovados pela maioria"58. Entusiasmado, Monnet faz mesmo aclamar Libermann como novo Superior. Este acordo de princípio ainda não é a Fusão. Será preciso esperar a decisão de Roma. É por isso que Libermann, escrevendo na noite de 24 de Agosto a Arragon, em Dakar, fala de "futuro confrade": "Só uma palavrinha. O P. Vidal, que vos entregará esta carta, é membro da Comunidade do Espírito Santo e promotor entusiasta da reunião das nossas duas 57
NOTICE, p. 655. Registo das deliberações do Conselho, p. 34, n° 30, Arquivos CSSp, B 47., ND X 412. Seguem-se 10 assinaturas : os dois Superiores, Monnet e Libermann, depois os membros presentes : Warnet, Gaultier, Hardy e Vidal, do "Espírito Santo", Boulanger, François, Briot e Schwindenhammer do "Sagardo Coração de Maria". Loevenbruck não faz parte dos signatários. 58
Congregações. Recebei-o com toda a afeição e caridade que ele merece, na qualidade de nosso futuro confrade e padre fervoroso e cheio de zelo. Apresenta-o aos nossos caros confrades e recebei-o com afeição e caridade. O P. Vidal é Prefeito apostólico no Senegal… Não vos inquieteis a respeito da reunião das nossas duas Comunidades; podeis ter a certeza de que conservaremos a regularidade e o espírito da nossa Comunidade"59. 4-10 de Setembro de 1848 - A Fusão é aprovada por Roma A Propaganda devia reunir-se no dia 15 de Agosto. Fê-lo apenas no dia 4 de Setembro. Examinou atentamente, na sua Congregação geral, o projeto de união. O texto dos acordos privados de 24 de Agosto não estava no dossier. No começo de Agosto, Loevenbruck tinha apresentado as cartas postuladoras dos dois Superiores e um memorando de cinco itens, que enumerava as razões a favor desta fusão: "1) - As duas Congregações, segundo as suas regras e constituições, têm o mesmo fim. 2) - Com a fusão, a do Espírito Santo consolida-se com a aquisição de um excelente e numeroso pessoal; e a do Sagrado Coração de Maria ficará melhor protegida sob a égide da existência legal, que talvez nunca conseguiria obter em França, como a possui a do Espírito Santo. 3) - No Senegal e na ilha Bourbon, os missionários das duas Sociedades já estão um pouco em conflito; mais tarde, poderia acontecer o mesmo noutros partes e resultar daí gravíssimos inconvenientes, enquanto que, com a fusão, obviar-se-á infalivelmente a tudo isto. 4) - O P. Libermann tem um grande espírito de conciliação, goza plenamente da confiança de todos os membros das duas Sociedades e encontra-se, por conseguinte, perfeitamente apto a dirigir a obra; enquanto que o P. Monnet parece muito mais indicado para as Missões para as quais tem uma aptidão muito especial. 5) - As duas Sociedades, reunidas sob um mesmo Superior como o P. Libermann, formarão um corpo em todos os aspetos mais sólido e mais capaz de se manter no meio das dificuldades tão grandes das atuais circunstâncias de França. 6) - A casa do Espírito Santo em Paris é suficientemente ampla para conter todo o pessoal das duas Sociedades reunidas e fundidas numa só, e haverá, por conseguinte, grande economia de gastos, coisa muito importante nestes tempos de crise financeira, que durará ainda vários anos e comprometerá a existência da Sociedade, sobretudo do Sagrado Coração de Maria, cujos recursos são quase nenhuns, enquanto que os do Espírito Santo são até agora superabundantes60. Os cardeais aprovaram a fusão e o cardeal Fransoni submeteu as conclusões ao Papa Pio IX. No dia 10 de Setembro, o Papa Pio IX ratificou a decisão da Propaganda. "É, portanto, nesta data que a Fusão se torna efetiva em Roma"61. Em Paris, a aprovação oficial pelo Papa Pio IX ainda não é conhecida. Só no dia 26 de Setembro de 1848 a decisão será notificada pela Propaganda a cada um dos dois superiores, Monnet e Libermann. No dia 10 de Setembro, Monnet escreve a Libermann a sua admiração pelo silêncio de Roma e dá-lhe a conhecer algumas reações contra a fusão: "Eis a carta que recebi de Roma hoje; ela espanta-me porque nada diz sobre a fusão… Três eclesiásticos foram visitar o Núncio para o persuadir de que sacrifico a nossa Congregação à
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ND X 291 - Carta de Libermann a Arragon, em Dakar (Senegal), 24 de Agosto de 1848.
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ND, X, p. 371-372. S.O.C.G., 1848, volume 970, fol. 564-565.
M. Legrain, Da concorrência à união … in P. COULON Claude-François Poullart des Places et les Spiritains, p. 627. 61
minha ambição. O Núncio não me disse que acreditava nisso. Meu bom Padre, estas provações provam que Deus quer a fusão! Aceito com resignação esta qualificação de ambicioso: é a sexta vez!... Mas, quanto aos motivos que me determinaram a aceitar de todo o coração a Fusão, não temo ir prestar contas a Deus! Foram dizer ao Núncio que fui um vendedor e vós um comprador! Deus do céu! ai de mim! Talvez fizésseis bem em vir imediatamente para irmos todos juntos ver o Núncio, para que saiba que os nossos confrades quiseram tanto como nós a Fusão… O demónio move- se para impedir a nossa fusão, acreditai"62. Monnet reconhece na fusão a vontade de Deus e vê as provações e as calúnias como agitações do demónio "para impedir a fusão"! Texto bíblico - At 15,23-29 Concílio de Jerusalém "O Espírito Santo e nós mesmos decidimos" Na nossa Congregação internacional e multicultural, as divergências missionárias são inevitáveis. Só o Espírito Santo pode manter uma união espiritual, fundada no essencial: as exigências do Evangelho e a nossa Regra de Vida. Quais são as nossas divergências? Em que domínio pode crescer a nossa comunhão? Para descobrir o essencial, sabemos escutar primeiramente o Espírito Santo? Oração para o C.G.A. de 2016 - Texto original para o capítulo de Bagamoyo, 26 de Agosto de 2011 - BNS nº 276 Pai, enviaste outrora o Espírito de teu Filho sobre os nossos fundadores, Cláudio Poullart des Places e Francisco Libermann. Graças a ele e a gerações de espiritanos, a nossa Congregação não cessou de se dedicar ao serviço da evangelização dos pobres. Agora que nos preparamos para celebrar o nosso [Conselho Geral Alargado depois do] Capítulo geral de Bagamoyo, nós te pedimos que derrames de novo o teu Espírito sobre toda a Congregação. Que Ele nos reúna numa só família, para melhor escutarmos os apelos do nosso tempo! Que Ele nos dê um novo fervor para aprofundar, na tua Igreja, a nossa consagração e o nosso testemunho missionário! Que a exemplo de Maria, pela força do Espírito, continuemos a fazer nascer o teu Filho, para tua glória e para a vida deste mundo que criaste e libertaste! Ámen!" 7. Quinta-feira 12 de Maio - Perante a decisão de Roma: morrer para ressuscitar. Notificação da fusão por Roma - 26 de Setembro - 9 de Outubro A decisão da fusão é notificada por Roma aos dois superiores no dia 26 de Setembro de 1848. Monnet e Libermann recebem a carta no dia 9 de Outubro e ficam a conhecer a decisão romana: "Os Eminentes Padres julgaram poder aprovar a vossa proposta. Assim, doravante, cabe a vós levar a cabo esta união das vossas duas Congregações, de maneira que, a Congregação que tem o título do Santíssimo Coração da B. Virgem Maria, deixando a partir de agora de existir, sejam agregados à Congregação do Espírito Santo os Membros e os Associados deste Instituto, participando nos direitos e privilégios dos Membros e Postulantes desta, sendo submissos à observância das mesmas Regras"63. Roma pede uma fusão sem contrapartidas: Libermann pressente a reação dos missionários do Sagrado Coração de Maria que vão perder tudo e sentir-se traídos. Não contesta a dissolução da
