Revista Espaço Ecológico

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UMA AULA DE SUSTENTABILIDADE E MEIO AMBIENTE ED. 15 | AGOSTO 2019


EDITORIAL

O que para as pessoas parece uma eternidade, chuva. Outro assunto de destaque na publicação é para a história são frações minúsculas do tempo. uma reportagem sobre a APA Naufrágio Queimado, Por isso, João Pessoa, com seus 434 anos, ainda está na qual o professor do Departamento de Sistemáno frescor verdejante da infância de sua existêntica e Ecologia da Universidade Federal da Paraíba cia, apesar de ser uma das cidades mais antigas do (UFPB), Bráulio Almeida Santos, detalha o projeto, Brasil. Nesta edição da Revista Espaço Ecológico, o explica seus objetivos e fala sobre turismo náutico. historiador, mestre em Ciências da Religião, doutoA APA Naufrágio Queimado é de responsabilidade rando em Ciência da Informação e especialista em do Governo da Paraíba, por meio da SuperintenDireitos Humanos, Valdir Lima, revela aspectos da dência de Administração do Meio Ambiente (Sudeexpansão urbana de João Pessoa e as conexões dessa ma) e se constitui em mais uma forma de proteção expansão com a preservação do verde e do habitat ao patrimônio arqueológico marinho na Paraíba. natural da fauna e da flora, com os remanescentes As páginas amarelas trazem uma entrevista com o de Mata Atlântica, alamedas, parques e jardins exismédico nutrólogo Abimar Buriti sobre a Nutrologia tentes da cidade, que se mantém arborizada e com aplicada à perda de peso. A revista traz ainda uma clima pitoresco bucólico. Já a matéria produzida por matéria sobre as ações de proteção ao patrimônio Marília Mesquita apresenta a beleza arquitetônica ambiental de João Pessoa, desenvolvidas pela Seda Estação Cabo Branco – Ciência, Cultura e Arte, cretaria de Meio Ambiente (Semam), que ajudam a localizada no bairro do Altiplano, uma obra assinarecuperar e preservar as áreas verdes da capital. O da pelo arquiteto Oscar Niemeyer, cercada por uma jornalista Nonato Nunes assina duas matérias, uma das paisagens naturais mais sobre os mitos e verdades acerca belas da cidade de João da Amazônia e a outra relacionate en di pe Ex Pessoa. Outra matéria desda às fontes de energia solar e eó- 15 Anos Revista Espaço Ecológico sa edição da Revista Espaço lica. Tem também uma matéria Ecológico traz detalhes sosobre a cerveja de açaí, um proa tiv ecu Direção Ex bre uma obra inteligente e jeto desenvolvido pelo profesire Gualberto Fre que, além de funcional, tem sor da Universidade Federal do (83) 9 8808-1326 responsabilidade socioamAmazonas, Johnson Pontes de Jornalista Responsável biental. Trata-se da Agência Moura, com alunos do curso de Alexandre Nunes Sicred Evolução, instalada Engenharia Química daquela DRT-PB 5437 na avenida Epitácio Pessoa, instituição. O arquiteto e escrio áfic Gr jeto Pro e ção ma que é 100% sustentável. Feita tor Germano Romero brinda o Diagra b@gmail.com de contêineres, a edificação leitor com “A agonia do verde”, ESTAMPAPB - estampap reira gera sua própria energia eléuma joia preciosa em forma de Foto Capa: Elizenda Sob ernet, Ozires trica e reaproveita a água da crônica. Vale a pena conferir. Fotos: arquivo pessoal, int a, Ilka Cristina, Gomes, Elizenda Sobreir essorias SecomPB, SecomJP e ass


Por Germano Romero

A agonia do verde Cuidar, regar, semear, ver crescer, florescer, renascer, tudo encanta no mundo que é verde. Um mundo que chegou primeiro, estendeu-nos a vida e do mar surgimos. Plantas de todas as cores, tamanhos, sabores e perfumes. Tudo nosso. E o tempo voou. Voaram os bichos, espalharam-se por terra, por dentro e por fora, embaixo e em cima. O paraíso formado. Em desordem e inocência, aos trancos e barrancos, povoamos tudo, tomamos tudo, e assim fomos indo. Não poderiam ser outras as consequências do egoismo, da ambição sem visão. Pior, sem amor. Dividindo, separando, com raça, idioma, muros e crenças. Uma descrença. Deu-se o caos. Urbanóides debilóides amontoados por cidades emaranhadas de tudo que é máquina. Lixo e fumaça, comida de plástico, rios de plástico, um mar de tristeza. Assim caminhamos colhendo as sementes de erros e acertos. Será que acertamos? E onde erramos? Em tudo, talvez. Mas não na esperança, mesmo sem verde. Mas há luz que não brilha, não mostra o caminho. Ao menos sabemos se há solução. Viável, sensata, que possa trazer o verde de volta, a partir do que resta, antes que seque. Por mim tombaria todas as árvores. Sagradas seriam como vaca na Índia. Nem sei se ainda é… Da mata do Atlântico quase não sobra. Mesmo assim só querem os resorts debaixo da sombra. Da sombra do verde que logo se mata. Troncos se vão, pilares que chegam. Copas que somem, paredes que sobem. Sem ninhos, sem lodo, sem cheiro de chuva nem terra molhada. Pior se chover. Tudo se alaga. A água não tem sequer um caminho. Não teremos mais volta se já não voltarmos. Voltarmos no tempo e na consciência. De que somos irmãos. De perna ou de pata, de asa, de sonho, de braço ou galho, pois sem agasalho iremos ficar...

Arquiteto e escritor Germano Romero


DE OLHO NA C João Pessoa completa 434 anos e a natureza agradece com seus habitats naturais

U

Por Alexandre Nunes

ma cidade urbana, praticamente sem zona rural, que começa sua história no Varadouro, especificamente no Porto do Capim, às margens do Rio Sanhauá, João Pessoa, no decorrer dos seus 434 anos, retardou o seu processo de ampliação da malha urbana, que aconteceu de forma muito lenta, se for comparar com outras cidades em que houve um grande boom imobiliário. Segundo explica o historiador Valdir Lima, isso contribuiu e muito para a preservação dos ecossistemas existentes em seu território, principalmente para a preservação do verde. João Pessoa é uma das cidades mais verdes do país, porque, segundo esclarece o historiador, há um diálogo frequente e contínuo na

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geografia e no paisagismo da cidade com sua expansão urbana, o que tem contribuído para que rios, mangues e matas sobrevivam. “A cidade cresceu, mas por muito tempo conservou as características das cidades do interior nordestino, ou perdeu pouco dessas características. Mesmo João Pessoa sendo uma capital, manteve por muito tempo a característica de uma cidade pequena, com uma arquitetura bem clássica e com os espaços de poder muito próximos uns dos outros, a exemplo das igrejas, sedes dos governos municipal e estadual, Câmara de Vereadores e Assembleia Legislativa, Palácio da Justiça e quartéis. Essa personificação é muito presente na Praça dos Três Poderes, ou seja, na Praça João Pessoa, onde literalmente se encontra os poderes executivo, legislativo e judiciário”, observa. O historiador reitera que a cidade sofre uma influência muito

grande do interior da Paraíba, o que ele considera como algo muito positivo e que, de certa forma, também tem influenciado na preservação do verde, ou seja, das pequenas reservas florestais que João Pessoa tem, a exemplo dos remanescentes de Mata Atlântica, como acontece no Parque Zoobotânico Arruda Câmara, em pleno centro da cidade, no bairro do Róger, e no Jardim Botânico Benjamim Maranhão, na Mata do Buraquinho. Valdir Lima lembra que, quando a cidade não tinha ainda água encanada, o Parque Arruda Câmara (Bica) fornecia o precioso líquido para a população. Era uma época em que a cidade tinha características rurais, pois havia muitos sítios, e os moradores criavam animais e pegavam água na fonte da Bica.


CIDADE

Foto: Elizenda Sobreira

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Foto: Ozires Gomes

O verde

Sagui

João Pessoa possui pequenas reservas florestais, a exemplo dos remanescentes de Mata Atlântica, como acontece no Parque Zoobotânico Arruda Câmara, em pleno centro da cidade, no bairro do Róger, e no Jardim Botânico Benjamim Maranhão, na Mata do Buraquinho

Uma das espécies mais vistas nas ruas de João Pessoa, os Saguis costumam circular a cidade pulando de galho em galho, nas alamedas e quintais ou se equilibrando nos fios da rede elétrica

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Foto: Ilka Cristina

O historiador informa que há pelo menos 100 anos atrás, o atual Parque Solon de Lucena, a Lagoa, ainda não era um espaço público, mas fazia parte de um conjunto de vários de pântanos alagadiços que acumulavam água de chuva e formavam a então conhecida “Lagoa dos Irerês”, por conta do grande número de marrecos que viviam às suas margens e buscavam suas águas. O local atualmente é uma grande e bela área verde com resquícios da Mata Atlântica e árvores como ipês, pau-brasil e acácias, além de um majestoso colar de palmeiras imperiais. “É quando a cidade cresce, adquire alguns equipamentos, espaços de entretenimento, lazer e cultura, como o Cassino de Verão, que depois se transforma no Cassino da Lagoa, Teatro Santa Rosa e Clube Astreia. A cidade começa a se espreguiçar, a crescer e a querer respirar ares de cidade grande, talvez até influenciada por Recife, uma metrópole próxima. E aí, acanhadamente, João Pessoa começa a ter contornos de cidade moderna, contudo, sem perder suas características, que até hoje se mantêm, de cidade pequena, arborizada e com clima pitoresco bucólico”, ilustra.

Litoral

Foto: Ilka Cristina

A natureza é generosa com as praias da capital, que apresentam recantos naturais bem conservados

O Parque Solon de Lucena é um espaço de convivência harmoniosa entre o ser humano, a flora e a fauna, em pleno centro de João Pessoa REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |

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O berço:

Rio Sanhauá

A riqueza paisagística de João Pessoa é privilegiada. Parte do Centro Histórico fica na cidade baixa, por onde passa a malha ferroviária e o Porto do Capim, e parte fica na cidade alta, onde está localizado o Hotel Globo, que oferece uma visão panorâmica do Rio Sanhauá e suas belezas naturais. “O rio onde tudo começou, serviu de berço para o surgimento da Paraíba. Na verdade, o estado começa com a cidade, ou seja, a vida na organização do núcleo de povoamento começa a partir das águas do rio Sanhauá, tão bem retratado nos poemas de Lúcio Lins e musicado pela grande artista paraibana Eleonora Falcone”, enfatiza o historiador Valdir Lima.

