Jornal do Colégio Nº576

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Jornal do Colégio SEGUNDA QUINZENA DE AGOSTO DE 2014 – NÚMERO 576

ENTREVISTA

“Até o 3o colegial eu não sabia o que ia seguir. Não sabia se queria Medicina ou Direito.” Bruna Hayar Fuscella optou no 3o ano por Direito. Entrou na USP, onde se formou em 2012. Durante o curso estagiou em dois escritórios de advocacia, sempre atuando na área de contencioso civil. Efetivada ao terminar o curso, fez exame para mestrado, também na São Francisco: “Quero voltar para a faculdade porque é muito importante continuar estudando”. Aqui ela conta sua história.

Bruna Hayar Fuscella

JC – Quando e por que você escolheu Direito como carreira? Bruna – Até o 3o colegial eu não sabia o que ia seguir. Recebi orientação vocacional no Etapa, foram dois anos pesquisando. Estava entre Biológicas e Humanas. Não sabia se queria Medicina ou Direito. Pensei muito e acabei decidindo por Direito. Acho que eu tenho mais o perfil de Humanas, gosto de escrever, ler.

Quando você entrou no Etapa? Em 2005, no 1o ano do Ensino Médio.

O que motivou você a estudar aqui? Um dia decidi que queria entrar na USP. Conversei com meus pais e vim para cá. Depois disso virou regra lá em casa. Meus irmãos estudaram aqui.

Para você, como foi o Ensino Médio? Eu estudei muito. Para as provas eu revisava alguma coisa que tinha estudado antes. Chegou o 3o colegial, eu tinha mais base.

Como foi seu início na faculdade? Na faculdade você pode fazer o que quiser. Você ganha independência e tem de selecionar o que vai estudar. É tudo ENTREVISTA

Carreira – Direito

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Estagiei desde o 2o ano.

Onde você estagiou? Em 2009 comecei a estagiar num escritório de médio porte que se chama Lilla, Huck, Otranto, Camargo. Na área em que eu trabalho, de contencioso civil, é um dos melhores. Fiquei lá dois anos. Pela lei de estágios a gente só pode ficar dois anos em um mesmo lugar.

No estágio, havia quantas horas de trabalho por dia? Seis. Você acaba ficando um pouco mais. O trabalho era pesado, mas aprendi muito e encontrei o que gostava. Com menos tempo, acabei estudando mais que no 1o ano. Você aprende a lidar com o seu tempo.

O que você fazia? Fazia muito fórum, fazia muita pesquisa de doutrina, de jurisprudência. No final comecei a fazer peças do processo mesmo, tipo petição inicial.

Bateu as botas

ESPECIAL

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VOCÊ SABIA QUE...

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Leonardo da Vinci

Olimpíadas do conhecimento Música brasileira

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MAS, MÁS, MAIS

ENTRE PARÊNTESIS

Distribuição de letras

Você procurou fazer estágio desde cedo?

SOBRE AS PALAVRAS

CONTO

A melhor amiga – Artur Azevedo

muito abstrato no 1o ano, você não tem nada de concreto. Eu sou muito prática, não quero saber o sexo dos anjos. Mas eu não senti grandes dificuldades. Direito é muito interpretação, você acaba se virando.

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[E OUTRAS QUESTÕES GRAMATICAIS]

Preferir

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ENTREVISTA

O contrato desse estágio venceu no fim do seu 3o ano na faculdade. O que você fez em seguida? Quando venceu meu contrato, conversei com minha professora da São Francisco, ela viu que meu perfil era mesmo de escritório e falou para eu ir trabalhar com ela, no BCBO – Buccioli, Craveiro e Braz de Oliveira Advogados, onde estou desde então. Fiquei 2011 e 2012, meus 4o e 5o anos, primeiro como estagiária, depois fui efetivada.

Você continuou na mesma área? Continuo nessa área, de contencioso civil. Eu faço um pouco de consultoria de contrato, que é a parte antes de dar problemas. A visão dos erros que existem nos contratos é uma base muito boa para fazer uma parte mais consultiva.

