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Jornal do Colégio JORNAL DO COLÉGIO ETAPA – 2015 • DE 12/06 A 26/06
ENTREVISTA
“Conta a formação, a faculdade e você não ser uma pessoa engessada.” Marcela Orlandi entrou na Poli em 2009, em Engenharia Civil, e está no último semestre do curso, do qual sairá com duplo diploma por ter participado, durante dois anos, do programa de intercâmbio da Escola Politécnica da USP com o Politecnico di Torino, da Itália. Nesta entrevista ela fala de sua formação como engenheira, de suas atividades em estágios e do mercado de trabalho.
Marcela Orlandi
JC – Desde quando você pensa em Engenharia como carreira? Marcela – Desde sempre. Eu sempre gostei muito de Exatas, então decidi que ia fazer Engenharia. Primeiro, porque é uma carreira em que você é reconhecido; segundo, é uma carreira que não é monótona. Todo o tempo você está aprendendo e sempre tem de resolver problemas. Escolhi Engenharia desse jeito. Por que Engenharia Civil? O mais legal da Civil é que você vê as coisas acontecendo, vê as coisas crescendo, fisicamente mudando.
Além da Fuvest, você prestou outros vestibulares? Prestei UFSCar e Unicamp. Sempre para Civil. Fui aprovada em todos.
Você entrou no Etapa quando? Eu entrei no 8o ano do Fundamental.
No 3o ano do colegial, quando ia prestar vestibular, você manteve ou mudou seu método de estudo? Eu sempre me dediquei muito. No 3o colegial, além das aulas normais, quando dava tempo eu resolvia provas de vestibulares. Eu chegava em casa, pegava a Fuvest de mil ENTREVISTA
Carreira – Engenharia Civil CONTO Amor e sangue – Antônio de Alcântara Machado
novecentos e bolinha, cronometrava e fazia. Depois eu comparava com o gabarito.
No colégio, além das aulas, você tinha alguma atividade extra? Eu gostava bastante do Clube de Cinema. Até vim algumas vezes depois, quando já estava na Poli. Era bem legal poder discutir sobre filmes que você assistiu, com pessoas que se interessavam pela atividade. Tinha um professor para ajudar na discussão. Sou amiga deles até hoje e a gente tem um grupo de discussão. Você fazia mais alguma atividade? Eu sempre gostei de esportes. Muitas vezes ficava aqui estudando até 7 e meia da noite, quando começava o treino. Jogava basquete e handebol. Às vezes vôlei também. Eu gostava muito de ficar aqui. Como foi o início na Poli? Foi bem difícil. No Etapa a gente estava acostumada com uma lousa linda, com professor dando uma aula toda planejada, e na Poli você via que muitas vezes o professor não tinha planejado a aula. Lá poucos professores dão orientação direta. Você tem que ficar ligada, tem de correr atrás de livros que às vezes não existem mais, procurar na biblioteca. Às vezes tinha uma prova e eu nem sabia o que precisava estudar. ENTRE PARÊNTESIS
ARTIGO
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Parlamentarismo e presidencialismo
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POIS É, POESIA
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Olavo Bilac (1865-1918)
Alta tensão
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ESPECIAL
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A experiência do professor Borsenco
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ENTREVISTA
Sua adaptação durou quanto tempo? Um ano, mais ou menos. No 1o ano eu peguei duas DPs, uma no primeiro semestre, em Programação, outra no segundo, em Mecânica. O 1o ano era igual para todo mundo, mas no 2o ano as matérias ficaram bem mais legais. Comecei a ir bem, minha média aumentou, não peguei mais nenhuma DP. Na Poli, além das aulas, o que mais você fez? Fiz parte da Atlética durante um ano. Fui diretora do basquete. Foi no 2o ano. Também participei do TETO, que é uma ONG que constrói casas de madeira para pessoas que moram em barracos na favela. Sua sede é bem na entrada da USP. Em um ano, participei de duas construções. Que matérias você teve em cada ano da faculdade? No 1o ano, Cálculo, Física, Álgebra Linear, Programação, Mecânica, Mecânica dos Fluidos. No 2o ano já começam Resistência dos Materiais e Topografia. Agora mudou, Topografia é dada desde o 1o ano. Tem um pouco mais de matérias aplicadas, como Física das Construções. No 3o ano, Concreto, mais Resistência dos Materiais, Mecânica dos Solos, começa Fundações, Obras de Terras. Tem Mercado Financeiro, Economia, Planejamento de Empreendimentos. Tem Tecnologia da Construção, você tem de visitar uma obra, acompanhar a concretagem de um pavimento. Tudo isso no 3 ano? Sim, no 3o ano. Também foi no 3o ano que comecei a pensar em intercâmbio. Eu nunca tinha pensado muito nisso, mas vários amigos meus entraram na Poli com esse sonho. o
