

Cordas
Revista online da ESTA PORTUGAL
Vol.4

Pedagogia criativa
Formação Cláudio Forcada
50th International ESTA Conference 2022

Editorial
Experiências pedagógicas
Pedagogia criativa: múltiplos caminhos para a excelência
Entrevista a Bruno Giuranna
Formação para professores | Relatos
a. Claudio Forcada
b. Mara valente
c. Iara Santos Sousa
Memórias e Futuro: Bruno Giuranna e Mark Lambrecht, 9 anos de presidência da ESTA: memórias e uma visão para o futuro
Aprender na ESTA: 50th International ESTA Conference 2022 - Graz
Conferência em Portugal
Livros:
O Violino de Ana Catarina Pinto
Torne-se sócio
Sócios corporativos



Associação ESTA Portugal
Direção
Presidente Jorge Alves
Secretário Clarissa Foletto
Tesoureiro Luzia Lapo
Mesa da Assembleia Geral
Presidente Nuno Arrais
Primeiro Secretário Madalena Cabral
Segundo Secretário Bruno Sousa
Conselho Fiscal
Presidente Ana Sofia Mota
Primeiro Secretário Luis Cunha
Segundo Secretário Adélia Certo
Conselho redatorial
Ana Tedim, Mariana Morais, Emília Alves
Contactos gerais
Rua Professor Egas Moniz, número 13, 2º Dtº 3810-153, Aveiro Tel. 937601778
estaportugal@gmail.com estaportugal.pt
Revista CORDAS
Editores Clarissa Foletto, Nuno Arrais e Jorge Alves
Designer Ana Luz
Produzida e editada pela Associação ESTA Portugal . Dezembro 2023

As afirmações e opiniões publicados na revista CORDAS são de responsabilidade dos autores e não necessariamente expressam a visão da ESTA Portugal. A ESTA é uma organização não governamental com status consultivo do conselho da Europa. A ESTA Portugal é uma associação sem fins-lucrativos registada com o número NIPC 513105980 com sede na Rua Professor Egas Moniz, número 13, 2º Dtº, 3810-153 Aveiro, Portugal

EDITORIAL
Um destes dias, os alunos de iniciação da escola onde trabalho fizeram uma atividade organizada pela professora titular e alguns encarregados de educação. Foram tocar a um centro de dia onde os idosos passam parte do seu tempo em comunidade. Um dos meus alunos iria tocar e fui ajudá-lo com o contrabaixo. Estou muito acostumado a dar aulas de instrumento, fazer o que está ao meu alcance para que as competências instrumentais dos alunos se evidenciem e que venham a obter os maiores sucessos nas apresentações públicas e em provas. Mas o meu aluno tinha nesse dia outras preocupações. Já me tinha dito antes, queria muito estar ali com os seus colegas a tocar para os idosos.
Quando lá cheguei, estavam cerca de duas dezenas de idosos sentados. Enquanto preparava o espaço para a atuação dos alunos fui ouvindo as suas conversas. Uns manifestavam contentamento, que adoram crianças e a maravilha que era tê-las ali. Outros, por comparação, falavam dos seus netos e bisnetos num misto de orgulho, de quem tem nos seus o melhor que há no mundo, e de tristeza, de quem os vê poucas vezes. A chegada dos alunos foi um momento de exaltação geral. Os idosos mais ativos interagiam, batiam palmas e desafiavam as crianças a tocar. Mesmo os que tinham maiores dificuldades na mobilidade, ficaram agitados e manifestavam à sua maneira a conexão com o que estava prestes a acontecer. A energia avolumou-se e encheu a sala.
Então os alunos tocaram, cada um na sua vez, com a determinação de quem queria estar ali mesmo a fazer aquilo, e era o mais importante que podiam fazer naquele dia. Aquele tempo presente encheuse de significado para todos. Os idosos aplaudiam, cantavam e movimentavam-se como podiam, com a alegria e o maravilhamento de quem assiste a um espetáculo de magia, em conjunto com os pequenos artistas, todos imersos num espaço onde a água que os envolvia era música.
Confesso que fiquei surpreendido com o empenho do meu aluno e o de todos quantos se apresentaram naquela tarde. Não havia qualquer outro retorno que não fosse o de, com as poucas notas que sabiam tocar, oferecer um momento especial àquelas pessoas de idade. Tratou-se de um momento de afeto genuíno, que ultrapassou qualquer importância dada à sofisticação musical que tanto procuramos. Aquela foi uma representação autêntica da essência da
música como valor universal. Lembro-me de pensar imediatamente: “o ensino da música é mais isto”. Queria dizer “deveria ser mais vezes isto”.
A música é uma forma de vitalidade. Esta afirmação de Daniel Stern tem muitas dimensões, e quando reflito sobre ela, entendo que existe no ensino da música, muito mais do que à primeira vista se nos oferece pensar.
Se observarmos o ensino português, genericamente trabalhamos no sentido de levar o aluno a avançar o mais possível no percurso académico com o intuito de, eventualmente, se tornar profissional. Reconhecendo as virtudes integradoras da variedade de tipos de ensino que temos, há que admitir também que os caminhos que conduzem à preparação para o ensino superior deixam pelo caminho muitos quantos poderiam beneficiar da aprendizagem musical. É que a música antes de ser uma profissão ou uma atividade económica é, como Stern dizia, uma forma de vitalidade. Uma forma de expressão criativa em que cada um, à sua medida, tem lugar.
A ciência diz-nos que esta vitalidade é observável através das bases biológicas, neurológicas e de motricidade que todos temos e que nos predispõem para a música. Outro aspeto fundamental é que a música permite estabelecer vínculos gregários, em formas de expressão pessoal e coletiva que traduzem diferentes modos de estar na vida, a que chamamos estilos e culturas. Mais, a música, tal como as metáforas, parte do conhecido para chegar ao desconhecido. Como acontece em todas as artes, a música é um produto da criatividade humana que está permanentemente a oferecer-nos novas versões
de si mesma, em interpretações renovadas de como o mundo é ou pode ser vivido.
No ensino, a vitalidade é experienciada na relação professor aluno, do aluno com os seus pares, bem como do aluno consigo mesmo e com o público. A música é muito mais do que um sistema complexo de símbolos combinados de sons, ou um conjunto de técnicas e de competências no domínio de um instrumento. É um reflexo da vida humana, uma forma de viver, de vitalidade, ou seja: de estar em vida.
Nem sempre as atividades escolares são pensadas para que os alunos vivenciem momentos de comunhão, de significado pleno como o que comecei por descrever. Diria mais, há uma série de convenções e procedimentos de estratificação que colocam os alunos – especialmente aqueles que têm maiores dificuldades – em situações onde a dúvida e a importância de não falhar se sobrepõem à beleza e energia próprias de quem gosta de fazer música. Gostar de fazer música é a atração vital que, em primeira instância, leva qualquer criança à escola de música. A expectativa inicial é sempre a de uma atividade entusiasmante e divertida. Natural seria que, apesar das aptidões inatas, apesar das dificuldades e do tempo que necessitam para se desenvolverem, os alunos encontrassem sempre uma solução para aprenderem música. Mas muitos acabam por não se encaixar nos padrões de trabalho e exigência, afastando-se, como se o caminho musical não fosse para eles.
Desafio-vos aqui à reflexão sobre a possibilidade de melhorar a oferta para todos quantos queiram aprender um instrumento, independentemente das suas capacidades e contextos. No domínio das hipóteses devemos ser audazes, pensar em formas de incluir qualquer idade, pessoas de todo o tipo, estilos musicais e culturas. As apresentações públicas como aquela do centro de dia, são iniciativas de abertura à comunidade, onde a interação humana está no centro da ação. É algo umbilicalmente ligado à razão primordial pela qual as pessoas gostam de participar em atividades musicais. Tocar para o outro, tocar com o outro, tocar o outro através da música. Não poderíamos também pensar a escola como lugar maior de encontro na música, espaço de manifestação artística e de vitalidade humana, uma aldeia onde quem quiser tem lugar à volta da fogueira?
Naturalmente, a progressão académica e o acesso a uma profissão continuarão sempre a ser muito importantes para um grande número de alunos e para a atividade escolar. Mas a proposta aqui é trazer até nós aqueles que se sentem amadores da música, que a querem viver, mas que por qualquer razão não encontram lugar no sistema de ensino atual. No nosso caso, dar a possibilidade de aprender um instrumento de cordas, quaisquer que sejam as circunstâncias ou
altura da vida em que as pessoas se encontrem. Esta ideia, que não é nova, encontraria várias dificuldades de implementação. As estruturas escolares teriam de ser ajustadas, as formas de financiamento também. Mas estou convencido de que os benefícios de um ensino mais abrangente recairiam sobre muitos aspetos das comunidades escolares e artísticas, inclusivamente em forma de oportunidades de trabalho para os professores. Se não for amplamente discutida, nunca passará de uma boa ideia.
Talvez a vossa experiência vos diga outras coisas. Os espaços criados pela ESTA.pt - a nossa revista, as formações e conferências que organizamos - são isso mesmo, fóruns de levantamento de questões e partilha das vossas reflexões sobre o ensino que gostariam de ter. A ESTA.pt tem no seu seio muitos profissionais extremamente competentes, capazes de questionar e encontrar soluções, levando às suas comunidades educativas ideias que extravasem o formalismo institucional, que algumas vezes nos impede de olhar o ensino musical como um livro aberto, cheio de possibilidades. Penso mesmo que é nossa obrigação enquanto professores do ensino artístico, questionar constantemente se o que estamos a fazer é suficientemente criativo, inovador e verdadeiramente útil à vida musical dos nossos alunos. A música não parou no tempo, e como ela, o ensino deve renovarse a cada instante. Fica aqui o convite à vossa participação ativa para o encontro de ideias, por forma sermos uma voz mais ativa na melhoria do ensino da música em Portugal.
Fica também a minha invocação pessoal para que essa energia vital que originalmente nos atraiu para a música, nos sirva de guia para a prática pedagógica.

PEDAGOGIA CRIATIVA: MÚLTIPLOS CAMINHOS PARA A EXCELÊNCIA
Fredi Gerling
Tradução para o Português do Brasil por Tiago Ribas

O texto a seguir é um resumo de uma palestra ministrada online, na 48ª Conferência Internacional ESTA, na cidade do Porto, em Portugal, em 2020. O tópico da apresentação foi Pedagogia Criativa, e, considerando que sou professor de violino há cinquenta anos, essa tem sido a minha busca pessoal. Partindo disto, tocarei em algumas questões que ajudaram a dar forma à minha abordagem pedagógica. Nesse contexto, a Pedagogia Criativa não deve ser erroneamente entendida como uma série de truques criativos e imaginativos usados para apresentar conteúdo de aula. Em vez disso, é um conjunto de conceitos de ensino que podem ajudar professores no desenvolvimento de abordagens pessoais, voltadas para cada aluno em particular. Como os pontos de vista expressos neste texto são uma introdução para questões mais complexas, ou seja, as necessidades e expectativas dos alunos, imagino que essas ideias encontrarão ressonância no pensamento pedagógico de cada leitor. Além disso, essas sugestões não serão igualmente relevantes para todos os professores, de modo que tópicos para estudos mais avançados devem partir de dúvidas e demandas próximas à experiência de cada professor.
Existem muitos métodos de ensino de violino, e viemos a conhecer e a aplicar muitos deles na nossa formação tradicional. Professores se tornaram ícones famosos, graças à consistência dos resultados que obtiveram. Os nomes de Ivan Galamian, Carl Flesch e Max Rostal, para citar apenas alguns, estão entre os mais eminentes pedagogos na literatura da pedagogia do violino, tendo ensinado e formado artistas de grande renome.
Devemos levar em conta também as ideias desenvolvidas durante a segunda metade do século passado, visando a difundir o ensino do violino para todos, por meio de aulas em grupo. Shinichi Suzuki e Paul Rolland, embora não diretamente interessados no ensino coletivo, são uma parte essencial desta discussão. Hoje somos afortunados por termos pedagogos operando maravilhas com o ensino tradicional, e também professores desejando pesquisar novos meios de acomodar as necessidades de estudantes que buscam caminhos musicais diversos.
Acredito que como músicos devemos compreender e abraçar as necessidades e objetivos de nossos alunos. Hoje em dia, há violinistas tocando em bandas de rock e violinistas tocando jazz. Enquanto há violinistas tocando em salas de concerto, há também os que tocam em restaurantes e aeroportos, para mencionar apenas alguns dos lugares onde se pode encontrar trabalho remunerado na música. Certamente, há violinistas tocando em estúdios de gravação, enquanto muitos outros estão improvisando nas ruas. Assim, a questão que colocarei aqui é: de que forma nós, professores, preparamos nossos alunos para tocar em qualquer situação dada?
Logo de início, quero dizer que não tenho nada contra a pedagogia convencional, nem contra os métodos tradicionais disponíveis. Portanto, começo falando brevemente sobre minha própria formação, como pano de fundo das minhas ideias.

