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Jornal do Colégio JORNAL DO COLÉGIO ETAPA – 2015 • DE 29/05 A 11/06
ENTREVISTA
Na dúvida entre Farmácia e Química, ele fez a escolha no 3o ano. Lucas Saksanian Hallak entrou em Farmácia-Bioquímica na USP e atualmente está completando o curso e fazendo seu segundo estágio. O primeiro foi na área de saúde da Siemens e o atual é na Sanofi, uma empresa de saúde com foco no paciente. Nesta entrevista ele fala das dúvidas que teve na escolha da carreira, como se preparou para os vestibulares, e dá informações sobre o curso e o mercado de trabalho.
Lucas Saksanian Hallak
JC – Como se deu a escolha de Farmácia-Bioquímica como carreira? Lucas – Sempre gostei muito de Biologia e sempre tive uma queda pelas matérias de Exatas. No 2o ano veio a dúvida entre seguir Farmácia ou Engenharia Química. Até então eu não conhecia a carreira de Farmácia. No 3o ano, optei por fazer Farmácia devido às matérias é ao mercado de trabalho que é muito grande.
Além da Fuvest, em quais faculdades você foi aprovado? Fui aprovado na Unifesp e na Unesp.
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Entrei no Etapa em 2005, na 7 série do Fundamental.
No 3o ano, depois que você decidiu o que ia prestar, mudou alguma coisa no seu estudo? Eu mantive o que estava fazendo, mas com mais foco, mais determinação. Estava acostumado com o método do Etapa.
Carreira – Farmácia-Bioquímica
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No 1o ano não tive nenhuma grande dificuldade, mas eu era muito preocupado e no 2o ano tinha uma matéria bastante difícil, Química Orgânica. Eu fiquei com medo de bombar. Não queria atrasar, queria levar com calma o curso, estagiar com calma. No terceiro semestre tinha muitas matérias, era aula das 8 às 18 horas todo dia e tinha essa matéria em especial, Química Orgânica 3.
Florbela Espanca (1894-1930)
ESPECIAL
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Galgo coelho
Show de Física da USP KidZania
ENTRE PARÊNTESIS
CONTO
Questão de honra – Artur Azevedo
No começo tinha muita matéria, uma parte de Biologia e Química em que a base vinha do colégio. Isso ajudou principalmente no primeiro semestre. Claro que tinha matéria, como Cálculo, que exigia outra rotina, outro estudo. Mas no primeiro semestre não foi muito difícil a adaptação.
POIS É, POESIA
PARA PENSAR Piratas do Tietê – Laerte
Como foi o início na Farmácia?
Quais dificuldades você enfrentou nesse início na faculdade?
Quando você entrou no Colégio Etapa?
ENTREVISTA
Com prova todo dia, tem de estudar sempre. O que a gente já tinha no colégio era suficiente. Claro, fazendo mais exercícios, tirando dúvidas no plantão. Acabei indo superbem na 1a e na 2a fase da Fuvest.
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ARTIGO
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Ora pois, uma língua bem brasileira
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ENTREVISTA
Em cada ano, quais foram, basicamente, as matérias que você estudou? o
No 1 ano é muita Química, mais Física, Cálculo e Biologia. No 2o ano você começa a aprender Química com Biologia e a partir do 3o ano vai mais para a parte de Biologia mesmo.
Quando entra a parte específica de Farmácia? Farmácia entra a partir da metade do 3o ano. Começa a ter Farmacodinâmica, Química Farmacêutica, Fisiopatologia. Começam também as matérias de tecnologia.
O que está vendo hoje em seu último ano? Agora estou tendo só as matérias opcionais. Pego as matérias com as quais tenho mais afinidade.
