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Jornal do Colégio JORNAL DO COLÉGIO ETAPA – 2015 • DE 17/04 A 29/04
ENTREVISTA
O começo de uma carreira em Engenharia Civil. Paula Okada Tong formou-se engenheira civil na Poli. Nesta entrevista ela relembra seus tempos no colégio, a preparação para o vestibular, o curso na USP e suas atividades profissionais, desde o estágio. Também conta o valor de seu intercâmbio em Udine, na Itália.
Paula Okada Tong
JC – Como foi sua escolha de Engenharia como carreira? Paula – Minha família tem um histórico na Engenharia. Na escolha foquei no que pudesse me dar um futuro mais promissor e também em seguir uma profissão que fosse curinga, ou seja, que me abrisse diversas áreas em que eu pudesse atuar. Além da Fuvest, quais vestibulares você prestou para Engenharia? Unesp, Unifesp e Unicamp. Na Unicamp, para Engenharia de Alimentos, área de que sempre gostei também. Quando você entrou no Etapa? No 9o ano do Fundamental. O que trouxe você para cá? Eu queria entrar no Etapa porque ouvia muito sobre os professores. Além de você aprender de uma forma mais dinâmica, eles eram animados. Isso influiu em minha vinda para o Etapa. E minha mãe queria que eu e meu irmão passássemos numa boa faculdade e já tinha escutado muito sobre o Etapa. Assim, minha mãe acabou nos matriculando aqui, a mim e a meu irmão. No Ensino Médio você teve de fazer alguma coisa a mais para entrar na Poli? Eu fazia tudo o que o Etapa oferecia. Os simulados eu fazia sábado, às vezes até os abertos, que eram no domingo. Estudava todos os dias, fazia todas as lições, procurava fazer tudo. ENTREVISTA
Carreira – Engenharia Civil
Eu gostava bastante de esportes, então participei de campeonatos de futebol e de handebol. Até tenho uma medalha.
No 3o ano mudou alguma coisa na sua rotina de estudos? Mudou porque no 3o ano eu me dediquei exclusivamente ao vestibular.
Como foi sua adaptação à Poli? O fato de meu irmão já estar lá facilitou minha adaptação. Também no Etapa, tive Derivadas numa das últimas aulas – matéria que não cai no vestibular, mas foi uma das coisas que me ajudaram a não ficar tão assustada na Poli.
Nesse início na USP, quais foram as principais dificuldades que você enfrentou? Um dos problemas que tive foi a dificuldade das provas. Mas no 1o ano eu consegui tempo até para jogar futebol no primeiro semestre e fazer um curso de italiano no segundo, na própria faculdade, a preço acessível.
Além de jogar futebol e estudar italiano, o que mais você fez durante o curso? No segundo semestre do 2o ano eu consegui uma bolsa para trabalhar na própria faculdade. Nada tinha com Engenharia, ape-
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CONTO O monstro de rodas – Antônio de Alcântara Machado
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ENTRE PARÊNTESIS A que dado fechado corresponde o aberto?
SOBRE AS PALAVRAS
Entrar com o pé direito
Você chegou a participar de alguma atividade fora de sala de aula?
ARTIGO
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O tempo geológico ESPECIAL
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Olimpíada Paulista de Física 2014 Fazendinha Estação Natureza
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ENTREVISTA
sar de trabalhar no setor de informática. Eu fiquei nesse trabalho dois anos e meio, até o 4o ano.