Posso encontrar as raízes da minha própria prática violinística em Carl Flesch. Max Rostal, um dos seus alunos, foi o mentor de Alberto Jaffé, quem, por sua vez, foi meu primeiro professor importante. Durante meus estudos no New England Conservatory, em Boston, obtive meu mestrado em violino, sob orientação de Eric Rosenblith, também aluno de Flesch. Ao longo dos meus estudos universitários, tive aulas com Nathan Schwartzman, e depois, no mestrado em pedagogia do violino, fui orientado por Kenneth Sarch. Ambos graduados na Juilliard, Schwartzman e Sarch foram alunos de Galamian. No doutorado, estudei com Leopold LaFosse, aluno de Richard Burgin, que, por sua vez, foi aluno de Joseph Joachim e Leopold Auer. Assim, sou grato por ter sido formado de acordo com o melhor da prática violinística tradicional.

Kenneth Sarch me apresentou à abordagem de Paul Rolland, e senti uma imediata conexão com sua metodologia. Eu estava também aprendendo sobre Suzuki, de um modo mais formal, e experimentando suas ideias com alguns dos meus alunos. Naquele tempo não havia cursos de formação Suzuki, como há hoje em dia. Em minhas aulas, eu usava os livros de John Kendall, que incluíam explicações sobre como utilizar o método Suzuki. Assim, esse panorama, junto com cinquenta anos de experiência como professor, estão nas raízes dos meus questionamentos sobre ensino.
Como usar os materiais que um professor bem formado tem à disposição? Os programas de estudos no violino, ao longo dos anos, estabeleceram um curso de ação que inclui exercícios básicos, escalas, cordas duplas, técnica de arco, estudos musicais e o repertório tradicional de concerto. Esse currículo é estabelecido para incluir diferentes níveis que eventualmente levam a graus de formação em música.
Como conciliar um programa preestabelecido de estudos com alunos que nos chegam dizendo que querem tocar em uma banda de rock?
Tive uma experiência direta, que foi relevante no sentido de moldar minha crença na necessidade de uma abordagem criativa de ensino. Recebi um telefonema de um estudante alemão que estava estudando em Boston em uma escola de música muito conhecida. Ele havia vindo da Alemanha para estudar jazz nos Estados Unidos. Nessa conhecida escola de jazz, o professor de violino insistia para que ele tocasse suítes de Bach e sonatas de Beethoven. Ele estava muito frustrado, e com razão, pois isso ele poderia ter feito na Alemanha. Em nosso primeiro contato, ele tocou a primeira sonata de Beethoven, mas não deixou claro seus objetivos de longo prazo. No meio da semana, ele me telefonou querendo cancelar a próxima aula, e disse que estava considerando largar o violino por causa de dores no braço. Convenci-o a retornar para mais uma aula, e mudei todo o curso de ação. Para eliminar as dores, comecei ensinando-lhe os fundamentos dos bons movimentos e da postura saudável. Ele concordou em continuar as aulas, e então trabalhamos nos seus livros de jazz, buscando bons dedilhados e arcadas. Esse novo programa foi tão bem-sucedido que ele trouxe mais oito novos alunos da sua escola de música. Esses estudantes tinham em comum o fato de que não queriam tocar os estudos violinísticos tradicionalmente considerados importantes para dominar o instrumento. No entanto, precisavam tocar bem para adquirir um conjunto de habilidades instrumentais especializadas, dado que o cenário profissional do jazz é muito competitivo.
Esse episódio marca o momento em que comecei a desenvolver ideias voltadas para as necessidades dos alunos, para construir competência. Acredito que devemos seguir um caminho organizado de investigação, para estabelecermos um plano criativo de estudo. Nos próximos parágrafos, apresento uma série de pontos que descobri serem úteis na minha jornada de ensino.

Para tornar claras minhas observações, partirei do retângulo amarelo, no canto esquerdo das figuras. A primeira questão é entender os objetivos do aluno. Devemos considerar que instrumento o aluno pretende tocar, que gênero musical, e que público-alvo ele busca alcançar. Em qualquer estilo ou gênero musical, um alto nível de competência e habilidades são condições prévias para uma boa execução. No entanto, se alguém vai tocar jazz, rock, ou os diversos subgêneros da música de concerto, isso determinará a trajetória da formação específica. Da mesma forma, se o aluno quer ser um músico profissional, há várias opções de público-alvo a serem consideradas. O aluno almeja uma carreira de concertista? Quer ser um professor, ou um musicoterapeuta? Nós, como professores, temos algo a dizer quanto ao direcionamento e ao melhor emprego das energias do aluno. Esse processo, como as setas nas figuras sugerem, é circular, pois as questões influenciam umas às outras, tanto quanto o curso de ação. Uma vez que temos com clareza esses objetivos em mente, podemos planejar um plano de formação que seja criativo, e visar a objetivos específicos.

Acredito que todo trabalho deve partir do bem-estar físico. Não se pode ter uma execução emocionante, a menos que se esteja tecnicamente seguro, e não se pode estar tecnicamente seguro, a menos que se tenha uma condição física saudável. É possível tocar bem com dores, mas isso não é saudável. É difícil tocar bem com uma respiração curta, ou com o coração acelerado. Consequentemente, o primeiro passo para planejar um curso de formação é ter cuidado com o bem-estar físico do aluno. O professor deve analisar a postura, o tamanho e o ajuste adequado do instrumento, os acessórios corretos, tais como espaleira e queixeira, para os violinistas, ou espigão e cadeira, para os violoncelistas, e assim por diante. Por mais vasto que seja o assunto, é essencial que um professor que queira ser criativo conheça as muitas opções a esse respeito. Finalmente, deve-se avaliar as aptidões físicas do aluno. Tamanho da mão, comprimento do braço, largura dos ombros, assim como qualquer possível deficiência, devem ser considerados no planejamento de um curso de formação bem-sucedido. Tive uma aluna, por exemplo, que tinha apenas três dedos na mão direita. Juntos, elaboramos uma empunhadura de arco não ortodoxa, que a permitiu tocar na orquestra amadora onde almejava tocar.

Antes de qualquer coisa, temos que estar saudáveis. Devemos ensinar os alunos a cuidar bem do seu corpo. Embora os períodos de prática não devam ser muito longos, o fortalecimento do corpo é necessário a fim de se ganhar controle. Um corpo apto viabiliza um bom controle de movimentos que podem manter um trabalho em uma postura adequada. Quando alguém trabalha com poucos alunos, a questão da postura é muito importante, e ainda assim difícil de alcançar. Para ter uma boa postura, é necessário ter tônus, músculos flexíveis e controle de movimentos. Essa ideia circular nos ajuda a entender a postura como uma atitude dinâmica do corpo, e não como a rigidez de uma estátua. Nesse sentido, descobri que as ideias de Paul Rolland são muito úteis.
Em seguida, no nosso modelo, vêm as aspirações musicais do aluno. Se sabemos o que é essencial na música que os alunos querem tocar, podemos planejar o trabalho técnico necessário para torná-la viável. Considero que os aspectos técnicos e questões interpretativas estão interconectadas. Essa é a razão porque essas questões são circulares. Quanto mais técnica se quiser ter, mais apto fisicamente se deverá estar. Quanto mais profundidade de interpretação se quiser veicular, mais destreza técnica se deverá ter. Portanto, é muito importante entender o fluxo da preparação para a execução.


O trabalho musical básico começa pelo treinamento auditivo. Não me refiro necessariamente ao treinamento auditivo formal, como o solfejo e ditado. No nível básico, é preciso ouvir música. Desde o começo deve-se ouvir música, para formar imagens sonoras na mente, para saber como se quer soar. Do som ao símbolo é uma parte importante do treinamento auditivo no método Suzuki. Ouvir gravações, cantar, e então tocar. Se a música agrada o ouvinte, provavelmente será incorporada à sua lista de músicas favoritas, e, quanto se ouve música, mais se começa a conhecer o repertório. Com uma melhor compreensão da literatura, vem a oportunidade de explorar a estrutura musical. Um maior conhecimento da forma leva a uma escuta mais sofisticada, novas obras, e estruturas mais complexas. De novo, o fechamento do círculo permite o crescimento contínuo. A tarefa do professor nesse processo é criar oportunidades para o desenvolvimento de conhecimento em direção aos objetivos musicais do aluno.
Para tocar um instrumento musical, é necessário trabalho técnico. Esse processo começa com o básico: como segurar o instrumento, como produzir som, como mudar as alturas, como mudar a duração dos sons, etc. Em continuação, o repertório padrão de exercícios, escalas, e estudos musicais. Sevcik, Flesch e Kreutzer imediatamente vêm à mente quando o assunto é habilidades básicas no violino. Geralmente associamos a técnica expandida à música contemporânea, e existem agora materiais voltados às especificidades desse repertório. Aqui, quero propor outro significado para técnica, ou seja: a compreensão dos objetivos do aluno formará a base para a adaptação e a expansão dos estudos e o repertório de escalas. Para quem vai tocar Paganini ou Jazz, o básico é o mesmo. Um bom detaché faz parte da técnica básica. Ele deve ser executado com o braço relaxado e produzir um som vibrante. Podemos dizer que se trata de técnica expandida quando se muda o som produzido, em função das necessidades do repertório que o aluno quer tocar. Por exemplo, o aluno de jazz que mencionei sabia algo do básico, escalas, e o repertório de estudos. Trabalhamos nos princípios essenciais de postura, mas, para construir uma forte técnica padrão, tive que ser muito criativo. Ele estava estudando as escalas tradicionais, e a habilidade em escalas maiores e menores é muito importante. Mas o seu objetivo era tocar jazz. Existem muitos padrões no idioma do jazz. É preciso desenvolver padrões originais, e combinar esses padrões de jazz fluentemente, em todas as tonalidades, para poder improvisar. Isso é bem diferente, por exemplo, dos materiais presentes no sistema de escalas de Flesch. Assim, usamos livros para saxofonistas, que tinham repertório de standards de jazz e padrões de improvisação. Trabalhamos no sentido de alcançar uma boa sensação física tocando esse conjunto específico de material e isso se tornou sua técnica padrão básica. Ele trabalhou até que esse material fosse algo que pudesse tocar com fluência.

O professor criativo terá que lidar com questões complexas, como parte da preparação profissional dos alunos.

A questão é que ele não tinha a necessidade de ser fluente nos estudos de Kreutzer, mas precisava ser muito fluente naqueles padrões de jazz. A fluência nos padrões de jazz lhe permitiu expandir seu repertório pessoal de padrões, adquirindo assim a técnica para se tornar um executante com personalidade própria. Além disso, a competência nos padrões básicos de jazz possibilitou que ele expandisse a técnica, incorporando novos elementos, tais como: golpes de arco, produção de som, mudanças de posição e afinação. Uma vez que os alunos adquirem um alto nível de competência, espera-se que os professores discutam as alternativas e escolhas de carreira. O professor criativo terá que lidar com questões complexas, como parte da preparação profissional dos alunos.

O que eu afirmo é que, pelo menos inicialmente, é preciso entender o repertório que o aluno vai tocar profissionalmente. Seja jazz, ou o repertório clássico sinfônico, música de câmara ou concertos, uma vez que os desejos do aluno estão claros, pode-se planejar um curso de formação apropriado a esse repertório. A tarefa do professor é se certificar de que o repertório escolhido pode ser executado com facilidade e fluência. Ao mesmo tempo, o jovem instrumentista deve ser capaz de lidar com as emoções ao apresentar esse repertório em público ou em audições. Conhecer o repertório leva tempo, e o estabelecimento das habilidades motoras requer um tempo adicional. Quando tudo isso está bem estabelecido, deve-se considerar a ética. Um músico respeitado deve estar preparado para trabalhar profissionalmente dentro de um conjunto de princípios éticos. O professor deve entender, dar o exemplo, e ajudar os alunos a desenvolverem atitudes e condutas éticas. A ética envolve a escolha de repertório apropriado para diferentes situações, e assim nosso círculo começa de novo.

A preparação de repertório começa com uma referência aural. Deve-se formar uma imagem sonora no ouvido interno, e não importa de que tipo de música se trate. Em muitos casos, pode-se ouvir uma interpretação já existente de uma obra. No caso de obras novas, junto com a audição de repertório similar, é necessário usar as habilidades de leitura musical e ferramentas analíticas, para formar esse conceito sonoro na mente. Embora pareça que, nesse caso, a leitura vem antes, esse tipo de leitura da partitura é uma forma de ouvir conjuntos conhecidos de sonoridades já presentes na mente, que podem ajudar a moldar a nova música. Esse processo complexo é rigorosamente entrela

çado, e reavaliado ao longo da prática. Quanto mais se pratica, melhor se pode ouvir. Na medida em que se expande o conhecimento da obra, a leitura passa a ser mais do que meramente o ato de ler as notas. Passa-se a um novo nível, onde se lê a estrutura, se respira com conteúdo emocional, se imagina paisagens sonoras, e assim por diante. A leitura, nesse senso mais avançado, gera ideias cuja execução requer mais destreza, e isso requer mais prática. Quanto mais se ouve, mais significados são incorporados, e mais prática é necessária para atingir os novos objetivos. De novo, é a natureza circular do processo que levará à questão da preparação emocional.
É evidente que uma execução significativa envolve uma série de processos complexos. Ela impõe altas demandas, e o envolvimento emocional pode comprometer o controle técnico. Ao mesmo tempo em que é desejável que uma execução seja emocionante, a tarefa em mãos é ser capaz de comunicar as emoções ao ouvinte, sem deixar que elas dominem o executante.

