ATIVA PEDAÇO Táticas de ativação urbana
ATIVA PEDAÇO é uma iniciativa que busca melhorar a qualidade da experiência das pessoas no espaço público. A estratégia utilizada consiste em lançar mão de algumas ferramentas que permitam a compreensão dos contextos específicos, e desenvolver projetos de intervenção urbana que façam sentido e contribuam para a ocupação da cidade de uma maneira menos funcionalista. Com o intuito de que essas ferramentas possam ser apropriadas por outras pessoas, e assim potencializar a iniciativa, desenvolvemos este jogo de cartas.
ATIVA PEDAÇO Táticas de ativação urbana
O ATIVA PEDAÇO Depois de dois anos cercada por tapumes, a Praça dos Estivadores, na região portuária do Rio de Janeiro, foi finalmente reaberta. Enfim tínhamos acesso a ela. Porém, apesar de toda a reforma, estava longe de realizar seu potencial enquanto espaço público. Foi dessa percepção que nasceu uma enorme vontade do Estúdio Guanabara de intervir no espaço e propor dispositivos que disparassem novos usos, interações, e encontros. Assim criamos o Ativa Pedaço, em busca de ativar espaços de sociabilidade e transformar as experiências das pessoas no espaço público, contribuindo para a ocupação da cidade de maneira mais democrática.
O projeto na Praça dos Estivadores foi um sucesso e uma grande fonte de aprendizado. A partir de toda a experiência que ganhamos com ele, elaboramos este livreto ilustrado e aberto, com o intuito de disseminar o conhecimento adquirido e abrir espaço para a incorporação de novas ferramentas, potencializando cada vez mais iniciativas como esta. Nossa proposta não é criar um manual detalhado de como intervir no espaço público ou ensinar alguém a fazer projeto. Queremos aqui levantar os pontos que acreditamos ser prioritários em sua elaboração e contar um pouco mais sobre o modo de fazer Guanabara.
ÍNDICE
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COMO USAR O LIVRETO
COMO USAR AS CARTAS? Mais importante que o resultado final do Ativa Pedaço, gostaríamos de compartilhar o processo. Acreditamos que ao dividir nossa experiência, possibilitamos que este tipo de ação possa se disseminar e estimular a construção de cidades com espaços públicos de maior qualidade. O ponto de partida do livreto é o mapa do processo*, que conta a história que vivemos na Praça dos Estivadores em 2016, fala sobre os caminhos que traçamos e o que emergiu deles. Cada etapa do processo está dividida em cartas mestras identificadas pelas diferentes cores. Estas cartas, por sua vez, se subdividem em cartas de ferramentas, identificadas pelos diferentes ícones. As cartas mestras explicam conceitualmente o que é cada etapa e as cartas de ferramentas descrevem o que é cada ação, procurando instrumentalizar o leitor a realizar sua intervenção. * FOLHA A4
COMEÇANDO A SUA
INTERVENÇÃO
COMEÇANDO A SUA INTERVENÇÃO Como ponto de partida para a intervenção no espaço público, aconselhamos reunir um grupo de pessoas interessadas e engajadas. O trabalho é longo e exige dedicação. Ter pessoas comprometidas com o projeto e com a causa do início ao fim é fundamental!
Antes de iniciar o seu projeto, abra o mapa do processo e busque entender, através das cartas, o passo a passo que vivemos. Feito isso, é hora de pensar nas estratégias para a sua ativação junto ao grupo.
Equipes diversificadas e multidisciplinares são muito bem vindas. Algumas habilidades que sugerimos são: elaboração de projetos (arquitetura, urbanismo, engenharia), planejamento, facilitação de processos criativos e artísticos, orçamento, articulação local, montagem e execução de construção.
Que cidade queremos construir?
Em que cidades queremos viver? O que queremos experimentar? Qual o objetivo com esta ação? Quem se beneficia com a intervenção? Quais as ferramentas mais apropriadas?
