Estilo e Tipografia Góticos

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FUNDAÇÃO DE ENSINO “EURÍPIDES SOARES DA ROCHA” CENTRO UNIVERSITÁRIO “EURÍPIDES DE MARÍLIA” – UNIVEM CURSO DE DESIGN GRÁFICO

Estudos sobre Estilo e Tipografia Góticos

ALEXANDER BATISTA; CAMILA CRISTINA PINELI

MARÍLIA 2016

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rojeto de final de curso apresentado ao Curso de Design Gráfico da Fundação de Ensino “Eurípi-

des Soares da Rocha”, mantenedora do Centro Universitário Eurípides de Marília – UNIVEM, como requisito parcial para a obtenção do grau de Tecnólogo em Design Gráfico. Orientador(a): José Salustiano dos Santos Prof(a). José Salustiano dos Santos

MARÍLIA 2016

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Resumo

O

material desenvolvido neste projeto tem como objetivo o aprofundamento no que diz respeito ao Estilo Gótico, aprofundando-se no campo da escrita desenvolvida durante este período, compreendendo fatores políticos, sociais, religiosos e econô-

micos associados ao movimento desde seus primórdios até os tempos modernos. Isto faz do presente material útil tanto para estudos acadêmicos quanto para conhecimento pessoal.

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início do estudo compreende-se ainda durante o reinado de Carlos Magno, cuja busca incessante por uma padronização nos meios de comunicação de seu império fizeram

surgir uma das mais belas escritas da história. Desenvolvida pelo Arcebispo de York, a minúscula carolíngia associava em si elementos das escritas unciais e alastrou-se rapidamente pelos domínios de Magno. Esta foi a base da nova escrita que seria criada anos mais tarde.

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o início do século XI, uma série de mudanças atinge a Europa. O feudalismo começa a perder força enquanto as cidades tornam-se cada vez mais comuns e ganham

visibilidade e poder, e a burguesia ascende enquanto classe social. Mesmo na fé, enquanto Deus tornava-se o centro de tudo, o clero passa a demonstrar cada vez mais interesse nos bens materiais e no poder, uma nova filosofia ganha destaque. A escolástica, que pregava o pensamento racional e metódico como forma de alcançar o Reino de Deus.

O

estilo gótico teve sua origem no mesmo século, na França. Apesar disso, refletia a realidade de todo um continente marcado por mudanças drásticas em suas estruturas sociais

e no modo de pensamento. Logo, difundiu-se rapidamente por toda a Europa, com maior ou menor intensidade, assimilando, em cada região, características próprias da história e dos ideais do povo local.

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e um modo geral, o novo movimento foi marcado pela imposição da verticalidade em função da horizontalidade clássica, e da riqueza de detalhes e pormenores, fosse no

campo arquitetônico ou da letra escrita.

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urante o século XII, fez frente ao Renascimento Italiano, cujos preceitos e ideais resgatados da tradição greco-romana eram imediatamente contrários aos pregados pelo

Estilo Gótico. Apenas neste momento, quase um século após sua consolidação, o novo movimento ganha seu nome ao adotar uma alcunha iluminista que descrevia o estilo como “bárbaro e feio”. Logo, as origens da palavra perderam-se, já que o Gótico era marcado pela harmonia e pela beleza. 6


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endo como base as mesmas características principais e pertencendo ao mesmo movimento, a letra gótica desdobra-se em um leque de estilos dos quais destacam-se dois

considerados formais: a gótica de forma (também chamada de textura ou gotisch) e a gótica de suma (também chamada de rotunda ou rundgotisch). A bastarda, ou gótica primitiva, apesar de igualmente importante, não se compreende como um estilo propriamente dito, sendo, antes, a compreensão de qualquer tipografia desenvolvida a nível regional que, atendendo ao estilo gótico, estivesse compreendida em livros e documentos.

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estaca-se a Alemanha para maior enfoque, uma vez que tenha sido a grande expoente no que diz respeito à tipografia gótica. Apesar de ter adotado o Estilo de maneira frágil

e tardia, conservou a escrita com fervor por vários séculos após a queda do movimento no restante da Europa. Em solo alemão desenvolvem-se a schwabacher (uma letra arredondada, ‘prática’, para uso em notariados e chancelarias) e a fraktur, cujas formas eram, quase que literalmente, uma quebra dos contornos suaves da schwabacher, em uma composição forte e sinuosa.

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invenção da prensa de Gutemberg revoluciona a escrita e dá maior visibilidade à fractur, que por vários anos é utilizada como principal tipografia nos materiais impressos. O

estilo apenas passa a ser contestado vários anos mais tarde, quando a Bauhaus é criada e apresenta, como um de seus objetivos, uma nova revolução da escrita, que abandonasse os adornos e o peso das góticas.

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ascensão do nazismo na Alemanha marca um novo período para o estilo tipográfico “nacional” alemão. Enquanto o governo ditatorial de Hitler pregava as góticas como

tradução do espírito ariano, a letra romana já estava se alastrado por toda a Europa e agora sua sombra pairava sobre o país. A ideia de que a escrita alemã era rústica e atrasada e deveria ser substituída pela romana, como fora feito por todo o mundo, era uma realidade. Neste contexto, várias bastardas foram desenvolvidas, letras que reuniam e agregavam elementos góticos e romanos em suas composições. A situação perdurou por alguns anos, até que um decreto oficial do governo nazi surpreendeu o povo ao ordenar a substituição quase imediata da maior parte das letras góticos, inclusive a substituição de volumes já impressos e distribuídos. A alegação era a de que a letra gótica era, antes de qualquer coisa, uma letra judia, implantada nas raízes alemãs.

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pós o decreto, alguns resquícios da tipografia sobreviveram, mas definhara aos poucos e acabaram por desaparecer enquanto estilo oficial, até os dias de hoje, em parte por

terem permanecido associadas aos horrores promovidos pela Alemanha Nazista. Em vista a 7


recuperar e “limpar” um pouco da história do estilo, jovens tipógrafos alemães empenham-se hoje no desenvolvimento de novas formas de letra gótica, sem que nelas seja notável qualquer nacionalismo ou mera indicação de sua origem territorial, constituindo letras, não nacionais, mas universais.

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esmo assim, nos dias atuais o estilo gótico relaciona-se diretamente com tribos que divulgam o caos, a destruição, a anarquia e a guerra, como o black metal e afins.

Muitas destas tribos também fazem referência, com maior ou menor intensidade, ao satanismo. Tendo em vista o surgimento profundamente cristão do Gótico, que presava a ordem, a beleza e a harmonia, pode-se ter alguma noção das mudanças drásticas sofridas por um dos movimentos artísticos que mais sofreu alterações desde sua origem.

Palavras chave: • Tipografia; • Gótico; • Cultura.

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Sumário Introdução

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Referencial Teórico

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Palavras-chave

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A Minúscula Carolíngia (Império Magno, 800 d.C.)

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O Estilo Gótico

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A Tipografia Gótica

19

A diferenciação do Gótico ao longo da Europa

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Inglaterra

21

Alemanha

22

Itália

24

Scriptoria

25

A Prensa de Gutemberg

26

O Renascimento Italiano e o Tipo Romano

28

Resistência e queda da tipografia gótica

31

O Ressurgimento do tipo gótico

40

Delimitação do Projeto, Métodos e Técnicas

43

Compreenção

44

Delimitação do Projeto

44

Análise Cultural

44

Público-Alvo

44

Pesquisa de semelhantes

44

Identificação de oportunidades

46

Definição de Problema

46

Definição do Objetivo

46

Compreenção (2º Parte)

47

Geração do Conceito

47

Descrição de cada Conceito

47

Cores

48

Tipografias relacionadas

48

Imagens relacionadas aos conceitos

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10

Geração de alternativas

50

Justificativa dos elementos utilizados

54

Finalização

55

Situação Futura

55

Quais resultados esperados

55

Layout Final

55

Considerações Finais

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Fontes das Imagens

63

Referências Bibliograficas

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Introdução

O

estilo gótico surgiu em uma Europa marcada por mudanças drásticas em suas antigas estruturas sociais e religiosas. Enquanto movimento, caracterizou um período sombrio, até hoje marcado pela alcunha de “Idade das Trevas”, transmitindo ao

mundo a imponência incontestável da Igreja Católica em edifícios monumentais que arranhavam os céus na busca pelo Divino. Mas, mesmo se tratando de um movimento único que se alastrou por grande parte da Europa, suas características não permaneceram imutáveis, sendo fortemente influenciadas pela história e cultura dos países que a adotaram. A França, a Inglaterra, a Itália e a Alemanha serão destacados como bons exemplos destas influências sofridas.

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entro desta grande diversidade de apresentações, nos focaremos na tipografia. Robin Willians, uma das escritoras cuja obra serviu como base de estudo para este projeto,

trata a letra como elemento fundamental para a perfeita transmissão da mensagem escrita, uma vez que deve suprir a ausência das expressões faciais e corporais e da entonação naturalmente aplicada à linguagem oral.

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uando elevado ao nível de movimento tipográfico, tal como o gótico, a construção estética da letra é de fundamental importância na transmissão imediata dos padrões prega-

dos, sejam eles estéticos ou ideológicos. Nosso objetivo é apresentar aos interessados um pouco mais sobre as diferentes evoluções das tipografias e demais formas de expressão artística neste período marcante da história europeia, destacando a França, a Inglaterra, a Itália e a Alemanha como bons exemplos da influência social na alteração deste novo estilo. Para tanto, abordaremos tais assuntos em paralelo com os principais fatores vividos pelas sociedades em questão, sejam revoluções, instabilidades políticas ou o surgimento de outros movimentos.

A

pesquisa desenvolveu-se com base no estudo de obras que se focassem ou tangenciassem os assuntos aqui abordados, fosse no campo do movimento gótico ou da tipografia.

Deste modo, abordamos situações e contextos políticos, econômicos e sociais ao longo de quase nove séculos para poder melhor situar cada mudança e evolução sofrida pela tipografia desde seu surgimento até os dias atuais.

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or se tratar de um tema extenso, a possibilidade do assunto principal não ser integralmente tratado, ou de algum assunto importante ser pouco abordado é uma problema

real. Para evitar tal situação, o estudo de obras similares foi uma saída importante, uma vez que a análise dos pontos fracos de outros materiais servirá para complemento do nosso próprio artigo. 12


A abordagem de um período específico da história permite que o conteúdo seja aprofundado sem que haja fuga do tema central. Se não há um grande número de fontes para o assunto, também não há escassez de material a ser estudado e desenvolvido.

