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Jornal do Colégio PRIMEIRA QUINZENA DE ABRIL DE 2014 – NÚMERO 569
ENTREVISTA
Muitos estágios, muitas oportunidades, um amplo campo de trabalho na carreira de Farmácia. Nathalia Inouye entrou na Farmácia-Bioquímica da USP em 2008. Desde o 1º ano, sempre fez estágios, procurando desenvolver uma visão geral do setor e fortalecer o lado profissional. Após completar o curso pretende fazer MBA em Administração, com foco em gestão de pessoas. Sua entrevista mostra o amplo campo que se abre para o profissional bem preparado. Uma carreira que ela escolheu pelo interesse na saúde, no bem-estar das pessoas e nas oportunidades profissionais.
Nathalia Inouye
JC – Como foi a escolha de Farmácia-Bioquímica como carreira? Nathalia – Eu descobri que gostava muito de Química e Biologia no 3º ano do colegial, quando comecei a revisar todas as matérias. Em uma feira de profissões do Colégio eu pude conversar com vários profissionais de diferentes áreas. Acabei gostando de Farmácia por ser um curso bem amplo e com boas oportunidades de carreira. No 3º ano, com a aproximação dos vestibulares, você mudou alguma coisa na sua forma de estudar? Além das matérias dadas em aula, eu procurava revisar todas as apostilas desde o 1º ano, principalmente em Química e Física. Foquei também em Humanas, em que ainda não estava firme, e procurei estudar bastante História. Além da Fuvest, você prestou quais vestibulares? Unifesp e USP, para Farmácia, e Unicamp, para Engenharia de Alimentos. Qual era sua primeira opção? Minha prioridade sempre foi Farmácia na USP. Como foi a adaptação na Farmácia? Na faculdade foi um pouco diferente porque lá não é tudo mastigadinho; você tem de correr atrás, procurar em livros e
ENTREVISTA
Carreira – Farmácia
Qual era seu ritmo com o período integral? Das 8 h da manhã até às 5 h da tarde. Chegava em casa, tinha de estudar. Qual é o período básico do curso de Farmácia? Os primeiros anos são bem básicos. O 1º ano é muito focado nas áreas de Exatas, com Física e Química. O 2º ano também é básico. Você tem a continuação das Químicas – Química Orgânica, Química Inorgânica –, além de ver Anatomia e Biologia Molecular. E como segue o curso? No 3º ano estão as matérias mais focadas na indústria, por exemplo Física Industrial, Obtenção Industrial dos Fármacos. Os últimos anos são a parte mais interessante, focada em Farmacologia, Fisiopatologia e Química Farmacêutica, que são matérias integradas. É uma matéria única. Tem três módulos: integrado 1, integrado 2 e integrado 3. Em Fisiopatologia nós aprendemos as doenças em si, tudo que envolve a doença. Química Farmacêutica é uma área mais focada nos medicamentos, uma visão mais química do fármaco. E na Farmacologia você aprende os mecanismos de ação dos me-
ENTRE PARÊNTESIS
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CONTO
O viúvo – Artur Azevedo
outros materiais. Realmente saber estudar, se organizar bem porque a carga horária é muito mais pesada, principalmente no integral. Mas ao longo do tempo você acaba se adaptando.
Quem é quem?
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Presente de grego
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ESPECIAL
SOBRE AS PALAVRAS
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Pesquisadores brasileiros desenvolvem modelo sobre a origem da água na Terra
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Onde tudo é possível
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dicamentos, como eles agem. Nos últimos anos aproveitei muito mais a faculdade – você dá mais importância naquilo que aprende, porque irá aplicar aquilo no seu dia a dia no trabalho.
