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Jornal do Colégio PRIMEIRA QUINZENA DE JUNHO DE 2014 – NÚMERO 573
ENTREVISTA
“Diferentes perfis podem se dar bem na Engenharia. Desde o cara que é muito ligado até o que é muito quieto.” Filipe Zamboni Tavares entrou em 2010 na Poli e hoje cursa o 5º ano de Engenharia Elétrica, com ênfase em Energia e Automação. Ele apresenta seu relato do que aprendeu na USP e em seu estágio, e do campo de atuação profissional. Pretende fazer pós-graduação em Administração e mais tarde criar a própria empresa.
Filipe Zamboni Tavares
JC – Além da Fuvest, você prestou quais vestibulares? Filipe – Prestei Unesp, Unicamp e UFSCar. Sempre para Engenharia Elétrica. Fui aprovado em todas. Quando escolheu Engenharia Elétrica para sua formação profissional? Minha ideia inicial era estudar Eletrônica. Achava muito legais aqueles chips, circuitos integrados. Na Poli, Sistemas Eletrônicos é uma das quatro áreas que você pode escolher na Engenharia Elétrica. As outras são Automação e Controle, Energia e Automação e Telecomunicações. Escolhi primeiro Sistemas Eletrônicos e depois mudei para Energia e Automação, que é a área mais de subestação, transmissão. Por que mudou para Energia e Automação? Não me identifiquei muito com umas matérias de Sistemas Eletrônicos. Energia e Automação é uma área de que, lá dentro, eu tinha gostado. É fácil mudar de área na Engenharia Elétrica? É mais fácil mudar de área dentro de uma grande área. Mudar para fora é mais complicado. Eu mudei no 2º ano. Escolhi na data certa. Se escolhe errado, você perde um ano mais ou menos. ENTREVISTA Carreira – Engenharia Elétrica
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CONTO Carmela – Antônio de Alcântara Machado
Como foi sua adaptação no colégio? No começo eu não fui muito bem em algumas provas, mas depois que me adaptei foi tranquilo. Como foram seus estudos no 3º ano? No 3º ano eu ficava para as aulas à tarde também. Mas desde o 1º ano eu ficava aqui direto, porque nunca consegui estudar em casa, muita coisa para distrair. Ficava estudando aqui até umas 6 horas. Seguia tudo o que era proposto. Estudava um pouco mais Matemática e Física porque gostava. De vez em quando meu irmão e eu fazíamos treinos de vôlei e futsal à noite. Fui até campeão de futsal num dos anos em que joguei. Você contava com a possibilidade de não entrar na Poli? Sim. Se eu passasse na Unicamp ou UFSCar, iria para uma delas. Se não passasse em nenhuma, faria o cursinho e tentaria de novo.
ARTIGO Estudo identifica padrão de associação entre doenças crônicas em São Paulo
MAS, MÁS, MAIS
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Anorexia
Concertar – Consertar
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ESPECIAL
SOBRE AS PALAVRAS
COLUNA M “Adivinhando” números
Como conheceu o Etapa? Uma amiga de meu pai tinha uma filha que fez Etapa e foi aprovada em boas faculdades. Ela falava muito bem daqui. Foi assim que meu irmão e eu viemos para cá.
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Apoio, inspiração e incentivo
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ENTREVISTA
Como foi seu início na Poli?
O estágio é obrigatório?
Foi tranquilo. Eles são bem receptivos, tem uma semana de integração. Em um mês, dois meses, você já está entrosado com todo mundo.
É obrigatório e são seis meses.
Alguma dificuldade em fazer um curso de período integral? Tranquilo. Como ficava no colégio a tarde inteira, não mudou muito. E lá tem um monte de janelas. Tem um tempo para descansar, tem um dia que você sai mais cedo.
Qual é a importância do estágio? Você aprende muito. A faculdade dá a base para você aprender, mas o que vai fazer realmente você só sabe quando começa a trabalhar.
São quantas horas diárias de estágio?
O que você estudou em cada ano?
Seis horas.
No 1º e no 2º ano é basicamente Matemática, Cálculo e Física. Você não entra em contato com nenhuma parte específica da Engenharia. No segundo semestre você entra um pouco, com Mecânica 1. Aí você tem um pouco mais de contato. Os dois primeiros anos são pesados. Se passar deles, você sobrevive. Tem muita gente ainda fazendo matérias do biênio. Complica a vida.