Você entrou na São Francisco no período diurno. Para fazer os estágios, teve de mudar para o noturno? Fiz diurno sempre. Só no 5o ano acabei fazendo mais matérias no noturno.

Mesmo estudando no diurno é possível estagiar? Você consegue. Chega no escritório à 1 hora da tarde, ou às 2 horas, e fica até 9, 10 da noite. Tem escritório que exige a mudança para o noturno. Muitos amigos tiveram de mudar. Eu não acho que seja necessário.

Qual é a importância do estágio? O estágio é importante para você ver o que quer. Em Direito tem muitas possibilidades. Basicamente, você pode ser um advogado, pode prestar concurso público, ser juiz, promotor, procurador, pode ser professor, delegado, um milhão de coisas. É importante também para ter uma visão prática, uma complementação do que estuda na faculdade, onde você tem a base teórica.

O que você estudou em cada ano na São Francisco? O 1o ano é muita discussão de casos polêmicos para você exercitar o que vai ser. Tem Teoria Geral, Direito Romano. No 2o ano começam umas matérias mais concretas, Processo Penal, Teoria Geral do Processo. No 3o ano começam muitas optativas, você tem quatro ou cinco matérias obrigatórias e o resto você vai optando, vai indo para o lado de que mais gosta. No 4o ano tem três matérias obrigatórias e o resto são optativas. No 5o ano são só optativas e a monografia.

As optativas que você escolheu desde o 3o ano foram de qual área? Foi sempre em Direito Civil, Comercial e Processo. Só que para completar um número de créditos você tem de escolher algumas outras.

Como você descreve cada ano da faculdade? O 1o ano é de adaptação. O 2o ano é mais pegando o jeito, você conhece mais. No 3o ano já sabe o que quer, aonde vai. O 4o ano é mais sério, você tem de estar em escritório e saber aonde vai. No 5o ano você tem OAB, tem de entregar sua monografia e tem de ser efetivado ao se formar. Este é o único ano que lembra o vestibular. Exige jogo de cintura.

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De qual ano você gostou mais? Do 1o. É muito gostoso. Um monte de gente que está lá, amigos novos, muitas festas. O 1o ano é o máximo.

No último ano, qual era sua maior preocupação? Acho que todas as preocupações acabam se juntando. Minha preocupação era ter um bom emprego. Mas eu só conseguiria ser efetivada se passasse na OAB e me formasse. Para me formar, precisava entregar minha monografia. Estava tudo entrelaçado.

Quando você prestou o Exame da OAB? A partir do 5o ano você já pode prestar. Fiz a prova da 1a fase no início do 5o ano e passei.

Você fez curso preparatório para a OAB? Para a 1a fase fui direto, com a cara e a coragem. Para a prova da 2a fase fiz cursinho. É bom porque aí você tem foco. Eu me senti mais segura fazendo cursinho.

A prova da 2a fase é específica? Você fez em qual área? Civil. Tem uma peça e quatro questões. A peça vale 5 pontos. Para passar você precisa de 6 na prova. Se errar a peça você zerou, não vai passar.

Você foi aprovada direto? Fui. E depois que terminou a OAB comecei a focar para fazer a monografia.

A monografia é o trabalho de conclusão de curso. Qual foi o tema do seu trabalho? Foi em Direito Comercial: “Dependência econômica entre empresas em contrato em rede”. Quando existem vários contratos que formam uma rede de contratos. Como funciona dentro dessa rede uma dependência econômica do mais forte para o mais fraco. Nesse caso fiz também uma comparação com o Direito Italiano, que tem uma legislação específica sobre isso.

Quais são seus planos imediatos? Sempre quis fazer mestrado. Quero voltar para a faculdade porque acho muito importante continuar estudando. No ano passado fiz a prova do mestrado na São Francisco.

Como são as provas para entrar no mestrado? São duas provas, uma de línguas e uma da matéria que você quer fazer, dentro da área que você quer. Para o mestrado só precisa de uma língua. No doutorado são duas. Você pode escolher entre inglês, francês, italiano e alemão.