Qual é o seu trabalho? Sou monitor. Na prática, o monitor vai ao centro de pesquisa, lê o prontuário do cliente, fala com o médico. Tem de estar tudo documentado para a Anvisa. Tem de estar tudo no sistema da Sanofi para fazer a análise de dados futuramente. É saber se algum evento adverso foi notificado ao comitê de ética, e, se não foi, por quê. Todo mundo no centro que vai lidar com paciente precisa ter os treinamentos em dia para exercer suas funções. Tem de estar tudo documentado na pasta. E ver se toda a documentação para todos os órgãos está certa. Então, um monitor é um administrador de problemas. Resumindo, é isso.
Você já identificou a área que pretende seguir na carreira?
Qual foi o período mais difícil no seu curso?
Farmacoeconomia, economia da saúde.
O terceiro semestre foi o mais difícil. O mais trabalhoso foi o quinto semestre, mas as matérias eram muito legais, muito interessantes. Tinha Imunologia, Fisiologia do Sistema, Formação das Células Sanguíneas.
Você está em seu sexto ano de USP e poderia ter feito em cinco anos. Por que esse aumento no tempo de curso?
Quando você começou a estagiar?
Preferi fazer o curso com calma, aproveitar mais a faculdade, escolher matérias de que eu gosto e estagiar tranquilo.
Em 2013, quando fui para o 4o ano da faculdade. Aí eu me matriculei nas matérias do noturno.
Você chegou a fazer alguma atividade extracurricular na faculdade?
Onde você fez esse primeiro estágio?
Eu entrei na Atlética no 2o ano, em 2011, e fiquei até o final de 2012. Jogava tênis pela faculdade. Ganhei títulos para a Farmácia. Ajudei a organizar o InterUSP em 2012, foi bem legal.
Na Siemens, onde fiquei um ano e 10 meses, de janeiro de 2013 até novembro de 2014. Em 10 de novembro de 2014 comecei na empresa em que estou atualmente, a Sanofi Brasil.
O que você fazia na Siemens? A Siemens se divide em quatro setores e um deles, na área de saúde, chama-se Healthcare. A empresa faz suas próprias máquinas de ressonância, tomografia, raios X. Essa área é conhecida por diagnóstico por imagem. A Siemens adquiriu três empresas para ter o portfólio de diagnóstico in vitro, que é análise de sangue. Comprou empresas que produziam as máquinas e os reagentes para fazer a análise do sangue. Na área de Healthcare eu trabalhava com marketing e planejamento de vendas.
Trabalhava na área comercial mesmo? Isso. Visitava hospitais, ajudava na elaboração de contratos, lia editais de licitação. Tinha tanto mercado privado como público.
Como você descreve cada ano do curso de Farmácia? Para mim, o primeiro ano é o de maior felicidade. O segundo, por ter matéria mais difícil, foi um ano de superação. O terceiro também tem muitas matérias interessantes. O quarto foi um ano de novidades – comecei a trabalhar e fui para o noturno. Foi um ano totalmente diferente, de adaptação difícil. E, agora, o último ano está sendo muito tranquilo.
Como você teve uma ideia mais clara da sua carreira? As palestras no Etapa me ajudaram muito. Numa delas, um químico, um farmacêutico-bioquímico e um engenheiro químico abordaram suas áreas que são bem parecidas. Como disse, decidi por Farmácia pelas matérias e pelo campo de trabalho.
Quais são as áreas em que um farmacêutico-bioquímico pode atuar?
É uma farmacêutica francesa. Uma empresa de saúde diversificada com foco no paciente.
Existem n áreas de atuação. Tem garantia da qualidade, controle da qualidade, pesquisa e desenvolvimento, pesquisa clínica, marketing, farmacoeconomia, assuntos regulatórios, parte acadêmica, parte de patentes, que seria uma área misturada com o jurídico. E ainda existe a área de assuntos médicos.
Você faz estágio em que área?
Está fácil conseguir estágio na área?
Trabalho na área de pesquisa clínica.
Hoje há muitas vagas para estágio em grandes empresas.
A Sanofi é farmacêutica também?
