Projeto de Intervenção Residência Olivo Gomes Hotel-Escola Estela Maris Carneiro Alves
Projeto de Intervenção Residência Olivo Gomes Hotel-Escola Estela Maris Carneiro Alves Trabalho Final de Graduação Orientação Milton Braga Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade de São Paulo
agradeço aos meus pais e aos irmãos pelo apoio, ao meu orientador e aos meus professores da fauusp pelos ensinamentos e paciência, ao pessoal que me ajudou nessa pesquisa, Sonia e Robson do dph de São José dos Campos e os funcionários do Senac, e a todos meus queridos amigos que fizeram parte dessa deliciosa etapa da minha vida, Eduardo Viana, Mariana Hiroki, Sofia Bender, Eduardo Junqueira, Sofia Frois, Lívia Zaffalon, Paula Mendonça, Alexandre Nakano, Viviane Guimarães, Karina Mendonça, Fernanda Fugimoto, Mariana Martins, Max Heringer, Giovana Aiello, Emilia Luithardt, Liliane Nambu, Larissa Galastri, Márcia Trento, Lais Matiussi, Marcela Dominguez, Denis Ferri, Mariana Seiko, Renata Guedes, Marcela Johansson, Talita Barão, entre muitos outros.
SUMÁRIO Sumário Resumo
1. Contexto
2.1 Cidade 2.2 Tecelagem Parahyba 2.3 Parque da Cidade Roberto Burle Marx
2. Proposta para o Parque
08 09 11
2.1 Introdução 2.2 Estrutura viária
23 25 27
2.3 Usos e atividades
29
3. Residência Olivo Gomes
33
6
07
3.1 Histórico 3.2 Rino Levi 3.3 Roberto Burle Marx 3.4 Partido 3.5 Paisagismo 3.6 Patologias 3.7 Alterações 3.8 Projeto Petrobrás
34 36 40 43 50 55 56 57
4. Projeto de Intervenção
59
4.1 Estudos 4.2 Hotel-Escola 4.3 Projetos de Referência 4.4 Partido 4.5 Projeto Bibliografia Referência de imagens
60 63 67 68 75 104 106
RESUMO
Este trabalho consiste na elaboração
de um projeto de intervenção para a residência Olivo Gomes (1949-1951 | Rino Levi, Burle Marx e Francisco Rebolo | São José dos Campos, São Paulo, Brasil) a fim de valorizar e requalificar esse patrimônio arquitetônico, paisagístico e artístico modernos.
O novo uso atribuído a residência é um
Hotel-Escola do tipo Senac, empresa semi-privada de atuação social. A escolha e o funcionamento desse programa será aprofundado ao longo do trabalho, mais precisamente no capítulo 4.
Além disso, inicialmente, de forma a
reforçar esse novo programa e melhor inseri-lo na cidade, durante o tfg I (capítulo 2) foi proposta uma revitalização do parque da cidade Roberto Burle Marx, antiga áreas da Tecelagem Parahyba e da Fazenda Sant’Ana do Rio Abaixo, onde a residência está implantada. Tendo como partido a conexão das edificações e usos, de modo a requalificar o parque e promover o Hotel-Escola, o núcleo do complexo.
7
1. CONTEXTO
1.1 CIDADE
De maneira a contextualizar esse tra-
balho, apresenta-se a cidade de São José dos
Campos onde está implantada a residência.
por volta de 1920, com pequenas indústrias,
olarias e tecelagens. Porém essa economia
Localizada no Vale do Paraíba, originou-
A última fase é a industrial, que inicou
-se a partir de aldeamentos jesuísticos e foi
somente se estabeleceu com a implantação
fundada com a expulsão dos mesmos pela
da rodovia Presidente Dutra, em 1950, que liga
Corte em 1767. Então, a fim de aumentar a ar-
São Paulo com o Rio de Janeiro. E posteriomen-
recadação provincial a aldeia teve sua categoria
te, com a oferta pela prefeitura da cidade de
elevada para Vila de nome São José do Paraíba.
incentivos fiscais para indústrias. Consolidan-
A partir daqui, a história econômica e social da
do-se assim, a rodovia como um eixo definidor
cidade pode ser organizada em 4 ciclos.
da expansão urbana e a expressividade da
economia industrial da cidade no Estado.
Os dois primeiros ciclos, situados no
século XIX, correspondem às agriculturas de
algodão e café, que caminharam conjuntamen-
sibilitou a implantação de centros de ensino e
te e igualmente não prosperaram.
pesquisa, o que marca o caráter do desenvolvi-
A cidade era destaque na produção de
mento da cidade e a constitui como um impor-
algodão e abastecia indústrias inglesas de teci-
tante tecnopolo de material bélico, metalúrgico
do. O café que a cidade produziu desde 1830, só teve destaque nacional em 1854 e sempre esteve à margem do período áureo do café no país. Importante ressaltar que em 1877 foi inaugurada a Estrada de Ferro Central do Brasil.
O terceiro ciclo corresponde a fase
Sanatorial, onde a cidade foi classificada como Estância Hidromineral, em 1935, devido as condições supostamente favoráveis na busca do 10
de 600 metros e clima temperado seco.
tratamento de tuberculose - altitude por volta
3
A integração indústria e ciência, pos-
4 5
e sede do maior complexo aeroespacial da América Latina.
1 2
Dados: Área: 1.099,77 km2 População: 636.876 hab. - SP:7° (IBGE, 2011) Densidade: 579,1 hab./km2 IDH: 0,849 - SP:11° (PNUD, 2000) PIB: R$ 22.018.043 - BR:19° (IBGE, 2009) PIB per capita: R$ 35.751,06 (IBGE, 2009)
1. rodovia Presidente Dutra 2. rodovia Carvalho Pinto 3. distrito São Francisco Xavier 4. distrito Eugênio de Melo 5. rio Paraíba do Sul
01 Mapa esquemático do município de São José dos Campos. O distrito de São Francisco Xavier configura-se como uma reserva ambiental e Eugênio de Melo como pólo industrial. Observa-se a expansão da mancha urbana ao longo da Via Dutra (cinza).
1.2 TECELAGEM PARAHYBA
Tanto a residência Olivo Gomes como
o atual parque da Cidade Roberto Burle Marx tem sua origem ligada a história da Tecelagem Parahyba, que será apresentada a seguir.
A tecelagem Parahyba foi fundada em
1925 por um grupo de investidores portugueses e fluminenses para a produção inicialmente de brim para vestuário. Contava com uma grande vantagem, sua localização junto a estação de trem da Central do Brasil em São José dos Campos, o que facilitava e diminuía os custos de transporte de matérias-primas e produtos acabados.
Caracterizou-se como um grande mar-
co na industrialização e urbanização da cidade, inserindo-se intensamente na vida social, econômica e cultural do município.
Com a crise de 1929, a indústria entrou
em concordata e seus credores, sem intenção de ficar a frente dos negócios, tranferiram a gerência para Olivo Gomes. Um empresário e corretor de algodão, nascido em Niterói em 1882, já conhecido por motivo de falência nos negócios, porém também reconhecido por quitar suas dívidas. Olivo Gomes, com seu caráter promissor, ousado, porém consciente, logo assumiu a presidência da tecelagem, em 1933,
02 Operários da Tecelagem Parahyba em em meados da década
03 Logo da Tecelagem Parahyba. A tecelagem contou com uma
dando início a expansão da produção para
ção artificial. Consolidando-se uma empresa de
escala internacional.
economia mista, de caráter agroindustrial com
base no aperfeiçoamento científico da produ-
de 20.
A expansão teve início, por volta dos
grande campanha publicitária na época de seu auge produtivo.
anos 30, no investimento no setor agropecuá-
ção agropecuária.
rio, passou-se a produzir também, leite, arroz,
café, aveia, lã natural, gado de corte, entre
são da empresa, desenvolveu-se um arrojado
outros. Constitui-se uma nova pessoa jurídica:
programa social que oferecia aos funcionários
a Fazenda Sant’Ana do Rio Abaixo S/A, um con-
e à sua família moradia, educação, saúde, servi-
junto de fazendas da família próxima à tecela-
ços, atividades de lazer e religiosa. Esse sistema
gem. Novas edificações foram construídas para
foi fruto do início de movimentos operários na
suporte desse novo investimento - galpão de
década de 30, em conjunto com a inadaptação
beneficiamento de arroz e café, estábulos e até
do trabalhador rural ao novo processo de tra-
mesmo um laboratório pioneiro de insemina-
balho, agora industrial.
Paralelamente ao processo de expan-
11
rios, melhorando a relação empresa-emprega-
teve parte de sua propriedade - os edifícios da
mento mais notavelmente implantado no exte-
do.
fábrica - entregues ao Governo do Estado de
rior, foi introduzido logo em uma das primeiras
grandes indústrias de São José dos Campos. É
aconteceu por meio de indicação de Carlos
considerável sua aplicação devido à comple-
Millan para o projeto da residência de Olivo
assinou um acordo com o Estado adquirindo
xibilidade de seu programa e diversidade de
Gomes. Com a construção da residência, Rino
o direito de ocupar parte destas edificações.
atividades. Inclusive, poucas empresas no Brasil
Levi projetou sucessivos equipamentos e
Assim, agora a Coopertêxtil, com a ajuda do
adotavam esse programa. Assim, no final da
edificações de desenvolvimento social para a
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômi-
década de 40, a produção anual foi máxima,
família Gomes e para o complexo da tecelagem
co e Social, retoma a produção e compra parte
com a marca de 4 milhões de cobertores.
que foram parcialmente executados. A empre-
dos equipamentos da antiga tecelagem.
Em meados da década de 50, avolu-
sa alcançou prestígio e renome internacional
mam-se os projetos e estudos para as novas
por volta da década de 70, com o a produção
o Governo Federal para que algumas áreas
edificações do complexo programa social da
no auge. Enfatiza-se assim, a relevância que a
fossem repassadas ao INSS em troca das dívi-
empresa. Nos anos 40, iniciou a participação
empresa teve no desenvolvimento da cidade,
das com a instituição. A prefeitura da cidade,
de arquitetos modernos, no projeto da residên-
tanto econômico e urbano, como social e cultu-
interessada na área, negociou com o INSS e
cia para o diretor e da escola para os filhos dos
ral.
com a família uma desapropriação amigável,
funcionários , que tiveram como arquitetos,
Carlos Millan, Carvalho Franco e Sidney Fonse-
so de falência por volta da década de 80, devi-
arquitetônico, ambiental e paisagístico, tranfor-
ca.
do a diversos fatores, entre eles as sucessivas
mando a área, em 1996, em um parque público,
crises econômicas no país e a não renovação
o parque da Cidade Roberto Burle Marx.
12
Interessante ressaltar que tal procedi-
Nesse sentido, as novas edificações
A participação do arquiteto Rino Levi
A fábrica começou a entrar em proces-
rompem com a influência da arquitetura indus-
de seu maquinário fabril. Em 1983, pediu-se
trial européia, caracterizada por fechamentos
concordata e em pouco tempo a dívida aumen-
de alvenaria sem revestimento e iluminação
tou, agravado com a morte dos filhos de Olivo
zenital por sheds, solução da própria sede da
Gomes, Severo e Clemente Gomes, até então
tecelagem. Assim, os ideais do signo do novo e
dirigentes da empresa. Assim, a tecelagem
da formalidade presentes nas obras modernas
faliu, em outubro do mesmo ano.
influenciam no comportamento dos funcioná-
Para quitar as dívidas a família Gomes
São Paulo. Em 1994, a associação dos funcionários
A família mantinha negociações com
com o objetivo de preservar o patrimônio
1.3 PARQUE DA CIDADE ROBERTO BURLE MARX
A partir dessa apresentação histórica
A área relativa ao parque atual abrange
da tecelagem Parahyba e da cidade em que
o perímetro da lei 6.493 de 05 de janeiro de
a residência se insere e participa, fez-se um
2004, alterada pela lei 7.338 de 27 de julho de
levantamento e um diagnótico do parque da
2007 que estabelece como Zona de Preserva-
Cidade Roberto Burle Marx atualmente, de
ção (ZP) a área do complexo formado pela an-
forma a contribuir para a efetivação da propos-
tiga tecelagem Parahyba e a Fazenda Sant’Ana
ta de revitalização para o parque, realizada no
do Rio Abaixo, totalizando 1,77 km2.
capítulo 2 deste trabalho.
Urbano realizou um Plano de Manejo e Ocupa-
Tombado como patrimônio histórico
Em 2009, a Secretaria de Planejamento
pelo Conselho Municipal de Preservação do
ção para o parque de maneira a diagnosticar e
Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural (COM-
propor um planejamento para área.
PHAC) de São José dos Campos desde 1996, o
Parque da Cidade localiza-se na região Norte da
lho conduz uma apresentação e análise desse
cidade. Desde então, aumentou-se sua infra-es-
Plano, enfatizando que o parque atualmente
trutura de forma a atender as necessidades de
conta com várias problemáticas que não aju-
seus usuários e a adaptar seu uso para parque.
dam na preservação e conservação desse patri-
Hoje, o parque possui pistas e trilhas para cami-
mônio, além de nenhuma grande e importante
nhada e recentemente foram implantados uma
iniciativa ter sido implantada após o Plano.
ciclovia, equipamentos para ginástica e play-
ground. Recebe eventos da cidade oferecidos
LEVANTAMENTO
pela Prefeitura, como shows, espetáculos de
teatros, dança, entre outros, dado que também
pelo Plano Diretor de São José dos Campos
estão instalados nas proximidades a Fundação
de 2006 (ver mapa 2) observa-se o potencial
Cultural Cassiano Ricardo e um pequeno mu-
da região de crescimento e desenvolvimento.
seu, o Museu do Folclore, recebendo por volta
Atualmente já se encontram diversos empreen-
de 2.000 usuários por dia e eventualmente em
dimentos residenciais junto as avenidas Olivo
grandes eventos e shows, 40.000 pessoas.
Gomes e Rui Barbosa, enfatizando-se, assim, o
A partir dessa referência, este traba-
04 Mapa esquemático da localização do parque a Norte da cidade (verde). O crescimento da cidade para Norte sofre um afunilamento gerado a partir de duas área de preservação, o Banhado a esquerda e o próprio parque a direita.
A partir do diagnósticos apresentados
05
Zona de proteção delimitada pelo decreto de 1996.
13
aumento da verticalização e urbanização das
decretos já mencionados, porém algumas áreas
glebas e uma crescente valorização da área
pertencem ao Estado de São Paulo, outras à
envoltória. A região também está se definin-
Rede Ferroviária Federal S.A., à Jaime Chede
do como centro da malha urbana e como o
Filho, à família Gomes e outras se constituem
entroncamento de estrutura viária central. A
como remanescentes da Mantiqueira (ver mapa
avenida Sebastião Gualberto passa a ser o eixo
3).
de encontro dos principais sistemas de locomo-
14
ção, ganhando importância urbanística.
PAISAGISMO
Quanto aos aspectos físicos, o solo
O parque conta com várias áreas pai-
do parque divide-se em dois: parte é planície
sagisticamente projetadas, além dos jardins da
aluviornar com textura argilosa ou arenosa
residência Olivo Gomes, existem os jardins da
e presença de solos orgânicos de formação
estação ferroviária e da antiga Usina de Leite e
hidromórfica com ocorrência significativa de
grandes gramados. Aponta-se também, a pre-
turfa; e outra parte é caracterizada como terra-
sença de dois importantes eixos paisagísticos,
ços sedimentares. A cobertura vegetal se rege-
alamedas arborizadas; um, por palmeiras impe-
nerou intensamente após o fim das atividades
riais, e outro por figueiras. Importante apontar
agroindustriais. Observam-se problemas de
também os lagos na formação da paisagem e
drenagem interligados com a manutenção dos
as visuais que se formam, em alguns pontos do
2 lagos artificiais, pois originalmente existiam 4
parque, para a Serra da Mantiqueira.
lagos artificiais que funcionavam num sistema
equilibrado de abastecimento e irrigação. Com
paisagismo é que a maioria das árvores estão
a desativação desses lagos, a água emcami-
com quase 50 anos, várias delas estão morren-
nhou-se esponteneamente formando uma área
do e sua reposição é de longo prazo, porém sua
alagada ao longo da via de acesso a estação de
importância é extrema para a consolidação do
tratamento de esgoto da Sabesp.
partido do parque e da residência Olivo Gomes.
