Jornal do Colégio - Nº 586

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Jornal do Colégio JORNAL DO COLÉGIO ETAPA  –  2015 •  DE 06/03 A 19/03

ENTREVISTA

“No 3o ano caiu a ficha. Senti que precisava priorizar o estudo...” Vinícius Ito Iwasso ingressou na Poli em 2007, onde se formou em Engenharia Mecatrônica. No 5o ano entrou na Accenture, uma consultoria de serviços. Hoje está na Tricae, empresa de e-commerce. Fez Engenharia por considerá-la uma carreira que ensina a resolver problemas.

Vinícius Ito Iwasso

JC – Quando e por que você decidiu ser engenheiro? Vinícius – Quando criança, eu queria ser médico, mas sempre tive facilidade para Exatas. Tenho um tio muito próximo que é engenheiro; tudo que eu lhe perguntava, ele sabia a resposta, sabia como funcionava, sabia desenhar. Acabei me espelhando nele.

Além da Fuvest, você prestou quais vestibulares? Prestei Unicamp e UFSCar. Na Unicamp para Mecânica e na São Carlos para Produção. Fui aprovado na 1a lista da Unicamp, mas na UFSCar não entrei na 1a lista e não fui atrás porque passei na Poli direto.

Quando você prestou vestibular, a inscrição para a Poli era em Engenharia e a escolha da especialidade na carreira ocorria lá dentro: do 1o para o 2o ano, uma grande área, do 2o para o 3o ano, a ênfase dentro da grande área. Você entrou já pensando em Mecatrônica, que faz parte da grande área Mecânica? Eu queria ir para a grande área Mecânica. Lá dentro, todo mundo falava de Produção e de trabalhar em banco, e essa era minha mentalidade, mas eu tinha muito pouco conhecimento. No 1o ano na Poli, eu estudei bastante para cair na grande área Mecânica, que era uma das mais concorridas.

Por causa da Produção? Exatamente, Produção estava muito na moda, mas no 2o ano, na grande área Mecânica, não consegui a média para fazer ENTREVISTA

Carreira – Engenharia Mecatrônica CONTO Último beijo de amor – Álvares de Azevedo

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Produção e fui fazer Mecatrônica. No meio do 3o ano, até pensei em trocar de curso, mas acabei gostando e continuei. Mecatrônica tinha matérias como Controle, que eram superin­ teressantes.

No colégio, no 3o ano, uma vez que se decidiu por Engenharia, você mudou alguma coisa no método de estudo ou manteve seu padrão dos dois primeiros anos? No 1o e no 2o ano do Ensino Médio, eu não tinha estudado tanto, mas aí no 3o ano caiu a ficha. Senti que precisava priorizar o estudo para passar. No segundo semestre fiz todas as apostilas de revisão. Eu jogava tênis, competia, mas larguei para poder estudar mais. Queria muito passar direto. Tudo que o professor falava eu fazia e revisava. Fazia todos os simulados possíveis, todos os exercícios que pudesse. Saía do Etapa, continuava estudando: chegava em casa e estudava até 10 horas da noite. Foi o que me ajudou muito na Fuvest.

Você chegou a pensar na possibilidade de não passar direto do 3o ano? Pensei. Isso me dava muito medo. Para mim, teria significado um fracasso.

Como foi o começo na Poli? Um choque de realidade. No Etapa, a gente tinha tudo do bom e do melhor, material e professores. Na faculdade é diferente, a gente tem de aprender a se virar, ir atrás, correr. Mas logo comecei a me acostumar com a Poli e aí foi normal até o final do curso.

ARTIGO Política externa dos Estados Unidos (séculos XIX-XX)

ESPECIAL

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Celebração aos novos universitários

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ENTREVISTA

Quais foram suas principais dificuldades no início do curso? Na faculdade o estilo de trabalho é diferente, os professores jogam as matérias e você tem de ir atrás dos livros, dos exercícios, das provas. Você tem de dedicar muito mais tempo estudando fora da sala do que dentro.

Quando entrou na Poli, como via a Engenharia? Eu via na Engenharia uma oportunidade de aprender muito sobre todas as coisas e ter um campo de atividade amplo. Mesmo com matérias superespecíficas, a essência do curso era resolver problemas, que era a minha ideia quando entrei lá. Durante o curso você vai ganhando ferramentas para resolver qualquer tipo de problema, não importa a área, onde, ou como. Quando saí percebi exatamente isso, porque não trabalhei com Mecatrônica em nenhum momento.