O que é preciso para entrar no intercâmbio? Para o duplo diploma você tem que começar a fazer os processos no meio do 3o ano para viajar no meio do 4o. Fiz minha papelada, meu plano profissional, meu currículo, escrevi minhas justificativas. Passei na primeira triagem, fui chamada para entrevista e assinalei minhas opções: França, Itália e Portugal. Coloquei França em primeiro lugar porque lá tem a primeira escola de Engenharia Civil do mundo. Depois coloquei Itália, um país bem conceituado na Engenharia e também porque eu tenho cidadania italiana. Por último, Portugal. Saiu o resultado em outubro de 2011 e eu passei na Itália. Fiquei superfeliz. Para qual escola você foi? Politecnico di Torino – Instituto Politécnico de Turim. Fiquei dois anos, de setembro de 2012 a agosto de 2014. Você conseguiu bolsa? Consegui pelo Ciência sem Fronteiras. O principal problema é que a bolsa era por um ano. Mas no segundo ano peguei seis meses de bolsa da USP. Suas bolsas cobriam um ano e meio e deu para ficar dois anos? Sim. Quase todo mundo fez isso. Poucas pessoas gastaram tudo. Era muito difícil gastar tudo, era muito dinheiro.
O curso era todo em italiano? O curso era 80% em italiano, 20% em inglês. Algumas matérias eles faziam em inglês para outros intercambistas de línguas que não são de origem latina – poloneses, chineses. Tinha muito chinês lá. Como o curso começava em setembro, em janeiro e fevereiro eu fiz um intensivo de italiano, todas as noites. Depois, ao longo do semestre, fiz duas vezes por semana, à noite. Os dois anos em Turim representaram qual período do curso da Poli? O 8o e o 9o semestres. Metade do 4o ano e metade do 5o. Você morava sozinha em Turim? Não, morava com duas brasileiras. Uma da Poli e uma da Unesp. No 2o ano a gente se mudou para bem perto da faculdade e foi ótimo. Era só atravessar a rua, a aula começava às 8 e meia, saía de casa às 8 e 25. Era outra qualidade de vida. As matérias que você teve em Turim eram parecidas com as da Poli? As matérias em si são iguais. A maior diferença é a maneira como elas são ensinadas. Lá o ensino é muito teórico e muito importante, o professor cobra na prova. Que matérias você estudou em Turim? Pontes, Fundações, Planejamento de Transportes. Eles usavam dados reais de uma cidade dos Estados Unidos que não tem nada de transportes. A gente traçou uma malha de transportes para a cidade. Também fiz um projeto de estradas que era uma coisa real também. Você visitou outros países? Sim, viajei bastante. Conheci a Itália inteira, Alemanha, França, Bélgica, Espanha, Polônia, República Checa. Conheci também Ibiza e Maiorca. Como é sua tese de conclusão? Minha tese é experimental. Vou tentar contextualizar. Um aeroporto tem a pista onde o avião pousa e decola e uma parte final onde tem até umas barreiras. Nos aeroportos dos Estados Unidos essa parte final da pista é feita de um concreto muito poroso que, caso o avião não consiga frear, esse pedaço de pavimento vai parar o avião. Você vai de uma parte lisa para uma muito densa para poder frear. Os Estados Unidos patentearam o material deles, que é muito caro. A proposta do meu orientador da tese foi tentar criar um material que corresponda às características daquele e bem mais barato para poder ser colocado em vários aeroportos do mundo. A gente criou quatro tipos no laboratório. Estou escrevendo a tese toda em inglês e vou apresentá-la por videoconferência para meu professor na Itália e para meus professores na Poli. Você chegou a fazer estágios? Em janeiro de 2012 comecei a trabalhar numa construtora do grupo Gafisa. Trabalhei numa obra. Estava completamen-
ENTREVISTA te perdida, não sabia nada porque as matérias mais práticas, mais de obras estavam começando naquele semestre. Mas o pessoal da obra foi superlegal comigo.