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ND X p. 411. Agregentur no texto latino- Agregados e não aceites como está colocado em nota 83 p. 628 in P. COULON, ClaudeFrançois POULLART des Places. O original da carta dirigida a Monnet encontra-se nos Arch. CSSp., B 21, dos. A, chem. 3.; 8. 63
sua Sociedade, mas o esquecimento das exigências espirituais pedidas. Loevenbruck teve que explicar-se: "Chegado a Roma, não sei por que timidez, de que não pude aperceber-me, não ousou falar das condições que propusemos, e a Propaganda ordenou a fusão sem condições"64. Libermann acolhe com fé. Mas, sem divulgar o texto, parte imediatamente para Roma com Loevenbruck para pedir as emendas necessárias. Obtém rapidamente a maioria dos itens. 1. Irregularidade da eleição de Libermann como Superior geral Na euforia dos acordos de 24 de Agosto, Monnet tinha feito aclamar Libermann como Superior "antes da aprovação da fusão por Roma"; além disso, Libermann não podia "ser nomeado Superior da Congregação do Espírito Santo, não fazendo parte dela"; enfim, "segundo as Constituições, o Superior deve ser nomeado por escrutínio secreto"65. A partir de 3 de Novembro, a Propaganda responde de maneira benevolente, aportando uma "sanatio": Libermann é confirmado como "novo superior da Congregação do Espírito Santo sob a invocação do Imaculado Coração da Bemaventurada Virgem Maria". 2. O título da Congregação Os Espiritanos eram "consagrados ao Espírito Santo, sob a invocação da Santíssima Virgem concebida sem pecado". Libermann e os seus filhos estavam apegados ao "Sagrado Coração de Maria", a quem estavam consagrados e que lhes tinha obtido tantas graças. O acordo de 24 de Agosto previa "Art.º 1 - A Congregação permanecerá consagrada ao Espírito Santo sob a invocação do Santo e Imaculado Coração de Maria". A Propaganda, na sua resposta de 3 de Novembro, aceita e decreta o novo título: Congregação do Espírito Santo sob a invocação do Imaculado Coração da Bem-aventurada Virgem Maria"66. 3. Regresso à verdadeira pobreza e modificação das Constituições Libermann defendia a verdadeira pobreza e os "espiritanos" tinham aceitado e assinado o art.º 3; era necessário, por isso, modificar as Constituições. Esta exigência foi difícil de conseguir. Na resposta de 3 de Novembro, não era concedida; Libermann escreveu logo à Propaganda, para melhor a justificar: "A prática imperfeita da pobreza, tal como está expressa nas Constituições do Espírito Santo, parece-nos incompatível com a vida de comunidade que devemos ter em toda a parte. Parece-nos absolutamente insuficiente para conservar o fervor e o zelo dos membros… 67 disseminados nas Missões" . Ao regressar a Paris, a 15 de Novembro de 1848, dá ao Cardeal Fransoni novos esclarecimentos: "Pedi que os membros da sociedade se comprometam a renunciar ao uso, para a sua própria pessoa, de todo o bem ou ingresso de que as constituições lhes permitem a propriedade e a disposição, e a não possuir nenhuma soma, mesmo para dela dispor em favor de outrem, sem licença do Superior. Com este pedido, não quis pedir à S. C. a autorização de exigir o voto de pobreza aos membros da sociedade, mas apenas o compromisso prático desta virtude"68. No Verão seguinte, a 27 de Julho de 1849, Libermann insiste: "Desejamos todos muito vivamente, e pedimos com insistência à S. Congregação que estabeleça entre nós a prática da santa
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ND, X, p. 341 - Libermann às comunidades de Bourbon e da Maurícia, 20 de Dezembro de 1848. ND, X, p. 329-330 - Libermann ao cardial Fransoni, 28 de Outubro de 1848. 66 ND, X, p. 377. A S.C. - Propaganda a Libermann, 3 de Novembro de 1848. 67 ND, X, p. 332 - Libermann ao Cardeal Fransoni, 4 de Novembro de 1848. 68 S.O.C.G., vol. 971, fol. 96 - Os ND não mencionam esta carta. 65
pobreza"69. Perante o silêncio de Roma, escreve novamente a 30 de Dezembro, juntando à sua carta "uma folha contendo o acordo feito entre a Sociedade do Espírito Santo e a do Sagrado Coração de Maria"70. Esta perseverança suscitou um pedido de explicações suplementares: Roma estava surpreendida que uma Congregação inteira - lembremo-nos de que Monnet falava de "duzentos missionários" espiritanos - quisesse passar de uma pobreza frouxa para uma pobreza radical. Libermann responde a 20 de Fevereiro: "A antiga Sociedade era composta apenas por sete membros. Seis deles assinaram o acordo que tive a honra de vos apresentar. Os membros da Sociedade do Sagrado Coração de Maria que se juntaram a eles, são quarenta e nove. Todos, sem exceção, desejam esta mudança"71. Por fim, a 10 de Julho de 1850, Roma aquiescia: "Tendo em contra sobretudo as explicações que apresentastes a 20 de Fevereiro deste ano, os Cardeais "decretaram que passe para a regra"72. 4. A questão da segunda ordem estava muito ligada à da pobreza religiosa: No seu plano de reorganização do clero das Colónias, Leguay instituiu uma segunda Ordem, na qual as pessoas se comprometiam com a vida comunitária e os exercícios de piedade, mas não com a pobreza religiosa. A abrogação foi concedida sem dificuldade na mesma carta de 10 de Julho de 1850. 5. A questão das Constituições e dos Regulamentos: O acordo de 24 de Agosto previa conservar as Constituições do Espírito Santo, por causa do seu reconhecimento legal e eclesial, e acrescentava "Será estatuído ulteriormente, acerca dos itens previstos pelas Constituições, por regulamentos aprovados pela maioria". A Santa Sé aprovou plenamente a conservação das Constituições e autorizou a redação de regras mais específicas. Para fazer isto, Libermann inspirou-se na Regra provisória da Sociedade do Sagrado Coração de Maria.73. Conclusão O que o "Sagrado Coração" parecia ter perdido no ato de união estava reintroduzido na regra de vida dos espiritanos. Em última análise, a estratégia de Loevenbruck fora correta: "Loevenbruck dizia que uma vez consumada a reunião, era garantido que eu obteria o que quisesse" 74. Ele tinha ido ao essencial, deixando o pormenor para depois: Libermann não podia repreendê-lo pelo seu silêncio. Texto da Escritura: At 4,32-35 "punham tudo em comum" É o quadro bíblico ideal da comunidade primitiva, e teoricamente de cada uma das nossas comunidades. Mas na prática, não fazemos nós como Ananis que "vendeu uma propriedade; desviou parte do preço, de conivência com a mulher e, trazendo o restante, depositou-o aos pés dos Apóstolos". Não temo escutar o que Pedro lhes disse: "Ananias, porque é que Satanás invadiu o teu coração a ponto de te levar a mentir ao Espírito Santo?...Não foi aos homens que tu mentiste, mas a Deus… Safira, porque combinaste pôr à prova o Espírito do Senhor?".