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ENTREVISTA O que você acha que diferencia uma pessoa na hora de conseguir emprego? A postura da pessoa, como ela vai passar suas ideias, como vai lidar com seu grupo na hora da dinâmica. Também conta o perfil da pessoa. Para o emprego você precisa ter formação, precisa ter conhecimento técnico. Mas, além do conhecimento técnico você tem a questão de relacionamento com pessoas. Aí vai do seu perfil. Para conseguir emprego nas grandes empresas é principalmente a sua postura que influi, e suas características para aquela vaga. A faculdade que fez e os idiomas que sabe ajudam, com certeza.
Como você se imagina na carreira daqui a 10 anos? Quero estar morando fora do Brasil ou recém-chegado de fora. Tenho muita vontade de trabalhar fora do Brasil numa grande empresa. E tenho interesse em ser gerente.
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amigos, o ambiente. O colégio é rigoroso, mas foi muito gostoso esse tempo.
E você ainda tem contato com os colegas do Etapa? Sim. Meus melhores amigos são daqui. Amigos mesmo são os do Etapa. Até hoje.
O que você pode dizer a quem está na dúvida sobre a escolha da carreira, assim como você estava no colégio? Acho que você tem de procurar as opções no mercado de trabalho. “Fazendo tal faculdade, você vai trabalhar em quê? Com o quê?” Tirar as dúvidas com os professores, com certeza eles vão auxiliar. Ir atrás mesmo. Se tiver uma palestra sobre profissões, não deixar de participar.
Hoje, voltando ao Etapa, o que passa por sua mente?
Você quer dizer mais alguma coisa para nossos alunos?
Passa um filme na minha cabeça. Fiquei muito emocionado. Estudei aqui durante cinco anos, anos incríveis. Realmente, só tive momentos bons aqui. Amava isso daqui, meus
Aproveitem cada dia no Etapa. Curta a vida todo dia, mas não pare de pensar no futuro. É importante você buscar as coisas e traçar os planos para conseguir alcançá-las.
PARA PENSAR PIRATAS DO TIETÊ/Laerte
Folha de S.Paulo, 1o.12.2006.
1. As roupas dos personagens nos permitem supor que ambos se relacionam a que época em específico? 2. A fala do personagem da direita também se insere nesse contexto? 3. Qual episódio da mitologia está sendo representado pelo personagem da esquerda? Qual o topônimo inspirado nesse personagem?
RESPOSTA 1. As roupas dos personagens nos permitem supor que ambos se relacionam ao Período Greco-Romano. 2. Não. O personagem da direita se refere à teoria dos buracos negros, a qual – por ter sido formulada pelo matemático francês Laplace apenas no século XVIII – não era conhecida pela cultura clássica. 3. O personagem da esquerda é Atlas, o gigantesco filho de Jápeto e Clímente. Com seus irmãos, combateu Júpiter e foi condenado por este a carregar o mundo sobre os ombros. Num outro episódio, quando Perseu lhe pediu hospitalidade, recusou-a, porque o oráculo o advertira para não confiar nos filhos de Júpiter. Ofendido, Perseu mostrou--lhe a cabeça da Medusa, transformando-o numa imensa montanha que recebeu o nome de Atlas. A atual cadeia do Atlas se localiza no noroeste africano, cortando o Marrocos, a Argélia e a Tunísia.