Você ficou quanto tempo nesse trabalho? Uns quatro meses, de janeiro a abril. Foi uma época em que eu nem sabia de onde tirava tanta energia. Era o dia inteiro fora de casa. O que você aprendeu nesse estágio? Foi o primeiro contato com obras, aprendi todos os termos técnicos e não técnicos, de vivência de obra mesmo. Eu até brincava que precisava de um dicionário. Minha principal função era conferir os apartamentos, ver o que estava feito e se estava tudo certinho. Era mais uma parte de conferência. Depois uma pessoa saiu e eu assumi as coisas dela também. Tive que montar quadros de concorrência e tive que comprar todas as lâmpadas da obra. Depois da volta ao Brasil você fez mais algum estágio? Entrei num estágio em setembro do ano passado numa empresa contratada para a obra da linha 4 do metrô. O estágio foi muito bom, foi uma aula enorme. Fiquei até janeiro deste ano. Saí porque estava num trabalho completamente improdutivo. A empresa estava muito ruim, tão sem dinheiro que nem internet a gente tinha no escritório. Falei: “Estou perdendo meu tempo aqui, prefiro me dedicar aos processos de trainee. Faço minha tese com calma”. E hoje, qual é a sua maior preocupação? A carreira. Estou com um pouco de dúvidas sobre continuar na Engenharia Civil. Ao mesmo tempo em que é tudo muito legal, hoje está muito na moda consultoria. Você pode fazer consultoria e aplicar as coisas que aprendeu. Uma empresa está com problemas, você vai conferir o estoque dela no armazém e vê se estão perdendo muito tempo na carga e descarga. Você identifica o problema e tem de oferecer uma solução. Isso é Engenharia. Na hora de obter um emprego, um estágio, o que você acha que diferencia uma pessoa da outra? Conta a formação, a faculdade e você não ser uma pessoa engessada. Hoje em dia as empresas querem uma pessoa que exerça tudo ao mesmo tempo. Querem um cara que seja muito bom do ponto de vista técnico e muito bom do ponto de vista comercial, de saber se vender, vender a empresa, vender os conhecimentos. Um profissional formado pela Poli está pronto para encarar o mercado de trabalho? Acho que sim, o currículo que a Civil oferece é muito bem estruturado e você tem dois estágios obrigatórios para se formar. Obrigatoriamente você tem que ter uma parte
Jornal do Colégio
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prática no currículo. Ninguém sai da Poli sem ter pisado numa obra.
A nova grade curricular da Poli melhorou ainda mais a formação? Eu acho que é melhor no sentido do aprendizado. Agora, no 1o ano você já tem coisas da Engenharia que você escolheu. Mas eu acho que no Brasil a gente entra na faculdade muito nova. Na Itália eu via que todo mundo do meu ano era pelo menos dois anos mais velho que eu. Lá eles têm dois anos a mais de colegial. Eles entram no Ensino Superior com maturidade maior. A gente entra um pouco criança na faculdade, ainda mais quem passa direto. Quais são seus planos para este ano? Conseguir um bom emprego e talvez começar um mestrado. Eu quero ver como vai ser o final da minha tese e aí quero conversar com algum professor da Poli, da parte de Engenharia de Materiais, e ver se tem interesse em dar continuidade à minha pesquisa. É uma coisa bem legal, aplicável, importante. Não quero perder isso. Se eu puder aliar o emprego e o mestrado vai ser bem legal. Que matérias você viu no Etapa que mais a ajudaram em sua formação e no trabalho? Uma coisa que ajuda muito, uso até hoje, é Análise Dimensional. O Etapa insiste muito. Você não tem noção de como aquilo é útil. Teve um dia que meu chefe falou que estava com dificuldades para fazer os índices de produtividade. Ele estava todo enrolado com um monte de regra de 3. Falei: “Dá aqui”, e fiz em uma linha. Análise Dimensional não é uma coisa com que tanta gente é familiarizada. E é uma coisa que o Etapa fez muito bem. Isso e a parte de Exatas, que é muito forte. Eu cheguei na universidade com uma base muito forte em Matemática. No primeiro semestre sempre fui bem em Cálculo. Hoje, voltando ao Etapa, o que você sente? É um sentimento de reconhecimento, de conquista. O Etapa foi muito legal para mim, faz parte da minha vida. Até hoje tenho contato com alguns professores. Carrego amizades até mesmo com gente que foi para universidades mais distantes. O que você pode dizer a quem está pensando em prestar Poli no fim do ano? Pesquise bastante como é a carreira, para não ter tantas dúvidas. O Etapa organiza visitas à Poli, ir nessas visitas é muito legal para conhecer o ambiente, conversar com pessoas, tentar saber o máximo que puder antes de ingressar.