A música não é uma profissão fácil. O custo emocional é muito alto. O professor deve trabalhar de um modo que os alunos mantenham uma atitude objetiva em relação à sua própria execução. Se bem-sucedido, o professor mostrará o caminho para superar as dificuldades. Superar as dificuldades gerará satisfação, e os alunos poderão ter um sentimento de realização. Esse sentimento de realização gerará a força de vontade necessária para continuar trabalhando. Como eu disse, é uma profissão difícil. Grande tenacidade é um requisito para se atingir o sucesso.
Quando diligência e talento andam juntos, o resultado pode ser o sucesso. Lidar com o sucesso não é tão simples como se pode pensar. Auto engrandecimento, ganância e egoísmo são coisas que, infelizmente, estão muito presentes em artistas, ainda assim, maravilhosos. É essa a razão pela qual o trabalho na preparação ética está incluído nestas considerações. Acredito que a preparação ética começa pela simples aceitação de que mesmo os artistas mais consumados não sabem tudo o que há para saber. Ainda sobre a integridade de caráter e humildade, a missão de um professor também leva ao entendimento de que artistas não têm passe livre para serem grosseiros com outras pessoas. Geralmente os alunos têm por hábito se autodepreciarem. Não se deve confundir uma avaliação honesta das deficiências com autodepreciação. Os alunos devem aprender estratégias de autoavaliação, como meio de implementar carreiras profissionais gratificantes. É preciso aprender a ter a honestidade de aceitar o que se pode fazer, e evitar fazer o que não se pode. Geralmente os melhores artistas estão, honesta e respeitosamente, buscando ser melhores profissionais.

Agora quero enfatizar que todas as ideia acima estão presentes quase que simultaneamente durante a jornada em direção à maestria musical. Assim, essas ideias permeiam o trabalho, levando a uma profissão musical significativa. Às vezes, deseja-se dar aos alunos uma oportunidade para se expressarem artisticamente, mas sua
técnica é deficiente. Em outras ocasiões, o gênero musical oferecido ao aluno não é do seu interesse. Acredito que, para termos um nível em que podemos esperar realização artística dos alunos, devemos ir ao encontro das suas necessidades. No início deste texto, mencionei um estudante de jazz e seu descontentamento com o curso de estudos proposto. Aquela situação apresentou uma oportunidade de utilizar elementos do repertório do jazz, em vez das escalas tradicionais, para seu desenvolvimento técnico. Portanto, compreender o que é essencial para atingir a excelência em qualquer gênero é um dever. Isso pode ser muito difícil para nós violinistas tradicionalmente formados. Hoje em dia, a disciplina de World Music trouxe muito enriquecimento à experiência musical. Se não se está familiarizado com um gênero de música em particular e com a cultura de onde ele vem, deve-se ainda assim tentar extrair da própria música o que é preciso para que ela seja apropriadamente executada no violino. Alunos tocando esses repertório podem, ainda assim, usar alguns dos métodos tradicionais de modo criativo. Se um aluno, por exemplo, quer tocar música brasileira, será útil praticar alguns ritmos brasileiros aplicados às escalas.
Acredito que esse tipo de entendimento nos capacita a desenvolver as ferramentas para irmos ao encontro das necessidades do aluno. Deve-se planejar estratégias de estudo baseadas nas ferramentas tradicionais, e pesquisar novas ferramentas para novos repertórios, adaptando-as em cada passo do caminho.
Penso que é assim que continuamente encontramos os desafios da profissão que escolhemos. Uma vez que podemos cooperar com essas demandas, podemos esperar realização artística dos nossos alunos. Para alcançar maestria, que é o nosso objetivo final, devemos partir de uma atitude de satisfação e serenidade. Acredito que essas qualidades e atitudes vêm de se estar à vontade com os elementos técnicos, e do prazer de uma execução fluente e sem lacunas. Não é fácil tocar com abandono. É extremamente difícil alcançar um alto nível artístico. Mas um grande artista nos mostra que isso é possível. É a sua habilidade em superar os aspectos físicos da execução que permite momentos de transcendência. Nesses raros momentos de sublime maestria musical, não pensamos mais em como um violinista segura o violino ou o arco. Em nosso ensino, devemos almejar o desenvolvimento de uma imersão nos elementos musicais, que possa trazer à tona o estado do Sublime na execução de uma obra em particular. Acredito que, se planejamos o trabalho técnico centrados no repertório e gênero que são caros ao aluno, uma atitude positivamente livre de tensão pode ser facilmente atingida. Por sua vez, aqueles belos momentos musicais podem acontecer com mais frequência. Esse é o momento certo de
desenvolver uma personalidade artística, de modo que os traços únicos de cada aluno sejam preservados, desenvolvidos e nutridos. Professor e aluno ganham, quando consideram objetivos profissionais que geram os traços desejados para cada gênero. Tive um aluno mais velho que era também ator, e utilizava o violino como parte da sua atuação. Sua personagem no palco era um músico excêntrico. As necessidades imediatas desse aluno estavam relacionadas ao conforto físico. Por ter tido pouco preparo, ele era muito tenso. Trabalhamos no sentido de deixá-lo tão confortável quanto possível com o instrumento, e, assim que isso foi atingido, eu sugeri que ele já tinha preparo suficiente, pois senti que alguns dos seus movimentos e certas imprecisões que lhes eram únicos constituíam as características mais importantes da sua atuação. Se o seu objetivo fosse tocar em uma orquestra, teríamos trabalhado num rumo bem diferente. Assim, minha proposta é ajudar os alunos a entenderem e aceitarem que eles são únicos, possibilitando, assim, o desenvolvimento de uma personalidade adequada ao seu objetivo profissional, o que levará a um estado de espírito positivo e tranquilo. Uma vez mais, nosso círculo está completo.
É assim que acredito que vamos do mais básico até o nível artístico. Gosto de dizer que a arte de ensinar é reconhecer o iniciante no artista, e o artista no iniciante. Consequentemente, a partir do que acabei de expor, digo que a cada manhã somos iniciantes, e, depois de um dia de trabalho, à noite somos melhores artistas.
Aplico isso aos alunos quando eles vêm para as aulas. Penso: este ou esta jovem instrumentista, está apenas começando sua jornada. Como posso fazer desta aula um novo começo, de modo que na próxima aula eu possa ouvir uma execução artística melhor? Acredito que se deva usar todo o conhecimento acumulado ao longo de anos, e moldá-los conforme as necessidades dos alunos.
Para encerrar, eu gostaria de dizer que muitos dos meus ex-alunos estão conduzindo carreiras bem-sucedidas, nos mais variados campos. Tenho orgulho do músico de rua que atingiu uma posição financeira segura, tocando em festas e em estações de trem. Me enche de alegria o fato de alguns hoje estarem bem colocados como professores em universidades e escolas de música no Brasil e nos EUA. Dar masterclasses para alunos de ex-alunos é uma grande alegria. Claro, fico encantado quando recebo um CD de um ex-aluno, ou vejo que estão tocando os 24 caprichos de Paganini em um recital.
Convido você a se juntar a esta gratificante jornada que eu chamo de Pedagogia Criativa.

ENTREVISTA A BRUNO GIURANNA
por Rita BarretoVioletista e maestro, Bruno Giuranna nasceu em Milão e cresceu numa família de músicos. Depois de presidir a associação italiana entre 2004 e 2011, foi eleito presidente europeu da ESTA (Associação Europeia de Professores de Cordas) em 2011, associação que reúne professores de instrumentos de cordas na Europa. Desempenhou este cargo até 2020, ano em que foi eleito Presidente Honorário.

Foi membro fundador do I Musici, do Quartetto di Roma e do Italian String Trio. Iniciou a sua carreira de solista com a estreia da obra dedicada a si, Musica da Concerto para Viola e Orquestra de Cordas de Giorgio Federico Ghedini, tendo tocado sob a direção de Herbert von Karajan. Apresentou-se com as conceituadas orquestras Berliner Philharmoniker, Concertgebouw em Amesterdão e Teatro alla Scala em Milão, e trabalhou com maestros de renome como Claudio Abbado, Sir John Barbirolli, Sergiu Celibidache, Carlo Maria Giulini e Riccardo Muti. Foi professor titular de viola na Hochschule der Künste em Berlim até 1998. Posteriormente, lecionou na Musik-Akademie de Detmold, no Conservatório de S. Cecilia de Roma, no Royal College of Music e na Royal Academy of Music, em Londres. Foi professor convidado em masterclasses um pouco por todo o mundo. Atualmente, leciona nos cursos o Stauffer Center for Strings em Cremona e na Accademia Musicale Chigiana em Siena.
Foi diretor artístico da Orchestra di Padova e del Veneto e presidiu o júri do I Concurso Internacional de Viola Bruno Giuranna realizado no Brasil, em 1988. É convidado frequentemente para o Festival de Marlboro nos Estados Unidos.
Giuranna possui uma vasta discografia que inclui gravações para a Philips, Deutsche Grammophon e EMI. Estas gravações incluem interpretações da Sinfonia Concertante de Mozart com Franco Gulli, Henryk Szeryng e Anne-Sophie Mutter, os Quartetos para Piano de Mozart com o Trio Beaux Arts e os Concertos para Viola d’amore de Vivaldi. Em 1990, a gravação dos Trios de Cordas de Beethoven com Anne-Sophie Mutter, Bruno Giuranna e Mstislav Rostropovich foi nomeada para um Grammy.
Como maestro, Giuranna ganhou o Grand Prix du Disque de l’Academie Charles Cros, em Paris, pela gravação dos Concertos para Violoncelo de Boccherini, com David Geringas como solista.
Profundamente convencido da importância de “tocar em conjunto” como ferramenta insubstituível no desenvolvimento da personalidade musical, Bruno Giuranna dedica-se há vários anos à realização de projetos de música de câmara.
Cavaleiro da Grã-Cruz de Mérito da República Italiana, em 2003 recebeu um diploma honorário em Letras pela Universidade de Limerick.
Rita Barreto: Qual é sua memória musical mais antiga?
Bruno Giuranna: Eu devia ter 2 anos. O meu pai estava a cantar uma canção e eu estava a chorar.
RB: Quando começou a tocar viola d’arco?
BG: Aos 17 anos, logo após ter acabado o meu curso de violino.
RB: Quando decidiu ser músico profissional? E porquê?
BG: Não sei. Quando me apercebi, já era músico profissional.
RB: Em criança, quais eram os seus sonhos?
BG: Quando era criança, eu queria fazer bem qualquer coisa que fizesse.
RB: Como era ser violetista naquela época?
BG: Estávamos em 1950, depois da guerra e praticamente não havia informação ou fontes de inspiração. O modelo estético que encontrei ao meu redor foi que “a viola tem que ser tocada forte”. Eu senti que tinha que inventar uma paleta de sons na viola.
RB: Sente que realizou os seus sonhos?
BG: A vida ofereceu-me muito mais do que eu jamais sonhei em sonhar.
RB: Porque é que começou a ensinar?
BG: Um dia, durante uma aula, o meu professor de composição convenceu-me a participar num concurso estatal para professores. Ganhei o cargo e comecei a lecionar aos 24 anos. Adorei desde o início.
RB: Porquê a Alemanha?
BG: Eu comecei a dar aulas em Itália e muitos anos depois fui convidado para lecionar na Alemanha.
RB: Quais as diferenças mais significativas entre a educação musical italiana e a alemã?
BG: Na Alemanha, a educação musical primária está muito mais difundida do que em Itália.
RB: Se pudesse, o que importaria de Itália para a Alemanha?
BG: A comida.
RB: E o que importaria da Alemanha para Itália?
BG: A organização.
Ao mesmo tempo que considera importante ter em mente um ideal de instrumentista, Giuranna percebe que cada aluno é diferente e não procura que todos se pareçam com o ideal que criou. Defende, por isso, que o ensino depende do aluno e das suas características, que não há uma “melhor forma” para fazer as coisas e deve haver uma constante adaptação ao aluno em questão.
RB: O que considera mais importante para um estudante de viola d’arco?
BG: Não pensar que a viola é diferente de qualquer outro instrumento.
RB: Como avalia os candidatos à sua classe? Que competências mais valoriza?
BG: Avalio, principalmente, a margem de evolução que prevejo para cada candidato. A seriedade e o verdadeiro desejo de evoluir devem ser notórios.
RB: Geralmente, que competências faltam?
BG: Ritmo e afinação perfeita.
RB: Quais os maus hábitos que encontra mais frequentemente nos seus alunos?
BG: Não só nos meus alunos: fazer ‘interpretação’ demasiado cedo.
RB: O que recomenda aos professores do ensino secundário trabalharem com seus alunos, antes de eles irem para a universidade?
BG: Que sejam muito severos com os aspetos fundamentais do tocar: postura correta, relaxamento, como segurar o arco para produzir o melhor som... e o polegar da mão esquerda! Faz-me lembrar da face oculta da lua. É muitas vezes ignorado porque os professores sentam-se do outro lado, negligenciando a sua posição, relaxamento e independência do resto da mão.
RB: Sabemos que há alunos muito talentosos mas que falham no seu trabalho individual, e há muitos alunos que trabalham mas não têm talento. Considera que existe uma proporção certa para estes parâmetros? Há alguma outra competência que considere ser muito importante para se ser bem sucedido?
BG: O trabalho do professor é ser mais exigente com os alunos talentosos. Depende muito do que quer dizer ‘ser bem sucedido’. Eu deixaria a questão da proporção para a receita de tiramisù.
RB: Que conselho dá aos jovens professores de viola d’arco?
BG: Aproveitem o que estão a fazer e, principalmente com os pequenos, sejam criativos e estejam de bom humor.
RB: O que é mais difícil: tocar ou ensinar?
BG: Ambas são partes fantásticas da nossa profissão. Enquanto se executa uma delas, sente-se que se está de férias da outra e por isso nunca há cansaço.
RB: Qual considera ser a sua maior contribuição para o ensino da viola?
BG: Não faço ideia.
RB: Muitas pessoas falam sobre a Escola de Giuranna. O que pensa dessa ideia? Como descreveria a sua própria escola de performance e ensino?
BG: Nunca ouvi falar disso. Eu só sei que me recusei a escrever os meus exercícios porque prefiro explicá-los pessoalmente.
Para Giuranna, interpretar uma peça é fazer algo que não está escrito na partitura. As partituras escritas não mostram a música mas, pelo contrário, escondem-na.
RB: Considera importante que um estudante de viola d’arco ouça o repertório antes de começar a aprendê-lo?
BG: Pelo contrário: é importante que o aluno não ouça o repertório antes de desenvolver, pelo menos, uma vaga ideia sobre a obra, para evitar a formulação de uma ideia que o irá condicionar para o resto da sua vida.
“Nunca toquem nada sem antes decidirem o que querem e vão fazer.” Giuranna
RB: Qual é o segredo para manter os alunos motivados a aprender e a praticar?
BG: Com o maior respeito pelo direito constitucional de qualquer pessoa a não estudar, se um aluno não está preparado, eu não o ensino. Não há estudo, não há aula. Felizmente, há muito tempo que não tenho alunos em idades difíceis.
RB: Considera as masterclasses importantes? Porquê?
BG: Eu ensino no formato de masterclasse. O aluno habitua-se à presença do público e as pessoas do público treinam-se para ouvir.
RB: Acredita que existe um método ideal para ensinar viola?
BG: Considera que ensinar viola é diferente de ensinar qualquer outro instrumento?
“O que faz mais sentido é pensar na melhor forma de conseguir fazer e executar algo, independentemente da escola.” Giuranna
Giuranna é também um grande defensor da ideia de que tocar em conjunto é uma ferramenta insubstituível no desenvolvimento da personalidade musical. Na música de câmara esta ferramenta deve estar presente em todos os elementos para que exista coesão.
RB: Penso que, para si, tocar em conjunto é essencial. Considera que essa prática deve ser implementada assim que um aluno começa a aprender o instrumento?
Considera a música de câmara fundamental no percurso formativo? Quando é que um jovem músico deve começar a praticar essa linguagem? Quais as coisas mais importantes para ensinar sobre música de câmara?