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Segundo explica ele, em João Pessoa, a terceira cidade mais antiga do Brasil, é possível conviver harmoniosamente com o rio, a mata, o manguezal e a estrutura arquitetônica da cidade, um desenho muito bonito e com uma simetria muito grande. E afirma: “A vida das cidades, naturalmente, como em toda a humanidade, se localiza próximo a rios e, tal qual acontece com os rios, segue em direção ao mar”. O historiador lembra que a ocupação urbana de João Pessoa começa com a pequena elite local formada por usineiros e senhores de engenho se instalando na ruas principais do centro, como por exemplo Rua Nova - atual Rua General Osório - e Rua Direita - hoje Rua Duque de Caxias -, e segue para Jaguaribe, onde são construídos grandes casarões, principalmente, nas ruas hoje denominadas João Machado e Trincheiras. Depois, na década de 1920, no governo de Camilo de Holanda, acontece a abertura da Epitácio Pessoa, uma avenida que liga o centro da cidade à orla, e a expansão urbana caminha em direção às praias. João Pessoa é uma cidade que também dispõe de recursos hídricos, já que é cortada pelos rios Sanhauá, Ja-


guaribe, Cabelo, Cuiá, Timbó, Mumbaba, Gramame, Rio da Bomba e Riacho Mussuré. Ao todo são nove rios que se fazem perceber no desenho da cidade. Valdir ressalta que a degradação desses mananciais tem mobilizado os ambientalistas, numa luta constante pela preservação das nascentes e despoluição dos leitos e contra a invasão das margens. Apesar do desenvolvimento e expansão urbana das praias da capital, com um acentuado processo de metropolização e verticalização arquitetônica, em algumas áreas, há uma harmonia com a natureza, já que é proibido por lei a construção dos “espigões”, ou seja, edifícios com mais de 9 metros de altura, nas ruas principais próximas à beira-mar. “Isso faz com que tenhamos ainda uma visão privilegiada do mar e uma ventilação que corre livremente. Pena que a paisagem do Extremo Oriental das Américas esteja ameaçada, devido ao processo de degradação natural que vem causando o desmoronamento da falésia do Cabo Branco. Mesmo assim, a natureza permanece muito harmoniosa e generosa com João Pessoa, porque próximo à falésia do Cabo Branco e Ponta do Seixas temos remanescentes de Mata Atlântica”, ressalta.

Valdir Lima acrescenta que um exemplo de convivência harmoniosa cidade/natureza é o que acontece no bairro do Castelo Branco, onde a Universidade Federal da Paraíba tem o seu campus construído dentro de uma reserva de Mata Atlântica, a Mata do Buraquinho. “Ali convivem harmoniosamente os prédios que compõem a estrutura física da universidade e a mata”, destaca. Depois, a cidade começa a crescer para a região Sul, com os bairros dos Bancários, Mangabeira, Valentina, José Américo e tantos outros, sem perder a proximidade com a ventilação que vem do mar, passando antes pelo Altiplano. No outro extremo da cidade, é bom lembrar do bairro dos Estados, Jardim 13 de Maio, Ipês e Mandacaru, entre outros, que mantêm uma boa relação com o verde da arborização urbana. Ao descer do Alto do Mateus, vislumbra-se a Ilha do Bispo, com seus manguezais e suas colônias de pescadores, sirizeiros, marisqueiros e catadores de caranguejo, numa relação significativa das pessoas com o meio ambiente, de onde retiram o necessário para garantir a própria sobrevivência. Foto: Ilka Cristina

“A vida das cidades, naturalmente, como em toda a humanidade, se localiza próximo a rios e, tal qual acontece com os rios, segue em direção ao mar”.

Historiador Valdir Lima REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |

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UMA MARAVILHA ARQUITETÔ Localizada no bairro do Altiplano, a Estação Cabo Branco – Ciência, Cultura e Artes está cercada por uma das paisagens naturais mais belas da cidade de João Pessoa

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Por Marília Mesquita

“João Pessoa possui uma joia”. Foi com esta frase que um turista, vislumbrado com o que via, definiu a Estação Cabo Branco – Ciência, Cultura e Artes. A obra arquitetônica assinada por Oscar Niemeyer é, de fato, uma joia em diversos sentidos. O complexo localizado em uma região de preservação ambiental da Capital da Paraíba oferece, ao pessoense e ao turista, uma vista esplêndida do mar límpido do Cabo Branco e a sensação de natureza pura que vem tanto do mar quanto da mata preservada do Bosque dos Sonhos, localizada ao lado da Estação. A única obra assinada por Niemeyer na Capital pessoense está localizada no Ponto Extremo Oriental das Américas – o ponto no Brasil mais próximo do continente africano. Não é a toa que a Estação

Cabo Branco encanta os olhos até do mais crítico observador da natureza e das artes. A missão da Estação Cabo Branco é levar ao público, de forma gratuita e facilitada, o acesso à cultura, à ciência e as artes. E porque não, à natureza pura, em sua forma mais bela. Inaugurada em junho de 2008, a Estação já recebeu centenas de exposições, eventos, mostras, instalações e visitas de grandes personalidades artísticas e políticas do país. Muitas exposições que passaram pelo local são frutos de parcerias importantes com instituições científicas, culturais e educacionais de grande âmbito local e nacional. Aos 101 anos, Oscar Niemeyer projetou para a cidade de João Pessoa um de seus últimos trabalhos. Com 8,5 mil metros quadrados, a Estação Cabo Branco possui auditório, anfiteatro, sala de práticas


ÔNICA EM MEIO À NATUREZA educacionais, jardim, e claro, a torre mirante – sempre a mais procurada por quem visita o local. Ela possui oito lados e está apoiada em um cilindro de concreto cercado por espelhos d’água. Dentro dela, um grande espaço para atividades e exposições, com paredes de vidro que proporcionam ao visitante vislumbrar a paisagem ao redor. Na parte superior da torre, um terraço panorâmico com 360º de vista para o mar, no Altiplano Cabo Branco, é o que mais enche os olhos do visitante. Não há como negar que a torre mirante é e sempre será a marca da Estação Cabo Branco. Atualmente, o processo de licitação para início das obras de reparo da torre está aberto, e é apenas uma questão de meses para que o serviço tenha início e o público possa voltar a frequentar a torre.

Quando o visitante chega ao jardim da Estação, já vai se deparar com o Caminho do Conhecimento. Trata-se de uma visita guiada por um monitor a 12 experimentos científicos. O caminho possui 900 metros de comprimento, e o visitante, ao mesmo tempo em que se diverte, aprende conceitos de física, química, matemática, biologia e ciências, podendo inclusive interagir com os experimentos. Quem opta por conhecer o prédio administrativo da Estação Cabo Branco – que também abriga exposições – já se depara com uma mágica e complexa tela do artista Flávio Tavares, que é natural de João Pessoa. O quadro “O reinado do sol”, como é intitulado o trabalho, é todo feito em óleo sobre tela, possuindo nove metros de comprimento por três de altura. A pintura mostra, em ricas alegorias, a histó-

ria da fundação de João Pessoa e a conquista da Paraíba. Especialmente feita para compor a Estação Cabo Branco, a arte de Flávio permanece exposta, permanentemente, no hall de entrada do prédio. A população também tem acesso às diversas atividades que acontecem na Sala de Práticas Educacionais da Estação Cabo Branco. Oficinas de desenho, de musicalização – com flauta ou violão, aulas de yoga, tai chi chuan, contação de histórias, apresentação teatral, percussão, quadrinização, roda de leitura, demonstração de robótica, recreação, brincadeiras populares, teatro e meditação, são algumas das atividades em que o público tem acesso, e não é necessário realizar inscrição para participar. Cursos gratuitos de diversos segmentos, estes sendo necessário fazer inscrição prévia, também são oferecidos ao longo do Foto: SecomJP

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Fotos: SecomJP

ano, divulgados com certa antecipação. Estas atividades têm datas pré-definidas todos os meses. A Estação Cabo Branco também é o destino preferido da população aos finais de semana. Exposições, exibições de filmes que estão fora do circuito comercial e shows no Anfiteatro são algumas das atividades oferecidas, de forma totalmente gratuita, a quem visita o lugar. Algumas destas atividades também acontecem na Estação das Artes Luciano Agra – anexo da Estação Cabo Branco. Inaugurada em 2012, ela acrescenta ao complexo um dos mais importantes espaços expositivos da cidade, com salas de convenção, reserva técnica e duas áreas para exposições e eventos. Desta forma, a Estação Cabo Branco e a Estação das Artes buscam sempre atender as expectativas do público com uma programação de exposições permanentes e temporárias, individuais e coletivas, sejam de artistas paraibanos, nacionais e internacionais. Toda a programação da Estação é divulgada semanalmente e mensamente, tanto no site institucional da Prefeitura de João Pessoa como nas redes sociais ofi-

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ciais e nos veículos de comunicação da Capital paraibana. Hoje, a Estação Cabo Branco é um equipamento educacional consolidado, que oferece à população de João Pessoa e aos turistas uma programação sociocultural diversificada que busca fomentar, cada vez mais, o conhecimento da cultura, das artes e da inclusão social. A Estação também está definitivamente consolidada como o cartão-postal da cidade de João Pessoa, principalmente por estar localizada em uma área brindada pela natureza. Assim como o turista que afirmou, com brilho nos olhos, que João Pessoa possui uma joia, tantos outros igualmente se veem impressionados quando chegam à Estação pela primeira vez. Eventos de grande relevância já foram realizados no local: Congressos nacionais e internacionais, Festival de Turismo da Paraíba, I Fórum Latino-americano de TV Digital, Festival Brasil Sabor, I Simpósio Internacional de Biologia Evolutiva, Google Digital Breakfast, Tour da Taça da Copa do Mundo 2014 de Futebol, 1ª feira Internacional Cidades Criativas em João Pessoa / UNESCO, dentre muitos

outros. A Estação Cabo Branco também sedia todos os anos, desde 2011, a etapa estadual da modalidade prática da Olimpíada Brasileira de Robótica. Pode-se dizer que a Estação Cabo Branco – Ciência, Cultura e Artes, é um espaço que procura despertar o interesse e os pensamentos do público a respeito da cultura, ciência, artes, à natureza e ao meio ambiente como um todo, como afirma o diretor-geral da Estação, Jonathan Vieira. “A temática do meio ambiente é imprescindível de ser tratada e discutida nos espaços públicos. A Estação Cabo Branco tem esta temática como uma grande referência para basear os seus trabalhos: desde as apresentações culturais às atividades educacionais desenvolvidas no espaço. Tanto sustentabilidade, como respeito ao meio ambiente e a educação ambiental, são tópicos diários de um espaço que visa a educação e o desenvolvimento do ser humano que chega à Estação Cabo Branco, sejam estes alunos da rede municipal, a sociedade da cidade de João Pessoa, visitantes em geral, turistas, etc”.