Jornal do Colégio ETAPA, editado por Etapa Ensino e Cultura REDAÇÃO: Rua Vergueiro, 1 987 – CEP 04101-000 – Paraíso – São Paulo – SP JORNALISTA RESPONSÁVEL: Egle M. Gallian – M.T. 15343
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CONTO
Amor e sangue Antônio de Alcântara Machado
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– Ei, Nicolino! NICOLINO! – Que é? – Você está ficando surdo, rapaz! A Grazia passou agorinha mesmo. – Des-gra-ça-da! – Deixa de fita. Você joga amanhã contra o Esmeralda? – Não sei ainda. – Não sabe? Deixa de fita, rapaz! Você... – Ciao. – Veja lá, hein! Não vá tirar o corpo na hora. Você é a garantia da defesa. A desgraçada já havia passado.
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AO BARBEIRO SUBMARINO. BARBA: 300 réis. CABELO: 600 réis. SERVIÇO GARANTIDO. – Bom-dia! Nicolino Fior d’Amore nem deu resposta. Foi entrando, tirando o paletó, enfiando outro branco, se sentando no fundo à espera dos fregueses. Sem dar confiança. Também Seu Salvador nem ligou. A navalha ia e vinha no couro esticado. – São Paulo corre hoje! É o cem contos! O Temístocles da Prefeitura entrou sem colarinho. – Vamos ver essa barba muito bem feita! Ai, ai! Calor pra burro. Você leu no Estado o crime de ontem, Salvador? Banditismo indecente. – Mas parece que o moço tinha razão de matar a moça. – Qual tinha razão nada, seu! Bandido! Drama de amor coisa nenhuma. E amanhã está solto. Privações de sentidos. Júri indecente, meu Deus do céu! Salvador, Salvador... – cuidado aí que tem uma espinha – ... este país está perdido!
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– Todos dizem. Nicolino fingia que não estava escutando. E assobiava a Scugnizza.
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As fábricas apitavam. Quando Grazia deu com ele na calçada abaixou a cabeça e atravessou a rua. – Espera aí, sua fingida. – Não quero mais falar com você. – Não faça mais assim pra mim, Grazia. Deixa que eu vá com você. Estou ficando louco, Grazia. Escuta. Olha, Grazia! Grazia! Se você não falar mais comigo eu me mato mesmo. Escuta. Fala alguma coisa por favor. – Me deixa! Pensa que eu sou aquela fedida da Rua Cruz Branca? – O quê? – É isso mesmo. E foi almoçar correndo. Nicolino apertou o fura-bolos entre os dentes.
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As fábricas apitavam. Grazia ria com a Rosa. – Meu irmão foi e deu uma bruta surra na cara dele. – Bem-feito! Você é uma danada, Rosa. Chi!... Nicolino deu um pulo monstro. – Você não quer mesmo mais falar comigo, sua des graçada? – Desista! – Mas você me paga, sua desgraçada! – NÃ-Ã-O! A punhalada derrubou-a. – Pega! PEGA! PEGA!
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– Eu matei ela porque estava louco, Seu Delegado! Todos os jornais registraram essa frase que foi dita chorando. Eu estava louco, Seu Delegado! Matei por isso, Sou um desgraçado!
