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Jornal do Colégio JORNAL DO COLÉGIO ETAPA – 2015 • DE 11/09 A 24/09
ENTREVISTA
“Tive de me desgarrar do estereótipo de que todo arquiteto deve ser arquiteto de projeto.” Alex Ka Wei Tso entrou na FAU em 2008 pretendendo ser docente ou pesquisador. Em seus estudos ele integrou Arquitetura e Arte, trabalhando hoje em uma galeria de arte. Durante o curso realizou dois intercâmbios na China e direciona suas atividades para tornar-se referência no Brasil em arte asiática.
Alex Ka Wei Tso
JC – Quando veio a ideia de seguir Arquitetura?
Alguma dificuldade quando começou a FAU?
Alex – Eu gosto de estudar e me interessava por várias áreas. Eu queria estudar tudo. Sempre fui próximo de Exatas, mas com o passar do tempo percebi que tinha uma forte ligação com Humanas. E Arquitetura me pareceu um equilíbrio muito bom. Tem um pouco de Exatas, um pouco de Humanas. A certeza veio no 3o ano, depois que comecei a fazer aqui o Reforço com Linguagem para Arquitetura (RLA). Foi uma boa escolha.
O curso tem uma pegada artística e nisso você fica um pouco perdido. O curso da FAU é muito livre e solto. Até acabei largando a mão. Na verdade, eu queria seguir minha rotina de estudo, mas lá o esquema era outro. Era às vezes sair da aula um pouco mais cedo, ir conversar com as pessoas que estavam produzindo outras coisas no próprio prédio, participar de alguma mesa-redonda. Depois encontrei um equilíbrio para fazer tudo.
Onde você prestou seus vestibulares?
Quando você realmente encontrou seu ritmo?
Na Unicamp e no Mackenzie e fui aprovado em ambos.
Mais para o 3o, 4o ano comecei a ter uma postura um pouco mais madura em relação à minha formação. “Estou aqui, já curti, vi tudo. O que vou fazer na carreira?”. Cada ano experimentei um pouco. No 2o ano eu estava mais voltado para a área de planejamento urbano. No 3o ano estava querendo trabalhar com iluminação e peguei matérias optativas nessa área.
No 3o ano você mudou sua rotina de estudos, visando a FAU? Sim. Eu já estudava bastante, mas no 3o ano fiquei totalmente empenhado. Estudava praticamente de domingo a domingo, o dia inteiro. Minha rotina era: ia para aula, almoçava, ia para a Sala de Estudos e para o Plantão de Dúvidas. Às 4 e meia da tarde dava uma pausa de 20 minutos, comia um lanchinho e depois ficava na Sala de Estudos até fechar. Voltava para casa, estudava, dormia às 11 horas e acordava às 6 da manhã no dia seguinte. Era superpuxado assim.
ENTREVISTA
Carreira – Arquitetura CONTO O segredo do bonzo – Machado de assis
Em algum momento você pensou em buscar outra carreira? No 1o ano eu tive uma crise porque gostava muito de escrever e tinha um professor que falava que todo arquiteto precisa saber desenhar. Eu gosto de me expressar em palavras e
POIS É, POESIA
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Luís Vaz de Camões ARTIGO Matemática é aplicada à otimização de granja no interior paulista
ENTRE PARÊNTESIS
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Promoção de sorvetes ESPECIAL Alunos do Colégio Etapa ganham 7 prêmios no SPMUN 2015
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não tanto em desenho. E ficava pensando se teria de ir para outra área porque não me expresso do jeito que o arquiteto deveria. Mas aí percebi que gostava de escrever muito porque gostava de ler muito. Percebi com o tempo que eu era muito teórico. Gostava de estudar História da Arquitetura, debater teoria de Arquitetura, essas coisas. Pensei em mudar, mas ao mesmo tempo me sentia bem na FAU e sabia que poderia crescer lá. Só tive de me desgarrar do estereótipo de que todo arquiteto deve ser arquiteto de projeto.
Que matérias você teve em cada ano? No 1o ano tivemos Introdução ao Projeto, para você ter noção de desenho, de técnica. Tinha também uma parte de desenho, modelo vivo, algumas coisas de comunicação visual. Tem um pouco dessa parte artística e um pouco da técnica. Depois tivemos matérias mais ligadas a Engenharia Civil, como Topografia. Também tinha Cálculo. No 2o ano entraram matérias mais específicas, como Planejamento Urbano. Tinha Fundamentos Sociais da Arquitetura, História da Arte, História da Arquitetura. O 3o ano foi um aprofundamento dessas matérias e também você já começava a poder pegar optativas. A grade horária da FAU é muito pesada. Quem quiser fazer Arquitetura vai ter que varar noites. Virei várias noites na própria FAU, nem dormia.
Você chegou a participar de alguma atividade fora do curso? No 1o ano eu participei de uns voluntariados sobre questões de habitação social – numa favela em Guarulhos. Eu estava querendo não só ser um arquiteto, mas um cidadão consciente. Fiz iniciação científica na ECA e dois intercâmbios na China.
Qual foi o trabalho na iniciação científica? Foi no 2o ano, em 2009. Tinha feito uma matéria na ECA com o pessoal de Relações Públicas e Publicidade. Conheci um professor muito forte nas novas tecnologias e fiz uma iniciação científica com ele, sobre o uso de ferramentas digitais de ensino. Por orientação dele, eu dava umas aulas optativas na ECA usando plataformas digitais. Eu sempre tive grande interesse em dar aula.
