Revista Tribuna Municipal - Edição 04

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Ed. 04 | Ano 1 | Nov-2018

TRIBUNA A informação ao seu alcance

MUNICIPAL

A HORA É DO

ENTENDIMENTO O Brasil tem desafios enormes para o próximo período presidencial

ALBANO FRANCO

O patrimônio político e empresarial de Sergipe

MARCOS BARRETO

“Os municípios estão falidos, a palavra que tenho é essa”

RIO SÃO FRANCISCO Ameaça do uso exagerado dos recursos naturais



50 anos do sacerdócio de Dom Mario em Sergipe é celebrado na UFS

Velho Chico: um passeio para os amantes do ecoturismo

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Espaço de Oração: “Sim de Maria”

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24 Campus de Lagarto forma primeira turma de Medicina

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Perspectiva 04

Espaço do ‘SIM’ a Maria- Fazenda das Pedrinhas

Obra Social N. Sra. da Glória Fazenda da Esperança

José Brandão de Castro: Centenário do 1º Bispo da Diocese de Propriá

Guaratinguetá-SP Maio de 2018

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Dom Giovanni: uma vida dedicada à missão de edificar o corpo de Cristo

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Rio São Francisco: ameaça do uso exagerado dos recursos naturais

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|| Expediente ||

Diretor Executivo Sérgio Botelho Júnior Jornalista responsável Sérgio Botelho Júnior DRT 8318 DF

botelhojunior73@yahoo.com.br Contato: (79) 99820- 1640

Equipe de comunicação Thiago Farias - Estudante de Jornalismo Diagramação Ilka Cristina Fotos: Assessorias, internet e arquivo pessoal Tiragem: 5.000 exemplares


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|| Editorial ||

Entendimento, já! O Brasil tem desafios enormes para o próximo período presidencial e esses desafios não poderão ser enfrentados, com chances de serem superados, caso não haja efetivos acenos do novo presidente no sentido de uma unificação das vontades políticas, no país. Estamos emergindo de uma campanha presidencial das mais acirradas da nossa história mais recente, com uma cisão popular mais ou menos na proporção de metade a metade da população. Na mesma proporção dividiram-se as forças políticas a ocuparem as 594 vagas de senadores e deputados federais, no Senado Federal e na Câmara dos Deputados. São eles que, na democrática representativa brasileira, irão decidir sobre os projetos governamentais. Dessa forma, nenhuma das principais forças políticas do país, neste momento, tem hegemonia sobre esse processo todo ao ponto de dispensar acordos com as demais e, por isso, tem de haver muita conversa em busca de entendimentos. Para que isso seja possível, é necessário superar, numa primeira atitude, as desavenças que foram forjadas desde bem antes da campanha ter iniciado, culminando com a polarização extremada no segundo turno.

“O Brasil dos nossos dias não admite nem o exclusivismo do governo nem da oposição. Governo e oposição, acima dos seus objetivos políticos, têm deveres inalienáveis com o nosso povo”, disse um dia Tancredo Neves. Nada mais atual do que as palavras do condestável político mineiro, que chegou à Presidência da República num

dos momentos mais emblemáticos da nossa história, em que o Brasil estava emergindo da ditadura para a democracia. Também, agora, estamos inaugurando uma nova fase da nossa política, depois de uma campanha - esta, deste ano de 2018 - em que nunca o nosso tecido social esteve tão esgarçado, com reflexos fortíssimos em toda a sociedade, incluindo muitas famílias. Vai depender da capacidade de diálogo a ser posto em prática pelo novo presidente, esperando-se dele atitudes concretas para a aproximação, inclusive, com a oposição, visando inaugurar um novo ciclo político, no Brasil, o mais próximo possível do entendimento geral. Vai pesar, também, em elevado grau, para esse entendimento, o respeito mais sagrado possível às instituições. Executivo, Legislativo e Judiciário terão que se entender, preservando, logicamente, a independência de cada um dos poderes da República. É de um Brasil mais coeso que precisamos, agora. Se essa questão não for devidamente compreendida, jamais teremos condições de resolver nem uma pequena parte dos nossos problemas. Portanto, mãos à obra: entendimento, já!

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|| ENTREVISTA ||

Marcos Barreto

“OS MUNICÍPIOS ESTÃO FALIDOS, A PALAVRA QUE TENHO É ESSA” Confira a entrevista com o presidente da Federação dos Municípios do Estado de Sergipe, Marcos Barretos

com a maior parte, enquanto uma fatia menor seja distribuída para todos os municípios. A gente considera que o recurso é da União e não somente daquele município, por exemplo: a 1.000 KM mar adentro tem poço de petróleo, e como eu posso dizer que aquele petróleo é daquela cidade? Por isso, ele tem que ser rateado para todos os municípios. Então é essa batalha que estamos conseguindo junto ao STF.

Revista Tribuna Municipal: Quais as principais reinvindicações dos prefeitos? Marcos Barretos: É uma questão voltada ao INSS, que é a maior ferida que os municípios têm. Por exemplo, em Sergipe, na maioria dos municípios, os recursos do FPM entram zerados na conta, com 10 ou 20 dias de atraso. E a outra reclamação é a queda de receita, ocasionada pela crise nacional que acaba prejudicando os municípios. RTM: Quais os municípios ou região mais prejudicados? MB: Os maiores prejudicados são aqueles que não recebem royalties e que dependem do FPM. Em Sergipe, somente oito municípios recebem a contribuição dos royalties, enquanto todos os outros dependem do FPM e como ele está em queda, fica difícil poder administrar com as verbas que viemos recebendo. RTM: E qual papel a Fames tem desempenhado neste momento? MB: Nós conseguimos, recentemente, um grande avanço. Já conseguimos vários, porque nós temos durante o ano 13% de colaboração sobre toda a arrecadação que o município recebe. Nós temos em julho 1%, em setembro 1% e em dezembro 1% a mais, então esse foi um grande avanço das federações estaduais junto a Confe-

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deração Nacional dos Municípios e nós ampliamos isso. E também foi aprovado neste mês uma decisão de que toda a verba do Imposto de Renda será revertido para os municípios. Então foi um grande avanço e nós estávamos em Brasília. Graças a Deus veio uma coisa boa para os municípios. Outro avanço foi junto ao STF [Supremo Tribunal Federal], que a gente quer que coloquem em pauta a questão do rateio dos royalties, pois eles não servem somente para um município. Ele é da União e não pode ficar restrito a um município. Se o recurso é extraído naquele município, então que ele fique

RTM: Até onde vai o poder de atuação da Fames na reinvindicação dos prefeitos? MB: Nós temos um problema junto ao Tribunal de Contas relativo ao Limite Prudencial, e nós estamos reivindicando que esse limite prejudica os municípios, porque quando a arrecadação cai, o índice do Limite Prudencial sobe e isso prejudica o município, que pode sofrer com improbidade administrativa. Então estamos reivindicando uma revisão nessa questão. Agora, saiu uma jurisprudência do Tribunal de Contas dos Municípios da Bahia que estamos tentando colocar aqui também. Já conversei com a Dra. Angélica, que é conselheira do Tribunal de Contas de Sergipe e corregedora, e estamos preparando toda a documentação para que coloque isso em pauta: Que os gastos das verbas federais com pessoal não sejam contabilizados, porque isso faz cair o limite prudencial entre 15% a 20%. Isso já foi aprovado na Bahia e queremos aprovar isso em Sergipe.


RTM: Os prefeitos se sentem bem representados? Entram em acordo? Participam dos encontros da entidade? MB: Eles participam muito. Nós, enquanto entidade, temos participado de várias palestras e ações pelo país e, em breve, iremos a uma reunião com a bancada sergipana para beneficiar todos os municípios com as emendas de bancada. Queremos ratear as seis emendas de R$ 26 milhões para todos os municípios, porque ela já é direcionada para a educação, saúde e segurança. Então que coloque uma parte disso para o município, que precisa de custeio, do PAC, de manter as UPAs. Precisamos manter esses serviços e ampliá-los.

“Nós temos um problema junto ao Tribunal de Contas relativo ao Limite Prudencial, e nós estamos reivindicando que esse limite prejudica os municípios, porque quando a arrecadação cai, o índice do Limite Prudencial sobe e isso prejudica o município, que pode sofrer com improbidade administrativa”

RTM: As emendas de bancada estão mesmo sendo canalizadas para os municípios pelos deputados? MB: No ano passado, realmente, o Governo do Estado pegou R$ 81 milhões dos R$ 162 milhões, falando que ia investir na área da saúde, o governo Jackson Barreto, e os outros R$ 81 milhões ficou entre situação e oposição. A situação colocou para o Governo do Estado e a oposição para a Codevasf, para atender em máquinas e equipamentos todos os municípios do Vale do São Francisco. Então pedimos para que não somente esses municípios fossem contemplados, e depois de uma reunião grande com a bancada federal de Sergipe, em que o Senador Eduardo Amorim foi o relator, foi aprovada a proposta e hoje todos os 75 municípios de Sergipe fazem parte da Codevasf. Então nós temos avanços, projetos e trabalhado muito para que os municípios se sobressaiam. Com essa conquista, os municípios receberam patrol mecanizada, carros-pipas, roçadeiras e vários outros equipamentos de utilidade para todo município. Nós fomos atrás para beneficiar a todos e, felizmente, conseguimos.

Belivaldo Chagas, que nos informou que está investindo R$ 50 milhões sobre o Rio São Francisco. Eu acho que é pouco, precisa de mais, porque o rio é muito grande e se o estado de Sergipe não se unir, amanhã seremos penalizados. Hoje, por exemplo, o Vale do Cotinguiba e o sertão dependem muito do Rio São Francisco.

RTM: Como o senhor descreveria o apoio que a Fames tem dado aos municípios do Baixo São Francisco, que têm reclamado da vazão do Rio São Francisco? MB: Nós tivemos um grande defensor do Rio São Francisco que é o ex-governador João Alves Filho, reconhecido nacionalmente. E nós tivemos uma grande oportunidade de conversar com o governador

RTM: A nível nacional o que mais representa a unidade dos prefeitos em termos de entidade? Essa representatividade é protagonizada por uma ou mais entidade? MB: Todas as federações do país são parceiras da Confederação Nacional dos Municípios, onde tem uma grande equipe que os dá toda sustentação. Um dia desses, estivemos lá e participamos de vários

debates sobre saúde, segurança e educação. Lá, nós damos opinião, eles estudam e colocam para frente. Em Sergipe, existem duas outras associações que é a do Vale do Cotinguiba e da Região Centro-Sul, então a Fames é parceira e o que for benefício para os municípios, nós estaremos juntos para defender, porque quem ganha com isso é o povo. RTM: No seu entendimento, o que significa, na perspectiva municipalista, um novo pacto federativo? MB: Esse é um gargalo de muito tempo e eu acho difícil passar. Por exemplo, se o próximo presidente não fizer o pacto federativo, será muito difícil. Primeiro tem que resolver a previdência, que até agora não foi resolvido, para depois chegar nesse assunto. Agora, a previdência tem que ser resolvida logo. Os municípios, hoje, são prejudicados através da Receita Federal, porque, quando o Município chega lá, dizem que temos uma dívida muito grande, que não são discriminados. Dizem que devemos, mas não descriminam o valor e nós estamos batendo na mesma tecla sobre a realização de um encontro de contas, que já foi aprovado, mas que a Receita Federal quer que não tenha. Não dá, por exemplo, que um município como Aquidabã chegue lá e saiba que está devendo R$ 20 milhões sem saber como a dívida chegou a tal ponto. Uma dívida pessoal é discriminada, mas a Receita não discrimina a dívida dos municípios, então estamos fazendo um encontro de contas, que a Receita ainda não está recebendo. RTM: Presidente fique à vontade para colocar o que ainda não foi abordado nessa entrevista. MB: Quero agradecer muito a Revista Tribuna Municipal por essa revolução que estão fazendo, dando todo apoio aos municípios. A Fames vai estar de portas abertas para todos aqueles que queiram contribuir com a causa municipalista, porque os municípios estão falidos, a palavra que tenho é essa. E se não formarmos parcerias, com o Governo Federal, com a Bancada Federal, com o Governo do Estado e Municípios, a gente não vai obter êxito de jeito nenhum. Então quero agradecer a revista que tem portas abertas na Fames.

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|| RELIGIOSIDADE ||

ESPAÇO DE ORAÇÃO A obra será uma parte da casa de Maria no Brasil, onde o divino se encontrará com o humano

Ação é resultado da peregrinação realizada em Israel pela Fazenda da Esperança 8

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o último mês de junho, a Fazenda da Esperança comemorou seu 35º aniversário com uma peregrinação pela Terra Santa, onde dezenas de pessoas, membros da fazenda e da família da esperança, entre eles ex-acolhidos, voluntários, fundadores (Frei Hans, Nelson, Luci e Iraci) e o co-fundador Dom Mario Rino Sivieri (Bispo Emérito de Propriá), puderam conhecer de perto o local por onde Jesus nasceu, viveu e foi crucificado. Além disso, naquela ocasião, a citada comunidade terapêutica


O: “SIM DE MARIA”

e a Basílica da Anunciação, em Nazaré, trocaram presentes. Os brasileiros deram um vitral representando o Sim de Maria e receberam uma pedra da casa em que a mãe de Jesus aceitou a missão de gerar o filho de Deus. Segundo o Frei Hans Stapel Ofm, fundador da Fazenda da Esperança, em conversa descontraída com o Sérgio Botêlho Júnior, voluntário da Fazenda da Esperança, Ricardo Oliveira, vice-presidente Internacional das Fazendas da Esperança, o Roberto Camargo, Responsável pelo Regional Nordeste 2, que

abrange as fazendas instaladas em Alagoas, Sergipe e Bahia, afirmou que a pedra da casa de Maria, considerada uma relíquia, foi entregue pelo Frei Bruno, guardião da Basílica da Anunciação, após este demonstrar visível impressionismo com as mudanças dos jovens acolhidos pela obra, que após dizerem sim a uma nova vida, passaram a viver a palavra. “Na Fazenda da Esperança, os jovens chegam tristes, destruídos, quebrados, sem esperança, no fundo do poço, com traumas, sofrimentos e machucados, e aos poucos começam a viver a palavra, e a palavra muda, a palavra cura, a palavra dá esperança, dá uma nova visão, dá uma sabedoria extraordinária, e assim eles se tornam homens novos”, conta. “Os romeiros que vem do mundo inteiro ficam parados diante do Vitral. Olham, tiram foto, é uma coisa extraordinária! E nós recebemos do Frei Bruno uma pedra autenticada da casa de Nossa Senhora de Nazaré, onde o Anjo Gabriel anunciou, e essa pedra com muito carinho trouxemos para o Brasil e agora estamos criando um espaço, onde vamos colocá-la para o povo poder visitar e também dizer o seu “Sim” a vivência da palavra. Então acredito que vai ser um lugar onde muitas pessoas podem assumir um novo estilo de vida, aquele estilo que Jesus trouxe quando estava entre nós, aqui na terra”, acrescentou o frei em sua jornada pelo estado de Sergipe em busca de recursos para erguer o citado espaço. Por isso que para o frei, a obra será uma parte da casa de Maria no Brasil, onde o divino se encontrará com o humano. “Nós todos sentimos que não existe uma pessoa perfeita, somos humanos. E aqui podemos nos encontrar com Nossa Senhora, e dizer a ela: “Me ajuda! Eu posso com a senhora aceitar o plano de

Deus em minha vida”; e também dizer: “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua vontade”. Isso eu acredito que vai ser um lugar, muito, muito especial, e todos que colaboram para construir, podem se ver recebendo graças em particular”, detalha.

Por que começar por Sergipe?

Para entender a escolha do frei, antes de tudo, é necessário retornarmos a cidade paulista de Guaratinguetá, onde Nelson Giovanelli, na Paróquia de Nossa Senhora da Glória, consagrou sua vida a Deus para dar início ao que hoje se conhece por Fazenda da Esperança. “Eu lembro que quando ele me pediu para fazer esses votos, ele perguntou se eu aceitava, claro, respondi. Mas, ele queria fazer os votos perpétuos, para sempre, eu disse não, a igreja é sempre prudente, você fica por um ano, depois por mais um tempo e aí sim faremos os votos perpétuos que será para a vida inteira. Ele não ficou muito contente e me perguntou: ‘Frei, quando eu sentir em meu coração esse desejo de me consagrar definitivamente eu posso?’, eu respondi: ‘Claro, você é livre!’, e assim ele fez. Mas essa radicalidade dele atraiu outros e essas pessoas começaram a viver como ele”, relembra o frei Hans. Entre as pessoas atraídas pela radicalidade do Nelson Giovanelli estão: Luci, Iraci, dona Aninha e os padres Luiz, Anderson e Cesar, membros da Fazenda da Esperança. Eles fizeram os primeiros votos em uma capela localizada no povoado Várzea dos Cágados, zona rural de Lagarto, no Centro-Sul de Sergipe, que havia sido construída pelo

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avô do Giovanelli, José Rosendo dos Santos. “Formou-se assim o primeiro grupo que assumiu esse novo estilo de vida e que, com o apoio do padre Mario, em Lagarto, fez com que surgissem muitas vocações. Hoje a Fazenda da Esperança conta com vários membros de Lagarto em sua comunidade. Então nada mais justo do que iniciar essa grande campanha para construir essa casa, chamado “Sim de Maria”, por aqui”, argumenta.

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Atualmente, a Fazenda da Esperança possui 139 unidades distribuídas em 23 países, sendo que mais 50 ainda estão em preparação para serem abertas. Tudo isso, de acordo com o frei, é o resultado do “Sim” dado pelo Nelson em Guaratinguetá, onde foi fundada a primeira Fazenda da Esperança no mundo. “Em Jerusalém, ficou claro que aquilo que começou como uma semente pequena é hoje uma grande árvore, e essa árvore se tornou visível. Aquela comunidade frágil de tantos

jovens passou para o mundo e se tornou esperança. Isso me deixa contente e espero que aumente sempre mais a esperança para os que estão sem esperança, pois o caminho é viver a palavra”, avalia. Por isso, com o objetivo de continuar mudando vidas através da palavra, o espaço denominado “Sim de Maria” será erguido ao lado do Santuário da Esperança, onde o então Papa Bento XVI visitou e abençoou a capela, durante a sua ida a Fazenda da Esperança das Pedrinhas,


em 2007. Na ocasião, ele afirmou que as Fazendas da Esperança eram o local onde o verbo se fez carne. Diante disso, o espaço integrará o Circuito Turístico Religioso do Brasil, composto pela Basílica de Nossa Senhora de Aparecida, pela Capela do Frei Galvão, pelo Santuário da Esperança e pela Canção Nova, em Cachoeira Paulista. Ainda na sua peregrinação por Sergipe, o frei foi questionado sobre a importância e o significado da obra para a comunidade religiosa internacional. Em resposta, o mesmo afirmou que tudo simboliza o renascimento da humanidade, que deixou de ser punitiva para ser mais amável. “Por causa do “Sim” de Maria, toda a humanidade mudou, porque recebemos depois esse Jesus e com ele um novo estilo de vida. Até lá no Antigo Testamento, era olho por olho e dente por dente, que ainda está dentro de nós esse desejo de julgar, querer justiça, mas Jesus trouxe um novo estilo. Sua palavra tem uma potência como uma bomba, e quem vive a palavra faz uma revolução como São Francisco e todos os santos que viviam na sua época”, explana.

