REVISTA Uma Aula de Sustentabilidade e Meio Ambiente | Ed. 05 - jan/ 2017
ESPAÇO ECOLÓGICO ANOS NO AR
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ENTREVISTA
Empresária mostra como tratar da beleza de forma ecológica
GUAJIRU
Um marco na preservação das tartarugas marinhas na Paraíba
CAOS NAS REDES
Redes elétricas subterrâneas, uma necessidade
EDITORIAL
Espaço Ecológico, o primeiro proreservas naturais do planeta, além de realçar grama radiofônico no Nordeste brasileio papel que o programa representa no campo ro especializado em educação ambiental do desenvolvimento sustentável. comemora 13 de existência no mês de feA entrevista com Marianne Mota sobre vereiro e, para marcar a data, decidimos o salão verde, o primeiro da Paraíba com publicar uma revista comemorativa que essa filosofia de tratar da beleza de forma procura divulgar alguns temas que foram ecológica e sustentável, atende a uma inuma constante na história do programa, o tenção editorial de trazer informações, a qual testemunhou e registrou, nos últimos partir de uma perspectiva diferente: a novi13 anos, os principais fatos relacionados dade das iniciativas inovadoras. O mesmo ao meio ambiente na Paraíba, no Brasil e acontece com o artigo de Claudiana Leal e no mundo. Letícia Bento, que mostra a primeira escoA revista traz entrevistas, artigos e la profissionalizante em sustentabilidade depoimentos alusivos à trajetória do Proda Paraíba, a Divino Mestre. O leitor ainda grama Espaço Ecológico. Ela também tem terá acesso a textos envolvendo pessoas ligacomo objetivo informar o público leitor das à causa ecológica e à sustentabilidade, sobre pesquisas, como Paula Frassinete, projetos e atividaRita Mascarenhas, José des de educação Reinolds, Enilson Sales, Expediente ambiental relevanIvan Pereira, Fernando - 13 Anos tes à preservação da Lucena, entre outros. Revista Espaço Ecológico fauna, da flora e das eção Executiva Dir Gualberto Freire
Jornalista Responsável Alexandre Nunes DRT-PB 5437
ão Eletrônica Diagramação e Editoraç a ESTAMPAPB - Ilka Cristin estampapb@gmail.com Fotos Capa Antonio David
De ponta a ç e b ca Ivan Pereira de Araújo*
Você, que está lendo, é quem vai dar um nome para este artigo. Porque eu não dei nome para este artigo? Haaaaaaa………porque nem mesmo eu sei que nome posso dar para o que está acontecendo conosco. O mundo virou de cabeça para baixo e nós estamos desculpando o fato de andarmos de “ponta cabeça”. Está certo isto? Muitos irão dizer: EXAGERO. É?! É EXAGERO? Então vamos ver se é! Eu poderia encher páginas e páginas falando da política atual. Não vou fazer isto. Irei pelo simples e cotidiano. Vamos começar pelos fatos reais recentes e inquestionáveis, por exemplo, o avião que caiu e matou o time e parte da diretoria da Chapecoense… 71 mortos. Caiu e matou por que? Porque faltou gasolina para chegar no destino. Por que faltou gasolina? Porque o ganancioso e assassino piloto não quis abastecer. Não abasteceu porque a gasolina era mais cara. E agora? Explica isto para o goleiro que sobreviveu, mas teve a sua perna amputada. Coloque uma bandagem rígida com esta explicação e coloque para substituir a perna do goleiro. Dará certo? O goleiro vai andar com esta bandagem? Não vai, óbvio! E as mães que ficaram sem seus filhos? E os filhos que ficaram sem seus Pais? Explique para eles! Tente convencê-los de que um erro nefasto e assas-
sino, matou seus sonhos, eliminou futuras alegrias e acabou com várias felicidades. A culpa é de quem? Só do piloto assassino? Não! Rigorosa e radicalmente Não! A culpa é também e principalmente daqueles que cultivam e se aproveitam do LEVAR VANTAGEM EM TUDO, daqueles que deveriam supervisionar rigidamente os planos de voo e mostrar que ter gasolina para chegar ao destino é condição de SOBREVIVÊNCIA para a liberação de plano de voo. E agora vem o principal: se isto não for atendido com total radicalismo, o voo não vai acontecer. Se isto tivesse sido feito, os 71 mortos estariam vivos e o goleiro estaria andando e fazendo esplêndidas defesas para a Chapecoense. Vamos mais. E aquele derradeiro e assassino rompimento da barragem em Minas Gerais que matou 60 pessoas, deixou 139 famílias desabrigadas. Além de tirar definitivamente do mapa a cidadezinha. Haaaaaaa…, mas aquilo foi um acidente. Lá estamos nós de ponta cabeça e justificando pelo fato de ver o mundo ao contrário. Que acidente que nada! Foi negligência e inépcia assassina! A Empresa responsável pela manutenção da barragem já havia sido alertada e ficou passível de multa, se não adotasse as providências cabíveis para evitar o rompimento. Eu lhes pergunto: multa paga vida? Multa abriga Famílias? Óbvio que não! Que nome daremos a isto? Hipocrisia? Desamor ao próximo? Ou
simplesmente Fatalidade? Difícil não?! Vamos fazer um exercício mental: vamos colocar no avião que caiu, um filho nosso. Viu…… doeu não é! Vamos fazer de conta que nós estávamos morando debaixo da barragem que se rompeu. Agora eu compliquei mais ainda, não é! Pois é. E a solução para não andarmos de ponta cabeça? Fácil, muito fácil. Basta que TODOS nós adotemos a prática do AMOR AO PRÓXIMO. Do RESPEITO AO PRÓXIMO. Do simples entendimento de que sobreviver é complicado, mas viver é questão de HONRA e de MORAL. Vamos respeitar uns aos outros. Vamos entender que a ECOLOGIA é sinônimo de VIDA PRÓSPERA. Se nós não entendermos isto, os oceanos vão elevar seu nível de água, a temperatura da terra vai se elevar tanto que exterminará vidas. Vamos adotar a Lei do todos por um e um por todos. Vamos diminuir o latente desejo de levar vantagem em tudo. Vamos zelar pelo nobre entendimento da correção ao errado, com limpidez e soberania. Vamos preservar a VIDA, nossa e a do nosso próximo. Se assim fizermos, eu poderei dar nome a este artigo. Chamarei de VIVA, A VIDA COM NOBREZA E INTELIGENCIA……SEM HIPOCRISIA!
*Ivan Pereira de Araújo é advogado e empresário na Ilha de Bali, na Indonésia
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GUAJIRU ia
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Um marco na proteção e preservação das tartarugas marinhas na Paraíba
Idealizado pela bióloga Rita Mascarenhas, a Associação Guajiru foi fundada em março de 2002, com a missão de proteger tartarugas marinhas no litoral paraibano, protegendo áreas de reprodução, alimentação e promovendo atividades de conscientização da população com respeito à conservação do meio ambiente. É formada por um grupo de pesquisadores, conservacionistas, ambientalistas e estudantes, todos voluntários, que tem como objetivo principal a proteção das áreas de desova de quatro espécies de tartarugas marinhas ameaçadas de extinção, principalmente a tartaruga de pente (Eretmochelys imbricata) no litoral da região metropolitana de João Pessoa, na Paraíba. Entre as atividade desenvolvidas, destacam-se o monitoramento diário dos ninhos, filhotes e animais doentes e/ou feridos em uma extensão de 7 km de praias; o atendimento de chamadas (emergenciais, assistenciais ou denúncias) de pessoas e instituições públicas (Polícias e órgãos ambientais) feitas ao SOS Tartarugas; a conscientização do público, através de palestras para instituições de ensino, turistas, escolas e visitantes. Além disto, ainda são dadas entrevistas para jornais, canais de televisão e rádios nacionais e internacionais. Outra atividade importante é o incentivo à produção científica (artigos, livros, pesquisas, monitorias e estágios), através da participação em eventos (conferências, congressos, simpósios, mesas redondas e cursos), orientação de estudantes universitários (graduandos pós-graduandos).
Nestes quase 15 anos de atividades, a entidade promoveu, entre outras ações, o treinamento de mais de 250 voluntários; a proteção de mais de 1.500 ninhos de tartarugas marinhas; a soltura de 160 mil filhotes no mar; a realização de cerca de 16 mil palestras; o registro e estudo de mais de 1.500 animais mortos com identificação de causa mortis; e a reabilitação de 30 animais doentes, devolvidos ao mar com plena saúde.
Além disso, participou da orientação de 18 monografias de graduação, 4 de mestrados e coparticipação em várias outras atividades acadêmicas; participou de redes de proteção a tartarugas marinhas nos âmbitos locais, regionais, nacionais e internacionais; esteve presente em fóruns consultivos e deliberativos de conservação e proteção do meio ambiente, principalmente aqueles costeiros e marinhos.