Você falou que foi para a China. Como foi isso? Eu sempre pesquisei intercâmbio, mas ficava um pouco com o pé atrás porque minhas notas eram boas, mas não tão boas. Aí surgiu o programa de bolsas do Santander, o Top China. Fiz a entrevista, arrumei a papelada, fui escolhido. Em 2012, nas férias de julho, fomos eu e mais cinco estudantes da USP, mais um professor. Ficamos um mês na China com tudo pago, passagem, alimentação, hospedagem.
Todo mundo da FAU? O professor era da FAU. Fomos eu e outro aluno da FAU, uma aluna de Letras, que estudava Mandarim, outra de Re-
lações Internacionais e outra de Ciências Biológicas. Na China, metade foi para a Universidade de Pequim, metade para a Universidade de Xangai. Ficava-se um tempo em uma e depois trocava. Comecei em Xangai e fui para Pequim para o resto do programa.
Como foi essa experiência? Foi muito boa. Para mim foi uma troca cultural, um pouco de volta a minhas raízes, uma cultura que eu não conhecia tanto. Foi bom tanto culturalmente quanto academicamente. Tinha aula de manhã e passeio à tarde. Dava para ter um equilíbrio bom de aprendizado e diversão.
Você precisava falar em chinês (mandarim)? Nesse processo eu até arrisquei usar um pouco meu mandarim, mas o padrão era falar inglês.
E o segundo intercâmbio na China, quando foi? O segundo intercâmbio, em 2013, foi pela USP. Fiquei seis meses, de janeiro a julho, na Beijin University, em Pequim. Fui sozinho, mas morei com dois amigos da FAU que estavam lá fazendo curso de chinês. Fiz um projeto de estudos para pegar matérias em inglês, só que deu um problema na faculdade e naquele ano ela não ofereceu o curso em inglês. Conversei com o diretor da faculdade e ele me perguntou se queria tentar assistir a umas aulas em chinês. Falei: “Eu posso tentar, mas sei que não vou entender muito”. Meu chinês não é muito bom, mas fiquei fazendo umas aulas de chinês na própria universidade e acompanhando umas atividades, sem aproveitamento de crédito, que era o que tinha planejado. Conversei com um professor e comecei a fazer um projeto próprio lá dentro, um projeto de arte e arquitetura que foi desembocar no meu trabalho final de graduação. Queria discutir como se dava a influência entre essas duas áreas no campo criativo.
Qual foi o tema desse seu trabalho? O tema foi “Arte como um processo de experimentação espacial”. Fiz um panorama histórico das intersecções entre Arte e Arquitetura ao longo da história. A base foi um doutorado que li de um professor que indicava que arquitetos podem ser mais artistas, às vezes, como também os artistas podem ser mais arquitetos. Eu sempre gostei desse diálogo muito rico e tentei encontrar uma ponte entre essas duas áreas. Para conciliar coisas que poderiam dar muito mais liberdade para o arquiteto e muito mais riqueza para o artista.
E como foram seus estágios? No primeiro que fiz, trabalhei num laboratório de digitalização de acervos. A gente estava digitalizando todos os desenhos técnicos de todos os prédios do campus do Butantã para a Coordenadoria do Espaço Físico da USP, que é responsável pelas obras no campus. No segundo, trabalhei
ENTREVISTA no Laboratório de Modelos e Ensaios da FAU, um lugar gigantesco que todo aluno da FAU usa para fazer maquetes, projetos. Fiz esse segundo estágio depois que voltei do intercâmbio de seis meses.
Quanto tempo durou esse estágio? Uns três meses. Estava começando a perceber que eu queria ir para um negócio mais envolvido com arte, educação. Então fui trabalhar como educador na Bienal de Artes, onde tive um ano de experiência, de treinamento.
Que tipo de treinamento? Três vezes por semana tinha aulas teóricas e práticas educativas. A gente aprendia dinâmica de grupo, conversava com quem já era educador. Nas aulas teóricas tinha estudo de artistas com curadores e uma parte de laboratório, mais educativa. Foram vários meses de treinamento em 2014, até setembro. A Bienal aconteceu em novembro e dezembro.
Fale desse trabalho na Bienal. Ele mudou minha vida. Sempre tive contato com educação, mas lá era diferente. O público era muito diversificado. Além de muitas visitas de colégios públicos, havia um pessoal do interior que nunca tinha entrado em um museu de arte. Era um convívio muito gostoso para você também aprender o que é arte, o que faz aquilo ser arte.
Como você vê a área de atuação do arquiteto? Penso em fazer mestrado e doutorado e dar aula. Eu real mente me afastei do mercado de trabalho do arquiteto padrão, de escritório. Os meus amigos que foram para essa área dizem que não está fácil.
Onde você trabalha hoje? Trabalho há um mês na Galeria Lume, no Jardim Europa. Minha responsabilidade são os projetos culturais de lá. Saraus, cursos, noites de música. O lado bom de trabalhar no mundo artístico é que você tem acesso a diversos agentes desse sistema. Converso com instituições, converso com curadores, com historiadores, com artistas, converso com pessoal de galerias. Nesse mercado tem muita gente trabalhando, auxiliando, dá para você encontrar seu caminho em algo de que você goste ali no meio.
