Jornal do colégio - 606

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Jornal do Colégio JORNAL DO COLÉGIO ETAPA  –  2016  •  DE 01/04 A 14/04

ENTREVISTA

“Escolher um curso é difícil, mas não fique com receio de encarar uma profissão. Você tem que achar o que você gosta.” Carolina Maria Andrade Carrera está no último semestre de Engenharia Civil na Poli. Também faz seu primeiro estágio em uma consultoria estratégica e finaliza o TCC. Pretende continuar estudando e entrar em um MBA. Aqui ela descreve como se preparou para os vestibulares e superou as dúvidas em relação à carreira que seguiria.

Carolina Maria Andrade Carrera

JC – Você

foi aprovada nos vestibulares de 2011 para Engenharia na Poli e Administração na FGV. Por que preferiu a Poli?

Carolina – Os dois cursos são em período integral. Escolhi

a Poli porque eu queria Engenharia para trabalhar um pouco mais o administrativo, tinha um pouco isso na cabeça.

Na época, além da Fuvest, você prestou quais vestibulares? Prestei a 1a fase da Unicamp, passei para a 2a fase, mas não fui fazer. Eu queria realmente USP. Também prestei a 1a fase da Unifesp, para Medicina, mas desisti e não fiz a 2a fase.

Por que você prestou para Medicina? Eu gostava muito de ler coisas relacionadas com Medicina. Só que sempre gostei de Matemática, desde pequena. Aí fui para o lado de Exatas.

Hoje você está satisfeita com sua escolha de Engenharia Civil? Muito. Eu tenho uma profissão de que eu gosto mesmo. ENTREVISTA

Carreira – Engenharia Civil

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PARA TREINAR SEU INGLÊS

Comics CONTO Vinte anos! Vinte anos! – Machado de Assis

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Quando você entrou no Etapa? Sou de Salvador. Vim para São Paulo porque meu pai foi transferido. Entrei aqui no 1o ano do Ensino Médio.

Como foi sua adaptação aqui? Eu gostava de estudar, sempre estudei direitinho, então não foi complicado.

No 3o ano como você se preparou para os vestibulares? Mantive o que vinha fazendo. Eu não tinha muitas atividades além do Etapa, justamente para focar.

Qual foi a maior diferença daquilo que você estava habituada na Poli? Aqui os professores têm um interesse grande em que você aprenda. Na faculdade os professores também têm interesse em que você aprenda, mas acham que você vai aprender de primeira e passam o conteúdo da forma que eles acham correta, independente de ser de maneira didática ou não. Você tem que ser um pouco autodidata,

SOBRE AS PALAVRAS

De mãos abanando ARTIGO Estudo estima eficiência em campo de insetos que parasitam pragas agrícolas

ENTRE PARÊNTESIS

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Pais & filhos

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ESPECIAL

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Universidades no exterior

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ENTREVISTA

tem que se virar para estudar, tem que abrir a cabeça um pouco para correr atrás de material extra, procurar coisas adicionais. Aqui não precisava.

Qual foi o tema?

Na faculdade, você chegou a ter dúvida em relação à escolha da carreira?

O que você fez nesse trabalho?

Tive dúvida no 1o ano. Não era só pela dificuldade. No 1o ano, como em geral para todas as Engenharias, é uma coisa muito pesada, as matérias eram muito teóricas. Era uma coisa muito acadêmica, não muito prática. Pensei em mudar para Medicina. Mas percebi que era só um momento. O pessoal falava: “Espera que vai mudar”. E mudou mesmo. O 2o ano foi exatamente o que eu esperava. Amei o 2o ano.

Em linhas gerais, o que você viu de matérias em cada ano da faculdade? A Engenharia Civil é separada em 4 departamentos: Transportes, Construção Civil, Hidráulico e Estruturas. Você vê um pouco de cada departamento todo ano. Todo ano é uma parte dos quatro. E vai avançando.

No 1o ano, o que você estudou? Cálculo, Álgebra Linear, Física, um pouco de Química, um pouco de Desenho Geométrico. Um pouco de cada área, as coisas básicas.

Foi sobre o projeto da Copa do Mundo. Mobilidade urbana. Aqui em São Paulo, para a Arena Corinthians.