Que área você escolheu para o mestrado? Processo. Fiz a prova, que vale por três anos, só que não apresentei projeto porque não tinha ideia do que queria fazer. Uma vez que passei na prova, este ano só preciso me preocupar com o projeto.

O que é seu projeto? Quando entro em juízo eu tenho o ônus de provar o que estou alegando. Um dos artigos do novo Código de Processo Civil,

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ENTREVISTA que foi aprovado, diz que não necessariamente precisa ser assim. Eu vou discutir isso, quais as consequências.

Como está o mercado de trabalho em Direito? O mercado de estágio hoje tem muito mais oferta do que pessoas querendo estagiar. Muita vaga para pouco estagiário. Quando se formam, as pessoas acabam sendo efetivadas onde estão. Não é tão comum as pessoas mudarem de emprego. Mas ninguém sofre, você sai, fica uns dois meses procurando e acha. Nunca vi meus amigos desempregados mais de um mês.

A remuneração está de acordo com o que você acha justo? Eu ganho o que eu acho que mereço. Não ganho muito, ganho razoável. Mas tem muita gente ganhando mal. Quem trabalha em banco de investimento ganha muito dinheiro.

Tem advogado trabalhando em banco de investimento? Na área do Direito? Sim, tanto na área do Direito como na área de investimento em bolsa. Faz um curso de finanças, trabalha em banco. É uma opção também. Fazendo Direito você acaba tendo um bom leque de trabalho. Pode trabalhar onde quiser. Em política, em banco de investimento, administração.

Em uma entrevista para emprego, o que você acha que diferencia uma pessoa da outra? Falar outra língua é um diferencial. Acho muito importante durante a faculdade fazer outra língua além de inglês, que é essencial. Italiano ou alemão, francês, espanhol. Eu comecei a fazer Italiano. Precisa saber se portar numa entrevista. Saber entender o que seu entrevistador quer, saber qual é o perfil do lugar. Tem de buscar lugares com seu perfil. Tem de saber trabalhar em equipe, tem de ter humildade, todo mundo tem alguma coisa para te ensinar. Vai lidar com pessoas de diversos tipos, tem que saber lidar com elas. Saber o que você quer e se comunicar, saber se portar nas situações.

Como você se imagina daqui a 10 anos? Espero ter terminado meu mestrado e também o doutorado, ter estudado fora pelo menos uns seis meses. Quero estudar em Roma. Quero ou estar trabalhando num escritório pequeno, ganhando bem, ou estar com meu próprio escritório. Não vejo o trabalho como fim último. Acho trabalho importante, você tem que ganhar bem. Só que eu vejo outras coisas também. Ter uma família, quero ser mãe. Enfim, em 10 anos eu vejo terminados meu mestrado e meu doutorado, ganhando bem num bom escritório e feliz.

Você estudou na São Francisco, seu irmão está lá agora, no 2o ano. Houve mudanças na faculdade? Mudou bastante. Na São Francisco em que eu estudei você podia se matricular em todas as matérias; se não passasse em uma optativa, você podia cancelá-la. Você podia trocar

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de sala se não gostasse do professor. Tem muitos professores fantásticos, que dão aula, sentam, explicam. Mas tem aqueles com outra mentalidade. A São Francisco do meu irmão é um pouco mais rígida. Você não pode se matricular em todas as matérias, você tem de ficar na sua sala, não pode sair.

E em termos da grade curricular, das matérias, houve muitas mudanças? É bem parecido, mas os professores estão mais rígidos. Tem mais cobrança, tem de estudar mais. Meu irmão estuda muito mais do que eu estudava. Acho que a São Francisco está mais difícil.

Para se dar bem em Direito, quais qualidades a pessoa precisa ter? Uma coisa que eu verifico em todas as pessoas que conheço e que fazem Direito é saber escrever bem, ler muito e saber se comunicar. São as três coisas que você acaba vendo em quase todo mundo. E a pessoa tem de estudar e estar preparada para qualquer situação.