Além disso, o antigo viveiro de plantas, onde
Quanto à propriedade, a maioria
pertence a Prefeitura Municipal, a partir dos
06
Eixo das palmeiras imperiais, gramado e ao fundo o galpão “Gaivota“, original galpão de máquinas projetado por Rino Levi.
Uma problemática com relação ao
fazia a reposição das mesmas, está desativado a
07
Eixo de entrada do parque, o eixo das figueiras.
vários anos, sendo necessária a implantação de
se incrustado, com somente um acesso, sendo
Paulo, passa pelo sul de Minas Gerais e tem
um novo e extenso viveiro de plantas.
fechado em quase todo o seu perímetro.
a foz no norte Fluminense. O rio em toda sua extensão, exceto em raras excessões, diagnosti-
DIAGNÓSTICO
RIO PARAIBA DO SUL
cam-se problemas ligados à falta de tratamento
de esgoto (cerca de 70%), à erosão e assorea-
Além disso, apontam-se outras proble-
O rio Paraiba do Sul, que forma o Vale
máticas encontradas no parque:
do Paraiba e corta a região Norte de São José
mento dos corpos d’água, enchentes, pouca
- infra-estrutura de atendimento ao usuário
dos Campos, tangencia uma parte do parque,
cobertura nativa, entre outros.
insuficiente e mal localizada, como o número e
assim, acha-se necessário apresentar esse re-
a localização dos sanitários públicos, das áreas
curso de forma a inseri-lo e valoriza-lo no proje-
-se uma ocupação da área da várzea, além
de alimentação e de atendimento à criança e
to de revitalização realizado posteriormente no
de a partir de 2009 algumas denúncias foram
ao idoso;
capítulo 2.
realizadas relatando o despejo de esgoto sem
- grandes áreas construídas, sem ocupação.
tratamento direto em córregos da cidade que
Edificações que tinham a função auxiliar na
Paraitinga e Paraibuna, nasce no estado de São
afluem no rio Paraiba do Sul e o abandono de
08
09 Portão de ligação entre o parque e o centro cultural. Evidencia-se a não interligação entre os dois usos.
Formado pela confluência dos rios
Em São José dos Campos observa-
atividade agroindustrial, hoje apresentam-se sem uso; - presença de obstáculos visuais, como cercas, muros, linhas de posteação, portões e etc, advindos também dos diferentes usos e atividades que se davam naquela área; - a circulação de veículos e os acessos dos mesmos não são claramente delineados; - a circulação de pedestres e bicicletas é igualmente mal delineada; - presença de vandalismo nas edificações; - dificuldade de manutenção do parque e suas edificações; - o parque não se insere na cidade, encontra-
Eixo de entrada do parque. A ciclovia foi recentemente implantada junto aos únicos postos de alimentação, pequenos trailers.
15
estações de tratamento da Sabesp. O resultado
- situação fundiária - mapa 3.
foi a realização de várias ações a favor da me-
De maneira a complementar o mapa
lhoria do tratamento de esgoto na cidade.
1 que apresenta as principais edificações do
complexo, apresenta-se as pequenas edifica-
Nas proximidades da região deste tra-
balho encontra-se a estação de esgoto Lavapés
ções que antes serviam de apoio as atividades
que segundo a revista técnica “Controle e Ins-
agroindustriais e hoje encontram-se subutiliza-
trumentação“, é um projeto de referência sendo
das, abandonadas ou em ruínas:
responsável pelo tratamento de 45% do esgoto
produzido na cidade.
nado.
- antiga estrebaria, atualmente abando- antigas ordenha mecânica e galpão
GESTÃO
de teares manuais, atualmente servem como
apoio ao parque;
O parque atualmente é gerido por
diversos órgãos, pela Secretaria de Planejamen-
to Urbano, pela Secretaria de Serviços Munici-
departamento de inseminação artificial, atual-
pais, pela Fazenda do Estado e pela Fundação
mente encontram-se todos em ruínas.
Cultural Cassiano Ricardo. Essa divisão das
responsabilidades dificulta o gerenciamento
mente estudadas, dado pela dificuldades de
da área, além da ausência de legislação e plano
encontrar informações .
mais abrangentes dificultar as providências e
intervenções necessárias.
quenas edificações contemporâneas junto ao
campo de futebol, localizado na entrada do
A seguir serão apresentados mapas
Essas edificações não serão detalhada-
Também encontramos algumas pe-
parque, há um bar e um vestiário.
com:
- antigas pocilga, casa da farinha, olaria,
10 Rio Paraiba do Sul nas proximidades da região deste trabalho.
- edificações existentes - mapa 1- junta-
mente com um levantamento dos usos atuais e originais das principais edificações do complexo; 16
- plano diretor - mapa 2;
11
Ruínas da antiga ordenha, localizado paralelo ao novo estacionamento do teatro municipal em construção.
NORTE MG
SABESP ESGOTO
01
rio Paraíba do Sul
02
e córr
03
11
é avap
go L s
LEGENDA EQUIPAMENTOS edificações controle de carros estacionamento água cobertura vegetal LEGENDA VIÁRIO arruamento existente viário parque trilha / estrada de terra linha férrea
10
es
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om livo G av. O
rod. M
04
ato
07
09
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SP-05
05
06 08
CENTRO
0
av. eng. Sebastião Gualberto
50
100
200
MAPA 1 | EDIFICAÇÕES EXISTENTES
CENTRO
01
18
02
03
atual: Clube Privado ADC Parahyba
atual: abandonado
atual: EMPG prof. Vera Lúcia C. Barreto e
original: Clube Funcionário ADC Parahyba
original: Usina de Leite Parahyba
EMEI prof. Idelina M. T. de Carvalho
1954
1963/1965
original: Grupo escolar da Tecelagem
Rino Levi Arquitetos Associados S. A.
Reno Levi Arquitetos Associados S.A.
1951 e 1984, respectivamente
Projeto parcialmente executado a partir
Detalhes construtivos como a elevação
O projeto do EMPG de C. Millan, Car-
da proposta da criação de áreas de lazer para
do solo à altura dos caminhôes, escondendo as
valho Franco e Sidney Fonseca, insere-se
os funcionárioas da tecelagem Parahyba.
tubulações, marquises suspensas, jardins inter-
na proposta social da tecelagem, já o EMEI (au-
A característica mais marcante é a arquiban-
nos, platibandas, finos pilares, tranferem leveza
tor desconhecido) é posterior. O EMPG foi elo-
cada com bancos de concreto assentados so-
e a intenção de humanizar o espaço fabril.
giado por antigos estudantes e professores por
bre os degraus, possibilitando a passagem sem
Recebendo especial atenção aos acabamentos
ser um espaço aberto e ótima relação com o
incomodar quem está sentado.
com a utilização de tijolos e placas cerâmicas,
entorno. Sendo, posteriormente adotado como
além do paisagismo e um painel de Burle Marx.
modelo padrão para outras escolas estaduais.
04
05
06
atual: Centro de Formação Educacional e
atual: Galpão “Gaivota“
atual: diversos usos
Teatro Municipal
original: Galpão de máquinas e equipamentos
original: Sede Tecelagem Parahyba
original: Depósito de Produtos Acabados
1950/1953
1925 (1ª etapa)
1970/1973
Rino Levi Arquitetos Associados S.A.
Vicente de Finis & Cia (1ª etapa)
Rino Levi Arquitetos Associados S.A.
ma de abóbadas duplas com perfil parabóico
pertextil, Fundação Cultural Cassiano Ricardo,
mente para o uso como loja de carros e atual-
que se apoiam em robustos pilares de concre-
ERPLAN, Delegacia Regional de Cultura, IBGE,
mente para o centro educacional que em breve
to, revestida com telhas de alumínio. Hoje rece-
Secretaria de Esporte e Lazer e Polícia Florestal,
será entregue. Porém o teatro teve a obra para-
be, eventualmente, eventos do parque. Possui
além de áreas sem uso. Construído em diversas
lisada devido inversão da execução do projeto
também um painel do Burle Marx, na parede
épocas, em regra a alvenaria é de tijolo aparen-
de estrutura.
de divisa do depósito com o posto de gasolina.
tes, a cobertura tipo shed e estrutura mista de
Sofreu diversas adaptações, primeira-
Cobertura de estrutura treliçada, na for-
Dentre os usos atuais tem-se: Coo-
madeira, concreto e elementos metálicos. 19
07
08
09
atual : Museu do Folclore e Anexo
atual: Estação RFFSA desativada
atual: Sem uso
original: Casa dos hóspedes e da gerência
original: Estação Ferroviária Central do Brasil
original: Piscina e Vestiário
data desconhecida
1876/77
data desconhecida
autor desconhecido
autor desconhecido
autor desconhecido
Residência de tijolo aparente, esqua-
Piscina e vestiário de uso da família Go-
drias de madeira, alpendres, ladrilho hidráulico,
da ferrovia, desviando do centro histórico de
mes, hoje a piscina de concreto com azulejos
jardineiras, telhado de estrutura de madeira e
São José dos Campos de forma de a diminuir
brancos de 15x15 cm encontra-se desativada e
telhas cerâmicas. O edifício da casa da gerência
a declividade dos trilhos, o que possibilitou o
o vestiário funciona como sanitário de apoio ao
sofreu várias intervenções internas para abri-
desenvolvimento dessa região e da tecelagem
parque.
gar o museu, enquanto que a residência dos
Parahyba.
hóspedes abriga a administração do museu.
20
Resultado de uma mudança no traçado
10
11
atual: Secretaria do Meio Ambiente
atual: Sem uso
original: Galpão de benefic. de arroz e café
original: Casa da Ilha
+ -1930
+ -1930
autor desconhecido
autor desconhecido
Edificação construída dentro do projeto
A casa teve vários moradores, primeira-
agroindustrial de Olivo Gomes, com a função
mente foram operários, depois a nora de Olivo
de beneficiar arroz e café. Recentemente pas-
Gomes, Maria Lúcia Gomes e o administrador
sou por projeto de intervenção para abrigar
de fazenda chamado Araken. A casa segue
primeiramente a Fundhas e posteriormente a
alguns detalhes da residência Olivo Gomes,
Secretaria do Meio Ambiente.
como os caixilhos metálicos, os blocos de vidro, etc. Hoje está sem uso, porém tem um projeto de centro de educação ambiental. 21
ZR1 ZUC3 ZUC4
rio Paraíba do Sul
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o Lob onteir
om livo G av. O
rod. M
ato SP-05 0
ZI ZUC1
MAPA 2 | PLANO DIRETOR
av. eng. Sebastião Gualberto
LEGENDA zona de proteção ambiental 1 zona especial de patrimônio histórico zona industrial zona residencial 1 zona de urbanização controlada 1 zona de urbanização controlada 3 zona de urbanização controlada 4 zona de urbanização controlada 5
rio Paraíba do Sul
s
é avap
L ego córr
es
o Lob onteir
om livo G av. O
rod. M
LEGENDA PROPRIEDADES Municício Estado Jaime Chede Filho Rede Ferroviária Federal S.A. LEGENDA LIMITAÇÕES DECRETOS decreto 1ª desapropriação 1996 decreto 2ª desapropriação 2006
ato 0
SP-05
0
av. eng. Sebastião Gualberto
50
100
200
MAPA 3 | SITUAÇÃO FUNDIÁRIA
2. PROPOSTA PARA O PARQUE
FUTURO AEROCLUBE
ORLA
AEROMODELISMO
rio Paraiba do Sul
COMÉRCIO
CLUBE ESPORTE
ESCOLA
e córr
ARBORISMO
é avap go L s
omes livo G av. O a arbos
iB av. Ru
CEFE TEATRO HOTEL ALIMENTAÇÃO
PISCINA
ZOO
LEGENDA EQUIPAMENTOS edificações controle de carros ponto de ônibus apoio parque estacionamento postos aluguel de bikes água
INDÚSTRIA
LEGENDA VIÁRIO anel viário do parque acesso livre acesso restrito ciclovia-trilha novas ruas trilhas limite do parque linha férrea
CONVENÇ. CULTURA 0
PONTE av. eng. Sebastião Gualberto
50
100
200
MAPA 4 | PROPOSTA
2.1 INTRODUÇÃO
Antes de aprofundar na proposta e pro-
em comemoração do quarto centenário da
jeto para a residência Olivo Gomes, achou-se
cidade de São Paulo. Foram implantados edifí-
conveniente tratar o parque a fim de fortalecer
cios de linguagem modernistas e atividades da
o projeto e sua proposta, além de tratar o pro-
Prefeitura da cidade e culturais, além de uma
jeto em diversas escalas, no sentido de pensar
marquise que interligada os mesmos e cria uma
seu contexto e inserção urbana.
vivência diferenciada.
A partir de uma análise do Plano de
Já o “Parc de la Villette” (0,55km2) pas-
Manejo e Ocupação de 2009, aderiram-se algu-
sou por um concurso que visava a renovação
mas proposições, enquanto outras, não, devido
e requalificação do parque, então, teve seus
principalmente a grande mudança no progra-
edifícios restaurados e novos foram edificados
ma para a residência Olivo Gomes, assunto que
por vários arquitetos. O desenho e conceito do
será aprofundado posteriormente.
parque foram projetado por Bernard Tschumi.
O parque possui dois eixos de caminhos ele-
As premissas para esse projeto segui-
ram um caminho a fim de preservar e unificar o
vados e consequentemente cobertos na parte
complexo da antiga Tecelagem Parahyba e da
inferior. Mas o partido do parque está na im-
Fazenda Sant’Ana do Rio Abaixo, incentivando
plantação de um grid, chamados “folies“ (lou-
o lazer, a cultura e a educação e potencializan-
curas, tolices, em francês) que são elementos
do o parque como pólo turístico.
artísticos, simbólicos e esculturais que marcam
a paisagem e a organização do parque, sendo
REFERÊNCIAS
objetos desprovido de utilidade prática dentro
de um discurso de desconstrução.
Como referência de grandes parques
urbanos dotados de diversos equipamentos
culturais e educacionais, tem-se o Parque do
completamente distintos, possibilitando uma
Ibirapuera, em São Paulo e o “Parc de la Villette”,
leitura do primeiro como um parque do século
em Paris.
XX e o segundo do século XXI.
O conjunto do Parque do Ibirapuera
(1,58km2) recebeu o projeto de Oscar Niemeyer
12 Esquema do desenho do “Parc de la Villette“ por Bernard Tschumi. 1982-1998 . Obervação a variedade das edificações, os dois eixos de passeios elevados e o grid de elementos paisagísticos e esculturais, formando percursos inusitados e de surpresa.
Configurando-se assim, dois parques
13 Vista aérea do parque Ibirapuera, por Oscar Niemeyer. 1954. Observa-se o desenho orgânico da marquise interligando as edificações, o lago artificial e a cobertura vegetal. Além da cidade adensada e valorizada junto ao parque. 27
DELIMITAÇÃO
A partir dos dois decretos de lei já
mencionados delimitou-se a área do parque, porém para consolidação e integração do complexo, propõe-se a aquisição (0,38 km2) e a venda (0,09 km2) de certas áreas, que podem ser melhores identificadas pelo na figura 18. Amplia-se assim, a área do parque de 1,77 km2 para 2,06 km2, formando assim, uma área mais consolidada. O mapa 4 apresenta a proposta do parque, juntamente com o texto a seguir.