Quantas horas você trabalhava por dia? Por semana, 10 horas. O que você estudou em cada ano de Engenharia? O 1o e o 2o ano da Engenharia Civil foram bem básicos, praticamente Matemática pura. O que lembro mais do 1o ano foi um trabalho de medição para ver a localização do prédio. Fizemos isso durante cinco dias das férias de julho. O pessoal reclamou muito porque era no meio das férias, mas foi uma atividade mais dinâmica. E nos anos seguintes, como se desenvolveu a especialização em Civil? O 3o e o 4o ano são mais específicos. Na área de Civil tem diversos ramos, você acaba vendo que existem opções, transporte, os aeroportos. No 5o ano eram mais optativas na especialização de cada um. Se você gostou de transporte, faz mais matérias de transporte. Você optou por qual especialização? Como eu ainda estava na dúvida sobre a opção que escolheria, acabei fazendo um pouco de cada. Fiz a parte de saneamento, a parte de estruturas, fiz uma parte de ambiental, porque ambiental é importante para todas as áreas. Também fiz a parte de transporte, logística. No 5o ano você pode se especializar em uma determinada área ou fazer algo mais abrangente? É o que você fez? Exatamente. No último ano, qual era sua maior preocupação? Minha maior preocupação era me formar. Eu estava meio atrasada devido ao intercâmbio que fiz. Eu me formei no meio do ano, todos os meus amigos já estavam formados. Como foi seu intercâmbio? Meu intercâmbio foi no primeiro semestre de 2013. Fui para Udine, na Itália, para a Univesità degli Studi di Udine. Foi pela USP mesmo? Eu consegui pela Reitoria da USP e ganhei bolsa de mérito acadêmico. Quem tinha as maiores notas da faculdade conseguia essa bolsa. Como foi o processo para ser aceita no intercâmbio? Eles olham suas notas desde que você entrou. Depois fazem uma entrevista. Dependendo de para onde você vai, tem entrevistas em inglês. No meu caso eles acabaram fazendo em inglês, com uma ou duas perguntas em italiano. O que você estudou em Udine? Fiz um curso voltado para Arquitetura e cursos de Aeroportos e de Ferrovia. São cursos que você teve na Poli também? São.
Valeram crédito na USP? Não. Eram matérias com muitas coisas em comum com o que eu já tinha feito na Poli, nas quais já tinha passado. Mas o que me chamou a atenção para escolhê-los foi o que tinham a mais. Por exemplo, na Itália a tecnologia de localização e coordenadas era através de drones já em 2013. Hoje já veio para cá. A primeira vez que vi um drone foi lá, tivemos uma aula em que fizemos monitoramento. As aulas eram em italiano ou em inglês? Todas as aulas eram em italiano. Em Udine eu fiz um curso intensivo de italiano com outros alunos de intercâmbio. Acabei compreendendo italiano super-rápido. Como foi ficar um semestre na Itália? Foi bem divertido no aspecto de que tive de me virar. A gente acaba aprendendo. O que eu gostava mais era do transporte público, eu ia para todos os lugares, tudo de fácil acesso. Udine é uma cidade pequena, isso foi uma dificuldade para me adaptar, por morar numa cidade grande. Depois de me adaptar foi muito bom porque não tem trânsito, podia sair a qualquer hora, as ruas eram limpas todos os dias. Você voltou para terminar o curso na Poli. Tem TCC na Engenharia Civil? Tem, em grupo. Meu grupo fez o TCC sobre ar-condicionado solar. Apesar de já existirem alguns, mas apenas para locais rurais que têm bastante terreno. A nossa tecnologia era outra, era de concentradores. A gente tentou desenvolver a parte ambiental. Além do trabalho que fez na faculdade, você estagiou em alguma empresa? Sim. Fiz estágio na Infra7 Engenharia. Onde trabalho hoje. Você entrou quando? Antes de viajar para o intercâmbio, em julho de 2012. Quando viajei para a Itália, já estava há seis meses trabalhando. Você voltou para a empresa logo depois do intercâmbio? Voltei. Eles me mandaram um e-mail enquanto eu estava na Itália perguntando se estava tudo bem e se eu ia voltar. Como estagiária, qual era o seu trabalho? Realizar verificações. Verificava o trabalho de algum projetista. Além de fazer algumas “contas de padaria”. Como são essas contas? Você não precisa fazer o modelo completo para ver se aquele resultado está certo. Você faz apenas algumas contas mais simples. Na época eu também cadastrava documentos. O trabalho continuou esse mesmo, depois que você voltou do intercâmbio? Quando voltei comecei a ver coisas mais na área de Engenharia mesmo. Até o último ano na Poli você tinha dúvidas sobre a espe cialização. Quando se decidiu? Ainda no começo do meu estágio tinha bastante dúvida. Depois que voltei do intercâmbio, eu acabei me encontrando num tra-
ENTREVISTA balho em que a gente estuda os solos, onde vão ser colocadas as estruturas.
O que fez você gostar dessa área? Um amigo de meus avós veio da China e ele é um mestre em estruturas. Cheguei a conversar com ele algumas vezes. Também tenho um tio no Canadá que trabalha com estruturas. Na verdade, essa é uma das coisas que tinham me chamado a atenção. Pensava em morar no Canadá, trabalhar com meu tio nessa área. Era um dos meus objetivos. Não é mais, porque no Brasil é muito boa a qualidade na parte de estruturas.