Neste semestre você só tem aula de manhã?
No 2º ano já entravam matérias de Eletricidade?
Neste último ano do curso, qual é sua maior preocupação?
Sim, mas era Circuitos, parecido com o que vi no colegial. No 2º ano também havia matéria em que você deve montar um projeto e apresentar. Parecido com um mini TCC. O professor dá um tema, não é um negócio muito pesado, é bem básico, mas legal.
Terminar a graduação. Quero me formar este ano.
Havia alguma outra matéria específica no 2º ano?
É individual ou em grupo?
Sistemas Digitais, focada na parte de Eletrônica.
O meu é em dupla.
Quando você começou a ver Programação?
Qual é o tema do seu TCC?
No 1º ano. Todo mundo tem Programação. lsso que falei é só para o pessoal da Elétrica mesmo.
Conversor CC/CC bidirecional. Trata-se de um estudo e implementação prática de um conversor de corrente contínua para corrente contínua bidirecional. Ele serve para adequar níveis de tensão e alimentação de sistemas de corrente contínua com o objetivo de proporcionar a bidirecionalidade do fluxo de potência, seja, por exemplo, de um sistema de geração para carregamento de baterias, como de baterias para sistemas consumidores – sempre em corrente contínua. A ideia do TCC é estudar esse conversor analisando o rendimento e o funcionamento dele principalmente. Essa área do TCC é bem complicada, mas eu gosto bastante. Estou pensando em fazer uma pós-graduação nessa área ou na área em que estou trabalhando. São as duas áreas de que estou gostando bastante, Transmissão de Energia e Eletrônica de Potência.
A partir do 3º ano, o que você estudou? Comecei a ver Sistema de Potência, Transformador, Motor de Indução, Gerador, Sistemas de Distribuição e Eletrônica de Potência. No 3º ano é mais geral, você tem uma base inicial. E, no 4º ano, você vai ver, por exemplo, Máquina 1 e Máquina 2.
Pode-se dizer que no 3º ano você tem uma introdução a assuntos que se aprofundam no 4º e no 5º ano? Exatamente. No 3º ano tem Controle, Laboratórios, Instalações Elétricas, Automação e Motor de Máquinas. O 4º e o 5º ano são bem parecidos e têm Usos de Energia Elétrica, Custos do Uso, Distribuição e Transporte. Tem uma empresa, EDP, Energias de Portugal, que é meio que uma bolsa de energia elétrica. Muita gente que faz Energia e Automação trabalha lá. Energia de risco, coisas assim.
Só de manhã. Eu tenho aula das 7 e meia às 11. Mas eles colocaram muita matéria neste começo do 5º ano, muita coisa para fazer. Tenho dois laboratórios, tenho de entregar relatório quase toda semana, matéria que é só trabalho e tem o TCC junto.
Você já tem TCC neste primeiro semestre? O TCC é nos dois semestres.
Você fez algum trabalho científico durante o curso? Fiz Iniciação Científica.
Você fez estágios durante o curso?
Por iniciativa sua ou foi convidado?
Entrei no início deste ano. É o primeiro estágio que faço. Estou trabalhando na Figener, uma consultoria de energia elétrica. A gente pega projetos de subestação, geração de energia de indústria, começa do zero, faz estudo de cálculo de curto-circuito para ver o que vai acontecer, para ver proteção que é disjuntor, que motor tem de usar, se quero expandir minha rede de distribuição, adicionar subestação para gerar mais energia. É legal essa área.
Minha mesmo. O primeiro professor com quem falei já tinha uma opção de pesquisa. Era meio que programação, dimensionamento de peças de motor, ver o que acontece com o campo magnético, armazenamento de energia. Era mais o comportamento do campo eletromagnético para um supercondutor que armazenava energia. O nome da pesquisa era “Inteligência de enxames em problemas de otimização de equipamentos eletromagnéticos”.
Vocês fazem consultoria para quem? Para empresas: Braskem, ERB [Energias Renovadas do Brasil]. Eles já fizeram consultoria para a Siemens e para a Petrobras também.
Qual era sua parte? Era fazer um programa de utilização.