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ND, XI, p. 331 - Libermann ao Cardeal Fransoni, 27 de Julho de 1849. ND, XI, p. 331 - Libermann ao Cardeal Fransoni, 30 de Dezembro de 1849. 71 ND, XII, p. 80 - Libermann ao Cardeal Fransoni, 20 de Fevereiro de 1850. 72 ND, XII, p. 556 - Cardeal Fransoni a Libermann, 10 de Julho de 1850. 73 A aprovação romana destes Regulamentos não veio tão depressa como se esperava; em 1878, obteve-se uma carta de encorajamento do Cardeal Prefeito da Propaganda, e a aprovação só foi definitivamente outorgada em 1909. 74 ND, X, p. 352 - Libermann a Le Vavasseur, Dezembro de 1848. 70
Oração do Papa Francisco A alegria do Evangelho Virgem e Mãe Maria, tu que, movida pelo Espírito, acolheste o Verbo da vida na profundidade da tua fé humilde, totalmente abandonada ao Eterno, ajuda-nos a dizer o nosso "sim" na urgência, mais do que nunca premente, de fazer ressoar a Boa Nova de Jesus… Tu reuniste os discípulos na espera do Espírito para que nascesse a Igreja evangelizadora… Estrela da nova evangelização, ajuda-nos a irradiar por meio do testemunho da comunhão, do serviço, da fé ardente e generosa, da justiça e do amor aos pobres, para que a alegria do Evangelho chegue até aos confins da terra. 8. Sexta-feira 13 de Maio - Os ulteriores sobressaltos A fusão esta consumada canonicamente, mas faltava fazê-la concretamente entre os senhores do Espírito Santo e os filhos de Libermann. "Caberá doravante a vós (Vestrum negotium) levar a cabo esta união das vossas duas Congregações", dizia a notificação de Roma! Ora, Monnet acabava de ser nomeado Vigário apostólico de Madagáscar. Todo o encargo (vestrum negotium), portanto, recaía sobre Libermann, o novo superior. Semeou abundantemente com lágrimas e viveu um verdadeiro calvário, que abreviou, sem dúvida, os seus dias. Monsenhor Gay diz muito justamente: "Teve de lidar com a suscetibilidade dos membros do Espírito Santo e, ao mesmo tempo, apaziguar os medos dos padres do Sagrado Coração de Maria dos quais muitos viam na Fusão o doloroso desmoronar de um passado de fervor"75. Lidar com a suscetibilidade dos membros do Espírito Santo: Depois da fusão, o Seminário do Espírito Santo comportava, de facto, três comunidades: os noviços e os seminaristas da Congregação, dispostos a aceitar um regulamento exigente e uma pobreza religiosa estrita, e os seminaristas "seculares" do clero colonial, de espírito mais independente - Libermann teve que despedir alguns. No começo de 1849, partilha com Le Vavasseur as dificuldades que encontrou: "Tivemos grandes penas da parte dos seminaristas…: a maior parte dos antigos partiu; contudo, ainda ficaram alguns que nos atrapalham. Não fazeis uma ideia da desordem que reina nesta casa"76. Houve uma cabala dos "seculares", tendo em vista confiar o seminário ao Vigário geral de Paris. A conspiração vinha de fora, mas a alma da "revolta" - a palavra é de Libermann77 - era o P. Hardy signatário do acordo de 24 de Agosto -, que foi ao ponto de redigir um memorando de 20 páginas, dirigido ao Vigário geral, contra Libermann. Todas as absurdidades eram espalhadas: "Enquanto que Roma tinha decidido o desaparecimento do Sagrado Coração de Maria, Libermann queria absorver o Espírito Santo; o Sagrado Coração queria impor a todos regras religiosas, alimentava os seus seminaristas com o dinheiro do Governo destinado apenas aos seminaristas seculares; O P. Monnet tinha vendido o seu seminário e o seu superiorato pelo episcopado…". Libermann e Warnet tivera que estabelecer uma relação contra o P. Hardy, "espírito desconfiado, suscetível, com falta de franqueza, amigo da discórdia, intriguista e impertinente"78. O P. Hardy saiu do 75
Monsenhor Jean GAY, Libermann, Desclée de Brouwer, Paris, 1955, p. 92. ND XI 210s - Carta de Libermann a Fr. Le Vavasseur, 26 de Outubro de 1849. 77 ND XI 267 - Carta de Libermann a Schwindenhammer, 29 Novembro de 1849. 77 ND XII 139. 666-667. 76
seminário e morreu tragicamente. Entre os missionários "Espiritanos" ao longe, alguns alegraramse com a fusão, como no Senegal, por exemplo, pois já conheciam bem os "libermanianos" e sentiam-se felizes em trabalhar com eles. Outros estavam antes preocupados perante os ruídos que circulavam: o Seminário seria derrubado e os "espiritanos" mandados embora, uma nova congregação assumiria a direção das colónias, querem obrigar-nos a uma pobreza religiosa… Na confluência de dois rios, as águas são sempre tumultuosas, antes de se tornarem um rio mais forte. Libermann compreendia que uma obra de fusão entre duas congregações devia passar por fases de reação, de conflitos: ele soube segurar o leme, "ser ao mesmo tempo dócil perante aquilo que discernia serem apelos de Deus, e mostrar-se tenaz nos obstáculos e oposições" (Legrain). Lembra, aos espiritanos, a supressão do Sagrado Coração de Maria: "As duas Congregações não formam senão a congregação do Espírito Santo, vivendo sob as suas constituições", "nós abandonámos a nossa própria fundação para nos unirmos à Sociedade do Espírito Santo" (ao Vigário geral de Paris, 5 de Maio de 1850). Tranquilizar os medos dos padres do Sagrado Coração de Maria: Em contrapartida, nas suas cartas aos padres do Sagrado Coração de Maria, preocupados com a ideia de desaparecimento, Libermann tem de minimizar as consequências da fusão. Perder o nome do "Sagrado Coração" e viver sob as Constituições do "Espírito Santo" podia ser percebido como uma negação. A exclamação emprestada a Kobés, sub-mestre dos noviços, resume a ideia de muitos "Fomos traídos!" Libermann tem que acalmar também as inquietações dos seus amigos e tranquilizar as comunidades de Bourbon e da Maurícia, de Dakar e do Gabão, numa longa carta de 20 de Dezembro de 1848, amiúde citada ao longo destes dias79. Le Vavasseur não a tinha recebido, quando escreveu a 13 de Março de 1849: "Tenho a alma muito triste. Tenho o maior receio, para não dizer quase a certeza de 80 que esta fusão será uma deplorável confusão" . Libermann, muito afetado, responde-lhe imediatamente, no dia 28 de Março, tendo a delicadeza de o desculpar: "A vossa carta toca-me muito vivamente. Vejo a vossa pobre alma a sofrer por causa das notícias que vos deram os quatro eclesiásticos que vos foram enviados antes da fusão. Não podeis compreender quanto o meu coração ficou aflito com a leitura da vossa carta… Se ainda tiverdes alguma dor ou alguma dúvida, tranquilizai-vos inteiramente, nós levámos a melhor e não há que ter nenhuma dúvida nem nenhuma inquietação. O meu trabalho sobre a Regra está terminado. Apresentei-o ao Conselho e tudo foi admitido com alegria, não tive de cortar sequer uma sílaba. É simplesmente a nossa Regra, com o nome de Regulamento"81. Warnet também lhe escreverá, para o tranquilizar: "Não tendes nada a temer dos Espiritanos… Aqui somos só três… Gaultier… Hardy… Falta enfim o vosso pobre servidor, que foi o que mais contribuiu para a fusão, com o desígnio de tudo colocar nas mãos dos vossos" 82. No dia 15 de Maio, depois de ter recebido a carta de Libermann de 20 de Dezembro, Le Vavasseur escreveu: "Aprovo de todo o coração a fusão… Posso tranquilizar-vos a respeito da perfeita adesão de todos os confrades da Maurícia e de Bourbon". Chegado a França na Primavera de 1850, para secundar Libermann, Le Vavasseur encontra ainda que dizer sobre a fusão: estamos demasiado luxuosamente instalados. Libermann
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ND X, p. 339-342 - Carta de Libermann às Comunidades de Bourbon et da Maurícia, 20 de Dezembro de 1848. A mesma carta, com alguns acrescentos particulares é enviada às comunidades de Dakar e do Gabão. 80 ND XI, p. 587 - Carta de Le Vavasseur a Libermann,13 de Março de 1849. 81 ND, XI, p. 87 - Libermann a Le Vavasseur, 26 de Março de 1849. 81 ND Compl. p. 138 - Carta de Warnet a Le Vavasseur, 4 de Maio de 1849. 82 ND, XII, p. 199 et 203.