28
14 Parc de la Villette, Paris. Detalhe do passeio elevado e das “folies“, elementos vermelhos.
16 Parque Vicentina Aranha. São José dos Campos. 0,08 km2. Antigo Complexo Sanatorial projetado por Ramos de Azevedo em 1924. O parque foi inaugurado em 2007, porém as edificações continuam abandonadas e sem uso.
15 Parque do Ibirapuera, São Paulo. Detalhe da marquise com seu desenho sinuoso e o projeto paisagístico do Roberto Burle Marx.
17 Parque Santos Dumont. São José dos Campos. 0,04 km2. Localizado no centro da cidade, recentemente recebeu pista pavimentada e equipamento de ginástica. O parque possui atrativos desde um jardim japones a modelos de avião e foguetes.
2.2 ESTRUTURA VIÁRIA
A fim de corrigir o fechamento do
uma ciclovia e parte do anel viário do parque
parque frente a cidade, propõe-se um anel
se inserem na região, porém ainda está dentro
viário (linha preta) que contorna todo o parque.
da margem máxima de intervenção de 5% em
Assim, o parque é “abraçado“ pela cidade, am-
área de APP.
pliando os acessos tanto de pedestres como de
carros. Além de criar passeios paralelo à orla do
parque, propõem-se dois tipos de acesso, um
rio Paraiba do Sul, aproximando a população
viário livre (linha vermelha) para os usuários do
desse recurso natural, tanto de suas problemá-
parque, dos centros de convenções, comercial
ticas como de suas qualidades paisagísticas.
e de serviços, esportivo e do teatro, junto ao
Além disso, esse anel interliga-se ao sistema
grande estacionamento já executado; e um
viário da cidade, propondo aumentar a integra-
viário restrito (linha laranja) com um controle
ção da malha urbana, diminuir os obstáculos
do acesso de carros dos hóspedes, estudantes,
visuais e a afunilamento viário (ver figura 19).
carga e descargas e para a manutenção e segu-
rança do parque.
O desenho desse anel viário se definiu
Quanto à organização viária interna do
a partir das vias existentes e na busca de um
percurso interessante paralelo ao rio e com
ciclovia-trilha de piso cimentado, conformando
curvas de raio de 100 metros, aproximadamen-
grandes circuitos e interligando os diversos
te. Além disso, a Norte desenhou-se um novo
equipamentos e edificações do complexo.
arruamento (linhas em rosa) de ampliação do
Além disso, criam-se possíveis percursos de
bairro residencial existente a fim de criar uma
transporte por via de bicicletas para os usos
urbanização controlada e que valorize esse
urbanos ao redor, incentivando esse uso como
percurso.
um todo. Foi programado também a implan-
tação de sistema de aluguel de bicicletas e
Deteve-se especial atenção para a im-
18
Mapa esquemático dos limites do parque proposto (linha vermelha pontilhada) e das as áreas a serem vendidas (em verde) e compradas (em vermelho). Formando assim, uma maior unidade para o parque, além de um maior percurso paralelo ao rio.
Foi desenhado um sistema do conjunto
plantação de atividades às margens do rio Para-
patins, já que nenhum parque em São José dos
íba que tem largura em média de 90 metros,
Campos propõe essa atividade.
manteve-se então uma faixa de 100 metros de
Área de Proteção Permanente. Foram propostas
hierarquia viária tem-se as trilhas (linha mar-
Finalmente, num patamar abaixo na
parque
banhado
19 Mapa esquemático do sistema das principais vias da cidade e a proposta da nova via que contorna o parque e amplia a integração da malha urbana (linha vermelha), além de proporcionar um passeio paralelo ao rio e dasafogar o afunilamento da região. 29
rom), tanto para caminhada como para cooper,
Quanto aos estacionamentos foram
com percursos variados, sinuosos, inseridos na
incorporados à proposta os existentes e foi de-
vegetação existente, contornando os lagos ou
senhado mais um pequeno bolsão à esquerda
margeando o rio. A intenção é incentivar as ati-
do anel viário do parque, servindo os visitantes
vidades físicas a partir do espírtito de aventura,
do pequeno zoológico proposto. Foi pensando
exploração, já que os percursos são inusita-
também na implantação de mais linhas e pon-
dos e diversificados, possibilitando surpresas.
tos de ônibus, de forma a incentivar o transpor-
Porém é importante ressaltar, de antemão, a
te público e a inserir mais a população nesse
consideração de um bom projeto de sinaliza-
novo equipamento. Seria necessário criar novas
ção e comunicação visual dentro do complexo
linhas que ligassem o parque ao aeroporto e a
de forma a informar e localizar as atividades e
estação rodoviária.
os percursos.
Inicialmente, propõe-se transpor a
ferrovia e ligar o parque à importante avenida engenheiro Sebastião Gualberto através de uma ponte/passarela. Mas a proposta tem um desafio maior, a implantação de um circuito de VLT (veículo leve sobre trilhos) eliminando assim uma transposição complicada e grandes obstáculos murais e complementando o sistema viário da cidade, e também insere-se mais o parque e suas edificações na cidade. Para isso seria necessária toda uma análise e estudo urbanísticos no sentido de projetar tanto o trajeto do VLT como o desvio do transporte de cargas, que atualmente ocorre na ferrovia 30
existente, porém não intensamente.
20 Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) em Paris, França. A proposta de longo prazo é a implantação de um VLT onde hoje se encontra a linha férrea, diminuindo a barreira física e visual entre o parque e a cidade, na avenida engenheiro Sebastião Gualberto.
2.3 USOS E ATIVIDADES quadras para as mais diversas práticas esporti-
mantido pelo Plano. Porém, propõe ampliar
vas de uso livre e público, distribuídos ao longo
seu uso, sem se desfazer do atual, de maneira a
alguns foram aderidos do Plano de Manejo e
do parque, aproveitando alguns campos de
incluir convenções relacionadas com as ativida-
Ocupação de 2009 e outros não. Outros tive-
futebol que já existem.
des do hotel.
ram algumas alterações, de forma a se adequar
- CENTRO COMERCIAL E DE SERVIÇOS: antes
- CENTRO CULTURAL: antes áreas fabris da te-
a principal mudança, o programa da residência
Usina de Leite e hoje abandonado, seguiu-se a
celagem Parahyba e hoje recebe diversos usos
Olivo Gomes, de Centro de Representação,
proposta do Plano de criar um centro comercial
como a Fundação Cultural Cassiano Ricardo e
Recepção e Eventos para um Hotel-Escola, de
e de serviços. Localizado num ponto estratégi-
administrações do Município e do Estado. A
forma a aumentar as atrações e as atividades,
co e de fácil acesso, potencializando o progra-
proposta é de se configurar um grande centro
tanto para os hóspedes, como para usuários do
ma escolhido, além de incentivar seu restauro e
cultural aberto para o parque, ampliando sua
parque.
preservação.
configuração e concentrando os usos adminis-
- ÁREA ESCOLAR: mantém-se o programa,
trativos ligados aos diferentes órgãos, de forma
de seus novos usos ou alterações com relação a
porém propõe-se a abertura da escola para o
a eliminar as áreas sem usos.
proposta do Plano de 2009. A ideia é que vários
complexo dos parque, de forma a possibilitar
- PISCINA PÚBLICA: hoje sem uso propõe-se
arquitetos tratariam de cada área que necessi-
a exploração do parque por parte dos alunos,
reativar a piscina para o uso público e projetar
tar de restauração, adequação ou ampliação a
como o pequeno zoológico, o teatro, o centro
o controle da piscina e a conexão com o centro
fim de dinamizar o complexo.
cultural, etc.
cultural incorporando a proposta as edificações
- CENTRO ESPORTIVO: antes uma associação
- CENTRO DE FORMAÇÃO EDUCACIONAL E
do museu do Folclore, seu anexo e os antigos
desportiva para funcionário e hoje um clube
TEATRO MUNICIPAL: antes depósito de produ-
vestiários. Essa proposta não foi existe no Plano
privado, mantém-se o uso, assim como pro-
tos acabados e hoje se encontra em constru-
de 2009.
põe o Plano, já que parte das dependências
ção seu novo programa. Assim como o Plano
- ALIMENTAÇÃO: antes galpão de beneficia-
são tombadas, logo, é conveniente mantê-las.
propõe essa edificação será destinada para
mento de arroz e café, hoje Secretaria do Meio
Porém propõe-se uma ampliação e abertura
atividades de recreação, lazer, cultura, educa-
Ambiente, propõe-se mudar completamente o
desse centro para os outros equipamentos do
ção e formação.
uso atual como o proposto pelo Plano, de ser
parque, de maneira a aumentar o número de
- CENTRO DE CONVENÇÕES: antes galpão
um Centro de Estudos Ambientais. Devido a
associados e juntamente a manutenção desse
de máquinas e hoje centro de exposições que
nova proposta para o parque, ao aumento de
patrimônio. Além disso propõe-se implantar
recebe eventos ocasionalmente, programa
usuários, funcionários e visitantes, fica neces-
Quanto aos novos usos das edificações,
Assim, agora se darão as apresentações
31
32
sário aumentar a área para alimentação, então,
Olivo Gomes. Prevê-se também a necessidade
pensou-se em criar um grande complexo de
da construção da mesma ideia de apoio junto a
alimentação, além do restaurante do Hotel-Es-
passeio da “orla“, formando assim um conjunto
cola. Com isso, aumenta-se também a possi-
de equipamento de infra-estrutura básica para
bilidades de exercício práticos para os alunos
o complexo.
do Hotel- Escola, programa que será melhor
- ATIVIDADES COMPLEMENTARES: de forma a
apresentado posteriormente.
ampliar as atrações do parque tanto para a
- ZONA INDUSTRIAL: atualmente a cooperativa
cidade como para seus futuros hóspedes,
advinda da Tecelagem Parahyba, a Coopertêx-
pensou-se em implantar um pequeno zooló-
til, mantém as atividades na região, em parte
gico, assim como propõe o Plano, abrigando
do patrimônio industrial localizado na área.
exposições, viveiros, aquário, serpentária,
Propõe-se manter esse uso somente nas área
borboletário, serviços de triagem e tratamento
industriais existente, sem expansão e até quan-
veterinário, áreas de apoio e administração,
do a indústria ainda produzir, ações também
afirmando a atração já consolidada no parque
propostas no plano de manejo.
atualmente, com as capivaras como principal
- APOIO: a nova proposta para o parque
atrativo, porém propõe-se ampliar e consolidar
necessita de diversas áreas de apoio, então foi
esse programa.
definido, resumidamente:
(não proposta pelo Plano), de maneira a dina-
- a antiga estrebaria como viveiro de
Outra atividade proposta é o arborismo
plantas, como o Plano propõe, como forma de
mizar a exploração da cobertura vegetal. Além
manter os jardins, podendo servir também para
disso, aponta-se a reimplantação do terceiro
pesquisas e atrações educativas;
lago, também sugerido no Plano de forma a
equilibrar o sistema de drenagem, diminuindo
- a antiga casa da ilha e o galpão de
21 Funcionários do Parque da Cidade de São José dos Campos flagam capivara e seus 4 filhotes (dezembro de 2011), enfatiza-se assim as condições adequadas de alimentação e reprodução de diversos animais no local.
teares como apoio do complexo do parque efe-
a área alagada que seria inútil para o programa
tivamente, com sanitários públicos, emergên-
do parque. Além de seu caráter de melhorar a
cia, serviços, manutenção, administração, etc.
drenagem, o abastecimento e irrigação e sua
Uso que atualmente encontra-se na residência
qualificação paisagística, acrescentam-se ativi-
22 Preparação de aeromodelo para festival de aeromodelismo em Fortaleza, Brasil. A proposta tem objetivo de promover o esporte e reunir os praticantes, além de curiosos e usuários do parque.
dades como pedalinhos, pequenos passeios de
Diretor como o Plano de Manejo e Ocupação
-se aproveitar suas qualidades paisagísticas,
barcos, remo, incentivando atividades aquáti-
configuram como área residencial, já que não
proporcionando percursos inusitados.
cas.
apresenta cobertura vegetal. Porém essa área
é importante na consolidação do complexo
ao campo de futebol pensou-se em refazer os
sante atividade, um aeroclube e o clube de voo
como uma unidade e do passeio na orla do rio.
equipamentos de apoio de forma de dialogar
a vela, área a Leste, onde antigamente encon-
mais com o complexo. Como uma medida
trava-se um hangar (projeto de Rino Levi, hoje
academia ao ar livre para terceira idade e um
geral, é importante ressaltar que todos os
demolido) e uma pista de pouso que compu-
playground para crianças, junto do antigo
novos usos e adaptações devem dialogar entre
nham o complexo da tecelagem. Acrescenta-se
galpão de teares manuais, propõe-se manter
si, conectar-se, de forma a criar um grande
que existe um projeto de um novo aeroporto
essa atividade naquele local. Essa iniciativa foi
complexo e eliminar as barreiras visuais, muros,
para São José dos Campos, desenvolvido por
implantada em várias áreas verdes e parques
cercas, portões, porém é necessário também
Ozílio Carlos da Silva (ex-presidente da Embraer
do Estado.
pensar no controle e na segurança dos espaços.
e atual diretor do DTAA - Desenvolvimento de
O Plano de 2009 propõe uma interes-
Recentemente, foi implantada uma
Finalmente, quanto às edificações junto
Quanto ás ruínas existentes propõe-
Tecnologia de Automação Aeronáutica), em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, prevê não somente a revitalização da antiga pista da Tecelagem Parahyba, mas a integração desta com o atual parque, resultando num excepcional complexo empresarial, cultural e de lazer (ver figura 23).
Aproveitando dessa estrutura e das
características do local, pensou em incorporar a ideia. Porém, no Plano a área de aeromodelismo se apresenta num “dente“ do limite do parque, isolado (área que foi proposta ser vendida). Então, propõe-se vender esse terreno e implantar esse programa onde, tanto o Plano
23 Projeto do Centro Aeronáutico de São José dos Campos. Não for encontrada a legenda, mas o número 1 corresponde ao parque atual e o número 5 a proposto de pista de pouso.
24 Academia ao ar livre e playground recentemente implantados no Parque da Cidade. Uma iniciativa do Governo do Estado de São Paulo. 33
3. RESIDÊNCIA OLIVO GOMES
3.1 HISTÓRICO a rotina fabril, providenciando um afastamento
preservação e da abertura do parque em 1996,
ser a própria residência Olivo Gomes. Iniciando
entre os setores, além de acessos independen-
a casa ficou sem uso. Em 1999, acrescentou-se
um apresentação do histórico da residência
tes.
na residência um programa para manutenção
assim como o partido e a representabilidade da
residência na obra de Rino Levi e na história da
rosa família, com os filhos Clemente e Severo.
serviços em sanitários públicos, vestiários para
arquitetura moderna brasileira.
Após a morte de Olivo a casa passa a ser usada
funcionários e administração.
A residência foi o primeiro projeto da
como casa de final de semana, férias e feriados.
equipe de Rino Levi concebido para a família
Anos antes da falência da tecelagem, até 1995,
da ao público, recebendo esporadicamente
Gomes, como já foi observado anteriormente,
a casa foi usada pela família do segundo casa-
eventos organizados pela Secretaria do Verde
que o arquiteto realizou diversos projetos para
mento de Clemente. Depois a residência ficou
e do Meio Ambiente da cidade, que também
a famílias alguns executados e outros não.
vazia durante o meio tempo da falência e do
é responsável pela manutenção do jardim.
decreto para a realização do parque.