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Equipe Espaço Ecológico: Gualberto Freire, Jonathan Dias, Josy Aquino, Berlin Carvalho e Clemilson Souza
PROGRAMA
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13 anos levando educação ambiental para seus ouvintes Ao perceber a importância do rádio como instrumento de educação, o executivo Gualberto Freire teve a ideia de criar um programa voltado para a educação ambiental. Isso ocorreu há 13 anos, quando ele ocupava o cargo de diretor administrativo da Rádio Tabajara. A inspiração veio quando Gualberto, ao ouvir o Programa Show da Tarde, apresentado na época por Alexandre Coronago, naquela emissora, percebeu o interesse de uma criança curiosa que, através de um telefonema, quis saber dos entrevistados do programa como se fazia um clone. Gualberto relata que, a partir daí, convidou o jornalista Jaimaci Andrade e o radialista Josias Souto Maior Júnior, com a participação do operador de áudio Juninho Bill e do jornalista Nakamura Black, para discutir a formatação e nome para o novo programa sobre meio ambiente, que passou a se chamar Espaço Ecológico. “Após definição do projeto, só foi possível sua veiculação com a autorização do então superintendente da Rádio Tabajara, Deodato Borges, e o fundamental apoio de empresas comprometidas com as questões ambientais, com destaque para o
engenheiro industrial Degmar Peixoto Diniz (gerente industrial da Elizabeth Cimentos), que até hoje permanece acreditando e apoiando os objetivos do programa. O Espaço Ecológico foi ao ar, pela primeira vez, no dia 07 de fevereiro de 2004, na Rádio Tabajara FM 105.5”, detalha Gualberto, diretor executivo do programa Espaço Ecológico. O programa completa 13 anos levando ao ar mensagens educativas, prestação de serviço, dicas e poesias sobre ecologia, crônicas e entrevistas com pessoas ligadas ao meio ambiente. Durante este período, o programa conquistou vários ouvintes, inclusive no exterior, como o empresário Ivan Pereira de Araújo, que administra uma usina de tratamento de resíduos sólidos em Bali, na Indonésia. O Espaço Ecológico veiculou, nestes 13 anos, várias campanhas ecológicas, a exemplo da Mata do Buraquinho, do projeto Tartarugas Urbanas, da Ong Guajiru, e a preservação da barreira do Cabo Branco. Também realizou campanhas educativas despertando a população para a importância da coleta seletiva e de se economizar energia elétrica e água.
Segundo Gualberto, merece registro, a rádio CBN, que já foi uma emissora filiada ao Sistema Correio de Comunicação, onde o programa Espaço Ecológico também foi veiculado. No seu entender, vale também registrar que foi por inspiração do Programa Espaço Ecológico e para ampliar o trabalho de educação ambiental já desenvolvido que, em março de 2006, foi lançado o Portal Espaço Ecológico no Ar, especializado em notícias específicas às questões ambientais, pioneiro no Nordeste, e hoje consolidado em todo o país como referência na divulgação de ações voltadas para a preservação ambiental e a conservação da diversidade biológica da natureza. Atualmente o Portal Espaço Ecológico já soma mais de 15 milhões de acessos e mais de 42 mil matérias publicadas.
X REGRAS Enilson Sales*
Não me considero entendido em meio ambiente. No meu tempo, este assunto não era tão difundido nas escolas e nem nas nossas rodas de papo. No meu tempo o mar era para pescar, tomar banho, pegar jacaré. As praias eram a diversão mais democrática e barata. Acesso irrestrito. Podia levar barraca, cadeira, isopor, comida, etc. Os bosques eram um lugar de diversão, passeios e piqueniques. Lugar de explorar pássaros, borboletas, pegar frutas. A todos esses lugares eu ia, à pé, de bicicleta, de ônibus. As regras eram ditadas em casa. Tome muita água, cuidado com a correnteza, não se arrisque aonde não pode voltar. Cuidado com cobras ou aranhas venenosas e não suba nas árvores muito altas e de galhos frágeis, pra não se esborrachar no chão. Explorávamos tudo, com estas poucas regras. Normalmente voltávamos arranhados, mas vivos e felizes. O meu conceito de meio ambiente era: trate o lugar onde você está (frequenta) como se fosse a sua
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casa. Não suje, não quebre. Respeite as coisas como estão colocadas. O que mudou? Ao meu ver, se qualquer pessoa seguir estes conceitos básicos, estamos harmonicamente conectados com o planeta. Nossa casa. Mas, mudaram duas coisas fundamentais: a educação familiar foi transferida para a educação escolar. Que, no meu tempo, a complementava. A segunda coisa que mudou é que criaram-se regras demais. Muitas vezes construídas por pessoas que nunca foram a um bosque, a uma praia. Os fabricantes de regras, quase sempre estão nos gabinetes fechados com ar condicionado. E, quase sempre, criam as regras com intenção de se beneficiar ou beneficiar alguém ou um grupo político. Ou até pra se promoverem e, quem sabe, se lançarem a algum cargo eletivo ou ganharem um posto (cabide) em algum órgão público. O respeito ao meio ambiente não é algo imposto. É educar o cidadão a cuidar de si e de sua própria casa. Desconfio que as regras impostas quase sempre são um convite a transgressão. Muito mais, se elas são de criação dúbia, fiscalização
fraca e corrupta e de difícil compreensão pelo cidadão comum. Existem ainda os que defendem que cuidar do meio ambiente é isolar o espaço do convívio e visitação. O bosque tal não pode ser visitado. A ilha tal não pode ser acessada. A praia tal só pode ser vista de longe, etc. Como você pode querer educar alguém que desconhece o lugar a ser cuidado? Alguns chamam alguns lugares bonitos de santuários. Ora amigos! Os templos são santuários e são lugares feitos para a visita, para a adoração. Por mais educação e menos regras. Por mais respeito e menos penalidades. Se cuidarmos do homem, não precisaremos cuidar do planeta, pois ele está simbioticamente ligado. Eduquem os meninos das bicicletas e deixem eles usufruírem das belezas e dos prazeres que o meio ambiente oferece.
*Enilson Sales é empresário náutico e observador da natureza
Foto: Antonio David
Meio Ambiente, Educação
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O SANEAMENTO BÁSICO
DE JOÃO PESSOA Por José Reinolds*
O abastecimento de água até o início do século 20 ainda era atendido através de torneiras públicas e chafarizes, construídos sobre fontes naturais, como o da Bica dos Milagres, o de Tambiá (de 1792), no atual Parque Arruda Câmara e o do Convento São Francisco. Havia também captação em poços, cacimbas ou diretamente nos riachos, sendo a água transportada em baldes, jarras, barris (ancoretas) ou latas para as residências, através dos carregadores, em carros de boi ou no lombo de animais. Algumas casas, prédios públicos e conventos possuíam poços (cacimbas) ou cisternas (água de chuva). O primeiro sistema de abastecimento de água foi inaugurado em abril de 1912. Em 1948 foi instituído o Departamento de Saneamento do Estado (DSE); em 1959 foi criado o Departamento de Obras Sanitárias; em 1961 o DSE foi transformado em Departamento de Águas e Esgotos da Capital (DAEC), lei 2705/61, (MAGALHÃES, 2016) autarquia estadual subordinada à Secretaria de Viação e Obras Públicas, quando foi criada em 1966 a empresa (sociedade de economia mista) Saneamento da Capital S/A – SANECAP, que em 1973 foi absorvida pela Companhia de Água e Esgotos da Paraíba – CAGEPA (também fundada em dezembro de 1966). Segundo o Sistema Nacional de Informações Sobre Saneamento – SNIS, em 2014 João Pessoa estava com 100% de sua população urbana atendida com abastecimento de água.
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Os sistemas urbanos modernos de esgotos sanitários surgiram na Europa e EUA, na segunda metade do século dezenove e logo mostraram sua importância na redução da incidência de uma série de doenças assim como na melhoria das condições gerais de conforto, higiene e ambientais. Entretanto, em João Pessoa, até 1926, a população utilizava em geral o sistema de fossas ou buracos, de profundidade variável - entre 2 a 8m em função do terreno e da condição financeira do proprietário - onde era lançada toda a água suja ou apenas os dejetos (esgotos) das bacias sanitárias. Em alguns casos, as águas de banho e cozinha eram lançadas diretamente nas ruas e os dejetos (fezes e urina) eram jogados nas fossas, ou pior ainda, diretamente no solo, na parte de trás dos quintais, onde se construía o banheiro e o sanitário. A maioria das casas não dispunha de instalações sanitárias internas, usando quartinhos nos quintais. Havia também o costume de depósitos de menor capacidade, denominados de pinicos de urinas, ou urinol. O urinol era utilizado à noite nos quartos, de onde se transportavam pela manhã os dejetos coletados, para lançamento nas instalações externas. As obras para implantação do sistema de esgotos sanitários em João Pessoa foram iniciadas em 1922 e concluídas em 1926, com os materiais e equipamentos adquiridos em sua maior parte na Europa. Ainda segundo o SNIS, em 2014 João Pessoa estava com 72% de sua população urbana atendida com rede de esgotos sanitários, sendo 67 % do esgoto, tratado.