Especificamente, o que você faz nesse estágio?
Teve alguma bolsa?
Auxilio o pessoal com mais experiência. Eles me ensinam, participei de vários projetos. Já trabalhei na análise de proteção, disjuntor, dimensionamento de painel, estabilidade do sistema.
Sim, ganhei uma bolsa do CNPq. No final tem de apresentar o trabalho em um simpósio, bem simples até. Apresentei em setembro do ano passado.
ENTREVISTA
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Você participou de outras atividades dentro da Poli?
O que você gostaria de fazer daqui a uns 10 anos?
Eu participava da Atlética, jogando vôlei e futsal. Estou no time de futsal até hoje. Entrei no Interbichos e estou até agora. Treino de terça e quinta-feira, e participo dos campeonatos, dos jogos. É bom, o time é unido.
Penso em seguir carreira numa empresa para aprender bastante mesmo, talvez focar numa área dessa empresa. Tenho o pensamento de montar uma empresa, um negócio próprio.
Como você descreve cada ano do curso? O 1º ano é puxado, bem complicado, mas tudo é novidade, oba-oba. O 2º ano é mais leve, você pode aproveitar mais, se quiser. No 3º ano você começa a focar mais na Poli. Foi no 3º ano que comecei a fazer Iniciação Científica – terminei no meio do 4º ano. Você se preocupa mais academicamente. O 4º ano é bom também, tranquilo. O 5° ano, se você estiver trabalhando, é puxadíssimo. Se não trabalhar, é tranquilo.
O engenheiro elétrico, além da área técnica, em quais outras áreas pode trabalhar? Existe aquela área da EDP, que é uma parte mais financeira, muita gente vai para essa área. Muitos amigos trabalham em banco também.
Como você vê seu futuro profissional? Eu pretendo seguir nessa área mais técnica mesmo, de calcular, de administração do sistema mais geral. Gostei bastante. Futuramente penso em fazer também Administração, talvez prestar FEA. Estou pensando ainda.
Como complemento? Administração é sempre bom você ter, nem que seja um MBA. Também queria estudar um pouco no exterior.
Como está o mercado de trabalho?
Há alguma qualidade especial que uma pessoa precisa ter para se dar bem em Engenharia? Diferentes perfis podem se dar bem na Engenharia. Desde o cara que é muito ligado até o que é muito quieto. É muita gente diferente lá, eu diria.
Hoje, com o que tem de bagagem da Poli, você acha que dá para encarar o dia a dia? Na Poli você tem de correr atrás para aprender – e com isso vai aprendendo mais. Passa bastante nervoso, mas aprende a lidar com situações do dia a dia e a correr atrás.
O que você pode dizer a quem vai prestar vestibular este ano? Fazer os simulados é importante. No começo, não tirei mais de 60 em nenhum. Para a Poli precisava de 63, não conseguia. Não estava tão bem quanto esperava. Isso era preocupação. No decorrer do ano você acaba estudando. Estuda, estuda de novo, você vai relembrando tudo que estava esquecendo. Não pode perder a calma. Não é porque você não está indo bem agora que não vai melhorar.
Com tantas possibilidades de escolha, a definição por uma carreira é muitas vezes um momento de dúvida. Como aumentar a certeza de que está fazendo a escolha correta? Muita gente fica em dúvida sobre um monte de coisas, mas queira ou não você vai ter de escolher uma área. Não importa a escolha que faça, você não vai ter certeza. Aqui mesmo tem palestras de orientação profissional. Você vai afunilando as coisas que quer.
Tem campo para o engenheiro. É difícil, e todo processo seletivo depende muito de você lá na hora. Não sou muito bom de apresentação, mas mesmo assim cheguei ao final em todos os processos de seleção. Empresas a que eu fui tinham, por exemplo, quatro vagas para 15 candidatos.
Na Poli você chegou a ter alguma dúvida sobre a escolha de carreira?
O que faz diferença na hora dessa seleção?
Geografia é uma delas. Principalmente a parte geoeconômica. Deixa você mais ligado.
Poli, Unicamp... Mas não é só a faculdade. É bom aprender a falar na frente de gente que você nunca viu na vida. Falar com o gestor, apresentar seu comportamento. Mostrar as coisas boas que você fez e faz.