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SICREDI EVOLUÇÃO

DÁ UM PASSO PARA O FUTURO

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onstruir um mundo melhor não é uma tarefa fácil. É preciso, cada vez mais, pensar nas gerações futuras com ações no presente que possam moldar a qualidade de vida para os próximos anos. Foi com esse pensamento que o Sicredi Evolução deu um passo importante na construção de uma nova perspectiva, instalando uma agência na capital paraibana seguindo os preceitos de inovação e sustentabilidade. Segundo explica João Bezerra Júnior, presidente do Conselho de Administração do Sistema de Crédito Cooperativo (Sicredi) em João Pessoa, a questão da responsabilidade socioambiental já faz parte do DNA cooperativo da empresa. “Quando imaginamos instalar uma agência no principal corredor de mobilidade da nossa cidade, vislumbramos a possibilidade de fazer a diferença. Daí surgiu a concepção de presentearmos João Pessoa com uma agência 100% sustentável, exemplo de que é possível moldar o futuro, hoje”, afirma. E acrescenta: “Diante da prerrogativa do cuidado com a natureza e da preservação do meio ambien-

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te, a nossa Agência Epitácio Pessoa se torna um modelo, exemplo para que ações assim possam ser replicadas. Estamos desenhando o futuro, de forma disruptiva, porém sem abrir mão do que nos define. A nossa nova agência é mais uma demonstração da incansável busca pela excelência na qualidade do atendimento”. João Bezerra Júnior acrescenta que, sempre com o apoio dos associados, o Sicredi não hesita em fazer o seu papel como instituição financeira cooperativa. “É desse modo que nos engajamos com o amanhã, sem perder o sentido da colaboração, do trabalho em equipe, da união de forças. Ao passo que agradecemos a todos pela participação nos destinos da Cooperativa, dedicamos esta obra aos nossos conselheiros, dirigentes, associados, colaboradores e parceiros. A nossa Agência Epitácio Pessoa é, sem dúvida, parte integrante do legado da nossa Cooperativa”, ressalta. Sustentabilidade, cidadania e inovação, com responsabilidade socioambiental O principal corredor financeiro da capital paraibana ganhou a mais moderna, inovadora e susten-

Agência Sicredi - Epitácio

tável agência. Na avenida Epitácio Pessoa, onde muitas instituições financeiras estão presentes, a Sicredi Evolução resolveu fazer a diferença e oferecer à cidade: sustentabilidade, cidadania e inovação. Imagine uma agência feita de contêineres, que gera sua própria energia elétrica, que reaproveita a água da chuva, que foi construída em apenas seis meses, com baixíssimo desperdício de materiais, e que está em processo de certificação para obtenção de um selo internacional de sustentabilidade, o LEED. Pois esse é o presente do Sicredi


para João Pessoa. Uma obra inteligente e que, além de funcional, tem responsabilidade socioambiental. As principais características de uma obra sustentável dessa natureza são: uso racional e redução da extração dos recursos naturais; correto consumo de água e energia; implantação consciente e ordenada: redução dos efeitos das mudanças climáticas; uso de materiais e tecnologias de baixo impacto ambiental; tratamento e reuso dos resíduos da construção. De acordo com Igor San Martin, arquiteto chileno que condu-

ziu o projeto e execução das obras, “para a realização desse projeto foi preciso vislumbrar a inovação e a sustentabilidade. Isso só é possível por meio da observação da natureza, a qual sabiamente se renova a cada dia com imensa maestria”. Igor é especialista em obras baseadas em contêineres e já instalou equipamentos assim em vários lugares do mundo. “Não colocamos as pessoas para serem atendidas dentro de caixas de aço. O que fizemos foi aproveitar toda a engenharia e pesquisas já aplicadas na produção desses equipamentos para produzir

a baixo custo e com qualidade para a prestação dos serviços da Cooperativa”, explica o arquiteto. “Cada contêiner individualmente é resultado de cálculos e tecnologia de ponta que garantem durabilidade, maleabilidade e resistência já testadas mundo afora. O que fizemos foi aproveitar essa base já pronta para erguer nossa estrutura predial”, continua Igor. E acrescenta: O modelo denominado reefer, que foi o contêiner utilizado na obra, garante um excelente isolamento térmico, feito para resistir às piores intempéries”. REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |

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O arquiteto revela que para montar a estrutura básica da agência foram usados 22 contêineres. “Os esqueletos das caixas foram usados como suporte e posteriormente foi feito o reuso das paredes e portas nas fundações, reservatórios, calhas e acabamento das paredes do prédio”, detalha. De acordo com o arquiteto, cerca de um terço do material de uma obra comum se perde. Numa obra sustentável como foi essa, isso se reduz muito. “Reaproveitamos quase tudo”, enfatiza. Igor disse que a forma como está sendo usada a tecnologia garante um melhor isolamento térmico que gera uma grande redução no gasto com ar-condicionado. “Já que optamos por ter uma agência com essas características, que pelo menos tenhamos uma gestão eficiente da energia. Sem desperdícios”, explica o chileno. Outro ponto que gera economia dos recursos naturais e gera conforto na agência é o telhado. Parte dele é coberto por painéis solares que geram energia elétrica e outra parte é um jardim. O ‘teto verde”, além de aumentar o isolamento acústico resfria o telhado e retém o calor que voltaria para atmosfera e esquentaria ainda mais a cidade. A questão hídrica também é observada em vários pontos, da obra à convivência na agência. O maior consumo de água acontece na hora de fazer e aplicar concreto. Numa obra estruturada a partir de contêineres o uso de concreto é muito reduzido, assim como o da água. No dia a dia de funcionamento da agência, a água da chuva será armazenada e reutilizada nas descargas dos banheiros e na irrigação dos jardins. Segundo a bióloga e técnica em construção de edifícios, Meire Buriti, a obra é referência no conceito de sustentabilidade preocupada com a interação homem e meio ambiente.

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“A gestão dos resíduos possibilita a reutilização de materiais, reduzindo o desperdício e o custo no descarte de entulhos, refletindo em economia, além de contribuir para a preservação do meio ambiente”, comenta. Na relação com a cidade, além do teto verde, o fato de a agência ter um piso elevado, ou em outras palavras, não tocar o solo em toda sua superfície, significa dizer que a água das chuvas pode escoar livremente e ser absorvida pelo solo. Obras

assim garantem que não haja alagamentos e que os lençóis freáticos sejam abastecidos. A agência ocupa 700m² dos 2000m² do terreno, mas mesmo o espaço restante é coberto por blocos intertravados permeáveis que permitem o escoamento da água das chuvas. E como não é preciso fundações profundas no prédio, a estrutura modular dos contêineres exige apenas pontos de contato com o solo. São 40 bases de 30cm x 30cm que apoiam todo o peso da agência e prendem o prédio ao chão. Isso permite um maior arejamento do edifício. De acordo com a arquiteta urbanista e paisagista especialista em Infraestrutura Verde para certificação LEED, Gracielli Folli Monteiro, o projeto de paisagismo ofereceu dispositivos sustentáveis que objetivam garantir as funções de ma-

nejo da água da chuva de maneira eficiente, como biovaleta, jardim de chuva, teto verde, parede verde com utilização de resíduos provenientes dos contêineres, captação de águas do piso e telhado por canaletas para reuso em irrigação e uso em caixas de vasos sanitários. O paisagismo colaborou também indicando o percurso de ciclovia adequado para a chegada ao empreendimento, interligando as já existentes nos bairros próximos, facilitando a mobilidade urbana. A agência tem um bicicletário e vestiários, incentivando o colaborador e associado Sicredi a deixar o carro em casa, cuidando da saúde e diminuindo a emissão de gás carbônico no ambiente. O certificado LEED (Leardeship in Energy and Environmental Design) para Projeto e Construção de Edifícios é dado para obras planejadas, construídas e operadas analisando oito dimensões. Todas possuem pré-requisitos (práticas obrigatórias e créditos (recomendações) que à medida que são atendidos, garantem pontos à edificação. Atualmente são mais de 160 países que utilizam a Certificação LEED que implica, economicamente, em diminuição dos custos operacionais, diminuição dos riscos regulatórios, aumento na velocidade de ocupação, modernização de técnicas construtivas, gestão de resíduos, infraestrutura verde, entre avanços de projetos. Pensando nos benefícios sociais, uma obra como a da nova agência Sicredi melhora a segurança e priorização da saúde dos trabalhadores e ocupantes, promove inclusão social e aumento do senso de comunidade, assim como a conscientização de trabalhadores e usuários. Tais questões são essenciais quando o assunto é sustentabilidade.


CIRCO PATATI PATATÁ TEM RECORDE DE PÚBLICO EM JOÃO PESSOA

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apatos gigantes e nariz vermelho não enganam: os palhaços estão na área. Com espetáculo para toda família, o picadeiro foi montado para o Parque Patati Patatá Circo Show. A dupla apresenta seus conhecidos números no estacionamento do Carrefour, às margens da BR-230, no bairro do Bessa. E já bateu recorde de público aqui em João Pessoa. As sessões, na quinta-feira e sexta-feira, são a partir das 20h. Sábados, domingos e feriados das 15h, 17h30 e 20h. Os ingressos custam a partir de R$ 20,00 (meia) e podem ser comprados no site Ingresso Rápido. A bilheteria física funciona de segunda a domingo, no horário das 10h às 22h. Visto por mais de 900 mil pessoas, o “Parque Patati Patatá Circo Show” reúne números circenses tradicionais e os grandes sucessos musicais da dupla Patati e Patatá. As crianças poderão interagir com os personagens da série “Parque Patati Patatá”: Nutrícia, Quasi, Floffy, Alegra, Amarga e Azedo. No local também estão sendo vendidas lembranças da linha de produtos exclusivos com toda a turma. Bonecos também estarão disponíveis para fotografias. O espaço conta ainda com uma área de alimentação para toda a família.