MAPA DO PROCESSO
* desdobre a folha A4
PROJETO
o projeto Entendemos o projeto como uma ferramenta que estrutura a nossa prática como arquitetos. Ele é essencial para a elaboração de hipóteses, apresentação de cenários, debate de ideias e planejamento da construção. O projeto possui diversas etapas, ao longo das quais são explorados diferentes aspectos de sua composição, desde questões conceituais a questões técnicas e construtivas. Para que se tenha um norte, é importante ter o objetivo claro e comungado pelos seus integrantes desde o início. Um projeto é construído a partir de um processo de síntese, de convergência, de tomada de decisão, em que estão presentes uma
série de escolhas que dão a ele uma certa unidade. O processo de projeto é composto não só por este movimento de síntese, mas também por movimentos divergentes, especulativos, de exploração dos temas, da estética, das possibilidade de experiência que queremos propor. O que está em jogo nas decisões sobre o espaço público que nos interessa falar? Queremos trabalhar aqui a partir de uma perspectiva de direito à cidade, da construção de espaços para a coletividade, de espaços para as pessoas que não venham de contextos de privilégios e aquisições.
PROJETO conceitual
A primeira etapa do projeto é o momento de sonhar, propor e trazer um novo olhar sobre a produção e o uso dos espaços públicos. Poderiam ser mais frequentados, mais confortáveis e mais democráticos, não é?
projeto conceitual Nesta etapa apresentaremos um conjunto de definições iniciais a respeito das intervenções no local. Já parou para observar os elementos e hierarquias que compõem as decisões sobre o espaço público? Os elementos construídos, os diversos ritmos em consonância ou disputa? As cores, cheiros, a qualidade da sua caminhada?
Acreditamos que a forma pela qual o projeto conceitual será comunicado é fundamental para que seja criado um canal eficiente entre o grupo que o propõe e possíveis apoiadores, comunidade e outros envolvidos. Croquis, maquetes, perspectivas a partir do ponto de vista das pessoas e vistas isométricas contribuíram para a nossa compreensão.
Ao abordarmos as questões de projeto, partimos de questões que envolvem a construção de cidades mais democráticas, que garantem às pessoas o direito a elas. A perspectiva da coletividade é essencial para este debate. Mas antes de começar o projeto, vá nas cartas Observação da Vida Pública. Colocamos lá algumas dicas sobre como coletar dados das ruas e praças que você se interessa por intervir.
A partir do momento em que a proposta conceitual é validada, é importante entender que outros profissionais serão importantes para construção das intervenções: engenheiro, marceneiros, serralheiros, costureiras. Entre em contato e coloque-os a par dos objetivos e caminhos.
PROJETO TÉCNICO O projeto técnico consiste em um conjunto de documentos que torna viável a execução da intervenção. Os desenhos contêm todas as informações necessárias para a realização de protótipos e construção final.
projeto técnico No projeto técnico estão presentes as especificações de materiais, sistemas construtivos, quantitativos e detalhes técnicos. É uma ferramenta de extrema importância para o planejamento e para conversar com os demais técnicos envolvidos, como engenheiros, montadores, marceneiros, serralheiros, costureiros, etc.
ARTICULAÇÃO LOCAL
articulação local Consiste em uma série de estratégias que buscam criar um canal com a comunidade local, moradores e pessoas que desfrutam de determinado espaço. Acreditamos em métodos que nos colocam mais próximos dessas vozes, através de uma escuta ativa e da possibilidade de gerar encontros e trocas entre as partes. Esse é o grande alimento de nossa prática.
PESQUISA histórica e atual A contextualização histórica e atual de um determinado território é fundamental para a compreensão da trajetória de sua construção, tanto física quanto simbólica e cultural.
pesquisa histórica e atual Construa uma bibliografia que fale do lugar. Pesquise na internet, em livros, revistas, jornais, filmes e entre pessoas. Lembre-se que os fatos históricos são construções culturais. Não há apenas uma história de um lugar, mas sim histórias contadas a partir de um determinado ponto de vista. Considere as diversas camadas e vozes que falam, estudaram ou viveram um determinado lugar. Busque entendê-las. Para aprofundar sua pesquisa, procure em fontes primárias e a partir dos atores sociais.
MAPEAMENTO agentes e lugares Processo de reconhecimento local, desenvolvido pela Clô Comunicação, que buscou o contato com “personalidades” da região.
mapeamento: agentes e lugares Mapeamento das relações da praça: observação e escuta do campo; questionários e entrevistas em profundidade com moradores, donos, funcionários de estabelecimentos comerciais e empreendedores locais estabelecidos no raio de 500m da praça. Entrevistas com representantes de 10 instituições engajadas em movimentos de resistência cultural.
REUNIÕES SEMANAIS Importantes encontros para a tomada de decisão estratégica, co-criação, engajamento dos envolvidos no projeto e principalmente um momento de aproximação dos grupos e conversas presenciais.