Avaliamos o trânsito, tentamos prever como seria para chegar na arena, os meios de transporte público e privado, e propusemos soluções para melhorar isso. Na verdade foi um projeto nacional para todos os estados que teriam uma arena envolvida. A USP foi responsável por São Paulo.

Para São Paulo, o que foi proposto? Não propusemos mudanças gigantes porque não era possível, mas coisas pequenas, aplicativos que podiam usar. Não fizemos os aplicativos, demos ideias. Onde colocar sinalizadores para ajudar o público, como fazer bloqueios no trânsito, pontos de verificação. A gente analisou essas coisas e misturou com o trânsito. Avaliamos o metrô também.

Você estagiou durante o curso? Comecei este ano, em janeiro. É meu primeiro estágio.

Você está estagiando onde? Numa consultoria estratégica.

Você está em que área?

Como foi no 2o ano? O 2o ano é igual para Engenharia Civil e Ambiental, os dois cursos da Grande Área Civil. No 3o ano é só Civil ou só Ambiental. Separa tudo.

Que matérias você teve? No 2o ano tem ainda Cálculo e Álgebra Linear. E a parte de gestão de construção em si. Tem a ver com administração, gostei bastante. Teve mais no 3o e no 4o ano. Estrutura Organizacional dá sequência a como seria uma construção. É meio como funciona um cronograma para conseguir fazer a construção. A gente aprende mais ou menos isso, um pouco de tudo, na verdade.

O que você viu do 3 ano em diante? o

Aí você começa a ver realmente mais a construção. Tem laboratórios, no 3o e no 4o ano, em que você faz o concreto. Tem laboratórios também para ver resistência de materiais na prática. Você aprende também na teoria. Na parte de transporte a gente vê, por exemplo, o tempo do farol, tempo do verde, tempo do amarelo, coisas que eu não imaginava que faria em Engenharia Civil. Na parte de hidráulica a gente aprendeu a localizar e desenvolver do melhor jeito um porto. Você vê um pouco de tudo.

Lá você participa um pouco de tudo. Faz projetos de educação, de saúde, projetos de organização, de várias coisas.

O que você já conseguiu aprender nesse estágio? Acho que aprendi muita coisa da parte financeira. Você vê na prática. Receita, lucro, essas coisas.

Qual a importância do estágio profissional? O estágio mostra a prática mesmo. Você aprende coisas novas também, que não são ensinadas na teoria. Estou gostando muito.

Quando você se forma? Vou me formar em julho de 2016.

Qual o tema do seu Trabalho de Conclusão de Curso? Drenagem de águas na rua ao lado de minha casa. Lá tem muita enchente e já teve casos de pessoas levadas. É um projeto de drenagem com infiltração. Levando a água ao córrego que passa lá. A drenagem atual na rua não é suficiente. Claro, a gente sabe que provavelmente não vai pôr em prática, mas estamos procurando fazer uma coisa que dê para propor a alguém para resolver o problema.

Você fez alguma atividade extra-aula?

Você pretende fazer algum curso depois de formada?

Fiz iniciação científica no 3 e no 4 ano, em 2013 e 2014.

Sim, um MBA. Para a carreira é fundamental.

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ENTREVISTA

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Logo depois de formada?

com a prática, mas tudo que aprendi na faculdade está

As pessoas geralmente acham o certo ter um pouco de experiência no mercado de trabalho, três, quatro anos, antes de fazer MBA, que dura dois anos. Vou esperar um pouco, entrar primeiro no mercado de trabalho, mas já pensando no MBA. É o que eu quero, com certeza. Inclusive, Londres é uma grande opção para mim.

sendo importante e útil.

Em quais áreas o engenheiro civil consegue atuar?

E seus amigos da época do colégio – ainda mantém contato? São meus amigos até hoje. Mantenho muito contato com eles.

Com esta crise da Engenharia Civil tem muita gente indo para banco, para consultoria. Só que geralmente você consegue participar de processo seletivo em todo tipo de empresa, porque pode exercer atividade administrativa, estratégica, organizacional.

O que mais marcou seu tempo aqui no colégio?

O que você acha que diferencia um profissional do outro?

colegas, tudo em geral.

Acho que é a dedicação. Não se deixar desanimar com a situação. Tem profissional que está correndo atrás, está procurando fazer cursos extras, procurando se inteirar mais. Esse está em vantagem em relação aos que se acomodam.