Recentemente foi implantado o programa de
longa duração: “Leitura no Bosque“, onde o anti-
A partir de agora, o enfoque passa a
O projeto da residência inicia-se em
1949 e a finalização de sua execução ocorre em
Na casa viveu Olivo Gomes e sua nume-
A partir da delimitação da zona de
dos jardins, transformando a antiga área de
Atualmente a residência está fecha-
1951. A parceria com o paisagista Burle Marx foi realizada desde a idealização do projeto e do partido, porém o desenho do projeto paisagístico saiu somente em 1966. Além dessa parceria, tem-se a participação dos artistas Francisco Rebolo e de Elisabeth Nobeling. O primeiro realizou um trabalho sobre o cromatismo das paredes de forma a qualificar os espaços, destacando-se planos. Elisabeth desenhou os tapetes de maneira a diminuir a reverberação sonora dos amplos ambientes com forros de madeira, principalmente na sala de estar. 36
A implantação da casa devia considerar
a preservação das áreas domésticas em relação
25
Sala de Estar. Década de 50.
26 Antiga sala de jogos/festas. Hoje com o programa “Leitura no Bosque“. Observa-se o descaso e a mal organização do espaço que esconde o painel do Burle Marx, impossibilitando sua leitura.
go salão de jogos e festa da residência, no pa-
saltar que a grande diferença em se patrocinar
vimento inferior, abre aos domingos e feriado
projetos na área de patrimônio é a possibilida-
possibilitando o aluguel de livros.
de de enquadrá-los no chamado “Artigo 18” da
Lei Rouanet, o que significa 100% de renúncia
Em 2004, a residência é tombada pelo
município, pelo COMPHAC (Conselho Municipal
fiscal para a empresa patrocinadora, ou seja,
de Preservação do Patrimônio Histórico, Artísti-
não precisa entrar com nenhum aporte do
co e Cultural). Os processos do CONDEPHAAT e
próprio bolso. Basta optar pela destinação de
do IPHAN ainda estão em andamento.
até 4% do imposto de renda devido – conforme
prevê a lei – para aplicação no projeto.
A residência foi escolhida pela Seleção
Pública 2005/2006 do Programa Petrobrás
Por tratar-se de um grande restauro, portanto
Cultural na área “Apoio à Elaboração de Pre-
com um valor alto, o projeto pode contar com
servação de Bens Culturais”. Assim, o escritório
mais de um patrocinador, mas todos receberão
Companhia do Restauro realizou um projeto
100% de dedução.
executivo de restauro financiado pela Petrobrás
em 2007, com o uso de centro cultural, aberto
Cassiano Ricardo não conseguiu captar re-
para palestras, exposições e apresentações de
cursos financeiros junto da iniciativa privada
música e teatro, entre outras atividades artísti-
dentro do prazo de 24 meses concedido pelo
cas.
Ministério da Cultura. Ficando assim, a expecta-
Em 2009, a Fundação Cultural Cassiano
Ricardo obteve aval do Ministério da Cultura
Apesar de tudo, em 2011, a Fundação
tiva da abertura de um novo processo de captação junto ao Ministério.
para captar recursos para o restauro do imóvel por meio da Lei Rouanet (Lei Federal de Incentivo à Cultura - Lei nº 8.313 de 23 de dezembro de 1991). Desde essa aprovação, a instituição buscou apoio junto à iniciativa privada para as obras de restauro, estimadas em R$ 1,5 milhão, mas ainda não obteve sucesso. Importante res-
37
3.2 RINO LEVI
38
Apresenta-se então um análise sobre o
assuntos científicos, técnicos e artísticos.
trabalho do arquiteto Rino Levi e a sua contri-
buição para a arquitetura brasileira, de forma
de sua presença pública com a participação
a inserir o projeto da residência dentro de um
na criação do Museu de Arte Moderna de São
contexto, a produção do arquiteto, e assim,
Paulo, onde em 1949 assumiu a diretoria.
melhor entender sua importância.
tetos do Brasil - se deu a partir das dificuldades
A obra do arquiteto Rino Levi foi exten-
Além disso, em 1948, marca o início
A atuação no IAB - Instituto de Arqui-
sa e de grande contribuição para os ambientes
do exercício profissional no início da carreira
cultural e tecnológico brasileiro. Trabalhou na
decorrentes do estatuto atribuído à arquitetura
consolidação da arquitetura moderna brasilei-
pela sociedade brasileira. Assim, Rino Levi pro-
ra, juntamente com a construção de um novo
curou ultrapassar os limites da ação individual,
estatuto para a profissão de arquiteto.
de forma a discutir na impressa assuntos de
interesse público relacionados a arquitetura e
Rino Levi nasceu em São Paulo em
1901 de pais italianos e teve sua formação
ao urbanismo, sempre pautado na necessidade
acadêmica em Milão (1921-1923) e em Roma
de reflexão sobre a função social do arquiteto.
(1924), na Ìtália.
Os primeiros anos de atuação profissio-
atuação no mercado imobiliário, não se tornou
nal no Brasil foram tímidos projetos de residên-
alheio às responsabilidades frente à sociedade.
cias, com poucos ornamentos, sem uma lingua-
Seu maior destaque está na defesa de políticas
gem de arquitetura moderna. Sua afirmação
de saúde pública, através de conhecimentos
profissional vem com o tempo, ampliando sua
adquiridos no desenvolvimento de projetos
atividade com uma série de projetos de edifí-
hospitalares, introduzindo e propondo inova-
cios de apartamentos. Em 1936, fez seu primei-
ções e garantindo reconhecimento público.
ro projeto de cinema, o cine Ufa-Palácio, que o
introduz ao crescente prestígio na área de acús-
sobre a atividade e atuação do arquiteto Rino
tica. Logo seu escritório ganha estabilidade e
Levi, passa-se a aprofundar em questôes de
associa-se com outros profissionais ligados a
projeto, da composição arquitetônica da obra
27 Edifício Columbus - 1930/34 - Demolido. Primeira grande obra construída por Rino Levi. Os ambiente internos se organizam junto ao conjunto sala de estar/balcão, de forma a proporciar uma vista ininterrupta da paisagem urbana.
Apesar de Rino Levi ter tido uma forte
Realizado este primeiro panorama 28 Cine Ufa-Palácio - 1936. Primeiro da série de cinemas. Sua forma é resultante da aplicação de modernos cálculos de acústica. Além disso, as linhas de iluminação indireta encaminham o olhar para a tela.
do arquiteto, de como ele respondia, represen-
MEDITERRANEIDADE NOS TRÓPICOS
(1953) e Castor Delgado Perez (1958). Essas
tava sua intenções de projeto. Seguiu-se então
casas se caracterizam por serem planas e sem
a linha de pensamento e a organização do livro
ção de pátios internos descobertos em projetos
panorama. Introduz-se então, a natureza no
“Rino Levi - Arquitetura e Cidade“, de Anelli.
do Rino Levi, relacionando-os com os tradicio-
dia-a-dia através de jardins internos e introver-
nais pátios mediterrâneos. Rino Levi transfor-
tidos. Opondo a esse conceito, a casa Gomes
ARQUITETURA DA CIDADE VERTICALIZADA
mou-os em jardins tropicais, amadurecendo
em Ubatuba abre-se para a paisagem, assim
a arquitetura moderna no Brasil, de forma a
como a própria residência Olivo Gomes, que
de São Paulo sempre estiveram ligado a neces-
interpretar a composição clássica e aplicá-la,
aproveitam da declividade do terreno e maxi-
sidade de planejamento urbano para Rino Levi.
contextualizando-a.
mizam as visuais.
Contribuindo assim, com sua atuação no IAB e
definindo projetos em função do papel que vi-
tema das casas urbanas introvertivas, exem-
escola e igreja da Tecelagem Parahyba em São
riam a desempenhar na construção do espaço
plos como a sua própria residência (1944) e os
José dos Campos, infelizmente, não construí-
urbano.
projetos para Milton Guper (1951), Paulo Hess
do, desenvolve as características espaciais das
29
30 Residência Castor Delgado Perez - 1958/59. Projeto da série de casas introspectivas. O espaço único central, coberto, onde estão as salas de estar e jantar, prolonga-se através de dois espaços laterais abertos, ajardinados e pergolados.
O crescimento e a construção da cidade
Neste capítulo o autor destaca a utiliza-
Nesse sentido, pode-se levantar o
O projeto para um conjunto residencial,
Os edifícios de apartamentos e escritó-
rios realizados por Rino Levi não podem ser entendidos de forma isolada, pois eles constroem uma nova volumetria urbana, aproximando-se de edifícios vizinhos ou isolando-se; e edifícios laminares mais voltados a preceitos modernos. Eles não se configuram como um objeto maciço na paisagem, a serem vistos à distância, mas foram projetados de forma a explorar os espaços internos conferindo uma observação privilegiada da cidade. Assim, tanto a organização da estrutura interna, como o aumento progressivo de transparência das fachadas, obedeceram a essa intenção de projeto.
Instituto Sedes Sapientiae - 1940/1942. Atual PUC-SP. Estruturação dos volumes a partir de um espaço aberto, ladeado por marquises de circulação e associação dos edifícios, um releitura dos tradicionais pátios italianos.
39
casas intimistas, acentuadas a relação exterior
e interior, evocando assim, uma cidade des-
é concebida como uma obra de arte plástica
contínua e contrariando o ideário moderno de
que cumpre uma função arquitetônica, como
cidade transparente e contínua.
por exemplo o jardim no teto do volume infe-
A obra de Roberto Burle Marx também
rior do Ministério de Educação e Saúde, no Rio SÍNTESE DAS ARTES
de Janeiro, onde explora-se a “quinta fachada“
corbusiana. Logo, Rino Levi e Burle Marx se
Nesse capítulo Anelli aborda o fato de
Rino Levi considerar arquitetura uma síntese
associam para a realização de diversos projetos.
das artes, sendo a arquitetura a “arte-mãe“ que
articula diferentes manifestações artísticas.
teve grande ressonância internacional em 1952,
Observa-se uma evolução no posicionamento
quando algumas teses de Lúcio Costa foram
de Rino Levi frente a esse conceito. Inicialmente, pode-se identificar em seus projetos elementos decorativos articulando o espaço
acolhidas pelo manifesto Canteiro de Síntese das Artes Maiores assinado por Le Corbusier e vários outros participantes da Conferência Internacio-
interno através de diversas peças de mobiliário,
nal dos Artistas. Lúcio Costa insistia que “não
obras de arte, baixos-relevos, esculturas e tape-
se trata de estabelecer contatos utilitários entra
tes. Num segundo momento, a partir dos anos
vários pintores e vários arquitetos“, defende uma
40, observa-se a incorporação de painéis que
colaboração que possa “fazer surgir de uma obra
desempenhavam um papel orgânico na obra
construída ‘presenças’ provocadoras de emoção,
arquitetônica.
fatores essenciais do fenômeno poético” e finaliza
dizendo que aquilo é que deverá “sobreviver no
O painel como síntese das artes na
arquitetura tem um resultado primoroso, já que
tempo, quando funcionalmente já não for mais
cumpre uma função arquitetônica, no sentido
útil“ (Santos, 1987).
da construção da forma e também, atualiza
O Canteiro de Síntese das Artes propõe
uma técnica tradicional local, conferindo uma especificidade brasileira a arquitetura interna40
31 Conjunto Residencial Tecelagem Parahyba - 1953. Não construído. Segundo Anelli, esse projeto foi a principal tentativa de generalização urbanística da experiência das residências introspectivas.
Nesse sentido, a experiência brasileira
cional.
32
Teatro Cultura Artística - 1942/43. As paredes, pisos e tetos em curvatura parabolóide visam a melhor difusão do som. A parede dos fundos recebe um painel de Di Cavalcante, levando para a paisagem urbana o tema das musas da arte.
uma colaboração entre artistas e arquitetos dentro das condições arquitetônicas. Contrariamente a esta afirmação, Walter Gropius
defende a necessidade de um trabalho simul-
tâneo entre os dois profissionais, combatendo
Gomes, objeto de enfoque desse trabalho, é o
eixos de simetria. Rompendo assim, com o his-
a incorporação a posteriori da obra de arte
melhor exemplo de síntese das artes. Concede-
toricismo e desenvolvendo um novo conjunto
no projeto e a subordinação dos artistas aos
-se então, nesse trabalho, um capítulo inteiro
de procedimentos.
arquitetos. Rino Levi tenta combinar os dois
para estudo e análise da residência, dado que
posicionamentos e revê a utilização do termo
já foi introduzido toda uma análise em cima da
no volume funcional dos cinemas a partir de
“arte-mãe“. No texto Síntese das Artes, Rino Levi
obra de Rino Levi.
sofisticados cálculos de acústica e nos comple-
defende que a pintura e a escultura perdem
xos projetos hospitalares. Duas áreas em que
sua “vida independente” e transformam-se em
COMPOSIÇÃO ACADÊMICA E FUNCIONALISMO
Rino Levi teve grande reconhecimento por suas
“matéria arquitetônica“ ao tranformar-se em
primorosas inovações.
afresco ou baixo-relevo. Cabe então ao arqui-
Levi incorpora conhecimentos científicos no
teto, garantir harmonia entre “função, técnica e
projeto de elementos e volumes, afastando sua
A CIDADE MODERNA
plástica”.
forma de determinação dos estilos históricos e
Segundo Anelli, a residência Olivo
Neste capítulo, Anelli aponta que Rino
sua disposição foge das regras acadêmicas dos
Destaca-se a aplicação desse conceito
Esse capítulo enfatiza na atuação de
Rino Lino no campo urbano, destacando os projetos para Brasília (1950), para a Cidade Universítária da Universidade de São Paulo (1953-1962) e também o Centro Cívico de Santo André (1965).
Rino Levi sempre esteve envolvidos no
debate de temas urbanísticos, escreveu alguns textos entre as décadas de 30 e 50, demostrando a transição paulatina de um início propositivo para a perplexidade frente a tal desejada metropolização de São Paulo, afirmando que os 33
Proposta para Brasília - 1950. Projeto ousado com gigantescas lâminas quase transparentes, contrapondo verticalidade com a horizontalidade do cerrado, um espetáculo poético para seus habitantes, seu maior espectador, segundo Anelli.
34 Centro Cívico de Santo André - 1965/1968. Último projeto
problemas estão inter-relacionados.
realizado por Rino Levi. Previa a construção do Paço e da Câmara Municipal e um Centro Cultural. O declive do terreno foi trabalhado de forma a constituir 3 praças inter-ligadas.
41
3.3 ROBERTO BURLE MARX
manha. De volta para o Brasil, em 1929, Burle
projeto da residência Olivo Gomes, o paisagista
Marx surge com novos propósitos para realçar
e artista Roberto Burle Marx terá sua obra e
as plantas locais, no projeto de Alfred Agache
produção analisada neste trabalho, de maneira
para a praça Paris. Época em que muitos proje-
a inserir no contexto da arquitetura e paisagis-
tos de arborização na América seguiam o pa-
mo modernos.
drão europeu, com árvores européias.