Você pretende manter essa parte artística e ainda lecionar? Sim. Eu estou estudando para pleitear uma vaga no mestrado na USP. Há um programa de Estética e História da Arte superinteressante. Ele é do MAC (Museu de Arte Contemporânea da USP), mas é interunidades. Tem uma linha
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de pesquisa lá dentro que é de produção e circulação de bens artísticos. Eu estou desenvolvendo um projeto sobre o mercado de artes. Como estou entrando nessa área, minha pesquisa precisa não só de conhecimento bom de História da Arte, conceitos de Arte, mas tem que estudar o mercado, estudar economia. É o mestrado que planejo fazer no ano que vem.
Quais são seus planos para o futuro? Pretendo já estar com mestrado e doutorado, dando aula na universidade e ao mesmo tempo tocando um projeto voltado para o mercado de artes. Por um tempo até pensei em abrir uma galeria, porque em meu projeto de pesquisa estou estudando a inserção de artistas chineses contemporâneos no mercado brasileiro. Pretendo me tornar referência no Brasil em arte asiática, principalmente chinesa. Na Europa e nos Estados Unidos há faculdades com departamento de arte asiática. Aqui não existe essa tradição. Eu queria começar e encabeçar esse movimento no Brasil. Não é fácil, senão já teria gente fazendo.
Quais são suas recordações do Etapa? Muita coisa. Desde professores ao pessoal do plantão de dúvidas, todos superatenciosos, todo mundo muito dedicado. Sempre que eu olho para trás, eu penso que fui para o lugar certo. O potencial que eu tinha, as ideias que eu tinha, toda minha personalidade de querer estudar casou muito bem com o tempo que passei no Etapa. Se você quer estudar, eles orientam bem. Isso me tocou muito, me motivou. Eu quero ser um professor assim também.
E os amigos da época do colégio, você ainda mantém contato? Alguns foram para a FAU, passaram junto comigo. Um monte de gente passou na USP. Pessoal que foi fazer outros cursos, todo mundo se encontra. Superlegal.
Quais qualidades é preciso ter para se dar bem em Arquitetura? Se você quer ser um arquiteto bom mesmo, tem que gostar de estudar porque é um profissional que faz tudo, que precisa de noções de cálculo, de história e de política para conseguir viabilizar seus projetos. Cada projeto é um novo desafio, um novo aprendizado.
O que você pode dizer a quem está pensando em estudar na FAU? Se você gosta de estudar, gosta de criar, vai fundo. É muito trabalho duro, mas se você quer fazer um trabalho desafiador e se divertir, a FAU é um bom caminho.
Jornal do Colégio ETAPA, editado por Etapa Ensino e Cultura REDAÇÃO: Rua Vergueiro, 1 987 – CEP 04101-000 – Paraíso – São Paulo – SP JORNALISTA RESPONSÁVEL: Egle M. Gallian – M.T. 15343
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CONTO
O segredo do bonzo Machado de Assis Capítulo inédito de Fernão Mendes Pinto
A
trás deixei narrado o que se passou nesta cidade Fuchéu, capital do reino de Bungo, com o Padre-mestre Francisco, e de como el-rei se houve com o Fucarandono e outros bonzos, que tiveram por acertado disputar ao padre as primazias da nossa santa religião. Agora direi de uma doutrina não menos curiosa que saudável ao espírito, e digna de ser divulgada a todas as repúblicas da cristandade. Um dia, andando a passeio com Diogo Meireles, nesta mesma cidade Fuchéu, naquele ano de 1552, sucedeu deparar-se-nos um ajuntamento de povo, à esquina de uma rua, em torno a um homem da terra, que discorria com grande abundância de gestos e vozes. O povo, segundo o esmo mais baixo, seria passante de cem pes soas, varões somente, e todos embasbacados. Diogo Meireles, que melhor conhecia a língua da terra, pois ali estivera muitos meses, quando an dou com bandeira de veniaga (agora ocupava-se no exercício da medicina, que estudara convenientemente, e em que era exímio) ia-me repetindo pelo nosso idioma o que ouvia ao orador, e que em resumo, era o seguinte: – Que ele não queria outra cousa mais do que afirmar a origem dos grilos, os quais procediam do ar e das folhas de coqueiro, na conjunção da lua nova; que este descobrimento, impossível a quem não fosse, como ele, matemático, físico e filósofo, era fruto de dilatados anos de aplicação, experiência e estudo, trabalhos e até perigos de vida; mas enfim, estava feito, e todo redundava em glória do reino de Bungo, e especialmente da cidade Fuchéu, cujo filho era; e, se por ter aventado tão sublime verdade, fosse necessário aceitar a morte, ele a aceitaria ali mesmo, tão certo era que a ciência valia mais do que a vida e seus deleites. A multidão, tanto que ele acabou, levantou um tumulto de aclamações, que esteve a ponto de ensurdecer-nos, e alçou nos braços o homem bradando: Patimau, Patimau, viva Patimau, que descobriu a origem dos grilos. E todos se foram com ele ao alpendre de um mercador, onde lhe deram refrescos e lhe fizeram muitas saudações e reverências, à maneira deste gentio, que é em extremo obsequioso e cortesão. Desandando o caminho, vínhamos nós, Dio go Meireles e eu, falando do singular achado da origem dos grilos, quando, a pouca distância daquele alpendre, obra de seis credos, não mais, achamos outra multidão de gente, em outra esquina, escutando a outro homem. Ficamos espantados com a semelhança do caso, e Diogo Meireles, visto que também este falava apressado, repetiu-me da mesma maneira o teor da oração. E