REUNIÕES SEMANAIS A proposta da reunião semanal é estabelecer um dia e horário fixo para promover o encontro regular entre os participantes, em que as pautas e estratégias são debatidas para dar prosseguimento ao projeto. As reuniões semanais são momentos prazerosos, então providenciem o aparato que contribua para sua qualidade, como cadeiras de praia, cooler, bebidas e petiscos. Como um importante espaço de tomada de decisões, as reuniões precisam de engajamento e participação. É fundamental estimular a presença das pessoas e reforçar a importância da articulação coletiva e da cocriação.
ENSAIO DA OCUPAÇÃO O Ensaio da Ocupação é um evento organizado que tem como objetivo colocar em contato as diversas vozes que compõem o processo de transformação do território.
ENSAIO DA OCUPAÇÃO Ensaio da Ocupação foi o nome sugerido pelas pessoas da região para eventos maiores, como oficinas e debates coletivos.
A DINÂMICA FUNCIONA ASSIM:
1 Elege-se uma questão disparadora 2 Coloca-se 4 cadeiras no centro da roda e 3 pessoas são convidadas a começar o debate.
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omo um convite para alguém da roda maior entrar, uma cadeira fica sempre vazia. Quando ela for ocupada, alguém deve se retirar da roda menor.
A questão relativa ao canal de comunicação foi colocada diversas vezes. Como criar uma linguagem comum? Buscando este lugar do encontro, o Ensaio da Ocupação aconteceu com o objetivo de colocar em contato os diversos atores presentes na região. Este espaço não tinha a pretensão de criar um senso comum, era claramente um espaço de disputa, de dissenso, assim como o espaço público. Estávamos interessados em criar um espaço de diálogo.
A dinâmica do aquário contou com facilitadores que conduziram o processo. Neste processo, todas as pessoas que estão participando do evento podem ter voz, eliminando barreiras criadas por uma configuração do tipo “palestra”. Em meio aos encontros periódicos, quatro foram denominados Ensaios de Ocupação, reunindo na praça moradores, comerciantes, empreendedores locais, representantes das instituições locais e passantes. Os encontros utilizaram técnicas de abertura de diálogo e valorizaram o senso de pertencimento, as diversidades e a construção coletiva da ação.
OBSERVAÇÃO DA VIDA PÚBLICA
observação da vida pública MOB, ou metodologias de observação da vida pública, constituem em um conjunto de ferramentas que desenvolvemos para olhar com atenção as características dos espaços públicos, a partir de uma perspectiva da experiência e comportamento das pessoas. Com a aplicação do método, conseguimos extrair uma série de informações que alimentaram o desenvolvimento das propostas de intervenção. Ela parte da ideia de que a vida cotidiana é o insumo para o desenvolvimento de propostas que façam sentido para a coletividade. Os espaços públicos, ruas e praças, diante de seu caráter de perenidade, podem ter, em certa medida, seu desenho “naturalizado”.
Queremos discutir sobre as decisões que estão envolvidas no desenho da rua, buscando a criação de espaços mais democráticos e acessíveis. No contexto atual, são inúmeros os exemplos que mostram claramente a priorização de automóveis e veículos de alta velocidade motorizados em detrimento de pedestres e modos de menor velocidade. Como consequência, temos calçadas estreitas, descontínuas e sem acessibilidade, falta de faixas de pedestre e largas faixas de rolamento e estacionamentos.
OBSERVADOR EM MOVIMENTO O objetivo desta análise é fazer, a partir do observador em trânsito, uma reflexão sobre aspectos da sua mobilidade cotidiana e coletar diversos pontos de vista sobre a qualidade dos espaços públicos.
observador em movimento Partimos do entendimento da mobilidade urbana individual em que cada itinerĂĄrio, ou trajeto diĂĄrio, ĂŠ composta pela soma de trajetos feitos de uma origem a um destino. Reflita sobre os distintos momentos de seu trajeto, desde quando chega na rua.
OBSERVADOR
ESTÁTICO O objetivo desta metodologia é coletar dados de um local específico a partir de um observador que se insere no contexto de maneira discreta, observando comportamentos, fluxos e atividades, além de características que conformam o espaço.
observador estático Faça análises qualitativas e quantitativas das formas de relação entre as pessoas e o espaço :
Em relação às pessoas:
_De que forma elas utilizam a praça? _Que atividades você pode observar? _Quantas pessoas cruzam a praça, sentam, atravessam as ruas, esperam no ponto de ônibus? Em relação ao espaço:
_O local é contornado por edifícios? Como são? _Que atividades acontecem neles, quais as suas formas e que uso eles têm? Eles funcionam?