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nfelizmente, a dificuldade de encontrar material extenso e de fontes confiáveis sobre alguns dos temas abordados também é um problema, já que prejudica imensamente a

exploração de informações interessantes. Outra desvantagem encontrada é a falta de tipografias digitais que sejam fiéis aos estilos retratados.

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ste material foi desenvolvido para estudantes, principalmente dos ensinos médio e superior, que busquem uma abordagem mais aprofundada sobre a tipografia gótica, seja para

fins acadêmicos ou para conhecimento pessoal sobre o assunto. Deste modo, pode ser definido, segundo o parâmetro “classe social / idade / sexo”, da seguinte maneira:

• Classe social: A, B e C; • Idade: 18 – 40 anos; • Sexo: Masculino/Feminino.

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uso de cartazes na abordagem do tema tem um objetivo: muitas vezes, este assunto é tratado através de livros acadêmicos. Em muitos casos, esta apresentação “fria” pode desestimular a curiosidade dos interessados que, por falta de hábito,

disponibilidade ou tempo, acabam desistindo da leitura, podendo recorrer a fontes duvidosas de informação, muitas vezes sendo introduzidos a conceitos falhos ou errôneos sobre o assunto.

A

apresentação rápida por meio de cartazes chamativos que transmitam informações básicas à respeito do tema é uma forma de informar e, ao mesmo tempo, despertar a curio-

sidade para um estudo mais aprofundado do assunto.

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Referencial Teรณrico

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Palavras-chave • Tipografia.

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uito além de um conjunto de símbolos utilizados na transmissão de uma mensagem escrita, a tipografia é, por si só, uma mensagem. Ela tem a função de suprir a linguagem corporal e a entonação dada as palavras, elementos próprios

à linguagem oral e que permitem uma transmissão aprofundada da mensagem, conforme explica Lucy Niemeyer em sua obra Tipografia: uma apresentação. Ainda neste título, outra importante característica é ressaltada pela autora.

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á várias definições de tipografia dadas ao longo da História. Cada uma delas expressa, talvez, um modo de ver o

mundo e o papel do designer. Algumas privilegiam as características formais, outras enfocam os aspectos técnicos; outras o seu aspecto utilitário. Tipografia é tudo isso, porém é mais ainda a representação visual da linguagem e, portanto, expressão de cultura. (NIEMEYER, Lucy. Tipografia: uma apresentação, 2010, p.14).

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onforme descrito, a tipografia é, antes de tudo, o perfeito reflexo de uma sociedade. Sua história, os ideais de uma nação, a influência da religião e da ciência sobre o povo, tudo isso é sutilmente transmitido por meio dos traços empregados na cons-

trução do corpo de cada letra. Neste ponto, o objetivo deste trabalho vai além do aprofundamento da tipografia enquanto elemento social, uma vez que explora também a sociedade retratada pela letra escrita.

• Gótico.

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liveira define o surgimento da arte gótica como consequência direta da “clara transformação de gosto, de pensamento filosófico e de ideais estéticos” (2010, p.22) vividos entre os séculos XI e XII. Tais transformações serão abordadas, bem 15


como suas consequências assistidas no novo estilo, enquanto universo dentro do qual está inserido o tema central do trabalho. Vale citar a transcrição de Oliveira acerca da definição dada por Tormo ao termo “gótico”.

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uriosamente, o seu significado e uso foi uma invenção dos primeiros humanistas italianos, amplamente utilizado nos

textos renascentistas para designar tudo aquilo que não entrava nos postulados estéticos herdados da tradição clássica. Era utilizado como insulto, esse “algo” assim adjetivado era de tradição bárbara, portanto, primitivo e feio. (Tormo, 2001, p.12, tradução livre).

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oram justamente as transformações anteriormente citadas que renderam ao novo estilo a alcunha de “gótico”, uma vez que divergia profundamente dos ideais helênicos, tanto estética quanto intelectualmente. Tal divergência é bem esclarecida no

trecho de Upjohn citado por Oliveira, que define o Parthénon como “regido pelo pensamento do homem e tão lógico quanto um postulado de Euclides”, ao passo que a catedral gótica reflete a filosofia medieval, exprime o “intangível e transcende o homem na sua procura do além” (2010, p.33).

• Cultura.

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o citar um movimento artístico de grande impacto social como foi o gótico, torna-se imprescindível abordar as características culturais da sociedade na qual se deu seu surgimento. Neste caso, a Europa do século XI.

A sociedade vive então um período de drásticas mudanças. Enquanto a Igreja assume uma

importância sem precedentes na história, a posição do próprio homem e sua relação para com o mundo é alterada, “a vida do homem era mais importante após a morte do que durante a vida propriamente dita”, conforme explica Horcades em sua obra A evolução da escrita: história ilustrada (2004, p.28). Esse novo preceito de vida após a morte resulta em uma realidade sombria, e a Igreja encontra na nova ordem arquitetônica uma forma de reafirmar sua supremacia e o poder divino. Enquanto 16


“a verticalidade dominava a ânsia dos mestres” (Oliveira, 2010, p.22), Horcades completa que a tipografia traduziu isso na “letra solene, escura e severa como a Inquisição católica” (2004, p.28).

A Minúscula Carolíngia (Império Magno, 800 d.C.)

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ma vez que o trabalho apresentado tem por tema a tipografia gótica, é apropriado retomar aos primórdios do Império Magno, onde vislumbra-se o nascimento de sua ancestral direta, a minúscula carolíngia, cuja forma foi de forte influência

para as posteriores letras góticas.

A

lém da vastidão de seu domínio, o imperador Carlos Magno também foi conhecido por sua admiração pelas culturas helênicas e romanas, e seus esforços na renovação e

assimilação dos valores humanísticos por elas pregados, ao longo das terras conquistadas durante seu reinado. Até o momento, porém, a comunicação escrita do império era composta por diversas bastardas que dificultavam grandemente a transmissão de informações e documentos entre as províncias, e a reforma prometia acabar com este contratempo. Phillipp Betheau (apud Oliveira, 2010) acrescenta ainda que a língua germânica, em contraposição ao latim e outras romances, era vista como uma língua vulgar, e eruditos da corte de Magno propuseram-se a reviver, junto a outros aspectos da cultura antiga, a linguagem escrita.

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agno incumbiu ao grande escriba e bispo de York, o anglo-saxão Alcun, a desenvoltura de uma letra que seria eleita a oficial em toda a comunicação escrita de seu

império, que deveria unir a estética agradável a uma boa legibilidade, e que, além de facilitar as transações comerciais, também permitiria a interpretação uniforme da Bíblia e a consequente disseminação da doutrina cristã aos povos conquistados, ao mesmo tempo em que promoveria uma restauração de valores há muito esquecidos. Deste modo, Horcades cita a produção da minúscula carolíngia como o que pode ter sido o primeiro trabalho de identidade visual encomendado na história das artes gráficas, tal como os vistos nos dias atuais, com todo um sistema minuciosamente planejado de letra e mancha (2004, p.27).

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sta nova tipografia foi apresentada em um livro, que, pela inexistência de tecnologias ligadas à impressão das peças, era então considerado a grande obra de um rei, devido

à dificuldade e os custos empregados na fabricação destas peças, como o envolvimento de pes-

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quisadores, tradutores, copistas e iluministas, e a fabricação, nos ateliês dos escribas, do papel, tinta, ferramentas e material para a encadernação das peças. Documentos gregos e romanos considerados importantes para o humanismo também foram transcritos sob a nova tipografia oficial e distribuídos em conventos ao longo de todo o império, como os de Tours, Reichenau, Lorsch e St. Gallen, e logo a minúscula carolíngia já havia se disseminado pelas mais longínquas províncias conquistadas por Magno.

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liveira destaca que esta nova forma de letra foi, na realidade, uma evolução de tipografias pré-existentes, e sua forma apresentava diversos elementos comuns às unciais e

semi-unciais que a precederam. Phillipp Betheau, por sua vez, acrescenta que semelhanças entre as línguas romances e o antigo alto alemão (após a reforma linguística do país no século IX), tais como a alternação de consoantes e vogais para a criação de sílabas acabadas, majoritariamente, em vogais, facilitou a unificação da escrita sob a adoção da Minúscula Carolíngia. Também aponta que, mesmo dentro de textos escritos sob o alfabeto oficial de Magno, não era incomum encontrar maiúsculas romanas e alfabetos unciais, elementos por vezes associados à mudança de cor empregada nos textos como forma de destacar títulos e subtítulos (Oliveira, 2010). Como antecessora direta da tipografia gótica, a minúscula carolíngia também já apresentava algumas características estéticas que se mantiveram nas letras medievais, como o corpo das letras sensivelmente mais pesado do que outros estilos até então conhecidos.

Figura 1 - Minúscula Carolíngia

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Figura 2 - Meia Uncial

Figura 3 - Uncial

pós a morte de Carlos Magno, em 813, uma sucessão de invasões bárbaras à Europa, em conjunto com os fracos governos exercidos pelos descendentes de Magno levam a um

rápido declínio do Império, que não sobrevive até o final do século IX. Com a morte do último dos imperadores carolíngios e a total dissolução do reinado, o centro o poder no mundo é transferido para o norte, até a Saxônia, onde o mais notável dos reis foi Otão I que, durante o “período otoniano”, que se estendeu entre meados do século X e início do século XI, além de ter sido 18


responsável pelo reestabelecimento do poder central efetivo, também fez-se coroar Imperador pelo Papa, alegando soberania sobre todo o Sacro Império Romano.

O Estilo Gótico

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o século que se seguiu ao fim do “período otoniano”, profundas mudanças começam a ser notadas na Europa, quando política, economia, sociedade e religião passam a ser enxergadas sob a luz de novas consciências. A rigidez

do feudalismo entra em declínio, ao passo que as cidades livres tornam-se mais influentes e a burguesia surge como uma nova classe social. O ensino acadêmico também passa a ganhar forma com o surgimento das primeiras Universidades. Diante desta nova realidade, mesmo o tradicional clero muda seu comportamento: se antes sua ocupação era a alma dos fiéis, agora os bens materiais e o poder também lhes despertam interesse, ao ponto de entrarem em conflito com a própria nobreza.