No currículo, o que é importante constar? Acho que é bom ter participação em atividades durante o curso. Não necessariamente em Iniciação Científica, mas, por exemplo, a participação na Atlética ajuda muito. Na Atlética você tem de correr atrás de coisas, falar, cobrar, viajar para procurar lugar quando está montando jogos universitários. Você tem esses contatos a mais, esse jogo de cintura. Na organização de festas você tem de correr atrás de patrocínio, fornecedores. Fazer Iniciação Científica é bom principalmente se você quer trabalhar na área técnica, você adquire conhecimento.
Jornal do Colégio
Não. Quando começou Elétrica, gostei bastante.
Que matérias você viu no Etapa que mais te ajudaram na faculdade e que são bastante úteis no dia a dia?
Quais recordações você tem da época do Colégio? Nossa, muitas... Professores, eu ficar tranquilo aqui à tarde, jogar bola... Também era bom participar das gincanas. Muita coisa boa do Etapa.
E os amigos daquela época? Saio direto com eles, todo mês a gente se encontra.
O que mais você diria para quem vai tentar entrar em uma faculdade no fim do ano? Ter calma. Sem ficar preocupado agora. Estude, procure relaxar, mantenha uma rotina fazendo as coisas que tem de fazer, para não precisar ficar correndo atrás no final. Você quer passar. Para isso, o esforço é tudo.
Jornal do Colégio ETAPA, editado por Etapa Ensino e Cultura REDAÇÃO: Rua Vergueiro, 1 987 – CEP 04101-000 – Paraíso – São Paulo – SP JORNALISTA RESPONSÁVEL: Egle M. Gallian – M.T. 15343
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CONTO
Carmela Antônio de Alcântara Machado ezoito horas e meia. Nem mais um minuto porque a madama respeita as horas de trabalho. Carmela sai da oficina. Bianca vem ao seu lado. A Rua Barão de Itapetininga é um depósito sarapintado de automóveis gritadores. As casas de modas (Ao Chic Parisiense, São Paulo-Paris, Paris Elegante) despejam nas calçadas as costureirinhas que riem, falam alto, balançam os quadris como gangorras. – Espia se ele está na esquina. – Não está. – Então está na Praça da República. Aqui tem muita gente mesmo. – Que fiteiro! O vestido de Carmela coladinho no corpo é de organdi verde. Braços nus, colo nu, joelhos de fora. Sapatinhos verdes. Bago de uva Marengo maduro para os lábios dos amadores. – Ai que rico corpinho! – Não se enxerga, seu cafajeste? Português sem educação! Abre a bolsa e espreita o espelhinho quebrado, que reflete a boca reluzente de carmim primeiro, depois o nariz chumbeva, depois os fiapos de sobrancelha, por último as bolas de metal branco na ponta das orelhas descobertas. Bianca por ser estrábica e feia é a sentinela da companheira. – Olha o automóvel do outro dia. – O caixa-d’óculos? – Com uma bruta luva vermelha. O caixa-d’óculos para o Buick de propósito na esquina da praça. – Pode passar. – Muito obrigada. Passa na pontinha dos pés. Cabeça baixa. Toda nervosa. – Não vira para trás, Bianca. Escandalosa! *** Diante de Álvares de Azevedo (ou Fagundes Varela) o Ângelo Cuoco de sapatos vermelhos de ponta afilada, meias brancas, gravatinha deste tamanhinho, chapéu à Rodolfo Valentino, paletó de um botão só, espera há muito com os olhos escangalhados de inspecionar a Rua Barão de Itapetininga. – O Ângelo! – Dê o fora. Bianca retarda o passo. Carmela continua no mesmo. Como se não houvesse nada. E o Ângelo junta-se a ela. Também como se não houvesse nada. Só que sorri. – Já acabou o romance? – A madama não deixa a gente ler na oficina. – É? Sei. Amanhã tem baile na Sociedade. – Que bruta novidade, Angelo! Tem todo domingo. Não segura no braço! – Enjoada! Na Rua do Arouche o Buick de novo. Passa. Repassa. Torna a passar. – Quem é aquele cara?