Desafios na construção do Sim de Maria

No seio popular é comum a ideia de que “Deus dá o frio conforme o cobertor”, pois construir um espaço sagrado como o Sim de Maria exige muitos recursos financeiros, mas o frei afirmou que tem encontrado pessoas de bom coração que ajudam o projeto. Contudo, segundo ele, ainda há muitas pessoas que se indispõem a contribuir com obras de caridade. “Eu ando por esse Brasil e encontro pessoas muito generosas e pessoas que ainda são apegadas aos bens materiais, qual a diferença? Essas pessoas muito generosas são sempre bem felizes, porque pensam sempre em ajudar ao seu próximo, até os que têm bastantes condições financeiras, nós observamos que seus negócios progridem, a família é unida, ajudam creches, programas sociais, a igreja, estão sempre presentes em suas comunidades, contribuindo para o crescimento de todos, e os filhos seguem o exemplo dos pais. Agora, pessoas apegadas que só pensam em si, egoístas, estão sempre angustiadas e muitas vezes possuem muitos bens, mas são infelizes, não se contentam com o que têm, pensando que irão viver para eternidade. Só pensam em ganhar mais e mais”, detalha. Para lidar com esta situação, o frei Hans afirmou que sempre lembra da hora da morte, “porque Deus só irá fazer a seguinte pergunta: ‘Se demos de comer a quem tinha fome, se visitamos quem estava preso, se vestimos quem estava nu, se matamos a cede de alguém... Ele olha cada pessoa indistintamente e sua capacidade de amar, porque ele é amor”, justifica. Partindo deste ponto, o frei resumiu a sua passagem pelo menor estado brasileiro com muita felicidade, uma vez que ficou comovido com as demonstrações de fé encontradas no seio da população. “Aqui em Sergipe nos encontramos com alguns amigos, primeiro para gerar a presença de Jesus em meio, mas também com esse desejo de encontrar pessoas com esse coração desapegado, que pensa no outro, e assim de uma forma muito concreta poder ajudar financeiramente com a construção do espaço chamado “Sim de Maria”. Além disso, estou bastante contente em ver pessoas tão boas e generosas, gente humilde com pouco ou com muito, mas tementes a Deus e devotos de Nossa Senhora. Vendo os frutos dessa nossa peregrinação pelo estado de Sergipe, estou convicto que nosso Brasil tem uma maioria de pessoas que pensam no bem do próximo. Por isso tenho a certeza que ele seguirá sempre em frente”, encerra.

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Fotos: Adilson Andrade/Ascom UFS

|| EDUCAÇÃO ||

CAMPUS DE LAGARTO FORMA PRIMEIRA TURMA DE MEDICINA

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Por Ana Laura Farias

campus de Lagarto da Universidade Federal de Sergipe tem agora sua primeira turma de Medicina formada. A cerimônia foi realizada em 28 de agosto e comandada pelo reitor Angelo Antoniolli. Com a formatura, a unidade de ensino passa a ter turmas de todos os cursos já concluídos. O campus é formado por oito cursos: Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina, Nutrição, Odontologia e Terapia Ocupacional.

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O reitor da UFS, Angelo Antoniolli, destacou a importância de concluir um ciclo no campus Lagarto. É importante observar que a vitória é da UFS, que agora tem todos os cursos com turmas formadas, mas também da inclusão social, com estratégias de permanência dos alunos na universidade pública. Estamos muito orgulhosos”, observa. O ex-reitor Josué Modesto considerou a noite “memorável”. “O que fica é a sensação de dever cumprido”, pontua. A professora Adriana Carvalho destacou que a formatura é uma vitória coletiva. “O momento é de celebrar os

formandos e o campus, mas também os familiares, que são peças fundamentais nesta caminhada. Sei que vocês terão um ótimo futuro pela frente. Vocês tiveram os melhores professores e conhecem bem a realidade da saúde da região”, pontua. Um desses formandos foi o médico João Costa, que destacou que a noite era a materialização de um sonho. “Lembrei toda a trajetória (minha e da minha turma). Agora, tenho que focar no que virá pela frente”, pontua. A história de João da Costa, do município de Simão Dias, foi pauta do noticiário estadual e nacional, em julho deste ano.


A cerimônia também contou com a professora Zulmira Rezende, egressa da primeira turma de Medicina da UFS (à época, Faculdade de Medicina). “Uma formatura de Medicina é um marco porque traz também o reconhecimento e proporciona uma melhoria no atendimento médico e também na inovação tecnológica. Além, claro, de ser uma oportunidade para que os médicos da região possuam atuar perto da família, sem necessariamente se deslocar até a capital”, pontua. Zulmira é mãe da professora Karla Rezende, chefe do Departamento de Medicina de São Cristóvão, que considerou a formatura “um marco para a Medicina estadual”. “É uma conclusão que legitima Lagarto como um polo médico e científico”, observa. O campus de Lagarto da UFS é diferenciado pela abordagem pedagógica. O campus utiliza metodologias ativas, proposta que foge ao esquema tradicio-

nal de aluno-professor-quadro-sala de aula e traz a Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP), no qual os estudantes são expostos, durante os tutoriais, a situações-problema dentro da área de saúde e devem, por meio de estudo contínuo, trazer soluções para a questão proposta pelos docentes. A multidisciplinaridade também é estimulada desde o início de cada um dos cursos. Durante o primeiro ciclo (primeiro ano) de aulas, os alunos de todos

os cursos passam, juntos, pelas mesmas experiências, vinculados ao Departamento de Educação em Saúde. Somente após esse ano, eles passam para os conhecimentos específicos de cada habilitação. A integração ultrapassa os muros da universidade. Com ações diretas nos territórios, os alunos realizam a Prática de Ensino com a Comunidade (PEC), acompanhados por agentes de saúde da região. A solenidade contou com a presença do secretário estadual de Educação, Josué Modesto (reitor à época do planejamento), e implantação do campus, a diretora do campus, Adriana Carvalho, os pró-reitores de Assistência Estudantil, Mário Adriano dos Santos, e de graduação, Dilton Maynard, da professora Mércia Barbosa, da Universidade Estadual de Santa Cruz, o diretor pedagógico Frederico Leão Pinheiro e a chefe do Departamento de Medicina Rosiane Andrade Lima. A cerimônia contou com apresentação da orquestra da UFS.

“É importante observar que a vitória é da UFS, que agora tem todos os cursos com turmas formadas, mas também da inclusão social, com estratégias de permanência dos alunos na universidade pública” Reitor da UFS, Angelo Antoniolli

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|| RELIGIOSIDADE ||

CARMELO DA IMACULADA CONCEIÇÃO O paraíso dedicado à oração que é mantido pela Providência Divina

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no número 253, da Rua Dom José Palmeira Lessa, no município de Propriá, situado no leste sergipano, que encontramos o Carmelo da Imaculada Conceição. O prédio de dois andares, arborizado, apesar do clima semiárido, e com uma capela alusiva a Imaculada Conceição, instalada próximo ao portão principal, abriga 15 monjas carmelitas. Elas vivem num silencioso e profundo claustro dedicado a oração. Nesse ambiente, todos os filhos de Deus são bem-vindos, mas nem todos podem adentrar, somente os Bispos e alguns Padres Carmelitas. Isso acontece, porque o objetivo daquele ambiente é servir como uma casa contemplativa, e a barulheira causada pelo entra e sai de pessoas impossibilitaria as irmãs de se aproximarem de Deus através da oração.

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Por isso, a obra fundada por Santa Teresa de Jesus, é vista entre as monjas como o “céu para quem procura viver somente para Deus”. Consequentemente, as irmãs vivem consagradas a Deus pela Igreja com os votos de Castidade, Pobreza e Obediência. Essa dedicação absoluta ao sagrado pode ser entendida por muitos leigos como uma atitude de extrema radicalidade. De acordo com a Irmã Teresa Benedicta, uma das sete fundadoras do Carmelo em Sergipe, a obra da Reforma Teresiana foi inspirada por Deus a Santa Teresa de Jesus com o objetivo de retornar as fontes de suas origens no Monte Carmelo, uma vida de total oração e intimidade com Deus. “Em 1515, nasce Santa Teresa de Jesus também conhecida como Santa Teresa D’Ávila. Ela ingressa no Carmelo da Encarnação, onde viviam 180 monjas, e

Deus faz um caminho com ela, no qual vai levar a uma reforma no Carmelo. Isso aconteceu após o Concílio de Trento, período no qual houve muita decadência na vivência da vida religiosa em geral, mas, inspirada pelo Espirito Santo, ela realiza a Reforma, hoje conhecida como Reforma Teresiana. Nesse período Santa Teresa foi muito perseguida e trabalhou muito em prol do novo Mosteiro e, em 24 de agosto de 1562, ela sai do Convento da Encarnação e começa a Reforma Teresiana na qual os Mosteiros teriam apenas 13 monjas onde iriam viver enclausuradas em oração, e não mais 180 como tinha no Convento da Encarnação. Com a ação de Santa Teresa, a árvore Carmelitana foi dividida entre o Tronco da Antiga Observância e os Carmelitas Descalços, composta por frades dedicados exclusivamente a oração e a espiritualidade. Os Mosteiros Teresianos Femininos ou seja, as Carmelitas Descalças, se encontram espalhadas pelo Brasil em número de 57 Mosteiros. Por sua vez, os Mosteiros Femininos da Antiga Observância no Brasil são apenas em número de três. A Reforma Teresiana ocorreu há quase 500 anos, na Espanha, e chegou ao Brasil, no século XVII, mais precisamente no Rio de Janeiro, devido ao sentimento carmelitano que surgia nas mulheres da época. “Na época, a pessoa que se sentia movida para ser carmelita tinha que procurar o Bispo do Rio de Janeiro, e ele havia pedido uma autorização para fundar uma Ordem das Clarissas, mas elas queriam ser carmelitas e como resultado, elas foram para Portugal ver como as carmelitas viviam. Quando a licença chegou, era para um Mosteiro Carmelita e não para o Mosteiro de Clarissas. Desta forma o Carmelo Feminino Descalço chegou ao Brasil.

A intercessão de Deus pelo Carmelo de Propriá

Ainda sobre o surgimento da obra, a citada Irmã contou a reportagem da Revista Tribuna Municipal que foi do Carmelo do Rio de Janeiro que surgiram várias outras fundações, a exemplo do Carmelo de Camaragibe, em Recife,


Fundadora do Carmelo de Propriá, irmã Maria do Carmo

a primeira obra contemplativa do norte e nordeste brasileiro, de onde saiu o Carmelo da Imaculada Conceição para Propriá. Contudo, isto somente foi possível graças à insistência do então Bispo da Diocese de Propriá, Dom José Palmeira Lessa, e da intercessão do próprio Deus. A saber, o debate em torno da fundação de um Carmelo em Sergipe teve início em 1988. Na época, o Carmelo de Camaragibe estava fechado, porque havia atingido sua lotação máxima, enquanto os padres da região defendiam a expansão da obra. Mas as freiras nunca deram ouvidos a ideia de expansão, primeiro pelas dificuldades financeiras e segundo porque algumas irmãs estavam acamadas precisando de ajuda. Neste ambiente, Dom Lessa apareceu com o propósito de fundar uma casa contemplativa na Diocese de Propriá em Sergipe, o que gerou muitos murmurinhos dentre as irmãs. Entretanto, eram tantas dificuldades que o assunto logo caia no esquecimento, mas o clérigo persistiu. “Conversa vai conversa vem, disse-

mos que não tínhamos como fazer uma fundação e mostramos a nossa realidade. Ai ele disse que não aceitava e que deveríamos rezar mais. Ele disse que só aceitaria o não depois que rezássemos exclusivamente sobre o seu pedido de fundação de um Carmelo em Propriá, mas as coisas foram se complicando ainda mais e ninguém nem lembrava, porque ficava muito puxado. Mas teve as eleições comunitárias e a Ir. Maria do Carmo, até então Priora daquela Comunidade deixou as funções de Priora e a Ir. Teresa de Jesus assumiu o novo priorado. Nessa ocasião e vendo a insistência de Dom Lessa, ela pediu para a Comunidade parar e rezar a fim de fazer o discernimento necessário sobre o pedido de uma Fundação. Então a Comunidade dedicou o mês de outubro a oração, para ver se a fundação era ou não a vontade de Deus. No final do mês, a Madre Teresa fez a reunião comunitária e se constatou que ninguém queria a fundação, mas... Deus queria e o engraçado era o que todas falavam: ‘Eu não quero, mas Deus quer’. To-

das falavam assim e se percebia que era a vontade de Deus. Então a comunidade disse sim e quando Dom Lessa mais uma vez chegou ao Carmelo de Camaragibe, em outubro, perguntando pela resposta, a Madre Teresa disse que sim, porque apesar da comunidade não querer, tínhamos visto que era a vontade de Deus”, relembra a Ir. Teresa Benedicta. Após dizer o sim, todas as irmãs voltaram a rezar para definir quais delas iriam para a fundação em Sergipe. Naquele cenário, as irmãs Maria do Carmo e Ir. Maria de Santana já estavam confirmadas, porque ambas sonhavam com o que estava para acontecer. E assim, na reunião comunitária seguinte, as irmãs foram se disponibilizando a embarcar na empreitada, até que ficaram definidos os nomes das fundadoras: Irmã Maria do Carmo do Santíssimo Sacramento, Irmã Maria de Santana, Irmã Maria Francisca Teresa da Eucaristia, Irmã Maria das Graças da Santíssima Trindade, Irmã Maria Consuelo da Santa Face, Irmã Teresa Benedicta da Cruz e Irmã Joana da Cruz.

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|| RELIGIOSIDADE || Quando tudo ficou decidido, e o grupo fundador recebeu da Comunidade Mãe a imagem da Imaculada Conceição, São José e a Bíblia Sagrada, as citadas irmãs deram início à papelada necessária para a instalação do novo Carmelo em terras sergipanas, uma vez que as irmãs enfermas foram morrendo durante o período de reflexão sobre a empreitada motivada pelo Bispo de Propriá. “Inclusive levou a mãe de nossa Madre Fundadora Ir. Maria do Carmo, que sofria com o dilema em deixar sua mãe idosa e com problemas de saúde muito sério”, destaca. Após tantas idas e vindas, as irmãs desembarcaram em definitivo no estado de Sergipe no dia 6 de janeiro de 1991. Era dia da Epifania – dia de Reis - e, após a Santa Missa celebrada na frente da Catedral Diocesana as Irmãs fundadoras juntamente com os Sacerdotes presentes e os fiéis, seguiram em procissão com o Santíssimo Sacramento da Catedral até a sede provisória do Carmelo na Rua Marechal Deodoro onde hoje funciona o Colégio São Gabriel. Quatro anos mais tarde, Dom José Palmeira Lessa, foi nomeado Arcebispo de Aracaju onde foi morar, e tomou posse da Diocese de Propriá, Dom Mário Rino Sivieri, que, com seu espírito empreendedor abraçou a causa de conclusão da construção do prédio do Mosteiro da Imaculada Conceição, e para isto recorreu a Ajuda à Igreja que Sofre, por intermédio do Frei Hans Stapel,ofm, e assim, os dois concluem a obra da edificação do citado Carmelo, que Dom Mário inaugurou e consagrou a Capela no dia 17 de Novembro de 1999. “Dom Mario é um pai. A gente dizia que uma pupila dos olhos de Dom Mário era a Fazenda da Esperança e a outra era o Carmelo de Propriá. Ai ele respondia: ‘Vocês são muito convencidas!’ (risadas)”, comenta a Ir. Teresa Benedicta.

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A vida no Carmelo da Imaculada Conceição

Prestes a completar 28 anos de fundação, a vida no Carmelo da Imaculada Conceição é totalmente dedicada à oração. Tanto é que das 04:30hs. às 21:00hs., as irmãs dedicam 10 momentos do dia entre oração pessoal e comunitária, enquanto um terço das manhãs destina-se aos trabalhos de manutenção da casa, os quais consistem na fabricação de Velas Litúrgicas e Ornamentais, Círio Pascal, Velas para o Natal, Imagens de gesso e pinturas, e também a Restauração de imagens. “Tudo que fazemos é sempre em oração e em silêncio”, pontua a Ir. Teresa Benedicta. Nessa rotina de intensa oração, as irmãs têm dois momentos ao dia que chamam de Recreio e se resume em momentos de lazer, de convivência fraterna sempre acompanhada de um trabalho manual, sendo a primeira hora depois do almoço e a segunda depois do jantar. Como disse esses momentos são chamados de recreio e são os únicos em que se pode vê-las conversando e brincando entre si. O lindo na vida comunitária é a diversidade na unidade. Além disso, o Carmelo, como muitas obras religiosas, passa por dificuldades financeiras, uma vez que o trabalho de produção e comercialização dos artigos e serviços supracitados têm somente alguns períodos de venda, como na Páscoa e no Natal. Entretanto, a obra é a prova viva de que Deus não abandona os que deixam tudo para segui-LO. “O dinhei-

ro das vendas dos nossos produtos não mantém a obra. Nós temos quatro aposentadorias e a ajuda de algumas pessoas que contribuem como podem, através de um carnezinho chamado “Amigos do Carmelo”. Ele foi criado após um pedido de amigos que costumam frequentar a nossa Capela, então mensalmente eles contribuem conosco como podem e, para retribuir, todo final de ano é celebrada uma missa para eles que, formam conosco a ‘a família do Carmelo’”, acrescenta a Ir. Teresa Benedicta.

A unidade na diversidade

Nesses 27 anos, o Carmelo de Propriá foi palco de muitas perdas. Tanto é que das sete fundadoras, somente quatro ainda persistem na obra, uma vez que a Irmã Maria do Carmo, primeira Madre Superiora, morreu em abril deste ano; a primeira que Deus levou foi a Irmã Maria de Santana em 1994. Além delas, a Irmã Joana da Cruz foi chamada pela Ordem para ajudar no Carmelo de Conde (PB), onde permanece até os dias atuais, enquanto que, a Irmã Consuelo decidiu largar a vida religiosa. “Eu não sei o que a fez sair. Mas penso que se você se afasta da sua vida de oração, de intimidade com Deus, então a vida no Carmelo vai perdendo o sentido, você vai se envolvendo com outras coisas até você perceber que não tem mais sentido permanecer onde está. Então para que ficar? É difícil essas situações, nãodá para julgar...é uma falta de fidelidade a Deus?...à sua vocação?...Não dá para ter uma resposta precisa... cada caso é um caso e cabe só a Deus julgar. A vida Comunitária sempre foi e será um desafio.” conclui a Ir. Teresa Benedicta. Contudo, diante de tantas dificuldades de ordem financeira e até mesmo pessoal, fica a pergunta: Afinal, o que as mantêm unidas? Para a Ir. Teresa Benedicta, a resposta é somente uma: O amor de Cristo. “Se não for o amor dele,


ninguém consegue ficar, morar dentro de uma clausura. Santa Madre diz que: “entre os que se amam não há nada que não possa ser perdoado”, esta é uma realidade vivida por todas as Comunidades Religiosas que em sua base busca ajudar a fazer crescer a pessoa em sua totalidade humana e espiritual.