SERVIÇOS PARQUE PATATI PATATÁ CIRCO SHOW Onde: Estacionamento do Carrefour BR 230, Bessa, João Pessoa - PB Dias e Horários: Quintas e Sextas: 20h/ Sábado e Domingo: 15h, 17h30 e 20h Valores: A partir de R$ 20 (meia) Mais informações: http://abre.ai/abI9 (Compra online sem taxa de conveniência) Bilheteria física: De 2ª a domingo, das 10h às 22h Classificação Etária: livre Acessibilidade: Sim


APA NAUFRÁGI MAIS PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO MARINHO

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Por Alexandre Nunes

mpliar o território marinho protegido do Estado. Esse foi objetivo da criação da Área de Proteção Ambiental Naufrágio Queimado, em 28 de dezembro de 2018, de acordo com informações do biólogo e doutor em Ciências, Bráulio Almeida Santos. Ele esclarece que existe já a formalização da APA com o ato legal assinado pelo então governador Ricardo Coutinho, mas o processo de implementação ainda está em curso. A APA Naufrágio Queimado ficará sob responsabilidade do

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Governo da Paraíba, por meio da Superintendência de Administração do Meio Ambiente (Sudema), vinculada à Secretaria Executiva de Meio Ambiente (Sema), com articulação de órgãos federais, estaduais e municipais. “Esse é o modelo de gestão atual, conhecido por autarquia, um modelo completamente estatal, mas que pode ser melhor trabalhado, porque o grande desafio, não só desta unidade de conservação, como de várias outras, localizadas no nosso estado e no Brasil, é fazer a implementação e garantir que o uso previsto em lei seja efetivamente praticado no dia a dia”, informa. O professor do Departamen-

to de Sistemática e Ecologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) garante que, se corretamente implementada e gerida, a APA garantirá que filhos, netos e bisnetos tenham possibilidade de pescar, mergulhar e desenvolver atividades recreativas, educacionais e de pesquisa na costa de João Pessoa e Cabedelo. “São inúmeros benefícios ambientais, sociais e econômicos para o estado, tais como a geração de empregos diretos e indiretos na cadeia do turismo, a criação de fontes alternativas de renda para pescadores tradicionais e a conservação de ativos ambientais exclusivos, especialmente os ecossistemas recifais que concentram nossos recursos pesqueiros. O turismo e a pesca poderão ser disciplinados de forma a assegurar seu próprio futuro na região”, complementa. Bráulio Santos explica que a criação da APA também coloca a Paraíba em uma posição de destaque na gestão dos ecossistemas marinhos do país, pois atende a meta 11 de Aichi em esfera estadual, de conservar 10% dos ecossistemas marinhos até 2020; protege espécies ameaçadas listadas nas Portarias do Ministério do Meio Ambiente (No. 444 e 445/2014); conserva os recifes naturais e os naufrágios considerados prioritários pelo Decreto Estadual No. 35.750/2015; fomenta o turismo


IO QUEIMADO Fotos: acervo do laboratório LEAC/UFPB

sustentável em contato com a natureza, valorizando o patrimônio natural e cultural da região; e contribui para o desenvolvimento da pesca artesanal e amadora em consonância com a Lei Federal No. 11.959/2009. Ele informa que a APA Naufrágio Queimado possui 422 km quadrados. Além do naufrágio Queimado, a APA protege outras duas embarcações naufragadas (Alice e Alvarenga) e quatro recifes profundos de extrema importância biológica, sendo um deles um paleocanal que possivelmente representa o antigo curso do Rio Paraíba. “Ela protege tanto os recifes nas piscinas naturais que estão ao sul de Jacarapé, mais ou menos nas imediações do Centro de Convenções do Estado, percorre toda a área rasa, vai até a porção sul do Parque Estadual Marinho de Areia Vermelha e possui também uma faixa de águas profundas, mais ou menos nas imediações do Retão de Manaíra, até o sul do Parque Estadual Marinho de Areia Vermelha, seguindo até a quebra da plataforma, nos 75 metros de profundidade”, detalha. O biólogo explica que todas as pessoas têm acesso e podem visitar a APA Naufrágio Queimado. Ele revela a existência de uma desinformação que sugere que a pro-

teção da biodiversidade, ou seja, da natureza, elimina o ser humano da equação. Pelo contrário, a APA foi criada justamente para garantir o uso público. “É importantíssimo que as pessoas visitem a APA e que saibam que estão dentro de uma unidade de conservação. Para você ter noção, várias pessoas vão ao Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, mas desconhecem que estão dentro de unidade de conservação. Ou-

tras pessoas conhecem as Cataratas do Iguaçu, mas desconhecem que estão dentro de unidade de conservação. No nosso caso, é a mesma coisa. Nós temos o exemplo de Areia Vermelha. Muitas pessoas vão até aquela área, mas também desconhecem esse fato. Então, na verdade, o que a APA prevê é um ordenamento das atividades, visando a garantia do desenvolvimento socioeconômico do nosso Estado”, afirma.

Quanto ao fato se existe alguma restrição, o especialista comenta que sim, como qualquer área pública onde é preciso haver restrições de uso, só que essas restrições têm que estar alinhadas com o esperado e previsto no plano de manejo, um documento básico que regra o uso em cada região das unidades de conservação. “Vamos destinar uma área específica para visitação nas piscinas naturais. Em algumas localidades, vamos deixar destinada exclusivamente para pesca artesanal. Tem um patrimônio cultural acumulado gigantesco, que vem sendo abandonado. A pesca artesanal precisa ser resgatada. O estado é riquíssimo em termo de pesca, mas a cultura da pesca, como um todo, precisa ser melhor trabalhada. Também há a possibilidade de fazer um mergulho recreativo, seja com uso de equipamento scuba, com cilindro, ou então mergulho livre. Existe a pesca sub também, a caça sub, que precisa ser regulamentada. Então, o plano de manejo vai servir basicamente para determinar, em cada local, qual a atividade que pode ser realizada ali”, explana Bráulio, alertando que o plano de manejo da APA Naufrágio Queimado precisa ser criado urgentemente e de forma integrada com o plano de manejo de Areia Vermelha.

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Bráulio Almeida Santos, que também é coordenador do Laboratório de Ecologia Aplicada e Conservação (LEAC/UFPB), lembra que o projeto foi idealizado em 2015, a partir da publicação do Decreto Estadual Nº 35.750/2015, que tinha como objetivo ampliar o território marinho protegido do Estado. “Em fevereiro do ano seguinte, eu e o Prof. Dr. Ricardo Rosa, também da UFPB, conseguimos financiamento privado da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza para conduzir as pesquisas com alunos de graduação, mestrado e doutorado da instituição. Contamos com apoio administrativo do Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste (CEPAN) e apoio logístico da Mar Aberto Mergulho. Pesquisadores da UFPE também contribuíram, além da Gabribas Produções, que produziu o documentário “Unidades de Mar” (disponível em https://youtu.be/rapUJOkwcNI ). Em março de 2018 apresentamos os resultados do projeto à Secretaria de Meio Ambiente do Estado, que deu seguimento ao processo

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de criação da unidade em conjunto com a SUDEMA. Foi um exemplo claro de como a universidade pode servir à sociedade, captando recurso do setor privado para subsidiar a formulação de políticas públicas responsáveis”, relata. Com relação a duas áreas muito visitadas, as piscinas naturais de Picãozinho e Seixas, Bráulio revela que já se pensa em ter um plano de proteção para esses espaços. “Essas duas formações recifais - damos esse nome tecnicamente -, ou seja, essas duas piscinas naturais, contam uma grande parte do histórico de uso, ou melhor, da forma como temos utilizado as piscinas naturais de nosso Estado. O Picãozinho é um exemplo. Ele era muito mais rico no passado. Eu não cheguei sequer a conhecer essa riqueza toda, mas basta a gente ter acesso à literatura especializada, que observa o quanto de diversidade já foi perdida ali. E o Seixas, na verdade, está indo na mesma direção de Picãozinho e a gente precisa evitar que isso ocorra. Não dá para tolerar mil pessoas ao dia ali, porque se você for contabi-

lizar a presença de uns 7 catamarãs na área, isso ultrapassa a capacidade de carga, e o sistema não evoluiu, o sistema não foi criado sobre essa pressão”, observa. Segundo acrescenta o biólogo, é preciso que todos saibam utilizar melhor essas duas formações. “É preciso que a gente estabeleça um regramento adequado. Quando eu digo a gente, é a sociedade como um todo, é o governo fazendo a parte dele enquanto gestor da área, mas o usuário também. O usuário precisa ter consciência disso, precisa estar informado, para garantir a existência e a permanência do Seixas, garantir a recuperação de Picãozinho e se expandir no futuro para outras áreas, como Caribessa, por exemplo, porque já se inicia naquela região uma visitação massiva que não é compatível com o local. Nós precisamos ter bem claro o efeito de cada passeio, dependendo da dimensão que ele tem sobre o sistema natural”, ressalta. Segundo o Sistema de Informações de Naufrágios (SINAU) a costa paraibana conta com 56 naufrágios.


A APA Naufrágio Queimado contempla, além dele, outras duas embarcações conhecidas como Alice e Alvarenga. Alvarenga é uma embarcação pequena e que tem uma particularidade impressionante, ela abriga na proa uma câmara que formou-se e foi colonizada depois por vários tubarões-lixa, uma espécie de tubarão dócil que permite o contato visual, por meio de mergulho, mas também garante uma oportunidade de negócio nessa área de mergulho com tubarões, aqui na região. “Existem outras embarcações afundadas, duas delas nós mapeamos nos nossos estudos. Uma é o Transit que fica mais ao sul de Jacarapé e Gramame. E ao norte, mais ou menos na foz do rio Paraíba, também tem outra embarcação conhecida como Vanduária que está ali naquela localidade, mas que está em águas mais turvas e de mais difícil visitação. Esse patrimônio arqueológico marinho precisa também ser reconhecido”, prossegue o biólogo. Bráulio Santos revela que a APA leva o nome do Naufrágio Queimado, porque a embarcação

possui uma caldeira retangular que é algo impressionante dentro da história da navegação, já que essa não era uma forma adequada de se gerar calor. Geralmente se gera calor através de caldeiras cilindricas. “Então, a embarcação de bandeira norte-americana, que naufragou aqui, é uma das duas únicas embarcações feitas com esse tipo de caldeira na história da navegação mundial. Uma desapareceu e a outra é o Queimado, por isso a opção foi por batizar a APA com o nome do Naufrágio Queimado”, declara. Bráulio é da opinião que existe potencial para o turismo náutico na Paraíba. “Basta olhar para o nosso litoral e ver que existe um potencial para todo tipo de embarcação, seja a vela, motorizada, pequena ou grande. Você tem potencial gigantesco para esse tipo de turismo náutico aqui na nossa região. É bom lembrar também que o turismo náutico

envolve uma cadeia produtiva associada à fabricação, manutenção da embarcação e substituição de peças. uma boa parte do fluxo de turistas que chega ao nosso Estado pode ter mais contato com as embarcações. Já

que temos um conjunto de vias que conecta bem os meios de transporte, o aeroporto, as marinas, temos muita facilidade de acesso para conectar o turista com a embarcação e com o ambiente onde a embarcação permanece, que é o mar ou o rio”, comenta.