Em relação à vegetação:
Tem árvores, canteiros, água? Em relação aos acessos:
Tem faixa de pedestre? E rampas, é um local acessível? Tem estacionamento? Em relação aos elementos construídos:
Tem grades, bancos, mesas, iluminação, ponto de ônibus, bicicletário ou algum outro tipo de equipamento urbano?
APROVAÇÃO
aprovação Legalmente, intervenções em espaços públicos podem ser aprovadas de diversas formas, tais quais:
A Benfeitoria: significa que a intervenção é perene e ficará instalada por um longo período;
B Temporária: é a aprovação por evento, tem data de início e de fim e deve ser requerido alvará nos órgãos públicos.
C Artista de rua: algumas atividades podem ser enquadradas como manifestações culturais em espaços públicos abertos, conforme a Lei 5429/2012 e o Decreto 42.663/2016
D Guerrilha: A guerrilha também pode ser uma ferramenta
para a ativação urbana. Vale lembrar que o objetivo da intervenção deve ser a melhoria das experiências espaciais a partir de uma perspectiva da coletividade. É um risco, avalie se é possível bancá-lo.
temporária A “aprovação” temporária ou aprovação por evento é uma licença para montar intervenções no espaço público com data de início e de fim preestabelecidas.
temporária Para verificar se é possível, faça primeiro uma consulta prévia e cadastre-se no site: https://carioca.rio/. Em seguida, entre na aba “Alvará e licença” > “Alvará de eventos”. Na parte inferior da coluna da esquerda, clique em, “Abrir nova consulta prévia”. Preencha o formulário com as informações solicitadas.
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Consulta prévia Aprovação da consulta prévia Alvará de evento solicitado Exigências cumpridas Evento aprovado!
Caso as exigências não sejam cumpridas, deverão ser solicitados recursos.
Lembre-se de incluir um desenho do projeto conceitual, é importante para visualizarem o que será proposto. O sistema te enviará email a cada nova atualização.
É aconselhável olhar as normas da prefeitura (Seconserva) para entender como a intervenção será avaliada. Dependendo do tipo de intervenção, será solicitada autorização dos bombeiros ou RRT/ART do responsável técnico.
O projeto irá passar por 5 etapas até conseguir o alvará:
É IMPORTANTE TER ESSA CARTA NA MANGA!
guerrilha A modalidade “guerrilha” se trata de pequenas ações independentes que não possuem qualquer aprovação. Tem como objetivo apresentar alternativas diante da morosidade do planejamento público, através da autoconstrução e da articulação coletiva.
guerrilha As ativações urbanas no Rio de Janeiro não são regulamentadas por lei. Atualmente, apenas intervenções como parklets são permitidas. Apesar de ser um avanço, é muito restrito e desconsidera inúmeras outras possibilidades de ação coletiva no espaço público. Tudo que sai desse formato exige outras táticas e estratégias para prototipar novas experiências. Santiago Cirugeda é reconhecido pelo seu trabalho com essa modalidade, colocando-se muitas vezes em negociação entre a legalidade e a ilegalidade. Ocupação sistemática de espaços públicos com containers e construção de próteses em fachadas, pátios,
coberturas e mansões são alguns dos exemplos de seus projetos de subversão que procuram superar a complicada vida em sociedade. Como é necessário obter autorizações legais para realizar qualquer intervenção no espaço público, o guerrilheiro deve se responsabilizar pelos riscos e consequências das ações propostas nessa modalidade.
CARTA EM BRANCO
benfeitoria Conte-nos como conseguiu aprovar definitivamente a sua intervenção!
envie para: estudioguanabara@estudiguanabara.com
VIABILIZAÇÃO
viabilização É necessário tomar consciência que a responsabilidade de intervir na cidade é do poder público. A prefeitura tem a obrigação de planejar com qualidade os espaços públicos e as edificações.
questionar os processos pelos quais nossos espaços públicos vêm sendo (mal) construídos, em suas diversas instâncias, desde questões conceituais de projeto, a problemas de execução, licitação e corrupção.