BG: Tocar em música de câmara deve começar assim que o aluno conseguir dominar o instrumento de forma razoável. Tocar em formação de câmara ensina a ouvir os outros. Mais tarde, o aluno ainda se tornará capaz de imitar, o que também é importante. Deverá aprender a sua parte como se fosse um concerto a solo e não aprender a partitura “de ouvido”: o aluno deve aprender a estudá-la.
RB: Falando um pouco sobre saúde, para si, qual é a melhor forma de ter uma execução relaxada para evitar problemas posturais?
BG: Devemos sempre ter uma postura correta e os músculos relaxados. Quando a musicalidade e o temperamento atingem os músculos, estes trazem tensão: nessa altura, não temos apenas um problema de postura, temos uma má performance.
RB: Fez exercício físico regular para melhorar a sua forma de tocar e evitar lesões?
BG: Eu só nadei regularmente dos 14 até os 16 anos, mas não o fiz para melhorar a minha forma de tocar.
RB: Tem alguma dieta especial?
BG: Não.
RB: E para os concertos? Escolhe alguma comida especial?
BG: Não escolho nada de especial para os concertos: devemos perceber desde o início que um dia de concerto é um dia normal, caso contrário será uma vida miserável.
RB: Qual é o segredo para ser tão bem-sucedido, com uma postura tão positiva e saudável?
BG: Acho que não há nenhum segredo. (E um segredo não continuaria a ser um segredo se eu falasse sobre isso) Tentar abrir a nossa mente e olhar para o que fazemos com olhos diferentes, pode ser um truque possível.
RB: Se pudesse mudar decisões do seu passado, o que faria diferente?
BG: Aprenderia também a tocar piano.
RB: Que futuro prevê para a música clássica? E para o ensino?
BG: Não é uma resposta fácil. Sou um sortudo por não ter que começar a minha vida musical nos dias de hoje.
Formação para professores Testemunhos
Por Professor Claudio ForcadaAeropuerto de Oporto, esperando la puerta de embarque, después de dos días de intenso trabajo en un curso de pedagogía organizado por ESTA Portugal. Es momento para descansar y reflexionar por las experiencias vividas. Es mi quinta visita profesional a nuestro vecino país y siempre regreso con la misma sensación de la primera vez: Portugal es un país al que merece la pena mirar, musical y pedagógicamente hablando. Tendemos a mirar y admirar a otros países europeos, cuya tradición musical es ciertamente reconocida, y a veces olvidamos los tesoros que hay cerca de casa. Recuerdo el primer curso que impartí para ESTA Portugal, lleno de profesores de todo el país, una organización perfecta, conciertos de compañeros profesionales de un alto nivel y otro de un grupo de niños Suzuki que decía mucho de la calidad de sus profesores, colegas deseosos de conocer nuevas ideas, mostrando un agradecimiento y humildad que les engrandece como profesionales. A este curso les siguieron otros en la Orquesta Geraçao, en Lisboa: impresionante ejemplo de cómo una labor social es compatible con un altísimo nivel de calidad artística. De nuevo regreso a Aveiro, y de nuevo me siento abrumadamente acogido por la hospitalidad y respeto de mis colegas portugueses. Definitivamente, Portugal es un lugar al que mirar, seguir y visitar, para aprender y crecer. Muito Obrigado!
O meu nome é Iara Sousa, tenho 22 anos e participei nos dias 19 e 20 de dezembro numa formação organizada pela ESTA.
Começo por agradecer à ESTA e ao professor Cláudio Forcada por esta oportunidade, que foi a minha primeira formação neste contexto e que considero ter sido muito importante para a minha carreira de professora de violino que está apenas agora a começar.
Como tal, tinha presente o que eu queria e não queria fazer enquanto professora, no entanto não tinha ainda estabelecido metas, metodologias claras, não tinha lido sobre como ensinar violino a alunos com problemas de saúde específicos, nem sabia como aplicar diferentes métodos simultaneamente no mesmo aluno e agora posso dizer que tenho vários exemplos de professores a seguir e posso finalmente afirmar que “daqui a 10 anos quero ser assim e quero ensinar assim, com a mesma motivação do primeiro dia em que comecei, com um vasto leque de conhecimentos, não só na área instrumental, como também na consciência corporal e dos movimentos!”
Tenho alunos que, após a pandemia, quiseram continuar com as aulas on-line, o que dificulta o processo de ensino e de aprendizagem e depareime com certas situações difíceis de resolver, mas agora tenho as ferramentas tecnológicas adequadas aos seus problemas e já sei como abordar os pais e a importância do seu papel no ensino do instrumento a um iniciante.
Acho que nunca me vou esquecer desta formação porque após tudo isto ainda me forneceu ferramentas que estão a revelar-se muito úteis para a realização do meu Mestrado em Ensino!
O professor Cláudio Forcada foi super acessível, sempre com um discurso claro e conciso, durante toda a formação e houve sempre interação e participação da parte dos formandos . Superou sem dúvida todas as minhas expetativas e mal posso esperar pela próxima!!!
A vinda do Professor Cláudio Forcada ao nosso país não foi inédita e, mais uma vez, a sua presença foi fonte de grande entusiasmo e adesão. O número de docentes que participaram, numa altura em que há tantas outras actividades a decorrer, é comprovativo do reconhecimento dos nossos docentes pelo Professor Cláudio e do impacto pedagógico que este tem tido no nosso país. Com uma energia absolutamente inspiradora, o Professor Cláudio relembranos que o nosso desenvolvimento pessoal e profissional só acontece quando movidos pela nossa genuinidade e paixão. A reinvenção não tem limites. Conhecedor de várias realidades, desde as mais carenciadas às mais favorecidas, o orador conquistou o seu público pela empatia e pelo conhecimento da nossa realidade portuguesa. Não tendo um método estabelecido, o Professor Cláudio é um cientista da música e investigador nato, que reflete sobre metodologias adotadas por grandes pedagogos, como Paul Rolland, Shinichi Suzuki e Kato Havas e outras mais contemporâneas. Sem tirar de vista o legado desses grandes mestres, o Professor Cláudio aceita as constantes mudanças da nossa sociedade e abraça cada transformação que a educação enfrenta. Detentor de um rigor pedagógico extraordinário, o Professor Cláudio partilhou ideias, estratégias e materiais didácticos desde os mais convencionais aos mais tecnológicos. Uma passagem, sem dúvida, inspiradora, que ativou a criatividade dos participantes, levando-os a repensar e renovar as suas práticas pedagógicas.
Numa sociedade onde se “luta” pelo melhor posicionamento em ratings, esta formação faznos acreditar que a educação se pode tornar num espaço onde o conhecimento e a felicidade caminham no mesmo sentido.


Bruno Giuranna, Geza Szilvay, Jorge Alves, John Shayler, Kjell-Åke Hamrén, Mark Lambrecht
e Mariana Morais
Transcrição e tradução Ana Tedim
Legenda:
BG - Bruno Giuranna
GS - Geza Szilvay
JA - Jorge Alves
JS - John Shayler
KH - Kjell-Åke Hamrén
ML - Mark Lambrecht
MM - Mariana Morais
Bruno Giuranna e Mark Lambrecht, 9 anos de presidência da ESTA: memórias e uma visão para o futuro.
“Bruno Giuranna and Mark Lambrecht, 9 years of presidency for ESTA: memories and looking at the future”
48th Online ESTA International Conference
Desde 1972, ano da sua fundação, que a ESTA Internacional vem crescendo e espalhando o seu propósito por cada vez mais países, professores e alunos. Atualmente, 25 países promovem elevados padrões artísticos e pedagógicos no ensino dos instrumentos de cordas, bem como proporcionam um espaço de partilha de conhecimentos e vivências entre professores, performers e investigadores. Pela Direção da ESTA Internacional, passaram personalidades da música muito relevantes que, com a sua sensibilidade, visão e determinação conduziram esta Organização a uma presença muito ativa na Europa.
A atual direção da ESTA internacional tomou posse em novembro de 2020, altura em que decorria a 48ª Conferência Internacional da ESTA, em regime online devido às contingências da pandemia da Covid-19 e organizada pela Delegação Portuguesa que, prontamente, aceitou o desafio de realizar o evento pela primeira vez neste formato. Todos os momentos durante a Conferência foram de extrema relevância e pertinência para o desenvolvimento técnico e humano de cada professor. Todavia, é de destacar a inclusão de uma sessão especial que uniu o passado e o futuro da ESTA numa simbiose de experiências, ideias e motivações. Bruno Giuranna e Mark Lambrecht representaram a ESTA durante nove anos, sendo que o trabalho desenvolvido por estas duas referências no panorama musical está agora a ser encaminhado por Geza Szilvay na função de presidente e por John Shayler como vice-presidente.
A adição desta sessão vem aproximar todos os participantes ao processo de construção de identidade da Associação. Ser professor de um instrumento de cordas e ser membro da ESTA faz ainda mais sentido quando nos sentimos integrados na sua idealização. Para que não fique só na memória dos participantes e dada a relevância das intervenções, faz sentido conservar este momento através da escrita, bem como divulgá-lo por toda a comunidade.