O Carmelo e as experiências com Deus

Muitos aspectos de ordem divinamente espiritual têm marcado essas quase três décadas do Carmelo de Propriá. Essas experiências com o próprio Deus vêm desde o seu surgimento, passando pelo ingresso das irmãs na fundação e pelos relatos de fé que aquela casa guarda consigo. Um desses exemplos é o da Ir. Teresa Benedicta, que acompanhou nossa reportagem durante toda a estada no Carmelo. Ela que, quando jovem nunca foi de frequentar a Missa e que adorava brincar, viajar etc., viu sua vida mudar da água para o vinho quando foi apresentada ao Cristo Crucificado, na Função Litúrgica da Sexta-Feira da Paixão. “Na hora de adorar a cruz, eu entrei na fila sem saber o que era e, quando cheguei lá, o Padre me apresenta o Crucificado para beijar. Nessa hora, eu comecei a chorar sem entender o que estava acontecendo. Quando foi no Domingo de Páscoa, tinha 24 anos, meu noivo chegou e perguntou o que houve, porque eu estava diferente e não percebia. Isso aconteceu porque eu tive uma experiência com Deus na minha vida e eu só vim perceber isso com o passar do tempo”, relata a irmã acrescentando que foi esse conhecimento que a fez terminar o noivado e afastar-se das funções que exercia no Banco do Nordeste e ingressar no Carmelo de Camaragibe, em Recife, no ano de 1982. “Eu senti falta da minha casa sim, da minha família, sobretudo porque minha família dependia do meu salário. Contudo, Deus fez a Sua parte... como?! no ano que entrei no Carmelo, uma de minhas irmã começou a trabalhar e logo depois a caçula começou a trabalhar também. As-

sim, Deus foi resolvendo tudo para que eu viesse para o Carmelo. Quando entrei para fazer a experiência naqueles três meses, era um dia de muita chuva, e, quando passei pela porta da clausura, a Priora da época, Madre Margarida me segurando pelo braço levou-me ao centro do claustro disse: ‘Olha quem está te esperando!’, e me mostrou o Crucificado que ficava no centro do claustro. Aquele momento eu não esqueço, ficou gravado em minha mente e em meu coração até os dias de hoje e senti uma alegria muito grande”, relembra. Daí vem meu nome ser Ir. Teresa Benedicta da Cruz, porque sempre me senti “abençoada=Benedita”.

O legado de uma vida dedicada à oração

Dentro da clausura, a Ir. Teresa Benedicta pode conviver com a Irmã Maria do Carmo, fundadora da obra. Ela é tida como o maior exemplo de fé que já passou pelo Carmelo de Camaragibe e também de Propriá. Segundo a Irmã Maria de Jesus, atual Priora do Carmelo de Propriá, ela possuía uma conexão muito forte com Deus e procurava, sem dizer uma palavra sequer, conduzir todas as irmãs e as ações da comunidade pelo caminho da oração. “Eu sempre a admirei, porque ela dizia que o nome de Jesus para ela já era uma oração. Então eu pensava: ‘Meu Deus, que alma forte! ’. Desde então busco Jesus como ela, porque a palavra dela era a vida. Ela não falou muitas coisas, apenas mostrou com a sua própria vida.

Tanto é que às 03:30hs. da madrugada, ela já estava recolhida em oração no Coro, antes mesmo do Ofício Divino e da oração pessoal que começa às 05:00hs. Isso foi assim em toda a sua vida e não perdia um ato comunitário. Ela não era somente presente, como também uma animadora da comunidade. Por isso, a figura dela é demasiadamente importante, porque ela deixou o legado da fidelidade da oração e da vida em Jesus, de buscar as soluções dos problemas no Sacrário onde Jesus está presente. Ele é a solução para tudo”, assim afirma a Irmã Maria de Jesus, hoje Priora do Carmelo de Propriá. Conhecida, entre outras coisas, como uma religiosa fiel e uma mulher de fibra, a saudosa Irmã Maria do Carmo dedicou 67 dos seus 93 anos de vida a Jesus, através da vida de oração no Carmelo. Entre as últimas lembranças, a Madre Maria de Jesus destaca a força da sua devoção diante da demência que a idade lhe impusera. Quando tocava o sino para qualquer Ato Comunitário ela dizia: ‘Vamos! É o oficio né?’. Ela já não conseguia mais segurar o breviário, mas não perdia um Ofício. Isso para mim é tudo! Ela estava lá, era a Irmã no teclado tocando e ela acompanhando com as mãos . Além disso, ainda na velhice, ela cantava acompanhando a Oração Comunitária. Essa experiência era tão forte, que as irmãs ainda hoje sentem a presença dela em nosso meio. Por isso dizemos que Ir. Maria do Carmo não morreu, mas continua presente entre nós. Ela vivia falando que tudo passa e “Só Deus Basta!”, até em seu leito de morte. Então ela é uma experiência viva que ficou e permanece no meio de nós”. Destaca a Madre Maria de Jesus. Mesmo em meio as dificuldades e limitações de sua idade avançada, o testemunho de vida da Ir. Maria do Carmo, permanece e serve de inspiração para as irmãs que habitam este Carmelo de Propriá, simplesmente, porque assim como a saudosa irmã, elas também são, como afirma a Madre Maria de Jesus, “prisioneiras do amor e de Cristo” e “filhas da Igreja como dizia a nossa Santa Madre Teresa de Jesus” a serviço da Igreja, dos Sacerdotes e, particularmente da Igreja em Sergipe e de modo especial à Diocese de Propriá-SE.

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|| TURISMO ||

FOZ DO VELHO CHICO Um passeio obrigatório para os amantes do ecoturismo

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om 2.830 quilômetros, o São Francisco é o maior e o único rio genuinamente brasileiro. Em seu percurso, que parte da Serra da Canastra, em Minas Gerais, e segue até a divisa dos estados de Sergipe e Alagoas, o mesmo banha mais de 500 municípios brasileiros gerando energia e riquezas, através da pesca, da agricultura e também do turismo. Isto se deve não somente aos seus recursos naturais, mas também as belezas que somente ele é capaz de dar aos turistas que o procuram em suas mais diversas viagens pelo sertão nordestino. Contudo, por ser um dos mais ricos e caudalosos rios, o Velho Chico já não bate mais no meio do mar, como cantava Luiz Gonzaga, devido à ação do homem, o que torna a visita dos amantes do ecoturismo mais do que obrigatória a sua foz, localizada entre os municípios de Brejo Grande, em Sergipe, e Piaçabuçu, em Alagoas. É simplesmente impressionante o encontro do gigante brasileiro com o Oceano Atlântico. Segundo a guia turística Cristiane Marques, “o que mais chama a atenção dos turistas, sem dúvida, é essa paisagem que é única, que é bucólica e o impacto ambiental que o rio vem sofrendo desde o seu descobrimento”, conta. Para chegar à foz através das agências de viagens, o turista deve ir até Ma-

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ceió, onde lhe será oferecido os “receptivos locais”, que inclui o passeio rumo ao encontro do gigante com o mar. O trajeto até Piaçabuçu, situado no extremo sul de Alagoas, leva pouco mais de duas horas e trinta minutos pela costa alagoana. Após o desembarque, o turista pode desfrutar da culinária local nos restaurantes a beira do rio e embarcar nos típicos barcos da região rumo à foz, ao som de ritmos característicos do nordeste. Na embarcação, o turista navega pelas águas do Atlântico, que já avançou 20 Km sobre o rio, que resiste como pode não deixando, por exemplo, que as águas fiquem completamente salgadas. Esse é somente um dos reflexos dos abusos cometidos com o Velho Chico. “Devido às oito hidrelétricas instaladas em seu curso, as fábricas e a própria ação do tempo, o rio perdeu suas forças para jogar os sedimentos que recebe dos rios ciliares dentro do oceano. Isso acabou formando ilhas, o famoso assoreamento, que impossibilitam as embarcações de pequeno porte navegarem. Em cinco anos como guia turística, já vi os trajetos serem mudados mais de três vezes, porque os canais já não comportavam as embarcações”, acrescenta Christiane. Entre as ilhas formadas está a Ilha da Assassina, situada no lado alagoano. Segundo o pescador e líder quilombola da Comunidade da Resina, Chicão, loca-


lizada no interior do município sergipano de Brejo Grande, “nessa ilha morava uma família normal, até o dia em que a mulher, por algum motivo, se desentendeu com o marido e o matou com uma faca e depois ateou fogo na casa. Foi uma briga feia”. Certamente essa é mais uma das mil histórias que o Velho Chico guarda consigo e que são passadas de geração para geração, principalmente entre as famílias das comunidades ribeirinhas que dele vivem no lado sergipano. Já no ponto de atracagem, o turista se depara com uma bela feira ao ar livre, composta por comerciantes dos dois estados brasileiros. Eles comercializam artesanato, que são produzidos no município de Santana do São Francisco (SE), cocadas de todos os tipos e gostos, além é claro do churrasco de peixe retirado do rio. O ambiente o convida para relaxar, mas, por estar situado na foz do rio e sobre as únicas dunas móveis do mundo, é comum ver os turistas sumirem no horizonte. Uma vez que é neste sumiço que eles podem apreciar, à distância, o antigo Farol do Cabeço, que, apesar de abandonado, ainda resiste as pancadas do mar, bem como o fantasmagórico povoado Cabeço. Para os vendedores locais, a força do mar tem diminuído o tamanho das dunas e põem em risco o futuro daquele ambiente, que segundo eles sumirá em poucos anos. Mas a guia turística explicou a Revista Tribuna Municipal o motivo desta sensação. “Não é que a região está encolhendo, é que as dunas são móveis, de modo que cada nova visita é uma surpresa. A paisagem mudou um pouco, mas elas se acomodam de acordo com o vento e a ação do mar”, esclarece.

Dos sentimentos que o rio causa

Dos poucos turistas que visitam o local, estava à jornalista mineira Mônica Queiroz, de 30 anos. Ela contou que chegou a foz do rio São Francisco sem o intermédio das agências de turismo. “Minha mãe é pernambucana e nós sempre fazemos a viagem pela BR-101 ou por Penedo. Nós sempre passamos direto para Recife, e sempre tivemos a curiosidade de conhecer a foz. Ano passado fui para Aracaju conhecer os Cânions e ai marcamos de vim para a foz, porque era o interesse geral da família”, relembra. Ainda na entrevista, a jornalista afirmou que valeu a pena ter conhecido o local de descanso do maior rio brasileiro e defendeu a publicidade do local para a sua preservação. “Eu sou de Minas e sei bem o que é ver o rio morrer. Mas, continuo achando ele lindo e espero que continue e seja mais lindo do que é. [...] Como turista estou apaixonada, mas como curiosa estou impressionada. É uma impressão que nos deixa triste e que os turistas devem saber dessa história, para compartilhar informações com os que fazem um turismo ecológico, a fim de contribuir com a preservação”, salienta. Para a guia turística, trabalhar na foz do Velho Chico lhe causa um boom de sentimentos. “Eu fico triste pelo lugar e feliz por trazer o turista até aqui, porque ele sai daqui com uma outra forma de pensar esse recurso natural que é a água. Então quando ele vem, ele volta relaxado e com outra visão ambiental”, comenta. Já para os comerciantes locais, o rio significa tudo e, por isso, leia-se sobrevivência. “Se não fosse isso, tudo ficaria mais difícil porque eu não tinha como trabalhar, a pescaria tá fraca e aqui dá pra arrumar alguma coisa”, disse Paulo Sérgio, quilombola, comerciante de artesanato, e pai de três filhos que lhe ajudam na vendagem.

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|| MEIO AMBIENTE ||

RIO SÃO FRANCISCO JÁ NÃO BATE NO MEI DO MAR Uso exagerado dos recursos naturais tem ameaçado a vida na foz do Velho Chico

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e o Rei do Baião, Luiz Gonzaga (1912 – 1989), ainda fosse vivo, infelizmente, seria obrigado a alterar a letra da música Riacho do Navio, pois, diferentemente do que era visto nas décadas de 1950, 1960, 1970 e 1980, o rio São Francisco já não bate mais no meio do mar. Ao invés disso, as águas do Oceano Atlântico avançaram 27 km rio adentro, prejudicando a vida de centenas de comunidade ribeirinhas que dali ainda procuram tirar o seu pão de cada dia. Neste cenário, quem mais tem sentido a precoce morte do Velho Chico é a comunidade quilombola da Resina, situada no município sergipano de Brejo Grande, extremo norte do estado. Ela, além de ser uma das quatro comunidades do complexo quilombola de Brejão dos Negros, é composta por 51 famílias reconhecidas pelo Instituto Nacional da Colonização e Reforma Agrária (INCRA), que vivem exclusivamente da pesca e de benefícios como o Seguro-Defeso e o Bolsa Família. Além disso, elas são obrigadas a recorrerem ao carro pipa para terem acesso à água doce, uma vez que a invasão do mar acabou salgando as águas que antes serviam para tudo. Para o pescador e líder-quilombola da Resina, José Francisco Pocidônio dos Santos, o popular Chicão, de 48 anos, a precoce morte do Velho Chico se deve ao uso exagerado e, por vezes, indiscriminado das suas águas. Entre os principais fatores estão: à transposição, à canalização das águas para as fazendas da região e o represamento das águas nas nove usinas hidrelétricas instaladas no curso do rio. “Com isso, hoje aparecem peixes como a Tainha, o Robalo, e a Carapeba. Todos os peixes do mar a gente pega aqui”, acrescenta.


Quem mais tem sentido a precoce morte do Velho Chico é a comunidade quilombola da Resina

“A nossa comunidade vive tomando água de carro pipa mesmo morando na beira do rio. É uma triste ironia”, lamenta Dona Vânia, quilombola de 55 anos, que há 21 foi obrigada a se afastar do leito do rio, uma vez que as águas do Atlântico também têm invadido as terras sergipanas e destruído as casas erguidas ao seu redor. “Antes dava preguiça de ir à praia e hoje ela está aqui”, comenta. Com a proximidade do mar, os quilombolas perderam grande parte das suas plantações de arroz, além dos tempos de fartura em que era possível retirar centenas de quilos de peixe do Velho Chico. “Atualmente, produzimos uma média de dez a cinco quilos de peixe. Desse volume, uma parte tiramos para comer e outra vendemos. Os demais alimentos a gente compra na feira livre de Ilha das Flores”, detalha Chicão.

A comunidade fantasma

Com o objetivo de conhecer de perto os avanços do mar sobre o São Francisco, a reportagem da Revista Tribuna Municipal embarcou em singela lancha de madeira movida a motor, guiada pelo Chicão. No percurso de 19 Km pelas

águas do Atlântico até o povoado Cabeço, é possível notar o enfraquecimento do Velho Chico que ainda persiste ao não permitir que aquelas águas fiquem fortemente salgadas. Ainda na viagem, pode-se observar manguezais com seus seres plenamente adequados as mudanças que lhes foram impostas, além de uma tradicional fazenda, localizada em uma pequena ilha, com igreja e cemitério totalmente abandonados. “Essa é uma das melhores ilhas do estado, pois é banhada pelo rio Arambipe e pelo mar que tem avançado sobre ela”, comenta. Entretanto, por medidas de segurança, a pequena embarcação não pôde atracar na Ilha do Arambipe e seguiu até o Farol do Cabeço, localizado no povoado Cabeço, zona rural de Brejo Grande. Ele foi construído em 1876 e durante muitos anos serviu de referência para as embarcações que necessitavam de um norte para navegar nos 238 Km do baixo São Francisco. Hoje, o velho farol está completamente enferrujado e já não permite mais a entrada de turistas, devido as suas danificadas estruturas que ainda resistem as pancadas das ondas do mar.

Contudo, o Farol do Cabeço consegue sintetizar o ambiente fantasmagórico em que vive o povoado Cabeço. “Devido à invasão do mar, as pessoas que aqui moravam decidiram ir embora. Uns nem quiseram destruir suas casas e outros somente aparecem nos finais de semana para curtir enquanto o mar ainda permite”, conta Chicão. Mas é andando sobre a abandonada comunidade que o pescador lamenta a saída de um conhecido. “Aqui morava um velho de 70 anos que ama esse lugar, mas saiu por causa do mar”, destaca. Andar pelo povoado Cabeço é como andar em círculos e em meio a casas de taipa, barracos de madeira, cajueiros e manguezais. Mas o local ainda possui algumas construções de alvenaria que o mar ainda não conseguiu destruir, a exemplo de um espaço dedicado ao Bom Jesus dos Navegantes.

A devoção a Bom Jesus dos Navegantes

O espaço dedicado a Jesus Cristo invocado sobre o título de Bom Jesus dos Navegantes não possui cadeiras, iluminação. Não possui nada. Apenas um altar com uma pequena imagem do santo protetor e também padroeiro de algumas cidades do baixo São Francisco. Entretanto, apesar do abandono do local, Chicão relembra que o espaço ainda costuma ser alvo de peregrinações. “´Nós, pescadores, nos identificamos com ele, então costumamos pedir a sua benção e proteção para entrar no rio. Por isso ainda é realizada algumas procissões que partem do rio e encerram aqui, mesmo estando desse jeito”, conta o líder quilombola. No baixo São Francisco, a devoção a Bom Jesus dos Navegantes foi trazida pela Família Real, em 1808. Tanto é que o santo possui uma catedral instalada no município sergipano de Propriá, e sua festa, que possui mais de 110 anos, costuma reunir, anualmente, centenas de devotos dos estados de Sergipe e Alagoas. Eles saem em procissão pelas águas do Velho Chico agradecendo, pedindo proteção e fazendo orações.

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Casal Chicão e Cida, líderes do quilombola

“Eu não troco esse lugar por capital alguma. Aqui nós estamos livres para pescar e fazer tudo sem se preocupar. Sem falar que aqui é muito tranquilo. Devagar a coisa vai andando”, Chicão.