Jornal do Colégio
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Jornal do Colégio ETAPA, editado por Etapa Ensino e Cultura REDAÇÃO: Rua Vergueiro, 1 987 – CEP 04101-000 – Paraíso – São Paulo – SP JORNALISTA RESPONSÁVEL: Egle M. Gallian – M.T. 15343
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CONTO
Questão de honra Artur Azevedo ram sete horas da manhã. Braga Lopes, sentado numa deliciosa chaise-longue, brunia as unhas e contemplava, pela janela do gabinete, o Pão de Açúcar, que por um belo efeito de luz parecia de madrepérola. Angélica entrou no gabinete, e bateu de leve no ombro do marido. — Preciso de quinhentos mil-réis. — Já? — Já. Por única resposta, Braga Lopes apontou para uma carta aberta sobre a secretária de pau-rosa. Angélica leu: o senhorio reclamava em termos violentos, não sei quantos meses atrasados do aluguel do prédio nobre. A moça encolheu os ombros, saiu arrebatadamente e mandou atrelar. Fez ligeira, mas elegante toilette de passeio, e, calçando as luvas de pele da Suécia, recomendou ao engravatado copeiro que não a esperasse para almoçar. O marido ouviu rodar o coupé e chegou à janela. Acompanhou com a vista o trajeto do carro em quase toda a curva da praia de Botafogo, até que o viu desaparecer na rua Marquês de Abrantes. — Aonde irá ela arranjar quinhentos mil-réis a esta hora? pensou, e, sentando-se de novo, recomeçou a sua ocupação predileta — brunir as unhas
E
*** Ao entrar no coupé, Angélica dissera ao boleeiro: — Vamos à baronesa. A baronesa ainda estava no leito. Angélica foi introduzida no dormitório. — Preciso de quinhentos mil-réis. — Já? — Já. — Impossível, minha amiga; o barão está em Petrópolis. — Petrópolis em junho! — Foi a negócio e não a passeio. O dinheiro está com ele, bem sabes. Sinto não te poder servir nesse momento, como noutras ocasiões o tenho feito. Não é a primeira vez que tu... — Bem... desculpe... adeus, baronesa. Angélica a sair e o barão a entrar. — Oh! madame Braga Lopes! a que feliz acaso devemos tão matinal visita? — Não tinha ido para Petrópolis, barão? — Petrópolis em junho! Jamais de la vie! Seria ridículo! Saí muito cedo por necessidade e só contava estar de volta ao meio-dia. Esteve com a baronesa? — Sim, senhor barão; passe bem.
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E Angélica, mordendo os beiços de raiva, entrou rapidamente no coupé, cuja portinhola o barão abriu pressuroso com a mão esquerda, enquanto a direita fazia o chapéu descrever uma pequena reta, muito graciosa, à inglesa. O boleeiro voltou-se para receber as ordens da patroa. — Vamos às Guedes. O barão fechou a portinhola, e o carro pôs-se em movimento. As Guedes eram três irmãs solteironas. Moravam na rua do Conde, perto do Catumbi. Angélica esperou por elas durante quarenta minutos. Empregou todo esse tempo a passear de um lado para o outro, muito contrariada por se ver ali, numa rua tão burguesa, naquela velha sala sem tapeçarias, nem reposteiros, nem bibelôs, fastidiosa com sua esmagadora mobília de jacarandá e os seus venerandos castiçais de prata, resguardados em monstruosas mangas de vidro. Numa velhíssima tela, o pai das Guedes, pintado a óleo, muito sério, inteiramente barbeado, de óculos, o pescoço escondido numa abundante gravata de cinco voltas, as mangas da casaca muito apertadas, as mãos a emergirem das rendas dos manguitos, olhava fixamente para Angélica, e parecia dizer-lhe: — Que vens aqui fazer? Não arranjas nada! Afinal apareceram as Guedes. Entraram as três ao mesmo tempo, com pequeninos gritos de surpresa alegre, fazendo um gasto enorme de beijos, abraços, pancadinhas de amor e frases candongueiras: Mas que milagre é este? Por isso é que o dia está tão bonito! Vou mandar repicar os sinos! — Sente-se, dona