Jorge Alves dá início à última sessão da 48ª Conferência Internacional da ESTA dizendo que está muito emocionado por começar esta sessão especial, organizada prontamente, já que era importante partilharmos com o Bruno e com o Mark um momento para agradecer todo o trabalho desenvolvido durante estes 9 anos. Temos também a oportunidade de conhecer melhor os futuros presidente e vice-presidente da ESTA, percebendo quais são as suas expectativas. Esta sessão pretende abordar as memórias e a história da ESTA (...) e todos os participantes fazem já parte dessa história, sendo que nada melhor que Kjell-Åke Hamrén, antigo presidente da ESTA Suécia e ex-vice-presidente da ESTA International, para moderar a sessão, acompanhado de Mariana Morais enquanto representante da geração mais nova de professores.
Criando uma atmosfera propícia à reflexão, Kjell-Åke, reconectandose na atividade da ESTA, não só parabeniza a organização da mais recente conferência, mas também destaca a dificuldade de estar no leme de um navio como a ESTA durante 9 anos, dirigindo-se a Bruno Giuranna e a Mark Lambrecht. Recorda uma experiência que teve no passado, aquando a sua presença em encontros organizados pela Associação de Professores de Cordas da América (ASTA)1. Em suma, reflete que não há diferenças entre os problemas diários que ambas as associações têm que enfrentar (...), no entanto, o facto de na ESTA existir uma grande diversidade de origens e nacionalidades, torna-a mais especial e única. Todas as vivências durante a sua presença ativa na associação, perduram ainda nos dias de hoje, sendo que Kjell-Åke têm-nas ainda como exemplo no desempenho de funções noutras instituições. Nas maioria das reuniões da ESTA que esteve presente, ficou sempre com a sensação de que devíamos fazer mais, devíamos ser maiores, mais modernos, mais atrativos para todos os níveis da sociedade e, perante isto, decidimos fazer uma lista de todas as tarefas que desempenhamos durante um período de doze meses e, surpreendentemente, reunimos um conjunto impressionante de tarefas ou ações desenvolvidas. Isto permitiu que a discussão mudasse, valorizando realmente aquilo que foi conquistado ao invés daquilo que deve ser feito, destacando ainda a importância de estar e viver a situação presente. É através desta reflexão que Kjell introduz a primeira questão.
KH: Concordam que, durante este período, o que aconteceu foi a criação de uma fantástica história, onde tantas coisas aconteceram, sendo que o que aconteceu foi mais importante do que aquilo que não aconteceu?
BG: Nós estamos aqui porque todos concordamos em partilhar as nossas experiências, conhecer novas pessoas e potenciar a aprendizagem de longa vida. Realmente, a questão levantada é sem dúvida muito pertinente para a ação daqueles que se inserem no Central Board, sendo que outro aspeto essencial quando se fala na ESTA em geral é a ação de voluntariado desempenhada pelos seus membros. A criação de cada filial da ESTA acontece pela ação de um grupo determinado de pessoas cuja atividade se refletirá diretamente no progresso dessa mesma filial, sendo que os seus membros farão também parte do processo, algo que não poderá ser importado do exterior. A vida de cada ESTA dependerá da atividade dos seus membros (...). Nem sempre este processo é fácil; O criticismo é um fator muito presente e, sendo que o produto da ESTA não é propriamente palpável como por exemplo biscoitos, queijo ou carros, torna-se desafiante proporcionar a expansão da associação. A ideia é

envolver cada vez mais pessoas de uma forma comprometida e quase que apaixonadas pelo espírito ESTA. Desta forma, será possível mantêlas ativas no seu país a fim de iluminar outras pessoas.
ML: Um aspeto importante desta organização é a grande escala de participantes existente, desde professores em escolas básicas de ensino de música a professores universitários, sendo que a oportunidade de conhecer estas pessoas nas conferências é sem dúvida interessante, uma vez que o seu contributo é único. O mesmo acontece com os concertos: podemos ouvir diferentes interpretações mas também podemos discutir vários tipos de problemas, desde dificuldades com os estudantes, relacionar problemas de saúde entre professores e alunos, entre outros aspetos. Em cada conferência, durante estes 9 anos, pudemos conhecer tantos tipos de pessoas, mas todas elas têm os mesmos interesses: os instrumentos de corda e o seu ensino. Durante a nossa atividade no Central Board, também foi possível relacionar a ESTA a importantes organizações como o European Music Council e à Association Européenne des Conservatoires. Toda esta dinâmica permitiu um caleidoscópio de aspetos relacionados com fazer música e ensinar música.
Kjell-Åke refere que a ESTA foi fundada em 1972 com o grande objetivo de criar uma comunidade para instrumentistas de cordas que não existia na Europa até então. Alguma coisa estava a faltar, alguma coisa era realmente necessária para que Marianne Kroemer seguisse como modelo a ASTA que já existia desde 1946. No entanto, a comunidade iniciada pela ESTA há 48 anos, agora revela uma dimensão e diversidade de pequenas comunidades espalhadas pelo mundo que suportam os professores de cordas, traduzindo o verdadeiro significado de comunidade. A meu ver, através da ESTA, enquanto professor, existirá alguém semelhante a mim algures com quem eu poderei comunicar facilmente. Após esta importante partilha pessoal, Kjell abre espaço para a reflexão, não com uma questão, mas através de uma ideia.
KH: Talvez a ESTA de hoje não seja uma velha organização que necessita de novos significados, talvez a ESTA se tenha reinventado num mundo em que temos muito sobre tudo a todo o momento. Contudo, acompanhando esta transformação mas mantendo presente os princípios-chave relacionados com a partilha defendidos por Giuranna e Lambrecht, talvez permita que a ESTA se revele sempre moderna, uma vez que a sociedade irá sempre evoluir e modificar-se, dois aspetos sempre desafiantes e necessários mas não únicos.
” durante estes 9 anos, pudemos conhecer tantos tipos de pessoas, mas todas elas têm os mesmos interesses: os instrumentos de corda e o seu ensino.

ML: Eu estava a pensar que, quando eu e o Bruno começamos há 9 anos atrás, sentámo-nos a falar sobre o futuro. Agora, 9 anos depois, estamos a falar da história da ESTA. É fantástico, e também com a situação pandémica que vivemos, tivemos que aprender a trabalhar com as possibilidades de ensino online, mas sem nunca esquecer os grandes objetivos de ensinar e levar a música aos alunos. Esta facilidade de adaptação, uma grande capacidade do ser humano, (...) dá-nos força para encarar positivamente as situações, mas certamente que esta tarefa fica mais facilitada quando podemos falar sobre ela, partilhar as nossas experiências e os nossos receios. Através das conferências, especialmente a 48ª que encontrou resposta ao desafio colocado pelas várias restrições impostas, para além da diversidade de pessoas e línguas presentes também podemos contactar com linguagens musicais diferentes, não se centrando apenas na música clássica, o que nos permite alargar o nosso conhecimento.
Mariana Morais, enquanto moderadora, representa a geração mais nova de professores portugueses. Refere que nesta conferência estão bastantes recém-professores presentes e que muitos só tiveram conhecimento da existência da ESTA devido à realização da 48ª Conferência em Portugal. O facto de também ser a primeira conferência realizada em formato online, permite-nos pensar que estamos perante uma nova era da ESTA. Tendo isto em consideração, levanta duas questões.
MM: Para Geza e John, quais são os novos objetivos que idealizam para a ESTA? Para Bruno e Mark, atingiram todos os objetivos a que se propuseram na primeira reunião?
GS: Tal como Jorge referiu no início desta sessão, eu também estou muito emocionado por ser o novo Presidente. Quero contar-vos um episódio que começou em Cremona há dois anos atrás, na 46ª Conferência. De volta a Helsínquia, onde ia ser submetido a uma cirurgia ao braço, recebi dois telefonemas inesperados, um deles de Bruno Giuranna, uma vez que lhe fizeram a proposta para ser presidente da ESTA (...). Nunca imaginaria que essa proposta chegasse até mim e, tendo em conta que a minha recuperação do braço estava demorada, o convite e a confiança depositada nele por Bruno Giuranna ajudaram a ultrapassar esta fase difícil da minha carreira. Foi uma fantástica ajuda para mim! Pensava que outro candidato iria surgir entretanto, mas tendo sido o único, fui então eleito presidente, (...) ainda que achasse que uma pessoa mais nova se encaixasse melhor no cargo.
Respondendo à Mariana, eu pertenço a uma antiga geração. Os nossos instrumentos há centenas de anos que não sofrem alterações, há formas diferentes de abordá-los mas Dó Maior é Dó Maior (...). Para mim, a ESTA é como uma pós-graduação para os instrumentistas. Os professores nos conservatórios e universidades estão demasiados ocupados com o repertório, sendo que não há tempo para explicar a pedagogia do instrumento (...). Quando os recém-formados chegam a uma orquestra profissional, sabem o que devem fazer, como devem estar, encaixam-se facilmente no ambiente; no ambiente de sala de aula, a sensação não é a mesma, sendo que surgem muitas dúvidas e o conhecimento que transmitem é baseado na sua experiência enquanto aluno. Deste modo, o principal objetivo da ESTA ou até mesmo a sua principal responsabilidade é ajudar as Universidades a complementar o conhecimento que não foi possível de ensinar.
Eu acompanhei desde cedo o trabalho realizado na ESTA, acompanhando o trabalho da primeira presidente Marianne Kroemer, incorporei o trabalho de um dos primeiro fundadores Max Rostal, um ser extremamente generoso, e contactei também com Menuhin, uma vez que ele tocou com a minha orquestra. Eu considero-os a linhagem real da ESTA. Tal como eles e como o professor Giuranna, enquanto novo presidente prometo seguir o padrão da linhagem real e aproximar-me dos novos alunos e dos novos profissionais ao corresponder às suas expectativas, oferecendo-lhes cursos de pósgraduação (...) além disso, também pretendo tentar regularizar a aprendizagem de música para que seja um direito de cada criança. Há cerca de 100 anos, a música foi retirada do currículo geral de aprendizagem e tenciono impulsionar a reintegração da mesma, seguindo o princípio de Kodály que defende que a música pertence a todas as pessoas. Eu tive aulas de canto no ensino geral, o que me permitiu uma base fantástica para a música (...).
Irei servir a ESTA, sem procurar outro interesse que possa advir da minha relação com a Associação. Quando se atinge uma certa idade, deixa-se de buscar exacerbadamente o futuro, procurando ajudar outras pessoas e defendendo valores em que se acredita. Eu acredito que a música clássica tem futuro e que nós temos a responsabilidade de o manter e de o transmitir às novas gerações.
KH: Muito obrigado Geza! John, estava a pensar que poderia complementar esta ideia com a visão do Reino Unido, já que existem hoje em dia muitos professores que ensinam em estúdios privados2, pelo menos era este o cenário há 10 anos atrás. Sendo assim, existe esta relação entre professores que não trabalham em escolas maiores, onde teriam a possibilidade de estar com outros colegas. Este facto é algo a valorizar na ação desta comunidade. John, poderia acrescentar algo a esta ideia, complementando o que Geza disse anteriormente?
JS: Tens toda a razão! Grande parte do que a ESTA faz em toda a Europa é aproximar as pessoas que se encontram numa situação mais independente, por exemplo, sendo o único professor de música numa escola num determinado momento ou mesmo viajando em trabalho para outros países. Existem também muitas pessoas no meu país, e suspeito que não seremos os únicos no Reino Unido, que têm sido obrigadas a tornarem-se professores privados e trabalhadores por conta própria. De facto, a adesão à ESTA UK tem aumentado, como resultado do facto das entidades locais, que costumam ser bastante fortes em providenciar aulas de música, têm amplamente
”
Estamos esperançosos em ter novas iniciativas no que respeita à criação de novas filiais.
vindo a desistir. Por isso, as pessoas têm trabalhado muito mais por conta própria, sendo que o desenvolvimento profissional que a ESTA pode providenciar têm-se tornado maior e mais importante. São más notícias para o panorama mundial do ensino da música, mas são suficientemente boas notícias para a nossa Associação.
Eu estou emocionado pelas palavras do Geza e por nos ter dado esta visão alargada sobre o ensino dos nossos instrumentos bem como a performance dos mesmos. É exatamente isto que se espera de um presidente da ESTA Internacional e é maravilhoso ouvir-te,Geza, dessa maneira. A minha função (enquanto vice-presidente da ESTA International), suponho, que seja lidar com questões mais práticas, do quotidiano, e eu gostaria de partilhar com todos algumas coisas. Ciente que ainda não nos reunimos enquanto Central Board, (...) eu não quero antecipar nenhum assunto que venhamos a discutir. No entanto, depois da reunião de ontem entre os delegados, é bastante óbvio que temos que providenciar uma Conferência Online no próximo ano (...) mantendo ativo o lado mais internacional da ESTA. É claro que não existirá um local físico, embora todos sejam bem-vindos na Escola de Verão no Reino Unido. À semelhança da Conferência que temos presenciado ao longo do fim-de-semana, tenho a certeza que será pedido a todas as filiais para sugerirem oradores que possam lidar com a situação em formato online, criando uma boa apresentação no próximo ano.
Uma das grandes tarefas que o Central Board está sempre a promover é apelar à criação de novas filiais. Falei com o Geza na última quarta-feira, tivemos uma ótima conversa durante uma hora e, algo que o Geza nos pode facilmente oferecer, é o contacto com outros locais, nomeadamente a Hungria, o país onde nasceu, bem como a República Checa e a Eslováquia. Estamos esperançosos em ter novas iniciativas no que respeita à criação de novas filiais. Demos as boasvindas ontem a uma nova filial, a Espanha, da qual estamos muito satisfeitos. Já faz algum tempo, mas é maravilhoso que agora estejam estabelecidos e contam já com um número substancial de membros. Penso que que também precisamos de talvez “abrir as asas” ao nível das relações internacionais, mais especificamente com a ASTA (...) mas também com a AUSTA3 (Associação de cordas da Austrália) com quem tivemos contacto em 2019 em Perth numa conferência igualmente muito bem organizada (...). Deste modo, fará todo o sentido que a ESTA International se relacione ativa e proximamente com estas duas organizações.
Ao nível do futuro, se eu me puder dirigir à pergunta da Mariana acerca do que vai acontecer com os professores mais jovens, eu penso que Mark Lambrecht já tocou neste tópico quando mencionou que o campo de ação deve focar-se mais nas várias formas de música para além da clássica. No entanto, antes de dizer o que quero dizer, eu penso que é essencial que a música clássica (...), a grande música do passado, deva ser preservada, faz parte da herança mundial (...). No entanto, além disto, existem outras linguagens musicais que devem ser valorizadas. A música “avant-garde” dos anos 60 e 70 parece que está “morrendo na morte”5 e a música popular deste período vigorou bastante bem. É o que toda a gente pensa, por exemplo, se fizermos um quizz sobre música, muito será essencialmente de música popular do que outro tipo de música. A importância centrada na música popular, em termos de importância para a aprendizagem, tem que ver com a improvisação na música tradicional. Eu penso que muitos dos nossos participantes iriam beneficiar com mais ajuda na questão
da improvisação. Outro importante desenvolvimento, principalmente nos últimos 9 anos, prende-se com o desenvolvimento da tecnologia e com a forma que tem realmente evoluído. Acerca da conferência do próximo ano, provavelmente será diferente desta, uma vez que a tecnologia irá continuar-se a desenvolver. Por isso, nós temos que estar cientes desta situação como organização, não apenas no Central Board mas também nas filiais ESTA. São apenas algumas ideias, tenho a certeza que haverão muitas outras que discutiremos.
KH: Obrigado John! É fascinante ouvir o quão diversa é a ESTA, independentemente do ponto de partida que se escolhe! Eu gostaria agora de voltar ao Bruno. É evidentemente muito difícil para qualquer pessoa criar uma lista com todos os objetivos atingidos, (...) mas o Bruno consegue uma visão geral de um longo período antes mesmo de se tornar presidente da ESTA. Tal como o tempo e a sociedade muda, existem também mudanças na ESTA que podem ser descritas como conquistas ou mudanças para um novo nível. Eu penso que o Bruno está muito bem posicionado para descrever a sua própria experiência: qual é a tendência mais importante relativamente a isto, olhando desde há 20 anos até aos dias de hoje?
BG: Yes! As palavras que disse antes são realmente muito importantes e eu penso que, depois de ouvir o discurso esclarecedor do Geza, posso agora voltar atrás no meu passado. Enquanto membro da ESTA, quando eu ia às conferências internacionais e via o Kjell enquanto secretário da ESTA a liderar de uma forma fantástica as reuniões, eu pensava “Oh meu Deus! Como conseguirei fazer algo assim?”. Eu nunca imaginaria que o Mark iria surgir e fazer um trabalho tão incrível.
A nível pessoal, em termos do meu carácter, tenho tendência em dar mais importância à qualidade ao invés da quantidade, é um aspeto que defendo. No entanto, penso que também tentei encaminhar-me para a quantidade. Uma ESTA maior e mais forte, uma ESTA que tenha milhares de membros, poderá agir mais eficazmente junto dos governos. Nos Estados Unidos é muito diferente, mas na Europa grande parte da educação é suportada pelo Estado de cada país. O Estado quer sempre poupar dinheiro e, no que respeita à educação musical, o investimento vai sendo cada vez menor. Enquanto ESTA, devemos lutar a fim de que cada criança possa aprender música como um direito constitucional. Penso que isto é algo muito importante para o futuro da nossa sociedade.
Eu penso também que poderia ter visado mais o alargamento da ESTA, não só apenas em termos da quantidade de países envolvidos, mas também em número de membros em cada país (...). Com um maior números de associados, podemos ter mais poder junto dos governos com o objetivo de obter aquilo que defendemos: o direito de cada criança obter educação musical.
KH: Obrigado! Parece-me que seria interessante para a ESTA verificar: “quais são as outras organizações que poderiam esforçar-se e desenvolver este objetivo? Como seria possível para a ESTA a partilha numa plataforma comum maior e mais forte?”. A ESTA já faz parte do European Music Council que representa as várias organizações internacionais mas certamente haverão outras entidades interessadas, principalmente tendo em conta a situação que temos vivido ultimamente, não só devido à pandemia de COVID-19 mas também perante os vários cortes na Cultura que se haviam sentido. Parece-me que pode ser uma “avenida” para a nova Direção da ESTA Internacional, especialmente com alguém tão experiente como o Geza, procurando quem serão estas organizações que poderão criar uma força conjunta com a ESTA na busca da educação musical enquanto uma espécie de Direito Humano, tal como o Bruno falou. Obrigado mais uma vez, Bruno! Mark, pode intervir agora? Tem ainda que partilhar as suas ideias e sentimentos acerca da pergunta que a Mariana levantou.
ML: Bem, o Kjell-Åke já mencionou o European Music Council e o International Music Council. No ano passado, estive presente no World Forum on Music em Paris e discutimos acerca dos cinco direitos da música e o direito à educação musical das crianças foi um dos mais abordados. Eu penso que estas duas influentes entidades conseguem exercer alguma pressão política perante este tema. Existem outras organizações, mas estas conseguem ter realmente uma influência maior.
Relativamente à segunda questão, eu consigo ver um desenvolvimento e, na verdade, a modernização da ESTA, algo que o Kjell trabalhou intensamente para conseguir resultados, como por exemplo, a ideia da criação de grupos de trabalho. Usando esta forma de trabalhar, conseguimos concretizar eficazmente as tarefas propostas. Eu sou um forte defensor do trabalho em equipa e fico feliz que o Jorge Alves tenha mencionado este aspeto na reunião de ontem6 . Eu penso que devemos ir nessa direção, já que cada um de nós tem pontos fortes… por exemplo, na nossa Direção, posso dizer que Clarien Zetsma é uma pessoa com muitas novas ideias, muitas vezes com ideias revolucionárias que o grupo pode debater e verificar se é viável ou não realizá-las; temos ainda o Kristian Kolman, muito forte nas Tecnologias de Informação e Comunicação e que as relaciona no ensino do violino. Claro que há outros exemplos, também com colaboradores anteriores. Eu penso que devemos manter este espírito de equipa presente. Por outro lado, tivemos também uma maravilhosa personalidade enquanto presidente, Bruno Giuranna. Para mim, ele foi e ainda é realmente uma forte inspiração, porque, evidentemente, ele é um músico com elevado nível e revela muita intensidade na forma como toca, na sua aproximação à música, no seu pensamento e no sentimento. Portanto, eu considero que a conexão desta inspiração artística foi o treino prático para o Conselho Central e, ao ouvir o Geza Szilvay a falar com tanta intensidade, conhecendo também o seu método Colour Strings, um método muito importante no ensino das cordas, cujo trabalha desde há tanto tempo nele e com tanta dedicação, sendo ainda um amante da música e um instrumentista apaixonado, revela ser novamente a inspiração para as outras pessoas presentes no Conselho Central e, obviamente, para os outros professores na ESTA. Eu espero realmente que esta conexão possa continuar e que também possamos continuar com a modernização da ESTA. Na realidade, penso que este último é bastante evidente e certamente iremos dar