Se por um lado nosso setor público está cheio de pessoas competentes, ele também sofre de uma extrema burocratização e normatização dos processos, que em certo ponto limita uma atuação mais colaborativa e inclusiva.
A criação de qualidade dos seus espaços públicos, feitos para as pessoas, é uma ação política. Assim, acreditamos que como profissionais da arquitetura devemos nos posicionar.
Neste sentido, ações que coloquem em cheque a produção dos espaços feitos pelo poder público podem ser uma forma de
Criamos então um campo de enfrentamento e cutucamos a cidade ao ir para as ruas experimentar formas alternativas de aproximação com o espaço público.
financiamento
coletivo
É uma maneira de arrecadar verba para seu projeto atravÊs de uma plataforma colaborativa online.
financiamento coletivo O financiamento coletivo é uma maneira de arrecadar fundos para seu projeto a partir da contribuição de diversas pessoas. Segundo a plataforma Benfeitoria, “você estipula metas financeiras e um prazo (1 a 90 dias) para a arrecadação. Cada pessoa colabora com o quanto puder e em troca recebe recompensas!” O financiamento coletivo parece ter uma grande vantagem também como teste de seu projeto ou produto com o público.
patrocínio O Patrocínio funciona quando uma empresa ou instituição curte tanto o seu projeto que decide apoiá-lo.
patrocínio No meio do caminho do Ativa aconteceu isso. Recebemos um patrocínio! Enquanto desenvolvíamos a proposta para a campanha e financiamento coletivo pela plataforma Natura Cidades, o Rio 2016, PNUMA e Cisco decidiram investir no mobiliário urbano Trapézio. O projeto surgiu das reuniões semanais e do processo de cocriação com a comunidade. Assim, o caldo foi engrossando. E, mais do que investir somente na intervenção, investimos em eventos com artistas locais buscando valorizar suas atuações e remunerá-los por isso.
CARTA EM BRANCO
governo Conte-nos a sua experiência. Quem sabe o governo não compra a sua briga! No nosso caso, a comunidade local pode pleitear alguns auxílios com a Prefeitura como o aluguel de mesas e cadeiras. Toda ajuda é bem vinda.
envie para: estudioguanabara@estudiguanabara.com
GRANA DO próprio bolso Fundos individuais para cobrir custos iniciais, viabilizar pequenas ações ou até mesmo financiar etapas da intervenção.
grana do próprio bolso Em um projeto que envolve um grupo de pessoas, este tipo de investimento deve ser compreendido e acordado por todos os envolvidos. É importante desenvolver de forma coletiva um plano de investimentos, elencar prioridades, alinhar de que maneira essa verba será gasta e quais propósitos estão por trás das ações. Os desafios e contradições sempre irão existir em iniciativas propostas por grupos organizados, ainda mais quando o assunto é a autoprodução no espaço público. Financiar com o dinheiro do próprio bolso melhorias
para a cidade não deixa de ser uma externalização dos custos públicos, uma vez que a o Estado tem esta responsabilidade. Assim como pode ser disperso e alienado propor pequenas iniciativas desarticuladas com outras ações em rede que considerem a dimensão urbana. É preciso tensionar essas contradições por trás da autogestão para assumir um campo de enfrentamento com o poder público, com o objetivo de experimentar e propor outras formas de construção coletiva da cidade.
EXECUÇÃO
execucão Agora é hora de transformar desejos, desenhos e processos em matéria! Aquela hora maravilhosa de colocar a mão na massa, encarar as planilhas, fornecedores, de bater perna no Saara, tomar decisões, de resolver. Algumas dicas são essenciais, como organização, previsão, controle de orçamento, testes construtivos e elaboração de protótipos. Encare logo o desafio, é a hora de aperfeiçoar detalhes, melhorar encaixes e aprimorar até a execução final.
orçamento O orçamento é uma ferramenta fundamental de organização, planejamento e controle da execução do seu projeto.
orçamento Sim, abra o excel. É sempre bom que o controle de orçamento considere o máximo de itens e ande junto do desenvolvimento do projeto, para não haver grandes surpresas que possam inviabilizar a intervenção. Eleja prioridades e crie filtros que facilitem a visualização do que é essencial. Em projetos colaborativos, buscar soluções compartilhadas de gerenciamento pode agilizar muito os processos.
protótipo Os protótipos têm como objetivo testar construtivamente as soluções definidas em projeto. Sua elaboração é a primeira oportunidade de colocar a mão na massa!