Angélica. — Não; a demora é pequena. Vinha pedir-lhe um grande obséquio. Preciso de quinhentos mil-réis. As Guedes entreolharam-se estupefatas. A recusa foi categórica e formal. Não podiam naquela ocasião dispor nem de quinhentos réis, quanto mais de quinhentos mil-réis. A “pouca vergonha” de 13 de Maio deixara-as quase na miséria. Se não possuíssem aquela “humilde choupana” e mais dois sobrados na rua dos Pescadores, estariam reduzidas à miséria. Angélica saiu despeitadíssima; entretanto, não desanimou. O passivo e solícito cocheiro levou-a ainda à presença de seis amigas ricas, e todas lhe disseram não! Em toda parte a mísera encontrava esse monossílabo terrível! Ao meio-dia, humilhada, indisposta, em jejum, com os nervos excitados por aquela violenta caçada, por aquele perseguir uma quantia miserável, que lhe fugia das mãos
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CONTO obstinadamente, a pobre Angélica teve um gesto expressivo e supremo de resolução e coragem. Alguns minutos depois, o coupé deixava-a no largo de S. Francisco. Ela tomou a pé a rua do Rosário, atravessou a da Quitanda, dobrou a da Alfândega, e, sobressaltada, palpitante, com muito medo de que a vissem, entrou precipitadamente num casarão de dois andares. No corredor hesitou alguns segundos antes de subir; mas enchendo-se de ânimo, galgou ligeiramente as escadas até o segundo andar. Abriram-lhe logo a porta, e ela, trêmula, ofegante, com as mãos muito frias, sem poder proferir uma palavra, caiu nos braços de um homem, que a recebeu com um beijo, e lhe disse: — Estava escrito que mais dia menos dia a senhora se compadeceria dos meus tormentos... — O que me traz à sua casa é uma questão de honra; conto com sua discrição e seu cavalheirismo. Preciso de... Angélica envergonhou-se de se vender por tão pouco, e quadruplicou a quantia: — Preciso de dois contos de réis. — Já? — Já. O relógio da Candelária batia duas horas quando madame Braga Lopes, perfeitamente almoçada, desceu as escadas da casa da rua da Alfândega.
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Pode ser que o arrependimento aparecesse mais tarde; naquele momento ela era toda satisfação e triunfo. A gentil pecadora entrou radiante na rua do Ouvidor, e foi ter ao Palais-Royal. — Ainda aí está? perguntou a um dos caixeiros da loja com receio de que mais uma vez lhe dissessem não. — Ainda, e às suas ordens. — Bom, acrescentou ela, depois de um prolongado suspiro; aqui estão os quinhentos mil-réis. Mande-mo à casa. — Com efeito! exclamou Braga Lopes quando Angélica lhe apareceu às três horas. Com efeito! passaste o dia inteiro na rua!... — Sim, vê lá se achas que uma mulher, que só tem brilhantes falsos e joias de pechisbeque, possa facilmente arranjar quinhentos mil-réis... — Mas para que precisavas tu desse dinheiro? perguntou indiferentemente o extraordinário marido. — Uma questão de honra, meu amigo. Imagina que me apaixonei por um vestido que vi ontem na vitrine do Palais-Royal; imagina que a Laurita Lobo queria por força ficar com ele; imagina que o dono da loja declarou que o entregaria à primeira das duas que lhe levasse quinhentos mil-réis!... — Ah! bom! assim, sim, obtemperou Braga Lopes, que recomeçou fleumaticamente a sua ocupação predileta − brunir unhas.
POIS É, POESIA
Florbela Espanca (1894-1930) Ambiciosa
Eu
Para aqueles fantasmas que passaram, Vagabundos a quem jurei amar, Nunca os meus braços lânguidos traçaram O voo dum gesto para os alcançar...
E u sou a que no mundo anda perdida Eu sou a que na vida não tem norte, Sou a irmã do Sonho, e desta sorte Sou a crucificada... a dolorida...
Se as minhas mãos em garra se cravaram Sobre um amor em sangue a palpitar... – Quantas panteras bárbaras mataram Só pelo raro gosto de matar!