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rente a este novo clero, a escolástica passa a ser ensinada, pregando a razão como forma de ascensão da alma, um novo caminho pelo qual “chegava-se a Deus por um

esforço de pensamento complexo mas requintado, rigidamente formal mas rico de sutilezas” (Oliveira apud Gozzoli, 1986, pp.6-15). Oliveira explica que a teologia católica passa a ser regida por uma nova teoria, na qual Deus é luz e dele procede todo o saber humano, como irradiação espiritual da luz incriada, enquanto Jesus torna-se símbolo da união entre Deus e o homem, colocado no centro de tudo, “donde tudo procede, onde se ilumina tudo, a Trindade, o Verbo encarnado, a Igreja, a humanidade, a criatura.” (Duby, 1972, pp.146-8).

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oram estas mudanças do pensamento filosófico e dos ideais estéticos assistidos durante este período que serviram de berço para um novo estilo artístico, o Gótico, que di-

fundiu-se de forma irregular por toda a Europa, até o século XVI. Com divergências regionais, de uma maneira geral este novo estilo foi marcado por uma aura obscura, mas intensamente transcendental, tendo como plano de fundo o poder rígido e incontestável da Igreja e refletindo fielmente seus preceitos, de maneira que contrariava abertamente os antigos postulados estéticos helênicos.

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a arquitetura, a verticalidade fez-se presente de maneira incontestável enquanto apresentava uma estonteante riqueza de mínimos detalhes em construções monumentais.

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As belas catedrais contrastavam a imponência sombria de suas muralhas externas com a rica suavidade dos ambientes internos, decorados com pinturas coloridas, e onde a escultura assumia um novo patamar na decoração, agora como parte do enquadramento arquitetônico e não mais restrita à obediência do espaço disponível.

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a arquitetura, as obras mais marcantes foram as gigantescas catedrais onde a verticalidade, em contraste com os templos gregos rigidamente horizontalizados, traduzia

a ânsia de alcançar o Divino. A riqueza e abundância nos mínimos detalhes faziam da suntuosidade uma característica marcante nas construções, que contrastavam a imponência sombria de suas muralhas externas com a rica suavidade dos ambientes internos, decorados com pinturas coloridas, e onde a escultura assumia um novo patamar na decoração, agora como parte do enquadramento arquitetônico e não mais restrita à obediência do espaço disponível.

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inda neste cenário, mais uma inovação surgiu de maneira marcante: belíssimos vitrais e rosetas que, retratando passagens bíblicas e figuras da realeza, clero e nobreza, ba-

nhavam os ambientes internos de luz e cor, criando uma atmosfera, como sugere Gozzoli, de “distância evocativa da transcendência celeste” em um resultado deveras imponente (Oliveira apud Gozzoli, 1986, pp.6-15). A escultura passa a ser vista como parte da arquitetura, não mais obedecendo aos espaços disponíveis, mas como parte autônoma das edificações, com imagens realistas e de belas proporções.

Figura 4 - Catedral de Milão

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Figura 4 - Catedral de Milão

ogo, as cidades rivalizavam entre si, buscando erigir a mais imponente das catedrais, que traduziria, na arquitetura, a riqueza e o prestígio de sua cidade mãe. ambém é interessante ressaltar que o uso da nomenclatura “Gótico” remonta a cerca de um século depois surgimento do estilo propriamente dito, durante o século XII, como

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uma forma pejorativa de referir-se ao movimento. “Gótico” era a denominação dada pelos primeiros humanistas a tudo o que não se enquadrava aos postulados estéticos da tradição clássica. Era, portanto, um termo sumamente pejorativo, amplamente utilizado em textos renascentistas como um insulto ao que era de tradição bárbara, considerado primitivo e feio (Oliveira, 2010).

Figura 6 – Vitrais e Rosetas

A Tipografia Gótica

Como era de se esperar, a letra escrita apanhou o comboio do progresso e dos novos ideais estéticos e também ela se renovou artisticamente.” (Oliveira, 2010, p.22)

S

e o objetivo era unificar toda a expressão cultural europeia sob um mesmo estilo renovando todo o cenário artístico da época, era necessário que a

letra escrita também acompanhasse essas novas mudanças. Universidades em Pa-

ris, Bolonha e Oxford já buscavam maneiras de fazer da tipografia uma parte ativa da estética gótica, em paralelo à arquitetura, reproduzindo os ideais transmitidos pelo movimento.

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ogo, um novo estilo tipográfico foi apresentado ao mundo. Uma clara evolução da minúscula carolíngia, esta nova letra gótica também associava a verticalidade imperativa

da arquitetura e sua riqueza de detalhes. À semelhança dos vitrais que rasgavam as muralhas das catedrais, os vãos e barrigas das letras eram estreitos, contrastando com o corpo tipográfico pesado e escuro.

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O

s elementos que permitem identificar diversas Góticas a partir do século XII são: letras violentamente condensa-

das, com formas quebradas (fracturadas) ou geométricas, hastes e descendentes reduzidas, proporcionando mais letras por linha e mais linhas por página. Esta compactação do texto foi ainda reforçada pelo uso contínuo de abreviaturas. (Oliveira apud Heithlinger, 2006, p.154).

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stas características permitiram uma significativa redução no tamanho dos livros, mas, em contra partida, geraram páginas escuras onde as manchas de texto negras contrastavam de maneira gritante com a cor clara do papel. Isso fez com que o estilo

também fosse conhecido por “black letter”.

O

fato da tipografia gótica ter surgido em um momento onde a escrita resumia-se ao manuscrito, sem que houvesse ferramenta para impressão ou cópia dos documentos fazia

da letra uma expressão direta do calígrafo responsável. Do mesmo modo, o calígrafo era um reflexo direto da sociedade em que vivia, de modo que o contexto sociocultural dos diferentes países europeus logo deu origem a uma vasta gama de estilos tipográficos, ainda que contidos dentro das características góticas.

O

liveira aponta que, inicialmente, dois destes novos estilos, tidos como letras de livro, foram aceitos como formais:

• Gótica de textura: também chamada gótica de forma ou gotisch, tinha sua composição fortemente marcada por quebras repentinas dos traços, conforme retrata a imagem a seguir.

Fonte: figura adaptada do livro Caligrafia e tipografia góticas: fatores culturais, políticos e religiosos inerentes a uma forma de letra. 22


• Gótica de suma: ambém conhecida como gótica rotunda ou rundgotisch, foi especialmente presente na Itália e tinha como característica principal a forma arredondada, revivida da minúscula carolíngia.

• Gótica bastarda: também chamada gótica primitiva, é citada aqui apenas como complemento uma vez que não é um estilo propriamente dito, mas o conjunto de toda e qualquer forma de letra gótica que, não se encaixando em nenhum estilo formal, teve uso em documentos, ainda que de nível regional. (Oliveira, 2010).

A diferenciação do Gótico ao longo da Europa

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expansão da arte gótica pela Europa Ocidental não foi linear e existiram casos em que o gótico quase não existiu,

se se comparar com o gótico francês. Em todos eles, o que se verificou foi uma adaptação da ideologia francesa para cada região, de acordo com os recursos humanos, técnicos e materiais disponíveis. (Oliveira, 2010, p.32).

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artindo do princípio acima exposto, três diferentes países podem ser citados como bons exemplos da aceitação inconstante do estilo no continente: a Inglaterra, que Oliveira considera “entre todos, o caso mais especial”, a Alemanha, que conser-

vou até muito tarde o estilo românico, e a Itália, onde menos se pode notar a influência gótica.

Inglaterra

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U

ma das mais marcantes característica do gótico inglês foi ter-se desenvolvido em paralelo com o estilo na França, ainda que dotado de características muito particulares. A solenidade inglesa marcou também a arquitetura, onde o predomínio

de formas retangulares resultou em um construções que podem ser consideradas extremamente pobres em comparação às francesas, tendo “uma beleza especial, embora um tanto quanto fria, por certo menos acolhedora que a das catedrais francesas: devem sua rigidez sobretudo à abundância de linhas retas e formas retangulares.” (Oliveira apud Colombier, 1956, pp.203-214).

Figura 9 - Arquitetura gótica inglesa

N

a letra escrita, só muito tarde deu-se a introdução da gótica quando, em 1698, Wynken de Worde introduziu a inglesa antiqua na impressão britânica, uma versão adaptada

da gótica de forma que não foi além dos títulos de periódicos.

Alemanha

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gótico não foi recebido com entusiasmo pela cultura alemã, que se encontrava em uma época de crise política dominada pela instabilidade. A escultura, segundo Oliveira (2010) em muito se assemelhou à francesa, em contraste com a arquite-

tura, na qual o estilo românico continuou predominante até o século XIII, quando começaram

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a ser construídas as primeiras igrejas góticas; mesmo assim, tais edifícios não possuíam grandes dimensões, e muitos tiveram suas construções interrompidas. Também na letra escrita a resistência é forte. Apesar do uso da gótica de forma e do surgimento de diversas bastardas que tiveram aplicação em documentos e manuscritos, a minúscula carolíngia é mantida até o século XIII.

É

só no século XV que a Alemanha finalmente vive uma reforma tipográfica marcante, quando surge a schwabacker, que associava ao gótico as formas típicas da escrita

bastarda em uma letra arredondada e prática. Esta nova forma foi bem aceita pelo povo e sua popularidade cresceu rapidamente, de modo que, já no final do mesmo século, se sobrepunha à gótica de forma.

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o mesmo período, o monge beneditino e mestre calígrafo Leonhard Wagner cria a gótica fractur, ou, do latim, a gótica de quebra. Como o próprio nome nos leva a crer,

a marca desta nova tipografia é a quebra das letras, em profundo contraste com as formas arredondadas da schwabacker. Com a invenção da prensa de tipos móveis a fractur não perdeu seu espaço, logo sendo fundida em tipos de chumbo. Seu uso no Gebetbuch, ou Livro de Orações, encomendado pelo imperador Maximiliano I e conhecido como um dos mais dispendiosos e luxuosos livros de todos os tempos, associou a fractur à nobreza. Quando seu uso em documentos e celebrações foi estendido para letra de livro, sua popularidade cresceu em todo o território alemão e países vizinhos.