42
Também com grande importância no
O livro de Flávio Motta, Roberto Burle
Em 1943, colaborou com o botânico
Marx e a nova visão de paisagem, mostra o
Henrique Laymeyer de Mello Barreto, no exten-
importante trabalho de Burle Marx na Arte
so Parque Araxá, onde observou e estudou, in
Moderna, como um trabalho de humanização.
loco, o comportamento das espécies. Porém o
Aponta a sua obra como uma emancipação,
projeto sofreu dificuldades para o término da
pois desde os primórdios, de sua Colonização,
obra por parte do governo estadual, situação
o Brasil esteve alheio a sua paisagem e condi-
que Burle Marx defrontará diversas vezes em
ções ecológicas, sendo o território brutalmente
sua carreira, tanto para os poderes públicos
devastado e urbanizado. Baseado numa fertili-
como para os privados.
dade de “incultura“, como o próprio Burle Marx
afirma, no sentido de ignorar o local e de possi-
de vida de Burle Marx começam a se delinear
bilitar o aniquilamento de espécies.
a partir do projeto para a Praça Santa Rosa
(Pampulha, Minas Gerais) pois, segundo Motta,
Burle Marx faz uma grande contribui-
Porém o objetivo ecológico e o projeto
ção científica para a botânica no Brasil, pes-
o projeto tem uma inteligência frente a História
quisando vegetais raros e conduzindo para o
brasileira e aos resíduos coloniais, dependên-
popular, oral e cotidiano. Cuidava de um gran-
cias que bloqueavam artistas e cientistas. Cons-
de viveiro em sua casa na Bica, onde mantinha
titui-se como uma lição sobre as relações entre
exemplares de várias espécies.
a experiência científica e as aspirações artísticas
e além do sentido plástico, da organização do
Ainda quando moço, Burle Marx
35 Desenho do projeto para o Banco Safra.
surpreende-se com a coleção de plantas bra-
espaço, da composição, o jardim foi pensado
sileiras no jardim botânico de Dahlem, na Ale-
em sua função educativa, demonstrando as
36 Calçadão de Copacabana, Rio de Janeiro. Burle Marx
desenvolve na paisagem seu repertório gráfico e artístico.
influências físicas e químicas sobre os vegetais.
marco para a arquitetura moderna brasileira,
de cidade, onde a arte amplia a participação
e a participação de Burle Marx também. O jar-
social. Enfatiza-se, então, o fato de Burle Marx
preservar os valores locais, empenhando-se
dim, as esculturas e pinturas evidenciam-se não
desenvolver à paisagem a experiência de pin-
também ao artístico, estudando arranjos flo-
como elementos decorativos, mas com valores
tor. O artista publicou diversos desenhos, que
rais como um artista, observando as nuances
artísticos autônomos, uma composição que
enriqueciam seu repertório gráfico, sendo o
de cor solar sobre o colorido da vegetação, no
trabalha em conjunto com a arquitetura.
núcleo, o tema, a pesquisa dos desenhos, a
plano das folhas, nas transparências das flores,
vegetação, a indagação perante as formas da
nos volumes dos frutos, das massas florais e das
Centro Cívico de Santo André, em colaboração
vegetação, com um outro pressuposto: definir
montanhas. E viver no Rio de Janeiro foi funda-
com o arquiteto Rino Levi, também mostra a
os procedimentos construtivos correlatos ao
mental para Burle Marx, pois trabalha-se com
presença e autonomia da obra de arte no con-
ambiente urbano e à flora tropical (MOTTA,
a relação cidade-paisagem. A cidade com suas
junto da obra moderna.
1983).
praças, praias, baías, montanhas, e até mesmo
as favelas mostram sua robustez e sensualida-
bana trabalha como um acréscimo na noção
vente, inesperado, misterioso e intimidador,
37 Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro. Paisagismo com
38 Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Projeto ar-
Burle Marx em seus jardins procura
Nesse mesmo sentido, o paisagismo no
O desenho para a calçada de Copaca-
O paisagismo de Burle Marx é envol-
de, onde tudo se interpenetra.
No Aterro do Flamengo, Burle Marx
retomou as ondulações da própria geografia, em marrotes e nos caminhos, canteiros, praças e massas florais. Um projeto para a população e não isolacionista como a especulação imobiliária. Destaca-se o jardim para o Museu de Arte Moderna que colaborou com Affonso Reidy, evidenciando o projeto modernista, como que sublinhando a paisagem e o edifício, projeto germe do rigor geométrico, usando retângulos, círculos, quadrados.
Como já foi dito, o edifício para o Mi-
nistério da Educação e Saúde foi um grande
formas geométricas e de maior apelo social.
quitetônico de Affonso Reidy e paisagismo de Burle Marx que destaca, sublinha a obra moderna.
43
relacionando-se com os jardins inglês, romântico (século XVIII) e chinês (século XVII) e contrariando totalmente os jardins retilíneo e renascentista. Porém o que jardim de Burle Marx tem de inesperado, não está relacionado ao acaso, mas às situações propícias a percepção sucessiva e simultânea, da flor, do detalhes, do mosaico, da quebra, da monotonia do plano, das grandes massas, valorizando o todo e reavivando a individualidade.
Com o tempo e experiência, Burle Marx
adentra uma crescente síntese de uma dinâmica ilimitada. Em seus últimos trabalhos, em 1970, Burle Marx destaca os males da devastação como um atentado à sociedade. Apóia uma política de preservação, onde o trabalho, o fazer humano, a arte e a ciência atuam juntos para a realização de uma paisagem com função social quanto a compreensão dos valores da natureza.
44
39 Ministério da Educação e Saúde, Rio de Janeiro. Paisa-
gismo de Burle Marx na cobertura explora o conceito da quinta fachada corbuseana, além de colocar o paisagismo como um valor artístico autônomo na obra.
40 Centro Cívico de Santo André
3.4 PARTIDO acústico, ergonomia e praticidade de manuten-
ro de pássaros (ver figura 45).
Levi e Burle Marx, pode-se analisar a residência
ção.
como uma manifestação de identidade cultu-
ral, arquitetônica e artística em contraposição
uma pequena elevação que apontava para uma
privilegiadas, mediante emprego profuso e
aos valores internacionais, um desdobramento
imensa planura, descortina um excepcional
estratégico de grandes aberturas e transparên-
do movimento moderno no Brasil, através da
panorama. A casa foi concebida como posto
cias, que segundo Dourado, não apenas aban-
busca da coesão projetual para a integração
de observação da paisagem, ficando como que
donam o conceito de janela tradicional como
paisagística-arquitetônica com o objetivo de
“debruçada” no desnível, lançada em direção
proporcionam a cisão entre interior e exterior
atingir a arte global. Enfatiza-se a ideia das
ao horizonte, conceito ponto de partida para o
na definição de ambientes residenciais, evo-
artes incorporarem a arquitetura, trabalharem
desenvolvimento das soluções arquitetônica e
cando o estar fora, a vivência exterior e contra-
juntas, arquitetura, pintura, escultura, paisa-
paisagística. Reforçando essa proposta foram
riando o habitar recluso e intimista. Observa-se
gismo, estrutura e etc. Como se pode ver em
projetados limites laterais, com fortes linhas de
que essa composição diverge totalmente das
diversos trabalhos, no Ministério de Educação
força: muros de arrimo, espelho d’água e vivei-
casas urbanas introspectivas com seus jardins
41 Festa na residência. Década de 80. Observa-se o painel de Burle Marx ao fundo.
42 Escada do terraço de forma helicoidal e degraus atirantados. Apresentação não como um elemento surpérfluo, mas de igual importância que a viga, o pilar na consolidação arquitetônica.
A partir da análise da produção de Rino
O local da implantação da residência,
Grande parte dos espaços sociais e ínti-
mos orientam-se para Norte, que oferece vistas
e Saúde, no Centro Cívico de Santo André, Museu de Arte Moderna no Rio de Janeiro e vários outros.
Segundo Anelli, esse projeto representa
o melhor exemplo do conceito de síntese das artes, de maneira de que nada é supérfluo, desde o paisagismo, os painéis de azulejo e mosaico, até o cromatismo das paredes, o mobiliário e a iluminação. Onde todos esses elementos se articulam e desempenham uma função para a consolidação do partido do projeto, formando uma harmonia entre função, técnica e plástica. A residência foi pensada com grande rigor técnico, consolidando ideais de conforto térmico,
45
internos, como foi analisado posteriormente no
outra família, enfim, os quartos eram módulos
capítulo sobre a obra e produção de Rino Levi.
para as famílias...” (Editorial. Valeparaibano. São
Sendo assim, uma obra diferencial na trajetó-
José dos Campos, 13 de Março de 1976).
ria projetual do arquiteto, pois a casa isolada
no campo não sofria as limitações de obras
nada melhor do que os próprios desenhos de
urbanas. Nesse aspecto, Bruand diz que Rino
Rino Levi. Assim, a seguir serão apresentados:
Levi existe uma profunda unidade na obra do
arquiteto, não diferenciando arquitetura para
ção do partido da residência;
prédios e fábricas de residências particulares.
diversos elementos da residência;
Uma abordagem interessante, apre-
Para melhor explicar o partido da casa,
- desenhos de Rino Levi de apresenta- desenhos de Rino Levi de detalhes de
sentada pelo Departamento de Patrimônio
Completa-se a apresentação da resi-
Histórico da cidade de São José dos Campos,
dência com as plantas e cortes realizados a par-
quando apresentou o Projeto de Recuperação
tir dos levantamentos métricos para o projeto
da Residência Olivo Gomes em 2000, foi o fato
de restauro de 2004; levantamento fotográfico;
da residência ter sido concebida para receber
alterações; patologias.
43
Sala de estar. Década de 50.
44
Dormitório. Década de 50.
festas para familiares e funcionários também, a fim de fortalecer a relação empresa-empregado. A família tinha características acolhedoras e festivas, realizavam festas o ano inteiro, reveillon, natal, carnaval, festas juninas, etc. Nesse sentido, a concepção espacial da residência separada a área social da área privada, onde um grande corredor liga a área social, a sala de estar com os nichos de quartos que abrigavam diversos parentescos da família Gomes. “Então tinha o quarto da minha avó, das 46
minhas tias, depois a outra tia com as filhas, a
46 Sala de estar. Observa-se a abertura da sala para o panorama, além da parede preta ao lado enfatizar e valorizar a vista.
45 Desenhos partido da residência. Rino Levi .1950. Observa-se o desenho dos muros de arrimo, do viveiro (7), do espelho d’água (6) de forma delimitar, fortalecer o panorama, os limites. Além disso, analisa-se uma setorização interna da residência, separando os dormitórios (5), da área social (4), de serviços (5) e dos funcionários (1). Vê-se que não havia sido projetado a parte superior do paisagismo, onde localiza-se o anfiteatro e a piscina infantil.
47 Vista do dormitório. O complexo sistema da caixilharia proporciona o enquadramento da paisagem e a consolidação do partido de valorizar o panorama e inter-relacionar interior e exterior. 47
49 Detalhe do telhado com telha de fibrocimento e a criação de uma camada de ar que possibilita a movimentação do ar e o aumento do conforto térmico interno, propocionado também pela forma borboleta do telhado.
48 Desenhos de detalhes para a residência. Rino Levi. 1950. (1) Detalhe da pia da cozinha com 2 bloco de vidros na altura da pia de forma a iluminar o plano de trabalho, armários e aberturas basculantes. (2) Detalhe da calha central do telhado-borboleta. (3) Detalhe do forro de madeira. (4) Detalhe do sistema de contra-pesos da caixilharia dos dormitórios, neste detalhe também pode-se observar as camadas do tellhado: telhas de fibrocimento, caibros e ripas de madeira, circulação de ar e laje de bloco ocos de concreto e o grande beiral. 48
50 Detalhe complexo sistema de contra-pesos da caixilharia dos dormitórios, todo projetado pela equipe de Rino Levi. Possibilitando a variação de 2 painéis de vidro e 2 painéis do conjunto veneziana-tela para mosquitos.
corte aa
corte bb 0
2
5
RESIDÊNCIA OLIVO GOMES | atual | cortes
B A
A
563,00 1 3
2
RESIDÊNCIA OLIVO GOMES | atual | pav. inferior
B
1 | salão festas/jogos 2 | bar 3 | depósito
B
estar | 1 terraço | 2 jantar | 3 hall de entrada | 4 escritório | 5 dormitório | 6 cozinha | 7 almoço funcionários | 8 área de serviço | 9 garagem | 10 fraldário | 11 vestiário | 12
2
6
6
6
6
6
6
6
6
5
566,50 1
A
A
4 564,75 3
5 5
7 8
9
5
11
10 12
B
0
2
5
RESIDÊNCIA OLIVO GOMES | atual | pav. superior
3.5 PAISAGISMO Dentre as parcerias de Burle Marx o
um parque privativo, com piscina infantil e um
projeto da residência Olivo Gomes foi uma
anfiteatro. Nessa fase especificaram-se 69 tipos
oportunidade excepcional. Burle Marx pode
de plantas, dentre elas prevalecem espécies
criar intensamente com Rino Levi e Roberto
arbóreas.
Cerqueira César, que raramente ocorria, no sen-
tido de oferecer entornos altamente qualificados
dais revestido de grama que contrastam com
para a arquitetura, numa perspectiva bem distin-
a planura da região. Os lagos e os espelhos
ta da jardinagem como acessório ou do anódino
d’água trazem um pouco do céu para dentro
embelezamento (Dourado, 2009).
do arvoredo. Os bambuzais entre as árvores de
grande porte trazem luminosidades variadas
momentos. O primeiro foi juntamente com a
e acolhedoras. Assim, segundo Motta, essa luz
elaboração do projeto da casa, no início da dé-
traz mistério a paisagem, abrangendo formas
cada de 50. Esse primeiro desenho dialoga com
sutis de percepção, imprecisões e expectati-
o partido da residência, no sentido de estar
vas. Foi proposta também a implantação de
“debruçado“ no relevo valorizando a paisagem
guapuruvus no área de frente à fachada prin-
e vistas, potencializado por linhas de forças,
cipal da residência que, segundo o pessoal do
os muros de arrumo, o viveiro e o formato do
Departamento de Patrimônio Histórico de São
espelho d’água. Burle Marx utilizou 51 espécies
José dos Campos, contrapõe a horizontalidade
vegetais, com o predomínio de herbácias e
da residência e sua copa alta não interfere no
arbustivas. Projetou também três painéis cerâ-
panorama e produz um certo assombramento
micos.
na residência.
52
O paisagismo da residência teve dois
Foram projetados marrotes pirâmi-
Posteriormente, em 1965, foi realizado
51
Detalhe do espelho d’água.
52
Detalhe do guapuruvus na fachada Norte da residência.
Anos depois, Burle Marx explica o su-
um segundo projeto de paisagismo, também
cesso da parceria com Rino Levi, reconhecendo
por Burle Marx, que antecipa algumas pro-
que Rino atribuía à vegetação uma papel proe-
postas adequadas às grandes praças de uso
minente na maioria das residências que plane-
público. Amplia-se e complementa-se o pri-
java,
meiro projeto com a elaboração de bosques e
‘‘[...] resultando daí a criação de espaços
que pudessem abrigar este mundo vegetal que
próprio escritório, entrando também o projeto
tanto amava. Procurava assim, recuperar uma
de paisagismo da residência de Olivo Gomes.
forma de vida mais humana que as moradias
vinham paulatinamente perdendo.
entorno da residência vem sofrendo diversos
tipos de alterações, interferências, como a im-
Nos trabalhos em que contribuí para a
Importante ressaltar que atualmente o
solução de problemas de integração entre ar-
plantação de cercados, lixeiras, canteiros, vasos,
quitetura e paisagismo, predominou o desejo de
sem nenhuma atenção mais profunda. Existe
encontrar um resultado que não servisse apenas
também a problemática do paisagismo ser um
para valorizar uma parte, mas si a unidade do
patrimônio vivo, sendo assim necessária uma
todo. Lembro-me do problema surgido com o
manutenção e reposição adequada.
painel de azulejos para a residência da família Gomes em São José dos Campos. Tinha papel importante na arquitetura e Rino Levi alertou-me para o fato de que a cor dos azulejos forçosamente ligava-se à cor das folhas e das plantas escolhidas. A dominante azul do painel unia-se aos ocres da arquitetura. Foram então utilizadas plantas com folhas de cor violeta e flores amarelas e vermelhas.” (Roberto Burle Marx, “Depoimento sobre Rino Levi”, emb Rino Levi. (Milão: Edizione di Comunità, 1972), p. 10.)
Haruyoshi Ono, discípulo e companhei-
ro e também sócio de Burle Marx, passou a ser titular do escritório após a morte do paisagista, em 1994. Assim, Ono deu continuidade aos projetos do escritório, principalmente projetos de recuperação e restauração de projetos do
53 Foto da segunda parte do projeto de paisagismo, realizado posteriormente, em 1966. Observam-se os marrotes, bambuzal e interferências contemporâneas.
54
Foto geral do primeiro projeto de paisagismo.
