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Uma visão pós-evento
O Festival Cine Ceará é um dos mais tradicionais eventos de cinema do Brasil. A 23ª Edição contou com ampla divulgação de mídia, com o objetivo de atrair público e promover as marcas parceiras. Neste material você vai encontrar um quantitativo de veiculação nos mais diversos meios, para visualizar melhor o alto impacto e alcance de público da sua marca como patrocinadora do 23º Cine Ceará.
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Uma visão pós-evento
Onde sua marca foi vista
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Uma visão pós-evento
JORNAL O jornal possibilita atingirmos fortemente o público AB e formadores de opinião, já que é considerado um meio de grande credibilidade. Além da versão impressa, podemos vincular os anúncios aos grandes portais de notícia, atingindo uma parcela do público que pode preferir acompanhar notícias pela internet.
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DIÁRIO DO NORDESTE FORTALEZA, CEARÁ - TERÇA-FEIRA, 3 DE SETEMBRO DE 2013
FESTIVAL
Veneza confirma o desejo de expor um mundo em crise
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DIÁRIO DO NORDESTE FORTALEZA, CEARÁ - QUARTA-FEIRA, 4 DE SETEMBRO DE 2013
POLÊMICA
Marta Suplicy ouve protestos de representantes da moda Criticada pelo apoio do Ministério da Cultura a um desfile na França, ministra é cobrada por profissionais do setor
C “Miss violence”
descreve o emaranhado de relações doentias que regem a família
PEDRO DINIZ Folhapress
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CARLOS HELÍ DE ALMEIDA Agência O Globo
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meio caminho de seu término, no próximo sábado, com a cerimônia de premiação, o 70º Festival de Veneza confirma o desejo de expor um mundo em crise de valores, habitado por persona-
gens diante de traumas emocionais e sociais. Exibidos neste domingo na competição pelo Leão de Ouro, a produção grega “Miss violence”, de Alexandros Avranas, e a americana “Parkland”, de Peter Landesman, são exemplos radicais dessa ambição. O primeiro, descreve o emaranhado de relações doen-
tias que regem a família de uma garota, que se suicida em meio aos festejos de seu 11º aniversário. O segundo recria o clima caótico dos dias que se seguiram ao assassinato do presidente John F. Kennedy, em novembro de 1963, do ponto de vista do homem comum. Logo na primeira sequência
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de “Miss violence”, a pequena Angeliki salta para a morte da janela de seu apartamento, com um sorriso no rosto, enquanto a mãe, os avós e os outros três irmãos se preparam para a foto de aniversário. O incidente dispara uma série de reações estranhas por parte da família, ao mesmo tempo em que a polícia e o serviço social tentam descobrir as razões para o ato extremo de uma menina aparentemente sem problemas. A medida que a trama avança, o roteiro vai relevando anos de abusos físicos e morais cometidos pelo patriarca da família. O ato de vingança final foi aplaudido por parte da plateia de jornalistas. “Mais do que uma crise econômica, vivemos uma crise de valores, que não é particular da Grécia, mas de toda a Europa. O filme é uma forma de dar voz a todos aqueles seres humanos que experimentam esse tipo de violência”, disse o diretor, que se inspirou em um caso real. “Parkland” é um estudo do trauma emocional causado pelo assassinato de Kennedy, durante sua passagem em Dallas, 50 anos atrás, em incidente que paralisou os Estados Unidos. Revisitado por documentários, programas de TV e filmes de ficção, como “JFK — A pergunta que não quer calar” (1991), de Oliver Stone, o longa-metragem escrito e dirigido por Landesman retoma o episódio agora sob a perspectiva dos funcionários do hospital em que Kennedy foi atendido, dos policiais texanos e agentes federais que acompanharam o caso, do cinegrafista amador que capturou o momento do atentado, e da família de Lee Harvey Oswald, seu suposto assassino. Filme coral estrelado por um elenco gigantesco, que inclui nomes como Marcia Gay Harden, Billy Bob Thornton, Zac Efron e Paul Giamatti, “Parkland” estreia em outubro nos Estados Unidos e depois na TV americana, a tempo de marcar o cinquentenário da tragédia, em novembro. Landesman diz ter evitado personagens óbvios e todo qualquer tipo de teoria conspiratória envolvendo o assassinato do presidente americano, para concentrar-se no impacto do trauma. “O que o filme descreve é como as pessoas comuns sentiram e sobreviveram à notícia, ou seja, como a população superou o sentimento de pânico e desorientação desencadeado pelo episódio”. explicou o diretor. “O conceito de “Parkland” é colocar o espectador na posição daqueles que viveram o momento de perto”. O clima de desencanto dos filmes em competição perdurou