Figura 10 - Gótica Fractur

Figura 11 - Gótica Schwabacker

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Itália

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ssistindo aos primeiros passos do Renascimento, um movimento de origem nacional e forte impacto na sociedade italiana, o país resistiu fortemente às influências góticas. Para Bazin, “(...) o verdadeiro Renascimento Italiano, fundado sobre a re-

vivescência da tradição da Antiguidade, pronuncia-se nitidamente na segunda metade do século XIII e será paralisado, no século XIV, pela invasão do gótico, que assume o carácter de uma ocupação estrangeira.” (Oliveira apud Bazin, 1976, p. 152-7).

S

umamente divergentes, o Renascimento visava a busca pelos ideais gregos que se opunham fortemente aos ideais góticos: o racional e a horizontalidade se opunham ao

místico e a horizontalidade estrangeiros mas, mesmo sob a forte oposição apresentada, a Catedral de Milão é um bom exemplo, em solo italiano, do estilo arquitetônico francês.

A

s relações do edifício com o espaço, tanto interior quanto exterior, estão em oposição com as concepções arquitetô-

nicas do templo grego, tal como o cristianismo místico da época gótica se opõe à religião racional dos Gregos. (Oliveira apud Upjow, 1965, p.197-217).

P

or estes motivos, a pintura e a escultura se desenvolveram de maneira muito particular, revolucionando as concepções plásticas da época. Apenas na letra escrita, os italianos permitiram a presença gótica, tendo sua própria interpretação da fran-

cesa com forte influência dos calígrafos locais. Surge então a gótica de suma, cujas características já foram anteriormente explicadas, que foi principalmente empregada em livros de coros e manuscritos eclesiásticos.

Figura 12 - Gótica Rotunda

26


Scriptoria

S

em a presença de qualquer mecanismo de impressão, as letras góticas desenvolveram-se, durante quatro séculos, por meio da caligrafia desenvolvida em oficinas denominadas scriptoriu. Estes descenderam dos antigos scriptoria monásticos,

definidas por Heitlinger como “oficinas caligráficas encarregadas de copiar textos religiosos e por vezes textos da antiguidade”. Para Jorge Bacelar, a origem destas oficinas está associada ao período de declínio do Império Romano, momento em que a escrita foi apropriada pelos monges que passaram a desenvolve-la em mosteiros espalhados por toda a Europa e Ilhas Britânicas, entre 400 e 900 d.C..

A

s ordens monásticas, segundo Heitlinger, “conservaram os conhecimentos e os meios necessários para o fabrico e a cópia dos livros manuscritos, quase em monopólio até o

século XII”, de modo que a escrita assumiu papel fundamentalmente religioso. Assim como a leitura, a caligrafia era uma atividade diária e obrigatória, o que permitiu um aperfeiçoamento considerável da arte copista, ao mesmo tempo em que eram produzidas cópias de documentos importantes da antiguidade. O trabalho de um copista era intenso e pesado, e incluía a cópia do documento e sua ilustração, por meio de iluminuras.

A

pós o século XII, no entanto, o desenvolvimento urbano e a ascensão do ensino universitário resgatam a existência dos scriptoria como “oficinas de cópias comerciais de

livros” (Heitlinger, 2006, p. 157), agora sob caráter laico. Agora, os estabelecimentos religiosos eram clientes, bem como universidades e nobres, de modo que a escrita foi-se tornando independente da religião (Marisa Melero Moneo, 1997).

.

Nestas oficinas, o trabalho era setorizado e as funções eram divididas com o principal objetivo de finalizar o trabalho encomendado como um códice manuscrito, ou seja, uma cópia

que fosse tão aproximada da original quanto fosse possível. Esta técnica de produção permitia a confecção de várias cópias de uma mesma obra de maneira quase simultânea.

F

uncionando junto das universidades e sob a rígida vigilância das autoridades acadêmicas, os scriptoria prezavam pela caligrafia, tendo-a como símbolo da qualidade do

estabelecimento. Uma vez cortado o pergaminho, suporte de escrita utilizado desde a Antiguidade, o mestre do scriptorium iniciava o estudo do layout da página, que visava dar legibilidade, economia e equilíbrio à página, e incluía o cálculo dos espaçamentos, as margens e a mancha de texto, muitas vezes recorrendo-se a linhas orientadoras para sua marcação. 27


U

ma vez escrita, a cópia era unida por tiras de couro a duas placas de madeira que, revestidas de couro, cumpriam sua função de capa e contracapa, sobre as quais podiam

ser aplicados adornos, medalhões e gravuras em baixo relevo. Fechos metálico eram por fim aplicados à obra, que seria encaminhas até as bibliotecas e, quando muito caras, acorrentadas à púlpitos de madeira para impedir roubos, considerados crimes graves.

M

esmo setorizado, o trabalho ainda era árduo e penoso, e muitas vezes, como cita Oliveira em sua Tese “Caligrafia e Tipografia Góticas”, a palavra Ámen ou pequenas

orações eram deixadas no fim de cada cópia, onde os copistas pediam que o leitor rezasse por suas almas, no que também pode ser considerada uma mostra marcante da forte influência exercida pela religião sobre o povo.

U

ma (pessoa) corrige o livro que outra escreveu, uma terceira ornamenta-o com tinta rubra; outra encarrega-se da

pontuação, outra das pinturas, outra cola as folhas e encaderna. Outras ornam a encadernação. Outras cortam as folhas do pergaminho, outras as vão polindo, outra pessoa traça a estilete as linhas que vão guiar o calígrafo. Enfim, prepara-se a tinta. (Oliveira apud Heitlinger, 2006, pp.156-157).

A Prensa de Gutemberg

VS

oltando nosso foco novamente à Alemanha, em 1455 o país tem mais um avanço na área da escrita, desta vez, revolucionária e de importância mundial: a imprensa. ua criação é associada ao ourives alemão Joan Gutemberg, e consistia de um engenhoso mecanismo onde tipos, peças de chumbo fundido no for-

mato de letras, podiam ser agrupados e reagrupados na forma de palavras, frases e páginas. Por meio de uma alavanca, os tipos agrupados e entintados eram pressionados sobre o papel como um grande carimbo, o que permitia a quem manuseasse o equipamento uma assombrosa otimização do tempo de produção de um livro.

28


O

primeiro livro impresso com o uso do equipamento foi a Bíblia de 42 linhas, impressa em gótica de forma. A escolha das letras não foi por acaso: a imitação da letra manus-

crita era uma preocupação durante a fabricação dos tipos, e Tormo explica que esta seria a única letra cuja reprodução artificial obtinha um resultado satisfatoriamente próximo do manuscrito, de modo que não se notasse a diferença (Oliveira, 2010, pp.41).

A

eleição da gótica textur para a impressão da Bíblia de 42 linhas não foi gratuita, é a única letra modular que pode ser

obtida artificialmente sem que se note a diferença com a manuscrita, uma vez que estabelece no ambiente tipográfico os critérios harmônicos necessários para que a composição em chumbo possa funcionar; aquilo que no momento ninguém tinha podido resolver. (Oliveira apud Tormo, 2001, p.15, tradução livre).

A

nova invenção, contudo, não derrubou de imediato o papel dos calígrafos. Ao contrário, sua participação nas primeiras obras impressas foi de extrema importância, uma vez que dominavam o “por de trás” da arte da escrita. A composição das pági-

nas, seu layout, o espaçamento das letras, a medição da mancha de texto, tudo isso era parte da função dos calígrafos, agora responsáveis por transmitir tais ensinamentos aos novos impressores, a fim de trazer aos impressos a qualidade estética dos manuscritos.

O

foco no aperfeiçoamento da técnica fez com que, nos primeiros anos, a forma predominasse nos documentos impressos. Posteriormente, foi a dificuldade encontrada na cria-

ção de diferentes tipos em chumbo a responsável por desencorajar os impressores a adotarem outros estilos de letras nas obras, de modo que a forma não sofreu grandes alterações e seu uso permaneceu contínuo até meados do século XX. Se considerarmos a estimativa de Bacelar de 8 a 10 milhões de impressos apenas nos primeiros 50 anos após conclusão da primeira obra impressa (Oliveira, 2010, pp. 42), a importância adquirida por esta forma de letra foi exponencial.

D

o ponto de vista social, a imprensa alterou radicalmente as estruturas do conhecimento na Europa, com a impressão de cópias idênticas a uma velocidade nunca antes vista.

Os livros, antes tidos como obras de arte destinadas apenas à alta sociedade, agora eram divulgados rapidamente e em diferentes classes sociais. Em seu livro Modern Typography – na essay in critical history, Robin Kinross considera a imprensa o primeiro passo para o desenvolvimento 29


do mundo moderno (Oliveira, 2010, pp.41).

Figura 13 - Bíblia de 42 linhas

O Renascimento Italiano e o Tipo Romano

J

á foi citado que a gótica foi repudiada pela Itália que encontrava-se totalmente envolvida no desenvolvimento de seu próprio movimento: o Renascimento. Não nos ateremos aos pormenores que cercaram este movimento, mas citaremos algumas das

bases sobre as quais se estruturou o movimento que traduziu-se, na linguagem escrita, nos tipos conhecidos como romanos.

C

ontrariando radicalmente os conceitos que regiam o movimento gótico, o Renascimento italiano apresentava tendências fortemente antropocêntricas, e faziam da razão e do

conhecimento os componentes fundamentais do ser humano, à medida que a religião perdia seu papel central sem, contudo, deixar de ser parte da vida da população.

A

retomada dos valores helênicos e romanos buscados por Magno influenciaram fortemente esta nova era italiana. Os artistas também ganharam reconhecimento e a burgue-

sia soube usar de seu poder para equiparar-se à nobreza, exercendo forte influência política sobre as cidades estado italianas, algumas famílias até mesmo chegando a governa-las.

A

s villas, construções situadas nos campos e que haviam desaparecido da Europa após a queda do Império Romano, voltam a ser encontradas, agora como sedes do poder políti-

co e responsáveis pela construção de fortificações e proteção dos compôs. Na arquitetura, o pre-

30


ceito básico era a simetria; em contraste com o estilo gótico, a predominância da horizontalidade louvava o uso de colunas e abóbodas e, em semelhança às antigas cidades romanas, o urbanismo teve papel importante na construção dos novos prédios.