Um paraíso amado pelos seus filhos Assim pode ser definido o Complexo Brejão dos Negros, localizado nas margens do rio São Francisco. O local é composto pelas comunidades da Resina, Saramém, Carapitanga, Brejão dos Negros e Brejo Grande. Elas são responsáveis por abrigar um total de 419 famílias que não arredam o pé do local, considerado um dos maiores focos de tensões agrárias do estado. A tensão na região é ocasionada devido à ocupação por fazendeiros e grileiros, nas áreas identificadas pelo estudo antropológico e demarcadas pelo INCRA, para assegurar a preservação cultural e garantir o desenvolvimento socioeconômico das famílias quilombolas. Mas a resistência, bem como as conquistas é fruto do trabalho de uma mulher: Maria Aparecida Vieira Xavier, a popular Cida, quilombola de 50 anos e esposa de Chicão. Segundo relatos, a luta pela demarcação da área quilombola pelo INCRA foi iniciada por ela, logo depois da sua união com Chicão. Na época, ela buscou o apoio de diversas instituições para fazer frente às oligarquias locais, a exemplo da Caritas e da Diocese de Propriá, liderada por Dom Mario Rino Sivieri. “Até hoje

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não conseguimos nada, porque queríamos qualquer coisa. Mas, em 2008, adquirimos a energia; depois de muito tempo a escritura dos terrenos para podermos morar”, rememora. Cida ainda confidenciou a Revista Tribuna Municipal que foi trabalhoso unir todos os quilombolas em prol dos seus direitos. “Essa região era formada por fazendas e nós vivíamos quase em regime de escravidão. Mas quando decidimos lutar, os fazendeiros começaram a fazer a cabeça de alguns negros dizendo que éramos ladrões, etc. Por isso que muitos deles se recusavam a lutar conosco, mas persistimos e conseguimos vencer, apesar das diversas ameaças”, relembra. Atualmente, cada comunidade quilombola do citado complexo possui uma associação. Na do povoado Resina, os jovens já foram inclusos na direção destas com o objetivo, segundo Cida, de não permitir que os direitos das futuras gerações sejam perdidos. Diante disso, a jovem Iara Machado, de 21 anos, secretária da Associação dos Pescadores Artesanais do Povoado Resina, afirmou que o ingresso dos jovens é uma medida necessária

para a manutenção dos direitos para as futuras gerações. “A maioria da direção da associação é formada por jovens, porque a gente quer ganhar a experiência dos mais velhos e, futuramente, já saber o que fazer quando não tiver mais a quem recorrer”, argumenta. De acordo com ela, a juventude está lutando para estruturar os povoados com postos de saúde, saneamento básico e pavimentação, uma vez que as crianças costumam sofrer com doenças ligadas aos vermes. “Aqui o pessoal acha que ter verme é normal e não é”, acrescenta. Contudo, diferentemente dos grandes centros e pequenos urbanos de Sergipe, os quilombolas não sofrem com a violência e nem com as doenças típicas da industrialização. E é essa tranquilidade aliada às riquezas aquáticas e terrestres que fazem com que os integrantes destas comunidades quilombolas descartem a ideia de um dia abandonarem o seu local. “Eu não troco esse lugar por capital alguma. Aqui nós estamos livres para pescar e fazer tudo sem se preocupar. Sem falar que aqui é muito tranquilo. Devagar a coisa vai andando”, encerrou Chicão.


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Sérgio Botelho Jornalista e diretor executivo da Revista Tribuna Municipal botelhojunior73@yahoo.com.br

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50 anos de Dom Mario no Brasil é celebrado na UFS Solenidade reuniu membros das mais variadas instituições sociais e de governo Fotos: Ascom/UFS

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m uma manhã de céu encoberto, em um campus pouco movimentado devido ao recesso universitário, situado no município de Lagarto, localizado há 75 km de Aracaju, uma feliz coincidência foi celebrada por membros da sociedade sergipana: os 50 anos do hoje Bispo Emérito de Propriá, Dom Mario Rino Sivieri, no Brasil e o cinquentenário de fundação da Universidade Federal de Sergipe (UFS). O evento resumido na celebração de uma missa em ação de graças presidida por Dom Mario e concelebrada pelo Arcebispo Metropolitano de Aracaju e filho de Lagarto, Dom João José Costa, e pelos padres Luiz Pontes, da Fazenda da Esperança, e José Luiz, vinculado a UFS, contou com a presença de autoridades acadêmicas, políticas e de classes, a exemplo do Magnífico Reitor da UFS, Dr. Ângelo Roberto Antoniolli, do prefeito de Lagarto, José Valmir Monteiro (PSC), e do então presidente da seccional sergipana da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/SE), Henri Clay Andrade, que também é papa-jaca. As ilustres personalidades, ao que transparecia durante o evento, estiveram presentes na missa em um gesto de reconhecimento e de agradecimento tanto pela vinda e existência do clérigo, que se destacou nas áreas educacionais e sociais, quanto pela importância da universidade federal ao longo destes 50 anos. Mas ao invés de iniciar a sua homilia agradecendo, Dom Mario fez o que mais costuma fazer: incentivar sonhos e alimentar esperanças, neste caso o da implantação de uma Maternidade de Média e Alta Complexidade naquele município interiorano pela UFS. Tanto que iniciou suas palavras reconhecendo as suas fraquezas humanas sem esmorecer diante dos seus objetivos. “Não podemos deixar de olhar para o futuro com os nossos sonhos e com o que já é realidade, como disse o reitor em relação à criação de uma maternidade aqui. Sabemos que esta missão não será fácil, então vamos orar para isso. Porque as cartas de São Paulo nos mostra que ele sofreu um bocado, mas não desistiu nunca e em tudo, ele ofereceu a Deus. Por isso, reitor, não desanime!”, impulsionou Dom Mário àquele objetivo que é tido como um sonho por aqueles que fazem a única universidade pública de ensino superior instalada em Sergipe.


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|| HOMENAGEM ||

DOM GIOVANNI CRIPPA Uma vida dedicada à missão de edificar o corpo de Cristo

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os últimos tempos, mais precisamente desde 2014, a Diocese de Estância, no estado de Sergipe, tem passado por significativas transformações, que vão desde a formação de padres à maneira de evangelizar, sobretudo, nas regiões mais longínquas do Sul e Centro-Sul sergipano. Notoriamente, todo esse esforço de aproximar a Igreja às 575 comunidades assistidas pela citada diocese se deve ao esforço do seu bispo, Dom Giovanni Crippa. Entretanto, para entender o que hoje vive a Diocese de Estância é necessário retornar as décadas de 1970 e 1980, quando o jovem italiano, natural de uma cidade próxima de Milão, na Itália, Giovanni Crippa, resolve ingressar no Instituto Missões Consolata com o objetivo de realizar o seu sonho de ser padre. “Em uma das minhas visitas ao Instituto, os missionários perguntaram se eu também queria ser um deles. Eu disse que sim, mas era necessário falar com meus pais. Em casa, minha mãe disse que eu era muito novo, mas eu insisti tanto quee entrei no seminário menor do Consolata”, relembra o Bispo. Mas, o que fez um garoto de 11 anos decidir largar tudo para servir? A resposta é simples. Giovanni Crippa é de uma família muito humilde e, ao mesmo tempo, muito religiosa, que sempre participava da vida da igreja e que prezava pela oração dentro de casa. Além disso, perto de sua casa havia uma capela vinculada a uma Congregação de Irmãs e, de tanto frequentá-la, tornou-se coroinha aos cinco anos de idade. “Minha mãe colaborava muito com o Convento, enquanto meu pai trabalhava na roça e depois em uma fábrica de tecidos para garantir o nosso sustento. Então, “eu e meus irmãos crescemos em meio a pessoas simples e muito ligadas à igreja”, argumenta. Sendo o primogênito da família Crippa, ao ser ordenado padre, em 1985, Giovanni já sabia o que queria: correr o mundo evangelizando, sendo a presença de Cristo nos lugares mais necessitados. Inicialmente, o sacerdote foi destinado para o ambiente acadêmico, cursando o mestrado em História da Igreja na Ponti-


fícia Universidade Gregoriana, em Roma. Mas “o meu sonho era ser missionário, sair do país”. Na realidade, depois do mestrado, foi designado para trabalhar em Roraima, na área indígena, mas o superior da sua congregação pediu que ele ficasse na Itália, porque há vários anos os padres recém-ordenados não ficavam na Itália. Por seis anos dedicou-se à animação missionária e vocacional dos jovens. Depois disso, voltou para realizar o doutorado em Roma; lecionou por seis anos na Pontifícia Universidade Urbaniana e depois veio a proposta para lecionar no Quênia, na África, mas seu pai ficou doente, com câncer, e assim pediu para ficar próximo dele nos seus últimos meses de vida. À Revista Tribuna Municipal, o Bispo de Estância confidenciou que sempre quis ser missionário na América Latina e que a oportunidade chegou justamente nos últimos dias de vida do seu pai. Na época, ele recebeu o convite para vir ao Brasil, para a cidade de Feira de Santana, na Paróquia Santíssima Trindade, onde chegou em fevereiro de 2001. Naquela cidade, Giovanni atuou como vigário paroquial, pároco, diretor espiritual, professor, membro do Conselho Presbiteral,

conselheiro provincial de sua congregação e conselheiro espiritual das equipes de Nossa Senhora. Em 2012, padre Giovanni foi nomeado Bispo Auxiliar de São Salvador da Bahia, pelo papa Bento XVI. Em 2013, papa Francisco o nomeou Administrador Apostólico e posteriormente, em 2014, Bispo da Diocese de Estância. O seu lema episcopal, Para a edificação do corpo de Cristo (Ef 4, 12) resume bem o trabalho que Dom Giovanni vem desenvolvendo no país desde 2001. “Para mim, ser missionário aqui é um desafio, mas, ao mesmo tempo, é a maneira que Deus me oferece hoje para viver a minha vocação. Não é nada extraordinário, mas, como dizia o beato José Allamano, fundador dos Missionários da Consolata, congregação a qual pertenço, o missionário deve ser uma pessoa extraordinária no ordinário da vida”, comenta. Extraordinário ou não, à frente da Diocese de Estância, Dom Giovanni Crippa normatizou e articulou algumas ações, através de Estatutos, Regimentos e Diretórios nunca antes vistos. Considerando que todo o ser e agir da Igreja precisa ter um paradigma missionário, articulou um Plano Pastoral Diocesano,

procurou conhecer todas as paróquias e comunidades assistidas, além de ter estruturado todos os grupos pastorais e olhado com atenção para os seminários locais. Como resultado, a Igreja de Estância tornou-se numa das que mais contribuem com a IAM, a Campanha da Fraternidade, Mês da Bíblia, Mês Mariano, e a Novena de Natal. Para o Bispo, as conquistas são o resultado do desafio de “conscientizar a Igreja da importância da comunhão, do caminhar juntos, de termos um planejamento pastoral que desse um norte à nossa ação evangelizadora”. Atualmente não é muito difícil encontrar o Bispo nas ruas das comunidades assistidas pela sua Diocese. Porém, como a sua preocupação sempre foi assegurar a animação da vida cristã nas comunidades, Dom Giovanni aderiu à tecnologia e criou o site da Diocese de Estância. O objetivo deste é tornar conhecido o trabalho de evangelização e dar o suporte necessário para que as comunidades rurais possam animar a vida eclesial. Com tantas obras e tantos desafios, Dom Giovanni afirmou que gostaria de ser lembrado como “um pastor com o perfume de Cristo e o cheiro das ovelhas”.

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Pe. Isaías Nascimento Coordenador da Cáritas Diocesana de Propriá e Pároco de São Miguel, em Propriá

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Pe. Isaías Nascimento

Dom José Brandão de Castro

Centenário do 1º Bispo da Diocese de Propriá

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om José Brandão de Castro foi o primeiro bispo da Diocese de Propriá, localizada à margem do rio São Francisco, área que corresponde à bacia do baixo São Francisco, envolvendo os municípios de Canindé a Brejo Grande, de Nossa Senhora da Glória a Japaratuba. Desde o mês de maio que

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a nossa Diocese de Propriá está celebrando o ano do seu centenário. Foram 27 anos de pastoreio, desde 16 de outubro de 1960 a outubro de 1987, quando pediu renúncia aos 68 anos, por motivo de saúde e foi sucedido por Dom José Palmeira Lessa, Arcebispo emérito de Aracaju. Ele era mineiro de Rio Espera. Nas-

ceu no dia 24 de maio de 1919. Logo cedo entrou no seminário. Foi missionário da Congregação Redentorista, fundada por Santo Afonso Maria de Ligório. Era escritor, editor de revistas e jornais, poeta, tradutor, pregador de retiros. Fazia parte da Academia Sergipana de Letras. Mas, o maior título que ele recebeu foi-lhe dado por pobre camponês posseiro da fazenda


Betume, município de Neópolis, nos anos 70, que lhe reconhecia na luta pela defesa dos seus direitos e de várias famílias que estavam sendo desalojadas pela CODEVASF: “o senhor é o nosso Moisés”! Conforme dizia o próprio Dom Brandão, foi lá no Betume que ele viu no sofrimento do povo o próprio sofrimento de Jesus. Foi lá que ele se converteu, compreendendo melhor o sentido do compromisso que assumiu quando assinou o Pacto das Catacumbas, no encerramento do Concílio Vaticano II: viver pobre, no meio dos pobres, ouvindo seus clamores, oferecendo sua voz a serviço da defesa dos seus direitos. E assim, com sua conversão pastoral sua diocese mudou a metodologia de trabalho pastoral. Os padres e freiras, partiram para as periferias onde estavam os excluídos e se somaram a eles na valorização e resgate de sua dignidade de filhos e filhas de Deus. Os pobres deixaram de ser objetos da prática assistencialista eclesial para serem protagonistas da missão. Eles próprios foram se assumindo como Igreja e formando as Comunidades Eclesiais de Bases, e nelas, criando e fortalecendo grupos de evangelização incul-

turada e seus instrumentos de exercício de cidadania: sindicatos, associações comunitárias, colônias de pescadores, movimentos dos trabalhadores rurais sem-terra... e assim foram lutando por terra, pelo salário mínimo para aposentados e funcionários públicos, movimentos contra a violência no campo e contra as mulheres. São incontáveis as atividades que até hoje fumegam neste vale do São Francisco sergipano. A luta pela terra foi o foco principal na defesa da vida nesta região, desde a criação de cooperativas, a luta pelos dos direitos dos posseiros do Betume e Santana dos Frades, a luta da reconquista da

terra dos índios Xokó da Ilha de São Pedro, e tantas outras em defesa da reforma agrária. A catequese inculturada era sintonizada à esta realidade. Os diversos embates, dentro e fora da Igreja, contra este jeito de ser Igreja, estão registrados na imprensa sergipana. Ele foi solidário, firme e corajoso, principalmente nos momentos mais difíceis. Resistiu até o fim. Até o dia em que descobriu que sua saúde lhe pedia que saísse em retirada. Humildemente assim o fez aos 68 anos, sete anos antes da idade canônica. Na manhã do dia 26 de janeiro de 1988, uma segunda-feira, por volta das 2 horas madrugada, acompanhado pelo Pe. Nestor, sua irmã religiosa Ir. Irene, Paulo Dantas e um grupo de amigos num ônibus, viajou a Aracaju de onde embarcou para o convento dos Missionários Redentoristas de Curvelo, em Minas Gerais, onde faleceu no dia 23 de dezembro de 1999. Na tarde do dia 23 de dezembro de 2006 seus restos mortais foram trazidos de volta a Propriá e, após visitação e celebração com fieis vindos de várias partes da diocese, foram sepultados na Catedral, aos pés do altar de São Salvador, Jesus Cristo, a quem dedicou e pertenceu sua vida.

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|| ECONOMIA ||

Quilombolas da Resina veem no óleo de coco sua independência financeira

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om o avanço do Oceano Atlântico sobre as águas do Rio São Francisco, as cerca de 50 famílias de pescadores da Comunidade Quilombola da Resina, localizada na zona rural do município de Brejo Grande, litoral norte de Sergipe, passaram a ter dificuldades em manter o sustento das suas famílias, uma vez que as redes de pesca passaram a voltar praticamente vazias, depois de uma noite dura de trabalho sobre as águas da Foz do Velho Chico. Neste cenário, enquanto algumas famílias migraram da pesca para o comércio de artesanato e alimentos nas dunas alagoanas, a maioria das mulheres da Resina resolveram aproveitar a abundância dos coqueiros espalhados pela comunidade e passaram a fabricar um produto para lá de bem valorizado, o óleo de coco. Segundo Iara Machado, de 21 anos, secretária da Associação Tradicional dos Pescadores

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Rico em nutrientes úteis para a saúde, o produto é supervalorizado Brasil afora Artesanais da Resina, a produção teve início em meados de 2016. “Além da facilidade que nós temos com a matéria prima do nosso produto, o coco, outro fator que contou para o início da nossa produção foi a necessidade de complementar a renda das mulheres que viviam da pescaria, a fim de que elas pudessem se ocupar e contribuir financeiramente com as despesas da casa”, relembra a jovem de 21 anos. Contudo, a mesma observa que a renda ainda não supera o valor de um salário mínimo. “Isso acontece porque ainda estamos trabalhando com quantidades pequenas, sem falar que não há muita divulgação... Mas, sem essa produção, acho que a nossa

realidade estaria muito mais difícil, porque as mulheres geralmente se ocupam mais na casa, dependendo muito do marido e com isso elas ficam independentes deles. Por isso, acho que a ausência dessa produção não as permitiriam serem financeiramente independentes”, salienta.

Receita é passada de geração para geração

A produção do óleo de coco foi iniciada quando a região começou a sofrer com problemas ligados a pesca e ao acesso às águas do Velho Chico. Além disso, naquela época, o território onde está situada a Resina estava em processo de reconhecimento e demarcação pelo Instituto Nacional da Colonização e Reforma Agrária (INCRA), por isso o processo de produção até os dias atuais ocorre de maneira artesanal. Conforme Iara Machado, a produção é feita exclusivamente por mulheres


Benefícios do óleo de coco que se utilizam processos físicos de separação de elementos. “Na produção, a gente tira o coco do coqueiro; quebra; tira a casca e entre a carne e o casco tem uma pelezinha marrom que tem que ser retirada para o óleo ficar mais claro; depois rala o coco; tira o óleo com água; depois tira o leite do coco e o colocamos na geladeira para separar a água da polpa. Depois dessa separação, a gente coloca a polpa no fogo que vai permitir a saída do óleo e de uma parte mais grossa, que é dispensada”, resume a jovem sem contar os segredos por motivos econômicos. Atualmente, com a demarcação da terra, a produção é feita dentro de uma fábrica sob os parâmetros estabelecidos pela Vigilância Sanitária. Contudo, ela não está sempre em funcionamento. “Por enquanto vendemos por encomenda, então tem semanas que trabalhamos e outras que não, devido à falta de gente para vender. Mas a nossa produção geralmente vai para Aracaju, para a Foz do Rio São Francisco em Alagoas, e para Brasília-DF”, destaca Machado.