encarrega-o de passar pelas diversas dioceses afim encontrar voluntários para o clero colonial. Ele redige, entretanto, a NOTICE sobre a Congregação do Espírito Santo e do Imaculado Coração de Maria e sobre as obras. Mas Le Vavasseur descobre que a reputação do "Espírito Santo" é péssima nas dioceses de França. No dia 16 de Maio, envia uma carta terrível a Libermann na qual pede para abandonar o seminário do Espírito Santo e as colónias. Libermann responde-lhe com força, no dia de Pentecostes, 19 de Maio de 1850: Este abandono "seria uma das faltas mais graves […] que a nossa pequena congregação faria a Deus", e acrescenta: "Vejo que, de acordo com a vossa carta, que a minha notice [informação] não é conforme os vossos desejos"83. Mais tarde, Le Vavasseur pediu desculpa da sua exaltação e aderiu à posição de Libermann. Texto da Escritura: At 4,25-31 Porque bramiram as nações… e todos ficaram cheios do Espírito Santo Filhos de Poullart, filhos de Libermann! as nossas antigas províncias conheceram esta oscilação entre os nossos dois fundadores com tradições diferentes, escolhas missionárias que marcaram duradoiramente as nossas inserções espiritanas. Sou fiel à vontade de Deus, tal como Libermann a reconhece na fusão querida por Roma? Qual é a minha escolha fundamental: Uma opção unilateral e exclusiva que me faz respirar apenas com um pulmão e caminhar só com um pé? Uma comunhão de coração dócil ao Espírito que integra os dois fundadores? Oração para o C.G.A. de 2016 Texto original para o capítulo de Bagamoyo84 Pai, enviaste outrora o Espírito de teu Filho sobre os nossos fundadores, Cláudio Poullart des Places e Francisco Libermann. Graças a eles e a gerações de espiritanos, a nossa Congregação não cessou de se dedicar ao serviço da evangelização dos pobres. Agora que nos preparamos para celebrar o nosso [Conselho Geral Alargado depois do] Capítulo geral de Bagamoyo, nós te pedimos que derrames novamente o teu Espírito sobre toda a Congregação. Que Ele nos reúna numa só e grande família, para melhor escutar os apelos do nosso tempo! Que Ele nos dê um novo fervor para aprofundar, na tua Igreja, a nossa consagração e o nosso testemunho missionários! Que a exemplo de Maria, pela força do Espírito, continuemos a fazer nascer o teu Filho para tua glória e para a vida deste mundo que criaste e libertaste! Ámen! 9. Sábado 14 de Maio - 1849: Regulamento interior e Oração de consagração ao E. S. sob a invocação do Imaculado Coração de Maria O ato de fusão de 24 de Agosto previa uma aplicação das Constituições nos Regulamentos a vir. Libermann assume e fortifica a tradição "espiritana" nos Regulamentos e na consagração de 1849. Regulamentos de 1849 inspirados na Regra provisórias do Sagrado Coração de Maria Libermann pode escrever a 20 de Dezembro de 1848 às comunidades de Bourbon e da Maurícia:
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Texto original para o capítulo de Bagamoyo, 26 de Out. de 2011 - BNS n°276.
"Tenho pleno poder para fazer regulamentos para aplicação das Constituições… O Cardeal Prefeito recebeu esta proposta com alegria. O trabalho já está feito, só tenho de o retocar. Há muito tempo que me propunha corrigir as Regras provisórias do Sagrado Coração de Maria, pois bem! isto não é outra coisa… Vedes assim, caros confrades, que não perdeis nada daquilo que deve manter o fervor, a regularidade e o espírito da Congregação. Quando tivermos praticado durante alguns anos estes regulamentos, só teremos de os apresentar à Propaganda e serão aprovados"85. Libermann enxerta assim no tronco do "Espírito Santo" toda a seiva vital do "Sagrado Coração de Maria". Regulamentos da Congregação do Espírito Santo sob a invocação do Imaculado Coração de Maria (1849) Encontramos as afirmações fortes destes Regulamentos (a negrito) na nossa RVE [1987]. Opção pelos pobres e missões longínquas Art.º III 86 O fim especial para o qual a Congregação foi fundada é a salvação das almas mais necessitadas e mais abandonadas. Art.º IV - Deus conduziu "a exercer o seu ministério apostólico em países longínquos" e "a sagrada Congregação da Propaganda" "determinou as suas Missões" [RVE 4]. Consagração ao Espírito Santo e ao Imaculado Coração de Maria Art.º I87 A vida apostólica é esta vida toda de amor e e santidade que o Filho de Deus levou sobre a terra, para salvar e santificar as almas, e pela qual se sacrificou continuamente à glória do Pai, para a salvação do mundo. Art.º III - A Congregação consagra especialmente (os seus membros) ao Espírito Santo, autor e consumador de toda a santidade e inspirador do espírito apostólico, e ao Imaculado Coração de Maria, superabundantemente cheio, pelo divino Espírito, da plenitude da santidade e do apostolado. [RVE 6]. Esta dupla devoção (consagração) é a devoção especial e distintiva da Congregação. Art.º IV - Encontrarão no Espírito Santo, que vive nas suas almas, um manancial de vida interior e religiosa e um princípio todo-poderoso desta caridade perfeita, que é a alma do zelo. [RVS 9, 76, 85]. Considerarão o Imaculado Coração de Maria como um modelo perfeito de fidelidade às santas inspirações do divino Espírito e da prática das virtudes religiosas e apostólicas.[RVE 5,89]. Art.º VI - As festas principais da Congregação serão O dia santo de Pentecostes e o do Santo e Imaculado Coração de Maria. [RVE 99.1]
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ND X p. 442 - Cartas de Libermann às comunidades de Boutbon e da Maurícia, de Dakar e do Gabão, Paris, 20 de Dezembro de 1848. A aprovação romana destes regulamentos não veio tão depressa como se esperava. Foi obra dos seus sucessores, Schwindenhammer e Le Roy: em 1878, obteve-se uma carta de encorajamento da Propaganda, e a aprovação só foi definitivamente outorgada em 1909. 86 Regulamentos da Congregação do Espírito Santo, Paris, Gaunie frères, libraires, rue Cassette, 4. 1849. ND X 450ss Primeira PARTE Espírito da Congregação e orgânica - Secção Primeira Vida apostólica - Capítulo I - Do fim da Congregação. 87 Regulamentos 2ª PARTE Espírito da Congregação. SECÇÂO I Vida apostólica - Capítulo I - Da vida apostólica em geral . art.º 1 NDC X 505 - Capítulo VI - Das devoções da Congregação, art.º 3ss ND 568.