53
LEVANTAMENTO FOTOGRÁFICO: AMBIENTES
54
54 Corredor de acesso aos nichos de dormitórios à direita e rampa de acesso a sala de jogos/festas à esquerda. Observa-se a largura extensa do corredor e a preocupação com a acessibilidade através da rampa.
56 Cozinha. Destaque para o revestimento de azulejo no teto, o fechamento de blocos de vidros na altura da mesa de trabalho e da pia para iluminação natural e basculantes superiores, outro componente que ajuda no efeito chaminé.
58
55 Sanitários dos dormitórios. Presença de pastilhas, forro rebaixado com iluminação zenital por meio de blocos de vidro, ventilação através de pequenos basculantes.
57
59 Setor de serviços. Pequeno escritório de administração do parque e da manutenção.
Terraço com piso cerâmico e pequenos jardins incorporados.
Setor de serviços. Entrada para sanitários públicos.
3.4.2 LEVANTAMENTO FOTOGRÁFICO: PAINÉIS
PAINEL MOSAICO VERMELHO
PAINEL MOSAICO AZUL
PAINEL AZULEJO AZUL
O conjunto de painéis de mosaico situ-
O painel interno solto entre planos
Seguindo um papel hierarquicamente
ados nas duas faces da parede da sala de jogos/
de vidros e os vazios dos pilares, transforma
menor, este painel, localizado na parede parale-
festas no pavimento inferior, configuram-se
esse plano pictórico em imaterialidade. O azul
la ao eixo do corredor dos dormitórios, mostra-
como centro irradiador das linhas dominantes
dominante sugere uma sutil transparência com
se logo na entrada dos hóspedes da família, já
do jardim que saem da residência em direção
a paisagem externa. Assim, diferentemente do
que desenha-se ao lado do hall de entrada. Ele
a paisagem, como os muros de arrimo, a dese-
painel vermelho, esse interioriza, formando
traz aspectos de privacidade, tranquilidade,
nho do espelho d’água e do viveiro de pássa-
uma tensão instável do plano entre expansão e
transperência, através das várias tonalidades
ros, delineando-se como um ponto fundamen-
interiorização. Nesse sentido, esses painéis não
de azul que conversa com o roxo da folhagem,
tal para o projeto.
se caracterizam como matéria arquitetônica,
justamente por fazer parte do setor íntimo da
mas condensa o significado da resindência.
residência.
O painel externo com suas tonalidades
vermelhas, vibra e destaca-se da casa, expandindo o painel para além dela. 55
3.4.3 LEVANTAMENTO FOTOGRÁFICO: ANEXOS
VIVEIRO DE PÁSSAROS
ANFITEATRO
PISCINA INFANTIL
Importante elemento na configuração
Desenhado e executado posteriormen-
dos limites do panorama, atualmente encontra-
te à residência, o anfiteatro tinha o objetivo de
posteriormente a residência como pode-se
-se desativado e com vegetação de crescimen-
apoiar as festas e eventos realizados pela famí-
observar posteriormente neste trabalho, a pis-
to desordenado.
lia. Hoje, recebe eventalmente eventos, saraus
cina infantil servia as crianças da família. Hoje
e peças teatrais da Fundação Cultural Cassiano
encontra-se desativada.
Ricardo.
56
Também desenhado e executado
3.6 PATOLOGIAS
A residência encontra-se em bom esta-
do de conservação, porém sua falta de manutenção só aumenta a dificuldades de uma posterior restauração e reabilitação da residência.
Dentre as principais patologias estão:
Paredes: - sujidade generalizada; - pichações; - manchas de umidade; - partes faltantes (rev. em argamassa); - desprendimento da camada pictórica. Caixilho: - sujidade generalizada; - oxidações; - manchas no acabamento; - peças quebradas. Piso: - sujidade generalizada; - trincas e fissuras; - manchas; - desprendimento de peças; - peças faltantes; - perda de rejunte. Forro / telhado: - sujidade generalizada; - ressacamento da madeira; - telhas com trincas e fissuras. Mobiliário: - sujidade generalizada; - partes faltantes; - ausência de arandelas / luminárias; - manchas de parafina e tintas.
60
Pichações nos dormitórios.
62
Vazamento de água.
61
Vazamento de água do banheiros.
63
Acabamento pictórico desprendendo.
57
3.7 ALTERAÇÕES
A residência em si não foi descaracteri-
zada, não houve grandes mudanças ou alterações.
No entanto é importante mostrar as
alterações realizadas no eixo da área de serviços, originalmente com quartos para funcionários, sendo que na década de 60, esses quartos
DÉCADA DE 50 ÁREA DE SERVIÇO DO PROJETO ORIGINAL DE RINO LEVI
década de 50 - área de serviço - projeto original
foram ampliados e finalmente, na década de 90 esse uso foi totalmente transformado, constituindo-se num apoio ao novo parque, com sanitários públicos, fraldário, vestiário para
DÉCADA DE 50 ÁREA DE SERVIÇO DO PROJETO ORIGINAL DE RINO LEVI
funcionários, administração e manutenção do parque.
Os desenhos ao lado ilustram as modi-
ficações realizadas. década de 60 - ampliação área de serviço
DÉCADA DE 60 AMPLIAÇÃO DA ÁREA DE SERVIÇO
DÉCADA DE 60 AMPLIAÇÃO DA ÁREA DE SERVIÇO
58
década de 90 - adaptação dos banheiros
3.8 PROJETO PETROBRÁS
Com o patrocínio da Petrobrás, em
2007, foi finalizado um projeto executivo de restauro da residência Olivo Gomes (escritório:
7 9
8
6 5
Cia do Restauro), com o programa de Centro de Representação, Recepção e Eventos, onde
1
basicamente receberia eventos culturais e seria a área de recepção da cidade, seu salão nobre.
1
As atividades seriam múltiplas: exposições,
2
atividades de educação patrimonial, consertos
3
3
4
4
4
musicais, local para a realização de encontros literários e artísticos sob a forma de simpósios Pavimento superior
e seminários e atividades museológicas, além de atividades como locação para particulares e visitas guiadas como fonte de renda.
Analisa-se esse programa de forma
a orientar a nova escolha, dado que nada foi executado por motivos de verba segundo a
10
prefeitura, conclui-se que é um proposta fraca e dependente. Além de estar totalmente isolado frente a todos os usos e edificações do parque, sendo que no próprio complexo do parque já existem um centro cultural e um a construção de um grande teatro (onde a prefeitura deve estar investindo muito).
Enfim, a problemática política e econo-
mica é de essencial relevância no contexto de uma intervenção na residência.
Pavimento inferior
64 Projeto de restauro para a residência Olivo Gomes realizado em 2007. (1) Exposição e recepção - 85 lugares. (2) Biblioteca virtual. (3) Salas de múltiplo uso - 49 lugares. (4) Exposição permanente. (5) Administração. (6) Depósito. (7) Copa. (8) Sala de equipamentos eletrônicos. (9) Reserva técnica. (10) Exposição temporária. A principal crítica que pode-se fazer nesse projeto é a abertura das salas de múltiplo uso através da remoção do armário, pois elimina-se assim, a ideia de panorama e enquadramento da paisagem formada pelas esquadrias (ver fotos 44 e 47). 59
4. PROJETO DE INTERVENÇÃO
4.1 ESTUDOS ICOMOS (Internacional Council on Monuments
ro da arquitetura moderna pode ser enfrentado
tamentos, o foco agora é uma nova proposta
and Sites) e o DOCOMOMO (Documentation
com instrumentos oferecidos pelo campo
para a residência, um novo programa que
and Conservation of Buildings, Neighbourhood
disciplinar da restauração, através de um rigor
valorize-a e preserve-a. Então, foi realizado uma
and Sites of the Modern Movement) - conver-
teórico, metodológico e científico.
análise criteriosa sobre o complexo tema do
gem suas intenções para a afirmação de posi-
restauro e da intervenção na arquitetura mo-
ções retrospectivas e repristinatórias, firmando
dos perfis de alumínio anodizado e o revesti-
derna e contemporânea, de forma a analisar as
um princípio do restauro da arquitetura moder-
mento de pastilhas cerâmicas que compõem a
problemáticas e interpretá-las para o contexto
na autônomo em relação ao tradicional.
fachadas do edifício. Descartou-se a hipótese
da residência Olivo Gomes.
de substituir os perfis originais - em boas con-
venção repristinatória, tem-se o excepcional
dições - e optou-se percorrer o caminho da
tema emergente, onde as coordenadas das
exemplo do arranha-céu da Pirelli em Milão.
intervenção conservativa de forma a preservar
intervenções ainda seguem, maciçamente, sua
Apresentando-se como uma intervenção con-
valor documental, tecnológico, construtivo e
propensão inicial de refazer antes de conservar,
servativa, demonstrou na prática que o restau-
material desse componente. Tratou-se, portan-
65 Edifício Pirelli, Milão. Observam-se os danos causados às fachadas do edifício pelo impacto do monomotor em 2002.
66 Edifício Pirelli, Milão. Foto de 2004, depois da conclusão dos trabalhos de restauro das fachadas.
Após a realização de todos esses levan-
Segundo Simona Salvo, trata-se de um
Diferentemente da linha de inter-
A intervenção referiu-se a recuperação
ligado a ambições e interesses que dificultam sua correta recepção cultural, por dois motivos:
- peso do seu valor de uso para finalida-
des práticas e econômicas;
- aglutinação de valores simbólicos,
relacionados à atualidade, destroem seus conteúdos históricos e testemunhais.
Sendo assim, observa-se uma regressão
a ideia de salvar a imagem e não a consistência material de um testemunho, afastando assim, o tema do campo da restauração, tratando-o como um caso autônomo e separado dos preceitos da disciplina do restauro. Portanto, 62
organismos internacionais de tutela - como o
to, de uma intervenção inovadora do ponto de
de tempo transcorrido entre a criação da obra
vista metodológico.
moderna e sua recepção na presente (Salvo,
2008).
Com a colisão do monomotor em 2002,
o edifício ganha um papel histórico e simbóli-
co, aproximando-se da memória e identidade
porâneas é um grande desafio ligado a cultura
dos cidadãos, além do problema de ultrapassar
da memória, implicando o reconhecimento em
de uma simples solução de reparo e manuten-
tempo real do próprio presente, de seus valores
ção. Assim, realizou-se uma grande inovação,
e de sua capacidade testemunhal.
um restauro experimental através de uma gran-
de pesquisa (levantamento métrico do painel
questões no contexto da residência Olivo
tipo, análise de arquivos, fontes bibliográficas e
Gomes, tem-se que a residência é de grande
gráficas e entrevistas) e procedimento de recu-
representividade no campo da arquitetura mo-
peração e reanodização dos existentes. A ex-
derna no Brasil, sendo assim, foi objeto de aná-
periência teve grande êxito técnico e estético,
lise histórico-crítico de diversos pesquisadores
transmitindo valores de autenticidade e ama-
e seu reconhecimento acadêmico é evidente.
durecimento, pautado também na realização
de um processo crítico e de um reconhecimen-
servação hoje em dia está intrinsecamente liga-
to progressivo da obra.
do a aspectos financeiros e de reconhecimento
da população, já que a Prefeitura de São José
Contudo, aponta-se como principal
Por fim, a restauração de obras contem-
Buscando interpretar e inserir essas
67 Villa Savoye (Le Corbusier, 1929-1931). Executado postumamente em 1997, não atua como uma obra arquitetônica mas como um objeto abstrato, como um manisfesto da arquitetura purista. Exemplo de repristinação programada.
Porém pode-se observar que sua pre-
problema o reconhecimento histórico-crítico
dos Campos, com o projeto executivo de res-
do valor de obras recentes, dado que a ausên-
tauro em mãos desde 2007, não executou ne-
cia de um distanciamento cronológico dificulta
nhuma ação prática, nem tem-se previsão. Isso
uma historiografia consolidada. Assim, essa
certamente é resultado do fato da residência
vertente retrospectiva pode ser interpretada
não ser uma prioridade na política da prefeitura
como uma projeção da civilização contemporâ-
vigente.
nea de apropriar-se de seus símbolos, negando
a incidência daquele breve, mas denso, lapso
proposta de novo programa para a residência,
A partir dessa análise e pensando na
68 Atomium (Bruxelas. A. Waterkeyn. 1958). A substituição integral das placas de aço inoxidável para alumínio trouxe o brilho de 40 anos atrás, privando o edifício de uma profundidade histórica. Exemplo de uma ampla casuística de intervenções “corretivas“. 63
estudaram-se os diversas residências tombadas como patrimônio arquitetônico no Brasil. Foram escolhidos três exemplos de programas corriqueiros de reabilitação de residências.
A Casa das Rosas desenvolve uma ati-
vidade de centro cultural, oferecendo cursos, eventos, exposições relacionada a literatura. Nesse caso além de tratar do aspecto programativo, é importante ressaltar a implantação de um edifício envidraçado bem próximo da casa, numa tentativa de diálogo fracassado.
A Casa Modernista tem atualmente o
uso como meramente expositivo, no sentido de uma residência intocável, como uma peça
69 Vila Marea em Noormakku (A. Aalto, 1939); salão com lareira. Este caso mostra a importância de uma manutenção programada e distribuída no tempo, tanto da proprietária, como da posterior fundação, como forma conservar e manter um patrimônio.
71
70
72 Fundação Maria Luisa e Oscar Americano no bairro do Morumbi. Detalhe para a implantação de toldos temporários.
Casa Modernista na Vila Mariana.
de museu inserido num parque. E finalmente a Fundação Maria Luisa e Oscar Americano que insere-se, também, num parque, tem como programa, a pedido de seus antigos moradores, uma fundação cultural, com um acervo bem eclético (obras de arte e objetos históricos da Colônia e do Império do Brasil) e permanente. A fundação recebe excursões escolares periodicamente, porém vive-se de atividades como concertos, convenções e casamentos, recebendo eventualmente toldos temporários para execução dos mesmos. 64
Casa das Rosas na Avenida Paulista.
4.2 HOTEL-ESCOLA de um complexo coerente, também está rela-
facilitando assim recursos. Mas não vou centrar
pretações realizadas até agora, iniciou-se a
cionado a questões econômicas de investimen-
as justificativas para a escolha do programa de
proposta de não seguir um programa cultural
to, sendo assim mais afirmado a consolidação e
hotel-escola nesse evento e suas possibilida-
de dependência exclusiva de recursos públicos,
manutenção do projeto e do edifício.
des, porém é um fator fortalecedor.
pois como os próprios exemplos citados não
são muito bem consolidados, independentes e
possui diversos fatores turisticamente interes-
se hospedaria no hotel, a resposta e simples
representativos.
santes, como o próprio Banhado, uma grande
e fundamentada no projeto para o parque
reserva ambiental e interessante formação ge-
posteriormente realizado nesse trabalho. Todo
cia se centrou no grande potencial da área na
ográfica no meio da cidade, o complexo do CTA
o complexo recebe diversas atividades e atra-
consolidação de um grande complexo cultural,
(Centro Tecnológico Aeroespacial) todo pro-
ções, então o hotel hospedaria tanto usuários
educacional e turístico. Assim, na intenção de
jetado por Oscar Niemeyer, o centro histórico,
dos centros cultural, comercial, de convenções,
criar uma nova dinâmica para o complexo,
centros comerciais, a reserva ambiental de São
do teatro - a cidade tem eventos nacionais anu-
previu-se a necessidade de um hotel, mas não
Francisco Xavier, entre outros. A cidade conta
ais de teatro e dança - como hóspedes de lazer.
uma grande empresa multinacional privada. A
com um aeroporto que vem aumentando seu
ideia é atrair uma empresa semi-privada que
número de voos e tem localização estratégia,
o programa de escola Senac, analisa-se que a
interessada em investir na residência, doada
entre São Paulo e Rio de Janeiro.
cidade já possui um Senac, porém como a ci-
pela prefeitura, daria em troca uma participa-
dade é de médio/alto porte e a criação de mais
ção social. Sendo assim, um Hotel-Escola, ou
de forma a manter similaridades com o progra-
uma escola profissionalizante não estará fora
seja, um hotel que além de hospedar, propor-
ma original, uma grande residência (por volta
da necessidade da cidade.
ciona cursos profissionallizantes gratuitos na
de 1500 m2 de área construída) com 8 quartos
área de hotelaria, gastronomia e turismo para
que recebia muitos convidados e familiares.
de Campos do Jordão teve um caminho pareci-
a população carente (iniciativas parecidas no
do com o proposto neste trabalho. Resumida-
Brasil foram desenvolvidas pelo órgão Senac).