Desde 1864 se tentava a desobstrução da foz do Rio Jaguaribe e o saneamento do vale desse rio. Isto implicava na retificação geral de seu leito e a construção de um canal, a 6 km acima da foz do Jaguaribe, ligando (desviando) seu curso até o Rio Mandacaru, que era um contribuinte do Sanhauá, e daí alcançando o estuário do Rio Paraíba e que foi realizada em 1924 (OLIVEIRA, 2006). Essa primeira intervenção importante de drenagem, permitiria anos depois a urbanização das praias de Tambaú, Manaíra e, posteriormente, Bessa. O primeiro projeto de drenagem de águas pluviais de maior capacidade foi o da Bacia da Lagoa do Parque Solon de Lucena, elaborado em 1913 e executado em 1922/26, como parte integrante do projeto do sistema de esgotos sanitários da cidade. A Coordenadoria Municipal de Proteção e Defesa Civil tem atualmente cadastrado os pontos críticos relativos a inundações e quedas de barreiras. Os resíduos sólidos (lixo) urbanos, se coletados ou dispostos de forma inadequada, constituem o principal fator para a proliferação dos mosquitos Aedes, Anópheles, Flebótomos e Culex (muriçoca, mosquito, pernilongo, etc.) pelos depósitos de água parada que proporciona, assim como devido a restos de matéria orgânica, para moscas, baratas, ratos e outros vetores/transmissores de doenças. O lixão do Roger, que funcionava como depósito a céu aberto, localizado em área de preservação permanente, adjacente ao manguezal do Rio Paraíba, no Baixo Roger, foi desativado em agosto de 2003 quando foi construido o Aterro Sanitário localizado na bacia do Rio Gramame, com capacidade para receber também os resíduos sólidos dos municípios que compõem a Região Metropolitana de João Pessoa, Bayeux, Santa Rita, Cabedelo e Conde. Existem atualmente (2015) três associações de trabalhadores de materiais recicláveis que promovem a coleta seletiva, apoiados pela Prefeitura, com atuação em 20 bairros e com 5 núcleos instalados para separação e colocação final para reciclagem: Cabo Branco, Bessa, 13 de Maio, Jardim Cidade Universitária e Mangabeira, além do centro de triagem do aterro sanitário. O principal problema do setor de saneamento da nossa capital, como de fato é para todo o Estado, é o da proteção dos mananciais. Ao tempo em que crescem,
as cidades ocupam áreas das bacias dos mananciais, devido as suas condições intrínsecas de atração, pela qualidade ambiental que oferecem de paisagem, clima, recreacional e, principalmente, por disponibilizar água que pode ser utilizada para os mais diversos fins. Entretanto as atividades decorrentes de seus usos diretos ou da ocupação dos terrenos de suas bacias podem alterar a qualidade e a quantidade das águas. A Área de Proteção Ambiental - APA é uma Unidade de Conservação com área relativamente extensa, pública ou privada, que tem como objetivo, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais (no caso seria a água). É estabelecida de acordo com as características e necessidades locais, com normas e restrições para utilização das propriedades privadas existentes na área. O Conselho Gestor analisa os processos de licenciamento para loteamentos, condomínios e demais empreendimentos com potenciais riscos poluidores na APA. Outra medida recomendada é a criação da Certificação de Qualidade e Proteção Ambiental, com respectivo indicador do grau de Proteção ou de Sustentabilidade Ambiental, para os mananciais dos Sistemas de Abastecimento de Água – SAA, a serem renovados periodicamente, de acordo com normas, padrões, critérios e índices definidos por órgão público de controle de qualidade das águas. A certificação atestaria as condições ou nível de sustentabilidade do manancial, comunicando à população que está utilizando um manancial adequado.
* José Reinolds Cardoso de Melo é engenheiro civil, sanitarista e doutor em Urbanismo
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CAOS NA Por Assis Cordeiro
O desenvolvimento sóciocultural de uma sociedade notadamente se identifica pela qualidade de vida de sua população, estando diretamente relacionado com a infraestrutura de serviços colocados à disposição dos cidadãos. O Brasil, apesar de ter posição de destaque na América Latina, apresenta chagas sociais características de países africanos. No entanto, mesmo que uma casa seja pobre ela precisa estar bem arrumada para depor a favor da limpeza de seus donos. Não é o que ocorre nas ruas das cidades brasileiras, que apresentam uma rede elétrica aérea que contribui e muito para demonstrar nosso subdesenvolvimento, tendo em vista que a maioria dos países desenvolvidos já embutiu sua fiação há quase um século.
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REDE Redes elétricas subterrâneas, uma necessidade contemporânea de João Pessoa As redes subterrâneas de energia elétrica são defendidas pela maioria dos estudiosos da área como uma necessidade básica à condição de desenvolvimento de qualquer cidade contemporânea. Enquanto no resto do mundo este processo se aproxima, na grande maioria dos países desenvolvidos, dos cem anos de implementação, no Brasil a maior parte das iniciativas pioneiras datam de no máximo uma década. Cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Curitiba estão entre as primeiras a legislarem sobre o tema e tentarem implementar as redes subterrâneas de eletricidade. Em João Pessoa os cidadãos mais esclarecidos reclamam há muito tempo sobre o problema, mas não foi lançado ainda um projeto que corresponda às expectativas e necessidades da população.
Em outras cidades
Apesar da morosidade, as principais cidades brasileiras estão debatendo o tema. Em São Paulo apesar de haver legislação que regulamenta a questão desde 2005 (Lei 14.023), até hoje apenas 5% da rede elétrica foi embutida. No Rio, o ‘Decreto 34.442/ 2011’, determina o aterramento dos fios, mas praticamente não saiu do papel. Aqui ao lado, em Recife, foi sancionado o Projeto de
Lei Ordinária 99/2013, que deu um prazo de dois anos para o cumprimento da substituição e instalação subterrânea, foi praticamente esquecido.
Em João Pessoa
Em João Pessoa, no entanto, segundo informações das secretarias de Planejamento e da Infraestrutura do município não há nenhum projeto em curso para o embutimento da fiação da cidade. Há alguns anos, a prefeitura quando realizou a revitalização de algumas ruas do Centro colocou a fiação local aterrada no solo, mas o aterramento parece ter se resumido a esta intervenção.
Custo de implantação
O cálculo realizado em algumas cidades brasileiras estima que o quilômetro da fiação subterrânea chega a ser até quatro vezes mais caro do que a aérea (de 3 a 5 milhões/km). Mas isso depende de cada caso, que tem que ser estudado. No entanto, pelo andar da carruagem vai demorar um pouco para a rede elétrica de João Pessoa ser embutida e, quando for, é bem provável que as empresas do setor queiram repassar para o consumidor o valor final da mudança. REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |
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NOSSA EQUIPE Andréa L. Porto Sales (Geógrafa), Jerlan Alves (estudante de Engenharia Química), Vani Velozo (Cientista Social em formação), Inara Marques (Administradora), Sergio Aires (publicitário e músico). NOSSO CONTATO Facebook: www.facebook.com/ minhajampa Conheça a rede da qual fazemos parte: www.nossas.org
Equipe Minha Jampa
MINHA JAMPA Mobilização social como estímulo ao exercício da cidadania Minha Jampa é uma rede de ação e mobilização que faz parte da rede Nossas Cidades. Começaram em julho de 2016 a atuar em João Pessoa com a missão de aproximar os cidadãos das decisões políticas que transformam a nossa cidade. Buscam fortalecer a capacidade, a criatividade e a eficiência dos movimentos sociais com ferramentas tecnológicas e estratégias de mobilização social. Com seis meses de existência, a organização já possui duas importantes vitórias: o cancelamento da licitação do projeto da Barreira do Cabo Branco, orçado em R$ 82 milhões, que seria executado sem EIA/RIMA (Estudo de Impacto Ambiental); e a obrigatoriedade do voto aberto e nominal na Câmara Municipal de João Pessoa, bem como sua publicização no site da instituição. Essas duas mobilizações foram encaminhadas em parceria com outras organizações da cidade, porque seus membros acreditam que o compartilhamento de ideias,
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propósitos e força são avanços táticos importantes para o estímulo do exercício da cidadania. A sustentabilidade ambiental e a justiça social são temas que a rede sempre observa, questiona e pressiona nos projetos encaminhados na cidade pelo poder público. Para a co-fundadora e também coordenadora de mobilizações, Andréa Porto Sales (34 anos e geógrafa): “A cidade é nossa. Assim como temos direitos, também temos o dever de cuidar do que é nosso. Surgimos para ajudar os pessoenses a pautar e pressionar a Prefeitura e os vereadores pela João Pessoa que queremos. Eles passam e a gente fica, e a cidade também. João Pessoa é uma cidade cuja estrutura urbana ainda não possui os grandes problemas de uma metrópole, de uma cidade grande. Então é preciso ficar de olho nos planos e projetos que são elaborados pelo poder público para evitar catástrofes no futuro. A sustentabilidade ambiental deve estar nos planos e ações desses projetos.
Deve ser colocada não só como uma perspectiva institucional, mas como construção diária, dos projetos educativos às grandes obras de infraestrutura.” De acordo com a equipe da Minha Jampa, a rede entende que o argumento de que a cidade, ou mesmo a urbanização, é o grande problema ambiental: é uma falácia. Para eles, a cidade é o lugar onde os problemas podem ser identificados e as soluções podem ser discutidas e colocadas em prática. E a sustentabilidade é vista como um processo orgânico, que precisa da participação de todos. Mas cabe ao poder público fornecer subsídios e ferramentas para que projetos tangíveis e eficientes sejam encaminhados. A rede Minha Jampa pretende ser meio para pautar, discutir e pressionar a Prefeitura e os vereadores nesse sentido. E avisam que estão de olhos bem abertos para o que será feito com o Parque Cabo Branco, que ainda não tem um plano de manejo.