A primeira consagração ao Espírito Santo pela intercessão de Maria Libermann previu a profissão religiosa com os três votos: consagração sob a forma de votos. Artigo primeiro. Para favorecer… ligar-se a Deus na Congregação por meio de compromissos mais santos e mais perfeitos, todos são autorizados a fazer perpetuamente, além da consagração acima referida, os três votos de religião nas mãos do Superior geral ou doutro membro por ele delegado88. Mas os Senhores do Espírito Santo viviam uma consagração sem votos. Libermann concede no primeiro capítulo este compromisso sob forma de promessa, verdadeira "Consagração a Deus pela vida religiosa". Artigo primeiro - A Congregação quer ainda ser consagrada especialmente (a Deus), pela vida religiosa, sob os auspícios do Espírito Santo e a invocação do Imaculado Coração de Maria. Art.º II Todos os seus membros são consagrados a Deus sob os auspícios do Espírito Santo e a invocação do Imaculado Coração de Maria,… por um ato religioso. Art.º III É por isso que nenhum Membro será recebido na Sociedade senão depois de ter feito a Deus a consagração de todo o seu ser no uso das coisas exteriores, pela pobreza evangélica; na fruição dos sentidos, pela castidade; e na ação da vontade, pela obediência. Art.º IV Embora fosse mais perfeito fazer um compromisso sob a forma de votos, contudo… para os Membros da Sociedade, ela contentar-se-á com consagrá-los todos a 89 Deus por uma resolução solene e permanente sob forma de promessa" . O artigo V acrescenta: Esta consagração será feita segundo a seguinte fórmula". Libermann retoma e adapta o ato de Consagração de Poullart ao Espírito Santo. Ele mantém a mesma abordagem espiritual: ao Espírito Santo pelo Coração de Maria; mas faz uma introdução missionária, tirada de Lc 4,18. "Sendo chamado ao ministério sublime do Apostolado, e desejando ardentemente consagrar-me ao serviço do vosso amado Filho para a salvação das almas, recorro ao vosso Coração tão terno e tão compassivo para os pecadores… Devo evangelizar os pobres, curar as feridas das almas… pregar o santo nome do vosso Filho, estabelecer o seu reino. Como ousaria eu tão grandes coisas, sendo tão fraco e tão miserável? Oh minha Mãe!... vinde em meu auxílio. Dignai-vos aceitar, ó minha Mãe, a oferta que vos faço por inteiro de mim: dai-me ao Espírito Santo, vosso amado esposo. Quero devotar-me e consagrar-me inteiramente ao divino Espírito e ao vosso Imaculado Coração. Desejo viver e morrer, devotar-me e imolar-me, no seguimento de Jesus, na sociedade dos missionários devotada inteiramente ao Todo-Poderoso Vivificador das almas e inteiramente consagrada ao vosso Imaculado Coração. Ó Santíssima Mãe de Deus, se obtenho de vós este insigne favor, se tenho a felicidade de ser recebido nesta Sociedade, tomo a firme e inflexível resolução de nela servir toda a vida o vosso Amado Filho, Jesus Cristo, meu Senhor! Dou-vos a minha alma para que ela vos pertença como uma criança pertence à sua mãe; amar-vos-ei toda a minha vida com um amor terno e filial, e pregarei em toda a parte a vossa glória… Abro o meu coração e abandono-me ao divino Espírito, para que Ele o encha, o possua e nele aja como Soberano Senhor. Quero, sob a sua conduta, espalhar o seu amor em todas as almas que me são confiadas, pela bondade do vosso amado Filho".
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Regulamentos da Congregação do Espírito Santo Vida religiosa Capítulo II . Dos Votos ND X 5000. ND X 498-499.
Prometo-vos uma vez mais que, uma vez recebido na Sociedade consagrada ao divino Espírito e ao vosso Imaculado Coração, observarei as regras nelas em uso, e especialmente a santa pobreza, tal como é prescrita nas suas Regras; obedecerei com exatidão e fidelidade a todos os Superiores, como obedecendo a vós mesma e a Jesus Cristo, vosso Filho e meu soberano Senhor. É com estas condições que peço para ser recebido no número dos fiéis servidores do Espírito Santo, filhos amados do vosso Imaculado Coração…afim de viver, morrer e ser, por toda a eternidade, filho do vosso Imaculado Coração, consumido no amor do Espírito Santo, para glória do Pai e do Filho. Assim seja!"90
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ND X 499-500.
Conclusão - Ação de graças pelo milagre de Libermann Dois anos depois da fusão, Libermann pode escrever com alegria a Laval: "Não vos falo do sucesso que teve a nossa união com o Espírito Santo. Tivemos sucesso para além das nossas esperanças. Deus abençoou-nos, embora o não tivéssemos merecido"91. Mas era preciso, nota Legrain, "uma personalidade da têmpera da do Padre Libermann para fazer ter sucesso uma tal empresa, porque ele era o único a querer profundamente esta união, e a pagar-lhe o preço"92. Ao terminar esta novena com Libermann, podemos dizer com o P. Blanchard: "O maior milagre de Libermann é a fusão da Sociedade do Espírito Santo e a Congregação do Sagrado Coração de Maria"93. Texto da Escritura Lc 4, 16-19 O Espírito de Deus repousa sobre mim Para nós, espiritanos, filhos de Poullart e de Libermann, o Evangelho encarna na nossa RVE: Posso realmente dizer como Jesus: hoje, estas palavras da RVE cumprem-se em mim? Vivo a profissão religiosa como consagração ao Espírito Santo pelas mãos de Maria? Oração Rezar juntos o ato de consagração de Libermann (acima transcrita)
Vigília de Oração no Pentecostes Esperar o Espírito Santo à luz da fusão Cântico: O Espírito de Deus repousa em mim Evocação rápida: Inspirar-se (livremente) no quadro: lê-lo a 3 vozes: 1. Poullart e Libermann - Dois fundadores "separados" - um mesmo carisma * Animador: títulos e colunas da esquerda * Leitor 1: Poullart Leitor 2: Libermann
Dois percursos diferentes família formação
Fundador
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Poullart des Places
Libermann
Família de antiga nobreza Burguesia de Rennes Estudos retóricos, direito, humanidades: Jesuitas em Rennes Teologia: Jesuitas, no colégio Luis-o-Grande Seminário do Espírito Santo, 1703 Os "Senhores do Espírito
Judeu, filho de rabino Gueto de Saverne Estudos do talmunde em Metz Teologia nos Sulpicianos em S. Sulpício (Paris), depois Issy-les-Moulineaux Sociedade do Sagrado Coração de Maria, 1841 Os "Filhos de Libermann"
ND XIII p. 43 Carta de Libermann a Laval, 20 de Fevereiro de 1851. M. Legrain Une union de Congrégations … in Libermann 727. 93 P. BLANCHARD, op. cit., T. II, p. 437-438. 92
Santo" Pontos Comuns Ambição do Pai → Rutura
Pai rico burguês: sonho de Pai rabino: põe todas as suas recuperar o título de esperanças no filho para o nobreza familiar através do suceder como rabino filho advogado => Libermann parte para Cena da toga => Padre Paris e converte-se: traição! Maldição
Percurso sacerdotal difícil
Poullart não avança nas ordens depois da tonsura (3 anos). Padre a 17 de Dezembro de 1707, aos 28 anos, morre a 2 de Outubro de 1709, com 30 anos
A epilepsia barra-lhe o caminho para o sacerdócio. Padre aos 39 anos, morre a 2 de Fevereiro de 1852, com 50 anos
Ardor espiritual: Associações secretas
Associação dos amigos Aa, no Luís-o-Grande
Sagrados Corações de Jesus e de Maria (S. Sulpício) e a dos Santos Apóstolos (Issy).