epresentantes de entidades e profissionais ligados à moda questionaram, na segunda-feira, a ministra da Cultura, Marta Suplicy, sobre os critérios para aprovação de projetos na Lei Rouanet. Marta se reuniu com representantes do setor na sede da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), em São Paulo. O objetivo era explicar o uso do mecanismo de incentivo fiscal da Lei Rouanet e apresentar o plano de políticas do ministério para a moda. Mas a aprovação de três projetos que, juntos, autorizam os estilistas Pedro Lourenço, Alexandre Herchcovitch e Ronaldo Fraga a captar R$ 7,4 milhões para seus próximos desfiles deu a tônica do debate. No último dia 22, foi revelado que, mesmo após a Comissão Nacional de Incentivo à Cultura – órgão que delibera sobre os pleitos inscritos na Lei Rouanet – ter indeferido o projeto de desfiles de Lourenço na Semana de Moda de Paris, Marta reverteu a decisão e aprovou o projeto. No mesmo dia, os ou-
Ministra da Cultura, Marta Suplicy foi criticada pela falta de clareza e diálogo nos trâmites da aprovação do projeto de desfiles internacionais de me
tros estilistas também receberam o incentivo. “É importante saber qual é o comprometimento deles (os estilistas beneficiados) com a cadeia produtiva e com a indústria de moda nacional”, disse a dona da tecelagem paranaense O Casulo Feliz, Glicínia Setenareski. Minutos antes, uma representante de uma associação de designers da Paraíba questio-
nou a ministra: “O que eles representam para a cultura de moda brasileira e por que só os designers da região Sudeste foram procurados para participar das reuniões que a senhora organizou com o setor?”. A professora da Universidade de São Paulo (USP) Francisca Dantas Mendes apontou a falta de diálogo com a universidade. “Não houve consulta das
instituições de ensino para identificar as demandas do setor. Não entendemos, por exemplo, como esses projetos vão beneficiar a formação de profissionais”, disse.
Respostas Acompanhada do secretário de Fomento e Incentivo à Cultura, Henilton Menezes, e de representantes da Abit, a mi-
dalhões da moda
nistra respondeu dizendo que está aberta a propostas de novos projetos e que ficaria feliz em ouvir mais representantes do setor da moda. “É o momento de entendermos a situação e saber o que ainda é preciso ser feito”, disse. Sobre as críticas à escolha dos nomes que dão início à política de incentivo ao setor, a ministra disse à reportagem,
durante entrevista coletiva realizada antes da reunião, que “não há protegidos”. “O importante é a mídia que seus desfiles vão gerar para o Brasil”.
Goodluck Durante seu discurso, ela citou o filme “O Diabo Veste Prada” (2006) como exemplo para explicar a importância da cadeia produtiva na moda. “É interessante como, num dos diálogos, a personagem (de Meryl Streep, que interpreta uma editora de revista de moda) mostra todo o processo envolvido na confecção de uma roupa”, disse a ministra. Nos corredores da Abit, Marta encontrou o estilista Pedro Lourenço. Depois de posar ao seu lado para fotos, desejoulhe “good luck” (“boa sorte”, em inglês) na execução do projeto. O estilista acompanhou todo o discurso em pé, na entrada da sala de reuniões. Seus colegas Alexandre Herchcovitch e Ronaldo Fraga não compareceram. Modapraia Além dos desfiles de prêt-àporter feminino, o ministério também planeja oferecer incentivo fiscal, via Lei Rouanet, para desfiles de moda praia. Na última sexta-feira, em encontro com empresários – entre eles Paulo Borges, fundador da São Paulo Fashion Week, e Benny Rosset, dono da grife de beachwear Cia. Marítima –, a ministra Marta Suplicy ouviu sugestões sobre como incluir o segmento no bolo dos incentivos. “Nosso biquíni é o mais importante e copiado do mundo. Temos que pensar estratégias para incentivar marcas a desfilarem em Miami, por exemplo, que é a maior vitrine de moda praia no mundo”, disse Rosset.