P

or ter sido, um dia, o berço do Império Romano, a Itália possuía em seu território um grande número de antigos monumentos e relíquias arqueológicas que serviram de ins-

piração para a criação de uma nova forma de expressão artística, da qual a letra escrita não ficou de fora.

C

aracterísticas como a linha horizontal, a simetria absoluta, os esquemas geométricos e a procura de novos cânones geo-

métricos, que se viu anteriormente na arquitetura, pintura e escultura da renascença, estão igualmente presentes na letra romana. (OLIVEIRA, Sandra. Caligrafia e tipografia góticas: fatores culturais, políticos e religiosos inerentes a uma forma de letra, 2010, p.53).

R

evivendo o antigo alfabeto romano, o Renascimento encontrou sua expressão escrita que difundiu-se fortemente pela Itália, sendo o tipo predominante no país durante o século XV. Assim como se notou nos góticos, também os tipos romanos

logo se subdividiram em famílias diversas, de acordo com as necessidades de cada povo. Ao início do século XVI, os preceitos humanistas italianos chegavam à França com aceitação admirável, encontrando um solo fértil para o desenvolvimento do estilo em solo estrangeiro. Logo, a letra romana, sob o nome romain, já substituía a gótica nos textos franceses. Em 1519, imprimia-se o primeiro texto francês escrito com letra humanista.

E

m suma, o trabalho e a destreza técnica dos mestres tipográficos franceses, responsáveis por aperfeiçoar a romana vin-

da de Itália, marcou uma viragem histórica na cultura tipográfica francesa, provando a influência que o Renascimento teve neste país que, se bem se recorda, ainda á pouco tempo atrás estava mergulhado nas profundezas da cultura gótica. (Oliveira, 2006, pp.67-68). 31


E

m sua disseminação por outros países europeus, contudo, muitos dos traços impressos na forma das letras pelos franceses foram abandonados, e ela tornou-se, conforme Oliveira cita Heitlinger, mais robustas, cheias, reforçadas e versáteis, perdendo

a fineza típica da então escrita francesa.

I

nicia-se, neste período, um momento de descobertas e inquietações. As grandes navegações apresentam os cristãos a um novo mundo onde seus valores não tem lugar, e a pró-

pria Europa divide-se em suas crenças religiosas. Uma sucessão de movimentos artísticos ganha lugar no continente, cada um imprimindo aos tipos humanistas um pouco de sua ideologia, sem, contudo, revolucionar a letra escrita.

N

este cenário, em 1811 a Inglaterra apresenta ao mundo a prensa mecânica, reduzindo o processo de impressão para apenas três passos. Os melhoramentos que se seguiram

resultaram, em 1814, em uma máquina de dois cilindros capaz de reproduzir 1100 exemplares por hora. Com isto, uma explosão no número de jornais diários, cartazes e folhetos de propaganda fez-se notar, de modo a criar condições mais significativas para o desenvolvimento da comunicação visual em seus variados meios.

Figura 14 - Letra Romana

32


Resistência e queda da tipografia gótica

E

nquanto a letra romana ganhava espaço na Europa, na Alemanha a situação era bem diferente. Martinho Lutero buscava a formação de uma nova igreja que iria contra muitos pontos base da Igreja Católica, e utilizou-se da tipografia como forma de

simpatizar ao povo seus ideais: utilizando-se da gótica fractur, letra intimamente alemã, Lutero iniciou a tradução da Bíblia para o alemão.

D

e modo perspicaz, inseriu iniciais romanas em momentos onde o mal era destacado na Bíblia, criando uma assimilação quase subconsciente entre a letra humanista, o mal e a

Igreja Católica, enquanto a gótica fractur associava-se ao Protestantismo e ao bem. Para Tormo e Oliveira, como nunca antes havia sido presenciado, agora o campo de batalha entre duas vertentes religiosas dava-se no campo da letra escrita.

N

esta sua missão de renovação espiritual, Lutero tinha o objectivo de falar a todas as classes sociais e a todos os

povos dos estados alemães, sem excepção. Para isso, iniciou o importante trabalho de tradução da Bíblia latina para o alemão vernáculo, na qual incluiu expressões de dialectos diferentes, adoptando, assim, uma linguagem mais expressiva e sucinta. (Oliveira, 2006, pp.86).

A

nova doutrina de Lutero foi bem aceita pelo povo alemão, ansioso pela formação de uma nação alemã. Logo, a letra romana ficou restrita a textos científicos de caráter universal enquanto a fractur dominava a literatura, a cultura e a política do país,

sendo muito mais do que uma expressão religiosa. A letra passou a ser o símbolo de um povo, de uma nação.

O

Movimento Barroco veio para alterar a construção do tipo gótico apresentando à fractur hastes curvas de elefante (elefantenrüssele) e cumes esféricos, atingindo seu ponto

alto em letras excessivamente ornamentadas em um estilo que, segundo Oliveira, sufocava a própria mensagem.

N

o século XVIII, um grande aumento populacional mescla-se a um avanço tecnológico de grande escala, o homem submete-se à máquina e a massificação dos bens de 33


consumo traz consigo o advento do capitalismo econômico. Neste contexto, o movimento Arts and Crafts surge em prol da produção artesanal e da originalidade, rejeitando a industrialização e seus produtos, tendo a Natureza como principal fonte de inspiração, servindo, por sua vez, de base para o estilo romântico. Sem um estilo de expressão propriamente dito, o Romantismo vai buscar seus moldes no passado, recorrendo aos estilos encontrados durante a Idade Média, em uma tentativa de encantar e estimular a imaginação e os sentimentos, retratando como novos heróis pessoas reais.

O

Romantismo surgiu, por sua vez, para contrariar os preceitos do Neoclassicismo francês, encontrando paralelo na Revolução Industrial inglesa, pregando o sentimento, o

movimento, o subjetivo. As linhas horizontais e verticais eram agora substituídas pelas diagonais e a expressão individual e espontânea ganhava força. Até o século de seu surgimento até o século XIX, o Romantismo torna-se uma importante filosofia orientadora para o povo alemão, e a forma orgânica dos tipos góticos encontra apoio neste movimento, sendo uma representação do infinito em contraposição à ideia de finito grego expresso pelo tipo romano. Além disso, as formas da fractura estavam intimamente ligadas as formas do cristal, uma metáfora espiritual que foi símbolo da nação alemã. “O cristal considerava-se ‘celestial’ e eternamente imutável, algo que transcendia inclusive os ciclos da história.” (Oliveira apud Mirsky, 2001, p. 22, tradução livre).

M

esmo assim Oliveira comenta que o autor Christopher Burke é da opinião que a letra gótica passou por um período de fragilização diante da romana durante as invasões

Napoleônicas na Europa, que reforçaram a influência cultural francesa sobre o continente. Essa situação reforçou o dilema que cercava a classe alta alemã desde o surgimento da letra humanista e, em 1790, o alemão Johann Friedrich Unger apresenta o ambicioso projeto tipográfico que mesclava as duas tipografias antagônicas, a Unger-Fraktur, o primeiro tipo híbrido alemão. Oliveira aponta o seguinte.

N

a opinião de Yvonne, foi o primeiro tipo que conseguiu superar a disputa gótica ou romana, porque contém ca-

racterísticas dos dois estilos de letra. “A UngerFraktur, muito ligeira e classicista, combina a racionalidade francesa sem abandonar a linguagem sensualmente dinâmica da gótica de fractura: a fantasia trabalha junto com a razão e não contra esta.” (Yvonne, 2001, p. 85, tradução livre). 34


C

om o advento do Segundo Reich, a disputa entre os dois estilos não acabou, mas mudou de aspecto, enquanto diversas variações de letras passaram a ser desenhadas. “A gótica representava agora uma afinidade com as passadas demarcações culturais

e políticas, enquanto que os desenhos de olho romanos encarnavam o europeísmo ilustrado.” (Oliveira apud Yvonne, 2001, p. 85, tradução livre). Outra característica a ser notada é que, em resposta ao uso do tipo romano na publicidade no restante da Europa, a tipografia gótica tornou-se mais pesada, de modo a facilitar sua visualização em ambientes externos.

L

ogo, com a virada do século XX, contempla-se uma nova consciência social e estética que expressa-se por meio da Art Nouveau. Surgida em uma época de inovações tec-

nológicas marcantes como o telefone, o cinema e o automóvel; Contrária ao Arts and Crafts, utilizou-se de suas bases conceituais e associou-se à Revolução Industrial para evoluir artística e socialmente. Pregava a associação do manual e do industrial, rejeitando os estilos acadêmicos enquanto estimulava a criatividade e a originalidade. Estendendo-se a todas as áreas artísticas, a Art Nouveau não deixou de lado a tipografia.

N

a Alemanha, este movimento assumiu o nome de Jugendstil e, segundo Oliveira, “assumindo-se como um movimento vanguardista, procurou uma ruptura com os valores

artísticos tradicionais e foi a vertente da Arte Nova onde mais se desenvolveu o desenho de tipografias” (Oliveira, 2010, p. 101). Em suma, iniciou-se a busca por uma estética menos decorativa das letras góticas, consequentemente da fractur por parte dos tipógrafos nacionais, resultando na criação de diversas bastardas, à semelhança da Unger-fractur anteriormente citada.

N

a opinião de Yvonne, foi o primeiro tipo que conseguiu superar a disputa gótica ou romana, porque contém ca-

racterísticas dos dois estilos de letra. “A UngerFraktur, muito ligeira e classicista, combina a racionalidade francesa sem abandonar a linguagem sensualmente dinâmica da gótica de fractura: a fantasia trabalha junto com a razão e não contra esta.” (Yvonne, 2001, p. 85, tradução livre).

35


A

s bastardas, de maneira geral, tinham em si menos adornos que a fractur convencional, sendo mais práticas e evocando muito do desenho das letras romanas. Apesar de não ter sido uma mudança proposta ou incentivada pela população em geral, os

grandes tipógrafos defenderam com afinco a romanização das letras alemãs, tornando-se quase inevitável a proliferação das bastardas. Graças a novas técnicas que aceleravam o processo de fundição dos tipos, um grande número de novas letras surgiu.

Figura 15 - Unger fractur

N

este momento, porém, a simples criação de letras que remetessem aos dois estilos torna-se insuficiente: levando-se em conta estilos tão diferentes e que em si traziam

tantas divergências ideológicas e históricas, uma escolha decisiva é cobrada e a Alemanha acaba dividida em suas opiniões. Até mesmo comitês foram criados para defender cada um dos lados em debate.