Durante o curso você fez estágios? Só fiz estágio no 5o ano. Fui trabalhar em uma consultoria de serviços, a Accenture. Trabalhei em um projeto que era bem de TI, internet, meio marketing e fui efetivado.

O que você fez na Accenture? Como estagiário trabalhava com atividades rotineiras, ajudando os analistas, desde desenhar tela de portal até visitar o centro tecnológico do cliente para entender os processos e as ferramentas que cada área precisa desenvolver. Acompanhava gerentes e consultores em qualquer atividade, fazia um pouco de tudo e dava suporte no que era preciso. Foi bom para entender a parte organizacional de uma empresa. Fiquei um ano e quatro meses com um mesmo cliente, o banco Itaú. Deu para aprender muito sobre processos internos.

O que levou você a mudar de empresa? Apareceu uma oportunidade de ir para uma área que, para mim, tinha mais a ver com a capacidade analítica que tinha desenvolvido na faculdade, que era trabalhar com planejamento de demandas, variações de sazonalidade. Fui trabalhar na Whirpool, na área de planejamento de demanda de peças e gestão de estoque.

Mesmo peças têm sazonalidade? Têm. Ar-condicionado no verão quebra muito. Eu cuidava de uma carteira que era de importados. Tinha de projetar uma demanda de três, quatro meses para frente. Lançamento de produtos novos. Era algo bem diferente e bem complexo. A Whirpool é uma empresa grande, que dá muito suporte e eu tinha conhecidos lá dentro. Meu pai trabalhou lá também. Não foi nem por dinheiro, pois eu recebia menos, mas porque eu acredito que enquanto se é jovem tem de aprender, depois pensar em dinheiro.

Quanto tempo você trabalhou lá? Fiquei um ano e quatro meses também. Aí surgiu a oportunidade de trabalhar na Tricae, onde estou.

O que a Tricae faz? A Tricae vende todos os artigos infantis possíveis, desde calçados, vestuário, móveis, brinquedos, acessórios. Tem um portfólio completo de artigos para criança. Vende somente

pela internet. Ela faz mídia somente on-line também. É o maior e-commerce infantil do Brasil, atende o país inteiro. A empresa tem três anos e pouco, vem crescendo muito a cada ano e a perspectiva é crescer ainda mais. É um mercado que eu acho muito legal.

O que motivou você a fazer essa nova mudança? Acho que aprendi muito na Whirpool. Mas acho que, como todo o pessoal da minha geração, a gente almeja um crescimento rápido. Entendendo como é a empresa, muito grande, muito estruturada e com muita burocracia, achei que ia demorar muito tempo para crescer. E eu queria fazer coisas diferentes, ver outras coisas. Tentei primeiro uma movimentação lá dentro, ir para uma área comercial, mas não consegui. Aí sur­giu a oportunidade na Tricae. Eu não conhecia a empresa, mas um amigo trabalhava nela e perguntei como era. Um ambiente descontraído, de muito aprendizado, de pessoas jovens e inteligentes, sem uma hierarquia definida. Você entra com responsabilidade. A área que estava aberta era de planejamento comercial, o que tentei na Whirpool. Vi na Tricae uma grande oportunidade de aprendizado. O bom de empresa pequena é que não tinha processos bem definidos. Tudo que você vê lá dentro, nossa, dá para melhorar. E você vai usando tudo o que aprendeu na faculdade, no colégio.

Os processos internos são mais rápidos? Sim. Tudo que você faz é instantâneo. Uma empresa de e-commerce é assim: você mexe e já vê resultado, deu certo, deu errado. Eu aprendi e cresci muito mais rápido. Todas as pessoas têm perfil empreendedor. Na Poli, eu fiz matéria de Empreendedorismo, mas nunca tinha pensado em abrir empresa; agora penso em, no futuro, abrir a minha com co­le­ gas. A gente pensa muito nisso.

Já definiu o ramo de atividade? Começamos a pensar em dar cursos, miniconsultoria, são coisas que a gente vem fazendo dentro da Tricae. Adquirindo tanto conhecimento rápido, sentimos que podemos ajudar outras empresas a melhorar o próprio negócio. É o que estamos desenhando faz menos de um ano, vamos ver se dá certo.