“Parkland”, com Zac Efron, é um estudo do trauma emocional causado pelo assassinato de Kennedy, durante sua passagem em Dallas, 50 anos atrás
Landesman diz ter evitado personagens óbvios e qualquer tipo de teoria conspiratória envolvendo a morte do presidente Em meio a histórias sombrias, a comédia “Philomena”, de Stephen Frears elevou os espíritos. É Inspirada em um caso real por todo o primeiro final de semana. O programa de sábado ofereceu “Child of God”, de James Franco, versão do livro de Cormac McCarthy que descreve o mergulho de um desajustado social na violência e no crime, no interior do Tennessee, nos anos 1950. Foi dia também da sessão de gala do concorrente americano “Night moves”, de Kelly Reichardt, com Jesse Eisenberg, Dakota Fanning e Peter Sarsgaard, sobre um grupo de ecoterroristas radical que têm que lidar com as
consequências de um atentado contra uma represa, símbolo da cultura industrial. O filme, que recebeu aporte financeiro da produtora brasileira RT Features, foi recebido com certa indiferença pela plateia de jornalistas. “Não considero “Night moves” uma crítica ao ativismo extremado. Mas, se existe radicalismo na questão ambiental, essa pode ser atribuída às grandes corporações, que exploram recursos naturais. Basta andar de carro pelo interior dos Estados Unidos para perceber o quanto da terra e de seus recursos permanecem intocados pelo homem”, disse a diretora. Em meio a tantas histórias sombrias, a comédia dramática “Philomena”, de Stephen Frears elevou os espíritos. Inspirado em caso real, narra o périplo de uma enfermeira aposentada, ajudada por um jornalista, pelo paradeiro do filho, entregue à adoção 50 anos antes. Desde então, Judi Dench, a protagonista, virou favorita ao prêmio de melhor atriz. Já o desenho animado “The wind rises”, de Hayao Miyazaki, mestre do gênero, trouxe romantismo à disputa, apesar da crítica antibelicista embutida na trama do engenheiro que criou os aviões Zero, usados pelos kamikazes japoneses na Segunda Guerra Mundial. 362900082
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DIÁRIO DO NORDESTE FORTALEZA, CEARÁ - SEXTA-FEIRA, 6 DE SETEMBRO DE 2013
GRAFFITI
Emol lança projeto de residência artística no bairro Pici A casa ateliê abre suas portas, hoje, para uma programação gratuita que inclui palestra e performance musical
Com o objetivo de construir esses processos conjuntos, Emol já iniciou um mapeamento local dos coletivos que estão na ativa
A
s ruas por onde o artista visual Emol passou não são mais as mesmas desde 2000. Os muros de São Bernardo do Campo, Maceió, Recife e até Melbourne, na Austrália, para citar apenas algumas das cidades em que ele deixou sua marca, hoje são mais coloridos – muito mais coloridos. Grandes pássaros, dragões, seres mitológicos e folclóricos encenam movimentos e diálogos pelas paredes, surpreendendo os que passam e esperam a mesma mesmice. Nascido e criado em Diadema, subúrbio de São Paulo, Emol é um artista itinerante não só de moradias, mas também de produções. Há 13 anos trabalhando com graffiti em intervenções urbanas sob influência da cultura hip hop, o artista também envereda pela introspecção em ateliês, voltando ao estúdio para assemblages e pinturas em tela e papel. Paralela ao seu lado artístico, também corre uma veia social de oficinas, palestras e projetos ligados a arte, cultura e educação para crianças e adolescentes em diversas situações sociais. Com toda essa bagagem,
Emol chega a Fortaleza para implementar a residência artística “Vai Dar Certo”, no bairro Pici. Além de funcionar como casa e estúdio do artista, o espaço busca ser reconhecido como um ponto de apoio para outros realizadores, inclusive de linguagens distintas e não necessariamente ligadas à intervenção urbana ou arte de rua. De acordo com Emol, só é preciso ter “prédisposição de vivenciar trabalhos coletivos, já que a residência artísticas funciona para compartilhar processos críticos e criativos”.