Qual o foco da empresa em que você trabalha? São obras de infraestrutura. A gama maior de projetos é toda em volta do metrô, mas não só de São Paulo. Um pouco de área industrial também. Mas o foco principal é o metrô.
O que fazer para conseguir estágio na Engenharia Civil? Na minha época era supertranquilo. Foi a época do boom das imobiliárias, era onde a Engenharia tinha mais estágios, empregos. Mas hoje já não está tão fácil como antes.
Qual é a importância do estágio na formação profissional? Tem a vantagem de ganhar experiência. Realmente estágio é muito importante, mesmo para quem está na dúvida sobre o que quer.
Você pretende fazer especialização? Na nossa empresa o dono está trazendo um curso novo para cá que vai começar no final de março.
De que se trata este curso? O curso é sobre túneis e postes.
O que você estudou na Poli está de acordo com o que você precisa no mercado de trabalho, no dia a dia? Acho que está bem de acordo, a Poli me deu uma boa base. Em faculdades de fora o curso tem menos anos, mas eles já entram com um mestrado, uma especialização. Aqui se faz uma faculdade em cinco anos, lá se faz em três. Lá, os dois anos a mais seriam de mestrado.
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Tem algum perfil específico para alguém se dar bem na Engenharia Civil? Quem trabalha em obras, por exemplo, tem de saber mandar em peão, lidar com a parte burocrática, tem de ter um perfil mais de líder. Já na minha área de projetos é só você demonstrar vontade de aprender as coisas. Mesmo as pessoas tímidas conseguem.
O que você acha que diferencia uma pessoa na hora de con seguir emprego? Eu vejo mais o perfil que a empresa procura. Em segundo lugar, a segurança que você tem de ter. Também vale seu histórico escolar. Eles vão olhar o curso que você fez, se você fez intercâmbio.
Quais são seus planos para este ano? Para este ano ainda pretendo continuar na minha área, aprendendo bastante.
Na época do Etapa, havia alguma matéria que parecia não ter muita importância para você, mas que hoje você vê que é importante? Sim, Geografia e História. Geografia, hoje, a gente usa bastante, para ver na área política o que está influenciando mais. Na Itália eu fiz um curso na área de Arquitetura e acabei vendo muito do que já tinha visto no Etapa em História, inclusive em História da Arte.
Quais são suas principais recordações do colégio? Lembro bastante dos professores, gostava muito deles. E ainda olho as fotos das pessoas que passaram no vestibular, as pessoas pulando de alegria.
Você tem amigos da época do colégio? Tenho e a gente se encontra, sai bastante. É divertido ver a área em que cada um está, como cada um cresceu. Lembro de quando a gente almoçava juntos, como era divertido.
Você quer dizer mais alguma coisa para nossos alunos? Aproveitem mesmo, essa é uma época que não volta mais.
SOBRE AS PALAVRAS
Entrar com o pé direito A expressão “entrar com o pé direito” surgiu no Império Romano e significa começar bem, ter sorte. Na ocasião de grandes festas, os romanos acreditavam que se entrassem com o pé direito evitariam o agouro. A palavra esquerdo significa, em latim, sinistro. Foi a partir daí que a crença se espalhou por todo o mundo.