Durante o curso você chegou a ter alguma dúvida sobre a escolha da carreira? Não. Sempre quis Farmácia, mesmo no 1º ano, quando as matérias são muito básicas, tenha ficado um pouco decepcionada. Você chegou a desenvolver outras atividades junto com o curso? Desde o 1º ano eu procurei fazer estágios e sempre me preocupei em conhecer outras áreas. Fale de seus estágios... No 1º e no 2º ano eu atuei em duas farmácias de manipulação, porque eu não tinha muito tempo. Nessas farmácias os horários são um pouco mais flexíveis. A primeira foi a Vitálica, onde eu manipulava cápsulas fitoterápicas e alguns cosméticos. Estagiei nas férias, em julho de 2008. A segunda farmácia de manipulação foi a Farmédica. Nessa eu estagiei nas janelas do 2º ano, de agosto de 2009 até março de 2010. Era responsável pelo controle de qualidade das matérias-primas. Realizava testes para ver se estava tudo em conformidade. E depois, o que você fez? No 3º ano tive minha primeira experiência em indústria, estagiei na Eurofarma. Lá foi estágio mesmo, por isso eu tive de passar para o período da noite na faculdade. Fiquei nesse estágio de setembro de 2010 até agosto de 2011. O que você fazia na Eurofarma? Fui responsável pelo controle microbiológico de qualidade, com testes investigativos de contaminação. Também dava treinamento aos funcionários de boas práticas de fabricação, para evitar qualquer contaminação e garantir a qualidade dos medicamentos. Basicamente, foi uma continuação do que tinha feito na Farmédica? Era controle de qualidade também? Mas era em indústria, diferente. Aprendi toda a cadeia produtiva dos medicamentos, como funciona a área de garantia de qualidade, validação na indústria. Foi bem interessante essa experiência. Você estagiou em mais algum local? De setembro de 2011 a maio de 2013, do 4º até o 6º ano, estagiei na CSL Bering, onde fui responsável pela área de assuntos regulatórios. Os estagiários podem ser responsáveis por determinada área? Sim. Na CSL Bering a área de assuntos regulatórios envolve a legislação da indústria farmacêutica. Você precisa assegurar que a companhia está em conformidade com todas as leis da Vigilância Sanitária. Inclui registro de produtos, elabo-
ração de bulas, rotulagens, tudo em conformidade com as leis. E também avaliação de material promocional, porque a propaganda de remédios é bem restrita. Você não pode induzir o uso de medicamentos aos usuários. Todo o material feito pelo marketing é avaliado pela área de assuntos regulatórios.
Qual a área oficial que regula a parte promocional? A Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária]. E atualmente, onde você trabalha? Desde junho de 2013 eu trabalho no Hospital Albert Einstein. Em que área? Farmácia Clínica e Farmacovigilância. Estou atuando na área de serviços, informações e segurança de medicamentos. Na prática, sou responsável pelo acompanhamento e divulgação dos alertas e informes da Anvisa e de órgãos regulatórios internacionais. Na área de Farmacovigilância sou responsável por coletar reações adversas que são notificadas no hospital e fazer um estudo quanto à causalidade, o medicamento suspeito e uma possível reação adversa que o paciente apresentou. A Farmacovigilância trata do desempenho dos medicamentos após a comercialização. A gente é responsável pela detecção e avaliação das reações adversas que o medicamento apresenta, para garantir a segurança do paciente. Nesse setor vocês trabalham com algum médico? É a parte de Farmácia, mas qualquer pessoa pode notificar – enfermeiros, médicos, fisioterapeutas, etc. Realizamos o estudo e notificamos a Anvisa. Como você vê o papel dos estágios na sua formação? A Farmácia é uma área muito ampla e meu objetivo sempre foi obter uma visão geral de todo o setor farmacêutico para ser uma boa profissional. Adquirir realmente conhecimento, maturidade. É um diferencial para a carreira. A faculdade prepara diretamente para o trabalho? Obviamente a faculdade dá uma base teórica muito boa e é realmente importante você ter esse conhecimento. Mas na prática as situações do dia a dia são diferentes, sim. Você aprende a lidar com pessoas, conhecer o mundo corporativo e aprende com as dificuldades. O curso integral de Farmácia-Bioquímica é em cinco anos. Você está no 7º ano. Por que estendeu seu curso? Uma das respostas é que no 3º ano passei para o turno da noite, que é em 12 semestres. Já diminui a diferença para um ano. E agora, neste sétimo ano, só sobrou o TCC mesmo. Na verdade, estou há sete anos devido à diluição que fiz do curso para ter oportunidade de atuar em vários estágios em que eu tinha interesse. Com tantos estágios feitos você deve ter mais experiência profissional que muita gente já formada... Não me arrependo nem um pouco. Acho que enquanto você está na faculdade tem de focar em adquirir experiência e não
ENTREVISTA
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dinheiro. Obviamente, agora eu quero crescer, quero ser efetivada e tudo mais. Mas enquanto você está na faculdade o importante mesmo é adquirir conhecimento, experiência, uma visão ampla da área farmacêutica para ser uma boa profissional.
para os Estados Unidos no 1º ano, fiquei três meses nas férias atuando como recepcionista de estação de esqui. Também procurei um segundo emprego em um restaurante onde eu atuava como hostess, que é recepção de pessoas, levar para as mesas.