Sombra de névoa tênue e esvaecida, E que o destino amargo, triste e forte, Impele brutalmente para a morte! Alma de luto sempre incompreendida!...
Minha alma é como a pedra funerária Erguida na montanha solitária Interrogando a vibração dos céus!
Sou aquela que passa e ninguém vê... Sou a que chamam triste sem o ser... Sou a que chora sem saber por quê...
O amor dum homem? – Terra tão pisada, Gota de chuva ao vento baloiçada... Um homem? – Quando eu sonho o amor dum Deus!...
Sou talvez a visão que Alguém sonhou, Alguém que veio ao mundo pra me ver E que nunca na vida me encontrou!
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POIS É, POESIA
SĂłror Saudade
Esfinge A AmĂŠrico DurĂŁo
I rmã Sóror Saudade me chamaste... E na minh’alma o nome iluminou-se Como um vitral ao sol, como se fosse A luz do próprio sonho que sonhaste. Numa tarde de outono o murmuraste; Toda a mågoa do outono ele me trouxe; Jamais me hão de chamar outro mais doce: Com ele bem mais triste me tornaste... E baixinho, na alma de minh’alma, Como bênção de sol que afaga e acalma, Nas horas mås de febre e de ansiedade, Como se fossem pÊtalas caindo, Digo as palavras desse nome lindo Que tu me deste: Irmã Sóror Saudade...
S ou filha da charneca erma e selvagem: Os giestais, por entre os rosmaninhos, Abrindo os olhos d’ouro, p’los caminhos, Desta minh’alma ardente sĂŁo a imagem. E ansiosa desejo – Ăł vĂŁ miragem – Que tu e eu, em beijos e carinhos, Eu a Charneca, e tu o Sol, sozinhos, FĂ´ssemos um pedaço da paisagem! E Ă noite, Ă hora doce da ansiedade, Ouviria da boca do luar O De Profundis triste da saudade... E, Ă tua espera, enquanto o mundo dorme, Ficaria, olhos quietos, a cismar... Esfinge olhando, na planĂcie enorme...
Biografia
Amar!
E u quero amar, amar perdidamente! Amar só por amar: Aqui... alÊm... Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente... Amar! Amar! E não amar ninguÊm! Recordar? Esquecer? Indiferente!... Prender ou desprender? É mal? É bem? Quem disser que se pode amar alguÊm Durante a vida inteira Ê porque mente! Hå uma primavera em cada vida: É preciso cantå-la assim florida, Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar! E se um dia hei de ser pó, cinza e nada Que seja a minha noite uma alvorada, Que me saiba perder... pra me encontrar...
Florbela de Alma da Conceição Espanca nasceu em Vila Viçosa (Alentejo), em 1894. Seus primeiros versos datam dos anos em que fez o curso secundĂĄrio em Évora, e que somente viriam a ser reunidos em volume depois de sua morte, com o tĂtulo de JuvenĂlia (1931). Malogrado seu casamento, vai para Lisboa com o fito de seguir Direito, e nesse mesmo ano (1919) publica Livro de mĂĄgoas, que passa despercebido. Igual destino teve a obra seguinte, Livro de SĂłror Saudade, dado a lume em 1923. Novamente infeliz no casamento, retira-se do convĂvio social, embora continue a escrever poesia e a publicĂĄ-la ao acaso. Recolhe-se a Matosinhos, jĂĄ agora estimulada pelas renovadas esperanças de felicidade conjugal, mas seus nervos entram a dar sinal de exaustĂŁo. Morre, talvez de suicĂdio, em 1930. Escreveu poesia (JuvenĂlia, 1931; Livro de mĂĄgoas, 1919; Livro de SĂłror Saudade, 1923; Reliquiae, 1931; Charneca em flor, 2a ed., 1931) e contos (As mĂĄscaras do destino, 1931; DominĂł negro, 1931).
(ENTRE PARÊNTESIS) RESPOSTA 8 12 n  n  12 ` 3 2 5 2
n2 $ x2
n2  45 pulos .