O que você teve no Colégio que hoje tem impacto na sua vida? Hoje em dia eu uso alguma coisa da Matemática que aprendi. Vejo que tenho um diferencial com o que eu conheço. Um raciocínio matemático de valores. Isso eu aprendi muito no Etapa. Também Português, como escrever, como fazer uma redação clara, coerente, sintética, não repetir palavras, não encher linguiça.

Como você avalia sua trajetória nos estudos e na vida profissional? A primeira conquista foi entrar na faculdade. Passei no vestibular, ninguém me deu de presente. A segunda conquista é meu emprego, eu consegui. A disciplina que você aprende no colégio é muito boa, você pode utilizá-la ao longo da vida. Acho que com disciplina e foco a gente consegue tudo o que quer.

Quais são suas lembranças do Etapa? Foi muito difícil, mas lembro com carinho. Fiz grandes amigos no Etapa e acho que foi uma fase boa.

O que você diria a quem ainda não sabe a carreira que vai seguir? Não se desespere, faça uma reflexão de autoconhecimento. O que eu quero? Do que eu gosto? Como imagino minha vida? Procure uma ajuda vocacional. Em última análise, é você com você mesmo. É normal, é difícil mesmo. E uma vez escolhida a carreira, estude, estude, estude.

Você quer dizer mais alguma coisa para os nossos alunos? Acredite em você. É você que vai resolver seus problemas.

Jornal do Colégio ETAPA, editado por Etapa Ensino e Cultura REDAÇÃO: Rua Vergueiro, 1 987 – CEP 04101-000 – Paraíso – São Paulo – SP JORNALISTA RESPONSÁVEL: Egle M. Gallian – M.T. 15343

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CONTO

A melhor amiga Artur Azevedo I mais ingênua e virtuosa das esposas, D. Ritinha Torres, adquiriu há tempos a dolorosa certeza de que o marido a enganava, namorando escandalosamente uma senhora, vizinha deles, que exercia, ou fingia exercer a profissão de modista. Havia muitas manhãs que Venâncio Torres – assim se chamava o pérfido – acordava muito cedo, tomava o seu banho frio, saboreava sua xícara de café, acendia o seu cigarro e ia ler a Gazeta de Notícias debruçado a uma das janelas da sala de visitas. Como D. Ritinha estranhasse o fato, porque havia já quatro anos que estava casada com Venâncio, e sempre o conhecera pouco madrugador, uma bela manhã levantou-se da cama, envolveu-se numa colcha, e foi, pé ante pé, sem ser pressentida, dar com ele a namorar a vizinha, que o namorava também. A pobre senhora não disse nada: voltou para o quarto, deitou-se de novo, e à hora do costume simulou que só então despertava. Tivera até aquela data o marido na conta de um irrepreensível modelo de todas as virtudes conjugais; todavia, soube aparar o golpe: não deu a perceber o seu desgosto, não articulou uma queixa, não deixou escapar um suspiro. Mas às dez horas, quando Venâncio Torres, perfeitamente almoçado, tomou o caminho da repartição, ela vestiu-se, saiu também, e foi bater à porta da sua melhor amiga, D. Ubaldina de Melo, que se mostrou admiradíssima. – Que é isto? Tu aqui a estas horas! Temos novidade? – Temos... temos uma grande novidade; meu marido engana-me! E deixando-se cair numa cadeira, D. Ritinha prorrompeu em soluços. – Engana-te? perguntou a outra, que empalidecera de súbito. – E adivinha com quem?... Com aquela modista... aquela sujeita que mora defronte de nossa casa!... – Oh, Ritinha! isso é lá possível!... – Não me disseram: vi; vi com estes olhos que a terra há de comer! Um namoro desbragado, escandaloso, de janela para janela! – Olha que as aparências enganam... – E os homens ainda mais que as aparências. O pranto recrudescia. – E eu que tinha tanta confian... an... ça naquele ingra... a... to! – Que queres tu que te faça? perguntou D. Ubaldina, quando a amiga lhe pareceu mais serenada. – Vim consultar-te... peço-te que me aconselhes... que me digas o que devo fazer... Não tenho cabeça para tomar uma resolução qualquer! – Disseste-lhe alguma coisa? – A quem? – A teu marido.