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– Como é que eu hei de saber? – Você dá confiança para qualquer um. Nunca vi, puxa! Não olha pra ele que eu armo já uma encrenca! *** Bianca rói as unhas. Vinte metros atrás. Os freios do Buick guincham nas rodas e os pneumáticos deslizam rente à calçada. E estacam. – Boa tarde, belezinha... – Quem? Eu? – Por que não? Você mesma... Bianca rói as unhas com apetite. – Diga uma coisa. Onde mora a sua companheira? – Ao lado de minha casa. – Onde é sua casa? – Não é de sua conta. O caixa-d’óculos não se zanga. Nem se atrapalha. E um traquejado. – Responda direitinho. Não faça assim. Diga onde mora. – Na Rua Lopes de Oliveira. Numa vila. Vila Margarida no 4. Carmela mora com a família dela no 5. – Ah! Chama-se Carmela... Lindo nome. Você é capaz de lhe dar um recado? Bianca rói as unhas. – Diga a ela que eu a espero amanhã de noite, às oito horas, na rua... não... atrás da igreja de Santa Cecília. Mas que ela vá sozinha, hein? Sem você. O barbeirinho também pode ficar em casa. – Barbeirinho nada! Entregador da Casa Clark! – É a mesma coisa. Não se esqueça do recado. Amanhã, às oito horas, atrás da igreja. – Vá saindo que pode vir gente conhecida. Também o grilo já havia apitado. *** – Ele falou com você. Pensa que eu não vi? O Angelo também viu. Ficou danado. – Que me importa? O caixa-d’óculos disse que espera você amanhã de noite, às oito horas, no Largo Santa Cecília. Atrás da igreja. – Que é que ele pensa? Eu não sou dessas. Eu não! – Que fita, Nossa Senhora! Ele gosta de você, sua boba. – Ele disse? – Gosta pra burro. – Não vou na onda. – Que fingida que você é! – Ciao. – Ciao. *** Antes de se estender ao lado da irmãzinha na cama de ferro Carmela abre o romance à luz da lâmpada de 16 velas: Joana a Desgraçada ou A Odisseia de uma Virgem, fascículo 2º. Percorre logo as gravuras. Umas teteias. A da capa então é linda mesmo. No fundo o imponente castelo. No primeiro plano a íngreme ladeira que conduz ao castelo. Descendo a ladeira numa disparada louca o fogoso ginete. Montado no ginete o apaixonado caçula do castelão inimigo de capacete prateado com plumas brancas. E atravessada no cachaço do ginete a formosa donzela desmaiada entregando ao vento os cabelos cor
CONTO de carambola. Quando Carmela reparando bem começa a verificar que o castelo não é mais um castelo mas uma igreja o tripeiro Giuseppe Santini berra no corredor: – Spegni Ia luce! Subito! Mi vuole proprio rovinare questa principessa! E – raatá! - uma cusparada daquelas. *** – Eu só vou até a esquina da Alameda Glette. Já vou avisando. – Trouxa. Que tem? *** No Largo Santa Cecília atrás da igreja o caixa-d’óculos sem tirar as mãos do volante insiste pela segunda vez: – Uma voltinha de cinco minutos só... Ninguém nos verá. Você verá. Não seja má. Suba aqui. Carmela olha primeiro a ponta do sapato esquerdo, depois a do direito, depois a do esquerdo de novo, depois a do direito outra vez, levantando e descendo a cinta. Bianca rói as unhas. – Só com a Bianca... – Não. Para quê? Venha você sozinha. – Sem a Bianca não vou. – Está bem. Não vale a pena brigar por isso. Você vem aqui na frente comigo. A Bianca senta atrás. – Mas cinco minutos só. O senhor falou... – Não precisa me chamar de senhor. Entrem depressa. Depressa o Buick sobe a Rua Viridiana. Só para no Jardim América. *** Bianca no domingo seguinte encontra Carmela raspando a penugenzinha que lhe une as sobrancelhas com a navalha denticulada do tripeiro Giuseppe Santini.