Uma mística comum Forte experiência do E. Santo
Ele batizar-vos-á no Espírito e no fogo" (Lc 3,16)
18 meses (Agosto 1702 - Dezembro 1703) - oração de afeição - "subida espiritual" "Recebia abundantes consolações, os meus olhos não paravam de chorar, quando podia estar só a meditar nos meus desvarios e nas misericórdias de Deus. Se fazia qualquer esforço para dar um passo para o Senhor, logo este terno Mestre me levava aos ombros léguas inteiras. Quase não podia pensar senão em Deus. Não desejava senão amá-Lo. Rezava a maior parte do dia, mesmo caminhando pelas ruas. Desejava este pão sagrado com uma
13 de Nov. 1826: Iluminação na sua conversão "Lembrando-me do Deus de meus pais, pus-me de joelhos. Fui imediatamente esclarecido, vi a verdade: a fé peneterou o meu espírito e o meu coração". 24 Dez. 1826: Globo de fogo no batismo Quando a água deslizou sobre a minha fronte pareciame que estava no meio de um imenso globo de fogo". 15 Nov. 1828: o pai amaldiçoa-o 1828-1833: "alcançado pelo
avidez tal que logo que o comia, não podia reter com frequência torrentes de lágrimas. Sentia ternura por aqueles que sofriam, um zelo ardente por levar os pecadores a voltar para Deus".
"Deixar-se encher, consumir pelo Espírito de amor" Espírito todopoderoso, dignai-vos iluminar o meu espírito com a vossa luz e abrasar o meu coração com o fogo do vosso amor.
Pentecostes
Consagração ao Espírito de Pentecostes 1703 Regulamentos gerais e particulares - 1705 1. Todos os
Senhor" "Nosso Senhor fezme a graça de resistir a meu pai, que queria arrancar-me à fé. Depois disto, o bom Mestre veio de improviso arrancarme a mim mesmo e manteve as minhas faculdades absorvidas e cativas durante cerca de cinco anos; toda a minha ocupação era estar com Ele e isso era-me muito fácil. Deus atraiu-me sem me pedir licença e com uma violência tal que não vi em ninguém, até hoje…"
Docilidade ao Espírito, princípio de santidade e de espírito apostólico Abro o meu coração e abandono-me ao divino Espírito, para que Ele o encha, o possua e nele aja como Soberano Senhor. Pentecostes Regulamentos (Regras provisórias) 1849 Art.º III - A
estudantes adorarão particularmente o Espírito Santo ao qual foram especialmente consagrados. 2. Escolheraão as festas de Pentecostes e da Imaculada Conceição como festas principais. Celebrarão a primeira para obter do Espírito Santo o fogo do amor divino.
Amor da Virgem Maria
Maria concebida sem pecado, Imaculada "e o Sancta Maria etc… para pedir as luzes do Espírito Santo e a proteção da Santíssima Virgem". 1703 - Nª. Srª do Bom Sucesso, Virgem Negra "Santa Maria, minha Mãe, ajudai-me, vosso pequeno servo, a decidir-me, consagrar-me e devotar-me ao Espírito Santo.
Regulamentos gerais e particulares 1705 Terão também uma especial devoção à Santíssima Virgem, sob a proteção da
Congregação consagra (os seus membros) especialmente ao Espírito Santo, autor e consumador de toda a santidade e inspirador do espírito apostólico. Art.º VI - O dia santo de Pentecostes e o do Sagrado e Imaculado Coração de Maria serão as festas principais da Congregação. Quando a água deslizou sobre a minha cabeça de judeu, nesse mesmo instante, amei Maria, que antes detestava. Sagrado Coração de Maria, Coração Imaculado Nossa Senhora das Vitórias Dignai-vos, ó minha Mãe, aceitar a oferta que vos faço por inteiro de mim; daime ao Espírito Santo, vosso amado Esposo. Quero dedicar-me e consagrar-me inteiramente ao vosso Imaculado Coração… Regulamentos (1849) Art.º III- A Congregação
qual foram oferecidos ao Espírito Santo.
Celebrarão a festa da Imaculada Conceição para obter da Santíssima Virgem uma pureza angélica, duas virtudes que devem constituir o fundamento da sua piedade.
consagra (os seus membros) especialmente ao Imaculado Coração de Maria, superabundantemente repleto, pelo divino Espírito, da plenitude da santidade e do apostolado.
Art.º IV Considerarão o Imaculado Coração de Maria como modelo perfeito de fidelidade as todas as santas inspirações do divino Espírito e da prática das virtudes da vida religiosa e apostólica.
Mística de pobreza: O Espírito, nosso único tesouro Doentes - Pequenos saboianos Estudantes pobres
Escravos negros (Bourbon, Domingos) depois populações autóctones interior dos países, no mato.
Orientação missionária: A evangelização dos negros
Formar estudantes pobres para a evangelização dos pobres. Depois, rapidamente, para os "espiritanos", missões nos postos coloniais.