O óleo produzido pelas quilombolas é extra virgem, o que o torna supervalorizado no mercado brasileiro. Segundo nutricionistas ouvidos pela Revista Exame, os benefícios do produto vão desde a utilização enquanto alimento, até a sua direta aplicação nos cabelos e na pele. Tanto é que na Resina, por exemplo, as famílias preferem cozer os seus alimentos com o óleo de coco ao invés do óleo de soja, além de utilizá-los nos cabelos das mulheres. De acordo com os especialistas, o óleo de coco aumenta a imunidade, por ser formado por triglicerídeos que em contato com o estômago age como um potente antibactericida, antifúngico e antiviral. Além disso, ele possui vitaminas lipossolúveis, o que auxilia no controle do colesterol, reduzindo o LDL (gordura ruim) e aumentando o HDL (gordura boa), por isso o produto tem efeito anti-inflamatório e antitrombótico. Eles ainda afirmam que por ter um sabor neutro e ser resistente ao calor, o óleo de coco pode ser utilizado no preparo de qualquer refeição. Neste sentido, seu consumo chega a ser incentivado pelos profissionais da saúde, uma vez que é um alimento saudável, rico em nutrientes e sem contraindicação. Para as mulheres, principalmente, o óleo de coco pode ser utilizado como um potente emagrecedor, pois é um triglicerídeo de cadeia media, ou seja, é facilmente absorvido e transformado em energia no fígado, não se acumulando em forma de gordura nos adipócitos. Ele também acelera o metabolismo, favorecendo assim a queima de gordura. Além disso, o óleo também pode ser utilizado como um hidratante para o cabelo e para a pele, através da via oral e também tópica. Por isso, dentre tantas funções, ele pode ser passado no cabelo antes de dormir, o que resulta em fios com mais brilho e menor queda. Já os adeptos da malhação e de atividades esportivas podem ingeri-lo como energético, pois além do seu efeito emagrecedor, o óleo pode inibir a fome durante o treino. Tanto é que especialistas afirmam que, quando combinado com o café, que estimula o sistema nervoso central, o óleo vira um excelente termogênico que pode ser consumido antes do treino. TRIBUNA MUNICIPAL

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|| POLÍTICA ||

ALBANO FRANCO

O patrimônio político e empresarial de Sergipe

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m meio às tantas idas e vindas da tão questionada e criticada política brasileira, o estado de Sergipe pode se orgulhar de possuir um filho respeitado, conceituado e, sobretudo, com fácil trânsito em todas as camadas sociais. Seu nome: Albano do Prado Pimentel Franco. Com 77 anos, ele vem de uma das famílias mais tradicionais e abastadas do estado, além de carregar consigo traços que o qualificam como um exemplo de empresário e homem público. De jeito humilde, paciente e de voz mansa e pausada, por onde passa, Albano é tratado com deferências dignas de um presidente norte-americano. Mas engana-se quem pensa que tal reconhecimento o envaidece. “O próprio Jackson Barreto, quando estava no governo, dizia: “Em todo lugar que eu chego é só procurar AlbaRespeitado por onde passa, aos 77 anos, no Franco” [risos]. Esse continua na luta pelo desenvolvimento prestígio não me envaidece, me gratifica. Graças a Deus, todos sabem que sou já havia se destacado enquanto parlamenuma pessoa simples e humilde, agora me tar na Assembleia Legislativa do Estado gratifica muito ver que em vários estados de Sergipe (Alese) e, posteriormente, no há obras do Sesi e do Senai com o nome Senado Federal, onde ocupou cargos chave para assegurar o diálogo entre empreAlbano Franco”, acrescenta. O reconhecimento social concedido sários e o Governo Federal, e participou ao hoje empresário Albano Franco decor- da Constituinte de 1988, sendo favorável re da maneira como este construiu a sua ao presidencialismo, à soberania popular, vida pública. Tanto é que antes de se tor- e a unicidade sindical. Além disso, ele foi nar Governador de Sergipe, em 1995, ele contra, por exemplo, a pena de morte, a

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legalização do aborto, e a estatização do sistema financeiro. Os posicionamentos de Albano, por vezes, parecem controversos, mas, autodenominado centrista-reformista, ele tem chamado a atenção da classe política desde o período em que cursava Direito, na Faculdade de Direito de Sergipe, onde ocupou a presidência do Centro Acadêmico Sílvio Romero. Na época, o Brasil vivia a Ditadura Militar (1964 – 1985). “Enquanto centrista-reformista, tive a coragem de colocar o comunista Wellington Nogueira como meu secretário de segurança. Isso causou muita revolta lá em Brasília. Tanto que quando cheguei lá, vieram me perguntar como tive a coragem de nomear um comunista para a Albano pasta. Mas ele era um homem sério e competente, por isso, fiz questão. Mas eu, centrista-reformista que sou, sempre tive o apoio de todas as tendências ideológicas, porque sempre as respeitei”, relembra. Apesar de ter cursado Direito, Albano sempre quis ser empresário. Influenciado pelo pai, Augusto Franco, ele começou a trabalhar desde muito cedo na Empresa São José do Pinheiro S/A, uma


das maiores refinarias de açúcar do nordeste. Naquela época, Albano já era bem visto pelo seu pai que o incentivou a persistir no setor. “A imagem do meu pai, Dr. Augusto Franco, me ajudou muito a chegar à presidência da CNI, porque ele era um industrial muito conceituado e me ensinou a ser justo”, comenta. Tendo seu pai como exemplo e uma ideologia que o concedia a rara permissão de dialogar com todas as áreas, Albano, devido a sua natureza familiar para o setor industrial, tornou-se o mais jovem presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em 1980. Na época, ele já era um empresário de 39 anos que demonstraria, ao longo dos 14 anos subsequentes, a sua preocupação não somente com o desenvolvimento da economia, mas também da educação. Tanto é que foi em sua gestão que ocorreu a expansão e o fortalecimento de instituições como o Sesi e o Senai, além da luta contra a recessão financeira. Mas ele queria mesmo era governar o seu Sergipe. “Quando fui comunicar a meu amigo Dr. Roberto Marinho que ia ser candidato a Governador de Sergipe, em 1994, ele tinha o hábito de pegar no braço, e disse: ‘Mas meu filho, quem que vai falar mais em você? Você vai deixar de ser senador e presidente da CNI para cuidar de um estado pequeno’. No ano anterior, eu havia saído 18 vezes no Jornal Nacional. Ninguém saia como eu. Mas eu expliquei e ele entendeu sem forçar a barra”, rememora.

Governo Albano Franco: Austeridade e desenvolvimento

Com a visibilidade nacional e o apoio de 70 dos 75 prefeitos do estado, Albano Franco assumiu o comando do Governo de Sergipe, com 54 anos. Sua meta: equilibrar as contas públicas, qualificar os servidores estaduais, fortalecer a educação e gerar emprego e renda. Por isso, que em seu gabinete localizado no Neo Office Jardins, em Aracaju, Albano esbanja orgulho ao relembrar dos principais feitos do seu governo. “Na área da educação, tive a oportunidade de levar o 1º e 2º grau para todos os municípios sergipanos e isso inclui os povoados. Além do mais levei o PQD, que era a questão do centro de treinamento universitário que fazíamos com os professores nos finais de semana. Por isso que surgiram essas universidades no interior. A educação foi sempre a nossa prioridade. Mas outra prioridade foi gerar desenvolvimento, emprego e renda. Nenhum governo trouxe tantas empresas e indústrias para Sergipe como o Governo Albano Franco. Foram quase 80 empresas, entre elas a Cimentos Votorantim, a Mabel, além de termos incentivado e muito o Maratá, o grupo sergipano de maior faturamento”, elenca o hoje ex-governador comemorando também a realização de concursos nas áreas da

saúde e segurança e a criação da função de Gestor Público. Contudo, para Albano, a atração de indústrias para Sergipe decorreu da sua militância, em Brasília, junto ao setor industriário. “Isso ajudou muitíssimo o meu Governo, porque esse meu relacionamento na CNI facilitava os meus telefonemas em busca de investimentos para Sergipe”, argumenta.

Mas qual o segredo do sucesso?

Para Albano Franco, parece não haver fórmula pronta para alcançar o sucesso. Mas, ele elenca alguns atributos que foi adquirindo ao longo dos anos, com destaque para os seus pais: Augusto Franco e Maria Virginia Leite Franco. “Eu puxei muito a minha mãe, dona Gina. Ela era boníssima, era a pessoa que mais ajudava a pobreza em Sergipe. Tanto que somente depois que ela morreu, a gente descobriu o quanto ela gastava em remédio para o povo. Já meu pai era um cara mais fechado, meu exemplo de vida. Era um grande executivo tanto na área privada quanto na pública. A adutora do São Francisco foi ideia dele, por exemplo,”, destaca. Além do jeito de ser dos seus pais, outras duas qualidades também se fizeram presentes durante toda a sua jornada. “Graças a Deus, nunca fiz mal e nem nunca prejudiquei ninguém. É por isso que tenho essa aceitação em todas as classes

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|| POLÍTICA || sociais, do mais humilde ao mais graduado, porque Deus me deu duas qualidades que sempre exercitei: paciência e humildade”, completa. Entretanto, se não há fórmula para o sucesso, então de onde vem o tino político empresarial da Família Franco? Pois esta já deu dois governadores, deputados e senadores ao estado de Sergipe. Segundo Albano, o tino vem do berço. “Tudo começou com meu pai. Ele tinha uns irmãos empresários, mas ele você sabe”, argumenta. Sem a presença do pai, Albano segue exercendo a profissão que sempre sonhou, a de empresário. Do seu gabinete, ele participa da gestão da Sabe Alimentos, uma indústria de laticínios, instalada no sertão sergipano, que o enche de orgulho e é administrada pelo seu filho Ricardo Franco. “A Sabe anda muito bem. Está produzindo uma nova linha de iogurtes que são um espetáculo. Tem indústrias do sul que experimentam do nosso leite e diz que é o melhor leite do Brasil”, comemora o empresário acrescentando que a marca é responsável pela geração de mais de 200 empregos diretos. Entretanto, a saúde não o permite seguir a vida empresarial com o mesmo vigor de antes, mas isso não o preocupa, pois vê a continuidade de uma história de sucesso em seu filho Ricardo Franco. “Meu filho é um executivo espetacular. Um gestor provado e comprovado”, diz. Além disso, mesmo fora da política desde 2010, por decisão tomada em comum acordo com a família, Albano Franco ainda é frequentemente procurado por políticos de renome regional e nacional, para aconselhá-los sobre os mais diversos setores da sociedade. “Ainda sou muito procurado e ouvido para canalizar ações para o bem. Quando me pedem sugestões, procuro dar opiniões não partidárias. São conselhos voltados a todas as áreas. Graças a Deus me dou bem com todos os candidatos. Circulo bem em todas as áreas”, pontua. Com mais de 50 anos de vida pública, Albano vê o futuro de Sergipe com certa preocupação e tranquilidade, por acreditar que o próximo governador será pressionado pelas camadas populares a solucionar os principais problemas. Além

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disso, ele avalia positivamente a sua trajetória política, argumentando que ela não o mudou. “Com o tempo, fiquei mais experiente, tive muitas alegrias e muitas tristezas, mas não cometi injustiças. Graças a Deus, nunca fiz mal e nem nunca prejudiquei ninguém”, frisa.

Albano por trás dos títulos e condecorações

O ex-governador foi bastante homenageado ao longo de sua história. Entre títulos e condecorações, destacam-se a Medalha da Ordem do Mérito do Trabalho, no Grau de Grande Oficial; a Medalha da Ordem do Mérito Militar, no Grau de Comendador, ambas outorgadas pelo então presidente João Figueiredo, respectivamente em 1985 e 1981; o Diploma José Ermírio de Moraes, em maio de 2015; e o ingresso na Academia Sergipana de Letras, em 2014, após uma eleição que o tornou imortal pelo fomento a cultura, especialmente na época em que era governador. Mas quem o ver assim, não imagina que o ex-quase tudo da política brasileira e empresário Albano Franco teve uma infância tão normal quanto à de qualquer outra criança da sua época. “Era uma criança normal que brincava de tudo, inclusive de bola de gude”, rememora. Além disso, na escola, o jovem Albano não era dos melhores alunos, tanto é que somente cursou Direito pela necessidade de possuir um diploma de ensino superior. “Só fiz Direito porque tinha dificuldade em matemática e física. Tinha

psicose. Eu não era um aluno aplicado, era médio. Nem dos piores e nem dos melhores. Mas gostava muito de história e tudo que era relacionado com a política”, acrescenta. Ainda no quesito formação, Albano lembra sua ex-esposa, Leonor Barreto Franco, e seu filho Ricardo Franco, diferentemente dele, gostam muito de ler. E embora admitisse que devesse gostar mais de ler, revela sua paixão pelos jornais. “Quando cursava Direito, costumava almoçar com meu avô Augusto Leite, fundador do Hospital de Cirurgia, e muitas vezes eu dava minhas opiniões sobre alguns assuntos. Ai certa vez ele disse: ‘meu neto Albano é cultura de gazeta’ [risos]. Sempre fui viciado em jornal, mas em livros um pouco menos”, reconhece. Albano também sempre esteve ligado a Igreja Católica Apostólica Romana. Devoto de Nossa Senhora da Conceição e de São Judas Tadeu, o ex-governador revela que a devoção decorre da fé da sua mãe, Dona Gina. “Ela ia a missa todos os dias, só parou de ir nos seus últimos anos de vida”, argumenta destacando que a sua ligação com a igreja pode ser vista no Oratório de Bebé, onde toda a parte educativa é realizada pelo Instituto Augusto Franco. Com 77 anos e uma vida repleta de compromissos, o empresário resume-se a simplicidade. “Sou muito simples e essa é uma qualidade que todos reconhecem em mim. Graças a Deus!”, encerra.


Sérgio Botêlho, jornalista paraibano, residindo em Brasília. Assessor de Imprensa no Senado Federal. Editor do www.politicaegovernanca.com e www.paraondeir.tur.br. Colunista no site de Brasília www.anexo6.com.br e fan page https://www.facebook.com/anexoseis

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Sérgio Botêlho

Os desafios do novo governo A vitória do deputado Jair Bolsonaro (PSL) à Presidência da República coroa toda uma movimentação da direita brasileira que, agora, encontrou no candidato a expressão de suas ansiedades na economia e na política nacional. Como em todo segmento político, essa direita é composta de matizes ideológicos diferentes, que vão desde os grupos radicalizados e defensores de regimes autoritários até os liberais, que defendem a democracia. Entre os que defendem o autoritarismo, a maior parte deles, até por consequência da posição radicalizada, quer uma economia com mais intervenção estatal. Os favoráveis à democracia, também, por consequência, são defensores do liberalismo econômico. Por democracia que se entenda o pleno respeito às instituições, no caso brasileiro, da República, principalmente ao Judiciário, encarregado de vigiar e fazer cumprir as leis e, acima de tudo, a Constituição. Logo após o anúncio do resultado do pleito, o presidente eleito tratou de se posicionar claramente a favor do respeito à democracia e à Constituição, sinalizando negativamente para os grupos mais radicais. E não poderia ser diferente. Ao custo de muita resistência da maior parte

das forças política e econômicas, o Brasil vem consolidando a sua democracia, após toda uma história marcada por golpes e contragolpes, desde a Proclamação da República. A partir de agora, muito além da retórica empregada na campanha, o novo governo passa à fase de sua montagem.

resistido à onda nacional em favor do candidato do PSL não pode ser desconsiderado. Não aprofundar essas diferenças com o Nordeste – a exemplo de não mexer com muita ânsia nas políticas de redistribuição de renda - e compor um governo com base nas forças políticas com assento no Congresso Nacional, são os desafios a serem vencidos. Nesse processo, uma tentativa de simples cooptação de governadores da região, junto com seus parlamentares federais, não será uma tarefa muito tranquila, diante da necessidade desses governadores em se manter sintonizados com os seus respectivos eleitores. No mais, terá o novo governo, desde já, o apoio inconteste, expresso pelo voto, das demais regiões do país, em especial, das regiões Sul, Sudeste e Centro Oeste, no conjunto, mais desenvolvidas do ponto de vista econômico. Unir o país, contudo, será o desafio a ser superado. Sem essa união, o mais próximo possível da formação de uma maioria parlamentar efetivamente significativa, tudo será mais difícil na condução do governo, o que, sem dúvida, não é a intenção da maior parte de suas lideranças, incluindo o novo presidente.

Unir o país, contudo, será o desafio a ser superado E, uma vez baseado na democracia e no respeito à Constituição, um governo que possa ser o mais fiel possível à nova composição do parlamento brasileiro. Não passará ao largo das preocupações do novo governo a realidade nordestina, onde Jair Bolsonaro foi duramente derrotado, inclusive, com a eleição de todos os governadores, em número de nove, em franca oposição ao PSL, e afinados com as esquerdas. O fato de esse eleitorado, e, mais, o do Pará, o estado mais forte economicamente do Norte brasileiro, e vizinho do Nordeste, na divisa com o Maranhão, ter

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|| MISSÃO ||

Judite Batista de Menezes

O fio condutor que serviu de exemplo para as boas ações

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la foi uma daquelas figuras um tanto quanto difíceis de serem encontradas na atualidade, pois dedicou toda a sua vida ao serviço junto aos padres e as comunidades, bem como ao cuidado, sobretudo, com aqueles que mais necessitavam de ajuda. Tanto é que para uns, ela foi uma mãe e para outros, os olhos e os ouvidos de Maria. Junto aos sacerdotes de Roma no interior sergipano, com ênfase para o município de Lagarto, Judite conviveu por mais de 50 anos com o atual Bispo Emérito da Diocese de Propriá, Dom Mario Rino Sivieri, o qual pôde acompanhar toda a sua carreira de padre e também de Bispo. Além disso, ao lado dele, ela não exercia nenhuma função oficialmente definida, mas contribuía ativamente em todas as ações que visavam animar e edificar a fé cristã.

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Abnegação, ação caracterizada pelo desprendimento e altruísmo em benefício de uma pessoa, causa ou princípio, talvez esta seja a palavra capaz de resumir a figura de uma mulher que, simplesmente, plantou e colheu amor durante os seus 84 anos de vida. Seu nome: Judite Batista de Menezes. Sua função: servir a todos indiscriminadamente. “Ela estava em tudo e se nutria da espiritualidade do Movimento dos Focolares e procurava, dessa maneira, viver o evangelho. Para ela, não tinha hora e nem tempo, estava sempre pronta para ajudar. Por exemplo, ela me ajudou muito no processo das adoções, em meados de 1985; na emissão das certidões de casamento e batizados, que eram inúmeras; na fundação da Fazenda da Esperança; além de costumar visitar os doentes. Por isso, acho que o legado dela foi ser como Maria e servir amando”, relembra Dom Mario ao comentar a morte repentina de Judite, ocorrida no dia 28 de setembro de 2016. Na época, a Igreja Católica em Lagarto enluteceu e dezenas de religiosos, entre padres, bispos, arcebispos e fiéis, se reuniram para dar o último adeus àquela que havia dedicado sua vida ao serviço. Nunca antes, o citado município havia parado para chorar a partida de um filho. Para Dom Mario, a reunião de tantos religiosos representou reconhecimento de todos os esforços que Judite havia realizado

ao longo da sua vida, em prol dos padres e dos seminaristas. “Ela queria servir a Deus servindo aos padres. Então ela tratava muito bem os padres e os seminaristas lá na diocese e todos a queriam bem. Ela tinha uma palavra para todos, acolhia a todos e se interessava por todos. [...] Para os seminaristas, por exemplo, ela fazia fichas, arrecadava recursos para a manutenção dos seminários e nunca reclamava de nada”, argumenta o Bispo Emérito.