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– Xi, quanta coisa pra ficar bonita! – Ah! Bianca, eu quero dizer uma coisa pra você. – Que é? – Você hoje não vai com a gente no automóvel. Foi ele que disse. – Pirata! – Pirata por quê? Você está ficando boba, Bianca. – E. Eu sei por quê. Piratão. E você, Carmela, sim senhora! Por isso é que o Angelo me disse que você está ficando mesmo uma vaca. – Ele disse assim? Eu quebro a cara dele, hein? Não me conhece. – Pode ser, não é? Mas namorado de máquina não dá certo mesmo. *** Saem à rua suja de negras e cascas de amendoim. No degrau de cimento ao lado da mulher Giuseppe Santini torcendo a belezinha do queixo cospe e cachimba, cachimba e cospe. – Vamos dar uma volta até a Rua das Palmeiras, Bianca? – Andiamo. *** Depois que os seus olhos cheios de estrabismo e despeito vêem a lanterninha traseira do Buick desaparecer, Bianca resolve dar um giro pelo bairro. Imaginando coisas. Roendo as unhas. Nervosíssima. Logo encontra a Ernestina. Conta tudo à Ernestina. – E o Ângelo, Bianca? – O Ângelo? O Ângelo é outra coisa. É pra casar. – Hã!... Extraído de: Brás, Bexiga e Barra Funda.
COLUNA M
“Adivinhando” números Peça a um colega seu para pensar em três números entre 0 e 9 e seguir suas instruções: Pegue o primeiro número. Dobre-o. Acrescente 5. Multiplique por 5. Adicione o segundo número. Multiplique por 10. Adicione o terceiro número. Peça a seu colega para dizer o resultado e você dirá, na ordem, quais os três números que ele escolheu. Suponhamos que seu colega diga 507. Então os números escolhidos por ele foram 2, 5 e 7 nessa ordem. Se seu colega disser 349, então ele escolheu primeiro 0, depois 9 e finalmente 9. Como você pode “adivinhar”? Siga-me. Sejam x, y e z os números que o seu colega escolheu, nessa ordem, isto é, o primeiro número foi x, o segundo y e o terceiro z. Temos:
Pegue o primeiro número. x Dobre-o. 2x Acrescente 5. 2x + 5 Multiplique por 5. 10x + 25 Adicione o segundo número. 10x + y + 25 Multiplique por 10. 100x+ 10y + 250 Adicione o terceiro número. 100x + 10y + z + 250 O que você deve fazer quando o seu colega disser o número é subtrair 250. Você obtém então 100x + 10y + z, que é o número xyz na base 10. Logo o primeiro número pensado pelo seu colega foi x, o segundo foi y e o terceiro foi z. Simples, não?
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ARTIGO
Estudo identifica padrão de associação entre doenças crônicas em São Paulo Karina Toledo
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Projeto Temático “Estudos epidemiológicos dos transtornos o analisar dados de entrevistas feitas com 5 037 psiquiátricos na Região Metropolitana de São Paulo: prevamoradores da Região Metropolitana de São Paulo, lências, fatores de risco e sobrecarga social e econômica”, pesquisadores da Faculdade de Medicina da Univerfinanciado pela FAPESP e coordenado por Andrade. sidade de São Paulo (FMUSP) identificaram de que forma As entrevistas foram realizadas entre os anos de 2005 fatores individuais, entre eles sexo, idade, condição socioee 2007 com uma amostra representativa da população da conômica e área de residência, influenciam no padrão de Região Metropolitana de São Paulo maior de 18 anos. O obmultimorbidade – termo que no jargão médico descreve a jetivo inicial era estimar em uma área altamente urbanizada ocorrência concomitante de duas ou mais doenças crônicas a prevalência de transtornos mentais. O em um mesmo indivíduo. número encontrado foi próximo a 30% – De acordo com os resultados, a o mais alto registrado entre os 24 países ocorrência simultânea de enxaqueca que integraram a Pesquisa Mundial sobre e outros quadros dolorosos, transtorSaúde Mental, da Organização Mundial nos de ansiedade, depressão e insônia da Saúde (OMS). foi cerca de duas vezes mais frequenOs transtornos de ansiedade foram os te entre as mulheres. Já a associação mais comuns, afetando 19,9% dos entreentre artrite e doenças metabólicas, vistados. Em seguida, destacam-se os como as cardiovasculares e o diabetes, transtornos de humor (11%), transtornos foi mais comum entre idosos e entre moradores de bairros com maior desi- Ao analisar dados de 5 037 moradores da região de controle de impulso (4,3%) e problemetropolitana, pesquisadores da USP identimas relacionados ao uso de