Na Tricae, o que você faz? Estou como coordenador de uma área de planejamento comercial. Fazemos toda a estratégia de precificação dos produtos, definimos todo o planejamento de coleção futura, fazemos toda a parte de portfólio, o que está vendendo hoje que não pode acabar, o que tem de ter no portfólio, quanto tem de ter e quando. A gente tem também muita interface com o time de marketing, com o financeiro.

O que você pode dizer de trabalhar em empresas dife­ rentes em termos de aprendizado e com diferentes pers­ pectivas? Sempre busquei me diferenciar. Tanto que fiz Etapa e Poli porque são escolas boas e fui para a Accenture e para a Whirpool porque são boas empresas. Acho que quando a gente é jovem, tem de aprender o máximo possível, o mais rápido possível. Tenho um plano de até os 30 anos adquirir o máximo de experiência. Não penso em outra coisa. Quando jovem,


ENTREVISTA muita gente pensa em dinheiro. Eu penso em aprendizado. Acho que é o que vai fazer diferença lá na frente, a longo prazo. Eu fico inquieto se estiver fazendo toda hora a mesma coisa porque eu quero aprender bastante.

Você pensa em continuar estudando, fazer pós-graduação? Sim. Tenho em mente fazer um MBA ou uma pós-graduação. Sinto que estou mais voltado a fazer um curso de gestão de pessoas. É superimportante entender as pessoas que trabalham com você e o ajudam a se desenvolver. Acho que a pessoa que está trabalhando é a parte mais importante. O coração de uma empresa é isso.

Você ficou cinco anos na Poli. De qual ano gostou mais? Gostei do 5o ano. Além de ter menos matéria, estava estagiando. Pude escolher melhor o que eu queria aprender. Tive Empreendedorismo, fiz Qualidade na Produção, Logística na Naval; matérias que hoje eu sinto que fazem a diferença nas minhas atividades.

Como está o mercado para o engenheiro mecatrônico? Ou para Engenharia em geral? Vendo meus amigos, eu sinto que as pessoas capacitadas sempre têm lugar, por pior que esteja o cenário econômico. Todas as empresas precisam de pessoas boas.

Em relação ao currículo, em uma entrevista de emprego ou estágio o que faz a diferença? Eu, quando contrato, olho a faculdade, vejo também cursos que a pessoa possa ter feito que demonstrem interesse em algum tipo de área, tento ver se é uma pessoa que compartilha os mesmos valores e que tem o mesmo perfil que o meu. Isso eu busco na entrevista. E habilidades, línguas, tenho visto que as pessoas estão fazendo cursos de oratória, finanças, negócios. Na Poli, na AEP, Associação dos Engenheiros Politécnicos, tem um curso que dá uma visão de negócios de empresa. Muita gente faz faculdade, então você tem que se diferenciar de alguma maneira. São cursos, atividades e conhecimentos extras.

Quais são os seus planos para este ano? Fui promovido no início do ano, então eu quero desenvolver melhor minha habilidade coordenando pessoas; quero ajudar ao máximo a empresa a crescer ainda este ano. Eu estou nela porque gosto da empresa, do estilo de trabalho, do ambiente, das pessoas e do que a gente vende. Vou me dedicar ao máximo para isso, quero voltar a estudar este ano ainda. Quero tentar começar o curso de pós em gestão de pessoas.

Já tem em vista algum curso? Estava pesquisando estes tipos de curso na FIA, na GV e no Insper.

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Você não foi trabalhar com Mecatrônica, mas o que diz sobre sua formação? Todo curso na Poli exige muita dedicação, que você se supere sempre, porque vai encontrar muita dificuldade, muito obstáculo. Acho que isso é o que vai ajudar você no mercado de trabalho, que é muito mais hostil que a faculdade. A faculdade exigiu muito de mim, tanto emocionalmente quanto analiticamente, me ajudou a ser uma pessoa mais madura e mais preparada para o mercado de trabalho.

Da sua base do colégio, o que conta mais atualmente para você? O que eu acho importante é a Matemática básica. Hoje todo mundo usa calculadora, Excel, mas poucas pessoas sabem efetivamente como é feito o cálculo. Eu lembro que, no Etapa, a gente tinha demonstrações de como se resolve, por exemplo, uma raiz de 2, coisas que são o princípio da Matemática. Sinto que faz diferença você saber a origem das coisas em que está trabalhando. Hoje você aperta uma ferramenta e o resultado sai, mas sabendo como, você vai entender melhor o porquê. Foram coisas importantes que aprendi no colégio.

