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Cenários e resiliência

De acordo com o Sexto Relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) as mudanças climáticas afetarão todos os sistemas, naturais e humanos, e seus impactos econômicos deverão crescer com o aquecimento global. Porém, implicações específicas apresentam elevados níveis de incerteza, dependendo de fatores como avanço das tecnologias neutras em carbono, estruturas de mercado, mudanças comportamentais e planejamento para uma transição justa.

Os impactos na oferta global de energia causados pelo conflito na Ucrânia trouxeram para o centro da discussão questões de segurança e acesso à energia. Os efeitos da crise repercutem em múltiplas dimensões: na urgência de transformar os sistemas energéticos para serem mais seguros, confiáveis e resilientes, de acordo com o mix entre gás natural, petróleo, carvão e eletricidade; e na segurança alimentar e climática.

A última Conferência das Partes (COP), realizada no Egito, em Sharm El-Sheik, ratificou a necessidade de redução das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE) em todos os setores, alinhado às especificidades de cada país e reconhecendo a necessidade de apoio à transição justa. Ganhou força também a discussão sobre a redução no uso de combustíveis fósseis, inclusive óleo e gás, ainda que nenhum acordo tenha sido fechado.

A indústria de óleo e gás tem um importante papel de minimizar suas emissões operacionais e entregar produtos menos intensivos em carbono, uma vez que cenários de transição energética ainda apontam papel relevante para os produtos de petróleo nas próximas décadas.

Nossos Cenários

O uso de cenários corporativos no planejamento estratégico é um instrumento que qualifica a análise estratégica e as consequentes decisões de posicionamento no longo prazo. Elaboramos cenários próprios há mais de três décadas, que orientam nossa visão de futuro e são usados, tanto para quantificação das premissas, como para avaliação de riscos.

Nossos cenários indicam que haverá demanda mundial persistente por petróleo nas próximas décadas. Somos detentores de reservas relevantes e é nossa prioridade continuar a fornecer petróleo e gás de forma competitiva e ambientalmente responsável.

Nesses cenários, tendências consolidadas e incertezas críticas se combinam para dar forma às trajetórias de transição energética. Os modelos de crescimento econômico, as políticas ambientais e climáticas, a inovação tecnológica e as mudanças de comportamento da sociedade têm papel determinante na transição e modificam de forma substancial as projeções sobre o nosso setor (demanda e preço de petróleo). A competitividade intrínseca dos combustíveis líquidos fósseis mantém-se baseada na alta densidade energética, na possibilidade de transporte e estocagem, bem como, na existência de infraestrutura já desenvolvida, fatores com maior ou menor importância em distintos serviços energéticos. O aspecto determinante na resiliência de cada produto na transição para baixo carbono é a escala viável de substitutos, de forma que a inovação é um fator particularmente relevante na transição. Mesmo no cenário de transição mais acelerada (Resiliência), estimamos demanda persistente, ainda que decrescente, por derivados de petróleo nas próximas décadas, que deverão ser fornecidos progressivamente em modelos com menor intensidade de carbono.

O preço do petróleo é uma variável que influencia de forma determinante a definição do portfólio e a identificação da rentabilidade dos ativos num contexto de transição acelerada. No contexto atual, além das incertezas inerentes ao funcionamento do mercado de petróleo, somam-se as questões estruturais trazidas pela pandemia da Covid-19, como as mudanças de hábitos de mobilidade da população, e os impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia. A Rússia é um dos principais produtores e exportadores de petróleo do mundo e seu envolvimento no conflito, bem como as sanções impostas por EUA e União Europeia ao país resultaram em fortes altas e volatilidade nos preços de óleo e gás ao longo de 2022. Em linha com esse contexto, os cenários consideram os efeitos dessa situação de curto prazo e tentam vislumbrar as possiblidades de que esses eventos provoquem mudanças de médio e longo prazo, principalmente no que diz respeito ao ritmo da transição energética.

Cenário Crescimento

Observamos também a consolidação da tendência de eletrificação da mobilidade, assim como a queda de custo e ampliação de escala da produção de energias renováveis modernas e do armazenamento de energia.

Além da demanda de produtos fósseis, a transição para uma economia de baixo carbono afeta duas importantes variáveis de nossa geração de valor: preço do Brent e preço do carbono. Monitoramos o avanço da regulação de mercado de carbono no Brasil, mercado principal onde atuamos, através de metodologia específica de análise de riscos, identificando ameaças e oportunidades para os nossos negócios. Atualmente, realizamos a quantificação de valor e decisões de portfólio conforme as premissas de nosso cenário Base.

Cenário Base

No curto prazo, o cenário é caracterizado pela rápida recuperação da economia após os efeitos da pandemia. A guerra entre Rússia e Ucrânia resulta em altos preços de energia e inflação por curto período. A diminuição da exportação de petróleo e gás da Rússia para a Europa força a uma diversificação e ao aumento, no curto prazo, do uso do carvão.

No médio e longo prazo, o crescimento econômico é acelerado, com expansão dos fluxos comerciais. A transição da economia chinesa para uma dinâmica mais voltada para o consumo é realizada de forma bem-sucedida e a economia indiana ganha relevância. Do ponto de vista ambiental, apesar dos avanços, ainda há dificuldades de coordenação e financiamento para aprofundar a transição para uma economia de baixo carbono.

O resultado desse cenário é de crescimento econômico acelerado, matriz energética ainda concentrada em fontes fósseis e altos preços de commodities.

No curto prazo, o cenário é caracterizado pela trajetória de recuperação mais gradual após os efeitos da COVID-19. A guerra entre a Rússia e a Ucrânia impacta os preços de energia e a inflação global, exigindo atuação duradoura dos Bancos Centrais.

No médio e longo prazo, o crescimento econômico é mediano, em linha com o observado no passado recente. As políticas climáticas e ambientais seguem em linha com as metas já anunciadas, sem, no entanto, aprofundá-las. Existe maior preocupação com a mobilidade e a qualidade do ar nos grandes centros urbanos.

Soluções mais diretas para a transição energética, puxadas por grandes cidades e impulsionadas pela pressão da população, caracterizam esse cenário. A matriz energética mundial tem alterações importantes, principalmente no que diz respeito a participação do carvão e das fontes renováveis.

O resultado desse cenário é de matriz energética mais diversificada, com crescimento da participação de renováveis e preços de commodities em linha com o observado historicamente.

Cenário

No curto prazo, o cenário é caracterizado pela demora na solução da pandemia e uma trajetória de recuperação significativamente mais lenta. A desintegração das cadeias globais de produção e a guerra entre Rússia e Ucrânia desaceleram a expansão do comércio mundial em meio a estratégias de nacionalização de diversos países e setores. As consequências desses eventos causam impactos mais duradouros no endividamento privado e no mercado de trabalho.

No médio e no longo prazo a questão ambiental torna-se central e os países são impulsionados a cooperarem e coordenarem esforços para uma rápida transição para uma economia de baixo carbono. A demanda por produtos fósseis é desincentivada, de maneira que os preços dessas fontes de energia apresentam preços mais baixos.

O resultado desse cenário é um menor crescimento mundial, maior participação de renováveis na matriz energética mundial e menor preço de commodities.

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