Quais são seus planos para este ano? Meu plano é me formar e já entrar no mercado de trabalho.

Gostava muito dos professores, eles têm uma didática muito boa, um interesse muito grande, muito legal. Os professores da faculdade têm didática diferente, mas os de lá e os daqui são maravilhosos. E o pessoal também,

O que você pode dizer a quem vai prestar Engenharia no final do ano? A pessoa tem que gostar de Exatas – de Matemática, Física, Química. E, para quem gosta, vale muito a pena.

Você quer dizer mais alguma coisa para nossos alunos? As pessoas são muito novas, não sabem exatamente o

Você acha que está preparada para encarar o dia a dia da Engenharia?

que querem. Aqui no Etapa eles ajudam, você aprende a

Acho que a Poli me preparou do melhor jeito que podia ser preparada. Algumas coisas você realmente só aprende

fique com receio de encarar uma profissão. Você tem que

se conhecer melhor. Escolher um curso é difícil, mas não achar o que você gosta. Se não gostar, pode mudar.

PARA TREINAR SEU INGLÊS


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CONTO

Vinte anos! Vinte anos! Machado de Assis

G

onçalves, despeitado, amarrotou o papel, e mordeu o beiço. Deu cinco ou seis passos no quarto, deitou-se na cama, de barriga para o ar, pensando; depois foi à janela, e esteve ali durante dez ou doze minutos, batendo o pé no chão e olhando para a rua, que era a rua detrás da Lapa. Não há leitor, menos ainda leitora, que não imagine logo que o papel é uma carta, e que a carta é de amores, alguma zanga de moça, ou notícia de que o pai os ameaçava, que a intimou a ir para fora, para a roça, por exemplo. Vãs conjeturas! Não se trata de amores, não é mesmo carta, posto que haja embaixo algumas palavras assinadas e datadas, com endereço a ele. Trata-se disto. Gonçalves é estudante, tem a família na província e um correspondente na corte, que lhe dá a mesada. Gonçalves recebe a mesada pontualmente; mas tão depressa a recebe como a dissipa. O que acontece é que a maior parte do tempo vive sem dinheiro; mas os vinte anos formam um dos primeiros bancos do mundo, e Gonçalves não dá pela falta. Por outro lado, os vinte anos são também confiados e cegos; Gonçalves escorrega aqui e ali, e cai em desmandos. Ultimamente, viu um sobretudo de peles, obra soberba, e uma linda bengala, não rica, mas de gosto; Gonçalves não tinha dinheiro, mas comprou-os fiado. Não queria, note-se; mas foi um colega que o animou. Lá se vão quatro meses; e instando o credor pelo dinheiro, Gonçalves lembrou-se de escrever uma carta ao correspondente, contando-lhe tudo, com tais maneiras de estilo, que enterneceriam a mais dura pedra do mundo. O correspondente não era pedra, mas também não era carne; era correspondente, aferrado à obrigação, rígido, e possuía cartas do pai de Gonçalves, dizendo-lhe que o filho tinha uma grande queda para gastador, e que o reprimisse. Entretanto, estava ali uma conta; era preciso pagá-la. Pagá-la era animar o moço a outras. Que fez o correspondente? Mandou dizer ao rapaz que não tinha dúvida em saldar a dívida, mas que ia primeiro escrever ao pai, e pedir-lhe ordens; dir-lhe-ia na mesma ocasião que pagara outras dívidas miúdas e dispensáveis. Tudo isso em duas ou três linhas embaixo da conta, que devolveu. Compreende-se o pesar do rapaz. Não só ficava a dívida em aberto, mas, o que era pior, ia notícia dela ao pai. Se fosse outra cousa, vá; mas um sobretudo de peles, luxuo­ so e desnecessário, uma cousa que realmente ele achou depois que era um trambolho, pesado, enorme e quente... Gonçalves dava ao diabo o credor, e ainda mais o correspondente. Que necessidade era essa de ir contá-lo ao pai?