Esse interesse seu pelos estágios é comum na faculdade? Nos primeiros anos nem todos têm tanto interesse em estágio como eu tive. Muitos preferem focar na faculdade, fazer mais matérias nos primeiros anos e depois ficar mais sossegado para o estágio.
Você ficou onde? Novo México, em uma estação de esqui em Red River.
E como se conseguem esses estágios? Farmácia é realmente uma área que tem muita oportunidade de estágio, você sempre vai ter vaga disponível, oportunidade de conhecer as áreas que você quer. Mas é importante ter uma faculdade boa. Inglês é essencial, experiências extracurriculares também. Você está no último ano. Qual é a sua maior preocupação agora? É terminar o TCC, focar realmente na minha carreira através de todo o conhecimento que eu tive em estágios e procurar uma vaga de efetiva mesmo. Qual é o seu tema? Meu TCC é sobre Estratégias de Prevenção da Nefropatia Induzida por Contraste – contrastes são produtos usados em exames como tomografia e radiografia. Os contrastes podem produzir efeitos sérios. Sua pesquisa começou agora? Agora estou começando a pesquisar melhor. No primeiro semestre é o projeto e até o final do ano eu vou montando o TCC. Quais são as áreas de atuação de uma farmacêutica-bioquímica? É uma área muito ampla, você pode atuar tanto em drogarias, farmácias de manipulação. Na área de indústria tem assuntos regulatórios, Farmacovigilância, Pesquisa e Desenvolvimento, Pesquisa Clínica, Garantia de Qualidade, Controle de Qualidade, Vendas, Marketing. Dentro do hospital, Farmácia Clínica e Farmacovigilância. Como está o mercado de trabalho? O mercado de trabalho está bom, mas você tem de ter um currículo bom. Faculdade conta muito, idiomas também e seus estágios, suas experiências. Você fez curso de idiomas? Estudei inglês desde que eu tinha 11 anos. Parei no ano do vestibular e terminei no 1º ano de faculdade na Cultura Inglesa. E tenho uma experiência de intercâmbio também. Fui
Jornal do Colégio
Em termos de currículo, o que destaca uma pessoa? Com certeza a resiliência, a organização, competência, determinação. É um pouco clichê, mas eles olham isso, sua capacidade de lidar com outras pessoas. Você acha que está pronta para encarar o mercado? Com certeza. Estou bem confiante. A faculdade me proporcionou toda a base teórica, muito conhecimento. E os estágios, além do conhecimento, também uma visão corporativa, lidar com as pessoas e outras experiências que complementam a bagagem da faculdade. Em que área você quer trabalhar? Eu quero focar na área de Farmacovigilância. E tenho preferência por indústria farmacêutica, porque tem mais vagas, tem mais oportunidades de crescimento e normalmente a remuneração é melhor. Como você se imagina daqui a 10 anos? Já pretendo estar em nível gerencial em uma indústria farmacêutica e com bastante conhecimento. Pretendo fazer uma pós-graduação em 2015 ou 2016. Pós-graduação em quê? MBA na parte de Administração, gestão de pessoas. Isso é essencial para quem quer ter nível gerencial. Qual é a sua maior motivação hoje na Farmácia? Realmente focar na saúde e no bem-estar das pessoas. Sempre foi meu objetivo. Quais recordações você tem da época do Etapa? Principalmente dos professores e dos colegas mesmo. Ainda tenho bastante contato com os colegas. São amigos que vou levar para sempre comigo. O que você diria sobre a sua carreira a quem vai prestar vestibular? Para procurar experiências com profissionais da área, ver se realmente tem perfil, se gosta das matérias de Química e Biologia, porque elas vão acompanhá-lo no curso e na sua carreira inteira. O que mais você quer dizer aos nossos alunos? Tenham tranquilidade, foquem nos pontos fracos e estudem firme que tudo dá certo no final.