C Obra
do artista visual Emol: expressões de arte de rua em residência no bairro do Pici
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Mapeamento Com o objetivo de construir esses processos conjuntos, Emol já iniciou um mapeamento local dos coletivos que estão na ativa para que seja possível pensar nas futuras atividades da residência, cujo funcionamento está programado para até o fim de dezembro deste ano. A proposta inicial é de promover grupos de estudos, oficinas de curta duração,
exposições, saraus e jam sessions em parceria com artistas e produtores locais. A ideia é estimular intervenções de arte de rua no bairro. “A proposta é fazer uma troca, trazer dinâmica e ter um aprofundamento, um debate sobre a arte e o que está sendo produzido”, explica o MC Felipe Choco, convidado da primeira atividade oficial da residência, hoje, na Travessa Nossa Senhora Aparecida, no Pici. A “inauguração” conta com um bate-papo com o músico e militante do rap, hip-hop e direitos humanos. “Minha militância é contra a desigualdade social, pela emancipação humana”, define. A conversa será pautada pelas experiências artísticas e políticas de Choco, com a música voltada para temáticas sociais, estigmas de periferias e questões de gênero e etnia. O MC é um dos fundadores do Sarau do Fórum de São Bernardo do Campo, um encontro entre poetas e público voltado para a poesia ritmada dos anos 60 que atrai os apreciadores do hip-hop. Logo após o bate-papo, acontece um jam musical com outros artistas cearenses.
C Mais informações:
Jam Session e Bate Papo com Felipe Choco, às 17 horas, na Travessa Nossa Senhora Aparecida, 24-A Bairro Pici
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DIÁRIO DO NORDESTE FORTALEZA, CEARÁ - DOMINGO, 8 DE SETEMBRO DE 2013
DEBATE
Realizadores unidos: novos rumos para o segmento No último sábado de agosto, dia 31, grupos de teatro e artistas voltaram a se reunir em prol do teatro infantil MAYARA DE ARAÚJO Repórter
O
II Encontro de Realizadores de Teatro Infantil aconteceu no Teatro Universitário, atualmente ocupado pelo Pavilhão da Magnólia. A ideia do encontro surge em 2011, quando grupos de teatro que realizam espetáculos infantis decidem aproximar suas perspectivas sobre o segmento. Com organização do próprio Pavilhão, juntamente com Paula Yemanjá, do grupo “Passa Pra Dentro, Menino”, e Jota Junior Santos, o encontro alcançou seu objetivo de trazer para perto artistas e companhias que exploram o universo infantil de formas distintas. “Do teatro autoral às adaptações de clássicos, passando por teatro de bonecos e arte-educadores, compareceram participantes de diversas linhas, foram 17 representantes de grupos, fora os artistas independentes. Isso é muito rico”, afirma Paula. “As pessoas que fazem esse tipo de teatro precisam estar atentas às necessidades dele. Essa troca entre artistas, produtores e grupos é essencial para enumerar essas demandas”, afirma Aristides Junho, do Teatra-
ria Espalha-Fato, um dos participantes da reunião. Completando dois anos de grupo neste mês, sua companhia está ligada ao universo infanto-juvenil de uma forma muito curiosa, já que, dos seis atores, quatro são pré-adolescentes, entre 13 e 15 anos. “É surpreendente dirigir crianças no palco. A identificação com a plateia é imediata. São muitas as crianças que, depois do espetáculo, nos procuram para saber como podem fazer teatro também. Elas veem aquilo como uma realidade possível, o que, muitas vezes, não acontece quando assistem a um adulto interpretando um personagem infantil”, detalha Aristides.