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ua impressão: a rua é que andava, não ele. Passou entre o verdureiro de grandes bigodes e a mulher de cabelo despenteado. – Vá roubar no inferno, Seu Corrado! Vá sofrer no inferno, Seu Nicolino! Foi o que ele ouviu de si mesmo. – Pronto! Fica por quatrocentão. – Mas é tomate podre, Seu Corrado! Ia indo na manhã. A professora pública estranhou aquele ar tão triste. As bananas na porta da QUITANDA TRIPOLI ITALIANA eram de ouro por causa do sol. O Ford derrapou, maxixou, continuou bamboleando. E as chaminés das fábricas apitavam na Rua Brigadeiro Machado. Não adiantava nada que o céu estivesse azul porque a alma de Nicolino estava negra.
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O estribilho do ASSASSINO POR AMOR (Canção da atualidade para ser cantada com a música do “FUBÁ”, letra de Spartaco Novais Panini) causou furor na zona. Extraído de: Brás, Bexiga e Barra Funda.
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Parlamentarismo e presidencialismo Rogério F. da Silva
Formas de organização político-administrativa de um Estado Existem basicamente duas formas pelas quais um Estado pode estar organizado administrativamente: uma forma unitária ou uma forma federada. Diz-se que um Estado é unitário quando as unidades que o compõem possuem pouca autonomia em relação ao governo central; normalmente, as unidades são denominadas províncias. Diz-se que um Estado é federado quando as unidades que o compõem gozam de relativa autonomia em relação ao governo central; normalmente, as unidades são denominadas estados.
Unitarismo, federalismo, presidencialismo e parlamentarismo no Brasil O Brasil no Período Monárquico (1822-1889) foi um Estado unitário organizado sob o regime parlamentarista. No Período Republicano, de uma maneira geral, foi um Estado federativo sob regime presidencialista. As exceções ocorreram entre 1930-1934 e 1937-1945 quando o Brasil se tornou um Estado unitário, extinguindo-se a autonomia estadual, e entre setembro de 1961 e janeiro de 1963, período em que vigorou o regime parlamentarista.
Formas de governo No mundo contemporâneo, têm-se basicamente dois tipos de governo: repúblicas ou monarquias. República é normalmente definida como o sistema de governo em que um ou vários indivíduos eleitos exercem o poder por tempo determinado. Já a monarquia é o sistema de governo no qual o poder é exercido por um monarca, que é um soberano vitalício, comumente hereditário. Modernamente, a maioria das monarquias são constitucionais, isto é, são regidas por uma Constituição que define e delimita as atribuições dos respectivos monarcas, que têm, normalmente, seu poder bastante restringido e exercem quase sempre uma função simbólica. É o caso, por exemplo, do monarca britânico e do imperador do Japão. Atualmente, repúblicas e monarquias são dominantemente parlamentaristas. Entretanto, uma república pode ser também presidencialista.
ocasiões em que este deva estar representado, e por vezes assina atos de praxe referendando decisões do governo ou do Legislativo. A chefia de governo é geralmente exercida por um ministério ou seu porta-voz, denominado “primeiro-ministro” ou “premier” ou “presidente do Conselho de Ministros”. Sob o regime parlamentar, o ministério deve governar de acordo com a maioria parlamentar. Isso significa que a existência do regime parlamentarista deve supor, no mínimo, uma estrutura de partidos políticos organizados que disputem eleições para o Legislativo e, evidentemente, eleições periódicas para o mesmo. Vejamos um exemplo: vamos supor que num certo país, organizado sob regime parlamentarista, haja dois partidos que disputem as eleições: A e B. Suponhamos que tenha sido vitorioso o partido A. Dessa maneira, os representantes do partido A ocuparão a maioria das cadeiras do Legislativo. Caberá ao chefe de Estado chamar o líder do partido A no Legislativo para formar o governo, isto é, compor um ministério. Portanto, a maioria no Legislativo é A, e o governo é de cor política A. Até quando o ministério A ficará no governo? Enquanto mantiver a maioria no Legislativo. Suponha que nas eleições seguintes vença o partido B. Nesse caso, o ministério A deve renunciar, e o chefe de Estado chama o líder do partido vencedor no Legislativo para compor novo governo. Sob o regime parlamentarista, portanto, o governo (o ministério) depende da maioria parlamentar para poder exercer o poder. Sob circunstâncias especiais, pode ocorrer uma outra situação. No lugar da renúncia do ministério pode ocorrer a dissolução do Legislativo e a convocação de novas eleições parlamentares e, nesse caso, o resultado das eleições deverá confirmar o ministério no poder ou não. Esquema de funcionamento do regime parlamentar
Chefe de Estado Poder Executivo Chefe de governo
Parlamentarismo Sob o regime parlamentar (seja monarquia, seja república), há uma distinção no Poder Executivo – a chefia de Estado e a chefia de governo. O chefe de Estado (rei ou imperador, caso seja monarquia parlamentar; presidente da república, caso seja república parlamentar) representa o Estado nas
Poder Legislativo
Presidente da República (se república parlamentar) Monarca (se monarquia parlamentar)
Ministério (primeiro-ministro) (expressa a maioria parlamentar)
Minoria parlamentar
Maioria parlamentar
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Presidencialismo Sob o regime presidencialista, o chefe de Estado e o chefe de governo são uma única pessoa: o presidente da República. Além de não haver divisão entre chefia de Estado e chefia de governo sob o presidencialismo, uma outra característica
importante desse regime é que a composição do ministério é de competência exclusiva do presidente da República, que o nomeia e o destitui livremente. Os Estados Unidos da América do Norte e o Brasil constituem exemplos de países que possuem regime presidencialista.