Copa do Mundo de Futebol no Brasil em 2014,
mente, este Hotel-Escola era um Hotel Cassino
O interessante deste programa é o fato dos
sendo que o setor hoteleiro expande-se e
projetado em 1945 por Oswaldo Bratke que
alunos poderem exercer a prática no próprio
vários hotéis e centros de treinamentos se
ficou durante as décadas de 70 e 80 abando-
hotel, através de estágios e aulas práticas. Essa
candidatam para receber alguma seleção du-
nado. Sua revitalização se deu através de um
escolha além de estar pautado na consolidação
rante a Copa e esse hotel entraria na disputa,
acordo entre o Senac e o Governo que sedeu
A partir de todas as análises e inter-
A escolha do programa para a residên-
A cidade de São José dos Campos
A escolha do programa também se deu
Outro fator a favor é a realização da
Assim, a questão que fica é de quem
Como esse programa relaciona-se com
A experiência do Grande Hotel Senac
65
73 Foto esquemática localizando os hotéis na cidade de São José dos Campos (elementos amarelos), destaca-se o CTA em vermelho, o aeroporto, a rodovia Presidente Dutra, o Senac existente (elemento azul) e o parque (mancha amarela). 66
o terreno em troca de um programa social, os
cas na cozinha, no bar e no salão, no serviço de
cursos profissionalizante gratuitos. Assim, em
garçom e mis en place, assim, o aluno fica com
meados da década de 90 tanto a escola como o
uma formação rápida e ampla.
hotel foram inaugurados, recebendo anexos e
adaptações. Esse caso é interessante pois viabi-
economicamente mais viável para o nível da
liza recursos privados para consolidar a revitali-
sofisticação dos pratos, já que são realizadas
zação de áreas de grande potencial.
por alunos que estão efetivamente aprenden-
do na prática.
Porém, analisou que a reforma e adap-
Desta forma, o restaurante torna-se
tação do uso não respeitam as características
do projeto original de Bratke. Então, o que se
Campos do Jordão realiza os cursos práticos
aproveita aqui é a experiência dos acordos
primeiramente em sala de aula, especializado
burovráticos e não, de fato, as soluções arquite-
em uma área: garçom, cozinheiro, camareira
tônicas de ampliação e adequação.
ou recepcionista. Então, existem cozinhas pe-
dagógicas e salas especiais com equipamentos
A fim de estudar e analisar esse progra-
Diferentemente, o Hotel-Escola em
ma de hotel-escola foram realizadas 2 visitas
de um quarto de hotel para a aprendizagem
técnicas, no Grande Hotel-Escola Senac de
do trabalho de camareira, por exemplo (ver
Campos do Jordão e no Restaurante-Escola da
figura 79). Desta maneira, o aluno só vai para a
Câmara de São Paulo. Foram vistoriadas as de-
cozinha ou para o hotel quando já está previa-
pendências desses estabelecimentos e alguns
mente preparado, pois já teve aulas práticas em
funcionários foram entrevistados.
sala de aula. Assim, tanto o hotel como o seu
restaurante tem suas tarifas mais baixas, porém
O Restaurante-Escola da Câmara é
uma iniciativa da Câmara juntamente com a
maior se comparada à estrutura do Restauran-
Prefeitura de São Paulo, com a Universidade
te-Escola da Câmara. Em Campos de Jordão,
Anhembi-Morumbi e a Fundação Jovem Profis-
como uma forma de ampliar e manter o projeto
sional. O restaurante funciona a partir de cursos
do Hotel-Escola observam-se também cursos
gratuitos que duram 6 meses. Nesse período os
superiores pagos de gastronomia, turismo e
alunos se revezam entre aulas teóricas e práti-
hotelaria.
74 Perspectiva do Hotel Cassino em Campos do Jordão. Oswaldo Bratke, 1945.
75 Grande Hotel-Escola Senac Campos do Jordão. A esquerda encontra-se a escola e a direita o hotel com diversas ampliação e adequações. 67
Analisando as diferenças entre os dois
programas optou-se seguir, neste trabalho, a estrutura do Restaurante-Escola da Câmara, porém adaptado para cursos específicos e de maior duração, ou seja, uma mescla dos dois programas. A ideia é adaptar programa de maneira a melhor rege-lo, dar uma boa formação para os alunos e também baratear as tarifas mantendo um bom nível de qualidade e sofisticação do hotel e do restaurante.
Além disso, o fato dos alunos pratica-
rem na cozinha real diminui o desperdício de alimentos.
76 Restaurante-Escola da Câmara de São Paulo. Salão do restaurante.
78 Restaurante-Escola da Câmara de São Paulo. Cozinha. Alunos na seção da padaria.
79 Grande Hotel-Escola Senac Campos do Jordão. Cozinha. Alunos na área de lavagem.
79 Grande Hotel-Escola Senac Campos do Jordão. Sala de aulas práticas de camareira com equipamentos sanitários e móveis idênticos aos quartos do hotel.
Finalmente, como uma medida de ma-
nutenção da escola propõe-se também cursos livres pagos.
Posteriormente, nesse trabalho serão
apresentados maiores detalhes do programa de necessidades.
68
4.3 PROJETOS DE REFERÊNCIA
Foram estudados alguns projetos de
referência e o requisito para esses projetos é ser anexo de alguma obra de patrimônio moderno ou não, já que a ideia da mudança de uso da residência Olivo Gomes para um Hotel-Escola necessitará de anexos, sendo assim, o parte prática e de projeto de edificação deste trabalho.
Os projetos aqui apresentados trazem
características dos três princípios do restauro: mínima intervenção, distinguibilidade e reversibilidade. Todos trazem uma linguagem neutra, sóbria, de pouca interferência no patrimônio.
80 Nelson-Atkins Museum or Art. Estados Unidos. Steven Holl Architects. 2007. Anexos foram projetados para a ampliação do museu, com linguagem contemporânea, simples e neutra.
81 Hamburg-Harburg Technical University Extension. Alemanha. GMP architekten. 2012. O projeto da ampliação dessa universidade contou com a construção de 2 anexos de linguagem e forma simples, emprego de materiais contemporâneos e manutenção do gabarito, medidas que não provocam uma competição entre as edificações, se distingue o novo do velho e promove a mínima intervenção, porém atende a necessidade ampliação da universidade.
82
Corte esquemático. Rehabilitation of Ronchamp Site. França. Renzo Piano, 2006. Os anexos da igreja de Romchamp de le Corbursier consistem em alojamento para freiras e a solução dada aproveita o desnível do terreno, onde englobam-se, enterram-se as habitações nessa topografia, de forma a não interferir no panorama e na percepção da obra.
69
4.4 PARTIDO desses anexos. A problemática dessa etapa se
da implantação (ver figura 85):
ponto de partida do projeto de intervenção
dá devido, principalmente, do patrimônio pai-
- ser uma clareira, ser desprovido de cobertura
desse trabalho corresponde à elaboração de
sagístico do entorno da residência e da grande
vegetal, pois obviamente, não está-se interes-
2 anexos, devido à necessidade do programa.
representividade da paisagem, das visuais no
sado em desflorestar ou gerar um grande pre-
Assim, o desafio é organizar o complexo pro-
partido da residência Olivo Gomes. Assim, de
juízo ao meio ambiente;
grama de um Hotel-Escola dentro da residência
ante-mão, a primeira premissa para a implan-
- estar dentro de um raio de 100 metros da resi-
Olivo Gomes e seus anexos. Desta maneira
tação dos anexos, exige a não interferência nas
dência, de forma a não gerar túneis extensos e
propõe-se organizar um anexo com atividades
áreas do projeto paisagístico do entorno assim
cansativos.
propriamente da escola, com salas de aula,
como na visuais, dos enquadramentos da pai-
administração, gerência, coordenação tanto da
sagem de dentro da paisagem (ver figura 84).
então, a implantação dos anexos à esquerda da
escola como do hotel, e serviços, como lavan-
residência, numa região bem plana, ao lado de
deria, refeitório, despensas e etc. O outro anexo
ção dos anexos seguem as seguintes questões
um pomar existente, que pode também fazer
seria basicamente com os quartos do hotel e
que foram fundamentais para a consolidação
parte do conjunto do projeto. (ver figura 85).
Com toda essa análise e estudos, o
A segunda premissa para a implanta-
Com esses diagramas fica consolidado,
áreas de lazer, piscina. Ficando assim, para a residência Olivo Gomes as áreas mais nobres, a entrada, a recepção, áreas de estar, restaurante,
residência olivo gomes
bar e os quartos mais sofisticados, os próprios
recepção/lobby restaurante/bar algumas suítes para hóspedes
da casa.
Assim, deparou-se com a problemática túneis
do trânsito de hóspedes e funcionários entre as edificações propostas, o funcionamento do parque e os acessos. Consequentemente, foi pensado a elaboração de túneis de interligação
anexo 1 - hotel
suítes para hóspedes piscina
anexo 2 - escola salas de aula administração serviços
dos edifícios que possibilita a conexão sem interferir na paisagem. (ver organograma 83 ). 70
Finalmente, com essa estruturação do
programa, passou-se a pensar na implantação
83 Organograma da organização do programa deste projeto de intervenção, mostrando as atividades e usos de cada edifício e sua interligação por meu de túneis que não interferem na paisagem e propõe um passeio seguro e inusitados para hóspedes e funcionários.
84
Diagrama da primeira premissa de implantação, mostrando as áreas de interesse a serem preservadas, em vermelho a área do primeiro projeto de paisagismo e em amarelo o segundo. Além disso, a seta representa a intenção de não interferir nas visuais.
85
Diagrama da segunda premissa de implantação, evidenciando as clareiras em azul e o raio de 100 metros a partir dos pontos extremos da residência (em vermelho). Fechando assim, a implantação dos anexos no local evidentemente que respeita essas premissas de projeto (em verde).
interferência, o gabarito. Porém a ideia da en-
ção arquitetônica da residêncio Olivo Gomes.
missas de projeto dos anexos propriamente
voltória se apresenta com o intuito de diminuir
A reversibilidade observa-se no fato de ser um
dito. Uma importante problemática a se colocar
a circulação horizontal, de evitar a proximidade
anexo, que não interfere na casa e encontra-se
é a questão da convivência entre o programa
e, consequentemente, o contato visual entre os
relativamente afastada, sendo facilitado uma
do hotel e do parque, do público e do priva-
quartos do hotel e da intenção do projeto ser
intervenção futura. Já a mínima intervenção
do, a privacidade dos hóspedes. Então foram
sóbrio, sólido, neutro, sem portas, janelas na
é totalmente respeitada, já que o anexo não
pensadas modos, dinâmicas para se separar o
fachada (ver figura 86).
interfe na residência. Ressalta-se que posterior-
público do privado.
mente, nesse trabalho, se focará no projeto das
os três princípios da restauração, como se
intervenções dentro da própria residência, no
trabalho, as soluções pilotis e enterrado são de
pode observar anteriormente nesse trabalho.
sub-capítulo 4.5.
certo modo radicais, interferindo muito na pai-
A distinguibilidade encontra-se no fato de se
sagem ou no terreno. Dessa maneira, a solução
tratar de um acabamento contemporâneo e
cício desse trabalho, definiu-se essa envoltória
semi-enterrada surgiu da intenção diminuir a
neutro, que se difere da linguagem e composi-
como uma pele verde, um sistema de tela me-
Contudo, passa-se a adentrar nas pre-
Seguindo a linha de raciocínio desse
pilotis 86
A solução encontrada conversa com
enterrado
semi-enterrado
Dando continuidade a linha de racio-
semi-enterrado e envoltória
Diagrama com diversas soluções de separação do público e privado, para o anexo do hotel, principalmente.
73
tálica, canteiro e trepadeira (ver imagens 88, 89 e 90). Solução que traz um acabamento sóbrio e translúcido na paisagem e também, de certa forma, inusitado tanto para os hóspedes, como para os usuários do parque, além aumentar o conforto térmico interno.
Desta forma, o anexo da escola tam-
bém segue a mesma solução com uma segunda pele verde envoltória, porém para dinamizar, propiciar encontros à solução definiu-se um
anexo escola
átrio central (ver figura 87).
A seguir apresenta-se o programa de
87
anexo hotel
Esquema dos cortes dos anexos.
necessidades e tabela de áreas.
88
MFO park. Zurich, Suiça. Sistema de sustentação de trepadeira por meio de cabos tensionados.
74
89
Detalhe do sistema de sustentação de trepadeira a partir de módulos do conjunto tela metálico e canteiro conjugado com sistema de irrigação integrado e automático.
90
Detalhe do sistema de sustentação de trepadeira rente a parede em um supermercado nos Estados Unidos.
residência PROPOSTA (ORIGINAL)
anexo hotel m2
HOTEL 4x14,4 / 4x23,2 8 dormitórios 39,2 recepção (hall de entrada) 25,9 sala íntima (escritório) 111,7 sala múltiplo-uso (sala jogos/festa) 94,2 lobby (sala jantar/escritório) 125,0 bar (sala estar) 56,4 terraço 93,0 restaurante (garagem) 65,0 café (viveiro de pássaros) total: 760,8 (73,7%) SERVIÇOS 22,4 sanitários usuários (A.S.) 3,2 sanitário funcionário (A.S.) 5,1 sanitários inferiores 90,6 cozinha - cocção e lavagem (A.S.) 23,7 cozinha - bar e confeitaria 3,8 despensa 3,8 adega (despensa) total: 152,6 (14,8%) CIRCULAÇÃO 60,0 corredor dormitórios 37,2 rampa 6,0 escada 2x4,0 / 2x3,8 elevadores total: 118,8 (11,5%)
TOTAL: 1032,2
HOTEL 46 suites vestiários apoio camareira LAZER piscina solário
anexo escola m2 48x24 2x23,8 4x10,2 total: 1240,4 (59,6%) 165,3 235,0 total: 400,3 (19,2%)
CIRCULAÇÃO 4x21,5 circulação vertical (escada) 4x4,6 / 4x6,8 circulação vertical (elevador) 4x49,2 circulação horizontal 112,5 rampa total: 440,9 (21,2%)
TOTAL: 2081,6
ESCOLA m2 8x35,8 8 salas de aula 35,8 sala de informática 35,8 sala de demostração 5,6 depósito material didático 24,5 laboratório 179,8 biblioteca 56,8 café 2x35,8 / 12,3 sanitários 7,1 recepção 56,9 / 10,8 secretaria / diretoria 35,8 coordenação 179,8 múltiplo uso 210,9 estar total : 1209,9 (62,4%) APOIO HOTEL 35,8 /24,5 administração / gerência 23,5 vestiários funcionários 23,8 despensa 2x4,7 frigoríficos 23,1 / 11,0 depósitos 68,6 lavanderia 35,2 cozinha 91,6 refeitório 4,5 / 10,0 lixo 2x8,7 salas chefes cozinha / lavanderia total: 378,4 (19,5%) CIRCULAÇÃO 4x32,4 circulação vertical (escada) 4x3,8 circulação vertical (elevador) 176,6 circulação horizontal 3x9,6 passarela total: 350,2 (18,1%) TOTAL: 1938,5 75
4.5 PROJETO
residência olivo gomes | 1 antigo viveiro de pássaros / café | 2 anexo hotel | 3 anexo escola| 4 antiga piscina infantil / espelho d’água | 5 anfiteatro | 6 carga / descarga | 7 entrada hóspedes | 8 pomar | 9
660
2
1 8
7
7
4
3 5 9
0 6
5 10
20
IMPLANTAÇÃO
RESIDÊNCIA OLIVO GOMES
O projeto de restauro e intervenção
maneira, manteve-se o uso original dos quar-
para a residência Olivo Gomes segue os prin-
tos, sendo eles, os mais sofisticados do hotel
eixo social da residência os usos mais nobres,
cípios já enunciados ao longo desse trabalho.
proposto, por serem maiores que os quartos
de estar, como o bar, restaurante, sala de múlti-
Constrariando a maioria das restaurações e in-
do anexo (44 m² para 23 m²) e por possibilitar a
plo uso e lobby, de atividade semi-pública, no
tervenções de obras do patrimônio moderno e
conjugação em dois quartos (para famílias ou
sentido de proporcionar uma certa aproxima-
contemporâneo, o projeto respeita os três prin-
grupos) ou a combinação quarto e sala de es-
ção da população da residência, agora aberta
cípios da restauração e consequentemente não
tar.
ao público num período de tempo durante o
é tratada como uma prática fora da tradicional
de restauro. Este trabalho não se atem ao proje-
preservação das áreas envoltórias à residência
to de restauro da edificação, de seus elementos
resultou num distanciamento do estaciona-
festas, estabeleceu-se a partir dessa lógica de
e componentes, das problemáticas ligadas às
mento, sendo assim, necessário percursos a pé
abrir o espaço para o público, com atividades
instalações elétricas, hidráulicas, porém ressalta
dentro do parque ou a utilização dos serviços
tanto do hotel, eventos, festas, congressos,
a grande importância de um rigor teórico, me-
de manobrista.
como do parque, atividades culturais, sociais e
O conflito do acesso dos hóspedes e a
A partir disso, resolveu-se implantar no
dia e noite, ideia já apresentada nesse trabalho. A sala de múltiplo, antiga sala de jogos/
todológico e científico, de maneira a afastar de ações repristinatórias e retrospectivas.