dizia este outro, com grande admiração e aplauso da gente que o cercava, que enfim des cobrira o princípio da vida futura, quando a terra houvesse de ser inteiramente destruída, e era nada menos que uma certa gota de sangue de vaca; daí provinha a excelência da vaca para habitação das almas humanas, e o ardor com que esse distinto animal era procurado por muitos homens à hora de morrer; descobrimento que ele podia afirmar com fé e verdade, por ser obra de experiências repetidas e profunda cogitação, não desejando nem pedindo outro galardão mais que dar glória ao reino de Bungo e receber dele a estimação que os bons filhos merecem. O povo, que escutara esta fala com muita veneração, fez o mesmo alarido e levou o homem ao dito alpendre, com a diferença que o trepou a uma charola; ali chegando, foi regalado com obséquios iguais aos que faziam a Patimau, não havendo nenhuma distinção entre eles, nem outra competência nos banqueteadores, que não fosse a de dar graças a ambos os banqueteados. Ficamos sem saber nada daquilo, porque nem nos parecia casual a semelhança exata dos dois encontros, nem racional ou
crível a origem dos grilos, dada por Patimau, ou o princípio da vida futura, descoberto por Languru, que assim se chamava o outro. Sucedeu, porém, costearmos a casa de um certo Titané, alparqueiro, o qual correu a falar a Diogo Meireles, de quem era amigo. E, feitos os cumprimentos, em que o alparqueiro chamou as mais galantes cousas a Diogo Meireles, tais como – ouro da verdade e sol do pensamento, – contou-lhe este o que víramos e ouvíramos pouco antes. Ao que Titané acudiu com grande alvoroço: – Pode ser que eles andem cumprindo uma nova doutrina, dizem que inventada por um bonzo de muito saber, morador em umas casas pegadas ao monte Coral. E porque ficássemos cobiçosos de ter alguma notícia da doutrina, consentiu Titané em ir conosco no dia seguinte às casas do bonzo, e acrescentou: – Dizem que ele não a confia a nenhuma pessoa, se não às que de coração se quiserem filiar a ela; e, sendo assim, podemos simular que o queremos unicamente com o fim de a ouvir; e se for boa, chegaremos a praticá-la à nossa vontade. No dia seguinte, ao modo concertado, fomos às casas do dito bonzo, por nome Pomada, um ancião de cento e oito anos, muito lido e sabido nas letras divinas e humanas, e grandemente aceito a toda aquela gentilidade, e por isso mesmo malvisto de outros bonzos, que se finavam de puro ciúme. E tendo ouvido o dito bonzo a Titané quem éramos e o que queríamos, iniciou-nos primeiro com várias cerimônias e bugiarias necessárias à recepção da doutrina, e só depois dela é que alçou a voz para confiá-la e explicá-la. – Haveis de entender, começou ele, que a virtude e o saber têm duas existências paralelas, uma no sujeito que as possui, outra no espírito dos que o ouvem ou contemplam. Se puserdes as mais sublimes virtudes e os mais profundos conhecimentos em um sujeito solitário, remoto de todo contato com outros homens, é como se eles não existissem. Os frutos de uma laranjeira, se ninguém os gostar, valem tanto como as urzes e plantas bravias, e, se ninguém os vir, não valem nada; ou, por outras palavras mais enérgicas, não há espetáculo sem espectador. Um dia, estando a cuidar nestas cousas, considerei que, para o fim de alumiar um pouco o entendimento, tinha consumido os meus longos anos, e, aliás, nada chegaria a valer sem a existência de outros homens que me vissem e honrassem; então cogitei se não haveria um modo de obter o mesmo efeito, poupando tais trabalhos, e esse dia posso agora dizer que foi o da regeneração dos homens, pois me deu a doutrina salvadora. Neste ponto, afiamos os ouvidos e ficamos pendurados da boca do bonzo, o qual, como lhe dissesse Diogo Meireles que a língua da terra me não era familiar, ia falando com grande pausa, por que eu nada perdesse. E continuou dizendo: – Mal podeis adivinhar o que me deu ideia da nova doutrina; foi nada menos que a pedra da lua, essa insigne pedra tão luminosa que, posta no cabeço de uma montanha ou no píncaro de uma torre, dá claridade a uma campina inteira, ainda a mais dilatada. Uma tal pedra, com tais quilates de luz, não existiu nunca, e ninguém jamais a viu; mas muita gente crê que existe e mais de um dirá que a viu com os seus próprios olhos. Considerei o caso, e entendi que, se uma cousa pode existir na opinião, sem existir na realidade, e existir na realidade, sem existir na opinião, a conclusão é que das duas existências paralelas a única necessária é a da opinião, não a da realidade, que é apenas conveniente. Tão depressa fiz este achado especulativo, como dei graças a Deus do favor especial, e determinei-me a verificá-lo por experiências; o que alcancei, em mais de um caso, que não relato, por vos não tomar o tempo. Para compreender a eficácia do meu sistema, basta advertir que os grilos não podem nascer do ar e das folhas de coqueiro, na conjunção da lua nova, e por outro lado, o princípio da vida futura não está em uma certa gota de sangue de vaca; mas Patimau e Languru, varões astutos, com tal arte souberam meter estas duas ideias no ânimo da multidão, que hoje desfrutam