No Etapa, além das aulas, você participou de outras atividades? No 2o ano eu fiz uma banda com colegas e toquei na Gincana Cultural. A única coisa diferente de que participei.

Há algo que você conserva do tempo do Etapa? Guardo as amizades. A maioria dos meus amigos de hoje fize­ ram Etapa comigo.

O que você pode dizer a quem quer estudar na Poli? Diria para pesquisar o máximo possível dos cursos, porque não tem só Mecânica, Elétrica, Química e Civil, existem subdivisões dentro de cada um deles. E se informar mais com pessoas que já fizeram a faculdade, que estão fazendo, que querem fazer o curso, para ajudar a decidir. É a decisão mais importante que você vai tomar nessa época da sua vida.

O que você aconselha a quem vai prestar vestibular no fim do ano? Acho que só depende de você. E tudo dá tempo. É necessário um planejamento de atividades de estudos, exercícios. Mas o mais importante é definir o que você quer este ano, se realmente quer passar, se acha que está pronto ou não. Saber o que quer e ter determinação.

Você quer dizer mais alguma coisa? Eu acreditei em mim, achei que meu esforço valeria a pena. Abdiquei de muitas coisas naquele tempo em que fiquei estudando para o vestibular porque acreditava que no fim do ano ia fazer a diferença. E fez.

Jornal do Colégio ETAPA, editado por Etapa Ensino e Cultura REDAÇÃO: Rua Vergueiro, 1 987 – CEP 04101-000 – Paraíso – São Paulo – SP JORNALISTA RESPONSÁVEL: Egle M. Gallian – M.T. 15343


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CONTO

Último beijo de amor Álvares de Azevedo “Well Juliet! I shall lie with thee to night!”1 (Shakespeare, Romeu e Julieta.)

A

noite ia alta: a orgia findara. Os convivas dormiam repletos, nas trevas. Uma luz raiou súbito pelas fisgas da porta. A porta abriu-se. Entrou uma mulher vestida de negro. Era pálida; e a luz de uma lanterna, que trazia erguida na mão, se derramava macilenta nas faces dela e dava-lhe um brilho singular aos olhos. Talvez que um dia fosse uma beleza típica, uma dessas imagens que fazem descorar de volúpia nos sonhos de mancebo. Mas agora com sua tez lívida, seus olhos acesos, seus lábios roxos, suas mãos de mármore, e a roupagem escura e gotejante da chuva, disséreis antes – o anjo perdido da loucura. A mulher curvou-se: com a lanterna na mão procurava uma por uma entre essas faces dormidas um rosto conhecido. Quando a luz bateu em Arnold, ajoelhou-se. Quis dar-lhe um beijo, alongou os lábios... Mas uma ideia a susteve. Ergueu-se. Quando chegou a Johann, que dormia, um riso embranqueceu-lhe os beiços, o olhar tornou-se-lhe sombrio. Abaixou-se junto dele, depôs a lâmpada no chão. O lume baço da lanterna dando nas roupas dela espalhava sombra sobre Johann. A fronte da mulher pendeu e sua mão pousou na garganta dele. Um soluço rouco e sufocado ofegou daí. A desconhecida levantou-se. Tremia; e ao segurar na lanterna ressoou-lhe na mão um ferro... Era um punhal... Atirou-o ao chão. Viu que tinha as mãos vermelhas, enxugou-as nos longos cabelos de Johann... Voltou a Arnold; sacudiu-o. – Acorda e levanta-te! – Que me queres? – Olha-me... não me conheces? – Tu? e não é um sonho? És tu! oh! deixa que eu te aperte ainda! Cinco anos sem ver-te! Cinco anos! E como mudaste! – Sim, já não sou bela como há cinco anos! É verdade, meu loiro amante! É que a flor da beleza é como todas as flores. Alentai-as ao orvalho da virgindade, ao vento da pureza, e serão belas... Revolvei-as no lodo... e, como os frutos que caem e mergulham nas águas do mar, cobrem-se de um invólucro impuro e salobre! Outrora era Geórgia – a virgem, mas hoje é Giórgia – a prostituta! – Meu Deus! meu Deus! E o moço sumiu a fronte nas mãos. – Não me amaldiçoes, não! – Oh! deixa que me lembre: estes cinco anos que pas­ saram foram um sonho. Aquele homem do bilhar, o duelo (*) Tradução: “Bem, Julieta; deitar-me-ei ao teu lado ainda esta noite!” (Romeu e Julieta, ato V, cena I).