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– Não; não lhe disse nada, absolutamente nada. Contive-me quanto pude. Não quis decidir coisa alguma antes de te falar, antes de ouvir a minha melhor amiga. D. Ubaldina sentou-se ao lado dela, agradeceu com um beijo prolongado e sonoro essa prova decisiva de confiança e amizade, e, tomando-lhe carinhosamente as mãos, assim falou: – Ritinha, o casamento é uma cruz que é mister saber carregar. Teu marido engana-te... se é que te engana... – Engana-me!... – Pois bem, engana-te, sim, mas... com quem? Reflete um pouco, e vê que esse ridículo namoro de janela, que o obriga a madrugar, sair dos seus hábitos, é uma fantasia passageira, um divertimento efêmero que não vale a pena tomar a sério. – Achas então que... – Filha, não há no mundo marido algum que seja absolutamente fiel. Faze como eu, que fecho os olhos às bilontrices do Melo, e digo como dizia a outra: – Enquanto andar lá fora, passeie o coração à vontade, contanto que mo restitua quando se recolher ao lar doméstico. Filosofia no caso! – Vejo que não sentes por teu marido o mesmo que sinto pelo meu... A filósofa conservou-se calada alguns segundos, e, dando em D. Ritinha outro beijo, ainda mais prolongado e sonoro que o primeiro, prosseguiu assim: – Se fizeres cenas de ciúmes a teu marido, apenas conseguirás que ele se afeiçoe deveras à tal modista; o que por enquanto não passa, felizmente, de um namoro sem consequências, poderá um dia transformar-se em paixão desordenada e furiosa! – Mas... – Não há mas nem meio! Cala-te, resigna-te, devora em silêncio tuas lágrimas, e observa. Se daqui a oito ou dez dias durar ainda esse pequeno escândalo, vem de novo ter comigo, e juntas combinaremos então o que deverás fazer. – Aceito de bom grado os conselhos, minha amiga, mas não sei se terei forças para sofrear a minha indignação e os meus ciúmes. – Faze o possível por sofreares. Lembra-te que és mãe. Quando um casal não vive na mais perfeita harmonia, a educação dos filhos torna-se extremamente difícil. Alentada por esses conselhos amistosos e sensatos, D. Ritinha Torres despediu-se da sua melhor amiga, e foi para casa muito disposta a carregar com resignação a cruz do casamento.

II Logo que ficou sozinha, D. Ubaldina que até então a custo se contivera, teve também uma longa crise de lágrimas. Mas, serenada que foi essa violenta exacerbação dos nervos, a moça correu ao telefone, e pediu que a comunicasse com a repartição onde Venâncio Torres era empregado. – Alô! Alô! – Quem fala? – O Sr. Venâncio está? – Está. Vou chamá-lo.

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CONTO Minutos depois D. Ubaldina telefonava ao marido de D. Ritinha que precisava falar-lhe com toda urgência. Ele correu imediatamente à casa dela, onde foi recebido com uma explosão de lágrimas e imprecações. – Que é isto?! que é isto?! perguntou atônito. – Sei tudo! bradou ela. Tua mulher esteve aqui e contou-me o teu namoro com a modista de defronte! Venâncio ficou aterrado. – A idiota veio perguntar-me, a mim, que sou tua amante, o que devia fazer! Eu disse-lhe que fechasse os olhos, que se resignasse... E agarrando-o com impetuosidade: – Ah! mas eu é que me não resigno, sabes? Eu não sou tua mulher, sabes? Eu amo-te, sabes? – Isso é uma invenção tola. Eu não namoro modistas. – Olha, Venâncio, se continuares, tudo saberei, porque incumbi a tua própria mulher de me pôr ao fato de tudo quanto se passar! Se persistires em namorar essa costureira, darei um escândalo descomunal, nunca visto!... Afianço-te que te arrependerás amargamente! Tu ainda não me conheces!...