essa continuidade, para além de que, o facto de existir novos membros na Direção da ESTA Internacional é também sinónimo de mudanças, de desenvolvimento, talvez de novas cores, porque não? Isto transmite a riqueza da nossa organização, deixando-me muito feliz e confiante.
KH: Muito obrigado! É claro para mim que a ESTA desenvolveu muito durante os nove anos que vocês estiveram no leme da organização. Só, por exemplo, pelo facto de conseguirmos ter esta discussão desta forma! Se vocês se lembrarem da primeira vez que tentamos ser mais “digitais” na ESTA, foi realmente muito difícil.
Para mim, o que tem sido um ensinamento ao longo dos anos é que é natural para cada nova geração que surjam novas necessidades e ideias revolucionárias (...). Isto deve ser expectável, que todos os anos surjam sugestões como “é necessário mudar isto, devemos ir nesta direção, isto deve ser mais moderno, aquilo é mais importante” (...). A história revê grandes mudanças nas sociedades em certos momentos através de grandes saltos no seu desenvolvimento, no entanto o que também é visível é o progresso gradual que permite a evolução de algo, durante dias, semanas, meses, anos. Embora não seja tão fascinante ou interessante como uma alteração repentina, o que eu vejo após 10 anos é que tanta coisa aconteceu que hoje a ESTA é, sem dúvida, uma organização mais diversificada, moderna e importante do que era há 10 anos atrás. Sem desvalorizar o que foi feito em momentos anteriores, nos anos 70, 80 e 90, uma vez que cada momento na história tem o seu tempo, as suas ferramentas, as suas necessidades, as suas próprias soluções… Mas, a minha visão é que vocês estão a adquirir as ferramentas necessárias para este tempo da história.
Vamos a mais uma nova ronda com os quatro, onde todos participam, terminando com Geza que vai agora levar a ESTA para o futuro. John, se puder começar, depois do que acabei de dizer, pode ajudar-me a transmitir que cada dia, semana ou mês de trabalho, por muito cinzenta que a rotina possa parecer, faz também parte dos grandes saltos que a ESTA concretizou?
JS: Obrigado Kjell! Eu penso que é muito importante no Central Board manter o status quo, fazendo com que as coisas se movam lentamente. Nem sempre há espaço para revoluções, mas há sim para o desenvolvimento do pensamento deliberado e futuro. Para mim, este é um princípio que valorizo, embora não possa ainda transparecer a visão do Central Board, uma vez que apenas nos reuniremos nos dias seguintes à finalização da Conferência e apenas depois poderemos partilhar uma visão geral acerca do futuro. O meu desejo pessoal é manter o desenvolvimento das coisas, quanto possível, de uma forma suave.
ML: Como já tinha referido, a evolução da ESTA e o seu fortalecimento está na importância do trabalho em equipa e da partilha de ideias . Para muitos dos recém-professores, não é fácil começar uma carreira porque existem escolhas muito difíceis. É por isso que a ESTA poderá ser muito importante no acolhimento de novas ideias, na avaliação, divulgação e implementação das mesmas e poderão ter a orientação e o suporte de outros colegas.
É também importante refletir que a sociedade tem evoluído imenso e, neste caso, temos que cuidar da qualidade da educação. Eu concordo totalmente com o Bruno relativamente a este aspeto. É muito bom que, por um lado, muitas crianças possam agora aprender a tocar um instrumento de cordas mas, por outro lado, tendo em conta a situação no nosso país7, existe muito pouco tempo para ensinar. Portanto, eu espero que possamos criar maior pressão política para ter tempo suficiente para ensinar e, obviamente, tem que existir uma forte ligação com o ensino regular nas escolas. A música deve estar sempre presente e tenho observado que, de uma maneira geral, têm tirado não apenas a música mas também as outras disciplinas de artes do plano curricular dos alunos. Isto é realmente algo negativo, mas estejamos esperançosos e usemos a pressão possível ao ter uma organização maior com pelo menos cinco mil membros.
KH: Obrigado! A minha interpretação do que tenho ouvido é que a evolução em oposição à revolução é a receita também para o futuro. Contudo, avanço mais repentino é também bem vindo quando acontece.
Antes de dar a palavra a Bruno e Geza, eu gostava de perguntar-te Mariana, se há algo específico nas tuas notas que deva ser dito ainda aqui.
MM: Não, gostava apenas de pedir a todos algum conselho para os recém- professores, o que gostariam de nos dizer? Eu penso que é algo muito importante para nós.
KH: Ok, obrigado! Vamos passar agora para o Bruno mas, antes disso, deixe-me uma vez mais dar-lhe os parabéns pelo seu percurso de nove anos muito bem sucedido enquanto presidente da ESTA. A si também Mark, que realizou um trabalho tremendo de todas as maneiras possíveis e, tendo em perspetiva o trabalho que foi feito, considero que tenha conquistado tudo aquilo que mencionou. Uma vez mais, os meus parabéns!
Por favor, Bruno.
BG: Muito obrigado, é realmente muito amável da sua parte. A única coisa que me oponho é que deveria ter mencionado o nome de Mark antes do meu. Ele foi quem realmente fez o trabalho, sem ele eu não poderia ter estado nesta posição uma vez que não teria nem o tempo nem a energia necessária para lidar com a quantidade de trabalho que tivemos. Mark, muito obrigado uma vez mais!
Falando sobre ensinar, eu tenho uma espécie de cenário ideal. Tem raízes na minha juventude, quando comecei a estudar violino em Itália há muitos muitos muitos anos atrás, e onde existia uma mentalidade muito clara: a música deve ser estudada por aqueles que têm talento e que virão a ser músicos profissionais. Isto era a normalidade e eu vivi sempre com este objetivo. Quando me juntei à ESTA, acabei por “limpar” este pensamento e cheguei à conclusão que pensei erradamente toda a minha vida. Ensinar música a crianças pequenas é algo realmente muito importante. Eu fi-lo durante pouco tempo porque tive a sorte e o privilégio de as oportunidades surgirem sem grande esforço, e sempre ensinei a alunos em faixas etárias e com níveis de conhecimento mais avançados, (...) no entanto a experiência que tive com crianças mais pequenas permite-me dar alguns conselhos a