Panorama Para ele, uma das maiores urgências é garantir a permanência das programações infantis nos espaços culturais. “As agendas por si só já são escassas. E, para conseguir pauta, os espetáculos infantis sofrem. Não só o teatro, mas a contação de histórias, as apresentações musicais, a cultura da criança”, opina. Quanto a isso, um dos encaminhamentos mais comemorados pelos integrantes é uma programação alternativa para crianças e jovens. “A curto prazo, pretendemos planejar uma temporada de espetáculos, que deverá acontecer no Teatro Universitário e na sede da Cia. Prisma de Artes. Pensamos em outubro ou novem-
Acima, a dramaturga Paula Yemanjá, uma das organizadoras do evento. Abaixo, imagens do II Encontro de Realizadores de Teatro Infantil, ocorrido no Teatro Universitário, no Benfica FOTOS: DIVULGAÇÃO / ALEX HERMES E PAULA YEMANJÁ
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bro, para aproveitar esse período dedicado às crianças”, revela Paula. Além disso, o grupo pretende manter contato com a iniciativa pública, para propor um maior incentivo às programações. “Queremos estabelecer um diálogo com a gestão da Secretaria de Cultura de Fortaleza e com o Centro Dragão do Mar, que sempre estimulou a agenda infanto-juvenil, mas ultimamente está mais fraco”, reforça Paula. Para o grupo, a cultura da infância está longe de se manter imóvel. Ao contrário, sofre influência das novas formas de socialização, das tecnologias, da mídia, da carga cultural dos pais, entre outros tantos fatores. Este é um dos maiores desafios de quem produz para esse público. “Uma das maiores discussões nessa seara diz respeito ao conteúdo. Nós, do EspalhaFato, fazemos tudo de forma muito artesanal. Nossos espetáculos são autorais e resultam de um processo de estudo. Não é só entretenimento para criança, tem uma perspectiva educativa. Mas muitos infantis, hoje, não têm essa preocupação”, opina Aristides. A médio ou longo prazo, o grupo, que seguirá fazendo reuniões complementares, pretende ainda lançar uma revista com artigos que ofereçam algum material teórico e reflexivo a quem queira pesquisar sobre o segmento. “Talvez, o que mais aprendemos com a retomada dessas reuniões é que precisamos seguir pensando nisso, juntos. Seguir falando de arte e infância, arte e adolescência e fortalecer esse debate, inclusive nas universidades, nos cursos superiores de teatro que agora temos no Ceará”, propõe Paula Yemanjá.
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DIÁRIO DO NORDESTE FORTALEZA, CEARÁ - DOMINGO, 22 DE SETEMBRO DE 2013
A fé sob as lentes do cinema las crenças. Todo ano vou duas ou três vezes a Juazeiro, nas grandes romarias. Vou com interesse de pesquisador, com olhar observador”, situa.
C O catolicismo
da tradição popular cearense é tema do documentário “Hierofania”
FÁBIO MARQUES Repórter
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eguindo a trilha dos chamados santos populares, por 20 municípios do Ceará, os artistas gráficos Rafael Limaverde e Henrique Viudez investigaram do ano passado para cá a materialização da fé popular. Os personagens, suas histórias, adereços, seus objetos e espaços de fé. O interesse dos dois, em primeiro plano, era estético: desvendar as chamadas hierofanias – as manifestações do sagrado – em meio à cultura e ao cotidiano do sertanejo. A pesquisa, a ser convertida em material de criação para os dois artistas, já resultou, no entanto, em um produto além das expectativas. Devidamente registradas através de anotações, câmeras fotográficas e pelas lentes dos cineastas Bruno Xavier, Roger Pires e Yargo Gurjão, da Nigéria Filmes, as vivências deram corpo ao documentário “Hierofania”, lançado pelo grupo em agosto passado. “Nós vivemos em uma época em que as coisas estão perdendo a poesia, a transcendência. E o cinema tem um pouco disso. De você sentar e ser transportado para outro universo”, reflete Rafael Limaverde, sobre o potencial cinematográfico das imagens e das narrativas registradas durante a viagem. “Nós exi-
DIÁRIO DO NORDESTE FORTALEZA, CEARÁ - QUINTA-FEIRA, 29 DE AGOSTO DE 2013
ANA MARIA MACHADO
TRADIÇÃO
Carregado de histórias, personagens e traços da cultura popular, o sagrado é um prato cheio para o audiovisual
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bimos um outro mundo, que não é o das grandes cidades. É sobrenatural. Onde se acredita em milagres, em santos que estão próximos”, complementa o artista, analisando a relação da sétima arte com a religiosidade vivenciada no caminho.