Jornal do Colégio ETAPA, editado por Etapa Ensino e Cultura REDAÇÃO: Rua Vergueiro, 1 987 – CEP 04101-000 – Paraíso – São Paulo – SP JORNALISTA RESPONSÁVEL: Egle M. Gallian – M.T. 15343
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CONTO
O viúvo Artur Azevedo a véspera de partir para a Europa, o doutor Claudino, sem prever o fúnebre espetáculo de que ia ser testemunha, foi despedir-se do seu velho camarada Tertuliano. Ao aproximar-se da casa, ouviu berreiro de crianças e mulheres, e a voz de Tertuliano, que dominava de vez em quando o alarido geral, soltando, num tom estrídulo e angustioso, esta palavra: “Xandoca.” O doutor Claudino apressou o passo, e entrou muito aflito em casa do amigo. Havia, efetivamente, motivo para toda aquela manifestação de desespero. Tertuliano acabava de enviuvar. Havia meia hora que dona Xandoca, vítima de uma febre puerperal, fechara os olhos para nunca mais abri-los. O corpo, vestido de seda preta, as mãos cruzadas sobre o peito, estava colocado num canapé, na sala de visitas. À cabeceira, sobre uma pequena mesa coberta por uma toalha de rendas, duas velas de cera substituíam, aos dois lados de um crucifixo, o bom e o mau ladrão. Tertuliano, abraçado ao cadáver, soluçava convulsivamente, e todo o seu corpo tremia como tocado por uma pilha elétrica. Os filhos, quatro crianças, a mais velha das quais teria oito anos, rodeavam-no aos gritos. Na sala havia um contínuo fluxo e refluxo de gente que entrava e saía, pessoas da vizinhança, chorando muito, e indivíduos que, passando na rua, ouviam gritar e entravam por mera curiosidade. O doutor Claudino estava impressionadíssimo. Caíra de sopetão no meio daquele espetáculo comovedor, e contemplava atônito o cadáver da pobre senhora que, havia quatro dias, encontrara na rua da Carioca, muito alegre, levando um filho pela mão e outro no ventre, arrastando vaidosa a sua maternidade feliz. Tertuliano, mal que o viu, atirou-se-lhe nos braços, inundando-lhe de lágrimas a gola do casaco; o doutor Claudino estava atordoado, cego, com os vidros do pince-nez embaciados pelo pranto, que tardou, mas veio discreta, reservadamente, como um pranto que não era da família. — Isto foi uma surpresa... uma dolorosa surpresa para mim, conseguiu dizer com a voz embargada pela comoção. Parto amanhã para a Europa, no Niger... vinha despedir-me de ti... e dela... de dona Xandoca e... vejo que... que... que... E o doutor Claudino fez uma careta medonha para não soluçar. — Dispõe de mim, meu velho; estou às tuas ordens, bem sabes. — Obrigado, disse Tertuliano numa dessas intermitências que se notam nos maiores desabafos; o Rodrigo, aquele meu primo empregado no foro, já foi tratar do enterro, que é amanhã às dez horas.