Bons tratos Com os dias quentes do verão, os cães peludos precisam de cuidados especiais Os proprietários de cães de pelo longo devem tomar alguns cuidados em dias quentes. Uma das opções para diminuir o calor no verão é a tosa, mas também deve-se ter atenção com os passeios que devem ser realizados em horários especiais. Na hora do passeio, escolha sempre o início da manhã ou final da tarde. Além de ser mais confortável, isso impede que os bichinhos queimem as patas. A tosa em raças de pelos longos deve ser feita por recomendação do médico veterinário. Isso porque o pelo serve como proteção contra raios solares. Clientes que costumam mandar raspar seus pets têm que tomar muito cuidado para não expô-los ao sol. Se o cão for de pelagem clara, aplicar protetor solar veterinário. Além da tosa, outros cuidados se fazem necessário em dias de forte calor. Uma delas é que a água deve
estar sempre fresca no bebedouro do cão. Se necessário, aumentar a quantidade de potes com água pela casa. Se o seu cão estiver extremamente ofegante num dia quente, dê um banho frio para diminuir sua temperatura. Ou molhe seu corpo para refrescá-lo. As raças peludas que mais sofrem com o calor de verão são shih tzu, lhaza apso, poodle e chow chow. Além dos cães peludos, deve-se dar uma atenção especial também aos cães braquicefálicos, que possuem focinho curto, como os Bulldogs, Boxers e Pugs. Eles possuem mais dificuldade de respirar e, por isso, têm mais dificuldade com a troca de calor. Pisos frios e tapetes térmicos gelados para cães podem ser úteis para resfriar o animal, pois auxiliam na troca de calor. Outra medida importante é intensificar a proteção do cão contra pulgas e
carrapatos com produtos antiparasitários. No calor, a quantidade desses parasitas aumenta e as chances de o cão adquirir pulgas e carrapatos é muito maior. Além disso, se tiver qualquer dúvida ou perceber alguma alteração no comportamento do animal por causa do calor, o responsável deve procurar o médico veterinário imediatamente. Quando está com calor, os humanos produzem suor por meio das glândulas sudoríparas, o que nos ajuda a fazer o ajuste da temperatura e “resfriar” o corpo nos períodos mais quentes. Nos humanos, essas glândulas estão distribuídas por quase toda a superfície do corpo. Nos cães, as glândulas sudoríparas estão presentes somente nos coxins, conhecidos como as “almofadas das patas”, daí porque estão mais vulneráveis aos incômodos provocados pelo calor. REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |
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Ilustração Freepick.com
O beMais Supermercados foi uma rede que começou pensando em sustentabilidade, dez anos atrás, quando produziu várias embalagens retornáveis para incentivar o consumidor a não fazer tanto o uso da embalagem plástica, que é nociva para o mundo sustentável. O relato é do gerente de Marketing da empresa, Paulo André Cordeiro. “O beMais Supermercados foi pioneiro no uso das sacolas retornáveis. Hoje, a gente tem uma prática muito forte de disponibilizar caixas de papelão para os nossos clientes. É uma forma de minimizar as sacolas plásticas. O beMais tem um trato muito cuidadoso com relação ao lixo que é produzido dentro das lojas. Temos o cuidado de separar em espaços específicos para todos os nossos materiais reciclados,
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Rede beMais Supermercados prioriza sustentabilidade principalmente as caixas de papelão, e uma empresa que é ligada a uma cooperativa faz o recolhimento gratuitamente desses materiais”, explica. Paulo André acrescenta que outra ação muito forte desenvolvida, na empresa, é uma parceria com a Energisa. “Disponibilizamos, em duas de nossas lojas, na unidade da Cidade Universitária e na unidade de Oitizeiro, um espaço para coleta seletiva, onde o consumidor pesa as embalagens e tem um desconto automático na sua conta de energia. Essa parceria, hoje ainda exclusiva, pode ser estendida a outros supermercados, basta procurar a Energisa. O cidadão reconhece essa ação como uma boa prática e a gente tem obtido muito êxito e muitos elogios por parte da população, porque é uma forma de economizar e de ajudar a sustentabilidade do mundo”, ressalta. A Rede beMais prioriza a otimização de suas atividades, através da criação de um ambiente harmonioso e agradável. “Vale acrescentar
que a preocupação dos supermercadistas hoje não vem só no trato dos ambientes onde são acondicionadas as mercadorias. A gente sabe que é corresponsável por tudo que acontece com aqueles produtos que estão sendo disponibilizados para os consumidores em nossas prateleiras, em nossas ilhas. E essa corresponsabilidade nos leva a uma preocupação muito maior, ou seja, nos leva à indústria. Então, a gente se preocupa como esse produto é fabricado, a forma como ele é acondicionado e a forma como é transportado”, complementa. Paulo comenta que existe uma mudança natural no perfil do consumidor, que está muito mais exigente e buscando, além do preço, comodidade, atendimento, limpeza do supermercado e serviços. “O ideal é você comprar tudo em um só local. Aliado a isso, a grande preocupação que a gente tem é oferecer algo a mais. É preciso perceber que a empresa não só visa lucro e que, de alguma forma, ela quer te dar uma contrapartida a mais. Por
isso é preciso também mostrar que a empresa tem uma ação social permanente e, principalmente, uma preocupação com a acessibilidade. É um ponto que precisa ser chamado muito a atenção, porque os supermercados não se atentam tanto, mas existe uma legislação específica para isso, que mede o grau da rampa, o tipo de banheiro, a informação na altura correta, o leitor óptico na altura correta, a cadeira de roda que tem que está lá disponível para o cadeirante que veio sem a sua. Esses detalhes fazem parte da rotina do supermercadista inteligente e preocupado com o seu consumidor”, arremata. O gerente de Marketing do beMais Supermercados afirma que a procura de produtos orgânicos está crescendo bastante. “Hoje a gente disponibiliza uma área específica
para esses produtos. Essa área é sinalizada e a gente tem observado que o consumo de produtos orgânicos, este ano, já vai crescendo algo em torno de 12%. Existe uma preocupação com relação ao trato do produto no campo, do uso de herbicidas, agrotóxicos. E essa preocupação, aliada com todos os recursos da medicina e uma boa alimentação, aumenta a expectativa de vida e a essa iminente longevidade que a gente está podendo alcançar. Então, a gente tem observado que a melhor idade foi quem iniciou com esse poder de consumo, buscando os produtos orgânicos e, por conta disso, a gente tem crescido os espaços em nossas prateleiras para que esses produtos cheguem às mãos do consumidor e com toda a qualidade e garantia que eles pedem”, ressalta.
Paulo André Cordeiro, gerente de Marketing do beMais, com Gualberto Freire, do Espaço Ecológico
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A Paraíba tem uma faixa litorânea de belezas naturais indescritíveis, praias tranquilas e um mar que vai do esverdeado ao azul. É o que mostra o premiado fotógrafo e jornalista paraibano Antonio David, em imagens pungentes retratando as belas praias de Tambaba e Coqueirinho, o cenário paradisíaco da Praia Barra de Gramame e a incrível experiência do pôr do sol ao som do Bolero de Ravel tocado por Jurandir do Sax. Aproveite para conhecer as praias paraibanas, onde o sol bate primeiro, pelas lentes da câmera de Antonio David. Tabatinga é uma praia tranquila de mediana extensão, é mais uma das belas opções do Litoral Sul paraibano
Encante seu verão, com as belezas naturais da praia de Tambaba, no Litoral Sul A beleza selvagem da praia de Coqueirinho, no Litoral Sul, um recanto que apresenta uma convivência pacífica e tranquila do ser, o mar e a natureza nativa preservada
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Fotos: Antonio David
PARAÍBA DE PRAIAS TRANQU
Praia de Acaú é um dos destinos turísticos do Litoral Sul, em Pitimbu, mais procurados por turistas
UILAS, PRESERVADAS E BELAS Praia, Sol e Mar. Não existe lugar melhor para apreciar a paisagem e sentir momentos que transmitem paz, que nunca devem acabar. Esta é a praia do Sol
Carapibus é uma praia de grande beleza e tranquilidade, onde o mar é levemente agitado, de cor verde azulado e de águas cristalinas. Fica no município do Conde, também no Litoral Sul
Barra de Gramame e seus cenário paradisíaco, recanto muito frequentado, mas onde natureza é quase intocada
Barco que faz a travessia da Praia do Jacaré a Ribeira, em Santa Rita, no braço de mar que se mistura com a região estuarina banhada pelos rios Sanhauá e Paraíba
Na foto, David apresenta o marketing da vendedora ambulante que labuta de sol a sol
A fotografia como arte no registro do cotidiano Essa reportagem fotográfica oferece apenas uma amostra do muito que o litoral paraibano tem a oferecer, ou seja, um pequeno recorte das incursões do repórter fotográfico Antonio David, no universo da fotografia como forma artística de retratar o cotidiano. “Toda fotografia está no imaginário, não veja os objetos literalmente, perceba as sutilezas”, recomenda Antonio David
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Como tratar da beleza de forma ecológica é tema de entrevista no Espaço Ecológico com a hair stylist Marianne Mota Em entrevista, Marianne Mota, empresária e hair stylist, tira dúvidas e apresenta em detalhes um novo conceito em beleza, o salão green, ou salão verde, o primeiro da Paraíba com essa filosofia de tratar da beleza de forma ecológica e sustentável. A criadora de estilo revela quando foi que descobriu o dom de cuidar da beleza das pessoas e os produtos que usa no seu salão. Marianne Mota também comenta sobre os cuidados que seu salão adota para evitar os riscos de uma cliente adquirir uma doença sexualmente transmissível, como Hepatite e tantas outras. A criadora de estilo ainda destaca como surgiu a ideia de um Salão Verde, se os produtos que utiliza no salão são naturais e porque utiliza água filtrada na lavagem dos cabelos das clientes. Marianne explica de que forma analisa e decide o trabalho que vai desenvolver no corte e pintura da cliente e se já ocorreu algum caso de uma cliente não gostar do resultado do corte do cabelo. Ela, que é proprietária do Marianne Mota Hair Studio, no bairro do Bessa, e do Hair Studio Green, em Manaíra, conclui sua entrevista de forma descontraída, falando de uma situação inusitada que ocorreu no seu salão.
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Espaço Ecológico Marianne, quando você descobriu o dom de cuidar da beleza das pessoas? Marianne Mota - Isso começou desde novinha, desde criança. Todas as minhas brincadeiras sempre foram voltadas para isso, ou seja, para cuidar da beleza das pessoas e maquiar, cortar cabelo. Começaram com boneca, depois disso foi evoluindo para as amiguinhas, depois para as amigas das amigas, Costumo dizer que foi a profissão que me escolheu, e não eu que a escolhi, porque desde criança sempre escutava o pessoal dizer que eu deveria ser cabeleireira e tal. Sempre gostei de criar estilos em geral, não só de cabelo, já que olho para tudo na hora de criar um estilo numa cliente. Eu olho a forma dela se vestir, a personalidade, a profissão, olho tudo, para poder criar um estilo para ela. Então, isso começou desde muito nova, até eu chegar numa certa idade e, por volta dos meus 17 anos, quando resolvi ainda na faculdade que queria ser cabeleireira e comecei a fazer cursos. Com 17 anos, eu fui fazer meu primeiro curso de cabeleireira, em Londres. Voltei para a Paraíba, a fim de dar continuidade a minha faculdade de Psicologia, depois de seis meses estudando fora. Foi quando resolvi que realmente era isso que eu queria para minha vida. Dois anos depois, tranquei a faculdade e fui me especializar em cosmetologia e estética, em Boston, onde também trabalhei em salões, para ganhar experiência. Sou daqui de João Pessoa, mas passei uma temporada morando fora.
dade, por ainda não ter internet e esse acesso todo as melhores escolas, a toda essa informação, o meu grande diferencial na época foi ter feito esse investimento de morar fora. Eu sei que tenho um currículo diferenciado. Foram quatro anos e meio só estudando e investindo em mim fora do país. Acho que o principal é manter essa tradição de estar sempre viajando, buscando novidades e trazendo sempre algo de novo e atual para cá.