As interferências foram as mínimas pos-
síveis para a adaptação do uso para um hotel-escola, distinguíveis, com uma linguagem diferente da residência original, do projeto do Rino Levi e reversíveis. A seguir será apresentadas as questões estruturadoras para o projeto enfatizando nas três características expressas.
Procurou-se manter a dinâmica e a or-
ganização da residência, a divisão dos eixos dos dormitórios, social e de serviços, assim como a entrada original dos hóspedes e moradores, 80
junto ao painel azul (ver imagem 91). Desta
91 Diagrama de organização do programa no pavimento superior da residência. Em amarelo encontra-se a área dos dormitórios do hotel. Em vermelho tem-se as áreas sociais e semi-privadas, bar e restaurante. E finalmente em azul tem-se as áreas restritas aos funcionários com principalmente, a cozinha. As setas indicam os diversos acessos possíveis, sendo a seta azul a original entrada de hóspedes, onde manteve-se a entrada e a recepção do hotel, a seta verde é um acesso secundário para hóspedes e as vermelhas são públicas, porém controladas.
alterações, onde originalmente servia como
etc.
Aproveitou-se a grande extensão das
dormitório dos funcionários e passou a com-
originais sala de estar e garagem para instalar
portar os serviços do parque, como sanitários,
o bar e o restaurante, respectivamente. Para
fraldário, escritórios e vestiários, foi proposto
a efetivação de interligação entre os espaços
toda sua reformulação para comportar a co-
sociais, a criação de um lobby interessante e
zinha (cocção, preparo e lavagem) do hotel e
uma fácil visualização do elevador que dá aces-
também sanitários para os usuários do restau-
so ao túnel e, consequentemente, aos outros
rante. Assim, grande parte das paredes internas
46 quartos, algumas paredes internas foram
foram reelaboradas, mantendo-se a estrutura
previstas serem demolidas. Nessas paredes, ori-
da fachada a fim de manter a história e as eta-
ginalmente, se davam usos secundários (área
pas da residência. A cozinha original do projeto
de almoço de funcionários, área de serviço
de Rino Levi ficou com o parte de bar e padaria
com tanques e um segundo escritório) que não
e manteve-se as despensas originais.
eram de grande importância na concretização
do partido da residência.
de manter as características da residência de
modo aos hóspedes e usuários da áreas de bar
Para a concretização do restaurante,
Intervenção na antiga garagem para adaptação de restaurante.
93
Visualização geral dos dois anexos e a residência Olivo Gomes.
Para concluir, ressalta-se a intenção
onde originalmente funcionava a garagem, foi
e restaurante terem a compreensão de aque-
projetado portas de vidro de correr para fechar
le lugar foi moficado, adapatado e não gerar
o ambiente, porém fléxiveis, possibilitando
confusão ou enganações. Desta forma, foram
variações de aberturas . Ressalta-se a distingui-
mantidas diversos elementos imporatantes
bilidade no acabamento e composição desse
do projeto, como os mobiliário sob medida e
pano de vidro frente a requintada caixilharia
densamente detalhado pelo escritório de Rino
projetada pelo escritório de Rino Levi. Foi tam-
Levi, mesmo que com o novo uso de um hotel-
bém necessário, para a efetivação de uma aber-
-escola, esses elementos tornam-seinúteis e, às
ta do restaurante, a remoção de alguns cantei-
vezes, com aparência de deslocado, gerando
ros de plantas e antena existentes no local.
interessantes percepção do ambiente e de sua
memória.
Finalmente, na área que mais sofreu
92
81
563,00
1 2
3
5
4
1 | múltiplo uso 2 | bar 3 | sanitários 4 | elevador social 5 | elevador serviços 6 | túnel de acesso aos anexos RESIDÊNCIA OLIVO GOMES | projeto | pav. inferior
6
salão bar | 1 recepção | 2 terraço | 3 sala íntima | 4 suítes conjugadas | 5 lobby / estar | 6 bar e confeitaria | 7 elevador social | 8 salão restaurante | 9 carga / descarga | 10 sanitários | 11 preparo e cocção | 12 elevador serviços | 13 lavagem | 14
3
1
4 5
5
5
5
566,50 2 564,75 6
7 9
11
12
13
14
8
10
0
2
5
RESIDÊNCIA OLIVO GOMES | projeto | pav. superior
563,00
1
3 3
demolição construção 1 | demolição de paredes 2 | construção de túnel 3 | inserção de elevadores RESIDÊNCIA OLIVO GOMES | intervenções | pav. inferior
2
inserção balcão | 1 porta p/ restrição de acesso | 2 inserção de portas / adaptação do armário | 3 demolição de paredes internas | 4 inserção elvador | 5 inserção fechamento vidro | 6 demolição construção
3
3
3
3
566,50 2
1
4 1 5
6
4
5
6
0
2
5
RESIDÊNCIA OLIVO GOMES | intervenções | pav. superior
0
5
10
TÚNEL nível -3,50m
20
ANEXOS Como já foi introduzido no capítulo so-
áreas do programa de necessidades foi defini-
saída de emergência na fachada no térreo.
bre o partido, o projeto dos anexos nasceu das
do os edifcios dos anexos com 4 pavimentos e
preocupações com a privacidade dos hóspedes
limites de 25 por 25 metros em planta. Outra
central tem-se acesso aos quartos modulados
e a interferência do volume dos edifícios na
definição adotada para a solução dos anexos é
em 3,6 por 7,0 metros. Os shafts, um para cada
paisagem, nas áreas de entorno da residência
a ideia de inserir aberturas inusitadas na segun-
dupla de apartamentos, também é acessível
Olivo Gomes. A partir desses príncipios foram
da pele verde, formando enquadramentos da
desse corredor, o que facilita a manutenção. O
propostas as solução de edifícios semi-enter-
paisagem, para quem está dentro do edifício, e
distanciamento de 4,4 metros entre os fecha-
rados e com um fechamento de segunda pele,
composições inesperadas na fachada, para os
mentos do quarto propriamente dito e a pele
optando-se por um fechamento verde, neutro
usuários do parque.
verde interioriza os quartos, mantendo a priva-
que não compete nem interfere na leitura e
O anexo do hotel conta com um único
cidade dos mesmos.
compreensão da residência, tanto por soluções
acesso, do túnel, o que força a entrada do hós-
escolhidas como pela implantação.
pedes pela residência Olivo Gomes. O acesso
implantar apenas uma piscina na cobertura do
direto ao parque se dá apenas por uma sutil
anexo do hotel, de forma a criar um equipa-
A partir de um primeiro cálculo de
Com uma única circulação horizontal
Quanto às áreas de lazer, optou-se por
mento forte e interessante para os hóspedes. No entanto, para criar uma cobertura livre e aberta para a paisagem, criou-se uma rampa que contorna toda a edificação de maneira a evitar fechamentos para o elevador e escadas. Assim, cria-se um grande solário aberto, sem obstrução das visuais e uma piscina com amplas dimensões, 7 metros de largura e 25 de comprimento. A rampa torna-se assim, um percurso, um passeio elevado no parque e um elemento que compõe a fachada, diferenciando-a do desenho do anexo da escola. O anexo da escola, diferentemente do hotel, possui duas circulações horizontais, in-
87
terligadas por passarelas e uma escada central e iluminada por clarabóias basculantes. Essa solução dinaliza a estruturação dos dois anexos e promove encontro entre alunos e funcionários, por ser um edifício mais público e dinâmico. Nesse átrio central também foi proposto a implantação de uma árvore, no subsolo, como forma de qualificar o ambiente.
No subsolo, junto ao túnel, localizam-
-se todos os equipamentos de serviço do hotel, lavanderia, despensas, frigoríficos, vestiários de funcionários, facilitando o acesso ao outro anexo e a residência. As salas de aula seguem uma modulação de 6,25 por 5,8 metros e como a proposta é de seguir a estruturação do aluno aprender na prática, efetivamente, na cozinha, nos quartos, na lavanderia e etc. Assim, as salas de aulas são mais voltados para aulas téoricas, tanto para os cursos profissionalizantes como para os demais cursos disponíveis, os cursos livres.
No último pavimento foi pensado um
grande ambiente de estar com interessantes visuais para o parque e uma grande sala de múltiplo uso, para eventos, congressos, palestras, simpósios tanto da escola como do hotel, uma alternativa maior para a sala na residência.
88
94
Imagens internas do anexo da escola. Acima, detalhe do vão entre a pele ver e o edifício. Observa-se a estrutura desse fechamento, tela metálica, viga estruturais que também servem de canteiro para as trepadeiras e as escoras de sustentação. Abaixo, vista da passarela no último pavimento. Destaque para a iluminação zenital, o desenho das escadas e os tirantes que sustentam tanto a escada como a própria passarela.
2
1
3
4,40
4
7,10
5
7
0
0,5
1
TIPOLOGIA SUÍTES
6
8
2,50
1 | portas de correr de vidro / guarda-corpo / cortina blackout 2 | pilar metálico pintado preto - 15x25cm 3 | piso laminado de madeira escura 4 | mesa para tv, notebook e frigobar 5 | fechamento de drywall com placas duplas - 10,8cm 6 | guarda-roupas 7 | fechamento de policarbonato translúcido 8 | ducha / banheira de fibra / box de vidro 9 | porta de correr de policarbonato 10 | piso cerâmico cor clara 11 | pia / espelho / secador de cabelos / espelho de aumento / armários 12 | maleiro 13 | shaft acessível do corredor
10
9
11
12
13 3,60
B -4,10
A
A
3
-3,50
1
2 elevador social | 1 elevador serviços | 2 túnel | 3 -4,10
0
1
2
5
B
ANEXO HOTEL nível -3,50m
B
A
A
0,00
3
1
2
1 | elevador social 2 | elevador serviços 3 | saída de emergência
B
ANEXO HOTEL nível 0,00m
B
A
A
3,50
1
2 elevador social | 1 elevador serviços | 2
0
1
2
5
B
ANEXO HOTEL nĂvel 3,50m
B
A
A
7,00
4
3 1
2
1 | elevador social 2 | elevador serviços 3 | vestiários 4 | acesso à piscina
B
ANEXO HOTEL nível 7,00m
B
A
A
2
12,30
1
solário | 1 piscina 7x25m | 2 acesso pav. técnico | 3
0
1
2
5
ANEXO HOTEL nível 12,30m B
3
B -4,10
2
7
2
8 6
3 1
7
4
9 5
A
A
10
-3,50
15
11
14
13
12
túnel | 1 lixo | 2 acesso pav. técnico | 3 elevador | 4 vestiários | 5 despensa | 6 frigoríficos | 7 depósito | 8 depósito limpeza | 9 lavanderia | 10 rouparia | 11 chefe lavanderia | 12 chefe cozinha| 13 cozinha | 14 refeitório | 15
-4,10
0
1
2
5
B
ANEXO ESCOLA nível -3,50m
B
6 3 1
5
2 4
A
7
A
0,00
8 1 | entrada / carga e descarga 2 | clarabóia do túnel 3 | recepção 4 | elevador 5 | administração 6 | diretoria 7 | café 8 | biblioteca
B
ANEXO ESCOLA nível 0,00m
B
1
4 2
5
3 6
A
A
3,50
7
7
7
0
1
2
5
ANEXO ESCOLA nível 3,50m B
7
administração hotel | 1 elevador | 2 depósito | 3 gerência hotel | 4 coordenação escola | 5 sanitários | 6 salas de aula | 7
B
4
1
2
3
5 6
A
A
7,00
7
7
7
1 | sala demonstração 2 | elevador 3 | depósito 4 | laboratório 5 | sala informática 6 | sanitários 7 | salas de aula
B
ANEXO ESCOLA nível 7,00m
B
1 2
A
10,50
3 estar | 1 elevador | 2 múltiplo uso | 3
0
1
2
5
ANEXO ESCOLA nível 10,50m B
A
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REFERÊNCIA DE IMAGENS
108
capa | Departamento de Patrimônio Histórico de São José
-parque-da-cidade-e-o-lar-de-filhotes-de-capivaras/#.
dos Campos
dos Campos
UCz14aNDvEc
44 | Departamento de Patrimônio Histórico de São José
1 | Desenho da autora
22 | http://www.jangadeiroonline.com.br/esportes/tag/
dos Campos
2 | Departamento de Patrimônio Histórico de São José dos
aeromodelismo/
45 | http://www.archdaily.com.br/31181/classicos-da-
Campos
23 | http://www.skyscrapercity.com/showthread.
-arquitetura-residencia-olivo-gomes-rino-levi/
3 | Departamento de Patrimônio Histórico de São José dos
php?t=797444&page=2
46 | Foto da autora
Campos
24 | Foto da autora
47 | Foto da autora
4 | Desenho da autora
25 | Departamento de Patrimônio Histórico de São José
48 | http://www.archdaily.com.br/31181/classicos-da-
5 | Departamento de Patrimônio Histórico de São José dos
dos Campos
-arquitetura-residencia-olivo-gomes-rino-levi/
Campos
26 | Foto da autora
49 | Foto da autora
6 | Foto da autora
27 | ANELLI, 2001
50 | Foto da autora
7 | Foto da autora
28 | ANELLI, 2001
51 | Departamento de Patrimônio Histórico de São José
8 | Foto da autora
29 | ANELLI, 2001
dos Campos
9 | Foto da autora
30 | ANELLI, 2001
52 | Foto da autora
10 | http://pensandoadiante.blogspot.com.
31 | ANELLI, 2001
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-de-la-villette-bernard-tschumi.html
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-de-arte-contemporanea
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mo/06.065/4431
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attention-parc-de-la-villette-paris-by-bernard
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-fotos-do-parque-onde-fica-o.html
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