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Fazendo grandes esforços para reprimir a explosão das lágrimas, o viúvo contou ao doutor Claudino todos os incidentes da rápida moléstia e da morte de dona Xandoca. — Uma coisa inexplicável! Nunca a pobre criatura teve um parto tão feliz... A parteira não esperou cinco minutos... Uma criança gorda, bonita... Está lá em cima, no sótão... hás de vê-la. De repente, uma pontinha de febre que foi aumentando, aumentando... até vir o delírio... Mandei chamar o médico... Quando o médico chegou já ela agoniza... a... va!... E Tertuliano, prorrompendo em soluços, abraçou-se de novo ao doutor Claudino. No dia seguinte, a cena foi dolorosíssima. Antes de se fechar o caixão, Tertuliano quis que os filhos beijassem o cadáver, medonhamente intumescido e decomposto. Ninguém reconheceria dona Xandoca, tão simpática, tão graciosa, naquele montão informe de carne pútrida. Fecharam o caixão, mas Tertuliano agarrou-se a ele e não o queria deixar sair, gritando: — Não consinto! não quero que a levem daqui! — Foi preciso arrancá-lo à força e empurrá-lo para longe. Ele caiu e começou a escabujar no chão, soltando grandes gritos nervosos. Três senhoras caíram também com espetaculosos ataques. As crianças berravam. Choravam todos. De volta do enterro, o doutor Claudino, conquanto muito atarefado com a viagem, não quis deixar de fazer uma última visita a Tertuliano. Encontrou-o num estado lastimoso, sentado numa cadeira da sala de jantar, sem dar acordo de si, rodeado pelos filhos, o olhar fixo no mísero recém-nascido, que a um canto da casa mamava sofregamente numa preta gorda. — Tertuliano, adeus. Daqui a meia hora devo estar embarcado. Crê que, se pudesse, adiava a viagem para fazer-te companhia... Adeus! O viúvo lançou-lhe um olhar vago, um olhar que nada exprimia; sacudiu molemente a mão, e murmurou: — Adeus! Às sete horas da noite o doutor Claudino, sentado na coberta do Niger, contemplando as ondas esplendidamente iluminadas pelo luar, pensava naquele olhar vago de Tertuliano, naquele adeus terrível, e pedia aos céus que o seu velho camarada não houvesse enlouquecido. Meses depois, a exposição de Paris atordoava-o; mas de vez em quando, lá mesmo, na Galeria das Máquinas, no Palácio das Artes, ou na Torre Eiffel, voltava-lhe ao espírito a lembrança daquela cena desoladora do viúvo rodeado pelos orfãozinhos, e repercutia-lhe dentro d’alma o som daquele adeus pungente e indefinível. Interessava-se muito por Tertuliano. Escreveu-lhe um dia, mas não obteve resposta. Pobre rapaz! viveria ainda? a sua razão teria resistido àquele embate violento?
CONTO Depois de um ano e quatro meses de ausência, o doutor Claudino voltou da Europa, e sua primeira visita foi para Tertuliano, que morava ainda na mesma casa. Mandaram-no entrar para a sala de jantar. Tertuliano estava sentado numa cadeira, sem dar acordo de si, rodeado pelos filhos, o olhar fixo no mais pequenito, que estava muito esperto, brincando no colo da preta gorda. — Tertuliano? balbuciou o doutor Claudino. O viúvo lançou-lhe um olhar vago, um olhar que nada exprimia; sacudiu molemente a mão, e murmurou: — Adeus. Depois, dir-se-ia que se fizera subitamente a luz no seu espírito embrutecido. Ele ergueu-se de um salto, gritando:
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— Claudino — e atirou-se nos braços do velho camarada, exclamando entre lágrimas: — Ah! meu amigo! perdi minha mulher!... — Sim, já sei, mas já tinhas tempo de estar mais consolado... Que diabo! Sê homem! Já lá se vão quatorze meses!... — Como quatorze meses? seis dias... — Ora essa! pois não te lembras que acompanhei o enterro de dona Xandoca? — Ah! tu falas da Xandoca... mas há três meses casei-me com outra... a filha do Major Seabra, há seis dias estou viú... ú... vo! E Tertuliano, prorrompendo em soluços, abraçou de novo ao doutor Claudino. Extraído de: www.dominiopublico.gov.br
(ENTRE PARÊNTESIS)
Quem é quem? Amélia, que está sentada de costas para Maria, está à esquerda de Rosa. Helena não está tomando chá. Maria está à esquerda da moça que está de costas para Rosa. Pergunta-se: a) Quem está sentada na mesa indicada pelo número 1? b) Qual moça ainda não está tomando chá? c) Quem se senta na mesa número 3? d) O garçom está na direção de qual das moças? e) Qual moça não foi citada nos itens acima?