CONTO a nomeada de grandes físicos e maiores filósofos, e têm consigo pessoas capazes de dar a vida por eles. Não sabíamos em que maneira déssemos ao bonzo as mostras do nosso vivo contentamento e admiração. Ele interrogou-nos ainda algum tempo, compridamente, acerca da doutrina e dos fundamentos dela, e depois de reconhecer que a entendíamos, incitou-nos a praticá-la, a divulgá-la cautelosamente, não porque houvesse nada contrário às leis divinas ou humanas, mas porque a má compreensão dela podia daná-la e perdê-la em seus primeiros passos; enfim, despediu-se de nós com a certeza (são palavras suas) de que abalávamos dali com a verdadeira alma de pomadistas; denominação esta que, por se derivar do nome dele, lhe era em extremo agradável. Com efeito, antes de cair a tarde, tínhamos os três combinado em pôr por obra uma ideia tão judiciosa quão lucrativa, pois não é só lucro o que se pode haver em moeda, senão também o que traz consideração e louvor, que é outra e melhor espécie de moeda, conquanto não dê para comprar damascos ou chaparias de ouro. Combinamos, pois, à guisa de experiência, meter cada um de nós, no ânimo da cidade Fuchéu, uma certa convicção, mediante a qual houvéssemos os mesmos benefícios que desfrutavam Patimau e Languru; mas, tão certo é que o homem não olvida o seu interesse, entendeu Titané que lhe cumpria lucrar de duas maneiras, cobrando da experiência ambas as moedas, isto é, vendendo também as suas alparcas: ao que nos não opusemos, por nos parecer que nada tinha isso com o essencial da doutrina. Consistiu a experiência de Titané em uma cousa que não sei como diga para que a entendam. Usam neste reino de Bungo, e em outros destas remotas partes, um papel feito de casca de canela moída e goma, obra mui prima, que eles talham depois em pedaços de dois palmos de comprimento, e meio de largura, nos quais dese nham com vivas e variadas cores, e pela língua do país, as notícias da semana, políticas, religiosas, mercantis e outras, as novas leis do reino, os nomes das fustas, lancharas, balões e toda a casta de barcos que navegam estes mares, ou em guerra, que a há frequente, ou de veniaga. E digo as notícias da semana, porque as ditas folhas são feitas de oito em oito dias, em grande cópia, e distribuídas ao gentio da terra, a troco de uma espórtula, que cada um dá de bom grado para ter as notícias primeiro que os demais moradores. Ora, o nosso Titané não quis melhor esquina que este papel, chamado pela nossa língua Vida e claridade das cousas mundanas e celestes, título expressivo, ainda que um tanto derramado. E, pois, fez inserir no dito papel que acabavam de chegar notícias frescas de toda a costa de Malabar e da China, conforme as quais não havia outro cuidado que não fossem as famosas alparcas dele Titané; que estas alparcas eram chamadas as primeiras do mundo, por serem mui sólidas e graciosas; que nada menos de vinte e dois mandarins iam requerer ao imperador para que, em vista do esplendor das famosas alparcas de Titané, as pri meiras do universo, fosse criado o título honorífico de “alparca do Estado”, para recompensa dos que se distinguissem em qualquer disciplina do entendimento; que eram grossíssimas as encomendas feitas de todas as partes, às quais ele Titané ia acudir, menos por amor ao lucro do que pela glória que dali provinha à nação; não recuando, todavia, do propósito em que estava e ficava de dar de graça aos pobres do reino umas cinquenta corjas das ditas alparcas, conforme já fizera declarar a el-rei e o repetia agora; enfim, que apesar da primazia no fabrico das alparcas assim reconhecida em toda a terra, ele sabia os deveres da moderação, e nunca se julgaria mais do que um obreiro diligente e amigo da glória do reino de Bungo. A leitura desta notícia comoveu naturalmente a toda a cidade Fuchéu, não se falando em outra cousa durante toda aquela semana. As alparcas de Titané, apenas estimadas, começaram de ser buscadas com muita curiosidade e ardor, e ainda mais nas semanas seguintes, pois não deixou ele de entreter a cidade, durante algum tempo, com muitas e extraordinárias anedotas acerca da sua mercadoria. E dizia-nos com muita graça: – Vede que obedeço ao principal da nossa doutrina, pois não estou persuadido da superioridade das tais alparcas, antes as tenho por obra vulgar, mas fi-lo crer ao povo, que as vem comprar agora, pelo preço que lhes taxo. – Não me parece, atalhei, que tenhais cumprido a doutrina em seu rigor e substância,
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pois não nos cabe inculcar aos outros uma opinião que não temos, e sim a opinião de uma qualidade que não possuímos; este é, ao certo, o essencial dela. Dito isto, assentaram os dois que era a minha vez de tentar a experiência, o que imediatamente fiz; mas deixo de a relatar em todas as suas partes, por não demorar a narração da experiência de Diogo Meireles, que foi a mais decisiva das três, e a melhor prova desta deliciosa invenção do bonzo. Direi somente que, por algumas luzes que tinha de música e charamela, em que aliás era mediano, lembrou-me congregar os principais de Fuchéu para que me ouvissem tanger o instrumento; os quais vieram, escutaram e foram-se repetindo que nunca antes tinham ouvido cousa tão extraordinária. E confesso que alcancei um tal resultado com o só recurso dos ademanes, da graça em arquear os braços para tomar a charamela, que me foi trazida em uma bandeja de prata, da rigidez do busto, da unção com que alcei os olhos ao ar, e do desdém e ufania com que os baixei à mesma assembleia, a qual neste ponto rompeu em um tal concerto de vozes e exclamações