Das coisas que Judite fazia

Ainda não se sabe como e nem o porquê da saudosa Judite ter escolhido servir a Deus servindo aos padres. Esta pergunta é uma incógnita. Contudo, sabe-se que desde muito cedo, ela já procurava converter as pessoas para o bom caminho, como lembra o seu primo José Menezes. “O pai era da Irmandade Mariana e, por isso, não perdia uma missa e ela ia junto com ele, enquanto a mãe era do Sagrado Coração de Jesus. Os pais sempre a trataram muito bem, até porque ela era a única filha mulher. Era uma família feliz, mas às vezes ela queria colocar os irmãos no bom caminho e eles não queriam. Recusavam ela”, conta José Menezes, que conviveu com Judite em sua adolescência no Pé da Serra do Qui, zona rural de Lagarto. Entretanto, outra qualidade que sempre esteve presente em sua vida foi à perseverança e o senso de humanidade. Judite era conhecida por não reclamar dos tantos trabalhos que recebia e por acolher a todos, como conta a professora Maria Cleide, de 57 anos. “Doença física a gente procura o médico, mas doença da alma, como a depressão, em que a gente precisa ser colocado pra cima, a gente procurava ela, pois sempre tinha palavras doces e certas para falar com a gente. Tanto que quando saia daqui, eu saia muito leve”, comenta. A professora ainda acrescentou que foi graças ao trabalho de Judite que o catolicismo romano nas comunidades rurais

de Lagarto passou a ter uma vida mais completa. “Nossas novenas não tinha leitura de evangelho, até que ela organizou e hoje é bem viva, bem participativa e completa. Ou seja, além de ser de tudo um pouco, ela era uma mãe”, acrescenta. No serviço junto aos padres, Judite destacou-se, principalmente, no cuidado para com o então Bispo de Propriá, Dom Mario Rino Sivieri. Na época, ela mudou-se para a residência episcopal sem o consentimento do clérigo, para cuidar do mesmo. Contudo, nem o próprio religioso conhece os motivos que a levaram a tomar tal atitude. “A mãe de Dom Mario, [Natalina Mazetto], pediu que ela tomasse conta dele, e ela levou esse pedido a sério e ficou cuidando dele”, esclarece Maria Menezes, prima de Judite. Foi morando com Dom Mario que ela deixou transparecer outro atributo marcante, a curiosidade, como conta Dom Dulcênio, Bispo da Diocese de Campina Grande, na Paraíba. “Quando estava nomeado Bispo, a primeira pessoa que eu gostaria que me ligasse era Dom Mario, porque nós tínhamos uma caminhada. [...] Na véspera da nunciatura, eu peguei o carro e fui até a Fazenda da Esperança, lá o chamei no canto e disse que ele era um pai ingrato. Ai ele: ‘Não estou sabendo de nada’, eu informei que a minha nomeação saia no outro dia, ai Dom Mario disse que ia dormir comigo para me ajudar a definir o lema episcopal e dona Judite foi junto, como sempre. Na residência, nós ficamos um tempão conversando e Judite só arrodeando, de antenas ligadas. Eu falava com Dom Mario sobre o meu lema episcopal, que me identificava com a eucaristia, e Judite ligada, só arrodeando. Lá para meia noite, quando decidimos ir dormir, Judite chegou para mim e disse: ‘Coraaaagem! Coragem, meu filho!’”, rememora o clérigo sob risos de saudade. Além da curiosidade, Judite foi uma mulher bem detalhista, segundo conta o padre Luiz Menezes, presidente internacional da Fazenda da Esperança. “Quando ela chegava na Fazenda com Dom Mario, os meninos diziam: ‘Chegou dona

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|| MISSÃO || Judite! Corre! Corre! Corre!’, porque ela via as panelas mal lavadas e colocava todos para trabalhar. Ela tinha acesso a tudo e a todos. Era uma aventura”, destaca o sacerdote. Outro aspecto contado pelo padre era a alegria que Judite tinha ao ver um jovem ingressando na vida sacerdotal. “Ela acompanhou o casamento dos meus irmãos e quando tomei a decisão de ingressar no sacerdócio, quis falar com Dom Mario e logo a procurei. Quando ela me viu foi aquela festa: ‘Oi, primo! Como vai? Veio também se inscrever para o casamento? ’, aí eu disse: ‘Não, dona Judite, é diferente. Eu vim em busca da minha vocação e queria falar com Dom Mario’, ai ela fez aquela festa e disse: ‘É para agora!’. E ai Dom Mario me atendeu e depois me deu toda a orientação. Então ela foi o primeiro instrumento que eu bati na porta para poder buscar minha vocação. Ela foi quem me acolheu como Maria”, relembra o padre.

A Judite por trás das obrigações

Se por um lado o discurso sobre Judite Menezes, no seio popular, é de uma serva de Deus, por outro ainda é muito difícil descrever com todas as palavras quem era aquela mulher. De acordo com Dom Mario, ela não era de muita conversa, mas escutava mais do que falava. Além disso, ela, diferentemente de qualquer mortal, não costumava reclamar da vida que levava. “Ela reclamava quando estava parada, mas de trabalho não. Ela estava sempre disponível e alegre”, acrescenta o clérigo destacando que, apesar dela ter se dedicado ao serviço, era uma mulher que não admitia interferência em sua vida pessoal. “Ela tinha uma tosse que nunca curava. Eu mandava ela se cuidar, mas quando eu dizia algo que ela não gostava, ela ficava calada. Ela quem geria a vida dela sem que ninguém se metesse”, destaca o Bispo. Para José Carvalho de Menezes, ela foi uma mulher que amou a todos os seus mais de 200 afilhados “de forma infinita”.

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Segundo Maria Menezes, Judite era uma mulher que procurava viver intensamente cada dia da sua vida. “E eu como um deles, me sinto honrado por ter escutado, desde a infância, os seus ensinamentos, pois Judite era uma mulher verdadeira e honesta nas relações”, acrescenta. Além disso, segundo Maria Menezes, Judite era uma mulher que procurava viver intensamente cada dia da sua vida. “Ela sempre vivia o momento presente. Se eu perguntasse algo a ela sobre o amanhã, ela dizia: “O amanhã pertence a Deus. Vamos viver o hoje”. Ela era uma pessoa de Deus que tinha sempre uma resposta certa para nos dar”, ressalta. Entretanto, apesar de ser uma mulher aberta para a população, tanto que muitos viam nela a porta de acesso aos líderes católicos locais, Judite não gostava de falar da sua vida. Neste sentido, sempre foi muito reservada, mas, ironicamente, ela nunca ousou a trancar os portões da sua casa, situada na mesma rua em nasceu o célebre jurista, jornalista e crítico literário Sílvio Romero, no cen-

tro de Lagarto. De acordo com Maria Cleide, ela acreditava na proteção divina. “Eu dizia para ela passar o cadeado no portão, mas ela nem se importava e ficava deitadinha no seu sofá ou no quarto”, relembra. Mas uma descoberta chamou a atenção da reportagem da Revista Tribuna Municipal. Judite não gostava de ser chamada de Bispa, apelido recebido durante o período em que acompanhou Dom Mario; não gostava de ouvir palavrões e nem de dançar ritmos como o forró. “Ela brincava de roda, mas essas coisas de danças com outras pessoas ela não gostava”, diz José Menezes. Aos olhos de toda a população lagartense, parece ter sido o resumo da missão que ela abraçou para si e que desenvolveu com maestria. Tanto é que após três anos da sua morte, seu nome ainda é lembrado como sinônimo de amor, alegria, bondade, e santidade. “Judite sempre foi uma mulher que realmente revelava Cristo para as pessoas e tinha uma caridade sem limite, de tentar ajudar os pobres e os menos favorecidos. E tinha, por outro lado, uma atitude de muita transparência na encarnação do evangelho. Ela vivenciou isso com muita profundidade, ao acolher as pessoas na igreja e ajudá-las a se unirem a Cristo. Isso é um fato incontestável na vida dela”, comenta o Arcebispo de Aracaju, Dom João José Costa, que quando coroinha serviu ao lado dela na Paróquia de Nossa Senhora da Piedade, em Lagarto. Mas se para o clérigo, Judite era a responsável pela revelação do Cristo, para Dom Paulo Celso, Bispo Auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro e que também foi coroinha na época de Judite, ela era a figura de Maria dentro da igreja. “Então esse é um aspecto que nós guardamos no coração, a imagem de uma mulher que estava atenta aos detalhes, que sempre foi uma grande conselheira e que tinha um coração que, antes de tudo, amava a igreja e isso mostra a grandeza da nossa amiga que hoje está no céu rezando por nós. Por isso, guardamos no coração o exemplo que ela deixou”, encerra.


|| TESTEMUNHO ||

Experiência de vida da Raquel Meu Nome é Raquel, estou fazendo hoje 22 anos, sou de Penápolis – Interior de São Paulo. Eu nasci em uma Família muito desestruturada. Num ambiente com muitas agressões, entre meu pai e minha mãe, e até mesmo com os filhos. Somos 5 filhos, sendo dois homens mais velhos e três meninas mais jovens. Quando eu tinha 11 anos eu comecei a sofrer abuso pelo meu próprio Irmão, primeiro com pequenas coisas e depois cada vez mais ele começou a abusar de mim. Eu contava para minha mãe e em vez dela me ajudar ela me batia e talvez para me proteger ela começou a cortar o meu cabelo bem curto e me vestir como um menino. Eu sempre gostei de estudar e era uma ótima aluna na escola, só que todas estas coisas em faziam me sentir diferente. Minha cabeça era uma confusão, eu não entendia porque isso acontecia comigo. A minha casa deveria ser o lugar onde eu me sentia protegida e lá era onde eu me sentia menos segura. E até o que eu mais gostava eu comecei a perder o interesse, não me sentia mais bem na Escola, sofria várias descriminações, até que com 15 anos eu não consegui mais suportar e fugi de casa. Sentia uma revolta muito grande dentro de mim. Chegando nesta outra cidade, sem ter para onde ir, fiquei dois dias na rua. E lá eu conheci as drogas... fui morar com uma amiga que eu conheci na rua que também era usuária. E ai minha vida ficou cada vezes pior, comecei a me relacionar com homens e mulheres, nada tinha mais importância para mim. Era uma vida louca, sem direção, com muitas drogas, bailes funk´s e tudo que me afastava de um mundo melhor. Até que quando eu fiz 18 anos eu comecei a me prostituir e fui morar em um prostibulo. Minha vida não tinha sentido e eu pensava que pelo menos lá eu ganhava dinheiro... eu sofria, mas as drogas me ajudavam a ficar nesta vida. E quando eu estava no fundo do

poço, numa vida totalmente errada, descobri que eu estava gravida. E ai eu fiquei mais perdida ainda, pois não sabia o que fazer, a minha primeira reação foi de não querer aquele bebe, e o tempo foi passando e eu pensava... como eu vou ter um bebe sem saber quem é o pai, nem me sentia preparada para ser mãe. E mesmo com várias tentativas de aborto, meu bebe foi crescendo e quando já não seria possível mais ficar naquele lugar eu procurei uma Assistente Social e ela me ofereceu uma internação em um hospital psiquiátrico para que eu pudesse pelo menos me cuidar um pouco mais na gravidez. E foi nesse lugar que eu fiquei sabendo da Fazenda da Esperança. Mesmo assim, eu continuava perdida, mas quando eu fiquei sabendo que meu bebe ia nascer prematuro e que não poderia ter ele lá neste local e aceitei a proposta dessa recuperação. Neste momento eu já comecei a ter Amor pelo meu bebe. Cheguei na Fazenda muito fechada, não queria saber de nada. Pensava o que eu tinha feito com minha vida? E o que seria dela dali para frente? Mas, ali eu comecei a ser amada, todos se preocupavam comigo e com o meu bebe. E um mês depois da minha chegada a minha Filha – Cassiani Luiza nasceu. Era muito difícil, pois toda a vez que eu olhava para ela eu lembrava da vida errada que eu tinha e também que eu nunca saberia quem era o pai dela. Não aceitava a minha nova condição. Mesmo assim eu era

amada por todos na Fazenda, eles ajudavam a cuidar da minha filha e de mim. Eu continuava muito fechada e não tinha comentado com ninguém ainda que eu tinha sido prostituta e que minha filha era fruto disso. Essa minha atitude não ajudava a ir em frente. Não conseguia dar os passos para a recuperação. Até que um dia uma das Madrinhas da Fazenda – que está aqui – a Veronica, mesmo sem conhecer a minha história, começou a me falar que Deus Ama a todos, até uma prostituta. Eu senti que ali era Deus falando comigo e comecei a contar a minha história para ela, chorei muito... e ela me fez entender que mesmo com todo o meu passado eu era muito Amada por Deus, pois eu poderia ter adquirido uma doença nessa vida errada, mas não, Deus tinha me presenteado com uma criança. Quando nos olhamos para minha filha, ela estava sorrindo. Ela era meu presente de Deus. Ali começou a minha caminhada para uma mudança de vida! Estou com 11 meses na Fazenda, quase terminando meu período de recuperação, olho para traz e vejo o quanto mudei. Hoje eu Amo demais a minha filha, sempre peço desculpas para ela por tudo o que eu fiz e tenho o maior prazer em cuidar dela, levar ela na creche e buscar. Minha alegria é estar com ela. Também neste período eu pude me reaproximar da minha família, perdoei cada momento que sofri lá, inclusive o meu irmão. Pois eu sei que sem esse perdão eu não poderia seguir em frente. Cada dia nessa minha nova vida me traz mais alegria. E quando chega as meninas novas na Fazenda eu posso ajudar elas com a minha história. Me sinto Amada por Deus.

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Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos Com a colaboração de Dr. Paulo Andrade Prata, Presidente da Academia Lagartense de Letras; Professor do Departamento de História (UFS); Membro da Academia Lagartense de Letras; Coordenador do Movimento Cultural Antônio Garcia Filho (MAC), da Academia Sergipana de Letras

ARTIGO

Claudefranklin Monteiro

UMA MARCA IDENTITÁRIA Impossível não se admirar. Não querer parar para tirar uma foto. E mesmo, se emocionar. Eu que vou, semanalmente, para Aracaju, trabalhar, não deixarei mais de ir pelo trevo que une Lagarto a Riachão do Dantas. Apesar do grande fluxo do trânsito, sobretudo no início da manhã e nos finais de tarde. As viagens não serão mais as mesmas, pois partirei ou estarei de volta, sob as bênçãos de Nossa Senhora da Piedade. Vamos entender o cenário histórico da instalação de imagens religiosas católicas em diversos municípios de Sergipe, antes de julgarmos o mérito ou não das iniciativas, a meu ver, muito oportunas e educativas, independente de meu posicionamento, notoriamente católico, porém isento de amarras ideológicas. A Conquista de Sergipe, antes de ter sido um ato militar, dado em 1590, por Cristóvão de Barros, foi uma conquista religiosa. Marcou, em 1575, a presença da ação evangelizadora da Companhia de Jesus, empreendimento liderado por Gaspar de Lourenço e João Salônio.

Logo, os primeiros lugarejos, vilas e cidades foram fundados sob os auspícios da Igreja Católica. Fato. Por exemplo, São Cristóvão, Santa Luzia do Itanhy, Santo Amaro das Brotas, São Francisco do Rio Real, Santo Antônio de Itabaiana, entre outros. Aspectos históricos e devocionais trabalhados com muito esmero pela historiadora lagartense, Edla Tuane Monteiro Andrade, pela UFS (2014). Com Lagarto, que está entre os sete primeiros lugares de Sergipe, não foi diferente. Pelas mãos de seu fundador, Antônio Gonçalves de Santomé, em 1604, nasceu o atual Povoado Santo Antônio. Aproximadamente meio século depois, a população embrionária foi acometida po um grave problema de saúde, contornado pela assistência religiosa dos Carmelitas, que tinham um Convento em Palmares, hoje Riachão do Dantas, à época, propriedade do filho de Critovan Lagarto, pai de Antônio Goncalves. Daí o nome que nos batiza até o tempo presente. Curada, aquela gente, por intercessão da Igreja Católica, deu ao nosso lugar seu primeiro nome oficial: Freguesia de Nossa Senhora da Piedade do Lagarto (1669). Daí em diante: Paróquia de Nossa Senhora da Piedade do Lagarto (1679) e Vila de Nossa Senhora da Piedade do Lagarto (1697).

A nomenclatura referente à devoção mariana sai de cena em 1880, com a elevação da Vila à Cidade de Lagarto, em 20 de abril de 1880. Entretanto, Nossa Senhora da Piedade seguiu não somente amada, mais parte significativa da vida social, politica, econômica e cultural do Município. Seu desenvolvimento e pujança, segundo o vigário paroquial, Padre Elessandro, se deve, em grande medida a isso. Em 1979, os lagartenses fizeram uma grande festa em sua homenagem. Era o ano do tricentenário da chegada da imagem e da criação da Paróquia, que segue levando seu nome. Frente ao exposto, respeitando e considerando respeitosamente as vozes dissonantes, sobretudo as liberdades religiosas, não podemos negar que a imagem de Nossa Senhora, ricamente decorando um das entradas do Município representa mais do que uma fé. Representa uma identidade cultural. Nesse sentido, tiro meu chapéu para o Prefeito Municipal, Valmir Monteiro. Natural de Salgado, ele prestou uma homenagem aos lagartenses que nem os mais “bem-nascidos” em terra pátria pudessem fazê-lo, legando-nos um marco identitário sem precedentes.

Eleição de Claudefranklin Monteiro para Academia Sergipana de Letras O professor e historiador Claudefranklin Monteiro foi eleito para a Academia Sergipana de Letras. A eleição ocorreu no dia 22 de outubro de 2018. Ele irá ocupar a cadeira número 28, em sucessão ao Acadêmico Artur Oscar de Oliveira Déda. Claudefranklin Monteiro é o sétimo lagartense a compor os quadros da ASL, ao lado de nomes importantes da cultura sergipana: Sílvio Romero, Ranulfo Prata, Enoch Santiago, Abelardo Romero, Luiz Antônio Barreto e Aglé Fontes.

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PAPA FRANCISCO ENDURECE O COMBATE AO ABUSO SEXUAL DENTRO DA IGREJA

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iante de vários escândalos envolvendo clérigos da Igreja de Roma, o Papa Francisco endureceu a luta contra os casos de abusos sexuais, através da nomeação da Pontifícia Comissão para a Tutela de Menores. Ela é formada por 16 membros de todos os continentes do mundo, que terão o objetivo de ouvir, acolher e tratar as vítimas de abusos por parte de representantes da Igreja Católica Apostólica Romana. Entre os 16 membros está Nelson Giovanelli, fundador das Fazendas da Esperança no mundo e um dos dois representantes latino-americanos na Comissão, formada há cinco anos. À reportagem da

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Revista Tribuna Municipal, ele contou que a decisão do Papa atende ao objetivo que o mesmo tinha de discutir o assunto com pessoas de elevada experiência no assunto. “Sinto que essa nomeação nasceu também em virtude de que ele procura membros que tenham experiências nas áreas de atuação da Comissão Pontifícia em relação à proteção do menor. E, na Fazenda, nós temos essa experiência de anos, de cuidado, acompanhamento, cura e recuperação de vítimas de abuso sexual, porque entre 20% e 30% daqueles que chegam à Fazenda da Esperança sofreram na infância esse tipo de dor e lá conseguem cicatrizar essa ferida”, argumenta.