Jornal do Colégio
Jornal do Colégio ETAPA, editado por Etapa Ensino e Cultura REDAÇÃO: Rua Vergueiro, 1 987 – CEP 04101-000 – Paraíso – São Paulo – SP JORNALISTA RESPONSÁVEL: Egle M. Gallian – M.T. 15343
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CONTO ARTIGO
O monstro de rodas Antônio de Alcântara Machado
O
Nino apareceu na porta. Teve um arrepio. Levantou a gola do paletó. – Ei, Pepino! Escuta só o frio! Na sala discutiam agora a hora do enterro. A Aída achava que de tarde ficava melhor. Era mais bonito. Com o filho dormindo no colo D. Mariângela achava também. A fumaça do cachimbo do marido ia dançar bem em cima do caixão. – Ai, Nossa Senhora! Ai, Nossa Senhora! D. Nunzia descabelada enfiava o lenço na boca. – Ai, Nossa Senhora! Ai, Nossa Senhora! Sentada no chão a mulata oferecia o copo de água de flor de laranja. – Leva ela pra dentro! – Não! Eu não quero! Eu... não... quero!... Mas o marido e o irmão a arrancaram da cadeira e ela foi gritando para o quarto. Enxugaram-se lágrimas de dó. – Coitada da D. Nunzia! A negra de sandália sem meia principiou a segunda volta do terço. – Ave-Maria, cheia de graça, o Senhor... Carrocinhas de padeiro derrapavam nos paralelepípedos da Rua Sousa Lima. Passavam cestas para a feira do Largo do Arouche. Garoava na madrugada roxa. – ... da nossa morte. Amém. Padre-Nosso que estais no Céu... O soldado espiou da porta. Seu Chiarini começou a roncar muito forte. Um bocejo. Dois bocejos. Três. Quatro. – ... de todo o mal. Amém. A Aída levantou-se e foi espantar as moscas do rosto do anjinho. Cinco. Seis. O violão e a flauta recolhendo de farra emudeceram respei tosamente na calçada.
***
Na sala de jantar Pepino bebia cerveja em companhia do Américo Zamponi (SALÃO PALESTRA ITÁLIA – Engraxa-se na perfeição a 200 réis) e o Tibúrcio (– O Tibúrcio... – O mulato? – Quem mais há de ser?). – Quero só ver daqui a pouco a notícia do Fanfulla. Deve cascar o almofadinha. – Xi, Pepino! Você é ainda muito criança. Tu é ingênuo, rapaz. Não conhece a podridão da nossa imprensa. Que o quê, meu nego. Filho de rico manda nesta terra que nem a Light. Pode matar sem medo. É ou não é, Seu Zamponi?
Seu Américo Zamponi soltou um palavrão, cuspiu, soltou outro palavrão, bebeu, soltou mais outro palavrão, cuspiu. – É isso mesmo, seu Zamponi, é isso mesmo!
***
O caixãozinho cor-de-rosa com listras prateadas (D. Nunzia gritava) surgiu diante dos olhos assanhados da vizinhança reunida na calçada (a molecada pulava) nas mãos da Aída, da Josefina, da Margarida e da Linda. – Não precisa ir depressa para as moças não ficarem escan galhadas. A Josefina na mão livre sustentava um ramo de flores. Do outro lado a Linda tinha a sombrinha verde, aberta. Vestidos engomados, armados, um branco, um amarelo, um creme, um azul. O enterro seguiu. O pessoal feminino da reserva carregava dálias e palmas-de-são-josé. E na calçada os homens caminhavam descobertos.
***
O Nino quis fechar com o Pepino uma aposta de quinhentão. – A gente vai contando os trouxas que tiram o chapéu até a gente chegar no Araçá. Mais de cinquenta você ganha. Menos, eu. Mas o Pepino não quis. E pegaram uma discussão sobre qual dos dois era melhor: Friedenreich ou Feitiço. – Deixa eu carregar agora, Josefina? – Puxa, que fiteira! Só porque a gente está chegando na Avenida Angélica. Que mania de se mostrar, que você tem! O grilo fez continência. Automóveis disparavam para o corso com mulheres de pernas cruzadas mostrando tudo. Chapéus cumprimentavam dos ônibus, dos bondes. Sinais da santa cruz. Gente parada. Na praça Buenos Aires, Tibúrcio já havia arranjado três votos para as próximas eleições municipais. – Mamãe, mamãe! Venha ver um enterro, mamãe!
***
Aída voltou com a chave do caixão presa num lacinho de fita. Encontrou D. Nunzia sentada na beira da cama olhando o retrato que a Gazeta publicara. Sozinha. Chorando. – Que linda que era ela! – Não vale a pena pensar mais nisso, D. Nunzia... O pai tinha ido conversar com o advogado. Extraído de: Brás, Bexiga e Barra Funda.