RESPOSTA Amélia está na mesa 1 ou na mesa 4. Se Amélia está na mesa 1, então Maria está na mesa 2 e Rosa, na mesa 3. Neste caso, Helena está na mesa 4, o que é absurdo, pois sabe-se que Helena não está tomando chá. Logo, Amélia está na mesa 4. Assim, Maria está na mesa 3; Rosa, na mesa 2 e Helena, na mesa 1. a) Helena b) Rosa c) Maria d) Rosa e) Amélia
SOBRE AS PALAVRAS
Presente de grego A expressão, que significa dádiva ou oferta que traz prejuízo ou aborrecimento a quem a recebe, surgiu em decorrência da Guerra de Troia. A lendária história é narrada no livro Ilíada, do poeta Homero, que cobre o final de uma disputa de 10 anos (1250 a.C.-1240 a.C.) entre Grécia e Troia, cujo principal estopim foi o rapto de Helena, mulher do rei de Esparta, Menelau, por Páris, filho do rei troiano Príamo. Para resgatar sua esposa, o monarca pede ajuda a seu irmão Agamenon, rei de Micenas. Ele envia um enorme exército à Ásia Menor, onde montam um cerco ao redor das muralhas da cidade inimiga. O conflito só termina graças a um plano de Ulisses, rei da ilha de Ítaca. Ele ordena que as tropas finjam deixar o local da batalha e deixem à porta dos muros fortificados um imenso cavalo de madeira. Os troianos acreditam se tratar de um presente e, felizes, o colocam para dentro. À noite, os soldados gregos que estavam escondidos dentro do cavalo saem e abrem as portas da fortaleza para a invasão. Troia é arrasada; seus líderes, mortos; e Helena, levada de volta a seu país.
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ARTIGO
Pesquisadores brasileiros desenvolvem modelo sobre a origem da água na Terra Elton Alisson
uma fração tão significativa de água para o planeta como esquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Guaratinguetá, em colaborase estimava, explicou Winter. ção com colegas da Universidade Tecnológica Fe“Pelas simulações, a contribuição dos cometas no deral do Paraná (UTFPR) e do Instituto de Astrobiologia fornecimento de água para a Terra seria de, no máximo, da agência espacial norte-americana (Nasa), desenvolve30%”, disse o pesquisador. “Mais do que isso é pouco ram um modelo mais preciso para determinar a origem da provável”, afirmou Winter. água e da vida na Terra. No início dos anos 2000, segundo o pesquisador, foram publicados estudos internacionais que sugeriram que, Realizado no âmbito do projeto de pesquisa “Dialém dos cometas, outros objetos planetesimais (que nâmica orbital de pequenos objetos”, apoiado pela deram origem aos planetas), como asteroides carbonáFAPESP, o modelo foi descrito em um artigo publicado no ceos – o tipo mais abundante de asteroides no Sistema The Astrophysical Journal, da Sociedade Americana de Solar –, também poderiam ter água e fornecê-la para a Terra Astronomia, e apresentado nesta segunda-feira (24/02) por meio da interação com planetas e embriões planetários no UK-Brazil-Chile Frontiers of Science. durante a formação do Sistema Solar. Organizado pela Royal Society, do ReiA hipótese foi confirmada nos últimos no Unido, em conjunto com a FAPESP anos por observações de asteroides feie as Academias Brasileira e Chilena de tas a partir da Terra e de meteoritos (peCiências, o evento ocorre até quarta-feidaços de asteroides) que entraram na ra (26/02) em uma propriedade da Royal atmosfera terrestre. Society em Chicheley, vilarejo do condaOutras possíveis fontes de água da do de Buckinghamshire, no sul da InglaTerra, também propostas nos últimos terra. E tem como objetivo fomentar a colaboração científica e interdisciplinar Resultados do estudo foram apresen- anos, são grãos de silicato (poeira) da no encontro científico UK-Brazilnebulosa solar (nuvem de gás e poeientre jovens pesquisadores brasileiros, tados -Chile Frontiers of Science, realizado no chilenos e do Reino Unido em áreas de Reino Unido pela Royal Society, FAPESP ra do cosmos relacionada diretamente e pelas academias Brasileira e Chilena com a origem do Sistema Solar), que enfronteira do conhecimento. de Ciências (Nasa). capsularam moléculas de água durante “Desenvolvemos um modelo em que o estágio inicial de formação do Sistema Solar. analisamos todas as possíveis fontes espaciais de água Essa “nova” fonte, no entanto, ainda não tinha sido vae estipulamos qual seria a provável contribuição de cada lidada e incluída nos modelos de distribuição de água por uma delas na quantidade total de água existente hoje na meio de corpos celestes primordiais, como os asteroides Terra”, disse à Agência FAPESP Othon Cabo Winter, pese os cometas. quisador do Grupo de Dinâmica Orbital & Planetologia da “Incluímos esses grãos de silicato da nebulosa solar, Unesp de Guaratinguetá e coordenador do estudo. com os cometas e asteroides, no modelo que desenvolDe acordo com Winter, até recentemente se acreditava vemos e avaliamos qual a contribuição de cada uma desque os cometas, ao colidir com a Terra durante a formação sas fontes para a quantidade de água que chegou à Terra”, do Sistema Solar, haviam trazido a maior parte da água detalhou Winter. existente hoje no planeta. Simulações computacionais da quantidade de água que Simulações computacionais esses objetos celestes compostos de gelo podem ter fornecido para a Terra – baseadas em medições da quantidade Segundo Winter, a água de cada uma dessas possíveis de deutério (o hidrogênio mais pesado) da água deles – refontes para a Terra possui uma quantidade diferente de velaram, no entanto, que os cometas não foram as maiodeutério – que pode ser utilizado como um indicador de res fontes. E que eles não poderiam ter contribuído com origem da água.