protótipos É nessa etapa que as soluções criadas são testadas e verificadas na prática, em relação à forma, ao material e ao funcionamento. A partir dos resultados, caso necessário, são feitos redesenhos e novos testes até atingir o resultado desejado.
construção Mãos à obra! Após o longo processo de criação, desenho e testes, chegou o grande dia de concretizar a intervenção.
construção Separamos em dois momentos: a pré-produção e o dia da montagem. No primeiro, todos os fornecedores são contratados para a execução das peças finais da intervenção: marceneiros, serralheiros e quem mais você precisar. Já o segundo é o dia da montagem da intervenção no espaço público. Sugerimos que considere uma verba para apoio na montagem! Toda ajuda é bem-vinda, seja na logística, na prática ou até mesmo aquele ‘help’ de última hora. É bom ter em mente que não se deve subestimar o trabalho e se preparar para colocar a mão na massa. Lembre-se de realizar o planejamento da execução, fazer todas as compras e deixar tudo engatilhado para o grande dia.
r e g i st r o Toda forma de registro é bem-vinda! Fotos, vídeos, textos e o que mais a criatividade deixar. O que vale é motivar pessoas a ativarem os espaços públicos.
registro O registro do processo é uma ferramenta super importante, que cria bases para a sistematização e o aprendizado e comunica o projeto a outras pessoas. Se possível, é importante documentar os principais momentos, do início ao fim, para produzir um conteúdo de qualidade. Os registros do caminho do processo são importantes para avaliar as trajetórias que o projeto assumiu, pontos críticos, mudanças de rumo e pontos interessantes para ficarem ligados da próxima vez. Vamos adorar saber mais sobre sua intervenção, compartilhe conosco!
MANUAIS DE
FABRICAÇÃO
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conceito
O objetivo da sinalização foi comunicar duas questões que trabalhadas durante o projeto, para nós muito relevantes. Uma, presente desde o momento da idealização do projeto, era sinalizar que na esquina das ruas Barão de São Félix e Camerino havia uma travessia de pedestre não sinalizada, o que acarretava muitos acidentes e insegurança. A outra era tornar públicas as conversas que tivemos com a comunidade durante o ano, e poder, de certa maneira, materializar as vozes invisibilizadas da comunidade.
processo de projeto
Durante todo processo, descobrimos muitas informações sobre a história do lugar, as pessoas e os processos decorrentes da urbanização recente. Muitas dessas narrativas não hegemônicas nos mostraram um outro lado de percepção daquele espaço.
Dessas e de tantas outras memórias, vimos uma praça estéril, que não revela nada sobre sua história e sua memória. Pedimos aos diversos integrantes do coletivo que propusessem uma questão ou nos contassem algo que poderia ficar exposto na praça. Entendemos a partir desse processo que nós, como arquitetos, éramos mais uma daquelas vozes que estavam pesando a melhoria da experiência naquele espaço público. Percebemos então a emergência das questões trabalhadas durante o período do projeto, destacando-se a história do local e o processo de urbanização recente, marcado pelas desapropriações, saída da população local e desconsideração da comunidade local no desenvolvimento do projeto. Diante desse contexto emergem as preocupações relativas aos processos que ocorrem para a construção desse “novos” espaços públicos. Que vozes são ouvidas? O que está em jogo na decisão de um desenho do espaço público? A prioridade é de pessoas ou carros? É de ir de um ponto a outro ou de desfrutar das qualidades da cidade? A sinalização foi executada em chapas de compensado naval, com aplicação de lambe-lambe e verniz náutico para a proteção. As placas coloridas foram fixadas nos postes da praça e podiam ser vistas a longa distância. Nossa outra proposta de sinalização é na esquina da Rua Camerino com Barão de São Félix, onde há um cruzamento de grande perigo aos pedestres devido à ausência de faixa e semáforo e pelo desenho urbano que não favorece a coexistência de velocidades extremas. Propomos uma sinalização vertical para os motoristas, com o objetivo de informá-los que ali deveria haver uma travessia de pedestre, mesmo que não oficial para a prefeitura. Foram executadas duas placas circulares, feitas em compensado naval com aplicação de verniz náutico.