(ENTRE PARÊNTESIS)
A que dado fechado corresponde o aberto? b)
c)
d)
RESPOSTA Alternativa C
a)
ARTIGO
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O tempo geológico
A
Geologia é a ciência que estuda a natureza e a estrutura da Terra e os dados que nos testemunham as antigas formas de vida. Compreende a descrição das formas e acidentes terrestres, porém o que mais lhe interessa são os processos e as forças a que se deve a paisagem atual de nosso planeta. De modo geral, esses processos atuam de maneira extremamente lenta. São necessários enormes períodos de tempo para que a crosta terrestre se dobre formando cadeias de montanhas, para que estas se convertam em planícies pelo desgaste, para que avancem ou retrocedam as massas de gelo e para que ocorra o inexorável movimento de vastos segmentos dessa crosta. A ideia da vastidão do tempo geológico é relativamente recente no pensamento ocidental. Em 1656, após um cuidadoso estudo das genealogias de que fala a Bíblia, o arcebispo de Armagh (norte da Irlanda), James Ussher, calculou que a Criação havia ocorrido às oito horas da noite de 22 de outubro de 4004 a.C. – cálculo que ainda era amplamente aceito no século XVIII. Em 1785, porém, o naturalista escocês James Hutton publicou a sua Teoria da Terra, na qual afirmava que os processos naturais de criação e erosão das montanhas eram tão lentos que a Terra devia existir há muitos milhões de anos. Suas opiniões foram em geral recusadas até o princípio do decênio de 1830, época em que outro escocês, o geólogo Charles Lyell, as apoiou em sua famosa obra em três volumes, Os princípios da Geologia, lançando as bases da biologia evolutiva e do conhecimento da evolução da Terra. Com o surgimento da Geologia como ciência autônoma, a humanidade enfim tomou consciência da enorme quan tidade de tempo que a natureza gastou para levar a cabo as transformações que haviam efetivamente ocorrido. Nosso planeta é uma bola rochosa cuja história pode ser reconstruída, praticamente desde o princípio, mediante o estudo das rochas de sua superfície ou situadas próximas o bastante dela de modo que possam ser alcançadas através da perfuração do solo. As rochas podem ser agrupadas em três categorias prin cipais: rochas magmáticas, formadas por matéria fundida que emerge do interior da Terra; rochas metamórficas, que o calor e a pressão transformaram; e rochas sedimentares, que possuem uma estrutura estratificada e são formadas por fragmentos separados de outras rochas e depositados como sedimentos em outros lugares. As rochas magmáticas e metamórficas mais antigas nos proporcionam indícios sobre a origem e a história primitiva da crosta terrestre; as formações de rochas magmáticas e deformadas mais jovens nos ajudam a compreender como se formaram as cadeias de montanhas; e as sedimentares, depositadas em camadas ou estratos ao longo de milhões
de anos, fornecem os principais dados sobre os quais se baseia a escala normal do tempo geológico. As rochas sedimentares contêm fósseis, ou seja, restos de antigos organismos vivos. Como resultado da evolução, os seres vivos mudam constantemente, motivo pelo qual os fósseis achados nas rochas sedimentares constituem os elementos principais que nos permitem estabelecer a idade relativa das rochas encontradas em zonas geográficas diferentes. Em função disso, podemos considerar a com binação da estratigrafia (o estudo da sucessão de estratos rochosos) e a paleontologia (o estudo dos fósseis em relação à evolução da crosta terrestre), o estudo da “história em camadas”. Com o aparecimento da radiometria nos anos 1950, os cientistas puderam completar os dados obtidos a partir dos fósseis sobre a idade relativa com os dados sobre a idade absoluta (isto é, a idade em anos). A idade em anos de certas classes de rochas pode ser calculada a partir da quantidade de elementos radioativos e dos produtos de sua desintegração nos minerais que compõem essas rochas. Os isótopos do urânio, do potássio e do rubídio se desintegram a ritmos que conhecemos, transformando-se em isótopos estáveis de chumbo, argônio e estrôncio, respectivamente. Os produtos da desintegração começam a se acumular num
Rochas magmáticas
As rochas magmáticas se formam a partir da matéria fundida (magma) que emerge do interior da Terra. Quando o magma se solidifica antes de alcançar a superfície, forma rochas intrusivas como o dolerito, o gabro e o granito. Quando se solidifica após chegar à superfície, forma rochas vulcânicas como o basalto (a mais comum), a obsidiana e a pedra-pomes. Ao esfriar e cristalizar-se, sua composição se modifica, dando lugar a centenas de diferentes tipos de rochas magmáticas, a partir de reduzidos tipos de minerais. Após um rápido esfriamento, há a possibilidade de permanência de minerais que se formam em altas temperaturas.