Produções Há décadas, a cinematografia cearense faz da religiosidade substrato para suas produções, seja em obras mais remotas, com o registro documental das romarias de São Francisco de Nélson Moura, em “Canindé” (1951), ou no “Caldeirão de Santa Cruz do Deserto” (1985), filme de estreia de
Rosemberg Cariry sobre a luta dos seguidores do Beato José Lourenços, que traz a religiosidade como pano de fundo. A região do Cariri, aliás, é uma intensa fonte de substrato religioso para o cinema, tomada sob diferentes tratamentos, seja cultural, antropológico, sociológico ou histórico. Juazeiro do Norte e o Padre Cícero estão retratadas em diferentes obras. A força do tema atraiu atenção de cineastas até de fora do Estado. O diretor paulista Eduardo Escorel, já em 1969, ano de inauguração da estátua do Padre Cícero, registrou a romaria do feriado de Finados em seu “Vi-
são de Juazeiro” (1970). Em 2001, o próprio Rosemberg se debruçou mais diretamente sobre o tema, em “Juazeiro – A nova Jerusalém”, mergulhando no universo místico, simbólico e cultural da cidade para retratar a história do Padre Cícero. No mesmo ano, Wolney Oliveira trata do tema, mesclando documentário e ficção em “Milagre em Juazeiro”. Na análise do cineasta Rosemberg Cariry, essa filmografia é reflexo da própria força, da representatividade que tem a religião em meio à cultura popular no Estado. “A religiosidade é um traço marcante, profundo, da cultura cearense. Se
você olha bem, os principais santos populares do Brasil são cearenses. O Padre Ibiapina, Antônio Conselheiro, Padre Cicero e mesmo o Beato José Lourenço, que é paraibano mas realiza sua grande missão no Ceará”, ilustra o diretor, que considera Juazeiro do Norte um “presente da religiosidade popular ao Brasil”. Em seus filmes, explica, o tema é trabalhado sob a perspectiva cultural e simbólica. O lado mítico da religiosidade ganha destaque. “Eu sou uma pessoa que não estou fora desse universo, estou dentro, pertenço, nasci dentro. Minha avó comungava de todas aque-
“Infâmia” vence Prêmio Passo Fundo de Literatura O resultado do prêmio foi divulgado na noite da última terça-feira, na abertura oficial do evento
Diversidade Outras formas de se trabalhar as dimensões místicas no cinema também vêm sendo explorada no Estado. Em especial, na última década, como destaca o próprio Rosemberg, vem ganhando espaço produções ligadas ao marcado comercial de cinema que tem aproximação temática com o espiritismo. São exemplo disso, os filmes do filão transcendental da produtora Estação Luz Filmes. De 2008, quando foi lançado “Bezerra de Menezes: o diário do um espírita”, a religião dá suporte a ficções como “Chico Xavier” (2010), “As Mães de Chico Xavier” (2011) e mesmo “Área Q”, este último na seara da ficção científica, que tem um viés místico permeando a trama. Recentemente, foi finalizado o documentário “O Filme dos Espíritos”, com estreia nos cinemas agendada para 7 de outubro. Fora dessa ala comercial, multiplicam-se a produção de filmes na linha de “Mãe de Santo, teu nome é Zimá”, de Clébio Viriato e Lília Moema, pautado no universo das religiões de matriz africana. “A religião comporta diversos olhares. Tem toda uma cinematografia que está nascendo ligada a macumba, ao candomblé, o catimbó. Acho tudo isso muito positivo. Mesmo porque a religião é profundamente enraizada na alma do cearense”, reforça Rosemberg.
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escritora Ana Maria Machado venceu a 8ª edição do Prêmio Passo Fundo Zaffari Bourbon de Literatura com o romance “Infâmia” (Alfaguara). No romance, a jornalista narra a reviravolta na vida de um embaixador depois de receber documentos sobre sua filha que foi encontrada morta num contexto misterioso. O resultado do prêmio foi divulgado na noite de terçafeira, na abertura oficial da 15ª Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo.