E que carta que o pai havia de escrever! que carta! Gonçalves estava a lê-la de antemão. Já não era a primeira: a última ameaçava-o com a miséria. Depois de dizer o diabo do correspondente, de fazer e desfazer mil planos, Gonçalves assentou no que lhe pareceu melhor, que era ir à casa dele, na Rua do Hospício, descompô-lo, armado de bengala, e dar-lhe com ela, se ele replicasse alguma cousa. Era sumário, enérgico, um tanto fácil, e, segundo lhe dizia o coração, útil aos séculos. – Deixa estar, patife! quebro-te a cara. E, trêmulo, agitado, vestiu-se às carreiras, chegando ao extremo de não pôr a gravata; mas lembrou-se dela na escada, voltou ao quarto, e atou-a ao pescoço. Brandiu no ar a bengala para ver se estava boa; estava. Parece que deu três ou quatro pancadas nas cadeiras e no chão, – o que lhe mereceu não sei que palavra de um vizinho irritadiço. Afinal saiu. – Não, patife! não me pregas outra. Eram os vinte anos que irrompiam cálidos, férvidos, incapazes de engolir a afronta e dissimular. Gonçalves foi por ali fora, Rua do Passeio, Rua da Ajuda, Rua dos Ourives, até à Rua do Ouvidor. Depois lembrou-se que a casa do correspondente, na Rua do Hospício, ficava entre as de Uruguaiana e dos Andradas; subiu, pois, a do Ouvidor para ir tomar a primeira destas. Não via ninguém, nem as moças bonitas que passavam, nem os sujeitos que lhe diziam adeus com a mão. Ia andando à maneira de touro. Antes de chegar à Rua de Uruguaiana, alguém chamou por ele. – Gonçalves! Gonçalves! Não ouviu e foi andando. A voz era de dentro de um café. O dono dela veio à porta, chamou outra vez, depois saiu à rua, e pegou-o pelo ombro. – Onde vais? – Já volto... – Vem cá primeiro. E tomando-lhe o braço, voltou para o café, onde estavam mais três rapazes a uma mesa. Eram colegas dele, – todos da mesma idade. Perguntaram-lhe onde ia; Gonçalves respondeu que ia castigar um pelintra, donde os quatro colegas concluíram que não se tratava de nenhum crime público, inconfidência ou sacrilégio, – mas de algum credor ou rival. Um deles chegou mesmo a dizer que deixasse o Brito em paz. – Que Brito? perguntou o Gonçalves. – Que Brito? O preferido, o tal, o dos bigodes, não te lembras? Não te lembras mais da Chiquinha Coelho? Gonçalves deu de ombros, e pediu uma xícara de café. Tratava-se nem da Chiquinha Coelho nem do Brito! Há


CONTO cousa muito séria. Veio o café, fez um cigarro, enquanto um dos colegas confessava que a tal Chiquinha era a pequena mais bonita que tinha visto desde que chegara. Gonçalves não disse nada; entrou a fumar e a beber o café, aos goles, curtos e demorados. Tinha os olhos na rua; no meio da conversa dos outros, declarou que efetivamente a pequena era bonita, mas não era a mais bonita; e citou outras, cinco ou seis. Uns concordaram em absoluto, outros em parte, alguns discordaram inteiramente. Nenhuma das moças citadas valia a Chiquinha Coelho. Debate longo, análise das belezas. – Mais café, disse Gonçalves. – Não quer cognac? – Traga... não... está bom, traga. Vieram ambas as cousas. Uma das belezas citadas passou justamente na rua, de braço com o pai, deputado. Daqui um prolongamento de debate, com desvio para a política. O pai estava prestes a ser ministro. – E o Gonçalves genro do ministro! – Deixa de graças, redarguiu rindo o Gonçalves. – Que tinha? – Não gosto de graças. Eu genro? Demais, vocês sabem as minhas opiniões políticas; há um abismo entre nós. Sou radical... – Sim, mas os radicais também se casam, observou um. – Com as radicais, emendou outro. – Justo. Com as radicais... – Mas você não sabe se ela é radical. – Ora bolas, o café está frio! exclamou Gonçalves. Olhe lá; outro café. Tens um cigarro? Mas então parece a vocês que eu chegue a ser genro do ***. Ora que caçoada! Vocês nunca leram Aristóteles? – Não. – Nem eu. – Deve ser um bom autor. – Excelente, insistiu Gonçalves. Ó Lamego, tu lembras-te daquele sujeito que uma vez quis ir ao baile de máscaras, e nós lhe pusemos um chapéu, dizendo que era de Aristóteles? E contou a anedota, que na verdade era alegre e estúrdia; todos riram, começando por ele, que dava umas