Entre os convocados pelo pontífice está um paulista com raízes em Sergipe Além disso, ele confidenciou que a presença de representantes de todo o globo terrestre dá maior representatividade e qualidade às ações a serem desenvolvidas pela Comissão Pontifícia. “O Santo Padre tem agora, com o desejo que ele tem de fazer a salvaguarda dos vulneráveis, uma confluência em todas as igrejas e comunidades para que possamos todos fazer com que o abuso sexual no interior da igreja seja erradicado completamente. Então é nesse sentido que vejo a dimensão dessa Comissão Pontifícia em todos esses países onde os membros estão inseridos”, acrescenta.

A dinâmica da Pontifícia Comissão

Com 16 membros, a Comissão Pontifícia de Proteção ao Menor se reúne duas vezes por ano, sendo uma por semestre. Essa reunião dura cinco dias e é dividida entre um encontro entre todos os membros e entre os encontros dos integrantes dos três grupos de trabalho nela formados, são eles: Grupo de cuidado as vítimas, Grupo de Educação e Formação e o Grupo de Diretrizes. O primeiro grupo é responsável por desenvolver ações voltadas a escuta e o acolhimento das vítimas de abuso sexual


dentro da Igreja Católica de Roma. Nele, estão membros como Nelson Giovanelli e o Cardeal Sean O’Malley, presidente da Pontifícia Comissão para a Tutela de Menores. “O papa Francisco vem se esforçando para ele mesmo se encontrar com as vítimas de abuso sexual por parte do clero, para demonstrar a preocupação da Igreja como mãe perante os seus filhos. Ela é mãe de todos e não somente dos padres. Então essa ação da à possibilidade para que as vítimas Nelson Giovanelli, fundador das Fazendas da Esperança possam se sentir amadas, acolhidas, não julgadas e passar pelo pro“Os três países escolhidos foram o cesso da cura, da reconciliação e do per- Brasil, a Zâmbia e as Filipinas. Portanto, dão”, comenta Giovanelli. estamos em fase de implantação. Já me O Grupo de Educação e Formação encontrei com o Cardeal Dom Sérgio Rolida com o desenvolvimento de ações cha, presidente da Conferência Episcopal que visam à conscientização da não Brasileira, no sentido de pensarmos como proliferação de abusos sexuais dentro instalar esse projeto no Brasil que tem o da Igreja. Isto é feito, segundo o repre- objetivo de escutar e acolher as vítimas sentante brasileiro, através de oficinas, de abuso sexual”, detalha o representante seminários e palestras em igrejas, paró- brasileiro. quias e casas de oração. Desta forma, a Fazenda da EsperanJá o terceiro grupo de trabalho, ça, que já desenvolve o trabalho de acoGrupo das Diretrizes, tem o objetivo de lhimento e recuperação de vidas destruídesenvolver manuais a fim de ensinar a das, servirá como inspiração e apoio para igreja a lidar com os casos de abuso sexu- a ampliação dos ouvidos do Vaticano junal tanto nas frentes de acolhimento, quan- to às vítimas de abuso por parte do clero to nas de prevenção. “No Brasil já foi romano no Brasil. feito o trabalho de elaborar esse manual, essas linhas de direção como se fosse um estatuto para poder guiar a igreja no senti- Tolerância zero com o do de garantir a proteção do menor. Então abuso sexual na Igreja esses três grupos trabalham muito durante o ano para, no encontro, apresentar os Romana Ainda em entrevista concedida a resultados obtidos”, destaca. Revista Tribuna Municipal, o fundador da Fazenda da Esperança informou que A contribuição da Fazenda o Papa Francisco orientou a toda a igreja, bem como os membros da Pontifícia da Esperança Após a nomeação de pessoas de Comissão a terem tolerância zero com os elevado nível de conhecimento, os grupos casos de abuso sexual por parte do clero. da comissão decidiram, em abril deste O entendimento do líder religioso é que ano, pela implantação de três projetos pi- a ocorrência de novos casos mancharia a lotos, um deles é o Grupo Consultivo de imagem da igreja e/ou seus representanVítimas. Segundo Nelson Giovanelli, ele tes junto aos fiéis. “No dia 20 de agosto, o Papa escretem o objetivo de ampliar o trabalho de veu uma carta ao povo de Deus, para que escuta das vítimas e apoiar as Conferênpudéssemos nos unir contra esse problecias Episcopais.

ma, para que, unidos, possamos lutar para que nunca mais se repita um caso de abuso sexual de adultos e menor. Nessa carta, ele usou uma passagem de São Paulo, em que diz: ‘Se um membro sofre, todos sofrem com ele’. Então, através dessa frase do evangelho, ele chama todo o povo de Deus a sofrer com ele às dores de todas aquelas vitimas que sofreram abuso sexual por parte de um membro da Igreja”, relembra.

O sentimento de integrar a Pontifícia Comissão

Ainda à Revista Tribuna Municipal, o representante brasileiro esboçou sua felicidade em participar da Pontifícia Comissão. “Para mim, pessoalmente, que há 35 anos, na fazenda da esperança, tenho a oportunidade de escutar tantos jovens que sofreram esse tipo de mal, é uma chance muito grande e bonita no sentido de me empenhar mais ainda para criar um ambiente favorável para que todos possam colocar para fora sua dor e cicatrizar suas feridas”, destacou. Nelson Giovanelli é um leigo consagrado natural da cidade de São Paulo. Naquele estado, junto com o Frei Hans Stapel Ofm, fundou o que hoje se conhece Brasil afora como Fazenda da Esperança. O projeto assiste pessoas que tiveram suas vidas destruídas pelas drogas, pela violência e outros males presentes na sociedade. Com mais de 35 anos, a Fazenda da Esperança teve início após o Giovanelli consagrar os seus votos perpétuos na capela erguida pelo seu avô, José Rosendo dos Santos, em uma pequena propriedade localizada no povoado Várzea dos Cágados, zona rural de Lagarto (SE). O ato ainda influenciou o ingresso de outros membros que hoje fazem parte da Família da Esperança. Além disso, o projeto é considerado uma obra de caridade pelo Papa Francisco e como o local onde o verbo se fez carne pelo Papa Emérito Bento XVI.

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MUNICÍPIOS EM AÇÃO

Em Socorro

Prefeito Inaldo faz uma das gestões mais transparentes de Sergipe Fotos: Ascom

História do município

No século XVI, o espaço onde hoje se situa o município de Nossa Senhora do Socorro ocupava a microrregião do Cotinguiba, que era habitado por índios da tribo tupinambá. Sua ocupação ocorreu ainda no mesmo século, quando do início da colonização da Capitania de Sergipe Del Rey, em 1575. 254 anos depois, a região já era considerada uma freguesia e, apesar de ainda possuir algumas tribos indígenas, o local passou por mudanças de caráter religioso e jurídico, similares às diversas cidades brasileiras. Neste sentido, a elevação do referido município às categorias de freguesia, vila e cidade, obedeceram a interesses jurídicos e de ordem religiosa. No século XVIII, a cidade formava um núcleo demográfico de aproximadamente três mil habitantes, tendo por atividade econômica a plantação de mandioca e cana-de-açúcar. Até quem em setembro de 1718, por decisão do Arcebispo da Bahia Dom Sebastião Monteiro da Vide, o local passou a se chamar Nossa Senhora do Socorro do Tomar do Cotinguiba, pertencendo nesse período à vila de Santo Amaro das Brotas. Mas devido à falta de uma capela, o desenvolvimento de atividades eclesiásticas, o território foi incorporado a Vila de Laranjeiras, em 1832. A ação gerou revolta da população, o que fez o local passar para a condição de Vila, em 19 de fevereiro de 1835 e, posteriormente, elevada a categoria de cidade. A história ainda conta que mesmo após ter conquistado sua emancipação política, foi após a edificação da Igreja Matriz, em 1714, que Socorro conseguiu sua autonomia religiosa. Diante de tantas idas e vindas, na atualidade, o município está inserido na microrregião homogênea Aracaju, com uma extensão de 156 Km², ocupando 0,7% da área estadual e 7,4% da região da grande Aracaju, limitando-se com Laranjeiras, São Cristóvão, Santo Amaro das Brotas e Aracaju.

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Enfrentando as dificuldades

No ano de 2017, o prefeito Padre Inaldo assumiu a Prefeitura Municipal de Nossa Senhora do Socorro diante de uma das maiores crises já enfrentadas pelas prefeituras sergipanas em termos de arrecadação e repasse do Fundo de Participação do Municípios (FPM). Contudo, mesmo diante deste difícil cenário e com muita responsabilidade, o gestor conseguiu manter em dias os salários do funcionalismo público municipal, bem como o pagamento de gratificações como o 13º salário. Além disso, o município de Nossa Senhora do Socorro, até dezembro de 2017, possuía 40% das suas ruas sem saneamento básico, enquanto outras estavam cheias de buracos. Diante disso, o gestor organizou uma operação tapa-buracos, bem como aprovou, na Câmara Municipal de Vereadores, um pedido de empréstimo orçado em aproximadamente R$ 50 milhões junto a Caixa Econômica Federal. Além disso, o Município firmou parcerias para gerar empregos e resolver antigas demandas dos socorrenses.

Saúde desenvolve ações de prevenção e de assistência

Somente em 2018, várias ações foram desenvolvidas pela Prefeitura Municipal, entre elas destaca-se: a entrega dos kits multissensoriais às mães de crianças diagnosticadas com a síndrome da Zika, ocorrida em setembro, com o objetivo de proporcionar uma melhor qualidade de vida às crianças, com estímulo motor e cognitivo; e a capacitação sobre as Infecções Sexualmente Transmissíveis (ITS’s) para agentes de saúde do município. Segundo a administração, “o objetivo é atualizar os conhecimentos sobre o assunto, a fim de ter um trabalho de prevenção ainda mais intenso”. Além dessas ações, como a prática regular de atividade física promove diversos benefícios à saúde humana, a Prefeitura de Nossa Senhora do Socorro entregou a população, no último mês de agosto, uma Academia de Saúde. Ela

conta com profissionais gabaritados que auxiliam as comunidades urbanas e rurais no exercício das suas atividades físicas, sempre das segundas-feiras aos sábados. Além de prevenir, capacitar e dar suporte a população, a administração do prefeito padre também tem se preocupado em garantir assistência médica aos socorrenses. Tanto que no dia 20 de setembro, o gestor visitou as obras das Unidades Básicas de Saúde (UBS) que estão sendo construídas no Novo Horizonte, Jardim Mariano e Mutirão. Segundo o secretário de Saúde, Enock Ribeiro, “As Unidades de Saúde estarão funcionando com toda a parte de citologia, atendimento médico, odontológico, enfermagem e imunização para os moradores dessas regiões”.

foi realizada em parceria com o Governo do Estado e perfaz uma área total de 72.000m². Um investimento avaliado em mais de R$ 2 milhões. Além disso, no último mês de setembro, a prefeitura realizou serviços de revestimento nas ruas do Loteamento Jaluzi, no Conjunto Piabeta. A ação foi desenvolvida após um pedido dos moradores, que fez o prefeito Padre Inaldo solicitar o material necessário para a obra e seu imediato início. Com a medida, a gestão acabou resolvendo antigos problemas de infraestrutura vividos pela comunidade.

Investimento em infraestrutura melhora ruas e avenidas

Fruto de reconhecimento, dedicação e trabalho, a Prefeitura de Nossa Senhora do Socorro, através da Secretaria Municipal de Educação (Semed), alcançou uma marca histórica para o município. Resultados divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), referentes ao Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), verificado no ano de 2017, apontam que 22 unidades da rede municipal de ensino de Socorro avançaram no percentual de aprendizagem. O IDEB é o indicador que verifica a qualidade da educação básica, observando o equilíbrio entre a aprendizagem e fluxo escolar, onde estão incluídos critérios como aprovação, reprovação e evasão.

Quando assumiu o comando do Município de Socorro, a cidade possuía 40% das suas ruas e avenidas sem saneamento básico e sem calçamento. Era um completo abandono e que causava revolta na população, mas isso começou a mudar, pois nos últimos meses, a Secretaria de Obras tem realizado ações em diversas vias do município. Um exemplo disso é que, desde julho, os moradores do conjunto João Alves passaram a usufruir de pavimentação asfáltica em suas ruas e avenidas. A ação

Educação em Socorro é destaque em todo o estado

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MUNICÍPIOS EM AÇÃO Dados mostram que em Sergipe, apenas quatro escolas alcançaram nota igual ou superior a 6,0, sendo uma na cidade de Itabaianinha, outra em Aracaju e duas no município de Socorro, foram elas as escolas José Teixeira da Cruz e Padre Pedro, ambas alcançaram a nota 6,0. Dentre as 26 escolas dos anos iniciais do Ensino Fundamental, 22 instituições avançaram no percentual de aprendizagem, com destaque para seis unidades que obtiveram nota acima de 5,0, sendo elas as Escolas Municipais Barquinho Amarelo (5.9); Major João Teles (5.6); Eduardo Viana (5.2); Diva Maria Correia (5.2); Nair Menezes (5.1). Já no que se refere aos anos finais do Ensino Fundamental, das sete instituições avaliadas, seis apresentaram um crescimento significativo no processo de aprendizagem. “Se a educação avança, a Prefeitura também avança, por isso continuaremos plantando para futuramente colher ótimos resultados”, garantiu o prefeito do município, Padre Inaldo.

Prefeitura capacita cidadãos para o mercado de trabalho

Enquanto uma cidade satélite da capital sergipana e foco de grandes investimentos, a Prefeitura de Nossa Senhora do Socorro implementou o “Movimento Empregue-se” em parceria com mais de 40 empresas. A ação teve como objetivo oferecer oportunidades de emprego e qualificação profissional aos cidadãos socorrenses. Segundo dados do Município, o movimento, ocorrido dias 9 e 10 de Agosto, beneficiou 13 mil socorrenses. Além disso, ainda em agosto, a Prefeitura de Socorro entregou 2.000 certificados de cursos de qualificação oferecidos gratuitamente pelo Município, através da Semtrab. Com a entrega, o número de socorrenses qualificados para o mercado de trabalho em menos de dois anos de gestão subiu para 14.600. Como resultado, muitos dos que participaram dos cursos começaram a ter suas carteiras de trabalho assinadas. Um grande feito em tempos de crise financeira!

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Mas a administração queria mais. Por isso, no último mês de setembro, através de uma parceria com o Instituto Federal de Sergipe (IFS), disponibilizou para os socorrenses, que têm interesse em ampliar seus conhecimentos, 1.200 vagas em diversos cursos profissionalizantes. Os cursos são nas áreas de comércio, indústria e serviços. As que mais contratam na região.

Prefeito faz uma das gestões mais transparentes do estado

Uma avaliação realizada pelo Tribunal de Contas do Estado de Sergipe (TCE/ SE) nos portais da transparência dos 75 municípios sergipanos constatou que a Prefeitura Municipal de Nossa Senhora do Socorro é uma das mais transparentes do estado. Ela recebeu a nota 9,4, considerada excelente. Neste quesito, somente 12 foi conquistado por 12 municípios.

Perfil do prefeito

Inaldo Luís da Silva é alagoano de nascimento e sergipano de titulação. Formado em Filosofia e Teologia, ele tem 49 anos e, em 2000, fixou moradia em Nossa Senhora do Socorro, após assumir a Paróquia São João Batista, onde ficou conhecido pelos projetos sociais desenvolvidos, destacando-se entre os grandes líderes socorrenses. Em 2011, filiou ao PC do B e cinco anos depois foi eleito deputado estadual. Já em 2016, o então padre largou o sacerdócio e disputou o cargo de Prefeito de Nossa Senhora do Socorro, sendo eleito com 73.12% dos votos.


MUNICÍPIOS EM AÇÃO

Em Nossa Senhora da Glória Prefeito Chico firma parcerias, investe no serviço público e melhora a qualidade de vida

Fotos: Ascom

“O Sertão Cultural valoriza a diversidade de expressões que vão do aboiador ao rockeiro, do artesanato ao artista consagrado nacionalmente, do cordelista aos escritores acadêmicos”

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os últimos tempos, tudo o que a população brasileira mais tem cobrado é um serviço público de qualidade e que faça jus aos impostos pagos pelo contribuinte. Pensando nisso e no objetivo de proporcionar uma vida mais digna aos glorenses, a Prefeitura Municipal de Nossa Senhora da Glória, administrada desde 2013 pelo prefeito Francisco Carlos Nogueira Nascimento, popularmente conhecido como Chico do Correio (PT), tem firmado parcerias e investido pesado na qualificação dos seus serviços. Isto acontece porque o desafio de gerir a maior cidade do sertão sergipano é gigante, mas entre tantos feitos realizados nos últimos anos, somente em 2017 a administração denominada Com a força da nossa gente tem se destacado por ações voltadas ao combate à seca, à saúde, à infraestrutura, à educação e ao esporte.

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Combate à seca

Por estar situado no alto sertão sergipano, um dos principais problemas que afligiam algumas comunidades de Nossa Senhora da Glória era a falta de água. Contudo, em parceria com a Companhia de Saneamento de Sergipe (DESO), a Prefeitura Municipal de Glória conseguiu garantir o abastecimento de água em todo o município. Segundo Chico do Correio (PT), prefeito municipal, até o final do seu mandato serão instalados 100 quilômetros de rede de água encanada nas zonas rural e urbana. “O nosso município necessita pelo menos de mais 80 quilômetros para dar cobertura em todas as comunidades. Diante do exposto, tenho reivindicado diariamente junto a DESO a aquisição de material (Tubos), para que pouco a pouco, possamos completar o atendimento a todas as localidades”, diz o gestor. Neste quesito, entre as obras que estão sendo realizadas destaca-se transferência da rede do Semiárido para a rede da entrada da cidade, com o objetivo de melhorar o abastecimento de água no conjunto Danilo Aragão, na região do Hospital e Presídio, e implantar a rede de água no Conjunto Atevaldo das Neves. Ela garantirá o abastecimento de água a 50 famílias. Segundo a prefeitura, “serão 3 km de transferência e melhoramento da rede, que levam água tratada para a comunidade e garantem o melhor atendimento e bem-estar dos moradores”.

Gestão investe para fiscalizar, prevenir e garantir a prestação de bons serviços

Além de firmar parcerias, o município adquiriu um drone, modelo Phantom 4 Advanced da marca DJI, capaz de produzir fotos e vídeos em 4K. Ele tem o objetivo de auxiliar o Município, por exemplo, na fiscalização e vistorias dos pontos de foco do mosquito transmissor da Dengue, Chikungunya e Zika Vírus, além de auxiliar nas atividades da Vigilância Sanitária.