(n1 12) x1
vantagem = 12 pulos
coelho
galgo
Um coelho estå 12 pulos na frente de um galgo. Sabe-se que enquanto o galgo då 5 pulos, o coelho då 12; mas 3 pulos do galgo equivalem a 8 pulos do coelho. Após quantos pulos o galgo alcança o coelho, supondo-se que os dois pulem numa trajetória reta?
Logo:
Galgo Ă— coelho
Pelos dados: n1  12 e 8x1  3x2 . n2 5 n2 : nO de pulos do galgo atÊ alcançar o coelho. n1 : nO de pulos do coelho atÊ ser alcançado pelo galgo. Sejam
x1 : distância que o coelho cobre num pulo. x2 : distância que o galgo cobre num pulo. JC_592.indd 6
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ARTIGO
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Ora pois, uma língua bem brasileira Carlos Fioravanti
possibilidade de ser simples, dispensar elementos gramaA história da língua portuguesa no Brasil está trazendo à tona as ticais teoricamente essenciais e responder “sim, comprei”, características preservadas do português, como a troca do l pelo r, quando alguém pergunta “você comprou o carro?”, é uma resultando em pranta em vez de planta. Camões registrou essa das características que conferem flexibilidade e identidade ao portroca em Os Lusíadas – lá está um frautas no lugar de flautas – e tuguês brasileiro. o cantor e compositor paulista Adoniran Barbosa a deixou registraA análise de documentos antigos e de entrevistas de campo da em diversas composições, em frases como “frechada do teu ao longo dos últimos 30 anos está mostrando que o português olhar”, do samba “Tiro ao Álvaro”. brasileiro já pode ser considerado único, diferente do português Em levantamentos de campo, pesquisadores da USP observaeuropeu, do mesmo modo que o inglês americano é distinto do ram que moradores do interior tanto do Brasil quanto de Portugal, inglês britânico. principalmente os menos escolarizados, ainda falam desse modo. O português brasileiro ainda não é, porém, uma língua autônoOutro sinal de preservação da língua identificado por especialistas ma: talvez seja – na previsão de especialistas, em cerca de 200 do Rio de Janeiro e de São Paulo, dessa vez em documentos ananos – quando acumular peculiaridades que nos impeçam de entigos, foi a gente ou as gentes como sinônimo de nós e hoje uma tender inteiramente o que um nativo de Portugal diz. das marcas próprias do português brasileiro. A expansão do português no Brasil, as variações regionais com Célia Lopes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), suas possíveis expliencontrou registros de cações, que fazem o a gente em documenurubu de São Paulo ser tos do século XVI e, chamado de corvo no com mais frequência, Sul do país, e as raía partir do século XIX. zes das inovações da Era uma forma de indilinguagem estão emercar a primeira pessoa gindo por meio do trado plural, no sentido balho de cerca de 200 de todo mundo com a linguistas. inclusão necessária do De acordo com eseu. tudos da Universidade Segundo ela, o emde São Paulo (USP), prego de a gente pode uma inovação do porpassar descompromistuguês brasileiro, por so e indefinição: quem enquanto sem equivadiz a gente em geral lente em Portugal, é o r não deixa claro se precaipira, às vezes tão intende se comprometer tenso que parece valer com o que está falando por dois ou três, como ou se se vê como parte em porrrta ou carrrne. do grupo, como em “a Associar o r caipira gente precisa fazer”. Almeida Júnior, O violeiro, 1899. Pinacoteca do Estado de São Paulo. apenas ao interior pauJá o pronome nós, lista, porém, é uma imprecisão geográfica e histórica, embora o r como em “nós precisamos fazer”, expressa responsabilidade e desavergonhado tenha sido uma das marcas do estilo matuto do compromisso. Nos últimos 30 anos, ela notou, a gente instalouator Amácio Mazzaropi em seus 32 filmes, produzidos de 1952 a -se nos espaços antes ocupados pelo nós e se tornou um recurso 1980. Seguindo as rotas dos bandeirantes paulistas em busca de bastante usado por todas as idades e