O romance, segundo a autora, se inspira em acusações reais e infundadas que se propagam com velocidade pelos meios eletrônicos, causando prejuízos irreparáveis a seus protagonistas. No ano passado, “Infâmia” foi pivô de uma crise no Prêmio Jabuti. O jurado Rodrigo Gurgel deu notas zero a 1,5 a cinco dos dez finalistas na edição de 2012, contrariando os dois outros juízes, e acabou interferindo no resultado final do concurso. O vencedor foi o estreante Oscar Nakasato, com “Nihonjin”. O livro de Ana Maria recebeu zero do jurado nos quesitos enredo e construção dos personagens e 0,5 na categoria estilo. O romance havia sido o segundo mais votado na fase inicial do concurso, com cinco notas 10 e uma 9,5. Depois do episó-
A escritora carioca Ana Maria Machado (foto maior) foi a vencedora do concurso, que teve Ignácio de Loyola Brandão (acima) como um dos jurados
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DIÁRIO DO NORDESTE FORTALEZA, CEARÁ - SEXTA-FEIRA, 30 DE AGOSTO DE 2013
TRADIÇÃO dio, o critério de julgamento foi alterado. Carioca de Santa Teresa, 71 anos, exerceu o jornalismo, o magistério e a pintura antes de se dedicar à literatura. Em 2003, foi eleita para ocupar a cadeira número 1 da Academia Brasileira de Letras no lugar de Evandro Lins e Silva. Autora principalmente de livros infantis, Ana Maria Machado tem mais de 100 obras publicadas no Brasil e em 18 países e mais de 19 milhões de exemplares vendidos. Em 2001, ganhou o prêmio Machado de Assis pelo conjunto da obra. O prêmio Zaffari Bourbon destina R$ 150 mil à melhor narrativa em língua portuguesa editada nos países lusófonos. Ao todo, a edição deste ano recebeu 326 livros inscritos publicados entre 2011 e 2013. A comissão julgadora foi formada pelas professoras Regina Zilberman, Neide Maria de Souza (UFMG) e Beatriz Resende (UFRJ) e pelos escritores José Castello e Ignácio de Loyola Brandão. “Não foi fácil, mas desempenhamos a tarefa com muita satisfação”, disse a presidente do júri, Regina Zilberman. Surpresa, a autora agradeceu aos leitores, à comissão julgadora e aos criadores do prêmio e prometeu “falar mais” no dia seguinte. Além de “Infâmia”, também concorreram ao prêmio os romances “A Noite das Mulheres Cantoras”, de Lídia Jorge, “Barba Ensopada de Sangue”, de Daniel Galera, “Domingos Sem Deus”, de Luiz Ruffato, “Habitante Irreal”, de Paulo Scott, “Lívia e o Cemitério Africano”, de Alberto Martins, “O Céu dos Suicidas”, de Ricardo Lísias, “O Que os Cegos Estão Sonhando”, de Noemi Jaffe, “Solidão Continental” , de João Gilberto Noll, e “Uma/Duas”, de Eliane Brum.
Sagrado na tela: o sertão santificado pelo povo
as histórias”, lembra Rafael. Entre os relatos que entram no documentário, estão narrativas sobre a figura de Maria Caboré, mulher que viveu no Crato e que limpava e transportava os dejetos da penitenciário da Cidade. “Ela era, dentro da hierarquia, o que havia de mais ralé. Fazia o trabalho mais sujo dos sujos e, a partir da sua morte, consegue patamar de santa”, conta. “Entrar em contato com essas pessoas, que acreditam visceralmente no milagre, que aquilo tudo é verdade, emociona. Foi muito importante para nós como pesquisa, mas também para uma autoavaliação da relação com o transcendente, com o divino”, completa Limaverde.
Pesquisa estética da fé popular pelos artistas Henrique Viudez e Rafael Limaverde vira documentário FÁBIO MARQUES Repórter
O
incêndio que destruiu semana passada a Casa dos Milagres, em Juazeiro do Norte, deixou intactos apenas uma cruz de metal e um quadro da padroeira da cidade, Nossa Senhora das Dores. A imagem já é apontada como santa. Como ela, centenas de artefatos e histórias em que o sagrado se concretizara aos olhos do sertanejo entraram na trilha dos artistas visuais Rafael Limaverde e Henrique Viudez, acompanhados pelos cineastas Bruno Xavier, Roger Pires e Yargo Gurjão, da Nigéria Filmes. Eles realizam hoje, às 20h, no Estoril (Praia de Iracema), a estreia do documentário “Hierofania”, resultado de projeto de pesquisa contemplado pelo Edital das Artes 2011 da Secretaria da Cultura de Fortaleza (Seculfor), filmado em 20 cidades de três regiões do Estado. “Nós já tínhamos um estudo dentro dessa temática de objetos religiosos, dessa cosmovisão, não só regional. E um recorte que nos interessa muito é essa estética religiosa popular”, situa Limaverde, sobre o impulso que le-
Sequência
Parede da Casa dos Milagres, em Juazeiro do Norte. O local foi destruído em um incêndio na sexta-feira passada e é um dos espaços retratados no documentá
vou o grupo a embarcar rumo ao sertão. Cunhada para definir o ato de manifestação do sagrado, seja ele em uma capela à beira da estrada, em um ex-voto deixado por um romeiro, ou a fotografia de uma jovem beatificada
pelo povo, a expressão “Hierofania” traduz também o ponto de intercessão entre o trabalho dos dois artistas, que percorrem os espaço onde estão edificadas essas manifestações recolhendo substrato para suas respectivas experiências estéticas.