”
(...) hoje eu consigo fazer algo que ontem não conseguia. Isto é um incrível ensinamento para a vida de qualquer criança!
professores mais novos: primeiro, estejam sempre com um extremo bom humor, afastando os problemas pessoais quando estão a ensinar; depois, sejam inventivos, já que as crianças captam melhor a informação num ambiente criativo (....). Ser criativo e de bom humor é o que eu sugiro a qualquer estudante que esteja a entrar neste fantástico mundo do ensino das cordas! Lembrem-se que é uma experiência fantástica para cada criança e que vai permanecer na sua memória.
Se hoje alguém me pedir para fazer algo e não conseguir, eu dou atenção e tiro algum tempo para me dedicar e amanhã serei capaz. Portanto, hoje eu consigo fazer algo que ontem não conseguia. Isto é um incrível ensinamento para a vida de qualquer criança!
KH: Obrigado! Antes de terminarmos, dou a palavra a Geza.
GS: Muito obrigado! É naturalmente difícil falar depois do Bruno. Fazendo uma reflexão geral sobre tudo o que foi dito, acerca de associações com quem podemos trabalhar menciono a International Society for Music Education e também a importante International Kodály Society. Se se lembram, em 2001 na Conferência de Helsínquia houve uma parceria muito bem sucedida com a International Kodály Society e que foi muito útil para as duas organizações. Eu espero que possa voltar a acontecer ou mesmo potenciar a relação com a Curwen Society8 em Inglaterra (...).
Mark falou também no Colour Strings, que naturalmente me deixa muito feliz. Depois de o Bruno me telefonar e me propor o cargo de presidente eu escrevi-lhe: o meu nome está facilmente associado ao método Colour Strings e tenho medo que as pessoas pensem que possa ter vantagens nesta nova posição (...). Aqui, nesta primeira reunião, eu assumo que trabalharei enquanto professor do método Colour Strings e também enquanto maestro de orquestras juvenis, mas não me colocarei em nenhuma situação ou posição privilegiada. Tendo em conta isto, eu perguntei ao Bruno se, quando tiver de passar a presidência a outra pessoa, poderei mostrar-lhe a carta que o Bruno me escreveu. Eu realmente apreciei-a e, tal como disse ao Bruno, gostaria de a emoldurar e colocá-la na minha sala de estudo. Estava tão bonita e encorajadora, que estou muito grato!
O Bruno mencionou qualidade e quantidade. Eu penso que a qualidade é mesmo muito importante e para a Mariana, como conselho digo que “o melhor é suficientemente bom9”, um princípio fundamentado por Kodály. Na ESTA, quando nós estamos a ensinar, apenas o que acreditamos que é o melhor, é que é realmente suficiente. Isto serve enquanto professor, instrumentista ou maestro e penso que este princípio deve ser tido sempre em conta quando estamos a trabalhar. Agradeço imenso a todos vós e espero que tenha respondido à questão da Mariana. Tu és a nova geração de professores e para esta geração, a organização da ESTA irá trabalhar.
MM: Muito obrigada Geza!
KH: Obrigado a todos! Quero mencionar que, enquanto jovem, fui ensinado a começar reuniões a tempo mas também terminá-las atempadamente. Passaram já uma hora e quinze minutos e o meu sentimento é que chegamos ao fim. Na minha opinião, foi um debate impressionante. É sempre difícil numa mesa redonda como esta,

falar acerca de detalhes que interessam a toda a gente mas, o que aconteceu aqui hoje foi algo que já havia testemunhado: a ESTA é uma comunidade verdadeiramente importante e que (...), obviamente, tem cada vez mais importância. Eu posso apenas dar-vos os meus calorosos parabéns pelo que foi conquistado e o que irá acontecer nos próximos anos. Boa sorte para todos e obrigado pela oportunidade de moderar esta sessão. Foi um prazer!
BG: Pelo que ouvi, eu penso que a ESTA está realmente em muito muito boas mãos e que irá ter um fantástico desenvolvimento no futuro. Os meus melhores desejos e pensamentos para todos!
JA: Obrigado Bruno! Obrigado a todos! Obrigado Kjell pela fantástica moderação! Para quem quiser partilhar algo mais, poderá ainda ir para uma sala “Coffee Break”.
JS: Obrigado Jorge, por proporcionar tudo isto! Tem sido um esforço heróico!
BG: Sim! Bravo, Jorge!
JA: Obrigado! E obrigado a toda a equipa!


50th International ESTA Conference
2022 - Graz
2022 será certamente recordado como um ano extraordinário para a ESTA. Além da comemoração do 50º aniversário da fundação deste organismo pela professora Marianne Kroemer, a 50th International ESTA Conference marca o regresso às conferências presenciais. Para Portugal, este ano é ainda mais especial uma vez que o Presidente da ESTA Portugal Jorge Alves foi eleito por unanimidade como Vice Presidente do Central Board. Mas esta Conferência foi palco de outros momentos dignos de registo e carregados de emoção. A reunião dos Delegados assinalou a despedida de John Shayler após 9 anos de intensa colaboração com a ESTA International. Nesse mesmo plenário, foi comunicado que os arquivos da ESTA serão depositados na Universität für Musik und Darstellende Kunst Graz para organização e conservação.

O terceiro momento apesar de não constar da agenda das reuniões teria de ser abordado. Depois de várias delegações terem subscrito a carta do Central Board a condenar a invasão da Ucrânia, a criação de condições especiais de acolhimento dos alunos refugiados é uma questão de grande importância para a ESTA. Aproveitando a presença de Kateryna Zavalko da ESTA Ucrânia, os vários países presentes manifestaram a sua solidariedade para com a Ucrânia e reportaram as medidas que estão a ser implementadas para acolher esses alunos, e mesmo professores, nas escolas de Música. Fica a certeza de que todos podemos fazer a diferença nesta e em tantas outras situações dramáticas.
Emília Alves Laura-Marie Bittniok, John Shayler, Kristian KolmanO ensino à distância promoveu o desenvolvimento de plataformas, recursos e técnicas que podem continuar a ser utilizados como complemento às aulas presenciais, tanto pelos professores como pelos alunos.

Sob o tema “Promoting young talent at the interface with professional education”, o programa da Conferência debruçou-se especialmente sobre o ensino a crianças e jovens. Olhando para o cronograma geral do programa, adivinhava-se o valor pedagógico das inúmeras apresentações e concertos.
No fim de semana concentraram-se as actividades mais práticas da Conferência - as finais dos Concursos de Violoncelo e de Violino, as masterclasses com Frans Helmerson e Michaela Martin, a sessão evocativa de Marianne Kroemer e exposição dos “50 anos da ESTA”, concertos com os BartolomeyBittman Project e com os alunos participantes nas masterclasses e ainda a visita à cidade museu de Stübing.
Bem cedo nos dias seguintes, estabelecia-se a rotina de começar a manhã com uma sessão de Pilates sob a orientação de Heidi Mantere. A manhã de segunda feira foi ocupada com palestras introdutórias sobre o ensino musical um pouco por toda a Europa. Antes do almoço ainda tivemos a oportunidade de conhecer diversos aspectos interessantes sobre cordas na comunicação de Markus Lawrenson, representante da D’Addario. Da parte de tarde tornou-se necessário escolher a apresentação a que queríamos assistir pois estavam programadas várias em simultâneo.
A primeira escolha recaiu sobre a apresentação de Nicole Wilson - Online learning... It’s not all bad! O ensino à distância promoveu o desenvolvimento de plataformas, recursos e técnicas que podem continuar a ser utilizados como complemento às aulas presenciais, tanto pelos professores como pelos alunos. O momento de Q&A revelou-se precioso pela troca de experiências relatadas por vários dos participantes.
A apresentação seguinte foi a de Géza Szilvay - Proposal to establish music primary schools, numa sala belíssima do Palais Meran. Géza partilhou com todos os presentes o programa de sucesso que promoveu em Helsínquia e que inseria o ensino especializado da música na escola primária como parte integrante do currículo, prosseguindo depois para os outros ciclos. Este pedagogo tem esperança de que os resultados inspirem outras escolas primárias e de música a colaborarem e a fomentarem a disseminação de programas deste tipo. Foram apresentados vários excertos de vídeos a ilustrar o método Colourstrings criado por Géza Szilvay, que interliga o desenvolvimento da audição musical com o intelecto musical, a técnica instrumental e o sentido emocional de uma criança, aplicando o princípio do reforço da percepção através da conexão dos sentidos. Além de aulas individuais, os alunos também têm acesso a aulas em grupo e de orquestra.
Nessa noite pudemos assistir ao concerto do Selini Quartett que, entre outras obras, apresentou a estreia do Quarteto “Liebe und Schmerz” de Rainer Bischof.
A terça feira iniciou-se com uma apresentação previamente gravada de Sarah Lesjak - Body and Instrument, que se debruçou sobre a anatomia e a fisiologia humanas e a forma como estes princípios se relacionam na adaptação a um instrumento. Foi realçada a questão das mudanças que um corpo sofre ao longo do crescimento e de uma carreira profissional e que levam, necessariamente, a constantes ajustes na interação com o instrumento.
A exposição de Nicolas Dupont esteve subordinada ao tema A focus on the left hand position using Rodney Friends’ the violin in fifths.

Nicolas ilustrou com vários exemplos o método de Rodney Friends “The Violin in 5ths” que sugere que o estudo em quintas desenvolve a postura correcta da mão esquerda de forma natural.
Num ambiente diferente, Helfried Fister e Kristian Kolmann apresentaram o projecto The online future of ESTA International que gostariam de implementar num futuro próximo. Pretendem desenvolver uma plataforma com valências de acesso livre (Information Center) e de acesso reservado a sócios da ESTA (Pedagogic Help Forum, Help Center for International Connections e ESTAPEDIA)
De seguida a maioria dos participantes dirigiu-se para a apresentação de Kateryna Zavalko - Playing by heart: development of the violinist’s musical memory. Apesar de notoriamente emocionada, Kateryna expôs algumas estratégias para o desenvolvimento da memória musical destacando a importância do trabalho individual regular para consolidar os conhecimentos.

Para finalizar a manhã, assistimos a uma apresentação de Michael Wiener da companhia Dolfinos que nos deu a conhecer as últimas novidades em sistemas de almofadas e desvendou alguns dos próximos projectos desta companhia que estão em fase de desenvolvimento.
A primeira comunicação depois do almoço foi da responsabilidade de uma sócia da ESTA Portugal! Heng-Ching Fang - Fingering, Portamento and the Performing Aesthetics of the German School: Cultivating Musical Taste through Technique Training. De uma forma muito interessante, partilhou uma ideia sobre como o gosto musical evoluiu ao longo do Séc. XX e de como essa mudança afectou a utilização de várias questões técnicas.
Durante toda a tarde Francoise Verherve esteve a orientar masterclasses de Harpa que contou com a participação de vários alunos e de uma vasta plateia.
O momento seguinte a que assistimos foi com a Ines Ana Tomić, já bem conhecida da ESTA Portugal, com uma apresentação subordinada ao tema Violin positions. Falando sobre a sua experiência pedagógica, abordou questões muito pertinentes sobre as mudanças de posição: o que são, quando e como devem ser introduzidas, etc.
Para terminar o dia, foi possível conhecer as novidades mais recentes da Thomastik em matéria de cordas.
A manhã de quarta feira começou com uma sessão previamente gravada de Lucia Nakova-HaikarainenCombining violin pedagogy and early childhood music education – resulting in a sustainable and inspiring musical path. O foco incidiu na importância que os primeiros anos de estudo de um instrumento têm para o futuro da relação de um aluno com a Música. Desde a escolha do material de ensino, passando pelo estudo regular e o apoio parental, é fundamental que se consiga construir uma relação duradoira, independentemente de o aluno vir a ser um profissional ou não.
Mas porque o ensino da Música compreende inúmeros factores, também o instrumento deve ser motivo de ponderação e de uma boa escolha. O luthier Marcel Richters falou sobre Acquisition, maintenance and adjustment of stringed instruments. Não se trata apenas de comprar um bom instrumento e um bom arco mas também de perceber e compreender os ajustes que necessariamente terão de ser feitos tendo em conta a individualidade de cada um.
À tarde, foi a vez da apresentação da ESTA Portugal. Jorge Alves, Emília Alves e Hazel Veitch falaram sobre a forma como o ensino da Viola de Arco se desenvolveu nos últimos 50 anos em Portugal - The establishment of a successful system of viola practice and music education. Portugal 1974-2022. A criação de uma rede de escolas particulares que visou colmatar a falta de oferta pública no domínio do ensino especializado da Música, a criação das Escolas Profissionais de Música e a oferta do ensino articulado e integrado a grande parte da população estudantil, permitiu que o ensino da Viola de Arco começasse de raiz como primeira opção dos alunos e, aos poucos, foram nascendo classes com números expressivos. O surgimento dos Encontros de Violas d’arco que conduziu à fundação da Associação Portuguesa da Viola d’arco, é responsável por momentos de grande cumplicidade e de partilha musical entre docentes, alunos, amadores e familiares de todo o país. Actualmente, temos óptimos alunos a frequentar o ensino superior não só em Portugal como fora do país e inúmeros profissionais um pouco por todo o lado, representando, de forma gratificante, o trabalho que tem sido desenvolvido. Esta comunicação despertou imenso interesse nos participantes da Conferência uma vez que o sistema português é bastante diferente do praticado na grande maioria dos países.