de entusiasmo, que quase me persuadiu do meu merecimento. Mas, como digo, a mais engenhosa de todas as nossas experiências, foi a de Diogo Meireles. Lavrava então na cidade uma singular doença, que consistia em fazer inchar os narizes, tanto e tanto, que tomavam metade e mais da cara ao paciente, e não só a punham horrenda, senão que era molesto carregar tamanho peso. Conquanto os físicos da terra propusessem extrair os narizes inchados, para alívio e melhoria dos enfermos, nenhum destes consentia em prestar-se ao curativo, preferindo o excesso à lacuna, e tendo por mais aborrecível que nenhuma outra cousa a ausência daquele órgão. Neste apertado lance mais de um recorria à morte voluntária, como um remédio, e a tristeza era muita em toda a cidade Fuchéu. Diogo Meireles, que desde algum tempo praticava a medicina, segundo ficou dito atrás, estudou a moléstia e reconheceu que não havia perigo em desnarigar os doentes, antes era van tajoso por lhes levar o mal, sem trazer fealdade, pois tanto valia um nariz disforme e pesado como nenhum; não alcançou, todavia, persuadir os infelizes ao sacrifício. Então ocorreu-lhe uma graciosa invenção. Assim foi que, reunindo muitos físicos, filósofos, bonzos, autoridades e povo, comunicou-lhes que tinha um segredo para eliminar o órgão; e esse segredo era nada menos que substituir o nariz achacado por um nariz são, mas de pura natureza metafísica, isto é, inacessível aos sentidos humanos, e contudo tão verdadeiro ou ainda mais do que o cortado; cura esta praticada por ele em várias partes, e muito aceita aos físicos de Malabar. O assombro da assembleia foi imenso, e não menor a incredulidade de alguns, não digo de todos, sendo que a maioria não sabia que acreditasse, pois se lhe repugnava a metafísica do nariz, cedia entretanto à energia das palavras de Diogo Meireles, ao tom alto e convencido com que ele expôs e definiu o seu remédio. Foi então que alguns filósofos, ali presentes, um tanto envergonhados do saber de Diogo Meireles, não quiseram ficar-lhe atrás, e declararam que havia bons fundamentos para uma tal invenção, visto não ser o homem todo outra cousa mais do que um produto da idealidade transcendental; donde resultava que podia trazer, com toda a verossimilhança, um nariz metafísico, e juravam ao povo que o efeito era o mesmo. A assembleia aclamou a Diogo Meireles; e os doentes começaram de buscá-lo, em tanta cópia, que ele não tinha mãos a medir. Diogo Meireles desnarigava-os com muitíssima arte; depois es tendia delicadamente os dedos a uma caixa, onde fingia ter os narizes substitutos, colhia um e aplicava-o ao lugar vazio. Os enfermos, assim curados e supridos, olhavam uns para os outros, e não viam nada no lugar do órgão cortado; mas, certos e certíssimos de que ali estava o órgão substituto, e que este era inacessível aos sentidos humanos, não se davam por defraudados, e tornavam aos seus ofícios. Nenhuma outra prova quero da eficácia da doutrina e do fruto dessa experiência, senão o fato de que todos os desnarigados de Diogo Meireles continuaram a prover-se dos mesmos lenços de assoar. O que tudo deixo relatado para glória do bonzo e benefício do mundo. Extraído de: Machado de Assis – Contos Escolhidos, Núcleo, 1994.
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POIS É, POESIA
Luís Vaz de Camões Alguns sonetos A legres campos, verdes arvoredos,
Q uem diz que Amor é falso ou enganoso, Ligeiro, ingrato, vão, desconhecido, Sem falta lhe terá bem merecido Que lhe seja cruel ou rigoroso.
ue esperais, esperança? – Desespero. – Quem disso a causa foi? – Ua mudança. – Vós, vida, como estais? – Sem esperança. – Que dizeis, coração? – Que muito quero.
Silvestres montes, ásperos penedos, Compostos em concerto desigual: Sabei que, sem licença de meu mal, Já não podeis fazer meus olhos ledos.
Amor é brando, é doce e é piedoso, Quem o contrário diz não seja crido; Seja por cego e apaixonado tido, E aos homens, e inda aos deuses, odioso.
– Que sentis, alma, vós? – Que amor é fero. – E, enfim, como viveis? – Sem confiança. – Quem vos sustenta, logo? – Ua lembrança. – E só nela esperais? – Só nela espero.
E, pois me já não vedes como vistes, Não me alegrem verduras deleitosas Nem águas que correndo alegres veem.
Se males faz Amor, em mi se veem; Em mi mostrando todo o seu rigor, Ao mundo quis mostrar quanto podia,
– Em que podeis parar? – Nisto em que estou. – E em que estais vós? – Em acabar a vida. – E tende-lo por bem? – Amor o quer.
Semearei em vós lembranças tristes, Regando-vos com lágrimas saudosas. E nascerão saudades de meu bem.
Mas todas suas iras são de Amor; Todos estes seus males são um bem, Que eu por todo outro bem não trocaria.
– Quem vos obriga assi? – Saber quem sou. – E quem sois? – Quem de todo está rendida. – A quem rendida estais? – A um só querer.
Claras e frescas águas de cristal, Que em vós os debuxais ao natural, Discorrendo da altura dos rochedos,
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–Q
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C orrem turvas as águas deste rio,
Um mover de olhos, brando e piedoso,
Vencido está de Amor O mais que pode ser Sujeita a vos servir e Oferecendo tudo
Meu pensamento Vencida a vida, Instituída, A vosso intento.
Passou o Verão, passou o ardente Estio; Umas cousas por outras se trocaram; Os fementidos Fados já deixaram Do mundo o regimento ou desvario.