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gargalhadas sacudidas e longas, muito longas. Veio o café, que era quente, mas pouco; pediu terceira xícara, e outro cigarro. Um dos colegas contou então um caso análogo, e, como falasse de passagem em Wagner, conversaram da revolução que o Wagner estava fazendo na Europa. Daí passaram naturalmente à ciência moderna; veio Darwin, veio Spencer, veio Büchner, veio Moleschott, veio tudo. Nota séria, nota graciosa, uma grave, outra aguda, e café, cigarro, troça, alegria geral, até que um relógio os surpreen­deu batendo cinco horas. – Cinco horas! exclamaram dous ou três. – No meu estômago são sete, ponderou um dos outros. – Onde jantam vocês? Resolveram fazer uma revista de fundos e ir jantar juntos. Reuniram seis mil-réis; foram a um hotel modesto, e comeram bem, sem perder de vista as adições e o total. Eram seis e meia, quando saíram. Caía a tarde, uma linda tarde de verão. Foram até o Largo de S. Francisco. De caminho, viram passar na Rua do Ouvidor algumas moças retardatárias; viram outras no ponto dos bonds de S. Cristóvão. Uma delas desafiou mesmo a curiosidade dos rapazes. Era alta e fina, recentemente viúva. Gonçalves achou que era muito parecida com a Chiquinha Coelho; os outros divergiram. Parecida ou não, Gonçalves ficou entusiasmado. Propôs irem todos no bond em que ela fosse; os outros ouviram rindo. Nisto a noite foi chegando; eles tornaram à Rua do Ouvidor. Às sete e meia caminharam para um teatro, não para ver o espetáculo (tinham apenas cigarros e níqueis no bolso), mas para ver entrar as senhoras. Uma hora depois vamos achá-los, no Rocio, discutindo uma questão de física. Depois recitaram versos, deles e de outros. Vieram anedotas, trocadilhos, pachuchadas; muita alegria em todos, mas principalmente no Gonçalves que era o mais expansivo e ruidoso, alegre como quem não deve nada. Às nove horas tornou este à Rua do Ouvidor, e, não tendo charutos, comprou uma caixa por vinte e dous mil-réis, fiado. Vinte anos! Vinte anos! Extraído de: Outros contos.

SOBRE AS PALAVRAS

De mãos abanando A expressão surgiu na época da imigração no Brasil. Os imigrantes que aqui chegavam para trabalhar teriam que ter suas próprias ferramentas, pois aqueles que vinham “de mãos abanando” eram sinal de que não estavam dispostos a trabalhar. A partir daí, o termo passou a ser empregado quando alguém não traz nada consigo, como, por exemplo: quando alguém vai a uma festa de aniversário sem levar presente.


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ARTIGO

Estudo estima eficiência em campo de insetos que parasitam pragas agrícolas Elton Alisson

Um grupo de mais de 30 espécies de vespas do gênero Trichogramma é um dos mais utilizados hoje no mundo em programas de controle biológico por países que são grandes produtores agrícolas, como o Brasil, para combater pragas que atacam culturas como cana-de-açúcar, milho, soja, algodão e tomate. Contudo, a avaliação do desempenho em campo de linhagens de uma mesma espécie dessas vespas, que parasitam mais de 200 espécies de pragas da ordem Lepidoptera – como as lagartas que atacam as lavouras –, é difícil em razão de seu tamanho, de aproximadamente 0,5 milímetro. O tamanho diminuto e o fato de serem parasitoides impossibilitam, por exemplo, marcá-las com um corante antes de serem liberadas em uma lavoura, para verificar posteriormente se fixaram, se dispersaram pela plantação e se estão controlando uma determinada praga que se deseja eliminar. Pesquisadores da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), em colaboração com colegas da University of California em Riverside, nos Estados Unidos, conseguiram superar essa barreira ao estimar o sucesso em campo da liberação de linhagens de vespas Trichogramma pretiosum Riley, usada largamente no Brasil para controlar pragas da soja e do tomate, usando uma técnica de biologia molecular. Resultado de uma pesquisa de doutorado realizada com Bolsa da FAPESP, a aplicação do método foi descrita em um artigo publicado na revista PLoS One. “A técnica de biologia molecular que usamos para estimar o desempenho em campo de linhagens de Trichogramma pretiosum Riley talvez possa ser usada em outras espécies de Trichogramma”, disse Aloisio Coelho Junior, autor da pesquisa, à Agência FAPESP. De acordo com ele, que realizou a pesquisa sob orientação do professor José Roberto Postali Parra, da Esalq-USP, a técnica consiste no uso de fragmentos do DNA mitocondrial como marcadores genéticos para diferenciar linhagens de Trichogramma pretiosum Riley e estimar as que podem ter melhor ou pior desempenho em campo. Para desenvolver a técnica, os pesquisadores sequenciaram e classificaram por meio de um método de análi-