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l fa d br e ic a çã o
sinalização
Passamos a conhecer um pouco mais sobre a história da praça dos Estivadores, antigo Largo do Depósito, local onde os negros africanos eram comercializados. Aprendemos um pouco mais sobre o território chamado a Pequena África, os grupos culturais e artísticos e a história do Prata Preta. Ouvimos com indignação e tristeza a falta de cuidado com essa memória, como a estátua “grega” no jardim suspenso do Valongo, local onde os senhores se posicionavam para escolher, do alto, os escravos a serem adquiridos.
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as frases foram: Quem foi Acotirene??? Lizza Dias - Caboclinhas Desenho da cidade está a serviços de quem? Estúdio Guanabara Com que vozes se constrói o espaço público? Clô Comunicação Faltou respeito na vida. Faltou respeito na morte. Faltou respeito na História. IPN... “A verdade consiste em evitar o esquecimento Existe um dever de memória, principalmente em relação ao que dói e incomoda.” Jacques Lê Goff Quem foi e onde morou Machado de AsAfoxé Filhos de Gandhi Essa transformação mexe no nosso maior tesouro, o material humano. Mauricio Hora Somos todos iguais? Monica Combatente I love MP Sinalização carros Reduza. Atenção: travessia de pedestre.
passo a passo ferramentas e insumos:
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1. impressora 2. bandeja 3. pincel 4. verniz 5. cola branca 6. parafuso para
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madeira
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7. escada 8. chave philips 9. placas de madeira 10. abraçadeira de
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nylon
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11. lixa 12. tesoura
montagem:
2. imprima 5. aplique a cola no 4. prepare a cola
1. tecle no computador
verso das letras
3. recorte as letras
7. com braçadeiras
6. cole na tábua
prepare a gambiarra para o poste
ARTE: 1. Faça os desenhos ou escreva as frases que deseja comunicar. Imprima em 8. aplicação
papel sulfite e recorte os símbolos. 2. Peça para a madeireira cortar as chapas de acordo com as dimensões das imagens ou símbolos. 3. Lixe a chapa de madeira com uma lixa 120 e limpe a poeira. Aplique uma demão de seladora na chapa. É muito importante para a durabilidade do lambe-lambe. 4. Em seguida, com cola branca, cole os símbolos recortados no papel na chapa de compensado selada. 5. Espere secar, passe uma demão de verniz sobre a chapa com o recorte. Quando secar, passe lixa 220 nas áreas sem lambe-lambe. Finalize passando uma última demão de verniz. EXECUÇÃO:
(O lacre ou fita Hellerman são muito práticos e rápidos de serem presos.) Fixe duas peças pequenas de madeira com dois parafusos no fundo da placa. Passe a fita por essas peças, abraçando no elemento que pretende fixar a sinalização.
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cobertura conceito
A praça dos Estivadores havia acabado de ser inaugurada. O piso de granito era novo, os bancos e mesas de concreto pintados de goiaba. As árvores recém-plantadas deixavam o ambiente da praça um tanto árido. Percebia-se que durante o dia era pouquíssimo usada. Havia apenas uma concentração de pessoas no ponto de ônibus: um baleiro e um fiscal que faziam seus postos ali. Propomos então criar mais espaços sombreados na praça para que ela fosse usada durante todo o dia, e não somente como local de passagem. processo de projeto
A ideia do projeto era criar uma cobertura que pudesse utilizar as preexistências da praça (os postes) para ser fixada. Além disso, a facilidade de ser replicada e a modularidade foram questões importantes para o desenvolvimento do projeto. Um desafio encontrado na praça foi a extrema esbeltez dos postes e o desconhecimento de como foi feita a sua fundação. Nossa primeira proposta conceitual, ao ser prototipada, foi logo invalidada. Consideramos mudar de rumo e propor nosso próprio suporte, entretanto a verba não viabilizava a cobertura conforme gostaríamos. Com a super ajuda de nosso engenheiro calculista, bolamos uma treliça de madeira facilmente executada com peças de compensado e fixada nos postes com abraçadeiras. A cobertura, ao invés de ser uma grande superfície como propomos inicialmente, foi subdividida em módulos triangulares, facilmente replicadas em outros contextos. O tecido utilizado foi uma malha furadinha, super leve e com deformação razoável, que compramos no Pólo têxtil do Rio Comprido. Lá eles vendem os tecidos por peso, este tem um ótimo custo-benefício e cores muito bonitas! O pulo do gato do projeto foi o detalhe dos vértices da cobertura: o vértice vazio tinha suas arestas marcadas pelo cabo de aço e por um tubo de alumínio que dava rigidez às extremidades.