O PRIMEIRO SALÃO DE BELEZA SUSTENTÁVEL DA PARAIBA No entanto, já tem 15 anos que eu voltei para a Paraíba e abri meu primeiro salão. Agora, depois de 15 anos de experiência, estou com essa novidade de um salão verde, com esse novo conceito de como cuidar da beleza. Espaço Ecológico - O Brasil tem aproximadamente quatro mil salões de beleza. Qual o diferencial do seu salão? Marianne Mota - O diferencial foi o investimento que eu fiz em mim fora do país. Lógico que existem muitos cabelereiros também formados fora. Tempos atrás, quando ainda era muito nova, aqui no Brasil ainda tinha poucas escolas. Na ver-
Espaço Ecológico - O Brasil é o terceiro país em consumo de produtos cosméticos, atrás apenas dos Estados Unidos e Japão. Que produtos você utiliza no seu salão? Marianne Mota - Aqui no Hair Studio Green, por ser uma proposta diferente, já que trata-se de um salão verde e ecologicamente correto, a lei criada por mim é que, aqui dentro do salão, os produtos não podem ser testados em animais e não podem ser tóxicos. Acredito que a França esteja na frente do Japão, em cosméticos. No meu trabalho, uso produtos americanos, italianos, franceses e tal, desde que sejam linhas que respeitem o meio ambiente e que não façam testes em animais. Neste sentido, olho não só apenas a marca, como os fornecedores deles também, além dos terceirizados. Eu fiz uma pesquisa, entrevistei todos eles, busquei os responsáveis de cada empresa, para saber quem eram os fornecedores. Fui atrás de realmente tudo. Todos os produtos aqui tem selos ambientais. É tudo ecologicamente correto, no sentido REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |
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de não fazerem testes em animais e de não agredirem o meio ambiente. O shampoo que a gente usa aqui é “Lo Poo” e No Poo”, que é uma tendência mundial. São shampoos sem sulfato, sem parabeno e sem petrolato. Eles, além de não agredirem o couro cabeludo, também não contaminam a água que volta para o meio ambiente. Essa foi a forma que encontrei de salvar a água. Tenho um projeto para ser implantado, mais à frente, de reaproveitamento da água, mas primeiro vou ter que criar uma consciência nas minhas clientes, para que elas entendam como é que funciona esse reaproveitamento. Então, não quis fazer esse investimento a princípio, porque é algo muito novo. As pessoas estão começando a entender sobre isso agora. Então, até que elas vão entendendo a filosofia, como se faz todo esse processo, a forma que eu encontrei de proteger a água foi usando esses shampoos “Lo Poo” e “No Poo”. Além disso, todos os outros produtos que utilizados são não tóxicos. As tintas e os pós descolorantes que usamos são sem amônia. As clientes grávidas podem fazer mechas; pessoas que têm alergias também. Para os clientes que têm alergia a pigmento e que não podem usar tinta, mesmo que seja sem amônia, trouxemos a hena que é um pigmento de uma planta proveniente de alguns países da Ásia e do Oriente Médio. Todos os produtos utilizados aqui são antialérgicos e não tóxicos. Espaço Ecológico - Toda mulher adora ficar bonita e produzida.
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Quais os cuidados que seu salão adota para evitar os riscos da cliente adquirir alguma doença sexualmente transmissível? Marianne Mota - Todos os materiais são esterilizados na autoclave como, por exemplo, tesouras e alicates. É uma metodologia que uso em todos os meus salões, ou seja, esse cuidado de ter uma boa autoclave. Antes de levar os instrumentos para a autoclave, limpamos e esterilizamos tudo com hipoclorito de sódio. Não são apenas doenças sexualmente transmissíveis que esses materiais podem passar. Outra coisa muito grave também, que as pessoas não prestam atenção, é o pente e a escova. Eles também podem transmitir doenças para o couro cabeludo. Esse cuidado eu já tenho, há anos, também no outro salão do Bessa, que é esterilizar todos os pentes e escovas do salão. Eles são limpos, esterilizados e plastificados. Nenhum pente ou escova volta para o cabelo de outra pessoa, antes de passar por esse processo de limpeza e esterilização. Esse também é um diferencial que
temos. Pelo menos, eu rodei o mundo todo e, pode ser até que exista algum salão com esse procedimento, mas até hoje eu não vi nenhum salão que fizesse isso. Esse é um cuidado extra que tenho desde novinha. Por conta de chegar em salões e ver aquelas escovas cheias de cabelo e, principalmente, por não saber de onde tinham vindo, eu preferia muitas vezes, mesmo muito nova, levar a minha própria escova para o salão, com receio de usar aquelas que estavam lá. Sempre pensei que no dia que eu tivesse o meu próprio salão, teria esse cuidado. Na época, procurei a Anvisa e perguntei qual a melhor forma de esterilizar e cuidar de alicates, tesouras, pinças, pentes, escovas, entre outros equipamentos e acessórios. Temos também esterilizadores de escovas e pentes, os quais também colocamos no hipoclorito de sódio durante uma hora, antes de levá-los ao esterilizador de escovas. E aí, depois, esperamos secar e plastificamos. Espaço Ecológico - De que forma e qual a periodicidade que seus profissionais são capacitados para seguir os seus princípios de administração e conhecimentos? Marianne Mota - Os funcionários estão diariamente sobre o meu comando e eu estou diariamente de olho em tudo, nos dois salões, sempre ensinando uma nova técnica de escova, uma nova técnica de mechas. Crio minhas próprias técnicas, sempre respaldadas nas experiência das minhas viagens, dos meus cursos. Tenho uma mente muito
criativa há muito tempo. Tenho minhas próprias técnicas de corte e de coloração. Isso tudo surge na minha cabeça, às vezes à noite, dormindo, e no outro dia já chego e treino. Assim, os funcinários estão diariamente sendo treinados. Lógico que, duas três vezes ao ano, faço uma viagem para fora do país, a fim de investir em algum curso, geralmente de penteado de noiva, de corte, de mechas, para ver novas técnicas. Trago isso para eles e também sempre invisto em cursos oferecidos pelas marcas que nós trabalhamos, que são marcas bem conceituadas. Fecho parceria com essas marcas para mandarem, de fora, os seus profissionais ministrarem cursos para minha equipe. Espaço Ecológico - Você já mencionou o salão verde e algumas informações, mas como surgiu a ideia de implantar um salão verde? Marianne Mota - Eu não tirei inspiração de nada, nem de ninguém. Foi algo que realmente foi surgindo. eu não entendia nada sobre o assunto. Foi algo que eu ouvia falar, mas não entendia nada sobre sustentabilidade e o que é ser ecologicamente correta, sobre nada disso. Isso passou a ser um vocabulário usado por mim de uns seis a oito meses para cá, porque foi em cima de muita pesquisa. Tive que descobrir tudo muito só. No meu universo, ninguém fazia nada ecologicamente correto, nada sustentável. Sabia de ouvir falar, até surgir uma ideia na minha cabeça. A princípio, eu estava querendo abrir um novo salão, uma segunda unidade,
mas eu queria fazer algo diferente da primeira e, pensando em várias opções, veio à minha cabeça que eu poderia usar um salão onde tivesse produtos mais naturais, que não agredissem o couro cabeludo, que pessoas com câncer, pessoas alérgicas e pessoas mais preocupadas com a saúde, pudessem ter um local para cuidar de sua aparência. Comecei a pesquisar e, dentro dessas pesquisas, fui escutando mais sobre esses assuntos e sobre produtos não testados em animais. Cheguei à Feira de Cosméticos em São Paulo e vi que existia esmalte vegano e a partir desse produto, quis saber se existia mais produtos veganos. Constatei que só uma marca estava vendendo na feira os produtos dela como vegano. Achei aquilo ali é um diferencial e voltei com a ideia de abrir um salão vegano. Mas fui pesquisar e nem todas as linhas têm produtos totalmente veganos. Muitos não sabiam nem o que era a diferença entre vegano e vegetariano. Continuei pesquisando tudo isso e descobrindo tudo só. Falei com duas pessoas que eu estava pensando em
abrir um salão que seria vegano e ecológico. E o pessoal sempre perguntando o que seria isso. Aí eu falava e as pessoas diziam que, como eu não dominava o assunto, não deveria me meter nisso, porque os veganos seriam fanáticos. Eu argumentava que ao pesquisar estava descobrindo que esse povo era sim muito humano e que se preocupava com os animais, nada de fanático. Aí comecei a entrar nessas marcas veganas e, além de ver a preocupação dos veganos quando entravam nas marcas, procurei saber se essas marcas realmente eram veganas, se os fornecedores das matérias-primas também eram. Fiquei curiosa e comecei a pesquisar mais sobre isso. E aí fui cada vez mais criando desejo no meu coração de fazer uma coisa ecologicamente correta e sustentável, mas para isso tive que tomar nota de nomes como ecológico e sustentável, pois era tudo muito novo para mim. No entanto, eu estava muito envolvida, gostando e encantada com o assunto. Foi quando cheguei para minha mãe e meu noivo, que disseram não vá, cuidado, as pessoas podem querer lhe atacar por conta disso, vão exigir muito e tal. Argumentei que as pessoas não iriam me atacar simplesmente porque iria desenvolver um trabalho em que nem precisaria ficar em frente às grandes fábricas gritando para chamar a atenção contra a morte de animais, como fazem muitas pessoas preocupadas em ajudar o meio ambiente. O resultado é que estou vendo que os fornecedores estão me procurando, perguntando porque que eu não REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |
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quero trabalhar com eles e indagando ainda qual o problema se fazem teste com animais, se o produto deles é bom. Outro fato relevante, é que os fabricantes começaram a me ligar e dizer que iriam criar uma linha exclusiva para mim, já que eles não tinham a mesma e que não queriam sair do meu salão. Na verdade, eles propunham criar uma marca. Então, eu vi que podia fazer um bem também para esse público que era totalmente desconhecido meu. Foi por esse caminho que fui percorrendo na concepção do projeto, até que decidi que se não dava para ser um salão vegano, já que não havia condições para isso, principalmente porque não existia marcas com produtos veganos e eu não podia abrir mão de trabalhar com boas marcas, porque o trabalho de um bom profissional depende dele trabalhar com boas marcas, daí então resolvi criar minhas próprias normas para dentro do salão. Os produtos não podem ser testados em animais. Independentes que eles criem alguma outra marca que faça algum teste em animais, mas as que entrarem no meu salão não podem ser. Eu já estou dando um passo a favor disso e vou pensar na sustentabilidade e no meio ambiente em tudo, desde a decoração, material de limpeza, dos produtos usados, desde tudo. A
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partir daí, todos os móveis adquiridos foram ecologicamente correto. O que tem de madeira é de reflorestamento. Minha visão de oito meses para cá está totalmente voltada para o ecológico. Espaço Ecológico - O que você está falando, estamos vivenciando e comprovando que realmente é uma verdade. Neste sentido, tivemos informações de que o seu salão utiliza na lavagem dos cabelos das clientes água filtrada. Qual a razão? Marianne Mota - Isso também é uma coisa que eu já tenho desde o meu outro salão, o Marianne Mota Hair Studio, que fica no bairro do Bessa, e que sempre adotou essa providência. É que a água geralmente vem com muitos resíduos de cloro e tal. Então, para que o tratamento se potencialize e tenha um resultado ainda melhor, preferi que essa água viesse totalmente limpa para o cabelo das minhas clientes. Já há alguns anos que eu uso isso e trouxe esses filtros também para o Marianne Mota Hair Studio Green. Espaço Ecológico - Qual tratamento e destino dos resíduos sólidos e líquidos do seu salão? Marianne Mota - Fazemos a coleta seletiva no lixo, que foi outra coisa
que eu também não entendia nada. Agora, estou aprendendo sobre o sistema de compostagem para poder reaproveitar e fazer o adubo, mas a primeira coisa que adotei aqui foi a coleta seletiva. Os cabelos das clientes, que tenham a partir de 15 centímetros, são reaproveitados e doados para confecção de perucas que vão beneficiar pacientes com câncer do Hospital Napoleão Laureano, que perdem os cabelos durante o tratamento. Geralmente, pergunto se as clientes querem doar. Também estou com um projeto de testar os cabelos que vão para o lixo como adubo. Estou fazendo já alguns testes e se isso der certo, a gentae vai reutilizar esses cabelos para adubar as plantas. Espaço Ecológico - De que forma você analisa e decide o trabalho que vai desenvolver no corte, pintura ou maquiagem da sua cliente? Marianne Mota - Sou uma profissional formada em visagismo, que é o estudo do rosto. Geralmente se conversa com a cliente e eu procuro saber a profissão, o que ela faz, e o que é que ela pretende passar através da imagem dela, porque o cabelo muda sua imagem e a forma como você se vê, diz muito de como você vai agir em seu dia-dia. Crio de acordo com a necessidade dela. Muitas vezes, por exemplo, chegam clientes que passaram no concurso de juiza e são muito novas. Elas vão fazer a última prova oral e querem passar mais credibilidade, uma dificuldade para que tem carinha de criança. Então, vou criar um corte de cabelo que vai exatamente passar mais credibilidade. Porque as pessoas vão olhar para elas e, através da imagem delas, dependendo do formato do rosto delas, da cabeça e da largura dos ombros, vão ter um sensação
de maturidade e credibilidade. Por isso, tenho que criar um corte de cabelo que vai passar essa informação para quem olhar.
“eu disse a você que esse cabelo estava me deixando velha e acabada e você concordou”. Para eu explicar foi complicado (risos).
Espaço Ecológico - Já ocorreu algum caso de uma cliente não gostar do resultado do corte do cabelo ou maquiagem? Marianne Mota - Maquiagem é mais difícil, porque é uma coisa que se resolve na hora, mas não gostar do corte do cabelo acontece, porque mulheres chegam no salão, muitas vezes, com uma expectativa e, às vezes, isso tem que ser bem conversado. É muito importante a conversa, mas às vezes tem aquela que chega e só sabe se vai gostar do corte depois que o marido aprovar. Tem também a questão da TPM, quando a cliente afetada não gosta na hora, mas depois volta e diz que amou, que foi o melhor corte da sua vida. No entanto, isso não é uma coisa que aconteça sempre, porque senão acho que não teria mais cliente (risos).
Espaço Ecológico - Chegamos ao final da entrevista. Fique à vontade para apresentar qualquer comentário em sua despedida. Marianne Mota - Quero convidar a todos para conhecer esse novo espaço, Marianne Mota Hair Studio Green, que fica localizado na Avenida Umbuzeiro, 781. Manaíra, em João Pessoa, o primeiro salão de beleza sustentável da Paraiba, onde trabalhamos com produtos cruelty free, veganos e orgânicos, inclusive com horta própria. Peço para me trazerem novidades também, porque ainda estou aprendendo muito, pois apesar de ter pesquisado sobre o assunto, ainda tenho muito a aprender. Quero receber as pessoas que estão preocupadas com o meio ambiente e com a questão da sustentabilidade. Que essas pessoas venham aqui, não apenas para conhecer nossos serviços, mas para somar e me trazer mais referências e novidades. Estou curtindo demais, não apenas a questão de trazer o novo, uma filosofia nova, mas de conhecer novas pessoas. Desde que abri esse salão conheci muita gente interessante, com a cabeça muito boa. o que me tem trazido uma nova consciência de vida, que está me fazendo crescer a cada dia. Tenho muito a aprender com essas pessoas, mostrar o que eu trouxe para elas e receber delas mais indicações de produtos, de marcas e ideias que elas possam ter. Gostaria de ajudar da melhor forma possível, porque estou realmente entregue nessa missão que Deus me deu, de fazer esse espaço. Vou até o fim com esse projeto, para trazer e oferecer o melhor.
Espaço Ecológico - Que situação inusitada já ocorreu no seu salão? Marianne Mota - Em salão acontece muita coisa engraçada. Dentre tantas que já aconteceram comigo, prefiro contar uma bem divertida. Uma juíza estava fazendo o cabelo comigo e, nesse dia, o barulho era intenso no salão, devido à movimentação das clientes e profissionais, e ela perguntava as coisas e eu respondia, mas eu ficava toda hora falando hã, porque eu não escutava o que ela falava. Só que teve uma hora que eu fiquei com vergonha de ficar com tanto hã, hã, pedindo para ela repetir. Foi então que resolvi concordar com tudo que ela falava. Não entendia nada que ela dizia, mas respondia “é”, “certo”. Teve uma hora que ela parou assim bem séria, diante do espelho, e falou para mim com uma cara bem de raiva:
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USO CONSCIEN Como reduzir desperdício de alimentos
Enquanto grande parte da população mundial padece de fome, estudos apontam que cerca de um terço dos alimentos produzidos no mundo vai para o lixo. De acordo com a Organização das Nações Unidas pela Alimentação (FAO), 12,5% da população mundial, ou 870 milhões de pessoas, se encontram desnutridas. A energia usada para o cultivo de alimentos que acabam sendo jogados no lixo é o terceiro maior contribuinte para as emissões de gases do efeito estufa no mundo, atrás dos Estados Unidos e da China, segundo a FAO, citan-
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do um relatório sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Como comida é algo caro, uma boa dica é fazer as refeições em casa ao invés da opção de comer em restaurantes com frequência. Quando as pessoas cozinham ficam muito mais fácil incorporar alimentos que sobraram na geladeira ou no armário à refeição. Quando não se tem muito espaço para resfriar ou congelar alimentos, a pessoa tende a comprar quantidades menores, justamente para não correr o risco de perder a comida perecível, por não ter como
acomodá-la adequadamente. Isso também ajuda as pessoas a controlarem o que têm em casa antes de irem às compras, evitando adquirir além do que elas precisam. Receitas criativas e saborosas podem ser feitas com a utilização de partes de vegetais e verduras que normalmente são desperdiçados. Folhas de cenoura, beterraba, couve-flor e abóbora, cascas de batatas, banana, tangerina, mamão, abacaxi e beterrabas, ou talos de brócolis, espinafre e agrião são exemplos de alimentos de excelente valor energético e alimentar que não costumam ser usados.
ENTE Veja nove dicas simples para não desperdiçar comida: 1. Lista de mercado Fazer uma lista do que falta para consumo na sua casa contribui de uma forma simples para a redução do resíduo de alimentos. Além de auxiliar na quantidade correta de comprar o alimento, a prática reduz o gasto financeiro desnecessário. 2. Faça mercado com frequência Faça compras com mais frequência - essa forma pode ajudar você a adquirir apenas o necessário, evitando o estoque de alimentos que acabam se deteriorando. 3. Resto de ontem Embora essa dica seja um tanto rejeitada, ela é ótima para reaproveitar as sobras de comidas deixadas na refeição anterior, evitando o desperdício e podendo se transformar até em um prato diferente. 4. Potes transparentes Sobrou comida? Na hora de guardá-la, escolha potes transparentes. Essa atitude simples permite que você se lembre que determinado alimento está guardado. Caso contrário, você pode acabar se esquecendo e o alimento apodrecer. 5. Congelados Certos alimentos não suportam muito bem a temperatura ambiente ou o calor. Em vez de perdê-los, por que não congelá-los e utilizá-los quando for conveniente para uma receita específica?