à queima-roupa, meu acordar num hospital, essa vida devassa onde me lançou a desesperação, isto é um sonho! Oh! lembremo-nos do passado! Quando o inverno escurece o céu, cerremos os olhos; pobres andorinhas moribundas! lembremo-nos da primavera!... – Tuas palavras me doem... É um adeus, é um beijo de adeus e separação que venho pedir-te: na terra nosso leito seria impuro, o mundo manchou nossos corpos. O amor do libertino e da prostituta! Satã riria de nós. É no céu, quando o túmulo nos lavar em seu banho, que se levantará nossa manhã de amor... – Oh! ver-te e para deixar-te ainda uma vez! E não pen­sas­te, Giórgia, que me fora melhor ter morrido devorado pelos cães na rua deserta, donde me levantaram cheio de sangue? Que fora-te melhor assassinar-me no dormir do ébrio, do que apontar-me a estrela errante da ventura e apagar-me a do céu? Não pensaste que, após cinco anos, cinco anos de febre e de insônias, de esperar e desesperar, de vida por ti, de saudades e agonia, fora o inferno ver-te para deixar-te? – Compaixão, Arnold! É preciso que esse adeus seja lon­­ go como a vida. Vês, minha sina é negra: nas minhas lem­ branças há uma nódoa torpe... Hoje! é o leito venal... Ama­ nhã! só espero o leito do túmulo! Arnold! Arnold! – Não me chames Arnold! chama-me Artur, como dantes. Artur! não ouves! Chama-me assim! Há tanto tempo que não ouço me chamarem por esse nome!... Eu era um louco! quis afogar meus pensamentos e vaguei pelas cidades e pelas montanhas, deixando em toda a parte lágrimas... nas cavernas solitárias, nos campos silenciosos e nas mesas molhadas de vinho! Vem, Giórgia! senta-te aqui, senta-te nos meus joelhos, bem conchegada a meu coração... tua cabeça no meu ombro! Vem! um beijo! quero sentir ainda uma vez o perfume que respirava outrora nos teus lábios. Respire-o eu e morra depois!... Cinco anos! oh! tanto tempo a esperar-te, a desejar uma hora no teu seio!... Depois... escuta... tenho tanto a dizer-te! tantas lágrimas a derramar no teu colo! Vem! e dir-te-ei toda a minha história! minhas ilusões de amante e as noites malditas da crápula e o tédio que me inspiravam aqueles beiços frios das vendidas que me beijavam! Vem! contar-te-ei tudo isso, dir-te-ei como profanei minha alma e meu passado... e choraremos juntos... e nossas lágrimas nos lavarão como a chuva lava as folhas do lodo! – Obrigada, Artur! obrigada! A mulher sufocava-se nas lágrimas, e o mancebo mur­ murava entre beijos palavras de amor. – Escuta, Artur, eu vinha só dizer-te adeus! da borda do meu túmulo; e depois contente fecharia eu mesma a porta dele... Artur, eu vou morrer! Ambos choravam.


CONTO – Agora vê, continuou ela. Acompanha-me: vês aquele homem? Arnold tomou a lanterna. – Johann! morto! sangue de Deus! quem o matou? – Giórgia! Era ele um infame. Foi ele quem deixou por morto um mancebo a quem esbofeteara numa casa de jogo. Giórgia – a prostituta! vingou nele Geórgia – a virgem! Esse homem foi quem a desonrou! desonrou-a... a ela que era sua irmã! – Horror! horror! E o moço virou a cara e cobriu-a com as mãos. A mulher ajoelhou-se a seus pés. – E agora adeus! adeus que morro! Não vês que fico lívida, que meus olhos se empanam e tremo... e desfaleço? – Não! eu não partirei. Se eu vivesse amanhã, haveria uma lembrança horrível em meu passado...