Logo de seguida, foi a vez de Axel Kircher - Viola training in the music school. From the beginning to the university entrance exam. Axel falou-nos sobre o modelo de ensino austríaco e apresentou uma compilação de literatura educacional que elaborou ao longo dos anos “13 Years of Viola”, actualizada regularmente, que lista material adequado para vários tipos de situações e necessidades.
As actividades desta tarde terminaram cedo, pois seguir-se-ia uma recepção na Câmara Municipal de Graz. A professora Marianne Kroemer esteve presente e foi homenageada por todos.

Seguiu-se um momento informal que permitiu conhecer e trocar ideias com muitos dos participantes.
Por fim, assistimos ao concerto do “Project Esta Foundation II” que contou com o apoio precioso do professor Werner Schmitt. Dirigida pela maestrina Jutta Seppinen, a orquestra presenteou-nos com vários momentos de altíssima qualidade. Este projecto admitiu dois alunos portuguesesCarolina Gonçalves (Viola) e Francisco Alves do Carmo Fonseca (Violoncelo) que se destacaram muito positivamente. No outro grupo, “Project Esta Foundation I”, Portugal teve três alunos seleccionados - Djonathan Silva (Viola), Maria João Faria e Inês Meneses (Violino). Parabéns a todos e também aos seus professores pelo trabalho que realizaram!

E num ápice chegamos ao último dia da Conferência! A quinta feira começou com a Delegates Meeting que assinalou o momento de saída de John Shayler e a eleição de Jorge Alves para Vice Presidente do Central Board da ESTA Internacional. Phillip Aird fez-nos uma pequena apresentação do que será a 51st ESTA International Conference 2023 - Cardiff e, aproveitando o 50º aniversário da ESTA UK, anunciou o lançamento de um programa online que terá a duração de um ano e visa cativar a geração mais recente de professores para associados.
Este dia foi dedicado às Guitarras - Guitar on focus, com a realização de várias masterclasses e recitais com os professores Wolfgang Hattinger, Paolo Pegoraro e Lukasz Kuropaczewski. De referir que a ESTA Áustria acolhe Harpas e Guitarras na sua estrutura.
Da parte de tarde regressamos à Universidade para assistir às últimas apresentações. Começamos com David Pope da ASTA - Developing Quality Intonation in the Young String Player. Foram abordadas algumas técnicas e exercícios que podem ser utilizados tanto em aulas individuais como colectivas e que visam o desenvolvimento da noção de boa afinação. É fundamental que os alunos desenvolvam a capacidade de identificar e corrigir os seus problemas de afinação para que possam ser auto suficientes no seu trabalho. A última sessão esteve a cargo de Wiesje MiedemaEvery talent its stage. O estudo de um instrumento não é encarado da mesma forma por todos nem é igual ao longo do processo formativo. E nessa equação também entram, muitas vezes, as ambições dos pais que podem não ser coincidentes com as dos filhos, bem como as do próprio professor. Assim, encontrar um equilíbrio e promover um ensino que possa potenciar as capacidades de cada aluno pode tornar-se numa tarefa árdua. Wiesje partilhou connosco a forma como gere a sua classe, utilizando a criação de grupos que fomentam a motivação e o desenvolvimento dos seus intervenientes.

O final do dia assinalou o momento do Concerto de Encerramento da Conferência. Dunja Kalamir e Antonia Straka (1º prémio dos Concursos de Violino e de Violoncelo respectivamente) apresentaram-se a solo com a Landesjugendorchester Steiermark sob a direcção de Thomas Platzgummer e de Slaven Kulenović.
Foi uma semana recheada de momentos de intensa partilha de ideias e conhecimentos entre pedagogos, músicos, autores e expositores, numa cidade que fez jus ao seu cognome de “Coração Verde da Áustria”.

Um sol radioso iluminou esta Conferência e proporcionou uma experiência muito especial a todos os seus participantes. A equipa responsável pela organização esteve atenta a todos os detalhes, solucionando os pequenos problemas que foram surgindo de uma forma bastante eficiente. Parabéns à ESTA Áustria e fazendo eco das palavras de Georg Schulz, reitor da Kunstuniversität de Graz, esperamos que as Conferências da ESTA sejam um raio de luz no futuro artístico europeu.
”
Esperamos que as Conferências da ESTA sejam um raio de luz no futuro artístico europeu.

Porto 2024 | Connecting people
Desde tempos imemoriais que as relações interpessoais e comunitárias são reforçadas através da música. É uma forma de estar com o outro. Estimula a criatividade individual e coletiva.
Estabelece formas de trabalho e padrões culturais. A música é um eco da essência vital e gregária do que é ser humano.
Naturalmente, o ensino de instrumentos de cordas encerra em si esta energia de crescimento alicerçada na relação com os outros.
Nos tempos em que vivemos é fundamental não perder de vista a importância que o nosso ensino tem na promoção da relação interpessoal e no desenvolvimento humano. Mais do que a representação histórica de diversas culturalidades, somos uma comunidade onde interessa promover a expressão artística através da aprendizagem e prática de um instrumento musical. Um lugar de encontro onde cada voz tem o seu espaço.
No ano em que a ESTA Portugal celebra o seu 10 aniversário, queremos com a Conferência PORTO 2024 fazer realçar o que nos liga enquanto professores, com os nossos alunos e enquanto representantes de diferentes comunidades educativas e culturais.
As diversas práticas, estratégias de ensino, conteúdos, relações interpessoais e sociais, devem ser objeto de partilha e questionamento. Esta reflexão ajudará a preencher de significado a nossa profissão num momento determinante da humanidade em que se nos apresentam desafios à escala planetária. Em “Connecting People” pretendemos fortalecer ligações e trilhar caminhos no ensino da música que nos aproximem de um mundo melhor.

O Violino

Sobre o livro
Para além da performance e do ensino, a investigação com incidência no violino e no arco tem representado, nos últimos anos, uma parte integrante da minha vida profissional. Através do lançamento do livro: “O Arco – Contributos Didáticos para o Ensino do Violino” (2016), nascia o primeiro fruto da vontade de dar resposta à escassez de materiais pedagógicos escritos em português, que incidissem sobre temáticas relacionadas com o violino e com o arco, e que fossem ao encontro das realidades educativas e necessidades dos nossos alunos e professores. Quatro anos mais tarde, em 2022, sobrevém a oportunidade de trazer a público a presente obra, intitulada de “O VIOLINO”, onde, tendo por base a mesma premissa, detém um âmbito pedagógico ainda mais holístico. Desta forma, no primeiro capítulo são traçadas as origens e a evolução do violino e do arco desde o seu florescimento (meados do século XVII) até à atualidade. Numa segunda parte, é delineado o principal repertório violinístico tendo por base os principais períodos da história da música: Período Barroco (1600-1750), Classicismo (1750-1820); Romantismo (1810-190), e Música Moderna (1900-) (Burrows, 2007, p. 381). No terceiro capítulo, aludem-se às principais escolas violinísticas e aos principais métodos para violino, no sentido de se darem a conhecer as principais linhas orientadoras de cada uma das escolas, bem como a sua evolução, assim como os principais métodos existentes para o estudo e aprofundamento do instrumento. Por fim, no quarto capítulo é concretizado ainda um estudo pormenorizado sobre os diferentes golpes de arco, tendo por base o estudo realizado por Carl Flesch (1928), onde, para além de explicados ao pormenor todos os golpes de arco apresentados, são também apresentadas várias e diferentes propostas e estratégias de estudo e aperfeiçoamento dos mesmos.
Permanece assim a expectativa de que esta obra represente de forma profícua um importante veículo de disseminação do conhecimento para violinistas, professores, músicos, curiosos e amantes de música.
”Comentário ao livro, por Marta Eufrázio (2022):
“A Ana Catarina Pinto é um daqueles casos raros de talento, inteligência e tenacidade. Conheci-a como violinista, quando tive a oportunidade de fazer música de câmara com ela e depareime com uma sensibilidade única e uma técnica que só pode ser o resultado de muita dedicação. Só depois conheci a sua faceta de investigadora, tendome interessado imediatamente pelo seu trabalho de Mestrado, dedicado ao arco e, mais tarde, colaborando na sua investigação de Doutoramento. Por estas razões, foi sem dúvida um privilégio poder ler este livro em primeira mão. Esta é uma obra há muito aguardada, na medida em que veio preencher uma lacuna na literatura em língua portuguesa dedicada ao violino. Com uma linguagem clara e com recurso a inúmeros exemplos visuais, a Ana Catarina conseguiu de forma cuidadosa e despretensiosa reunir a informação necessária para oferecer ao leitor o essencial sobre este instrumento desde as suas origens até aos dias de hoje: a sua história, o seu repertório, as diferentes escolas e principais métodos, bem como um enfoque particular nos golpes de arco. Estou convicta que este livro rapidamente se tornará uma obra de referência incontornável para todos os violinistas de língua portuguesa.”
Sobre a autora
Ana Catarina Pinto nasceu no Porto, a 16 de fevereiro de 1990. Doutorada (Summa Cum Laude) pela Escola das Artes - Universidade Católica Portuguesa, é Mestre em Ensino da Música (violino) pela mesma Universidade, detém o Curso de Formação Especializada em Educação Especial pela Escola Superior de Educação de Fafe, é Pós-graduada em Música – Área de Especialização em Violino pela Escola Superior de Artes Aplicadas de Castelo Branco e Licenciada em Música (violino) pela Universidade do Minho. É investigadora do CITAR - Centro de Investigação em Ciência e Tecnologia das Artes, na Universidade Católica Portuguesa. É autora dos livros “O Arco – Contributos Didáticos para o Ensino do Violino” (2016) e “O Violino” (2022). Desenvolveu a sua atividade docente entre 2012 e 2018 no Conservatório Regional do Alto Minho e na Escola Profissional Artística do Alto Minho, e a sua classe contou com inúmeros prémios nacionais e internacionais. Foi ainda Diretora do Curso Básico e do Curso de Instrumentista de Cordas e Tecla na Escola Profissional Artística do Alto Minho, bem como Coordenadora do Departamento de Cordas no Conservatório Regional do Alto Minho. Foi ainda professora de violino no Instituto Piaget – Instituto Superior de Estudos Interculturais e Transdisciplinares (I.S.E.I.T), em Viseu, e professora de violino e Coordenadora do Departamento de Cordas no Conservatório Regional de Ponta Delgada. Atualmente desenvolve a sua atividade docente no Conservatório Regional de Angra do Heroísmo.
STRINGS FROM VIENNA SINCE 1919

What matters to us when it comes to our strings
Developing and manufacturing musical strings of the highest quality – that’s what has always mattered most to us, and it’s what still motivates us today. Since 1919, we have been based in Vienna, where it all began over a century ago. This is where we manufacture our strings with a particularly broad range of sound colors for bowed and plucked string instruments. And from here, in Vienna’s 5th district, we distribute our strings all over the world.
More about us and our history thomastik-infeld.com
Torne-se sócio da ESTA Portugal

Benefícios diretos em ser sócio da ESTA Portugal:
• Desconto direto em todos os eventos organizados pela ESTA Portugal e pela ESTA Internacional.
• Acesso a rede Europeia de professores de Cordas.
• Desconto de 15% nas publicações da “ESTA edition” (http:// estastrings.org/en/esta-edition).
• Acesso a condições especiais junto de parceiros da ESTA Portugal.
• The Strad - 20% de desconto no 1º ano de assinatura para membros da ESTA.
Para tornar-se sócio da ESTA Portugal deverá:
1) Preencher o formulário de inscrição disponível aqui
2) Efectuar o pagamento da anuidade Jan/2023 a Dez/2023
Quota anual no valor de 20€
3) Enviar o comprovativo de pagamento com a indicação do nome para o email estaportugal@gmail.com
Sócios corporativos

Damos as boas-vindas aos nossos novos Parceiros Comerciais da ESTA Portugal.
Estamos empenhados em criar uma cooperação expressiva e duradoura com todos aqueles que nos providenciam o que necessitamos para podermos realizar a nossa função.
Fique atento a descontos, cursos patrocinados e muito mais.
Esperamos que os apoie tanto quanto eles nos apoiam!

Eastman www.eastmanstrings.com

Joana Bruno www.pukkaviolins.com


Elise Derochefort https://elisederochefort.com

D’Addario www.daddario.com/products/orchestral/

www.partitura-verlag.com