se de laboratório chamado PCR de tempo real os pares de base do DNA mitocondrial das linhagens de Trichogramma pretiosum Riley. Ao fazer isso, observaram que as linhagens apresentavam uma diferença muito nítida em um fragmento da CO1 – gene do DNA mitocondrial –, que possuíam três “tipos raros”, com potencial de serem usados como marcadores genéticos. Com base nessa constatação, eles criaram, por meio de uma série de cruzamentos, 45 linhagens diferentes dos três “tipos” mitocondriais de Trichogramma pretiosum Riley, sendo 15 de cada tipo mitocondrial. “Criamos linhagens puras, marcadas com esses fragmentos de DNA mitocondrial”, explicou Aloisio.

Teste em campo As 45 linhagens do inseto foram classificadas em três categorias – melhor, intermediário e pior –, de acordo com o tamanho médio de sua prole e a proporção de descendentes do sexo feminino, que são fatores determinantes para desempenho do inseto no ataque às pragas agrícolas. A fim de avaliar se os fragmentos de DNA mitocondrial das células do Trichogramma pretiosum Riley poderiam ser usadas como marcadores do inseto para analisar seu desempenho em campo, os pesquisadores fizeram um experimento em que lançaram linhagens de cada uma das


ARTIGO três categorias do inseto com perfis diferentes de DNA mitocondrial em uma plantação de milho para quantificar o quanto eram capazes de parasitar ovos da praga Ephestia kuehniella, conhecida popularmente como traça da farinha. Para isso, eles distribuíam pelo milharal cartelas com ovos da praga e liberavam em um ponto central da plantação as diferentes linhagens de Trichogramma pretiosum Riley previamente classificadas em laboratório de acordo com suas características reprodutivas, sendo que cada uma possuía um “tipo” mitocondrial diferente. Um dia após o lançamento, eles recolhiam as cartelas com os ovos da traça da farinha, traziam para o laboratório e esperavam emergir o Trichogramma pretiosum Riley que parasitou o ovo. Por meio de uma análise com PCR em tempo real, os pesquisadores analisavam o DNA mitocondrial do inseto parasitoide e identificavam a qual linhagem liberada em campo seu perfil da CO1 correspondia. Dessa forma, conseguiram verificar quais parasitaram mais e produziam mais prole no campo, por exemplo. “O DNA mitocondrial serviu como uma espécie de impressão digital do inseto”, comparou Aloisio. Os resultados das análises de DNA mitocondrial indicaram que as linhagens que apresentaram melhor desempenho em laboratório, em termos de fecundidade e proporção

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de machos e fêmeas na prole, também foram as que demonstraram maior êxito no parasitismo em campo. Com isso, constataram que a seleção em laboratório demonstrou ser um bom preditor do sucesso de Trichogramma pretiosum Riley em campo e que os marcadores mitocondriais representam uma boa forma de marcação de linhagens de parasitoides. “Essa técnica de marcação pode ser bastante útil para a seleção de melhores linhagens de Trichogramma por biofábricas [empresas que produzem parasitoides para controle biológico]”, avaliou Aloisio. As biofábricas produzem Trichogramma em ovos de mariposa parasitados pelo inseto a partir da seleção de linhagens que demonstram melhor desempenho parasitário em laboratório. Em razão da falta de um marcador, é difícil avaliar se uma espécie de Trichogramma encontrada em uma determinada lavoura foi liberada pelo agricultor ou já estava presente nela e verificar se uma linhagem que apresenta um desempenho ruim em laboratório pode reverter esse quadro em campo, ou até mesmo definir o raio de ação do parasitoide, exemplificou Aloisio. “Por meio dessa técnica de marcação é possível realizar diversos experimentos para responder a essas e outras questões”, avaliou. Extraído de: Agência FAPESP – Divulgando a cultura científica, fev./2016.