substâncias gualdade de renda. ficam de que forma fatores como sexo, idade, A associação concomitante de proble- condição socioeconômica e área de residência (3,6%). Cerca de 10% dos casos foram mas relacionados a drogas, álcool e taba- influenciam os padrões de multimorbidade entre considerados graves. Desses, apenas doenças crônicas. (foto: Wikimedia) 30% obtiveram acesso ao tratamento. co foi mais frequente entre jovens, pes“Em nosso questionário, havia uma soas do sexo masculino e com maior seção sobre doenças crônicas. Perguntávamos se em alpoder econômico. Já o grupo de doenças composto por gum momento a pessoa havia recebido o diagnóstico de câncer e quadros neurológicos, entre eles Alzheimer, não um médico relativo a problemas cardiovasculares, hipertenevidenciou relação com nenhum dos fatores individuais e são, diabetes, entre outras. E usamos escalas já validadas contextuais investigados. para avaliar condições como enxaqueca e insônia”, contou “Nossos resultados, assim como os de estudos internaAndrade. cionais, indicam que pessoas com duas ou mais doenças crônicas têm risco aumentado para desenvolver outros quaSão Paulo Megacity dros crônicos associados. Quanto mais avançada é a idade De acordo com Wang, a análise do banco de dados do e menor é o nível socioeconômico, maior é esse risco. E São Paulo Megacity permitiu separar as 14 condições crôisso acaba criando clusters de morbidade físico-mental na nicas referidas pelos entrevistados em quatro padrões de população”, disse Wang Yuan Pang, pesquisador do Instituto doenças que se correlacionam fortemente, ou multimorbide Psiquiatria do Hospital das Clínicas (HC) da FMUSP e dade: um de doenças dolorosas, ansiedade e depressão; coordenador da pesquisa ao lado de Laura Helena Andrade, outro de doenças metabólicas e artrite; um terceiro relaciotambém da FMUSP. nado a abuso de substâncias; e um quarto, mais biológico, Os resultados foram apresentados por Wang no dia 8 de que inclui câncer e quadros neurológicos. abril, durante o evento internacional World Health Summit – “Decidimos então investigar o que determinava esse padrão Regional Meeting Latin America, e serão publicados em uma de concentração de doenças. Para isso, usamos uma técniedição especial da revista The Lancet prevista para ser lançada ca estatística chamada análise fatorial. Criamos um indicaem outubro na cidade de Berlim, Alemanha. dor, que é um coeficiente de regressão, e testamos vários A análise é um desdobramento do São Paulo Megacity modelos de análise multinível para avaliar o quanto cada um Mental Health Survey (leia mais em http://agencia.fapesp. dos fatores individuais e contextuais influenciam em cada um dos quatro padrões de multimorbidade”, disse Wang. br/15215), levantamento concluído em 2009 no âmbito do
ARTIGO Os resultados mostraram também que as doenças cardiovasculares, os transtornos de ansiedade e a depressão foram as doenças que apresentaram maior associação com outras condições crônicas. Os pesquisadores estimam que sejam as que impactam mais fortemente a qualidade de vida dos afetados. Esses resultados confirmam as informações recentes do estudo Carga Global de Doenças 2010 para o Brasil. Na opinião dos pesquisadores, os dados apontam para a importância de reformular o treinamento médico de forma a oferecer aos pacientes um tratamento mais integrado. “No Brasil, a medicina está muito especializada. O cardiologista cuida do coração, o pneumologista, do pulmão, e assim por diante. Mas, na realidade, o cardiologista também deve estar preocupado com a depressão, ansiedade ou dor, pois essas
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condições muitas vezes estão associadas”, opinou Wang. “Transtornos mentais são muito prevalentes e costumam ocorrer junto com as demais doenças crônicas. É necessário, portanto, incluir a psiquiatria no planejamento de estratégias de prevenção e de tratamento”, ressaltou Andrade. A pesquisa também contou com apoio da FAPESP por meio do projeto “Identificação dos diferentes subgrupos de usuários de álcool e fatores associados na região metropolitana de São Paulo: diferenças entre gêneros, dados sociodemográficos e comorbidades psiquiátricas”, recentemente concluído. Extraído de: Agência FAPESP – Divulgando a cultura científica, maio/2014.