Um despejo quieto e vergonhoso, Um repouso gravíssimo e modesto; Uma pura bondade, manifesto Indício da alma, limpo e gracioso;
Contente deste bem, Ou hora em que se viu Mil vezes desejando Outras mil vez renovar
Louva o momento, Tão bem perdida; Assi ferida, Seu perdimento.
Tem o tempo sua ordem já sabida; O mundo, não; mas anda tão confuso, Que parece que dele Deus se esquece.
Um encolhido ousar; uma brandura; Um medo sem ter culpa; um ar sereno; Um longo e obediente sofrimento:
Com esta pretensão A causa que me guia Tão sobrenatural,
Está segura Nesta empresa, Honrosa e alta.
Casos, opiniões, natura e uso Fazem que nos pareça desta vida Que não há nela mais que o que parece.
Esta foi a celeste formosura Da minha Circe, e o mágico veneno Que pôde transformar meu pensamento.
Jurando não querer Votando só por vós Ou ser no vosso amor
Outra ventura, Rara firmeza, Achado em falta.
Que as do céu e as do monte as enturbaram; Os campos florescidos se secaram; Intratável se fez o vale, e frio.
Sem ver de quê; um riso brando e honesto, Quase forçado; um doce e humilde gesto, De qualquer alegria duvidoso;
Extraído de: Sonetos de Camões, Núcleo, 1991.
Biografia Teria nascido em 1524 ou 1525, em Lisboa, Coimbra ou Santarém. Leitor de Homero, Horácio, Virgílio, Ovídio, Petrarca e outros grandes clássicos. Provocou grandes paixões na Corte (infanta D. Maria, filha de D. Manuel; D. Catarina de Ataíde), tendo, por isso, sido desterrado para longe. Em Ceuta (1549), perdeu um olho e regressou para Lisboa. Por causa de uma briga com Gonçalo Borges foi obrigado a servir nas Índias. Em 1556, foi nomeado “provedor-mor dos bens de defuntos e ausentes” em Macau, onde teria escrito parte de Os Lusíadas. Acusado de desviar bens sob sua custódia, foi para Goa defender-se. Seu navio naufragou na foz do Rio Mecon e, como quer a lenda, salvou-se a nado, levando os manuscritos de sua epopeia e, deixando sua companheira Dinamene morrer afogada (“Alma minha gentil que te partiste”). Em 1567, foi preso em Moçambique por causa de dívidas, arrastou uma vida miserável, voltando para Portugal em 1569. Em 1572, publicou Os Lusíadas e recebeu como recompensa uma pensão anual de 15.000 réis. Morreu pobre e abandonado a 10 de junho de 1580.
ARTIGO
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Matemática é aplicada à otimização de granja no interior paulista Diego Freire
U
ma parceria entre uma granja na região de Jundiaí (SP) e o Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) financiados pela FAPESP, monitora remotamente as condições em que frangos são criados para o abate e utiliza modelos matemáticos para aperfeiçoar a criação e otimizar o crescimento dos animais e a produção. Os mais de 23 mil frangos de corte da granja são monitorados ininterruptamente por um software desenvolvido pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS), que reúne dados sobre os níveis de água e ração, intensidade da ventilação e outros fatores e os envia a cada cinco minutos aos pesquisadores do CeMEAI. Por meio de um segundo software, modelos matemáticos são aplicados para que sejam tomadas as melhores decisões sobre que ajustes precisam ser feitos no processo de criação dos animais. “A transformação em carne, relacionada com o aumento do peso do animal, é o coeficiente que mede a eficiência e o custo do frango, e a matemática pode auxiliar no alcance dos resultados desejados por meio de modelos que procuram emular o que ocorre na realidade, utilizando padrões que são aprendidos do comportamento da granja, um sistema complexo dentro do qual se quer manter as condições ambientais as melhores possíveis, pois isso permite que eles se alimentem bem, engordem e sejam mais produtivos”, disse José Mário Martínez, do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (Imecc) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), um dos pesquisadores principais do CeMEAI. Dessa forma, as operações de manejo no aviário têm o objetivo de estimular os frangos a se alimentarem adequadamente e de ajudar no melhor funcionamento do seu metabolismo, de maneira que a ave possa aproveitar ao máximo o seu potencial genético. Isso envolve, além do controle da disponibilidade de comida e água fresca, controlar condições de temperatura, umidade, vento, presença de CO2 no ar, amônia e luz, entre outras. Alguns galpões são automatizados, com parte do manejo feito por relés (interruptores eletromecânicos) e motores comandados por um controlador lógico programável (CLP), computador baseado em um microprocessador que armazena instruções para implementar funções específicas, com regras de operação baseadas nas leituras de sensores de temperatura e umidade. Outras atividades são manuais e apenas uma pessoa realiza todas as operações. O modelo desenvolvido pelos pesquisadores do CeMEAI busca conjugar múltiplos fatores e levar a decisões mais rápidas e abrangentes. “As decisões tomadas com base em fatores isolados podem levar a efeitos colaterais que prejudicam os animais em outros aspectos. Por exemplo, se há muita amônia no ambiente e a temperatura externa ao galpão está muito baixa, a ventilação irá reduzir a amônia, mas aumentar ainda mais o frio. O ideal é que a decisão seja tomada baseada nos impactos que cada fator tem no desempenho do animal”, explicou Dante Conti, também do Imecc. O trabalho dos pesquisadores do CeMEAI consiste em desenvolver um modelo matemático de decisão que considere todas as condições ideais para o frango de corte, fazendo cruzamentos entre diferentes indicadores de qualidade, evitando resultados que levem a efeitos colaterais danosos aos animais e que afetam negativamente a produção. De acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a demanda por carne de frango no Brasil é crescente e deve subir de 43 para 45 quilos por pessoa até o fim do ano. As exporta-
ções também devem subir de 2% a 3%. O Brasil é o maior exportador de carne de frango e o terceiro maior produtor. “Ainda que produzam as mesmas linhagens, alimenta das pela mesma ração e sob as mesmas condições ambientais, aviários com diferentes manejos podem apresentar variações importantes na ciência de conversão de ração em carne. Melhores práticas de manejo podem diminuir 0,1kg de ração consumida para cada quilo de peso da ave viva”, afirmou Conti.