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NUTROLOGIA APLICADA

O

médico nutrólogo Abimar Buriti fala sobre a Nutrologia aplicada à perda de peso, em entrevista exclusiva para o Espaço Ecológico. Ele comenta ainda como emagrecer sem remédios e qual o papel do médico nutrólogo no emagrecimento, um assunto muito importante na sociedade atual, devido ao grande aumento da obesidade nas pessoas com sobrepeso. O médico também explica se os maus hábitos contam mais que a tendência genética para o ganho de peso e de que forma a Nutrologia pode transformar a vida de uma pessoa. O Dr. Abimar ainda comenta se a obesidade está se tornando um enorme problema mundial e como preveni-la. Espaço Ecológico - Qual o papel do médico nutrólogo emagrecimento? Abimar Buriti - O processo de emagrecimento é complexo e multifatorial. Diversos profissionais estão envolvidos no processo de emagrecimento, desde um médico que acompanhe as patologias, identifique as falhas e se são necessários medicamentos, até um educador físico capaz de instituir a atividade física adequada, além do nutricionista que elabore o plano alimentar do paciente. Espaço Ecológico - A partir de que idade se deve prevenir a obesidade? Abimar Buriti - O assunto é extremamente interessante e até um certo ponto polêmico, porque deve-se começar a prevenir a obesidade da criança ainda na barriga da mãe. Os hábitos alimentares de uma gestante vão influenciar diretamente, no futuro, no peso e na saúde da criança que ela carrega. Então, mamãe que se alimenta bem tem uma tendência a ter filhos mais saudáveis. Espaço Ecológico - De que forma a nutrição pode contribuir com a Nutrologia? Abimar Buriti - Muitas pessoas acreditam que nutricionistas e nutrólogos não caminham lado a lado, mas, na verdade, as funções são complementares. O que o nutrólogo faz é identificar patologias, tratar doenças, fazer reposições de elementos, quer sejam medicamentosos ou não, enquanto o nutricionista participa do trabalho montando o plano alimentar do paciente e, até mesmo, trabalhando os dois conjuntamente, no sentido de fazer a suplementação.

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À PERDA DE PESO Espaço Ecológico - O senhor falou em suplementação. Entre os adultos, os suplementos nutricionais tem feito sucesso nos últimos anos. O senhor concorda com isso? Abimar Buriti - Na verdade, os suplementos são utilizados desde o momento que a gente é criança, quando a gente suplementa ferro, quando a gente suplementa vitaminas para uma criança ou quando a gente dá até o Toddynho como complemento à alimentação. Nem todo suplemento é bom. O Toddynho, por exemplo, eu considero ruim. Entretanto, existe uma série de suplementos que são necessários e que são bons, para o adulto que pratica atividade física, para o atleta e também para o sedentário. Muitas vezes obter a quantidade de nutrientes adequada apenas com alimentação não é fácil. Então, muitas vezes é necessário fazer a suplementação, que pode ser feita de forma natural ou não. Mas, na minha opinião, os suplementos, quando tem empregados, quando prescritos adequadamente, facilitam bastante a vida do paciente e também de quem prescreve. Espaço Ecológico - O nutrólogo orienta como emagrecer de forma saudável e sustentável? Abimar Buriti - Com a mais absoluta certeza. um bom profissional vai fazer com que o paciente emagreça de forma saudável. No meu caso, eu aplico metodologias mais naturais. Eu não faço prescrição, por exemplo, de produtos químicos. Eu não

trabalho com remédio. o emagrecimento pode ser feito através de remédios ou de forma natural. Eu normalmente prescrevo itens naturais, trabalho muito com suplementos naturais. De modo que eu tenho que fazer com que o paciente emagreça da forma mais natural possível, e de forma sustentável, já que os itens não são externos ao corpo. Quando a gente emagrece às custas de química muito forte, com a suspensão da química normalmente o peso retorna. Quando a gente emagrece de forma mais natural e saudável, a gente foge do efeito sanfona. Através de bons hábitos se constrói uma vida saudável. Muitas vezes, a gente fica preso a padrões genéticos. Eu atendo muitos pacientes que dizem: meu pai é diabético e minha mãe é diabética. E, eu vou e pergunto: o senhor come açúcar? O paciente diz: como. Ou seja, ele entende que tem uma fragilidade genética e não luta contra ela através de bons hábitos. A genética é um fator, a luta que podemos fazer para melhorar nossa qualidade de vida é o fator mais importante. Então, a Nutrologia consegue se inserir na vida do cidadão apontando boas alternativas e caminhos para que ele corrija seus problemas, a fim de ter uma vida melhor. Espaço Ecológico - Quais as patologias que a pessoa pode prevenir com relação a uma vida saudável? Abimar Buriti - Praticamente todas. Bons hábitos conseguem prevenir a maior parte das doenças. As doenças crônicas com diabetes, hipertensão, risco de ter uma ta-

DIVERSOS PROFISSIONAIS ESTÃO ENVOLVIDOS NO PROCESSO DE EMAGRECIMENTO, DESDE UM MÉDICO QUE ACOMPANHE AS PATOLOGIAS, IDENTIFIQUE AS FALHAS E SE SÃO NECESSÁRIOS MEDICAMENTOS, ATÉ UM EDUCADOR FÍSICO CAPAZ DE INSTITUIR A ATIVIDADE FÍSICA ADEQUADA

quicardia, um AVC, doenças articulares, quase todas podem ser prevenidas através de hábitos de vida saudáveis, de alimentação adequada e de suplementos corretos. Quando a gente faz um bom uso disso, a gente consegue, não enganar a morte, não deter um tempo, mas a gente consegue fazer com que o desgaste decorrente da passagem do tempo se torne menor e isso faz com que a prevenção seja de suma importância e extremamente eficaz na prevenção de praticamente todas as doenças. Espaço Ecológico - O senhor poderia citar exemplos de patologias que a Nutrologia curou ou controlou? Abimar Buriti - Diversos. A gente tem desde pacientes que tinham dificuldade em ter controle glicêmico e que se tornariam diabéticos e que conseguem conviver jogando o REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |

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risco de diabetes sempre mais para frente. A gente tem paciente que consegue fazer o desmame de medicamentos controlados, por exemplo antidepressivos, através da prática de bons hábitos. A gente tem pacientes que conseguem ter menor quantidade de rinite alérgica, de doenças gripais, de viroses, através de suplementos e de hábitos de vida adequados. A gente tem paciente com diminuição de dores crônicas através de uma vida saudável. Os exemplos são muitos. Às vezes, a gente comenta e o pessoal chega a não acreditar que tanta coisa boa pode ser semeada através de bons hábitos. Mas, na verdade, o bom ou o ruim são cultivados no dia a dia, através apenas no que nós fazemos. Então, é extremamente possível sim a gente conseguir contornar os problemas e tentar ter uma vida melhor. Espaço Ecológico - Hoje, a doença do século é chamada depressão. A Nutrologia tem algum exemplo de sanar esse problema, de controlar essa doença? Abimar Buriti - Existem inúmeras formas de ajudar o paciente depressivo, desde o incentivo de bons hábitos, como consumo adequado, como atividade física e convívio social, até a suplementação de itens naturais. Então, assim, a título de exemplo, existe um item chamado 5-hidroxitriptofano (5-HTP) que tem sido empregado na forma de suplemento e que ajuda os pacientes a fazer o desmame de medicamentos controlados como Fluoxetina. Então, assim a gente tem pacientes que são tratados para depressão e que conseguem fazer o desmame ou diminuir a dose do remédio, ou ter um efeito melhor do remédio, apenas para suplementação de itens como, por exemplo, o 5-hidroxi-

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TEM MUITO PACIENTE QUE SE EMPOLGA E PERDE 20 KG, NO OUTRO MÊS GANHA 40 KG. EU PREFIRO O QUE PERDE 2 KG E NUNCA GANHA

triptofanode, o 5-HTP. Existem outros itens que podem ser supridos como o Serenzo, a Tiamina, e inúmeros itens que podem ajudar e fazer com que o paciente depressivo se sinta melhor e tenha a sensação de viver melhor e consiga diminuir a dose do remédio controlado, até sair dele. Espaço Ecológico - O que poderia ser considerada uma boa alimentação? Abimar Buriti - Do ponto de vista prático uma boa alimentação é a natural. Às vezes as pessoas acham que o alimento precisa ser caro, que precisa ser de uma marca importante e que precisa ser industrializado e, na verdade, é o inverso. Quanto mais processado for o alimento, pior ele será; quanto mais natural for o alimento, melhor ele será. Então, os integrais, por exemplo, arroz integral, frutas, verduras, batata doce, inhame, macaxeira o peito de frango grelhado, o peixe grelhado, o azeite de oliva, todos são itens que vão somar. E não apenas a gente achar que o bom é comer pão integral e biscoito integral, o natural sempre foi e sempre será a melhor opção. Espaço Ecológico - Mesmo frutas que se saiba conter agrotóxicos é melhor do que outra forma? Abimar Buriti - Não. Quanto à

fruta, a gente tem que saber escolher a origem. Quanto mais limpa for a fruta, quanto menor for o uso de agrotóxico, melhor será a fruta. Porque existe a contaminação não apenas por agrotóxicos, mas por metais pesados. Então, saber a origem do que a gente consome é essencial para que aquilo ali some e traga saúde, porque se a origem não for adequada, a gente termina procurando a doença. Espaço Ecológico - O senhor falou em efeito sanfona, anteriormente. O emagrecimento rápido pode ser saudável? Abimar Buriti - Nenhuma forma de emagrecimento excessiva vai ser saudável. As pessoas se preocupam muito com o peso, mas o X da questão é o seguinte: emagrecer é perder gordura e não perder peso. Engordar é ganhar gordura e emagrecer é perder gordura. A gente tem que se preocupar menos com a balança e mais com a perda de gordura. Quando a gente faz essa perda muito rápida, às vezes a gente perde músculo e gordura, o que não é interessante. A gente tem que perder a gordura e não o músculo. Então, emagrecer rápido não é a solução. A solução é ter um emagrecimento sustentável. Tem paciente que perde 2 kg por mês, tem paciente que perde 10 kg. Se os 10 kg forem de gordura, perfeito. O que não pode perder é músculo. Nem sempre a pressa vai ser a melhor solução. Tem muito paciente que se empolga e perde 20 kg, no outro mês ganha 40 kg. Eu prefiro o que perde 2 kg e nunca ganha. Espaço Ecológico - Tem como evitar remédios no emagrecimento? Abimar Buriti - Tem sim. Na minha prática, no meu consultório, normalmente, eu trabalho apenas


com suplementos e não trabalho com química. Na química, os colegas muitas vezes prescrevem Topiramato, Fluoxetina, Sibutramina. Eu não costumo utilizar nenhum desses, porque eu não gosto dos efeitos colaterais. Então, no meu dia a dia, eu trabalho com atividade física, alimentação adequada e uso de suplementos naturais. Espaço Ecológico - Os maus hábitos contam mais que a tendência genética para o ganho de peso? Abimar Buriti - Com a mais absoluta certeza. A tendência genética trata-se de um item, mas, veja bem, atividade física, dormir cedo, acordar cedo, comer bem, são quatro itens, ou seja, de cinco, a tendência genética corresponde a um. A gente tem como lidar com os riscos genéticos e mudar a nossa história de vida através dos bons hábitos. A genética é um presente de Deus e vamos carregá-la. Isso não quer dizer que a gente tem que ser castigado por esse presente. Quem nos castiga são os atos que nós praticamos no dia a dia. Espaço Ecológico - De que forma o médico nutrólogo faz o diagnóstico dos pacientes? Abimar Buriti -É igual a todo e qualquer médico. A gente trabalha primeiro como a história clínica do paciente. Então, a gente faz anamnese, conversa com o paciente, faz o exame físico, analisa o seu corpo, do ponto de vista físico, e faz a solicitação dos exames que sejam necessários, quer seja de imagem, quer seja laboratorial. Muitas vezes a gente vai solicitar ultrassonografia de diversas partes do corpo, exames de sangue, urina, fezes, ressonância, tomografia, o que seja necessário. O procedimento é igual ao de qualquer consulta médica. No meu caso,