6. Faça suco ou sopa Comprou mais frutas ou legumes do que deveria? Renove o cardápio e faça sucos e sopas - são nutritivos e alimentam. 7. Ajude quem passa fome Antes de jogar a comida fora, pare e pense que tem uma pessoa que está passando fome. Se tem algum alimento sobrando e que esteja apropriado para consumo, passe adiante para alguém que não tem o que comer. 8. Reduza a quantidade de lixo orgânico Reduza a quantidade de restos de comida jogada no lixo. Faça sua própria compostagem caseira e utilize o húmus resultante do processo em seu jardim. Assim, você contribui para a diminuição de lixo orgânico que vai para aterros, gerando, posteriormente, gases que contribuem para a poluição da atmosfera. 9. Empregue a economia Quem nunca foi a um restaurante e ficou hipnotizado pela grande quantidade de comidas deliciosas? Na gíria popular, “o olho fica maior que a barriga”. Mas isso é um problema, pois acabamos deixando grandes quantidades de comida no prato, que vão parar no lixo. Pense duas vezes na hora de encher o prato de comida. Você economizará financeiramente e evitará desperdícios.
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EDUCAÇÃO IFPB e FUNETEC realizam oficinas para educar sobre uso sustentável da água em municípios afetados pelas obras de transposição
O PISF, popularmente conhecimento como projeto de transposição do Rio São Francisco, é o maior projeto de infraestrutura do Programa de Aceleração do Crescimento do Governo Federal e beneficiará 12 milhões de pessoas em 390 municípios nos estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte, além das 294 comunidades
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rurais às margens dos canais. O projeto engloba a construção de 13 aquedutos, nove estações de bombeamento, 27 reservatórios, nove subestações de 230 quilowats, 270 quilômetros de linhas de transmissão em alta tensão e quatro túneis. Na Paraíba o principal benefício do PISF é o aumento da garantia da oferta hídrica nos maiores reser-
vatórios do estado como a barragem de Acauã e os açudes de Engenheiro Ávidos, Epitácio Pessoa, Coremas e Mãe D’água. Como é de se esperar, uma obra dessa magnitude gera impactos ambientais, portanto está susceptível a todo processo de licenciamento ambiental, desde a Licença Prévia até a Licença de Operação,
AMBIENTAL com elaboração de todos os Estudos Ambientais necessários. Para mitigação dos impactos adversos foram desenvolvidos 38 programas ambientais, onde um dos quais foi o Programa de Educação Ambiental que previa a sensibilização de diversos atores sociais sobre o uso sustentável dos recursos hídricos. Os programas ambientais vêm sendo executados desde 2012, sendo que em 2016, através de um Termo de Execução Descentralizada firmado junto ao Ministério da Integração, o IFPB ficou incumbido de ministrar uma série de oficinas de sensibilização socioambiental em dois municípios, Monteiro e São José de Piranhas, bem como da distribuição de 10.000 CDs e 10.000 cartilhas informativas sobre o projeto. Para dinamizar o processo e aproveitando a expertise da Fundação de Educação Tecnológica e
Cultural da Paraíba (FUNETEC), em projetos na área de educação, desenvolvimento social e meio ambiente, o IFPB e a FUNETEC formalizaram uma parceria para execução das atividades que culminou na realização das oficinas nos meses de outubro e novembro de 2016. As oficinas de sensibilização socioambiental, realizadas pela equipe técnica da FUNETEC em parceria com profissionais do IFPB campus de Cabedelo Centro, objetivaram garantir a democratização das informações ambientais e estimular o fortalecimento da criticidade individual e coletiva, permanente e responsável. As dinâmicas foram voltadas para construção coletiva de conceitos, integração do conteúdo com a cultura local e coleta de dados para elaboração de um Plano de Ação, priorizando uma educação socioambiental crítica e emancipatória.
Ao todo, nos dois municípios, foram atendidos 255 alunos, 75 profissionais de saúde e 115 cidadãos com um publico 48% maior que a meta estipulada no início do projeto. Perguntado sobre a experiência o superintendente da FUNETEC, Anselmo Castilho afirmou que “o projeto foi extremamente positivo, foram atendidas centenas de pessoas em cada um dos municípios, sendo distribuídas em grupos sociais distintos como associação de moradores, agentes de saúdes e alunos de diversas faixas etárias. A água é um recurso extremamente importante, portanto deve ser percebido como tal, esse foi o desafio da educação ambiental que promovemos, sensibilizar as pessoas que todos são mais do que beneficiados, são agentes ativos no processo de conservação, gestão e fiscalização desse recurso.” REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |
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PRODUTORES RU
FUNETEC realiza dez mil cadastros ambientais rurais no semiárido da Paraíba 30 | REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO
Em dezembro de 2015 a Fundação de Educação Tecnológica e Cultural da Paraíba, instituição de apoio ao IFPB, iniciou a elaboração de 10 mil Cadastros Ambientais Rurais (CAR) no semiárido paraibano. O projeto está vinculado ao Edital FNDF/SFB/MMA Nº 01/2015 e é fruto da parceria entre o Ministério do Meio Ambiente (MMA), o Serviço Florestal Brasileiro (SFB) e a Caixa Econômica Federal, no qual, após apresentação de proposta técnica e concorrência, a FUNETEC foi definida como um dos agentes executores dessa iniciativa. O CAR foi instituído pelo novo Código Florestal, Lei nº 12.651/2012, e é definido como um registro público eletrônico de âmbito nacional, obrigatório para todos os imóveis rurais, que tem como finalidade integrar as informações ambientais dos imóveis rurais e posses, compondo assim, uma base de dados para controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico
URAIS
e combate ao desmatamento. Cabe ressaltar que a inscrição no CAR é obrigatória para todos os imóveis e posses rurais, desde grandes propriedades que comercializam seus produtos através de grandes canais de distribuição, até pequenos produtores que praticam agriculta de subsistência. Entretanto, para os pequenos produtores, reconhecendo suas limitações financeiras e sua situação de vulnerabilidade social, sobretudo na região no semiárido, o MMA lançou uma Instrução Normativa especifica que definiu que produtores rurais possuidores de imóveis com área de até 4 módulos fiscais
(medida que varia para cada município e, em resumo, é definida pela capacidade produtiva do solo) poderiam solicitar o apoio institucional ou de entidade habilitada para proceder à inscrição no CAR, ou seja, caso não possuísse condições de arcar com o cadastro, tal cadastro deveria ser realizado de forma gratuita por um ente publico ou por uma instituição habilitada e financiada por este. E foi justamente este papel que o Ministério do Meio Ambiente atribui a FUNETEC na Paraíba. Através desse projeto será possível, de forma gratuita para os proprietários rurais, a confecção de 10 mil cadastros espalhados por 53 municípios no semiárido. Os municípios foram definidos de acordo com as prioridades do edital e estão distribuídos nas regiões de Cajazeiras, Vale do Rio Piranhas, Cariri, região de Patos e Pólo Sindical da Borborema. No ano de 2016 foram realizados mais de 8 mil cadastros em
municípios como Lagoa Seca, Esperança, Queimadas, Patos, Sousa, Aparecida, Poço de José de Moura, Cajazeiras, Carrapateira, Cachoeira dos Índios, Uiraúna, entre muitos outros. A realização dos cadastros é possível graças a parcerias locais com sindicatos de trabalhadores rurais (STR), secretarias municipais de agricultura e associações de produtores. O projeto continua no ano de 2017, tendo sua previsão de conclusão para o mês de abril. “Este é um projeto que garante a regularização ambiental dos imóveis rurais, sendo que tal processo pode influir diretamente nas condições de produção como, por exemplo, a obtenção a créditos agrícolas, ou seja, é um trabalho que proporciona desenvolvimento ambiental e socioeconômico para o estado da Paraíba e, como objetivo fim, melhoria na qualidade de vida dos pequenos produtores” afirmou o superintendente da FUNETEC, Anselmo Castilho. REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |
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Divino Mestre
Uma escola profissionalizante em sustentabilidade pioneira na Paraíba Por Claudiana Leal e Letícia Bento
Fundada em 1996, a Instituição Luz e Vida, de amor à humanidade, está instalada no município de Bayeux, e possui dois projetos educacionais para a paz e a felicidade, o primeiro, a “Creche Luz e Vida” que apoia 105 crianças da comunidade São Lourenço e o segundo, o “Projeto Escola profissionalizante em sustentabilidade: Divino Mestre (DM)”, que promove cursos de curta duração para a educação ambiental na prática, demonstrando conteúdos acerca do saneamento básico ecológico e construções sustentáveis, na comunidade Rio do Meio I. Seus integrantes são voluntários e a presidenta é a professora doutora em engenharia civil e pesquisadora, Claudiana Maria da Silva Leal, a qual coordena o grupo de pesquisa CNPq “Sustentabilidade Urbana”, e junto com mais alunos e estagiários voluntários do Instituto
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Federal da Paraíba, fomentam a alfabetização ecológica. A escola possui infraestrutura diligente à arquitetura efêmera sustentável, utilizando container, taipa, pneus, pet e bambu para as alvenarias, uso de águas pluviais para uso nobre, reaproveitamento das águas cinzas, tratamento de esgotos por evapotranspiração, banheiro seco e gestão de resíduos sólidos. A DM busca parcerias com instituições de ensino e meio ambiente no município de Bayeux, Cabedelo, João Pessoa e Santa Rita. Hoje, conta com moradores do entorno, algumas panificadoras, a
prefeitura municipal, o Instituto Federal da Paraíba e o projeto Conta Cidadã da Energisa. Em junho de 2016, iniciou suas atividades implantando o projeto “A Tua Ação Sustentável”, gestão, inovadora, de resíduos sólidos orgânicos, educação na prática, a partir da segregação destes na fonte geradora, e mobilização para a coleta seletiva voluntária com a destinação adequada dos resíduos sólidos orgânicos por compostagem doméstica estática, sem revolvimento e oficinas diárias para o manejo. Em parceria com o projeto “Conta Cidadã” pretende reduzir em 70% os resíduos sólidos recicláveis no entorno da DM. O cultivo da horta comunitária com o adubo orgânico produzido atingirá o objetivo final que é troca dos resíduos orgânicos coletados por alimentos para a comunidade, assim, fecharemos o ciclo da sustentabilidade: do resíduo orgânico à mesa, com a alimentação saudável.