“A gente pensou o projeto por essa semelhança. O Rafael já estava viajando pelo Nordeste, visitando festejos e tinha a intenção de coletar material sobre esse sagrado. Eu também já viajava para cidades do interior, via as capelinhas, os ex-votos e pensava fazer uma intervenção”, pontua Henrique Viudez. “Com o projeto, dentro desse recorte, fizemos a pesquisa e cada um coletou seu material”, completa Rafael.
Impressões O grupo dividiu a expedição em três viagens, realizadas espaçadamente entre junho de 2012 e março deste ano. O trajeto iniciou pela região norte do Estado, mantendo base em Sobral, e visitando cidades
Tanto ele quanto Henrique trabalham ainda o material coletado em suas criações individuais, devendo render diretamente exposições por parte dos dois artistas visuais. “A maioria desses santos populares não têm imagem sacra. Alguns tem imagem dele vivo, o cangaceiro, a outra que diziam que era louca. Eram pessoas comuns, embora, todas com histórias trágicas. Tenho a intenção de trabalhar esses elementos dos relatos sobre a vida, morte e os milagres atribuídos a essas pessoas e transformar isso em uma imagem final”, antecipa o artista Henrique Viudez. O longa-metragem de 50 min é o primeiro resultado da viagem. No vídeo, reforça Rafael, foi dado destaque às santificações de personagens femininos, geralmente vitimas de violência em vida, mortas em crimes passionais ou decorrentes te da relação senhorio – escravo, santificadas a partir do martírio. Um próximo recorte, antecipa, deve dar sequência ao documentário, revelando histórias de homens que também tornaram-se, aos olhos dos sertanejos, sagrados. “Já tem algo gravado, falta registrar mais algumas histórias. Mas já tem material bastante bacana”, diz.
rio
como Senador Sá, Meruoca, Ibiapina, Ubajara, Tianguá, seguindo até Bitupitá, última praia do extremo norte do Ceará, na divisa com o Piauí. No Cariri cearense, Lavras da Mangabeira, Aurora, Várzea Alegre, Crato, Juazeiro do Norte, Nova Olinda e Santana do Cariri são alguns dos municípios visitados. Celeiro de cultura popular e ponto de referência para romeiros de todo o nordeste, a região revelou algumas das boas histórias que vieram com o grupo. “Na Casa dos Milagres, na capela localizada no Horto, consegui capturar bastante matéria-prima para o meu trabalho. Esses locais normalmente tem um objetual muito interessante, ex-votos, fotos, inscrições, roupas. Fora
C Mais informações:
Exibição do documentário “Hierofania”, hoje, às 20 horas, no Estoril (Rua Tabajaras, 397 Praia de Iracema). Gratuito
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arcoplex.com.br
www.facebook.com/arcoiriscinemas
NO PÁTIO DOM LUÍS
SEU INGRESSO DO CINEMA
VALE 3 HORAS
GRÁTIS
DE ESTACIONAMENTO
Del Paseo
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Pátio Dom Luís - Aldeota
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INTERNET Nosso público-alvo está cada vez mais conectado, procurando notícias e tendências para só depois procurar ou aprofundar as informações em outros meios de comunicação. A internet também nos beneficia com a segmentação do público – o que causa menor dispersão de atenção – interatividade em tempo real com o usuário e fácil mensuração. Além da visibilidade, a web aproxima a marca do consumidor através das redes sociais.
23 CINE CEARA
Uma visão pós-evento
TV Possibilita grande visibilidade e abrangência, além do alto impacto em quem está assistindo. Outro ponto positivo da TV é o grau de envolvimento com o público, pois como possui som e imagem facilita que as pessoas prestem atenção na mensagem. Temos também um grande vínculo do público brasileiro com a TV. Vídeo disponível online no link: goo.gl/ySGn0Z
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Uma visão pós-evento
OUTDOOR
O outdoor possui uma boa cobertura de público na área geográfica onde está localizado e um alto impacto visual no público, podendo ser visto à distância, tendo assim um excelente alcance.
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Uma visão pós-evento
Onde o evento foi visto
“Este Projeto é apoiado pela Lei Estadual de Incentivo à Cultura Nº 12.464, de 29 de Junho de 1995”