esse procedimento é um tanto demorado, porque sou muito criterioso no momento da consulta. Então, eu acho que a clínica é fundamental para que o paciente dê certo. Eu converso muito com todos os meus pacientes, porque eu carrego dentro de mim uma certeza, a de que o conhecimento do paciente faz com que aumente a sua adesão. E a adesão do paciente é o item mais importante para o sucesso do tratamento. Espaço Ecológico - A obesidade está se tornando um enorme problema mundial? Abimar Buriti - A obesidade tem atingido parcelas significativamente maiores da população e tem participado da gênese de muitas doenças, desde diabetes, doenças cardíacas, doenças cerebrais e até câncer. O obeso não ganha nada com a obesidade. Ele ganha o risco de adoecer mais. Então, na gênese de muitas doenças, a obesidade está presente. E a obesidade, muitas vezes, não se relaciona apenas com o excessivo peso. A gente, muitas vezes, tem pacientes que são chamados popularmente de falsos magros, que são os pacientes que têm baixo peso, não são obesos, entretanto, têm um alto percentual de gordura. A sua composição corporal é formada, em sua maior parte, por gorduras, e esses pacientes também apresentam um alto índice de desenvolver doenças, de forma que quando a gente pensa em peso, esse não é o fator crucial. O que de importante devemos saber a respeito de cada um é quanto desse peso corresponde à gordura. Espaço Ecológico - Tem como identificar essa gordura? Abimar Buriti - Tem sim. A gente pode fazer análise de composição corporal do paciente e saber

A GENTE, MUITAS VEZES, TEM PACIENTES QUE SÃO CHAMADOS POPULARMENTE DE FALSOS MAGROS, QUE SÃO OS PACIENTES QUE TÊM BAIXO PESO, NÃO SÃO OBESOS, ENTRETANTO, TÊM UM ALTO PERCENTUAL DE GORDURA

quantos por cento do peso dele corresponde à gordura e quanto corresponde a músculo, através de diversos exames. Por meio do exame físico, a pessoa pode fazer análise de dobras cutâneas que identifica o percentual de gordura. Através também do exame físico, a gente pode fazer um exame chamado bioimpedanciometria que vai dizer, de forma rápida, por meio de um aparelho eletrônico chamado de bioimpedância, o percentual de gordura, ou seja, em poucos minutos, a gente tem a composição corporal, dizendo daquele paciente quanto do seu peso corresponde a músculo, gordura, água, proteínas e minerais. Espaço Ecológico - Qual a importância da cintura e altura do cidadão para se medir a gordura? Abimar Buriti - Uma das relações que existem para determinar risco é chamada relação cintura-quadril. Ela faz uma proporção entre a medida da cintura e a medida do quadril. E a relação cintura-quadril aponta para o risco de ter doença cardíaca.

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O PRINCIPAL SEGREDO É MUDAR O QUE SE PENSA E, ATRAVÉS DO PENSAMENTO, MUDAR A ATITUDE, ISSO POR MEIO DO CULTIVO DE BONS HÁBITOS ALIMENTARES NATURAIS, EM QUANTIDADES CORRETAS E NOS HORÁRIOS CORRETOS, ALÉM DE ATIVIDADE FÍSICA FEITA DE FORMA EQUILIBRADA E DIRECIONADA.

Espaço Ecológico - A altura nesse caso não tem importância? Abimar Buriti - A altura tem importância com relação ao peso total na detecção do IMC, que é o Índice de Massa Corporal. Nesse caso, o IMC tem algumas falhas, no seguinte sentido: porque ele vai levar só em conta o peso e a altura, e não vai levar em conta a composição corporal. Então, por exemplo, a gente pode ter classificados como obesos, dois homens que têm 1,60m e que pesem 100kg. Entretanto, um desses homens pode ser fisiculturista e ter 100kg de músculos. Ele não será obeso, mas será classificado como obeso. E o outro homem pode ter 100kg de gordura. Esse sim deve ser considerado como um paciente de risco. Então, levar em conta apenas peso e altura não é a forma mais fidedigna. O que a gente tem que entender é quanto é de gordura e quanto é de músculo. Espaço Ecológico - Qual a recomendação que o senhor daria para quem quer emagrecer? Abimar Buriti - O principal item para a pessoa emagrecer é mudar o pensamento. Todo mundo pensa que existe uma fórmula mágica, um medicamento mágico, uma injeção mágica. A partir do momento que

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você entender que o seu corpo precisa gastar mais energia e que isso se faz com a prática correta de atividades físicas, você vai facilitar o processo de emagrecimento. A partir do momento que você entender que o seu corpo precisa melhorar a qualidade do alimento, você vai emagrecer. Eu nunca vi ninguém ficar obeso porque comeu mais cenoura e mais cebola do que devia. Eu vejo as pessoas ficarem obesas porque comeram sanduíche. A gente tem que trocar os alimentos processados pelos naturais. E até dentro dos naturais, a gente tem que ter bom senso e moderação, porque o excesso de naturais também vai engordar. O principal segredo é mudar o que se pensa e, através do pensamento, mudar a atitude, isso por meio do cultivo de bons hábitos alimentares naturais, em quantidades corretas e nos horários corretos, além de atividade física feita de forma equilibrada e direcionada. Espaço Ecológico - Neste período de inverno, existe alguma recomendação de alimentos saudáveis? Abimar Buriti - A recomendação de alimentos saudáveis é a mesma para todas as épocas do ano. No verão, geralmente, a gente recomenda

ACHO QUE O CAMINHO MAIOR PARA O AVANÇO É QUE AS INFORMAÇÕES CIRCULEM E QUE AS PESSOAS TENHAM ACESSO AO QUE É CERTO E AO QUE É ERRADO. MUITAS VEZES, ESTAMOS REFÉM DA MÍDIA QUE NOS DIRECIONA PARA O QUE A INDÚSTRIA MANDA, PARA OS ULTRAPROCESSADOS que se beba mais água. No inverno, normalmente, a gente recomenda que a pessoa se proteja mais dos efeitos do frio e dê preferência a alimentos quentes. Entretanto, uma regra é universal: o natural corresponde ao mais importante. Espaço Ecológico - Fique à vontade para sua mensagem final? Abimar Buriti - Agradeço pela oportunidade de falar a respeito de um tema que traz saúde, sabedoria e benfeitoria para a população. Acho que o caminho maior para o avanço é que as informações circulem e que as pessoas tenham acesso ao que é certo e ao que é errado. Muitas vezes, estamos refém da mídia que nos direciona para o que a indústria manda, para os ultraprocessados. E, na verdade, a principal resposta vem do natural. Para encerrar essa minha participação, a principal dica que tenho é a seguinte: invista no natural.


Foto: Ilka Cristina

AJUDE SEU CÃO A SUPERAR GRANDES MEDOS

T

rovões, chuva, fogos de artifícios, crianças, carros. A lista de coisas que podem levar um cão a ter medo é grande. Independente da causa, porém, é importante que o dono identifique o quanto esse medo pode afetar a vida do animal para saber se o bichinho precisa de ajuda. “Se um cachorro tem medo de fogos de artifício e, depois dos fogos, ele voltar ao [comportamento] normal, é tranquilo. Por outro lado, se ele tentar pular a janela, ou parar de comer, ficar agressivo, daí é preocupante”, diz o zootecnista especialista em comportamento animal e professor da PUCPR Paulo Parreira. Se esse for o caso, o cachorro pode precisar passar por um tratamento de dessensibilização. “A dessensibilização consiste em expor o indivíduo ao estímulo [que causa medo], mas abaixo do limiar de resposta”, explica o especialista em adestramento da Petness, Rafael Wisneski. Se o cão tiver medos de outros animais, ele deverá ser apresentado a estes bichos a uma distância que não provoque reações e

com algum estímulo positivo (um carinho ou petisco, por exemplo). Aos poucos, essa distância vai sendo diminuída até que o cão consiga conviver com outros animais. A técnica também é recomendada quando o estímulo do medo está muito presente na vida do animal. “Eu atendi um cachorro de pelo longo que tinha medo de secador de cabelo. O que orientei ao dono? Que reapresentasse o secador desligado ao cão e, antes de ele expressar qualquer tipo de medo, dar algum petisco. Depois, ele deveria ficar com o cachorro na sala e ligar o secador no banheiro, ao mesmo tempo fazendo um carinho, dando um petisco. Até chegar no ponto em que ele consegue ligar o secador perto do animal”, exemplifica Parreira. O método é semelhante ao utilizado para curar fobias humanas e a duração do tratamento varia de caso para caso. Conforme os especialistas, apesar de se trabalhar pela superação da fobia, por vezes ela não é alcançada. Desde que o animal aprenda a controlar o medo, no entanto, o resultado é considerado positivo.

HORA DA CRISE

Mesmo em casos “mais controlados” – ou seja, quando o animal tem crises na hora em que está exposto aos estímulos que causam a fobia, mas depois volta ao comportamento normal – o momento da crise requer alguns cuidados especiais do dono. Os especialistas divergem quanto à necessidade de acolhimento que o cachorro tem naquele momento. Para Wisneski, oferecer carinho ao cão neste momento não vai reforçar o medo ou comportamentos inadequados. Ele diz que é justamente o afago do dono que vai “trazer um reequilíbrio emocional para o cachorro”. O professor da PUC acredita, no entanto, que o melhor é “agir natural e tranquilamente”, porque o medo, principalmente no filhote, será alimentado pela sua reação. Contudo, algum conforto pode – e deve – ser oferecido ao animal. “Se com chuva ou fogos você sabe que ele vai correr para baixo da sua cama, você pode deixar ali um pote de água e um cobertor”, diz Parreira, que recomenda que o cão seja deixado onde quer que tenha escolhido se esconder (desde que não haja perigo para ele), para evitar que ele tenha reações agressivas.