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ARTIGO O pesquisador e seus colaboradores conseguiram estimar a contribuição de cada um desses objetos celestes com base nesse “certificado de origem” da água encontrada na Terra, por meio de simulações computacionais. Além disso, conseguiram determinar qual o volume de água que cada uma dessas fontes forneceu e em que momento fizeram isso durante a formação do planeta terrestre, uma vez que a contribuição de cada uma delas foi feita em períodos diferentes. “A maior parte veio dos asteroides, que deram uma contribuição de mais de 50%. Uma pequena parcela veio da nebulosa solar, com 20% de participação, e os 30% restantes dos cometas”, detalhou Winter. Os resultados das simulações feitas pelos pesquisadores também indicaram que grandes planetas, com grandes quantidades de água, como a Terra, podem ter sido formados entre 0,5 e 1,5 unidade astronômica – entre 75 milhões e 225 milhões de quilômetros de distância do Sol. “Essa faixa de distância do Sol, que nós chamamos de ‘zona habitável’, permite ter água no estado líquido”, disse Winter. “Fora dessa região é muito frio e a água ficaria congelada. Já mais próximo do Sol é muito quente e a água seria vaporizada”, explicou. As simulações também sugeriram que o modelo desenvolvido parece mais eficiente para determinar a quantidade e o momento da entrega de água para a Terra por esses corpos planetários do que modelos que indicam que a água foi transferida meramente por meio de meras colisões entre corpos celestes em início de formação (protoplanetários), afirmou Winter. “As informações parciais da possível contribuição de cada uma dessas fontes já existiam. Mas, até então, não tinham sido reunidas em um único modelo e não havia sido determinado quando e quanto contribuíram para a formação da massa de água na Terra”, disse.
Importância de corpos menores Winter destacou em sua palestra na Inglaterra a importância da exploração de corpos menores, como asteroides e cometas, pelas missões espaciais. A última missão espacial para a exploração de asteroides, realizada pela agência espacial japonesa (Jaxa, na sigla em inglês) com a sonda Hayabusa para tirar amostras do asteroide Itokawa, resultou em diversos artigos em revistas como a Science e a Nature. O país oriental planeja lançar este ano a sonda espacial Hayabusa-2, para extrair amostras do subsolo do asteroide “1999JU3” em 2018 e trazê-las para a Terra em 2020. Por sua vez a agência espacial europeia (ESA) mantém no espaço a sonda Rosetta, que deve ser o primeiro objeto a pousar em um cometa, o 67P/Churyumov-
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-Gerasimenko. E a Nasa também pretende realizar uma missão para captura de asteroide próximo da Terra. Já o Brasil pretende desenvolver e lançar em 2017 a sonda espacial Áster, para orbitar em 2019 um asteroide triplo, o 2001-SN263, formado por um objeto central, com 2,8 quilômetros de diâmetro, e outros dois menores com 1,1 quilômetro e 400 metros de diâmetro. “Nunca foi realizada uma missão para um sistema de asteroides desse tipo”, disse Winter. “Todas as missões foram feitas para observar um único asteroide”, afirmou. Ao explorar asteroides e cometas, em missões como essas, é possível explicar melhor as condições de formação da Terra e a aparição da vida no planeta, explicou o pesquisador. “Como são corpos celestes primordiais, os cometas e os asteroides preservam informações sobre como era o Sistema Solar durante seu estágio de formação”, disse Winter. Um dos desafios para disponibilizar esses preciosos materiais geológicos para estudos científicos, contudo, é não apenas coletar, mas realizar uma curadoria cuidadosa das amostras, assegurando a gravação e o arquivamento de diversas