passo a passo ferramentas e insumos:
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1. máquina de costura 2. tesoura 3. serrote 4. alicate de corte de cabo de aço 5. parafusadeira 6. trena 7. martelos 8. tecido em malha perfurada 9. lona 10. tubos galvanizados 1” 11. linha 12. cabo de aço encapado 1/8” 13. abraçadeira 14. clips cabo de aço 1/8” 15. manilha reta cabo de aço 3/16” 16. esticadores de cabo de aço 3/16” 17. fita Hellerman grande 8.7 x 900mm 18. escada
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montagem:
e x e c u çã o :
Os triângulos que formam a membrana da cobertura são confeccionados a partir da junção de dois triângulos menores. Nas extremidades, para ter mais rigidez, fizemos uma costura com lona, na qual inserimos o tubo galvanizado, que mede aproximadamente 20cm de comprimento. Por dentro dele fizemos uma alça, em cabo de aço, fixada com um clips. A ligação entre a cobertura e o poste foi feita por um cabo de aço que tinha um esticador em cada uma de suas extremidades. Seu comprimento era variável de acordo com a distância entre os postes
Treliça: O ideal é que a altura da treliça seja bem próxima da altura das abraçadeiras. Ela vai permitir que o poste não sofra deformações com os esforços horizontais. A base da treliça é calculada da seguinte maneira: 1. Primeiro fixe as treliças, 2. Em seguida as abraçadeiras com as manilhas em que a cobertura irá se fixar. 3. Depois, conecte os cabos com ganchos dos esticadores aos postes e à cobertura.
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conceito
Os trapézios são mobiliários urbanos modulares que podem assumir diversas configurações, permitindo uma grande variedade de arranjos e combinações. Os módulos, diferente dos bancos de concreto existentes hoje, permitem outras formas de interação entre as pessoas. Podem ser usados de palco ou de banco, conformados para platéias assistirem filmes, para o descanso de um passante ou para apresentações de artistas. A viabilização deste projeto específico foi fruto de um outro apoiador, e a demanda por este módulo foi construída coletivamente com a comunidade de artistas locais. processo de projeto
Desenvolvemos duas opções de projeto: uma utilizando mão de obra de marceneiro e outra utilizando recorte computadorizado (CNC). Os módulos são feitos em compensado naval 15mm e recebem acabamento em verniz náutico para terem maior durabilidade. A forma do trapézio isósceles com 3 lados iguais e um lado medindo o dobro dos demais lados permite uma diversidade de configurações.
passo a passo produção com marcenaria
As madeiras do trapézio são fixadas com pregos, parafusos e cola branca. Na parte inferior do trapézio fizemos uma saia de 3cm para elevar do piso e proteger o restante do módulo da água e possíveis riscos de danificar. No caso de dano, pode ser trocada sem comprometer o restante do módulo.
ferramentas e insumos:
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1. serra circular de mesa 2. pincel 3. rolo 4. bandeja 5. lixa 6. martelo 7. trena 8. esquadro 9. parafusadeira 10. chapa de compensado
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trapézio
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naval
15mm
11. pregos 12. parafusos 13. seladora 14. verniz náutico 15. cola branca
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l fa d br e ic a çã o montagem:
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passo a passo
CNC
A outra possibilidade de execução do módulo é através de recorte computadorizado, que permite com que todas as suas peças sejam encaixáveis, sem necessidade de utilizar pregos, parafusos ou colas. A agilidade de montagem, precisão e facilidade no transporte são suas grandes vantagens. Após recorte, as peças de compensado foram tratadas com verniz marítimo. O projeto do módulo de encaixe foi feito em parceria com nosso amigo, o designer Bernardo do Amaral.
ferramentas e insumos:
1. 2.
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trapézio produção com
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1. Software para corte 2. placas de comensado 240x230cm 3. Router CNC
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Corte as chapas nas medidas indicadas. Se for fazer mais de um, organize uma produção em série, assim vocês configura a máquina para a mesma angulação de corte de uma só vez. Com as peças todas cortadas, comece pregando as peças que ficarão na vertical entre si. Em seguida, fixe o tampo superior. Com tudo montado, passe uma primeira lixa mais grossa, em seguida, uma lixa mais fina. Passe a seladora, espere secar. Passe uma lixa fina. Enfim, passe mais uma demão de seladora. Repita o processo, desta vez, utilizando o verniz náutico.
* desdobre a folha A4