Fonte Big Stock


PATRIMÔNIO AMBIENTAL Ações da Secretaria de Meio Ambiente (Semam) da Prefeitura Municipal de João Pessoa recuperam e preservam áreas verdes

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ste ano a Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP) deve plantar e distribuir 45 mil mudas de árvores nativas. O plantio urbano, o programa Poda Programada e as ações de Educação Ambiental estão entre as principais ações que contribuem para a mudança de comportamento e para a recuperação e preservação das áreas verdes da cidade, feitas pelas equipes da Secretaria de Meio Ambiente (Semam). A Poda Programada é feita todos os dias, em diversos pontos da cidade, e segue os padrões da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana (SBAU) , a partir da Norma Brasileira (NBR) número 16.246-1 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que retira o mínimo possível de galhos das árvores. É uma poda de conformação, que não prejudica a arquitetura da copa da planta, retirando galhos que possam atingir veículos maiores, como ônibus e caminhões. Os galhos retirados são triturados num outro caminhão e transformado em composto orgânico, utilizado

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pelo Viveiro Municipal de Plantas Nativas, no preparo de mudas para plantio urbano. É um processo todo sustentável em que todos os resíduos são aproveitados. As equipes do Viveiro Municipal de Plantas Nativas são responsáveis pela produção das mudas e pelo plantio urbano. As mudas são distribuídas com a população, na Tenda Verde da Semam, durante eventos realizados em João Pessoa. Quem quiser uma muda de árvore nativa também pode pegar no Viveiro, que fica na Rua Embaixador Sérgio Vieira de Melo, s/nº - Valentina Figueiredo, em frente ao Sesc Gravatá e funciona das 7h às 12h, de segunda a sexta-feira. Nos casos em que o interessado deseja mais de três mudas, é preciso formalizar a solicitação, enviando um ofício para a Semam. BALANÇO DO PLANTIO URBANO Este ano a Semam deve plantar e distribuir 45 mil mudas de árvores nativas. Em 2018, foram plantadas 40 mil mudas. Em 2017, a Semam promoveu o plantio de 53.760 mudas de árvores nativas em áreas de

mata ciliar (perto dos rios), parques e áreas de proteção permanente, praças, canteiros de ruas e avenidas, escolas, Centros de Referência em Educação Infantil (Crei) e condomínios. No período 2013 a 2016, foram plantadas 123.427 mil mudas. MATA ATLÂNTICA NA PARAÍBA O Município de João Pessoa está localizado numa área de Mata Atlântica. A cidade possui 3 mil 439,58 hectares de remanescentes vegetais, com 1.060,25 hectares de áreas de mangue. Isso corresponde a 30,67 por cento de cobertura vegetal no território do Município, com uma média de 47,11 m² de área verde por habitante. Segundo dados da Fundação SOS Mata Atlântica, a Paraíba encontra-se entre o grupo dos nove estados que estão próximos de chegar ao nível de desmatamento zero. Os dados mostram que dos 17 estados situados na área da Mata Atlântica, sete tem um índice de desflorestamento em torno de 100 hectares (1 km²) . A Paraíba se destaca com um nível de desmatamento em torno de 33 hectares, junto


com Ceará (7 ha), Alagoas (8 ha), Rio Grande do Norte (13 ha), Rio de Janeiro (18 ha), Espírito Santo (19 ha), Pernambuco (90 ha), São Paulo (96 ha) e Sergipe (98 ha). A PMJP, por meio dos técnicos da Semam, vem promovendo uma série de ações para preservar e recuperar as áreas de Mata Atlântica da cidade, como o plantio urbano, replantio em áreas de mata ciliar e o programa Poda Programada. EDUCAÇÃO AMBIENTAL O Centro de Estudos e Práticas Ambientais (Cepam), localizado no Parque Zoobotânico Arruda Câmara, Bica, tem uma equipe de educadores ambientais que traba-

lham com um programa de educação não formal, comprometido com a promoção de mudanças de comportamento do público que visita o Parque , atuando também nas escolas municipais, com comerciantes e empreendedores que tenham sido multados e/ou notificados por descumprirem normas ambientais e durante eventos promovidos pela PMJP. As equipes trabalham no sentido de sensibilizar o público para a mudança de comportamento em relação ao meio ambiente, incentivando práticas de reciclagem, de preservação do meio ambiente, de cuidados com a cidade, bem como com fauna e flora.

O secretário de Meio Ambiente, Abelardo Jurema Neto, destacou que todas as ações, desenvolvidas pelos profissionais da Semam, tem como base fundamental a educação ambiental. “Do Licenciamento à Fiscalização, todos os nossos técnicos tem essa compreensão. Quando notificamos ou multamos algum infrator, seja por poluição sonora ou descumprimento de alguma norma ambiental, nossa primeira abordagem tem um caráter educativo. Acreditamos que essa ainda é a melhor forma de contribuirmos para a mudança de comportamento em relação ao patrimônio ambiental da cidade”, concluiu. REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |

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Mitos e verdades sobre a

AMAZÔNIA Até que ponto tem razão o presidente Jair Bolsonaro ao classificar de “psicose ambientalista” o interesse do mundo na segunda maior cobertura florestal do planeta?

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Por Nonato Nunes

om 519,5 milhões de hectares o Brasil tem a segunda maior cobertura vegetal do planeta, ficando atrás apenas da Rússia [809,1 milhões de hectares] e à frente do Congo, na África Central [22,4 milhões de hectares]. De acordo com dados de 2010, o tamanho da cobertura florestal brasileira equivale a 62% de todo o território nacional, sendo que a floresta amazônica é responsável por quase a metade de todo esse ativo verde que tanto tem atraído a atenção do mundo, sobretudo de países ricos e de ONGs criadas especialmente para lidar com a questão do desmatamento. Mas a importância da Amazônia para o país e para o planeta vai além das discussões que o brasileiro está habituado a ver e ouvir. Sua biodiversidade atrai a atenção, sobretudo, da indústria farmacêutica sediada em países ricos do Hemisfério Norte, interessada, sobretudo, na produção de medicamentos, o que vem estimulando a biopirataria. Sem um controle efetivo de suas potencialidades econômicas e científicas, a floresta amazônica vem se tornando alvo fácil para contrabandistas de animais e plantas medicinais, o que leva o Brasil a perder milhões em royalties. A Amazônia também pode ostentar um valioso potencial petrolífero, pois, conforme especialistas, no seu subsolo estão guardados milhões de barris de petróleo sem que o país se dê conta de toda essa potencialidade energética.


Desmatamento

Mas a discussão que há anos toma conta do país é a do desmatamento. Os números, em termos percentuais, são os mais diversificados e são provenientes de fontes as mais variadas. Em números reais, em 1975 o Projeto Radam havia constatado que 10 000 km2 da floresta amazônica já haviam sido desmatados. E já naquele tempo o mundo demonstrava interesse na preservação da toda aquela riqueza vegetal. Em termos percentuais, os números são bem parecidos, embora originários de fontes diversas. Conforme o portal G1, em matéria publicada no dia 28 de abril deste ano, a Amazônia perdeu 18% de sua cobertura florestal entre 1985 e 2017. Um cálculo singelo, levando-se em consideração o total de 519,5 milhões de ha, mostra que em 32 anos a área desmatada representa uma fração fora da realidade quando se leva em conta o total da área pesquisada. Ou seja, os 18% revelados pela reportagem correspondem a pouco mais de 104 milhões de hectares desmatados de um total de quase 520 milhões de toda a cobertura vegetal existente. Algo impensável do ponto de vista da realidade matemática. São números tão gigantescos que mesmo se o percentual do desmatamento fosse de 2% [11 milhões de hectares em números reais] mesmo assim seria insignificante quando comparado à totalidade da área. O percentual de desmatamento mostrado pela reportagem do G1 é bem próximo do apresentado por uma outra publicada pela acre-

ditada revista “Scientific American/Brasil” [Edição No. 158, pág.14, Editora Segmento, julho de 2015]. Conforme a publicação, “Atualmente, quase 20% da Amazônia já foram desmatados [....]” Como já foi visto antes, em números reais a área desmatada é, sim, algo fora da realidade quando comparada à área total de quase 520 milhões de hectares de floresta. Uma visão bastante ampla de toda a cobertura vegetal da Amazônia pode ser vista do alto. A Nasa, a agência espacial americana, forneceu imagens de satélite as quais mostram uma floresta exuberante e sem o catastrofismo insistentemente publicado por ONGs e governos localizados em países do Hemisfério Norte, como a Noruega e a Alemanha. Também um infográfico, desenvolvido pelo setor de arte do portal G1, mostra que as áreas desmatadas são muito inferiores ao total intacto. Um desses infográficos mostra como era a área em 1985, e um outro, para efeito comparativo, destaca a mesma área 32 anos depois. A cor amarela mostra a área de pastagem, imprescindível à economia do país uma vez que o setor pecuário lastreia uma parcela importante das exportações brasileiras. A cor rosa, do mesmo infográfico, destaca a área cultivada, igualmente importante para o desenvolvimento da produção agrícola. A mesma revista Scientific American denuncia o papel da ex-presidente Dilma Rousseff no ace-

leramento do processo de desmatamento da floresta amazônica. Diz a publicação: “Além disso a presidente reeleita Dilma Rousseff propôs a construção de novas usinas hidrelétricas, e uma grande rodovia que, se construída, cortará o coração da Amazônia. O governo brasileiro também promoveu uma legislação que enfraqueceu as proteções ambientais de florestas e oferece anistia a todos os que cortaram árvores ilegalmente, citando a necessidade do crescimento econômico.” Em 2012, no governo de Dilma Rousseff, a empresa irlandesa Celestial Green Venture adquiriu, na Amazônia, por US$ 120 milhões de dólares, uma área equivalente a 16 vezes o tamanho da cidade de São Paulo, em cujo contrato estava expressamente proibida a exploração dos seus recursos naturais pelos habitantes nativos. Nunca foram bem esclarecidas as pretensões da tal empresa naquele perímetro geográfico específico. PARA SABER MAIS SCIENTIFIC AMERICAN/Brasil, Ano 13, No 158, julho de 2015 ALMANAQUE ABRIL 1980 ALMANAQUE ABRIL 2014 PORTAL G1, DE 28 DE ABRIL 2019 NASA World Wind 1.4 O ESTADO DE S. PAULO, 10 DE MARÇO DE 2012, 20h04min REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |

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CERVEJA DE AÇAÍ une gastronomia e sustentabilidade em projeto inclusivo

A CERVEJA DESENVOLVIDA PELOS ALUNOS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS (UFAM) AGRADOU OS DEGUSTADORES E ESTÁ EM FASE DE ANÁLISE COMERCIAL