A

escrita dual (o emprego simultâneo da letra gótica e da romana) foi uma prática habitual durante os séculos que se

seguiram à invenção da imprensa, especialmente na Alemanha. Por exemplo, os impressores de muitos dos estados alemães compunham os textos mais literários de gótica de fractura, enquanto que os textos científicos apareciam em romana. (Oliveira apud Willberg, 2001, p.70, tradução livre).

T

al situação culminou, em 1911, quando a Associação Geral para as Letras Antiguas (Romanas) levou ao Parlamento Alemão uma petição. Nela, propunha-se a normalização, segundo Oliveira e Burke, dos tipos romanos na Alemanha, especialmente

na escrita manual. Tal medida, que alteraria a própria estrutura do sistema de ensino alemão onde 36


a fractur era a primeira letra ensinada, não foi aprovada em votação, apesar da pequena maioria dos votos (85 contra 82).

E

m 1917, um acordo entre academias municipais alemãs propunha novamente o ensino da romana antes da gótica, mas tal mudança nunca chegou a ocorrer, uma vez que a

Primeira Grande Guerra Mundial alterou drasticamente a sociedade no período, derrubando o Império Alemão e seu modelo de governo. A Guerra teve impactos profundos na população, devastando seus valores morais, tradicionais e religiosos. Pelos anos que se seguiram, frente a morte e a destruição causada pelo conflito, diversos movimentos artísticos surgiram por toda a Europa. No contexto tipográfico, o mais inovador foi o Futurismo, ao pregar uma completa revolução das clássicas leis que regiam o layout das páginas de livros na época.

N

este período, em 1919, a Alemanha apresenta ao mundo a Bauhaus, escola fundada por Walter Gropius em Weimar e que contava com docentes vindos de diversas partes

da Europa para instruir futuros arquitetos, artistas plásticos e designers que buscava inovar por meio da expressão própria de cada aluno. A tipografia, como era de se esperar, não podia ser deixada de fora e logo tornou-se o foco de estudo da nova escola.

B

uscava-se, a esse período, uma tipografia completamente nova, sem serifas, notoriamente geométrica e que buscava a total separação dos antigos elementos históricos

e decorativos das letras. Apesar de conseguir alcançar seus objetivos, a primeira exposição da Bauhaus não tem os resultados esperados da opinião pública, que julgou-a demasiado avançada para a época. Como resultado disso, apenas seis anos após sua fundação, a Bauhaus muda sua sede para Dessau. Ainda neste mesmo ano a escola inicia o curso de Tipografia e Publicidade, cuja direção ficou a cargo de Herbert Bayer, ex-aluno da fundação e que criou, ainda neste ano, o “alfabeto universal”.

S

ob o nome de sturm blond, a tipografia jamais chegou a ser comercializada, mas traduziu magnificamente bem os preceitos do modernismo em letras compostas apenas

por circunferências e linhas retas, era “universal” pela total ausência de elementos decorativos que as caracterizassem como proveniente de um país ou região. Outra diferença apresentada neste tipo era a ausência de maiúsculas, que seu criador julgava desnecessárias; tal eliminação, segundo Bayer, também facilitaria o aprendizado nas escolas e economizaria espaço e material aos tipógrafos. Encantado por esta nova tipografia, o calígrafo Jan Tschichold, especialista no fabrico de livros, tornou-se um dos principais porta-vozes do novo conceito tipográfico, e entre 1926 e 1929, apresentou ao mundo o segmento da obra de Bayer, propondo uma ousada revisão 37


de signos da fonética alemã.

A

funcionalidade procurada neste alfabeto foi levada ao limite com a eliminação das letras maiúsculas, que Bayer justifi-

cava serem desnecessárias, uma vez que na leitura não se fazia distinção entre maiúsculas e minúsculas, ao mesmo tempo que se tornava mais fácil a aprendizagem da leitura nas escolas e se poupava recursos e espaço ao tipógrafo que passava a dispor apenas de um conjunto de letras minúsculas. (Oliveira, 2001, p.119).

Figura 16 - Sturm Blond

S

obre a sequente criação de diversos novos estilos tipográficos, Burke aponta que os adeptos à Bauhaus eram favoráveis ao abandono da fractur, assim como dos demais estilos provenientes da escrita manual, dos textos alemães (Olveira, 2010).

Renner, um dos grandes nomes ligados à tipografia da época, apontava a letra romana como tronco de uma “árvore genealógica das tipografias”, de cujas maiúsculas descendiam todas as demais formas e evoluções tipográficas posteriores. Para ele, a fractur não era de fato alemã, e nem deveria ser a expressão de seu povo, uma vez que haviam surgido, originalmente, em solo francês. Deveria, por tanto, ser substituída pelas sans serif, que deveriam continuar a ser aprimoradas.

T

schichold igualmente defendia o advento das sans serif, porém por outros motivos: para ele, continuar a utilizar uma tipografia antiquada diante da evolução que o mundo

vislumbrava era descabido, como construir castelos góticos em pleno século XX. Para ele, em um mundo que vivia uma evolução universal, também era necessário que um alfabeto universal fosse contemplado. Tal alfabeto deveria excluir qualquer tipo de ornamentação, até mesmo as serifas aplicadas aos tipos romanos. 38


A

gora a antiga batalha Gótica versus Romana ganhava uma nova competidora: a sans serif. Porém os rumos desta história mudam drasticamente com a Grande Depressão de

1929, que colapsou a economia alemã e intensificou a instabilidade política que já se arrastava por quatro anos no país. Temendo uma revolução por parte do partido socialista, então apoiado pelo povo, a alta burguesia passou a apoiar o setor político de extrema direita, e consequentemente o Partido Nazista.

Figura 17 - Sans serif

O

ano de 1933 foi marcado pela eleição de Adolf Hitler como Chanceler alemão e o encerramento das atividades da Bauhaus por pressões políticas. Com a morte do então

presidente Paul von Hindenburg, Hitler funde as funções de Presidente e Chanceler, assumindo o cargo de Fuhrer und Reichskanzler, subordinado o exército à sua vontade e convertendo a Alemanha em um estado militar, nacionalista e ditatorial até 1945, sob a bandeira suástica do Partido Nazista.

O

Partido Nazista pregava a supremacia ariana e a limpeza das raças. Em quatro anos, reduziu o desemprego alemão de seis milhões para um milhão, aumentou o PIB em

uma média de 9,5% ao ano e o crescimento industrial foi de 17,2% ao ano entre 1933 e 1936. O rearmamento tornou-se uma das bases da política nacional e a Marinha e a Força Aérea foram reconstruídas. Diversos jornais foram fechados, livros queimados e alemães presos, mortos ou exilados por não aceitarem o nazismo.

N

o campo das artes, todas as expressões artísticas passaram a ser parte da propaganda política do partido, pintura, fotografia e mesmo o cinema eram submetidos a uma

censura rigorosa. Na tipografia, foi oficializada a letra Volksschrift, a letra do povo, tipografia gótica que deveria, obrigatoriamente, ser utilizada em todos os impressos. Nas escolas, novamente a gótica era ensinada antes da latina. O fato de a Alemanha ser, neste ponto, o último país a utilizar a letra gótica foi mais uma ferramenta de Hitler para estimular o nacionalismo alemão. 39


Concursos de desenho de tipografias góticas e exposições sobre o tema em grandes museus alemães eram uma forma de enfatizar a inerência do estilo ao povo alemão. Neste contexto, a perseguição por parte do governo aos ideais modernos pregados pela Bauhaus resultaram em seu fechamento, muitos de seus expoentes fugindo do país para evitar a repressão nazista.

A

pesar da firmeza de Hitler em adoptar exclusivamente a letra gótica como tipo oficial, o facto é que as suas opções es-

téticas posteriores não mostraram essa unanimidade. Vários autores apontam as divergências de opinião dentro do próprio partido nazista: “(...) enquanto que o ministro de propaganda de Hitler, Joseph Goebbels, se sentia atraído por certas tendências modernas da arte, Alfred Rosenberg, fundador da Organização de Luta para a Cultura Alemã, rejeitava a vanguarda e considerava-a um perigo para os ‘antigos’ valores do povo alemão.” (Burke, 2000, p. 147, tradução livre). (Oliveira, 2001, p.133).

M

as a lei que determinava a gótica como letra oficial da nação alemã encontrava divergências dentro do próprio partido nazista, e o próprio ministro da propaganda de Hitler, Joseph Goebbels, sentia-se atraído por algumas tendências

modernas. Em cartazes hollywoodianos e em toda a publicidade dos Jogos Olímpicos de 1936, a letra gótica foi deixada de lado em função das romanas. Oliveira cita que, durante vários anos, desenhos da gótica fractur foram usados lado a lado com tipos mais modernos, até que os nacional-socialistas decidiram criar uma nova tipografia sem relação formal com a fractura ou a schwabacher, mas com a gótica de forma e a romana, e a eliminação da maior parte dos elementos caligráficos resultou mesmo em uma forma gótica sem remates, com maiúsculas mais simples em uma sensível modernização da forma gótica.

Y

vonne (2001) vê estes desenhos de tipo como algo artificial, forçosamente criados por mitos de poder e não pela

linguagem e pela poesia. Fala de degeneração da mente e da alma, de uma estilização das formas através de um sentido heróico e militar, de um tipo que é testemunha de uma ditadura que des-

40


considera o ser humano, que deixa de parte a sua diferença subjectiva para se tornar num símbolo nacional socialista, focado em eliminar a tensão criativa entre a gótica e a romana. (OLIVEIRA, Sandra. Caligrafia e tipografia góticas: fatores culturais, políticos e religiosos inerentes a uma forma de letra, 2010, p.134).

P

ara Burke (2000), este novo desenho refletia a arquitetura nazi, essencialmente baseada no classicismo transformado no que Oliveira chama de “austeridade modernizada”. Este novo estilo também traduzia a ambição de Hitler de unir povos

arianos que viviam em outros países próximos e expandir o território alemão para regiões eslavas afim de conseguir o “Espaço Vital” necessário à raça ariana e à instauração da “Nova Ordem”. Também almejava territórios da França e Inglaterra, e o trigo e petróleo russos, iniciando seus planos de conquista em 1936.