Preocupação com a formação do Clero Fidelidade a Roma
Seminário do Espírito Santo: Ensino sólido e seguro, Ligação a Roma
"A Obra dos Negros" A evangelização dos escravos de Bourbon e Haiti- S. Domingos. Depois África negra - Vicariato das Duas-Guinés - "Fazei-vos negros com os negros". Seminário do Espírito SantoSeminário Francês de Roma Clero indígena: Seminários em todos os países de missão
Evangelização dos pobres
S. do
Palavra de Deus: At 13,1-3 Separado Podemos realmente dizer com o P. Blanchard: "O maior milagre do P. Libermann é a fusão da Sociedade do Espírito Santo e da Congregação do Sagrado Coração de Maria". Oração para o C.G.A. de 2016, Texto original para o capítulo de Bagamoyo, 26 de Out. 2011 - BNS nº 276
Pai, Tu enviaste outrora o Espírito de teu Filho sobre os nossos fundadores, Cláudio Poullart des Places e Francisco Libermann. Graças a eles e a gerações de espiritanos, a nossa Congregação não cessou de se dedicar ao serviço da evangelização dos pobres. Agora que nos preparamos para celebrar o nosso [Conselho Geral Alargado depois do] Capítulo geral de Bagamoyo, nós te pedimos que derrames novamente o teu Espírito sobre toda a Congregação. Que Ele nos reúna numa só e grande família, para melhor escutarmos os apelos do nosso tempo! Que Ele nos dê um novo fervor para aprofundar, na tua Igreja, a nossa consagração e o nosso testemunho missionários! Que a exemplo de Maria, pela força do Espírito, continuemos a fazer nascer o teu Filho, para tua glória e para a vida deste mundo que criaste e libertaste! Ámen! 10.A cruz no coração da vida missionária - O mistério pascal 1) Para Libermann no momento da fusão (1) Decisão da Propaganda: "Deixando de existir o Sagrado Coração de Maria": "Os Eminentíssimos Padres julgaram poder aprovar a vossa proposta. Por isso, caberá doravante a vós levar a cabo esta união das vossas duas Congregações, de sorte que, deixando de existir a partir de agora a Congregação que tem o título de Sacratíssimo Coração da B. Virgem Maria, os Membros e os Associados deste Instituto sejam agregados à Congregação do Espírito Santo, participando nos direitos e privilégios dos Membros e Postulantes desta, sendo submissos à observância das mesmas 94 Regras" . Morrer: Libermann e os seus filhos tiveram de aceitar a morte da "Sociedade do Sagrado Coração de Maria". Mas foi para ressuscitar: Congregação do Espírito Santo sob a invocação do Imaculado Coração da Bem-aventurada Virgem Maria". (2) Depois da decisão de Roma: turbulências e incompreensões: Libermann semeou abundantemente com lágrimas e viveu um verdadeiro calvário, que abreviou, sem dúvida, os seus dias. Monsenhor Gay diz muito justamente: "Teve de lidar com a suscetibilidade dos membros do Espírito Santo e, ao mesmo tempo, acalmar os medos dos padres do Sagrado Coração de Maria dos quais muitos viam na Fusão o doloroso desmoronar de um passado de fervor". Mas era precisa, nota Legrain, "uma personalidade da têmpera da do Padre Libermann, para fazer vingar uma tal empresa, porque ele era o único que queria profundamente esta união, e pagar-lhe o preço". NOTICE "Tendo a Sociedade do Sagrado Coração de Maria passado por todas as provações a que a divina bondade devia submetê-la" Comentário (Paul COULON) esta história é "uma forma de relato pascal": "Tendo passado por todas as provações", como o Desconhecido do caminho de Emaús começa o seu relato com estas palavras: "Não era preciso que Cristo sofresse isto para entrar na sua glória?" (Lc 24,26). Texto da Escritura Lc 24, 25-49 Mistério pascal Cântico Souviens-toi de J.C. c.1 (?)
4) Cruz nos começos da missão (no essencial, extrato de NOTICE) (1) 1844 Morte de 5 missionários no Cabo das Palmas - Primeira missão no Cabo das Palmas "Mas uma provação muito dolorosa estava reservada a estes começos, provação que parecia dever aniquilar todas as esperanças da congregação. A inexperiência dos missionários e a falta das precauções necessárias nestes climas escaldantes, causaram a morte a cinco deles logo nos primeiros meses da sua estadia no país. A sociedade, assutada com estas desgraças e não sabendo ainda exatamente a que atribuílos, viu-se forçada a suspender esta missão até receber informações mais tranquilizadoras".
94
No essencial, os testemunhos são estraídos da NOTICE…
Quando sabe dos acontecimentos, Libermann não consegue reter um grito: "Infeliz Guiné". Mas a missão continuará: a 26 de Julho de 1844, Bessieux deixa o Cabo das Palmas com o Irmão João Fabé, recolhe o Ir. Gregório em Grande Bassam e vai para o Gabão.
(2) 1844: expulsão dos 5 primeiros missionários acabados de chegar ao Haiti (S. Domingos) "Cinco padres da mesma sociedade fora, postos à disposição da Propaganda para a missão do Haiti (S. Domingos), onde estavam 500.000 almas cheias de excelentes disposições e estão ainda agora entregues como uma presa a alguns padres indignos vindos de algumas dioceses de França, e cuja vida era um escândalo permanente para os habitantes deste infeliz país; mas o tempo marcado nos desígnios de Deus ainda não chegara. O governo haitiano desta época era muito mal disposto; as suas exigências cismáticas obrigaram os missionários, acabados de chegar, a deixar o país, deixando consternados os pobres habitantes que tinham tido tempo de entrever neles verdadeiros sacerdotes de Jesus Cristo.
(3) 8 de Dez. 1845 Tisserant morre num Naufrágio ao largo de Marrocos a 16 de Janeiro de 1845. Depois de Haiti, Bourbon, Roma confia a missão das 2 Guinés à Congregação do Sagrado Coração de Maria. Tisserant é nomeado prefeito apostólico das Duas-Guinés "Durante este tempo, conseguiram-se informações exatas sobre a Guiné, que as suas costas podem ser habitadas pelos missionários europeus, não obstante as precauções exigidas pelos climas tropicais, e a congregação do Sagrado Coração de Maria teve a consolação de retomar esta missão pelo meio do ano 1845. Este novo esforço ainda devia custar-lhe caro: um dos seus três primeiros membros, Tisserant, nomeado chefe da missão pela Propaganda, morreu antes de chegar, no naufrágio do Papin, a 8 de Dezembro de 1845".
(4) 23 Nov. 1847 Morte de Truffet, primeiro vigário apostólico de Dakar Deus provou-nos de novo na Guiné. Ele quis ter ainda uma vítima e escolheu a maior do rebanho. Monsenhor Truffet partiu a 15 de Abril e chegou a Dakar a 7 de Maio com os seis companheiros que levava consigo. Eles estavam todos cheios de ardor. Adotaram um regime alimentar semelhante ao das gentes do país. Proscreveram da mesa o pão, a carne e o vinho; o seu alimento consistia no arroz (com água e sal), o couscous, a mandioca, a batata e o inhame, e de vez em quando, peixe; só bebiam água. Ao fim de seis meses, todos ficaram doentes. Depois foi a vez do seu Bispo. No dia 17 de Novembro, o mal agravou-se. No dia 21, depois da missa, foi deitar-se e não se levantou mais. Era demasiado tarde. O doente estavam com uma febre violenta; no dia 23, cerca de uma hora depois do meio-dia, o doente permanecia inconsciente. Não houve senão tempo de lhe dar a Extrema-Unção, e ele expirou.
(5) 1º de Dezembro 1849 Morte de Monnet, antes de chegar a Madagáscar Nomeado Vigário apostólico de Madagáscar, partiu de barco. Morre em Mayotte, no 1º de Dezembro de 1849, antes de chegar a Madagáscar. Ficámos chocados como por um raio, ao saber da morte de Monsenhor Monnet. Tinha-o deixado um momento na ilha da Reunião, pelo interesse da religião e eis que a 19 de Dezembro, ao chegar a Mayotte, soubemos de repente que Monsenhor morreu quase subitamente no 1º de Dezembro, descendo à terra. O Senhor Ministro conhece os detalhes desta terrível catástrofe. E muitos outros: Janeiro 1920 Monsenhor Jalabert, vigário apostólico da Senegâmbia, faleceu aquando no naufrágio do paquete "Afrique", além da ilha de Orleães, pelos recifes da ilha Ré. => Texto da Escritura At 4 Porque bramiram as nações Cântico Souviens-toi de Jésus-Christ c. 2 (?)