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ARTIGO
mineral uma vez que este se tenha cristalizado e esfriado, pondo em movimento, por assim dizer, uma espécie de “relógio radioativo”. Assim como o tempo cronológico se divide em horas, minutos e segundos, o tempo geológico se divide em eras, períodos ou sistemas e épocas ou séries. A primeira das eras, a Pré-Cambriana, abarca o período de tempo compreendido entre a formação da crosta terrestre, há cerca de 4,6 bilhões de anos, e o momento em que, há cerca de 570 milhões de anos, começaram a surgir, pela primeira vez na história da Terra, formas variadas de vida, que chegaram até nós como restos fósseis. A Era Pré-Cambriana, que alguns geólogos subdividem em outras duas, a Arqueozoica e a Proterozoica, compreende pois quase 90% do tempo geológico. O período que vai desde o final da Era Pré-Cambriana até o presente abrange três eras: a Paleozoica (“vida antiga”), de 570 a 225 milhões de anos; a Mesozoica (“vida intermediária”), de 225 a 65 milhões de anos; e a Cenozoica (“vida nova”), de 65 milhões de anos até hoje. Generalizando, podemos dizer que os vertebrados e os invertebrados relativamente simples, como os peixes, os
Rochas metamórficas
As rochas metamórficas são rochas transformadas (metamorfoseadas) e cristalizadas pelo calor e pela pressão. Neste processo de transformação, os minerais das rochas primitivas se reconstituem, formando cristais maiores, ou reagem entre si para formar novos minerais. As rochas então produzidas possuem uma estrutura estratificada que recebe o nome de foliação, tal como se pode observar na ardósia. O metamorfismo ocorre em duas situações distintas: em torno de cristais de magma que surgem na rocha após esfriada (metamorfose de contato); e no interior das dobras rochosas de temperaturas elevadas ou sob as fossas oceânicas onde se produzem altas pressões (metamorfismo regional). Entre as rochas metamórficas encontramos a ardósia, produzida a partir da argila, sob baixas temperatura e pressão; o xisto e o gnaisse, formados sob temperatura e pressão mais altas; e o mármore, derivado do arenito.
anfíbios e os répteis primitivos, constituíam as formas de vida predominantes durante a Era Paleozoica; a Mesozoica presenciou o aparecimento e o domínio dos répteis superiores, como o dinossauro; e a Era Cenozoica ou Contemporânea é a do domínio dos mamíferos. As eras se dividem em unidades menores chamadas períodos ou sistemas. A maior parte deles recebe o nome das regiões geográficas onde foram encontradas rochas com fósseis característicos de seus segmentos de tempo geológico. Assim, o Período Cambriano recebeu seu nome da antiga denominação de Gales e o Permiano, do antigo reino russo de Perm. Por outro lado, o nome de certos períodos não deriva de sua localização geográfica, porém das características físicas de suas rochas. Assim, o nome do Período Cretáceo se origina da palavra latina que designa o giz (creta) e o do Triássico devido ao fato de que na Alemanha as rochas desse período se dividem em três estratos distintos, consistindo em arenito, calcário e piçarra. Em certos casos, geólogos de distintas partes do mun do utilizam nomenclatura diferente para designar o mesmo período. Por exemplo, o período que os europeus deno
Rochas sedimentares
As rochas sedimentares, que possuem uma estrutura estratificada, contêm a totalidade dos combustíveis (petróleo, carbono) e dos organismos (animais, vegetais) fósseis do planeta. A primeira fase de sua formação consiste na desagregação de rochas já existentes. Os produtos deste processo, fragmentados ou dissolvidos, são arrastados até se depositarem em outros locais, formando camadas horizontais superpostas, ou sedimentos. Estas camadas, pressionadas ou aglutinadas por outros minerais, enrijecem e formam as rochas sedimentares. Existem três tipos principais destas rochas: fragmentárias, formadas por seixos (brecha, conglomerados), areia (saibro, arenito) ou barro (argila, xisto de barro, xisto); orgânicas, constituídas principalmente por resíduos fósseis de animais e plantas (carbonos, calcários); e formadas quimicamente por precipitação de água salobra e de fontes hidrotérmicas (sal-gema, gesso, minério de ferro, alguns tipos de calcário e quartzos silícios).