(ENTRE PARÊNTESIS)

Pais & filhos Os senhores André, Bruno, Carlos e Dante são vizinhos e bons amigos. Dois deles são irmãos. Cada um tem um filho: Ênio, Fábio, Glória e Hélio. Uma das crianças é um bebê de poucos meses, e as outras três, bem mais velhas, têm mais ou menos a mesma idade. Você deve descobrir quem é pai de quem, sabendo mais o seguinte: a) Fábio é o melhor aluno da classe. b) Ênio não é primo da Glória. c) O sr. Dante é padrinho do filho do sr. Carlos. d) Quando vai para o serviço, o sr. Bruno costuma levar sua sobrinha à escola. e) Outro que vai à escola de carona é Hélio, que aproveita o carro do sr. André, quando este leva seu filho.

RESPOSTA 1) Glória não é filha nem de Carlos, nem de André, pois ambos têm filhos (c e e). Ela também não é filha de Bruno, pois é sua sobrinha (d). Logo, Glória é   filha de Dante. 2) Glória, Hélio e Fábio vão à escola (a, d, e); logo, o bebê só pode ser Ênio. Mas Ênio não é filho de Dante (pai de Glória), nem de Bruno (d e b), nem de   André (cujo filho vai à escola). Logo, Ênio é filho de Carlos. 3) Hélio pega carona com André quando este vai levar o filho à escola. Logo, Hélio é filho de Bruno. 4) Fábio é filho de André.


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ESPECIAL

Universidades no exterior Colégio Etapa promove evento com instituições japonesas e oferece suporte aos alunos que desejam estudar fora do país.

N

o último dia 11 de março, um grupo de oito universidades japonesas realizou a feira Study in Japan¸ sediada no Colégio Etapa, para incentivar alunos brasileiros a estudarem no Japão. O evento também foi realizado na Universidade de São Paulo (USP) e Universidade de Brasília (UnB). O grupo é formado pelas universidades Hokkaido University, The University of Tokyo, Shibaura Institute of Technology, Yokohama National University, The University of Electro-Communications, Nanzan University, Ritsumeikan Asia Pacific University e University of Tsukuba, além da Japan Student Services Organization (Jasso), instituição associada ao Ministério de Educação do Japão que oferece apoio aos estudantes estrangeiros. Para re­ceber alunos que não falam japonês foram lançados cursos de bacharelado, mestrado e doutorado ministrados em inglês. Foram apresentados os programas e benefícios de ingressar nas universidades japonesas a pais e alunos do Ensino Médio. Com eventos como esse, o Setor Internacional do Etapa disponibiliza as informações e suporte necessários para ajudar os estudantes interessados. Desde a primeira aprovação no Massachusetts Institute of Technology (MIT), em 1999, todos os anos os alunos do Etapa têm sido aprovados regularmente em instituições dos Estados Unidos, Reino Unido, Portugal, Canadá, França, Japão e outros países.

AGENDA CULTURAL

Jornal do Colégio

São Paulo – Clube de Cinema (quintas, das 19h às 21h, sala 65) 07.04 – O bebê de Rosemary (Roman Polanski: 1968) 14.04 – Tese sobre um homicídio (Hernán Goldfrid: 2013) São Paulo – Clube de Debate (mensal, das 19h às 21h50min, sala 87) 11.04 – Educação: revolução ou reprodução social? São Paulo – Clube do Livro (quinta, das 19h às 21h, sala 65) 23.06 – Macbeth (William Shakespeare) Valinhos – Clube de Cinema (sextas, das 14h05min às 16h05min, sala 209) 01.04 – Que horas ela volta? (Anna Muylaert: 2015) 08.04 – Tomboy (Céline Sciamma: 2012) Valinhos – Clube de Debate (mensal, das 14h05min às 15h45min, sala 214) 14.04 – Educação: revolução ou reprodução social?

Jornal do Colégio ETAPA, editado por Etapa Ensino e Cultura REDAÇÃO: Rua Vergueiro, 1 987 – CEP 04101-000 – Paraíso – São Paulo – SP JORNALISTA RESPONSÁVEL: Egle M. Gallian – M.T. 15343


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