Conforto térmico Os sensores que fazem o monitoramento dos animais, que vivem em média 45 dias no aviário antes de seguirem para o frigorífico, estão espalhados por uma área de 15 m de largura e 150 m de comprimento. Além dos dados de temperatura, umidade, velocidade do ar e sistema de ventilação transmitidos por eles, entre outros, o modelo matemático desenvolvido pelo CeMEAI utiliza algoritmos de processamento de imagens para, por meio da análise de vídeos transmitidos em tempo real, avaliar o conforto térmico dos animais. Por meio de parâmetros informados ao sistema, os algoritmos são capazes de diferenciar os frangos de outros elementos do ambiente, como o chão e seres humanos, e de identificar situações que indiquem anomalias em seus comportamentos. “Se os animais estão muito próximos uns dos outros, por exemplo, isso pode indicar que estão com frio e que a temperatura precisa ser aumentada. Caso insistam em ficar muito perto dos bebedouros, podem estar sentindo calor, indicando a necessidade de diminuir a temperatura”, explicou Conti. A cada cinco minutos são calculados índices de conforto térmico dos frangos que, conjugados aos valores que os sensores fornecem de temperatura, umidade e velocidade do ar, entre outros, permitem identificar e classificar padrões de comportamento dos animais. A combinação de todos os valores e a aplicação de algoritmos matemáticos de clustering, técnica de mineração de dados que realiza agrupamentos automáticos de dados, possibilita constatar se os frangos têm frio ou calor, se estão bebendo ou comendo muito e outras observações. “Se o comportamento dos animais é o ideal, a resposta biológica deles é crescer, obtendo ganho significativo de peso e, consequentemente, melhorando a produção com qualidade, que é o objetivo final do sistema.” O CeMEAI já possui uma coleção de valores que representam situações identificando o conforto térmico dentro do aviário e eventos alheios à rotina do local, como desligamento da energia elétrica e a presença de estranhos que interferem negativamente no comportamento dos frangos, detectando esses eventos adversos automaticamente. O próximo passo é a finalização do desenvolvimento de um sistema on-line e de código aberto para controle automático do conforto térmico do aviário a cada cinco minutos. Extraído de: Agência FAPESP – Divulgando a cultura científica, set./2015.
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(ENTRE PARÊNTESIS)
Promoção de sorvetes Em um determinado verão, uma fábrica de sorvetes trocava 10 palitos de sorvete por 1 sorvete de palito. Que fração do valor do sorvete (sem palito) é o valor do palito?
RESPOSTA
Sejam S o valor do sorvete sem o palito e P o valor do palito. Como 10 palitos nos dão um sorvete com palito, temos: P 1 = S 9 10P = 1(P + S ) + 9P = S +
ESPECIAL
Alunos do Colégio Etapa ganham 7 prêmios no SPMUN 2015
A
6a edição do SPMUN (São Paulo Model United Nations) foi realizada em São Paulo entre os dias 7 e 11 de julho de 2015. O evento, sediado este ano pela Escola Politécnica da USP, contou com a participação de 38 alunos do Colégio Etapa, todos membros do EMUN (Etapa Model United Nations). O tema do encontro foi: “Como a sociedade internacional influi no exercício da liberdade”. Criado em 2009, o SPMUN ocorre todos os anos na cidade de São Paulo e é organizado voluntariamente por estudantes do Ensino Superior. Inspirado em evento similar da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, ele promove o aprendizado do universo diplomático através de simulações de reuniões de organismos internacionais. Os estudantes, representando países e instituições, organizam-se em comitês que priorizam áreas de Relações Internacionais, sendo incumbidos de representar um país ou instituição. As discussões, previamente estabelecidas, proporcionam o engajamento dos jovens em um cenário internacional e o aprofundamento de seus conhecimentos em problemas globais. Os alunos do Etapa, que marcam presença no evento há três edições, ganharam sete prêmios, sendo dois deles os principais do evento (Menção Honrosa e Menção Oral). Os alunos premiados foram: Gustavo Manicardi Schneider, que atuou como representante da Anistia Internacional no comitê Conselho de Direitos Humanos (CDH); Géssia Batista de Freitas, representante da Anistia Internacional no comitê Departamento de Segurança Internacional (DSI); Pedro Tozzy e Amanda Vidotto, representantes da Rússia no comitê Conselho de Segurança das Nações Unidas (UNSC); Fernanda Tadini Ribeiro, representante da Líbia no comitê DSI; Caio Jorge Ribeiro Zotta, representante da Rússia no comitê Organização Mundial do Comércio (OMC); e Júlia Chechinato Passador, que atuou como representante da Rússia no comitê Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (ECOSOC).