ARTIGO minam Carbonífero, devido à presença de carbono, agrupa aqueles que os norte-americanos chamam de Pensilvânico e Mississípico (regiões geográficas). Os períodos se dividem em épocas ou séries, que por sua vez se subdividem em idades ou etapas. E aqui aumentam as divergências da nomenclatura utilizada nas diversas regiões do mundo. Isso ocorre principalmente porque a relação entre o tempo geológico e as sucessões de estratos rochosos estabeleceu-se segundo o modelo de pensamento tradicional da região ou do país, cujos critérios inevitavelmente diferem de um para outro, assim como as terminologias e as classificações. Nem todos os geólogos aceitarão, portanto, os nomes e as datas assinaladas, nem mesmo os de um quadro simplificado como o mostrado logo abaixo. Portanto, ficaria facilitada a solução de muitos problemas geológicos importantes se fosse aclarada a compreensão pelos geólogos de todo o mundo dos dados provenientes de diversas regiões mediante a adoção de terminologia e
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normas comuns. Alcançar esse objetivo é um dos propó sitos principais do Programa Internacional de Correlação Geológica, no qual conjugam esforços a Unesco e a União Internacional de Ciências Geológicas. De particular importância são os projetos destinados a aperfeiçoar progressivamente as escalas do tempo geológico. Os geólogos necessitam de métodos precisos para determinar o tempo, não só como base para as investigações sobre a evolução da crosta terrestre, como também para identificar e avaliar os recursos energéticos e minerais. A compreensão do processo natural que conduziu à acumulação de depósitos de minerais ou de combustíveis fósseis depende da capacidade do geólogo de aprender a sucessão de etapas em que se formaram esses depósitos e de relacionar corretamente entre si as séries ou sucessões relativas à formação de depósitos similares em zonas muito distantes entre si. Parafraseando o velho ditado: “O tempo geológico é dinheiro”.
ESCALA DO TEMPO GEOLÓGICO Era
Período/Sistema
Época/Série
Duração em milhões de anos
Holoceno
0,01
Plistoceno
2,5
Plioceno
4,5
Mioceno
19
Oligoceno
12
Eoceno
16
Paleoceno
11
Quaternário
Cenozoica Terciário
Mesozoica
Cretáceo
71
Jurássico
54
Triássico
35
Permiano
55
Carbonífero Paleozoica
Pré-Cambriana
Pensilvaniano*
45
Mississipiano*
20
Devoniano
50
Siluriano
35
Ordoviciano
70
Cambriano
70
Protozoico ou Algonquiano Arqueozoico ou Arqueano
Não dividimos em períodos
4 030
* Nomes tirados de localidades geográficas que variam consideravelmente. Traduzido por Ângela Melim. Extraído de: O Correio da Unesco.
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ESPECIAL
Olimpíada Paulista de Física 2014 30 alunos do Colégio Etapa foram premiados
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o mês de março aconteceu a cerimônia de premiação da edição 2014 da Olimpíada Paulista de Física (OPF). Dos 140 alunos do estado de São Paulo (do 6o EF II ao 3o EM) premiados por seus bons desempenhos na competição, 30 são do Colégio Etapa. Foram 8 medalhas de ouro, 11 de prata, 9 de bronze e duas menções honrosas!
Além disso, o nosso aluno Henrique Corato Zanarella (2o ano do EM) conquistou a medalha “César Lattes” de melhor aluno do Ensino Médio, com uma incrível pontuação de 99,3 (em 100 pontos possíveis). Parabéns a todos os participantes!
Fazendinha Estação Natureza Alunos da Educação Infantil entraram em contato com o meio ambiente
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roporcionar às crianças a oportunidade de entrar em contato com o meio ambiente é o intuito da Fazendinha Estação Natureza, um espaço localizado na capital paulista que conta com animais de campo e fazenda. Este foi o destino da excursão cultural que aconteceu em março para os alunos da Educação Infantil do Colégio Etapa. Com a companhia de monitores especializados, as crianças puderam tocar, alimentar e perceber as características de vários animais – como ovelhas, cabras, coelhos e patos. Elas também aprenderam a tirar leite da vaca e andaram a cavalo. Foi um passeio bastante lúdico e instrutivo, que ensinou aos estudantes sobre educação ambiental e estimulou a sua curiosidade.