Antes da criação da Presidência do Conselho de Ministros Imperador Conselho de Estado (1823 a 1834) Ministro Marinha
Estrangeiros Justiça
Presidente do Conselho de Ministros (desde 1847)
Agricultura, comércio e obras públicas Marinha Guerra
Na história do Brasil, registram-se duas épocas em que ocorreu o regime parlamentarista: no período Monárquico e na República por um curto período. Durante o Império, a Constituição definia o Brasil como uma Monarquia Constitucional. No período do Primeiro Reinado (1822--1831), a prática parlamentar foi bastante reduzida devido à constante interferência de D. Pedro I na condução dos destinos políticos do país. No Período Regencial (1831-1840), já será mais constante a prática parlamentar, entretanto é no período do Segundo Reinado (1840-1889) que essa prática se consolida, embora se afirme que no Brasil monárquico havia um “parlamentarismo às avessas”. Quer se dizer com isto que o parlamentarismo não era fielmente praticado tal como nos moldes britânicos. O monarca, muitas vezes, interferia abertamente na formação dos ministérios, sendo muitas vezes responsável quer por sua entrada ou por sua saída do governo. Sob um regime parlamentarista percebe-se que, a rigor, essa interferência não deve ocorrer; o chefe de Estado deve ser um elemento apartidário e sua função é simplesmente designar o ministério que representa a maioria parlamentar. Na época do Segundo Reinado é dada importância, nesse contexto, à Lei de 1847 que cria a presidência do Conselho de Ministros e que, segundo se afirma, consolidou a prática parlamentar no país. Até então, o imperador tinha o trabalho de compor um a um os integrantes do ministério. Com a lei, o imperador passa a designar o presidente do Conselho de Ministros (“premier”) que, por sua vez, se encarregava de organizar o ministério. O presidente do Conselho de Ministros deveria ser responsável por todo o ministério perante o imperador e a Assembleia Geral (Legislativo). Esse regime parlamentarista existiu até a Proclamação da República no Brasil. Instaurada a república, a Constituição de 1891 definia o Brasil como uma república presidencialista.