5)A cruz na nossa vida missionária hoje
"A graça de Deus não os abandona, e fá-los tomar a resolução de antes sacrificar tudo que abandonar a obra que a divina bondade tinha inspirado". Muitos missionários morreram jovens: grão de trigo lançado à terra. Doenças, enfermidades, prisão, perseguições, torturas.
do
Testemunho ou partilha => Texto da Escritura At 5,26-33.40-42 "felizes por terem sido considerados dignos de sofrer por Cristo" Cântico Souviens-toi de Jésus-Christ c. 3 (?) Oração (Oração de Pentecostes) Deus do universo, que no mistério de Pentecostes santificais a vossa Igreja dispersa entre todos os povos e nações, derramai sobre a terra os dons do Espírito Santo, de modo que também hoje se renovem nos corações dos fiéis os prodígios realizados nos primórdios da pregação do Evangelho. 11. Hoje No Cenáculo com Maria Ontem Poullart: a Virgem Negra, 27 de Maio de 1703 - Pentecostes Libermann: Missa de fundação do "Sagrado Coração de Maria, 25 de Setembro, 1841 N.D. Nª Sr.ª das Vitórias => Escritura At 1,4-8.12-14: A Virgem no Cenáculo Hoje como ontem Esperar Aquele que o Pai prometeu. Ler lentamente, com tempos de silêncio, a RVE A NOSSA VOCAÇÃO ESPIRITANA 2. Chamados pelo Pai e «segregados», respondemos a este apelo num Instituto religioso missionário, a Congregação do Espírito Santo sob a proteção do Imaculado Coração de Maria. Os carismas dos nossos Fundadores, Cláudio Poullart des Places e Francisco Libermann, e a fidelidade à nossa tradição, incitam-nos a responder de maneira criativa às necessidades de evangelização do nosso tempo (cf. nº 4 e 12). A NOSSA MISSÃO NA IGREJA 3- Vamos mais especialmente para os povos, os grupos e as pessoas que ainda não ouviram ou mal ouviram a mensagem evangélica, e para aqueles cujas necessidades são maiores e para os oprimidos (cf. N.D. II, 241). Aceitamos também de bom-grado as tarefas para as quais a Igreja tem dificuldade em encontrar operários. O ESPÍRITO APOSTÓLICO ESPIRITANO 5. Tomando Maria como modelo, vivemos a nossa missão na docilidade ao Espírito Santo. Este estado habitual de fidelidade às inspirações do Espírito - "a união prática" de que fala Libermann (cf. N.D. XIII, 699-706) é o manancial do nosso "zelo apostólico" e conduz-nos à disponibilidade e ao dom total de nós mesmos. CONSAGRAÇÃO 6. Somos consagrados ao Espírito Santo, autor de toda a santidade e "inspirador do espírito apostólico" (N.D. X, 568). Permanecemos também sob a proteção do Imaculado Coração de Maria repletos por este mesmo Espírito "da plenitude da santidade e do apostolado" (ibid.). Pai-nosso cantado: "unidos no mesmo Espírito" Oração do Papa Francisco in "Alegria do Evangelho" Virgem e Mãe Maria, Vós que, movida pelo Espírito, acolhestes o Verbo da vida na profundidade da vossa fé humilde, totalmente abandonada ao Eterno, ajudai-nos a dizer o nosso «sim» perante a urgência, mais imperiosa do que nunca,
de fazer ressoar a Boa Nova de Jesus. Vós, cheia da presença de Cristo, levastes a alegria a João Batista, fazendo-o exultar no seio de sua mãe. Vós, estremecendo de alegria, cantastes as maravilhas do Senhor. Vós, que permanecestes firme diante da Cruz com uma fé inabalável e recebestes a jubilosa consolação da ressurreição, reunistes os discípulos à espera do Espírito para que nascesse a Igreja evangelizadora. Alcançai-nos agora um novo ardor de ressuscitados para levar a todos o Evangelho da vida que vence a morte. Dai-nos a santa audácia de buscar novos caminhos para que chegue a todos o dom da beleza que não se apaga. Estrela da nova evangelização, ajudai-nos a refulgir com o testemunho da comunhão, do serviço, da fé ardente e generosa, da justiça e do amor pelos pobres, para que a alegria do Evangelho chegue até aos confins da terra e que nenhuma periferia fique privada da sua luz. Mãe do Evangelho vivo, manancial de alegria para os pequeninos, rogai por nós. Ámen. Aleluia! (Introdução RVE 7 - Retendo como ideal de vida fraterna e apostólica ao canto final) o que se dizia das primeira comunidades cristãs, a Congregação tomou como divisa: "Um só coração e uma só alma" (cf. At 4,32). Cântico final
D'un seul coeur unis dans la prière (?)
Plano da novena 1. POULLART: Carisma da fundação Pentecostes 1703: consagração ao Espírito Santo por Maria 2. Declínio e agonia da Congregação do Espírito Santo. Projetos de restauração de FOURDINIER e LEGUAY 5 3. LIBERMANN e a Sociedade do Sagrado Coração de Maria: jovem sociedade em plena expansão 4. Libermann pensa na união do Sagrado Coração e do Espírito Santo - Os obstáculos à unidade 5. 1848: Em direção à concretização da fusão em 1848 6. União do "Sagrado Coração de Maria" com o "Espírito Santo": decisão de Roma - a Propaganda 7. Perante a decisão de Roma: A força de Libermann: aceitar morrer para ressuscitar 8. Os ulteriores sobressaltos 9. 1849: Regulamento interior e Oração de consagração ao E.S. sob a invocação do Imaculado Coração de Maria Vigília de Pentecostes
Fontes 1. Une union de congrégations au XIXè siècle : le "Saint-Esprit" et le "Saint Cœur de Marie, thèse de doctorat en Droit Canon, M. LEGRAIN, soutenue le 26 mai 1965 2. Libermann, 1802-1852, Une pensée et une mystique missionnaires, P. Coulon et E. Brasseur, éd. cerf, 1988
a. Notice sur la Congrégation du St Esprit et de l'Immaculé Cœur de Marie et sur ses œuvres (Libermann, mai 1850) p. 661-670 b. M. LEGRAIN, "Une union de congrégations au XIXè siècle : le "Saint-Esprit" et le "Saint Cœur de Marie" p. 695-728 3. Aux racines de l'arbre spiritain, Claude-François Poullart des Places, Ch. de Mare Mémoire spiritaine, Etudes et Documents, n°4, 1998 a. Règlements généraux et particuliers, présentés et commentés par le P. Lécuyer, 331-371 b. "François Libermann, Notice sur la Congrégation du Saint-Esprit et de l'Immaculé de Marie et sur ses oeuvres par François Libermann (1850)" p. 378-388 4. Mémoire Spiritaine : articles de M. LEGRAIN a. N° 7 (1er semestre 1998), Le Saint-Esprit et le Saint-Cœur de Marie, préliminaires à une union de congrégations (1/2), p. 2-27 b. N°8, (2ème semestre 1998), Le Saint-Esprit et le Saint-Cœur de Marie, préliminaires à une union de congrégations (suite), p. 7-30 c. N°12 (2ème semestre 2000), Le Saint-Esprit et le Saint-Cœur de Marie : après l'union, une fidélité mal comprise p. 34-55 5. Anthologie spiritaine, textes choisis et présentés par Christian de Mare, éd. Congregazione dello Spirito Santo, 2008 6. Sean P. FARRAGHER, Led by the Spirit, the life and work of Claude-François Poullart des Places, ed. Paraclete Press, Dublin, 1992 7. Claude-François Poullart des Places et les Spiritains, de la fondation en 1703 à la restauration par Libermann en 1848, La congrégation du Saint-Esprit dans son histoire – I P. COULON (dir.), éd. Karthala 2009 a. M. LEGRAIN De la concurrence à l'union des congrégations : Le Saint Cœur de Marie et le Séminaire du Saint-Esprit en 1848, p. 601-646 b. NOTICE sur la Congrégation du St Esprit et de l'Immaculé Cœur de Marie et sur ses œuvres par François Libermann (1850) p. 647-660 [version citée dans ces pages]