E

m 3 de janeiro de 1941, porém, um decreto oficial emitido por Martin Bormann surpreende a Alemanha. Por meio dele, a letra até então considerada genuinamente alemã era

agora chamada “letra judia Schwabacher”, acusada de infiltrar-se na escrita quando os judeus adquiriram oficinas de impressão. O decreto também normalizava a letra romana como nova letra oficial, abolia o ensino da escrita gótica nas escolas, ordenava a imediata substituição dos tipos das oficinas e a progressiva substituição dos materiais já impressos com tipografia gótica. A proposta não foi unanimemente aceita na sociedade alemã, mas no cenário da guerra e da ditadura Hitleriana, qualquer teoria ou apelo contrários às ordens superiores seriam simplesmente ignorados.

A

s explicações oficiais para o decreto foram contraditórias e infundadas, conforme observa Oliveira. Na verdade, os interesses por trás da nova ordem eram puramente políticos.

“Em 1941, os exércitos de Hitler venciam em todos os lados e a potência mundial do futuro devia adaptar-se ao “tipo mundial” (a romana) para exercer o seu poder”. (Oliveira apud Willberg, 2001, p. 77-8, tradução livre). Para Willberg, a gótica passou a ser associada, nos territórios conquistados pelos alemães, como a escrita do invasor, e o uso da romana eliminava tal ideia. Contudo, a gótica não desapareceu por completo, sobrevivendo ainda na área da gastronomia e em títulos de periódicos.

N

o contexto bélico, após uma sucessão de vitórias do exército nazista, em uma virada drástica nos rumos da Segunda Guerra Mundial, a Alemanha passa a sofrer uma sé41


rie de derrotas e um bombardeio, por parte dos ingleses, que duraria de 1942 até 1945, ano em que Berlim se viu completamente cercada pelos soviéticos. Neste cenário, Hitler e sua mulher suicidam-se em um bunker na cidade. A Alemanha é então dividida entre as potências vencedoras, ficando a República Federal da Alemanha sob o domínio da França e dos Estados Unidos e a República Democrática da Alemanha sob o domínio Soviético.

O Ressurgimento do tipo gótico

N

a busca por limpar a história da tipografia gótica das máculas deixadas pelo regime de Hitler, uma nova escola de design foi fundada na Alemanha Ocidental, recebendo financiamento norte americano e de empresas alemãs. A Hochschule

Fur Gestaltung Ulm era fortemente influenciada pela Bauhaus, chegando a contar, em seu corpo docente, com antigos membros da antiga escola. Apesar de muito promissora, conflitos ideológicos internos e externos levaram a instituição a encerrar suas atividades em 1968.

N

o ambiente alemão, os tradicionalistas foram buscar as suas referências históricas para continuarem o desenvol-

vimento da tipografia tradicional. Leipzig continuava a ser o centro da cultura tipográfica, mas agora restrito só à RDA, que em comparação com a sociedade economicamente avançada da RFA, passou a ser culturalmente vista como uma sociedade conservadora. Como acontecia anteriormente, a tipografia tradicional ficaria ligada aos editores literários, às oficinas de impressão, sendo que algumas delas ainda existiam, bem como à pesquisa histórica. (Oliveira, 2001, p.144).

N

este momento, surgem novos desenhos da fractur, vistos na Poppl Fraktur, “artística e fluída, da autoria de Friedrich Poppl” em 1986, e na Duc de Berry, “bastante decorativa, da autoria de Gottfried Pott”, em 1991. (Oliveira, 2010).

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Figura 18 - Poppl fraktur

I

nfelizmente, logo a tipografia gótica é associada à ideologia neonazista, como transmissora de seus preceitos. Também passa a ser símbolo de movimentos musicais como o

heavy metal e o punk metal, e a identidade da própria tribo gótica nos dias de hoje. Em todos estes casos, associa-se ao caos, à morte, à rebeldia e mesmo ao satanismo.

A

imagem visual veste a cultura ocidental de hoje; os cultos musicais definem-se em si mesmos como um protesto contra

o suprimento de percepções sensoriais; o sentimento, o instinto e a intuição substituem a razão e o pensamento analítico, tornando-se nos meios de comunicação entre os jovens, em vez da própria linguagem. Esta substitui-se por factores mais fechados como a raça, o género, a classe, a sexualidade e o poder, tendo correspondência visual em “símbolos mágicos de fantasias nacionalistas e racistas, de crenças irracionais e de mitos.” (Yvonne, 2001, p.97, tradução livre). (Oliveira, 2001, p.151).

A

pesar disso, a busca pelo ressurgimento da letra gótica desassociada dos valores obscuros que nela estão refletidos resulta, hoje, em um intenso trabalho que vem sendo desenvolvido por jovens tipógrafos na Alemanha. Um dos objetivos do trabalho é

criar novos tipos góticos, funcionais e desassociados de qualquer nacionalismo ou referência à era sombria vivida pelo estilo, focando agora na qualidade estética das letras.

C

omo exemplo deste novo trabalho, temos a Fraktoer, de Hans Heitmann, professor da Escola Superior Técnica de Augsburgo. Apesar dos estudos que comprovam a legibili-

dade destas letras, Yvonne aponta que em um contexto sociopolítico global perpetuará a descriminação do estilo (Oliveira, 2010). A autora defende que os tipos góticos são passageiros 43


restritos ao contexto em que são inseridos, mas existe uma exceção.

A

excepção à regra indicada pela autora é o tipo Litteratra de Karsten Lücke, um tipo híbrido que abandonou os maneiris-

mos desnecessários e que, na sua perspectiva, tem todas as condições de se tornar um desenho de tipo contemporâneo de grande utilidade. (Oliveira, 2001, p. 168).

P

or sua vez, Willberg (apud Oliveira, 2010) defende que a qualidade da forma gótica como veículo de escrita perdeu-se após o regime nazista. Tormo (2001), porém, acredita que a era digital trouxe nova vida ao estilo, já que o requerimento

da forma digital é plenamente correspondido pelas formas da letra fraturada. Assim, não existe qualquer consenso sobre o destino da tipografia gótica.

44


Delimitação do Projeto, Métodos e Técnicas

45


Compreenção Delimitação do Projeto

C

riação de uma série de cinco cartazes para divulgação de informações acerca do estilo gótico como forma de “curiosidades” sobre o movimento. O foco será para a tipografia, mas diversos temas relacionados serão abordados, tais como os preceitos

que regiam o movimento, sua influência na arquitetura e seu papel fundamental em importantes momentos políticos da história, como o regime nazista e a Reforma Protestante de Lutero.

Análise Cultural

A

construção gráfica do material remonta aos séculos passados, especialmente entre XII e XV, onde a tipografia gótica teve grande visibilidade na Europa. O fato de usarmos este tipo de letra que há muito caiu em desuso e é hoje associada a movi-

mentos como o neonazismo e estilos musicais como o punk metal e o black metal em conjunto com gravuras e arabescos mais comumente associados ao período clássico poderá causar estranhamento por parte do público. Esta é uma forma eficaz de atrair a atenção para a leitura da mensagem.

Público-Alvo • Classe social: A, B e C; • Idade: 18 – 40 anos; • Sexo: Masculino/Feminino.

Pesquisa de semelhantes 46


P

ara a pesquisa de semelhantes, buscamos antigos manuscritos góticos e cartazes desenvolvidos por designers em formação que se baseavam nas páginas dos livros góticos medievais.

Figura 19 - Cartaz

Figura 20 - Cartaz

Figura 21 - Manuscrito

Figura 22 - Manuscrito

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Figura 23 - Capitular

Identificação de oportunidades

O

tratamento do tema quase que exclusivamente por livros acadêmicos pode desestimular interessados no tema que não tenham familiaridade com a leitura. Isso, associado à ausência de projetos gráficos semelhantes ao proposto, oferece um

novo campo a ser explorado, fazendo da novidade uma grande aliada na busca por despertar a atenção do público alvo.

Definição de Problema

A

ausência de projetos informativos semelhantes não fornece campo para uma pesquisa de semelhantes aprofundada. A extensão do período histórico estudado e a quantidade de informação compilada também dificulta em muito a tarefa de escolher

“trechos” do tema a serem divulgados nos cartazes.

Definição do Objetivo

48


O

objetivo é desenvolver uma série de cinco cartazes que visam a reprodução de antigas páginas manuscritas, encontradas durante a pesquisa. A diagramação das “páginas” será baseada na sequência matemática de Fibonacci, em uma apresen-

tação rápida dos alfabetos góticos referentes a cada estilo de letra gótico. Também há base nos conceitos de Jan Tschichold, tomando como modelos de semelhantes algumas obras de diagramação de sua autoria, ou que empreguem suas teorias.

C

omo já foi anteriormente mencionado, o objetivo é atrair a atenção e despertar a curiosidade para pontos referentes ao estilo e à tipografia góticos, oferecendo informações

básicas e de fácil entendimento que motivem o espectador a se aprofundar no estudo por meio de livros específicos.

Compreenção (2º Parte) Geração do Conceito • Gótico; • Antigo.

Descrição de cada Conceito • Gótico;

É

imprescindível durante abordagem do projeto gráfico manter o estilo visual gótico em foco, caso contrário todo o conteúdo será descaracterizado e o conceito será perdido.

• Antigo;

A

busca por retratar páginas manuscritas ou que remetam aos primeiros anos da imprensa tornam de fundamental importância para o efeito visual proposto que as folhas pareçam

antigas e desgastadas.

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Cores

A

s cores a serem utilizadas foram escolhidas com base na análise de arabescos e iluminuras que remontam ao período gótico. São elas:

• Azul Real: C:91; M:74; Y:29; K:0. Pantone: 653 C

A

ssociado à harmonia, à busca pelo céu e pelo infinito. Também é uma cor associada à nobreza e a realeza.

• Carmesim: C:0; M:91; Y:73; K:14. Pantone: 181 C

D

esde muito tempo é associada à nobreza e ao clero, pelo elevado preço do corante utilizado para tingir os tecidos, de modo que só podiam ser adquiridos por quem tivesse

boas condições financeiras.

• Verde: C:92; M:46; Y:91; K:11. Pantone: 349 C • Verde: C:64; M:23; Y:53; K:0. Pantone: 556 C

R

emete à saúde, bem estar e à natureza, em paralelo aos arabescos florais e formas orgânicas comuns no adorno das páginas dos livros antigos.