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– E não tens medo? Olha! é a morte que vem! é a vida que crepuscula em minha fronte. Não vês esse arrepio entre minhas sobrancelhas?... – E que me importa o sonho da morte? Meu porvir ama­ nhã seria terrível; e à cabeça apodrecida do cadáver não res­ soam lembranças; seus lábios gruda-os a morte; a campa é silenciosa. Morrerei! A mulher recuava... recuava. O moço tomou-a nos braços, pregou os lábios nos dela... Ela deu um grito e caiu-lhe das mãos. Era horrível de ver-se. O moço tomou o pu­ nhal, fechou os olhos, apertou-o no peito e caiu sobre ela. Dois gemidos sufocaram-se no estrondo do baque de um corpo... A lâmpada apagou-se. Extraído de: Noite na taverna, Ed. Núcleo, 1993.

ARTIGO

Política externa dos Estados Unidos (séculos XIX-XX) Rogério F. da Silva

Doutrina Monroe (1823) Nas duas primeiras décadas do século XIX, processam-se os movimentos de emancipação de muitas colônias da América. Em seguida à derrota de Napoleão Bonaparte, as potências vencedoras, reunidas no Congresso de Viena (1814-1815), pretendem, por meio da política da chamada Santa Aliança, mobilizar exércitos europeus com a finalidade de restaurar a dominação colonial sobre a América espanhola. No ano de 1823, em mensagem ao Congresso norte-americano, o presidente James Monroe (1817-1825) formula o que ficaria conhecido como a Doutrina Monroe: os Estados europeus não deveriam interferir em qualquer ponto do continente americano, pois isso passaria a ser considerado uma questão de segurança para os Estados Unidos. A expressão “a América para os americanos” sintetizou a referida doutrina.

Destino Manifesto (1845) A partir dos anos 40 do século XIX, formula-se a doutrina do Destino Manifesto, segundo a qual estaria no destino dos Estados Unidos obter uma maior quantidade de território e controlar a costa do Pacífico. O Destino Manifesto passaria a justificar todas as atividades de expansão territorial norte-americana. A origem dessa expressão ligava-se a um artigo não assinado da The United States Magazine and Democratic Review (julho de 1845) que fazia menção ao

“cumprimento de nosso destino manifesto de expandirmos por todo o continente dado pela Providência para o livre-desenvolvimento de nossos milhões de habitantes que se multiplicam ano a ano". Em pouco tempo, a expressão tornou-se popular entre os membros do Congresso, interessados na expansão em direção ao México, Califórnia e Oregon.

Guerra do México (1846-1848) O Texas constituía um vasto território do México, fra­ camente povoado e de fronteiras mal definidas com os Estados Unidos. Ocorreu um grande afluxo de norte-americanos para a região, que proclamaram a “indepen­ dência do Texas” (1836) e, em seguida, solicitaram que o novo país passasse a fazer parte dos Estados Unidos. O Congresso votou a adesão em 1845, provocando uma guerra entre o México e os Estados Unidos (1846-1848). Vencido, o México teve de assinar, em fevereiro de 1848, o Tratado de Guadalupe-Hidalgo, que previa: • Cessão do Texas; • Fixação da fronteira no rio Grande; • Indenização de US$ 15 milhões, cessão do Novo México e da Califórnia (onde havia sido descoberto ouro). Em 1846, após negociações com a Inglaterra, uma parte do território do Oregon (no noroeste) é anexada. Em 1853, é completada a anexação de territórios mexicanos com


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ARTIGO

a chamada Aquisição de Gadsden (nome do embaixador James Gadsden, que negociou o Tratado de Aquisição com o México), uma faixa de terras entre os atuais estados do Arizona e Novo México.

Formação do território dos Estados Unidos

O Tratado de Paris (10.12.1898) pôs um fim à guerra e ao decadente Império Colonial espanhol. Cuba tornava-se in­dependente sob a tutela norte-americana. Porto Rico e Guam eram cedidos aos Estados Unidos, que obtinham igualmente as Filipinas, mediante uma indenização de US$ 20 milhões à Espanha.

Big Stick Policy (1901-1909) 1846

1803 1848

17 63

1783

1853

1845 1819

1763 – Território original (13 colônias). 1783 – Território indígena obtido com o reconhecimento da in­ depen­dência pela Inglaterra. 1803 – Louisiana comprada da França. 1819 – Flórida comprada da Espanha. 1845 – Texas anexado do México. 1846 – Oregon comprado da Inglaterra. 1848 – Califórnia e Novo México comprados do México. 1853 – Aquisição de Gadsden (terras compradas do México).