classes sociais no país inteiouro, os linguistas encontraram o r supostamente típico de São ro, embora nos livros de gramática permaneça na marginalidade. Paulo em cidades de Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso Linguistas de vários estados do país estão desenterrando do Sul, Paraná e oeste de Santa Catarina e do Rio Grande do as raízes do português brasileiro ao examinar cartas pessoais Sul, formando um modo de falar similar ao português do século e administrativas, testamentos, relatos de viagens, processos XVIII. Quem tiver paciência e ouvido apurado poderá encontrar judiciais, cartas de leitores e anúncios de jornais desde o século também na região central do Brasil – e em cidades do litoral – o XVI, coletados em instituições como a Biblioteca Nacional e o s chiado, uma característica hoje típica do falar carioca que veio Arquivo Público do Estado de São Paulo. com os portugueses em 1808 e era um sinal de prestígio por A equipe de Célia Lopes tem encontrado também na feira de representar o falar da Corte. Mesmo os portugueses não eram antiguidades do sábado da Praça XV de Novembro, no centro do originais: os especialistas argumentam que o s chiado, que faz Rio, cartas antigas e outros tesouros linguísticos, nem sempre da esquina uma shquina, veio dos nobres franceses, que os porvalorizados. “Um estudante me trouxe cartas maravilhosas tugueses admiravam. encontradas no lixo”, ela contou. Reprodução
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ESPECIAL
Show de Física da USP 7º ano participou de experiências lúdicas e divertidas física não é apenas teorias e fórmulas. Muito pelo contrário, ela está em tudo o que existe à nossa volta. Neste semestre, os alunos do 7o ano do Ensino Fundamental II do Colégio Etapa viram um pouco do que a ciência é capaz de fazer e explicar, no Show de Física da USP. O projeto tem como meta complementar o conteúdo visto na escola. Funciona como uma aula prática, em que são realizadas diversas experiências, enquanto os conceitos são discutidos de forma leve e divertida. Os monitores do projeto, que fazem o show, são os próprios alunos do curso de graduação em Física da universidade. A ideia é que os jovens desenvolvam o interesse pela ciência e pela busca de explicações acerca dos fenômenos físicos. Para isso, são feitas demonstrações sobre assuntos como o estudo dos gases e as Leis de Newton. A performance conta com a participação da plateia em diversos momentos, tornando a apresentação bastante interativa.
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O Show de Física da USP foi uma excursão cultural que com certeza despertou o interesse de muitos alunos em relação à ciência!
KidZania Uma cidade feita sob medida para as crianças o mês de abril, os alunos do 4o ano do Ensino Fundamental do Colégio Etapa fizeram uma visita a uma cidade feita sob medida para eles: a KidZania! Em meio a lojas, fábricas, restaurantes e diversos outros serviços, as crianças puderam explorar as possibilidades e experimentar a vivência das mais variadas profissões – publicitários, modelos, médicos, fotógrafos e muito mais! Durante o passeio, os alunos ficaram livres para conhecer a cidade e utilizar os seus KidZos (a moeda da KidZania) como desejassem. Dessa forma, além de terem contato com diversas carreiras, eles também aprenderam sobre o valor do dinheiro. Por meio da diversão, o intuito do local é proporcionar às crianças a chance de aprenderem sobre o funcionamento da sociedade, educação financeira, trabalho em equipe, independência, autoestima e desenvolver habilidades da vida real.
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AGENDA CULTURAL São Paulo – Clube de Cinema (quintas, das 19h10min às 20h30min, sala 65) 11.06 – Tubarão (Steven Spielberg: 1975)
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Simulação de um incêndio sendo controlado pelos profissionais do fogo.
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