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Venâncio tinha lábias: desfez-se em desculpas e explicou, o melhor que pôde, as suas madrugadas. D. Ubaldina, que ardia em desejo de perdoar, aceitou a explicação. Entretanto, ameaçava-o sempre: – Olha que se me constar que... Não te digo mais nada!... Pouco antes da hora em que devia chegar o dono da casa com o seu coração intacto, Venâncio, que descia a escada, parou, e retrocedeu três ou quatro degraus para dizer a D. Ubaldina: – Queres saber de uma coisa? Essa história de modista é bem boa: serve perfeitamente para desviar qualquer suspeita que minha mulher possa ter da sua melhor amiga. E desceu.

III Oito dias depois, D. Ubaldina de Melo recebia um bilhete concebido nos seguintes termos: “Minha boa amiga. – Parece que tudo acabou, felizmente. Depois que estive contigo, nunca mais Venâncio madrugou nem foi à janela. Queira Deus que isto dure! Como sou feliz! – Tua do coração, Ritinha Torres.” Extraído de: Histórias brejeiras.

(ENTRE PARÊNTESIS)

Distribuição de letras Maurício desenha um quadrado e o divide em 36 quadradinhos. Na primeira fileira, desenha as letras de A até F. Os quadradinhos que ainda estão vazios devem ser RESPOSTA preenchidos de modo que nem na horizontal, nem na vertical e nem na diagonal apareça a mesma letra. Quanto às diagonais, considere cada paralela às duas diagonais que ligam os quatro cantos do quadrado. Você deve preencher 32 quadradinhos e, para facilitar, damos uma dica: os 4 quadradinhos do meio ficam vazios. Agora, ao trabalho! B F

D A

E

C B

A F

C

D

D

C

B

A

E

C

B

F

D

E

F

D

E

F

D

A

C

E

B

C

A

B

D E

A

C F

SOBRE AS PALAVRAS

Bateu as botas Essa frase, indicando que o sujeito morreu, é uma variante das tradicionais “Esticou as canelas”, “Abotoou o paletó”, “Partiu desta para melhor”. O curioso, porém, é que se aplicava apenas ao morto adulto, do sexo masculino, que tinha o costume de andar de botas ou, ao menos, calçado. Como o sapato tem sido símbolo de qualificação social ao longo de nossa história, provavelmente bater as botas ao morrer refere-se a alguém de certas posses, ao menos remediado. Outros mortos apenas “esticam as canelas” ou “partem desta para melhor”. No segundo caso, partem com estilo, já que está subentendido que partiram desta para outra vida, que os comentadores anteveem mais favorável a quem partiu. Dependendo da herança, sua partida é mais favorável para quem ficou. As origens da frase residem no bom trato despendido aos mortos, postos arrumadinhos nos caixões, com o paletó abotoado. Como, porém, as mulheres passaram a usar roupas semelhantes às dos homens, também elas podem abotoar o paletó à triste hora da partida. A pergunta, entretanto, permanece: triste para quem? Sábios, os latinos cunharam outra frase: Requiescat in pace (descanse em paz). E há, para as cerimônias fúnebres, o réquiem (descanso), sendo um dos mais célebres o de Mozart.

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VOCÊ SABIA QUE... ... Mona Lisa é a obra de arte mais fotografada no mundo? E que Leonardo da Vinci, seu criador, é considerado a síntese do homem renascentista?