Do isolacionismo ao imperialismo Entre 1823 e 1900, os Estados Unidos mantiveram-se, de maneira geral, fora dos problemas de política internacional da Europa, fiéis à Doutrina Monroe. Nesse sentido, to­ maram posição contra a França quando esta interferiu no México (1865). No norte do continente, o governo negociou a compra do Alasca (1867) – até então pertencente ao Império Russo – por US$ 7,2 milhões. Entretanto, na medida em que crescia o poderio norte-americano, o isolacionismo dificilmente poderia ser mantido. O rompimento dessa posição dá-se, sobretudo, a partir da guerra com a Espanha.

Guerra Hispano-Americana (1898) Havia muitos interesses econômicos norte-americanos em Cuba (colônia da Espanha). Desde 1895, desenvolvia-se na ilha uma revolta contra o domínio espanhol. A explosão por razões não esclarecidas do encouraçado norte-ame­ ricano Maine, ancorado em Havana (15.02.1898), levou o presidente William McKinley a abrir hostilidades contra as autoridades espanholas em Cuba. A Espanha declara guerra aos Estados Unidos (24.04.1898). A ação militar passou-se, simultaneamente, nas Antilhas e no Pacífico. A esquadra espanhola das Filipinas foi destruída em Manila, e a esquadra espanhola de Cuba, nas Antilhas.

Big Stick Policy (“Política do Grande Porrete”) é o nome que se deu, durante a presidência de Theodore Roosevelt, à política externa dos Estados Unidos em relação aos países do Caribe. O nome deriva de uma asserção a ele atribuída: “Fale mansinho, mas carregue um porrete grande”; ou se­ ja: use a polidez, mas, se necessário, utilize a força. Essa orientação atribuía um “poder de polícia” aos Estados Unidos quanto aos problemas latino-americanos. Sob o pretexto de defender os interesses norte-americanos, foram realizadas intervenções militares em várias regiões como, por exemplo, a que ocorreu na República Dominicana. Foi patrocinada a secessão do Panamá em relação à Colômbia, visando à construção do canal do Panamá sob o controle norte-americano, bem como intervenções em Cuba, Nicarágua e Honduras.

Diplomacia do dólar (1909-1913) Em seguida à Big Stick Policy, estabeleceu-se a “di­ plomacia do dólar”. Essa expressão foi utilizada por crí­ ticos hostis para descrever certos aspectos da política externa norte-americana em relação à América Latina, especialmente durante o governo do presidente William H. Taft (1909-1913). Afirmava-se que um dos motivos básicos da diplomacia norte-americana era promover os interesses de suas grandes companhias, garantindo oportunidades comerciais e de investimentos nos países estrangeiros e, quando necessário, usando a força para proteger suas propriedades. As intervenções norte-americanas em países latino-americanos eram consideradas como manifestações da “diplomacia do dólar”.

14 Pontos de Wilson (1918) Durante a Primeira Guerra Mundial, os Aliados pregavam a justiça de sua causa e diziam não pretender mais do que a paz. No final, ficou claro que cada nação queria sua parte sobre o espólio dos vencidos. Muitos acreditavam que essa guerra servira para acabar com todas as guerras. Os Estados Unidos não queriam ga­ nhos territoriais e, em janeiro de 1918, o presidente Woodrow Wilson, em mensagem ao Congresso norte-americano, apre­ sentava catorze pontos que considerava importantes “para o estabelecimento de uma paz duradoura”: 1. Abolição da diplomacia secreta; 2. Liberdade nos mares; 3. Remoção das barreiras econômicas;


ARTIGO 4. Redução de armamentos; 5. Ajuste imparcial das reclamações coloniais; 6. Evacuação da Rússia; 7. Restauração da Bélgica; 8. Devolução da Alsácia-Lorena para a França; 9. Reajuste das fronteiras italianas; 10. Aceitação do princípio de autodeterminação; 11. Evacuação dos Bálcãs pelas potências centrais; 12. Autonomia para as nacionalidades não turcas e abertura do estreito de Dardanelos para todos os navios; 13. Criação de uma Polônia independente; 14. Criação de uma associação de nações para garantir a independência de todas elas.

Good Neighbor Policy (1933-1945) Na administração de Franklin Delano Roosevelt (1933-1945) foi inaugurada a Good Neighbor Policy, isto é, a “Política da Boa Vizinhança”, que tinha por finalidade mudar a imagem dos Estados Unidos (extremamente negativa à época da Big Stick Policy). Abandona-se a intervenção na República Dominicana, fazem-se acordos comerciais com Cuba e chega-se a bons termos com a política de nacionalização conduzida pelo presidente mexicano Lázaro Cárdenas. Procurava-se, com isso, estabelecer denominadores comuns entre os Estados Unidos e a América Latina.