informações relacionados a cada uma das espécimes, tais como as circunstâncias nas quais foram coletadas e os resultados de análises, destacou Caroline Smith, curadora da coleção de meteoritos do Museu de História Natural de Londres, na palestra que proferiu após Winter. De acordo com Smith, os meteoritos começaram a ser estudados cientificamente no final do século XVIII por cientistas como o físico alemão Ernest Chladni (1756-1827). O Museu Britânico começou a sua coleção de meteoritos 50 anos após ser fundado, em 1753, contou Smith. Desde então, com as amostras colhidas por missões realizadas por agências espaciais de diversos países, as coleções de instituições, como a do Museu de História Natural de Londres, têm se expandido muito rapidamente. “Em 1961 havia, aproximadamente, 2 100 meteoritos conhecidos, dos quais 40% possuíam o registro do momento e do lugar onde caíram”, disse Smith. “Em contrapartida, hoje, há 48 mil meteoritos conhecidos e apenas 2,4% têm o registro da queda”, contou Smith. O número cada vez maior de amostras de meteoritos coletadas e os estudos científicos realizados a partir deles têm imposto grandes desafios às equipes de curadoria desses objetos dos museus, avaliou a pesquisadora. “Alguns dos nossos atuais dilemas é manter o acesso à coleção e, ao mesmo tempo, preservar os meteoritos para as futuras gerações”, afirmou. Extraído de: Agência FAPESP – Divulgando a cultura científica, fev./2014.
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ESPECIAL
Onde tudo é possível Clube de Cinema e Clube do Livro estimulam os alunos a irem além do superficial ssistir a um filme ou ler um livro é como ser transportado para uma outra realidade – mesmo que fictícia. Pessoas interessantes, aventuras incríveis, lugares e épocas antes desconhecidos. Tudo é possível. Mas existe muito mais em uma obra do que apenas aquela história em primeiro plano. Por trás do enredo há toda a visão do diretor ou do escritor, sua forma própria de ver e compreender o que está à sua volta. E isso é transmitido em suas produções. O Clube de Cinema e o Clube do Livro que o Colégio Etapa oferece aos seus alunos do Ensino Médio têm o intuito de estimulá-los a irem além do superficial. A ideia é que os jovens desenvolvam a capacidade de observação e que consigam apreender o conteúdo de forma mais consciente, aprofundada e crítica. A maneira como o diretor ou escritor conta a história, as suas escolhas e a linguagem utilizada são alguns elementos que eles passam a notar e a compreender. Tudo isso de maneira bastante independente. Afinal, o papel do professor nos clubes é apenas levantar as questões, provocando a discussão – e não respondê-las. São os próprios participantes que levam a conversa adiante, expondo as suas impressões. Por isso, é essencial que eles já tenham assistido ao filme ou lido a obra. Os clubes, aliás, são uma ótima oportunidade de conhecer o trabalho de autores e diretores que têm muitas coisas interessantes para expressar. Os estilos e gêneros são vários: vão desde os clássicos até os blockbusters e best-sellers mais atuais. Portanto, fique atento ao cronograma do semestre*, escolha a alternativa que mais lhe atrai e participe! Não é necessário fazer inscrição, apenas assista ao filme ou leia a obra e compareça!
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* Cronograma disponível na sua Área Exclusiva.
AGENDA CULTURAL → São Paulo – Clube de Cinema (quintas, das 19h10min às 21h35min, sala 65) 10.04 – Janela indiscreta (Alfred Hitchcock: 1954) 17.04 – Vanilla sky (Cameron Crowe: 2001) e Preso na escuridão (Alejandro Amenábar: 1997) → Valinhos – Clube de Cinema (sextas, das 14h05min às 15h45min) 04.04 – Cidade dos sonhos (David Lynch: 2001) 11.04 – Edukators (Hans Weingartner: 2003)