Império
Conselho de Estado (restabelecido em 1841)
Imperador
Império
Parlamentarismo no Brasil Monárquico (1822-1889)
Império e estrangeiros desdobrado em 1823 em
Após a criação da Presidência do Conselho de Ministros
Guerra Fazenda
Justiça
Fazenda
Estrangeiros
Parlamentarismo no Brasil Republicano (setembro 1961-janeiro 1963) Todas as Constituições republicanas brasileiras (1891, 1934, 1937, 1946 e 1967) consagraram em seus textos o regime presidencialista no Brasil. Houve um período, porém, em que foi adotado o parlamentarismo. Jânio Quadros fora eleito para o quinquênio 1961-1966. Assumiu o poder a 31.01.1961 e a 25.08.1961 renunciou ao seu mandato presidencial. Deveria assumir, de acordo com os dispositivos constitucionais, o vice-presidente da República, que na ocasião estava fora do país. Abre-se séria crise política, pois havia setores militares e civis que se opunham à posse do vice-presidente João Goulart, pregando abertamente um golpe de Estado. Outros setores defendem a obediência à Constituição e mobilizam-se contra as manobras golpistas, nomeadamente o então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola. O país chega próximo a uma situação de guerra civil. No Congresso Nacional, adota-se uma “solução de compromisso” para debelar a crise. Goulart seria empossado, mas não teria plenos poderes, e adotava-se mediante o Ato Adicional no 4 à Constituição de 1946 o parlamentarismo no país. A heterogeneidade na composição do Legislativo refletiu na formação dos ministérios sob a época do parlamentarismo, tornando muito difícil governar o país. Sucederam-se como primeiros-ministros de Goulart: Tancredo Neves, Auro de Moura Andrade (este por 48 horas), Francisco Brochado da Rocha e Hermes Lima. O Ato Adicional no 4 previa um plebiscito no país, ou seja, uma consulta ao eleitorado brasileiro se concordava ou não com o parlamentarismo, mas este devia ser realizado somente no final do mandato de Goulart. Como a crise política era muito grave, foi aprovada a Emenda Complementar Capanema-Valadares, antecipando o plebiscito para janeiro de 1963, o qual, realizado, resultou em um não ao parlamentarismo, restaurando-se, portanto, o presidencialismo no país. A atual Constituição, promulgada em 05.10.1988, previa um plebiscito em setembro de 1993 para decidir-se sobre a forma (monarquia ou república) e o sistema de governo (presidencialismo ou parlamentarismo) a serem adotados pelo país. Antecipado para abril de 1993, o resultado das urnas manteve o Brasil como uma república presidencialista.
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Olavo Bilac (1865-1918) A um poeta
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Crepúsculo na mata
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onge do estéril turbilhão da rua, Beneditino, escreve! No aconchego Do claustro, na paciência e no sossego, Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!
a tarde tropical, arfa e pesa a atmosfera. A vida, na floresta abafada e sonora, Úmida exalação de aromas evapora, E no sangue, na seiva e no húmus acelera.
Mas que na forma se disfarce o emprego Do esforço; e a trama viva se construa De tal modo, que a imagem fique nua, Rica mas sóbria, como um templo grego.
Tudo, entre sombras, – o ar e o chão, a fauna e a flora, A erva e o pássaro, a pedra e o tronco, os ninhos e a hera, A água e o réptil, a folha e o inseto, a flor e a fera, – Tudo vozeia e estala em estos de pletora.
Não se mostre na fábrica o suplício Do mestre. E, natural, o efeito agrade, Sem lembrar os andaimes do edifício:
O amor apresta o gozo e o sacrifício na ara: Guinchos, berros, zenir, silvar, ululos de ira, Ruflos, chilros, frufrus, balidos de ternura...
Porque a Beleza, gêmea da Verdade, Arte pura, inimiga do artifício, É a força e a graça na simplicidade.
Súbito, a excitação declina, a febre para: E misteriosamente, em gemido que expira, Um surdo beijo morno alquebra a mata escura...
Milagre
Hino à tarde
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Glória jovem do sol no berço de ouro em chamas,
Velhos!... Mas, quando, ansioso, de repente, Nas suas mãos as minhas palmas ponho, Ressurge a nossa primavera ardente, Na terra em bênçãos, sob um sol risonho:
Amo-te, hora hesitante em que se preludia O adágio vesperal, – tumba que te recamas De luto e de esplendor, de crepes e auriflamas, Moribunda que ris sobre a própria agonia!
Felizes, num prestígio, estremecemos; Deliramos, na luz que nos invade Dos redivivos êxtases supremos;
Amo-te, ó tarde triste, ó tarde augusta, que, entre Os primeiros clarões das estrelas, no ventre, Sob os véus do mistério e da sombra orvalhada,
E fulgimos, volvendo à mocidade, Aureolados dos beijos que tivemos, No divino milagre da saudade.
Trazes a palpitar, como um fruto do outono, A noite, alma nutriz da volúpia e do sono, Perpetuação da vida e iniciação do nada...
Música brasileira
Fogo-fátuo
epois de tantos anos, frente a frente, Um encontro... O fantasma do meu sonho! E, de cabelos brancos, mudamente, Quedamos frios, num olhar tristonho.