Genial pintor, escultor, engenheiro, arquiteto e cientista, Leonardo investigou diversos domínios da ciência e da arte, legando-nos amplas experiências e descobertas que ajudaram a formar o mundo contemporâneo. Como o próprio nome sugere, Leonardo nasceu em Vinci, próximo a Florença, na Itália, em 15 de abril de 1452. Desde cedo se dedicou ao desenho e às pinturas, trabalhando com o grande mestre Andréa del Verrocchio por uma década, antes de trilhar seu próprio caminho. Leonardo soube conciliar suas atividades artísticas com serviços, digamos assim, mais pragmáticos. A serviço de Ludovico Sforza, governador de Milão, desenvolveu vários projetos de engenharia militar, realizou estudos hidráulicos sobre os canais da cidade e, como diretor das festas promovidas pela corte, organizou competições, representações e torneios, para muitos dos quais desenhou cenários e figurinos. Além disso, dedicou-se ao estudo da Anatomia, Botânica, Física, Geologia e Matemática. Nesse período, pintou algumas de suas obras-primas, como a primeira versão da Virgem dos rochedos e A última ceia. Numa época de intensas disputas políticas, Leonardo permanecia como um artista dos mais qualificados: projetou um palácio para Charles d'Ambroise, governador francês; esteve sob proteção de Giuliano de Médici, irmão do

papa Leão X, época na qual aprofundou suas pesquisas ópticas e matemáticas. Depois da morte de Giuliano, em 1516, Leonardo foi para Ambroise, a convite de Francisco I, que o nomeou primeiro-pintor, engenheiro e arquiteto do rei. Leonardo voltou sua curiosidade para todos os campos do saber e da arte, e em cada um deles afirmou seu gênio. Um dos exemplos que ajudam a demonstrar a grandiosidade de Da Vinci é o fato de ele ter realizado pesquisas originais sobre os centros de gravidade – antecipando-se, desse modo, a Galileu. Detentor de uma perspicácia das mais afiadas, Leonardo, a partir do voo dos pássaros, determinou os princípios da construção de um aparelho mais pesado do que o ar, capaz de voar com a ajuda da força do vento. Em seus arquivos encontram-se esboços de um aparelho bastante parecido com o helicóptero moderno e o esquema de uma asa-delta. Como resultado de suas atividades militares, projetou canhões, metralhadoras, carros de combate, pontes móveis e barcos, bem como estudos sobre estratégias de combate, o esquema de um submarino e bombardas (uma espécie de catapulta). Entre outras tantas atividades, como se não fosse o suficiente, antecipou-se aos urbanistas com seus projetos de cidades. Fonte: Nova enciclopédia Barsa.

MAS, MÁS, MAIS [E OUTRAS QUESTÕES GRAMATICAIS]

Preferir Como transitivo direto e indireto, exige a preposição a: O prisioneiro preferiu a morte à escravidão. Prefiro um inimigo declarado a um falso amigo. “Prefere ser escravo a combater.” (Mário Barreto) “É o que eu faria, se ela me preferisse a você.” (A. Olavo Pereira) “Tive uma suspeita e preferi dizê-la a guardá-la.” (Machado de Assis) “A se apresentar mal vestida prefere não ir.” (Ciro dos Anjos) Observação: esse verbo não se constrói com a locução conjuntiva do que nem com o advérbio mais: Prefiro trabalhar a passar fome. (certo) Prefiro trabalhar do que passar fome. (errado) Prefiro a limonada. (certo) Prefiro mais a limonada. (errado)

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ESPECIAL

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Olimpíadas do conhecimento Alunos do Colégio Etapa tiveram resultados expressivos colégio é a época em que os alunos entram em contato com os mais diversos setores do conhecimento, de forma que possam descobrir que carreira desejam seguir no futuro. Uma maneira de colocar isso em prática é por meio das competições culturais. Além de proporcionar um maior conhecimento acadêmico, elas visam incentivar interesses e a troca de experiências. Durante o mês de julho, aconteceram várias olimpíadas e os alunos do Etapa tiveram desempenhos muito expressivos. Veja a seguir um panorama dos resultados.

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Olimpíada Internacional de Matemática (IMO)

Representantes brasileiros na IMO, entre eles três alunos do Colégio Etapa.

Uma das competições mais tradicionais é a IMO, existente desde 1959, quando contou com a participação de apenas sete países. 55 anos depois, mais de 500 estudantes de 103 países estiveram presentes na edição de 2014, na África do Sul. A delegação brasileira incluiu três alunos do Colégio Etapa. Nas provas, os jovens tiveram que resolver problemas de áreas da Matemática, como álgebra, combinatória, geometria e teoria dos números. Em um ótimo desempenho, Murilo Corato Zanarella e Rodrigo Sanches Angelo conquistaram medalhas de prata, enquanto Alexandre Perozim de Faveri levou o bronze.