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A aeronave não utiliza combustíveis fósseis e nem demanda de muitos recursos financeiros para ser utilizada. Desta forma, a administração do prefeito Chico do Correio (PT) também busca evitar possíveis atrasos na execução de obras e proteger os habitantes da Capital do Sertão contra possíveis doenças que necessitam somente de ações preventivas e fiscalizatórias. Além disso, a administração Com a força da nossa gente está realizando um concurso público que visa o provimento de 199 profissionais no serviço público glorense. Eles atuarão nas áreas da saúde, educação, tributos e serviços gerais. Mas para assegurar a qualidade dos futuros servidores e, consequentemente, dos serviços públicos municipais, todos os inscritos devem ter, no mínimo, um curso técnico para o cargo interessado. Enquanto tais ações acontecem, outros servidores municipais participam de capacitações em seminários ministrados em Sergipe e em outros estados brasileiros. Tanto é que o Prefeito Chico do Correio e as secretárias Municipais, Ana Aparecida (Controle Interno) e Karina Veríssimo (Administração), participaram do Curso de Capacitação e/ou Reciclagem para Pregoeiros, no último mês de abril, em Salvador (BA).

Prefeitura avança na infraestrutura para dar qualidade de vida à população

Para melhorar a qualidade de vida da população glorense, a prefeitura tem investido na reforma de vários espaços públicos, a exemplo da Praça Antônio Francisco Vieira, no Conjunto Danilo Aragão, que devido à ação do tempo precisou ser reformada. Além disso, o município também tem reformado suas praças esportivas localizadas nas zonas rural e urbana de Nossa Senhora da Glória. No começo de setembro, a administração devolveu a população o Ginásio de Esportes Padre Leon Gregório completamente reformado. A obra contemplou reparos na quadra poliesportiva, nos banheiros e vestiários. Além de pintura externa e interna. E por falar em esporte, no dia 4 de julho de 2018 foi reinaugurado o Estádio Municipal Editon Oliveira da Silva, em parceria com o Governo do Estado. Com a reforma, o espaço passou a contar com o gramado Esmeralda, o mesmo que é utilizado pelas arenas da Copa do Mundo Fifa 2014. Aliada a essas reformas, o município tem investido em saneamento bási-


co, tanto que acabou com alguns canais de esgoto a céu aberto, a exemplo daqueles localizados nas ruas José Alves de Melo e Januária Alves Oliveira. E como a limpeza pública é um dos fatores que melhoram a qualidade de vida da população, o Município acabou sendo considerado como um dos mais limpos do nordeste. Segundo o Secretário Municipal Ancledson Alves, isto se deve a intensificação dos serviços de limpeza dos espaços públicos, com ações diárias que vão desde a varrição a lavagem dos espaços públicos.

Educação para qualificar a mão de obra e desenvolver o município

Na Capital do Sertão uma coisa é certa: Chico do Correio vistoria a educação municipal de perto. Um exemplo disto é que anualmente o gestor realiza a entrega simbólica do Livro Didático aos alunos da educação infantil, com vistas ao desenvolvimento de uma geração de glorenses cada vez mais bem educada. Além disso, a administração municipal firmou parceria com Federação das Indústrias do Estado de Sergipe (FIES) e já formou 95 profissionais técnicos nas áreas de Auxiliar de Eletricista, Eletricista Automotivo, Produtor de Derivados do Leite, Produtor de Embutidos de Defumados, Costureira Industrial de Moda Feminina em Tecido Plano e o Cozinha Brasil. Com isso, eles estão preparados para buscar um espaço no mercado de trabalho, assim como outros 55 mil alunos Brasil afora, do projeto de iniciativa do FIES.

Cultura para fortalecer a identidade e os valores dos glorenses

Contudo, não dá para avançar sem esquecer-se de quem somos. Por isso, a

gestão do prefeito Chico do Correio uniu as áreas da Educação e da Cultura para promover anualmente o Sertão Cultural. O evento visa resgatar a história do município e enaltecer o seu desenvolvimento, através de atividades que envolvem os alunos de todas as escolas municipais de Nossa Senhora da Glória. “O Sertão Cultural valoriza a diversidade de expressões que vão do aboiador ao rockeiro, do artesanato ao artista consagrado nacionalmente, do cordelista aos escritores acadêmicos”, detalha a prefeitura.

Prefeitura fortalece ações preventivas no campo da saúde

Somente neste ano, a Capital do Sertão viu acontecer um leque de ações que visam prevenir a entrada de novas e conhecidas doenças no município. Em maio, a Carreta da Prevenção do Hospital do Câncer de Barretos desembarcou na cidade e realizou 236 mamografias nas mulheres glorenses. A ação ocorreu

após um pedido do prefeito Chico, da Vice Adriana de Ancelmo e do Vereador Dudú Carcará aos diretores do Instituto de Prevenção “Anna Hora Prata”, por intermédio do senador Eduardo Amorim, do prefeito de Lagarto, Valmir Monteiro, e do Ex-Secretário de Estado, Juquinha do PT. Além disso, em junho, o Município entregou kits de equipamentos para os Agentes de Combate a Endemias (ACE) e Agente Comunitário de Saúde (ACS). A ação teve como objetivo ampliar o suporte dado aos citados profissionais, a fim de melhorar condições de trabalho para o bom exercício das atividades desenvolvidas por estes servidores, no que tange a diagnosticar, por meio das visitas domiciliares, possíveis problemas que comprometam o bem-estar individual e coletivo. Já no mês de julho, o município recebeu a unidade do Sesc Saúde da Mulher que realizou um total de 543 exames, entre mamografias e citopatológicos nas glorenses da cidade e dos povoados gratuitamente. Aliado a isso, o Núcleo de Ampliado de Saúde da Família (NASF) implementou “Grupo de Estimulação Precoce ‘Micro-Sertão’”, para atenção ampliada às crianças do município portadoras de microcefalia. Com o citado grupo, a Prefeitura informou que “a equipe multiprofissional do NASF, com as especialidades de Fisioterapia (Lívio e Sara), Fonoaudiologia (Tomás e Graysianne), Psicologia (Leila e Vaninha), Nutrição (Isadora e Rúbia) e Serviço Social (Bruna Cecilia) ampliará o atendimento que já é prestado aos pacientes, recebendo-os em espaço onde serão desenvolvidas ações para relação mais próxima (com os pacientes e familiares), visando o objetivo de reabilitação das crianças diagnosticadas com a microcefalia, como síndrome congênita do Zika vírus”.

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MUNICÍPIOS EM AÇÃO Fotos: Ascom

Em Lagarto

Prefeito Valmir Monteiro segue reconstruindo o município com foco no social e na infraestrutura

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município de Lagarto tem andado de vento em polpa, tanto é que tem ganhado a notoriedade antes perdida em todo o estado. Isto se deve ao trabalho duro do Prefeito Valmir Monteiro (PSC), que tem como objetivo principal a missão de reconstruir a cidade berço de nomes como Laudelino Freire e Sílvio Romero. Mas o que chama a atenção é que a cidade transformou-se num grande canteiro de obras, pois estão sendo realizadas as necessárias reformas de escolas,

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creches e unidades de saúde, bem como de todas as praças do município. Mesmo diante da crise financeira vivida pelos municípios brasileiros, A gestão Valmir Monteiro tem mostrado respeito e capacidade administrativa do chamado dinheiro público. “Esse é um mandato voltado para as pessoas mais carentes, para o embelezamento da nossa cidade, para a educação, e para tudo aquilo que entendemos ser importante para a nossa cidade. E nós vamos continuar com esse trabalho, porque percebemos que nosso municí-

pio precisava de uma administração que olhasse os seus problemas com boa vontade para resolvê-los”, justifica o prefeito à Revista Tribuna Municipal.

Trabalhando para quem mais precisa

Com a crise financeira que assolou o Brasil, pode-se constatar um crescimento da população mais pobre em Lagarto, tanto é que o centro comercial voltou a registrar a presença de pedintes em suas calçadas. Mas, foi pensando no combate


“A gente arrecada os impostos com o diferencial de que nós tomamos de conta desses recursos. A gente valoriza e aplica cada recurso em benefício da população. Aqui não pegamos o que é do povo para dar para o rico”

a pobreza e a fome, que a administração Construindo com Orgulho a Nossa História anunciou a volta do Programa Bolsa Família Municipal. Na primeira leva, anunciada no dia 10 de agosto, 200 famílias foram contempladas e passaram a receber mensalmente a quantia de R$ 100,00. Em discurso, o prefeito destacou que eles permanecerão no programa municipal até conseguirem ingressar no Bolsa Família do Governo Federal. Desta forma, mais pessoas podem ser contempladas sem prejudicar as finanças do Município. “A gente arrecada os impostos com o diferencial de que nós tomamos de conta desses recursos. A gente valoriza

e aplica cada recurso em benefício da população. Aqui não pegamos o que é do povo para dar para o rico”, salienta o prefeito.

Eliminando as últimas casas de taipas existentes no município

Por ser uma cidade interiorana e com uma vasta área rural, o município de Lagarto possuía muitas famílias humildes abrigadas em casas de taipa, aquelas que serviam de palco para o barbeiro transmissor do Mal de Chagas. Contudo, tais moradias começaram a ser extintas com a volta do Programa de Erradicação

das Casas de Taipa, que vai beneficiar mais 45 famílias que viviam em condições sub-humanas. Entre os primeiros contemplados está dona Ingrid Barbosa dos Santos, de 22 anos. Ela tornou-se símbolo deste projeto, pois por conta das péssimas condições de moradia, teve que deixar a filha mais velha que tem problemas de saúde, sob os cuidados de assistentes sociais até o termino da obra. “Me sinto feliz de novo, porque eu e minhas duas filhas vamos viver numa casa que, comparada à que a gente possuía, é uma verdadeira mansão. Mas principalmente porque vou poder conviver de novo com elas” disse Ingrid em lágrimas de gratidão. O Programa de Erradicação das Casas de Taipa foi iniciado em 2010 durante a primeira gestão de Valmir Monteiro, beneficiou mais de 300 famílias e está sendo retomado em 2018. “Nós queremos dar autoestima e dignidade as pessoas, fazendo com que elas tenham vontade de viver. Essa é a nossa intenção. Por isso, vamos entregar mais casas e acompanhar o andamento dessas famílias”, acrescentou o Prefeito.

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MUNICÍPIOS EM AÇÃO

Embelezando e protegendo a cidade

Parece mentira, mas não é. Além de construir casas populares, manter em dias o pagamento do funcionalismo público e realizar a distribuição de renda entre os mais carentes, o Prefeito Valmir Monteiro anunciou que todas as praças do município serão reformadas. Para ele, o objetivo é mostrar a população que o dinheiro do IPTU está sendo bem aplicado. “Nós vamos reformar todas as praças. Nós queremos ver a nossa cidade mais bonita, tanto que já reformamos o Lagarto da Colônia Treze, o Lagarto do entroncamento de Itabaiana e, da mesma maneira, instalamos a imagem de Nossa Senhora da Piedade na saída para Riachão do Dantas, que era um desejo dos lagartenses em ter uma imagem da nossa padroeira na entrada da cidade”, acrescentou o Prefeito. De acordo com Valmir, as praças serão entregues aos poucos e da melhor forma possível. Contudo, para garantir a tranquilidade da utilização desses espaços pela população é necessário garantir a segurança aos cidadãos. Por isso, o gestor entregou duas viaturas ao setor da Or-

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dem Pública Municipal, sendo uma para a Guarda Municipal de Lagarto (GML) e outra para o Departamento de Trânsito e Transportes Urbanos (DTTU). Desta forma, os órgãos passaram a contar com mais um reforço que proporcionará o ampliamento das ações de segurança na cidade e nos mais de 100 povoados. “É importante que estejamos sempre renovando nossa infraestrutura para que possamos prestar bons serviços à população”, argumenta Valmir Monteiro.

Priorizando a saúde pública dos lagartenses

É bem verdade que a saúde pública de qualidade é um dos quesitos mais cobrados pela população brasileira. Por isso, o Município de Lagarto imunizou crianças de zero a cinco anos contra o Sarampo e a Poliomielite, além de ter reforçado o estoque de medicamento nos postos de saúde e entregue oito novos veículos a Secretaria Municipal da Saúde, através de uma parceria com o Governo Federal. Para Cléverton Oliveira, secretário Municipal da Saúde, os veículos simbolizam o senso de humanidade presente na

gestão Valmir Monteiro. “Desde o começo, nossa frota estava praticamente paralisada e o prefeito fez essa renovação, mesmo diante de tantas dificuldades”, destaca Oliveira. Já para o prefeito, o objetivo foi só um: “saber que quem mais precisa do poder público pode contar com ele”. Além disso, a Prefeitura de Lagarto tem dado continuidade à imunização dos homens e mulheres acolhidos pela Fazenda da Esperança São Miguel. No último mutirão organizado, 46 jovens foram imunizados contra o Tétano e Hepatite B 43. O objetivo da ação foi prevenir a chegada de outras patologias no município, uma vez que os acolhidos vêm de outras regiões do país, além de proporcionar o acompanhamento vacinal dos mesmos.

Gestão que segue focada no bem comum

Diante de tantas ações, Valmir Monteiro confidenciou que o resta é o sentimento de gratidão, por ver a população reconhecendo os esforços da sua administração. “É dentro desse sentimento, sem vaidade e prepotência, zelando pelo que é do povo, que pretendemos continuar fazendo o nosso trabalho”, encerra o gestor.


|| CULTURA ||

A CULTURA é alma de um povo

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ergipe apesar de ser o menor estado da Federação é muito rico culturalmente. Pontos culminantes como o Aboio e a Cavalhada são muito fortes ainda no município de Canindé de São Francisco que está localizada no alto Sertão

Sergipano. A Cavalhada pode- se vê ainda resgatada no povoado Curituba. Esse folguedo teve origem nos torneios medievais, onde os aristocratas exibiam em espetáculos públicos a sua destreza e valentia, e frequentemente envolvia temas do período da Reconquista. Era um “torneio que servia como exercício militar nos intervalos das guerras e onde nobres e guerreiros cultivavam a praxe do galanteria. Nas cavalhadas as alcanzias, bolas de barro ocas cheias de flores e cinzas, eram jogadas no campo de batalha. As cavalhadas recriam os torneios medievais e as batalhas entre cristãos e mouros. No Brasil, registram-se desde o século XVII. Acontecem durante a festa do Divino, nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil. Merece grande destaque também no solo Nordestino o Aboio que é o canto do Sertão. O lamento cantado pela vaqueirama quando está conduzindo o gado para o curral.

É praticado também na vaquejada um esporte apreciado pelo sertanejo. Praticado também no interior de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Em Canindé de São Francisco, no sertão sergipano uma dupla de Aboiadores Iguinho e Lulinha, vem se destacando aos poucos. Talvez por serem tão jovens e trazerem o DNA do pai Isaque Aboiador e do Bisavô o Vaqueiro Nacional José Ventura Lins, de 93 anos, mais conhecido como Zé de Leobino. Filho de Leobino, vaqueiro que fez parte do Bando de Lampião. Uma verdadeira sinfonia o aboio cantado nas pegas de boi no mato, esporte esse onde o Vaqueiro traz em seu figurino o Gibão. Vestuário todo em couro. Zé Liobino é um dos grandes mestres e o grande precursor da Cavalhada em Canindé. Manteve a Cavalhada viva no Sertão por muito tempo. Os enfeites maravilhosos nos cavalos e cavalheiros com as cores azul e encarnados, o terno de Pifano e a cantoria em consonância com a vida caatingueira faz a cavalhada do Nordeste com características próprias. Em Canindé, mais precisamente na região da Fazenda Cuiabá, a Cavalhada do Mestre Ze Liobino, marcou a vida cultural de gerações. Assim como a Cavalhada do Mestre Pedrão da Curituba, tambem em Canindé, com suas apresentações pomposas na festa de São Geraldo em setembro. Dami Alves DRT 13242 | Poeta Manoel Belarmino

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Adriana Andrade Carvalho é Farmacêutica, Professora Efetiva e Diretora Geral da Universidade Federal de Sergipe do Campus de Lagarto. Nasceu em Lagarto, graduou na Universidade Federal de Sergipe, Campus São Cristóvão, e fez seu mestrado e doutorado em Farmacologia na Universidade Federal do Ceará. Também é Youtuber, (www.youtube.com/dricafarma) cujo canal utiliza para promover informações na área da saúde, bem-estar e motivações. Faz pesquisa na área da Oncologia e Saúde Mental. Possui Síndrome Rara e utiliza-se das redes sociais para conscientização e informações (Instagram: @dricafarma).

ARTIGO

Profa. Adriana Carvalho

A importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer O câncer não é apenas uma doença. E sim um conjunto de mais de 100 doenças com características diferentes umas das outras. Infelizmente a palavra câncer traz ao nosso subconsciente imagens de dor, sofrimento e morte. Não é por acaso: o câncer é considerado como a segunda maior causa de morte por doenças no Brasil, perdendo apenas para as doenças cardiovasculares. Se fizermos uma busca ativa, perceberemos que todos nós conhecemos alguém que tem ou teve câncer. Ou até faleceu desta doença. Em pesquisa realizada pela Universidade Federal de Sergipe, Campus Lagarto, foi observado que cerca da metade dos pacientes em quimioterapia no estado de Sergipe tiveram um diagnóstico tardio. O qual dificulta o tratamento e a perspectiva de cura. Mas então porque é tão difícil chegarmos ao diagnóstico em fase inicial? O ponto principal desta questão é uma palavra bem simples: Prevenção. E quando falamos em prevenção do câncer falamos em duas ações: i)Primária, a qual busca-se evitar que a doença se desenvolva, e; ii) Secundária, que busca detectar a doença em estado inicial. A matemática é simples: precisamos ter um estilo de vida mais saudável, evitarmos substâncias que promovam a formação do câncer (carcinogênicas) e buscar acompanhamento médico para realização dos exames preventivos.

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Deveríamos não fumar, ter uma alimentação saudável, praticar alguma atividade física, manter nosso peso corporal adequado, amamentar (para as mães), evitar bebidas alcóolicas, usar filtro solar, praticar sexo com proteção e usar Equipamentos de Proteção Individual em trabalhos que tenham exposição de carcinógenos. Além de tudo isso precisamos realizar os exames preventivos: como a Ultrassonografia das Mamas, o Papanicolau e a Mamografia, para as mulheres; e o exame do toque retal nos homens. Sem contar no autoexame da mama que as próprias mulheres podem fazer. O câncer de mama e de próstata, quando diagnosticado de forma precoce, tem chance de cerca de 90% a 95% de cura. Vale a pena. Mas sempre existe fatores que dificultam esse processo. Seja a dificuldade em conseguir ter uma alimentação adequada devido a correria do dia-a-dia, a indisposição em praticar alguma atividade física, a influência dos amigos para beber ou fumar, a preguiça em utilizar protetor solar e até o preconceito permeando o famoso exame do toque retal nos homens. Mas, podem ter certeza: evitar toda a dor e sofrimento de um tratamento quimioterápico e/ou radioterápico sobressai qualquer dificuldade que você possa ter em um desses itens. E deixo um questionamento: Não é melhor prevenir e conseguir ter uma vida plena e com maior qualidade de vida?


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