Tens, às vezes, o fogo soberano
Alva! natal da luz, primavera do dia, Não te amo! nem a ti, canícula bravia, Que a ti mesma te estruis no fogo que derramas!
C
Do amor: encerras na cadência, acesa Em que requebros e encantos de impureza, Todo o feitiço do pecado humano.
abelos brancos! dai-me, enfim, a calma A esta tortura de homem e de artista: Desdém pelo que encerra a minha palma. E ambição pelo mais que não exista;
Mas, sobre essa volúpia, erra a tristeza Dos desertos, das matas e do oceano: Bárbara poracé, banzo africano, E soluços de trova portuguesa.
Esta febre, que o espírito me encalma E logo me enregela; esta conquista De ideias, ao nascer, morrendo na alma, De mundos, ao raiar, murchando à vista:
És samba e jongo, chiba e fado, cujos Acordes são desejos e orfandades De selvagens, cativos e marujos:
Esta melancolia sem remédio, Saudade sem razão, louca esperança Ardendo em choros e findando em tédio;
E em nostalgias e paixões consistes. Lasciva dor, beijo de três saudades, Flor amorosa de três raças tristes.
Esta ansiedade absurda, esta corrida Para fugir o que o meu sonho alcança, Para querer o que não há na vida! Extraído de: Tarde, Livraria Francisco Alves, 1935.
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(ENTRE PARÊNTESIS)
Alta tensão (PUC) Os passarinhos, mesmo pousando sobre fios condutores desencapados de alta tensão, não estão sujeitos a choques elétricos que possam causar-lhes algum dano. Qual das alternativas indica uma explicação correta para o fato? a) A diferença de potencial elétrico entre os dois pontos de apoio do pássaro no fio (pontos A e B) é quase nula. b) A diferença de potencial elétrico entre os dois pontos de apoio do pássaro no fio (pontos A e B) é muito elevada. c) A resistência elétrica do corpo do pássaro é praticamente nula. d) O corpo do passarinho é um bom condutor de corrente elétrica. e) A corrente elétrica que circula nos fios de alta tensão é muito baixa.
RESPOSTA alternativa A Como a distância entre suas patas é muito pequena, a diferença de potencial elétrico entre os dois pontos de apoio no fio (pontos A e B) é quase nula.
ESPECIAL
A experiência do professor Borsenco Ivan Borsenco deu aulas de matemática no Colégio Etapa para alunos interessados em olimpíadas internacionais
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Olimpíada Internacional de Matemática (IMO) é uma das mais tradicionais competições científicas. Sua primeira edição aconteceu em 1959 e contou com a participação de apenas 7 países. Cinquenta e cinco anos depois, mais de 500 estudantes de 103 países estiveram presentes na edição de 2014, na Cidade do Cabo. Este ano, a IMO acontecerá na Tailândia, entre 4 e 16 de julho e, no mês de abril, os alunos do Etapa interessados pelo assunto tiveram uma experiência bastante enriquecedora: aulas com o professor europeu Ivan Borsenco. Nascido na Moldávia, Borsenco tomou gosto pela matemática quando ainda era um estudante do Ensino Fundamental. “Eu achava os problemas interessantes e meu professor sempre tentava me passar questões mais difíceis. Comecei a participar de competições e ganhei a Olimpíada Nacional de Matemática”, contou ele. A partir de então, teve treinamentos direcionados e foi selecionado para representar seu país na IMO, conquistando uma medalha de ouro em 2006. Posteriormente, Borsenco mudou-se para os Estados Unidos para cursar a faculdade. Concluiu a graduação no MIT em 2012 e iniciou carreira na área de Finanças. Entretanto, sua paixão pela matemática falou mais alto e ele passou a dedicar-se ao ensino, tendo como meta encontrar uma maneira de melhorar a educação. A vinda do professor ao Colégio Etapa certamente trouxe muitos benefícios para os alunos. Ele também ressalta que é da paixão pelo que está à sua volta que a escolha da profissão pode surgir. “Todos temos interesses em muitas coisas e quanto mais você se desenvolve, mais interessado você fica. Por isso, pessoas interessadas em matemática naturalmente tornam-se bons matemáticos, engenheiros, cientistas da computação. Eu vejo como um processo natural. É algo que cada um de nós possui e que aparece com o tempo”, afirmou.
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