Doutrina Truman e Guerra Fria

Aquir/Shutterstock

Por ocasião da eclosão da Segunda Guerra Mundial (1939), os Estados Unidos mantêm-se neutros. A economia tem um novo impulso, pois o país passa a fornecer produtos para os Aliados, especialmente à Inglaterra. Em dezembro

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de 1941, com o ataque japonês à base naval norte-americana de Pearl Harbor (Havaí), os Estados Unidos entram na guerra ao lado dos Aliados. Ao término do conflito, os Estados Unidos emergem como uma superpotência econômica e militar. A Europa, mais uma vez, é devastada e formula-se um novo relacionamento internacional: a Guerra Fria. O mundo do pós-guerra, no intervalo entre 1945 e 1990, foi caracterizado pelo conflito entre duas potências mundiais, os Estados Unidos e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Devido ao perigo do uso de armas nucleares (que colocariam em risco a existência de toda a humanidade), a rivalidade entre EUA e URSS ficou conhecida como Guerra Fria. A doutrina da Guerra Fria foi elaborada por Winston Churchill e Harry S. Truman e consistia basicamente na ideia de que era necessário “conter o avanço do comunismo no mundo”. No final da década de 1950, o governo soviético, sob a liderança de Nikita Kruchev, propôs a détente (política de coexistência pacífica) em substituição à Guerra Fria.

Macarthismo e Guerra Fria O auge da Guerra Fria pode ser considerado o período de maior influência política do senador republicano Joseph McCarthy, entre 1948 e 1956, conhecido como macarthis­ mo. Os Estados Unidos estiveram envolvidos em uma intensa campanha anticomunista, que tinha como objetivo investigar o envolvimento de cidadãos com a União Soviética, através do FBI e do Comitê de Atividades Antiamericanas. Por meio de leis aprovadas no Congresso durante o macarthismo, os Estados Unidos transformaram legalmente as opções ideológicas de alguns de seus cidadãos em risco à segurança nacional, podendo decretar a detenção e eventual deportação aos acusados de traição ao país. Estima-se que o governo norte-americano tenha investigado o envolvimento de aproximadamente 300 artistas com o comunismo, através de uma lista que ficou conhecida como Hollywood Blacklist. Entre eles estava o ator Charlie Chaplin. Em 1954, o Congresso aprovou uma lei que colocou o Partido Comunista dos Estados Unidos na ilegalidade. Acentuaram-se, assim, as divergências ideológicas entre os EUA e o bloco soviético. Em 1950, a invasão da Coreia do Sul pela Coreia do Norte levou à eclosão do primeiro grande conflito entre os blocos capitalista e comunista: a Guerra da Coreia (1950-1953). Os Estados Unidos lideraram a intervenção na península coreana, em confronto com os exércitos chinês e russo. Ao fim do conflito, a paz foi restabelecida mediante a fixação de uma zona desmilitarizada próxima ao paralelo 38. Rogério F. da Silva é doutor em historiografia e professor coordenador do Curso Etapa.


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ESPECIAL

Celebração aos novos universitários Alunos comemoraram a vaga na faculdade com muita festa!

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epois de muito estudo e dedicação, vários estudantes tiveram o esforço recompensado: conquistaram uma vaga na tão sonhada universidade! No início do ano, os alunos do Etapa foram convidados a conferirem a lista de aprovados dos grandes vestibulares pessoalmente. Foi um momento de muita emoção e felicidade na Festa 2015! Para celebrar essa vitória, no dia 7 de fevereiro aconteceu também o Festão dos Aprovados! Ex-alunos do Curso e da 3a série do Ensino Médio do Colégio Etapa se reuniram para comemorar a entrada na faculdade – seja ela pública ou privada – com seus familiares, professores e todos aqueles que estiveram ao seu lado durante essa importante jornada. Afinal, a realização de um sonho merece uma festa especial! O evento contou com a participação da bateria da Atlética Poli-USP e a apresentação da banda dos professores. Parabéns aos novos universitários! Agora, resta celebrar e se preparar para o início das aulas e dessa nova experiência!


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