SOBRE AS PALAVRAS
Anorexia Certamente você já ouviu a palavra anorexia, muito em moda atualmente pela necessidade de as modelos serem muito magras. Em grego órexis significa desejo, apetite. O prefixo an é negação. Significa, portanto, perder o desejo de comer, tratando-se de uma patologia. Ter licorexia são outros quinhentos. Lýkos, do grego, significa lobo. Você já imaginou o que seria uma modelo com licorexia? No entanto, durante alguns movimentos pictóricos, as gordinhas foram muito bem vistas. Veja um anúncio divulgado por um produto dietético que mostra conceitos diversos de beleza da mulher através dos tempos.
Hoje Agência DPZ.
Ontem
Renoir após Chambourcy Diet.
Renoir
Viver em forma é possível
MAS, MÁS, MAIS
Concertar - Consertar Concertar: ajustar, harmonizar, conciliar. Ex.: “… examinou as luvas, concertou a gravata...” (M. Assis) Consertar: remendar, reparar, arranjar, coser. Ex.: “Eduína me dava banho, consertava minha roupa.” (Lia C. Dutra)
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ESPECIAL
Apoio, inspiração e incentivo Painel de Profissões visa auxiliar os estudantes na escolha da carreira hega uma hora em que os estudantes têm que enfrentar uma difícil tarefa: decidir qual carreira seguir. Revistas e sites especializados podem funcionar como ferramentas eficazes. Mas não se comparam a uma conversa com profissionais da área ou a uma simulação do cotidiano da carreira escolhida. É com esse propósito que o Etapa realiza o Painel de Profissões, cuja edição de 2014 aconteceu nos dias 12 de abril (Valinhos) e 10 de maio (São Paulo). No evento, os alunos do Ensino Médio e do Curso tiveram a chance de conversar com ex-alunos do Etapa que hoje são universitários de faculdades reconhecidas. Esse diálogo faz uma diferença enorme: minimiza as possibilidades de erro na escolha e desmistifica impressões equivocadas. Além disso, os vestibulandos têm a oportunidade de conhecer cursos que nem sabiam que existiam – e que podem tornar-se possibilidades a serem consideradas. No Painel de Profissões, os estudantes também contaram com outros recursos importantes e que lhes deram informações valiosas sobre diversas carreiras. Além das apresentações sobre as três áreas – Humanas, Exatas e Biológicas –, palestras ministradas anteriormente no Etapa foram reproduzidas em salas, para que aqueles que não haviam tido a oportunidade pudessem assisti-las. Essas eram as Cinepalestras. Mas o que parece prazeroso na teoria pode não ser bem aquilo na prática. Portanto, nada como vivenciar um pouco dessa realidade antes de fazer a inscrição do vestibular. É essa experiência que os
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workshops proporcionaram aos alunos. Os participantes puderam realmente colocar a mão na massa, realizando atividades práticas que mostraram um pouco do dia a dia do profissional. Também há aquelas pessoas que, com tantas opções, não sabem nem por onde começar a procurar. Nesses casos, orientadores do Etapa estiveram à disposição para dar dicas de como pesquisar, além de disponibilizarem material para isso – guias e dicionários de profissões. Tudo foi feito para apoiar, inspirar e incentivar os estudantes. Aliás, “inspirar” é uma palavra-chave no Painel de Profissões. Inspirar os alunos a buscarem aquilo que almejam, fazendo-os perceber que com dedicação e esforço é possível chegar lá. E, claro, inspirá-los a mergulharem nas possibilidades, de forma a descobrirem o que esperam do futuro.
AGENDA CULTURAL → São Paulo – Clube de Cinema (quintas, das 19h10min às 21h35min, sala 65) 05.06 – M, o vampiro de Dusseldorf (Fritz Lang: 1931) 12.06 – Air doll (Hirokazu Koreeda: 2009) → Valinhos – Clube de Cinema (sextas, das 14h05min às 15h45min) 06.06 – Ilha do medo (Martin Scorsese: 2010) 13.06 – A pele que habito (Pedro Almodóvar: 2011)
Fique ligado: todas as terças-feiras acontecem as Palestras de Profissões para os alunos de 2º e 3º anos do Ensino Médio!