Cuidados com os olhos
Débora Pires*
Os olhos são os receptores do sentido da visão. A visão é dos cinco sentidos um dos mais importantes, pois é através dela que interagimos com o mundo, com o ambiente que nos rodeia. Cerca de 80% das nossas impressões são recebidas através dos olhos. Por isso, é importante proteger e cuidar dos nossos olhos. No mundo moderno, nossos olhos enfrentam diferentes desafios: o uso constante de computadores, laptops, tablets, smartphones que fazem que fixemos a uma curta distância por períodos prolongados. Recomenda-se piscar conscientemente os olhos de vez em quando e dar pausas, desviando os olhos das telas e olhar para pontos distantes. Outros fatores ambientais a que nossos olhos estão expostos são : a poeira, raios UV, partículas estranhas e tantos outros. Daí, precisamos nos conhecer tudo aquilo que faz bem para os nossos olhos, assim como o que pode prejudicá-los.
Seguem algumas dicas:
• Proteção contra raios UV: o uso de óculos com bons filtros solares são imprescindíveis para evitar danos à córnea, ao cristalino e a retina e o surgimento e /ou agravamento de doenças oculares como: o pterígio, a catarata e a degeneração macular relacionada à idade. • Exames oftalmológicos periódicos preventivos: o primeiro a partir dos 3 anos de idade e a depender do caso, anualmente após os 40 anos. Pessoas portadoras de vícios de refração, recomenda-se exames anuais. Pessoas portadoras de doenças oculares, seguir a orientações prescritas pelo oftalmologista que as acompanham. Procurar o oftalmologista ao menor sinal de alterações visuais e/ ou outros sintomas oculares. • Higiene ocular: Sempre lavar as mãos antes de tocar ou esfregar os olhos, usar maquiagem de preferência produtos antialérgicos e sem conservantes de boa qualidade e removê-las totalmente com demaquilantes ou shampoo neutro infantil. Os cremes, especialmente os que contém óleo, devem ser evitados nas áreas ao redor dos olhos. • Usar óculos de segurança durante atividades laborais que envolvam risco de atingimento dos olhos por partículas e /ou substâncias químicas. • Evitar ambientes com ar poluído. O ar puro não é benéfico apenas para os pulmões e coração. A córnea dos olhos capta oxigênio diretamente do ar. • Uso cuidadoso e criteriosa higienização das lentes de contato. • Hábito de vida saudável, dieta balanceada e exercícios físicos para prevenir doenças sistêmicas que induzem alterações oculares.
*Débora Pires é oftalmologista do Centro de Tratamento da Visão
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O RIO E SEUS Paula Frassinete*
“Foi um rio que passou em minha vida, e o meu coração se deixou levar...” O poeta usou este belo ecossistema para cantar o amor à sua Escola querida. Românticos, apaixonados, camponeses, sempre tiveram no rio, as mais fortes emoções. Um rio pode se originar de diversas formas, mas a que melhor caracteriza a hidrografia planetária é a que mostra o rio se originando a partir de sucessivos fenômenos e transformações que ocorrem na natureza, a exemplo do bem estudado e conhecido ciclo da água. A hidrosfera é a camada líquida que envolve o nosso planeta, sendo os rios um dos mais importantes recursos naturais para todos os seres vivos que compõem o ecossistema e indispensáveis à sobrevivência humana. Ele é usado, ainda, como via de circulação, em algumas regiões, transportando pessoas e mercadorias, como fonte primária de energia, nas hidrelétricas, para irrigação da agropecuária, e, por fim, na
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exploração da pesca como fonte de alimento e lazer. Desloca-se na superfície terrestre por seus leitos, que são canais permanentes e com rumo definido, das áreas mais elevadas, para o seu destino final, o oceano ou outro rio. Vale lembrar que inicia como filetes de água, a partir das nascentes, e, ao final, com a junção dos mesmos no percurso que obedece, formam rios caudalosos como o Amazonas, que nascendo na Cordilheira dos Andes, no Peru, banha vastas áreas, desaguando no Oceano Atlântico, no litoral do Pará. É a água, a base fundamental para todos os processos bioquímicos e fisiológicos, sobre a qual é garantida a vida no planeta, haja vista que, a principal pesquisa científica desenvolvida pelos programas espaciais na busca de sinais de água líquida em outros planetas que compõem as galáxias, que sinalizariam pela existência da vida nos mesmos, têm restado frustradas, até hoje! Sua escassa disponibilidade e finitude (apenas 1% é disponível para o consumo humano), remete a humanidade a uma dependência essencial das práticas de preserva-
ção ambiental. Entretanto o que se vê é a sociedade andando na direção oposta a este objetivo, por conceitos de progresso equivocados, que levam a comportamentos inadequados, notadamente no que se refere à destruição da vegetação nativa em suas margens (mata ciliar), no entorno de nascentes e em toda a cobertura florestal adjacente. Deve-se isto à expansão urbana descontrolada, ao uso da madeira como fonte energética, a práticas agrícolas que expõem o solo, ao pisoteio de animais e à extração mineral (areia, cascalho, silte, argila.) As matas ciliares situam-se às margens de rios, igarapés, lagos e lagoas, e são de extrema importância na proteção dos mesmos, tanto para evitar o assoreamento e regularizar a vazão dos corpos d’água, bem como para servir de abrigo à fauna nativa, oferecendo-lhe condições necessárias para cumprir seu ciclo biológico. Ainda são responsáveis pela filtragem de resíduos tóxicos (agrotóxicos e fertilizantes) e manutenção da qualidade e quantidade da água. Estas matas são também chamadas de matas de galeria, florestas ripárias, florestas ribeirinhas.
S CÍLIOS A sua supressão implica na alteração da luminosidade incidente sobre o filme d’água, bem como ao aumento da temperatura, o que impede a fotossíntese, e em consequência a produção do oxigênio e as trocas gasosas, inviabilizando a vida dos organismos aquáticos que podem chegar à extinção. É o que se chama de rio morto! Pela excepcionalidade deste ecossistema, o legislador brasileiro há muito criou leis e normas que orientam o uso sustentável deste recurso natural, tentando conter a ação antrópica sempre ambientalmente incorreta. O Código de Águas, Decreto 24.643\1934, controla as diversas formas de aproveitamento deste recurso natural, sendo uma legislação para o seu uso sustentável; a Resolução do CONAMA de nº 20\1981, considera importante a classificação das águas doces, salobras e salinas, essencial para a defesa dos seus níveis de qualidade, avaliados por parâmetros e indicadores específicos, visando assegurar seus usos compatíveis com os meios de controle de poluição, adotando medidas de preservação da saúde e bem
estar humanos, bem como o equilíbrio ambiental decorrentes da qualidade da água; o Código Florestal Brasileiro Lei 4771/1965. O Código é a principal Lei de preservação das florestas, na qual são estabelecidas as dimensões para as matas ciliares, nas diferentes regiões brasileiras, atrelando a largura da mata ciliar à largura do corpo d’água, estabelecendo a exata dimensão da importância desta preservação. Cita-se, mais recentemente, a Lei de Crimes Ambientais, a 9605/1998 como uma das mais fortes norteadoras do uso sustentável da natureza. As Instrução Normativa 001\2016, e Deliberação 3577/2014 do COPAM, estabeleceram e definiram limites para o licenciamento de empreendimentos e atividades de extração de areia e agregados, para a construção civil, atividade que causa muito impacto ao leito do rio e às suas matas ciliares, no Rio Paraíba e outros leitos de rio do Estado. A recuperação das matas ciliares é ação urgente, prioritária e essencial para manter o equilíbrio dos ecossistemas. Entretanto, a implementação das determinações le-
gais, pode conflitar com questões sociais, e inviabilizar a sobrevivência das pessoas que têm nestas áreas a sua única fonte de renda, como as pequenas propriedades. Com base nesta reflexão, o CONAMA, produziu uma Resolução a 369/2008, que garante a possibilidade da prática de manejo agroflorestal sustentável da área, desde que autorizado pelo órgão ambiental competente, desde que não descaracterize a cobertura vegetal nativa e nem impeça sua recuperação. O Estado da Paraíba estuda a implementação do Projeto de Recuperação da Mata Ciliar do Rio Paraíba, com suas secretarias, órgãos licenciadores, universidades, IFS, assentamentos rurais e prefeituras e, com esta ação conjunta, pretende contribuir para um desenvolvimento sustentável e harmônico, fonte de riqueza e bem estar da população e equilíbrio da natureza. A Mãe Terra agradece!
*Paula Frassinete é bióloga e vicepresidente da Associação Paraibana dos Amigos da Natureza (APAN)
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TECAB
TERMINAIS DE ARMAZENAGENS DE CABEDELO
Armazenamento de Derivados de Petróleo e Biocombustíveis com
SEGURANÇA E RESPONSABILIDADE
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