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ocê já imaginou sair com os amigos, com as amigas, para jogar conversa fora e beber uma cervejinha de açaí? Pois isso será possível muito em breve, segundo o professor da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Johnson Pontes de Moura. Ele incentivou seus alunos do curso de Engenharia Química a desenvolver projetos sustentáveis aproveitando os recursos naturais da região. Johnson Pontes de Moura explica que o seu objetivo com o projeto foi desafiar os alunos a mostrar competências e habilidades adqui-

ridas durante todo o curso de engenharia, porque é característica do engenheiro ter capacidade de criar e inovar no processo. “E com isso associei à questão de você valorizar os recursos naturais em nossa região Amazônica e o açaí que, conforme estudo interdisciplinar feito, tem propriedades bastante interessantes em termos de saúde e em termos calóricos. Então, o grupo achou interessante que, ao invés de fabricar uma cerveja industrial, produzir uma cerveja artesanal, fazendo todo dimensionamento dos cálculos pertinentes para a produção dessa cerveja em grande escala”, relata. Ele acrescenta que, a partir desse dimensionamento de engenharia, a equipe estudou também a composição química da cerveja, que tem um diferencial, ou seja, ela faz a fermentação do açúcar presente no próprio açaí e obtém resultados bem satisfatórios, com as propriedades sensoriais que é o sabor e o cheiro da cerveja. “Nós obtivemos em torno de 6% de grau alcoólico. Segundo critérios de aceitabilidade que foi feito, inclusive, com teste de análise sensorial, o gosto, a textura da cerveja, a formação da espuma, são bem característicos do açaí. E, o interessante é que você toma essa cerveja e sente que está fazendo bem, de certa forma, ao organismo. Lógico que nós sabemos que a taxa alcoólica no organismo tem que ser controlada”, pondera. Johnson acrescenta que o projeto é mais uma forma de utilizar esse fruto que existe em tão grande quantidade na Amazônia e que pode ajudar muito as comunidades. “Inclusive, o objetivo é inclusão social e valorização da comunidade. A partir de agora existirão novos passos, ou seja, o objetivo do grupo também é a valorização do fruto da Várzea Amazônica que é o açaí e que tem propriedades an-


tioxidantes para evitar a formação de radicais livres e a formação de doenças oportunistas, porque se você tem uma qualidade de vida na alimentação, você tem condição de evitar a formação de doenças”, complementa. Ele revela que, na fase da produção da cerveja, o projeto visa valorizar a comunidade ribeirinha com a compra dos frutos. “Então, realmente, é um projeto inclusão social, sustentabilidade e aproveitamento do que é nosso, da região Amazônica. Fico muito feliz pelo apoio da imprensa e também de toda a comunidade acadêmica”, conclui.

O ESTUDO

O artigo científico que norteou o estudo coordenado pelo professor e engenheiro químico mestre, Johnson Pontes de Moura, intitulado “Produção de cerveja de açaí artesanal em uma mini cervejaria” teve a participação dos alunos do curso de Engenharia de Petróleo e Gás da Universidade Federal do Amazonas, Aurilene Siqueira de Paula, Diogo Felipe Resende Freire, Orleilson de Campos, Robert Alephy Souza da Silva e Thiago Castro de Souza. “Tudo começou com um trabalho da faculdade em que tinham que desenvolver um produto sustentável. Na hora, o professor pensou em uma cerveja de açaí. Acontece que temos um amigo que é mestre cervejeiro. Já tínhamos um projeto pessoal com ele para fazer uma cerveja. Quando nos foi passado esse trabalho, unimos o útil ao agradável”, conta Aurilene, uma das alunas envolvidas no projeto. O estudo coordenado pelo professor Johnson Pontes de Moura começa explicando que a cerveja é uma bebida existente há milhares de anos e possui uma infinidade de

classificações, sendo estas variantes em função do seu processo de fabricação. O seu início se dá com a escolha de sua matéria-prima e como esta será aplicada da melhor forma ao processo para que ao fim obtenha-se o produto esperado. A fabricação da cerveja é dividida em várias etapas, tais como preparação da matéria-prima, moagem, brasagem, lavagem, filtragem, clarifi- Professor da UFAM, Johnson Pontes de Moura cação do mosto, fervura, lupulagem, decantação, resfriamencessidade de inovação em relação to do mosto, fermentação, envase e ao sabor de cerveja e também de embarrilhamento. descobrir como ocorre o processo Os cálculos do projeto são de maturação do açaí para fabricaapresentados possuindo os balanção de cerveja. ços de massa e energia e, através O aditivo característico do destes, são feitos os dimensionaprocesso apresentado é a polpa de mentos dos equipamentos. O obaçaí. O açaizeiro é uma palmeira jetivo do projeto é apresentar o tropical, perene, nativa do Brasil processo de fabricação de cerveja que ocorre nas Regiões Norte e de estilo Weizen com açaí em sua Sudeste do país. Pertencente à facomposição, a fim de explorar o remília Arecaceae (Palmae) é uma gionalismo local. espécie de clima tropical quente e O mercado cervejeiro brasileiúmido (temperatura média anual ro encontra-se em plena ascensão, acima de 26°C, umidade relativa com inovações sendo apresentadas do ar entre 71% e 91%, e precipitaa cada dia, seja por meio de produção acima de 1.600 mm por ano). tos ou de embalagens. O aumento Não é exigente em solos, cresce do poder aquisitivo do consumimesmo em solos pobres e ácidos, dor e a busca pelo prazer de sendesenvolvendo-se bem naqueles tir novas sensações impulsionam com maior fertilidade. o mercado das cervejas artesanais Os frutos do açaizeiro são larque costumam ser mais caras. Além gamente utilizados para a produção disso, o projeto objetiva aprofundar da bebida conhecida nos estados conhecimentos acerca do processo amazônicos como “vinho” de açaí, da fabricação de cervejas artesanais, base da alimentação de muitas poa partir de análises químicas e de pulações ribeirinhas da Amazônia, operações unitárias. e que nos últimos anos tem sido Em relação ao açaí, o estudo popularizada em outras regiões do diz tratar-se de um material abunPaís devido ao seu valor energétidante na região Amazônica, de co e nutricional. O palmito do açaí custo relativamente baixo e muito também é mais um produto de alto consumido pela população local. valor econômico que pode ser aproQuanto à cerveja de açaí, há a neveitado dessa planta. REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |

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SOLAR E EÓL O Brasil e o mundo ainda “engatinham” na produção e no uso dessas fontes de energia

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Por Nonato Nunes

busca pelo desenvolvimento e produção de fontes de energia limpa e renovável como alternativa ao petróleo teve o seu ponto inicial em 1973, quando a OPEP [Organização dos Países Exportadores de Petróleo] provocou o primeiro choque do petróleo no mundo. Naquele ano a Organização decidiu boicotar o fornecimento do produto às nações que apoiavam Israel, e ainda reduziu sua produção para

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forçar a alta dos preços, causando uma crise mundial. Era a resposta do cartel à derrota dos exércitos do Egito e da Síria [Guerra do Yom Kipur] que naquele ano atacaram Israel na tentativa de retomarem os territórios ocupados pelos judeus na Guerra dos Seis Dias, ocorrida seis anos antes. Aquela nova realidade mundial levou o Brasil a despertar para o desenvolvimento de fontes alternativas de energia, e o primeiro programa nessa linha foi o Proálcool [Programa Nacional do Álcool], que buscou na biomassa da cana-de-açúcar uma importante

fonte energética como alternativa ao petróleo. Porém existem registros de que no Brasil, naquele mesmo ano de 1973, havia pesquisas sendo desenvolvidas com o objetivo de se obter energia a partir do movimento dos ventos e da radiação solar. É bem verdade que no início daquela década as pesquisas no campo do desenvolvimento das energias alternativas ainda eram bem incipientes, sobretudo no tocante ao aproveitamento do vento e do sol como matrizes energéticas limpas e renováveis. E poucos foram os avanços nos anos seguintes. Para se ter uma ideia da insignificância dessas fontes alternativas de energia no ano de 1973, apenas 0,6% de toda a energia ofertada no Brasil era proveniente do Sol, do vento, das térmicas e das geotérmicas. Passados quarenta anos, essa realidade foi pouco alterada tanto no Brasil quanto no mundo, conforme os dados forne-


LICA cidos pelo Ministério das Minas e Energia e pela Agência Internacional de Energia. No ano da primeira crise do petróleo, a oferta de energia alternativa no mundo era de apenas 0,1%. E essa situação perdura até hoje a se levar em conta os números atualizados. Em 2012, o quadro energético brasileiro mostrava que o país oferecia apenas 4,1% de energia renovável [incluindo-se aí a energia solar, a eólica e a biomassa]. O interessante é que as mesmas fontes mostram que o mundo pouco fez para melhorar esse quadro e caminhou num ritmo ainda menor quando comparado ao Brasil. Em 2011, a oferta de energia renovável era de apenas 1,0%, o que demonstra que o petróleo e seus derivados, assim como o gás natural, ainda são as principais fontes de energia tanto nos países ricos quanto nos chamados Em desenvolvimento. Apesar de serem os combustíveis fósseis os maiores poluidores do meio am-

CONSUMO DE ENERGIA LIMPA

Chama a atenção a relação inversa, em termos percentuais, entre a oferta de energia renovável e o seu consumo no Brasil quando comparada ao resto do mundo. Enquanto no mundo a oferta de energia renovável é de 1%, o seu consumo é de 3,4%. No Brasil, a oferta é de 4,3%, mas o seu consumo é de apenas 0,4%, ou seja, não existe ainda uma política pública sistemática voltada para a ampliação do consumo de matrizes energéticas limpas, não poluentes e menos danosas ao meio ambiente. No final dos anos 90 a ONU previu que as reservas de petróleo do planeta deverão se esgotar em 75 anos. Isso significa dizer, pelos prognósticos da Organização, que já se passaram cerca de vinte anos desde essa predição, e o mundo só terá mais 55 anos para usar e abusar dessa fonte de energia extremamente poluente e danosa ao meio ambiente. Isso fatalmente irá levar o mundo a acelerar a corrida pelo desenvolvimento de novas fontes de energia alternativa, sobretudo pelas não poluentes [biomassa, eólica,solar e outras]. Enquanto isso não acontece, o petróleo vai continuar sendo a fonte de energia mais usada no mundo. Atualmente o combustível fóssil é responsável por 31,5% [2011] de toda a energia usada no planeta. No Brasil esse percentual é um pouco maior: 39,2% [2012], conforme o Ministério das Minas e Energia. Pelo menos até 2030, conforme especialistas, a situação será a seguinte: “Em 2030, com respeito às energias renováveis, o grande crescimento é da biomassa, como a cana; as energias limpas, como eólica e solar, ainda estarão engatinhando.”

biente e serem causadores de danos irreparáveis à saúde e à natureza, as nações produtoras não abrem mão deles em razão dos lucros astronômicos que possibilitam. Um exem-

plo disso é a Noruega, um minúsculo país do norte da Europa que, recentemente, se sagrou a primeira nação do mundo a alcançar um Fundo Soberano de US$ 1 trilhão de dólares. Foto: Pi

xaby

FONTES: Ministério das Minas e Energia Agência Internacional de Energia ONU [Organização das Nações Unidas] Almanaque Abril [Mundo] 2001 Almanaque Abril 2014 REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |

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