• Magenta Escuro: C:0 M:100 Y:0 K:50. Pantone: 235 C

T

ambém uma cor nobre e que remete a mudança e transformação.

• Dourado: C:0; M:24; Y:85; K:15.

T

alvez a cor que mais remeta à riqueza, entra aqui como forma de retratar o ouro que era utilizado para ornas as gravuras dos livros góticos medievais.

Tipografias relacionadas

A 50

escolha por tipografias que fossem fiéis aos estilos góticos oficiais mostrou-se bastante complicado, já que a maioria não é desenvolvido para fins tão específicos. Apesar disso, foram selecionados os seguintes estilos, cuja aplicação no material


gráfico se enquadra nas necessidades visuais.

Old English Text MT – Gótica textura SanMarco – Gótica Rotunda Alte Schwabacker – Gótica Schwabacker Fette Unz Fraktur – Gótica Fraktur Lucida Blackletter – Gótica Bastarda

Imagens relacionadas aos conceitos

Figura 24

Figura 25

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Figura 26

Geração de alternativas • Rafes:

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Figura 27


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Justificativa dos elementos utilizados

TA

odas as cores foram baseadas nas pesquisas feitas com páginas antigas, e seus conceitos já foram anteriormente citados, s tipografias utilizadas são referências fiéis aos estilos antigos de letra gótica, e foram escolhidos para uma rápida apresentação das letras, altamente

visual e sem blocos extensos de texto, facilitando a assimilação da mensagem.

O

s arabescos, por sua vez, foram montados de modo a se aproximarem dos originais, buscando fidelidade nas formas orgânicas e cores empregadas. A repetição com peque-

nas variações do motivo utilizado proporciona uma linha cronológica da evolução dos estilos, à medida em que a planta evolui em referência às estações do ano. 56


Finalização

O

s cartazes serão impressos em papel couche fosco 250g, em formato A3. Para o efeito metalizado do ouro das iluminuras, capitulares e arabescos, foi cogitado o processo do hot stamp. Outra possibilidade é o uso de purpurina/pó metálico extra

fino.

Situação Futura

A

pós a impressão do material, sua veiculação se dará em exposições em ambientes universitários, especialmente naqueles onde haja cursos de Design Gráfico, de Interiores ou Arquitetura, campos nos quais a aplicação de conhecimentos relativos a

movimentos artísticos seja de maior relevância. O acabamento do material é indicado para ambientes internos, protegidos de intempéries, tais como salas de aula e estúdios.

T

ambém é considerada a composição de um website, ao qual o QR Code estará ligado. Nesta página, a composição também será baseada no gótico, em conjunto com os carta-

zes. Até o momento, o material está redirecionado para a apresentação teórica na íntegra.

Quais resultados esperados

C

onforme já citado, o objetivo deste projeto gráfico é despertar a curiosidade do público-alvo pelo estilo gótico, ao mesmo tempo em que apresenta algumas informações acerca do tema. Espera-se que, por meio das informações transmitidas, recupere-se

um pouco das raízes do gótico, com desassociarão progressiva do estilo aos movimentos de revolta e violência aos quais está atualmente vinculado.

Layout Final

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Considerações Finais

P

rimeiramente, deve-se citar a relevância acadêmica do estudo em questão, que permite consistente embasamento para atividades futuras, tais como construção de tipografias e materiais gráficos baseados no período. Mas houve, acima de tudo,

uma lição muito mais ampla que deve ser reconhecida e aplicada.

A

tipografia gótica assistiu sua época de ouro na Europa, entre os séculos XII e XIV, porém seu comportamento reflete uma situação atual que pode ser aplicada ao design e a todas

as demais áreas da vida profissional. A fim de atingir novos “públicos”, a tipografia modificou-se de modo a atender suas necessidades e, posteriormente, adaptou-se para sobreviver às mudanças de tempos e costumes dos povos. Estas mudanças não resultaram na perda da identidade das letras, antes disso, permitiram que a tipografia em questão se mantivesse ativa por muito mais tempo.

M

udanças e adaptações são necessárias a qualquer profissional ou empresa que planeje manter-se ativo no mercado de trabalho, e comportamentos sistematizados e imutá-

veis tendem, cada vez mais, a serem completamente suprimidos pela concorrência.

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Fontes das Imagens Figura 1 - Minúscula Carolíngia: Na imagem, páginas de um manuscrito escrito em minúscula carolíngia, onde destaca-se o subtítulo em unciais vermelhas, contrastando com o corpo do texto. Fonte: OLIVEIRA, 2012. p. 25

Figura 2 - Meia Uncial: Na imagem, páginas de um manuscrito escrito em meia uncial. Fonte: HORCADES, 2004, p. ?

Figura 3 - Uncial Fonte: HORCADES, 2004, p. ?

Figura 4 - Catedral de Milão: A imponência da arquitetura gótica marcou fortemente este período da História. Na foto, a suntuosa fachada da Catedral de Milão. Fonte: http://www.fotoswiki.org/cidades/fotos-milao

Figura 5 - Catedral de Milão: A riqueza dos pequenos detalhes no interior da Catedral, onde as cores claras e a iluminação privilegiada permitem uma atmosfera clara e suave. Fonte: http://blogs.oglobo.globo.com/milao/post/visitar-catedral-de-milao-tem-um-preco-566147.html

Figura 6 – Vitrais e Rosetas: “Entre todos os corpos, a luz física é o que há de melhor, de mais deleitável, de mais belo; o que constitui a perfeição e a beleza das formas corporais é a luz.” (Oliveira apud Duby, 1972, pp.146-148) e a arquitetura gótica soube usa-la de maneira esplendorosa, associando sua funcionalidade à decoração dos ambientes. Fonte: http://evelisetelles.blogspot.com.br/2016/02/vitrais-de-igrejas.htmlhtml

Figura 7 - Gótica de Textura Fonte: figura adaptada do livro Caligrafia e tipografia góticas: fatores culturais, políticos e religiosos inerentes a uma forma de letra.

Figura 8 - Gótica de Suma Fonte: figura adaptada do livro Caligrafia e tipografia góticas: fatores culturais, políticos e religiosos ineren-

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tes a uma forma de letra.

Figura 9 - Arquitetura gótica inglesa Fonte: https://olivrodaareia.blogspot.com.br/2016/07/lady-chapel-capela-gotica-da-catedral.html

Figura 10 - Gótica Fractur Fonte: Adaptado de http://wiki-de.genealogy.net/Fraktur

Figura 11 - Gótica Schwabacker Fonte: http://luc.devroye.org/rotunda.html

Figura 12 - Gótica Rotunda Fonte: http://luc.devroye.org/myfonts-eastgerman/

Figura 13 - Bíblia de 42 linhas Fonte: http://blogs.odiario.com/inforgospel/2013/02/27/biblia-primeiro-livro-moderno-impresso-completou-558-anos-confira/

Figura 14 - Letra Romana Fonte: http://www.tipografos.net/tipos/jenson.html

Figura 15 - Unger fractur Fonte: http://m.font.downloadatoz.com/font,153463,unger-fraktur-bold-af/

Figura 16 - Sturm Blond Fonte: http://tipografos.net/bauhaus/bayer.html

Figura 17 - Sans serif

Figura 18 - Poppl fraktur Fonte: https://br.pinterest.com/pin/564849978238602690/

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Figura 19 - Cartaz Fonte: https://www.behance.net/gallery/Tipografia-GAtica/601627

Figura 20 - Cartaz Fonte: https://www.behance.net/gallery/7963439/Cartaz-Estilo-Gotico

Figura 21 - Manuscrito Fonte: http://www.wikiwand.com/es/Manuscrito_ilustrado

Figura 22 - Manuscrito Fonte: http://articulo.mercadolibre.cl/MLC-437985125-iluminaciones-30-x-42-cm-aprox-navidad-1390-medievales-_JM

Figura 23 - Capitular Fonte: https://www.kb.nl/themas/boekgeschiedenis/meer-bijzondere-boeken/kalligrafie

Figura 24 Fonte: http://arteciep486.blogspot.com.br/2013/10/iluminuras.html

Figura 25 Fonte: http://www.auladearte.com.br/historia_da_arte/gotico_iluminuras.htm

Figura 26 Fonte: https://www.luso-livros.net/segundo-perido-medieval/

Figura 27 Fonte: http://www.auladearte.com.br/historia_da_arte/gotico_iluminuras.htm#axzz4MYWWDOTu

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Referências Bibliograficas NIEMEYER, Lucy. Tipografia: uma apresentação. 4. ed. São Paulo: 2ab Editora, 2010.

OLIVEIRA, Sandra Raquel Ortiga. Caligrafias e tipografias góticas. 2012. 276 p. Dissertação (Mestrado em Design) - Escola Superior de Artes e Design, Matosinhos, 2010.

WILLIAMS, Robin. Design para quem não é designer. 2. ed. São Paulo: Editora Callis, 2005.

HORCADES, Carlos M. A evolução da escrita: história ilustrada. 1. Ed. Rio de Janeiro: Editora Senac Rio, 2004.

MONEO, Marisa Melero. O melhor da arte gótica 2. Lisboa: G & Z Edições, LDA, 1997. (Coleção, vol. 14).

ARAÚJO, Emanuel. A construção do livro: princípios da técnica de editoração. 2. ed. Rio Grande do Sul: Lexicon Editora, 2014.

BAUMGART, Fritz. Breve história da arte. Tradução Arcos Holler. 2. ed. São Paulo: Livraria Martins Fontes Editora LTDA, 1999.

FARINA, Modesto; PEREZ, Clotilde; BASTOS, Dorinho. Psicodinâmica das cores em comunicação. 5. ed. São Paulo: Editora Edgar Blücher LTDA, 2006.

Top Ten: Tipografia Gótica. Disponível em < https://serifchocolate.com/2009/11/03/top-ten-tipografia-gotica/>. Acesso em 03 de outubro de 2016.

Iluminuras Góticas. Disponível em < http://www.auladearte.com.br/historia_da_arte/gotico_iluminuras. htm#axzz4MYWWDOTu>. Acesso em 03 de outubro de 2016.

O nome da rosa. Diretor: Jean-Jacques Annaud. Intérpretes: Sean Connery, Christian Slater, F. Murray Abraham, Michael Lonsdale, Valentina Vargas. França: Auteurs Associes, Ariane

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