Olimpíada de Matemática da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa

Olimpíada Internacional de Informática (IOI)

A 4a edição da Olimpíada de Matemática da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa aconteceu em Angola e contou com a participação de delegações de seis países. Este ano o lema foi “Com o conhecimento da Matemática compreendemos melhor o mundo globalizado”, e o Brasil conquistou uma medalha de ouro e três de prata. A de ouro foi mérito do nosso aluno André Hisatsuga.

A IOI é uma das mais reconhecidas competições de Ciência da Computação e teve sua primeira edição em 1989, na Bulgária. Este ano, o evento aconteceu em Taiwan. A IOI é organizada anualmente e os estudantes competem resolvendo problemas de natureza algorítmica. Em 2014, a delegação brasileira conquistou quatro medalhas: três de prata e uma de bronze. Duas pratas foram de Mateus Bezrutchka e Arthur Nascimento, enquanto o bronze foi mérito de Michel Zelazny – todos alunos do Colégio Etapa.

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ESPECIAL Olimpíadas de Linguística

Olimpíada Internacional de Física (IPhO)

Em abril, aconteceu a segunda fase da Olimpíada Brasileira de Linguística (OBL), que contou com a participação de 12 alunos do Colégio Etapa. Todos receberam medalhas – entre elas, duas de ouro. Gabriel Diniz foi, inclusive, o primeiro colocado da competição. Ele também fez parte da equipe da 12a Olimpíada Internacional de Linguística (IOL), na qual foi o único brasileiro premiado, conquistando uma menção honrosa.

Em mais uma conquista brasileira, a equipe ficou com 5 medalhas de bronze na IPhO, que aconteceu no Cazaquistão. O nosso aluno Daniel Mitsutani foi o melhor brasileiro na competição e, entre a pontuação que dá direito aos bronzes, ele foi o quarto melhor colocado. A história da IPhO começou em 1967, na Polônia. Na ocasião, o evento contou com a participação de cinco países. Em 2014, na sua 45a edição, 86 países foram representados por seus estudantes, que competiram resolvendo problemas teóricos e experimentais.

Música brasileira 8a edição do Festival Etapa de Música de Arte acontecerá em agosto

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esde 2007, artistas consagrados nacional e internacionalmente se apresentam em um evento que também abre espaço para os talentos da nova geração. O Festival Etapa de Música de Arte procura difundir o que de melhor se faz no país na área instrumental, erudita e popular. A cada edição, a programação busca equilibrar tipos diferentes de sons e estilos. Este ano, o evento acontecerá em dois finais de semana de agosto, entre os dias 22 e 31, e contará com a participação de grandes músicos. João Donato e Trio, Marco Pereira & Toninho Ferragutti, Rosa Passos e Trio, Villa-Lobos Superstar (Pau Brasil & Ensemble SP), Trio Corrente e Swami Jr. Trio serão as atrações, mostrando um pouco da pluralidade de ritmos e escolas musicais. O Fema, que acontece sempre no Teatro Etapa, na unidade do Colégio em Valinhos, já se tornou uma tradição, pois todos os anos contribui com a cultura da região metropolitana de Campinas. Com esse festival, o Etapa pretende trazer a beleza da grande música aos muitos que já a apreciam e a tantos outros que esperamos que passem a apreciá-la. Não deixe de prestigiar!

PROGRAMAÇÃO 22/ago.

Sexta, 20 h

João Donato e Trio

23/ago.

Sábado, 20 h

Marco Pereira & Toninho Ferragutti

24/ago.

Domingo*, 19 h

Rosa Passos e Trio

29/ago.

Sexta, 20 h

Villa-Lobos Superstar (Pau Brasil & Ensemble SP)

30/ago.

Sábado, 20 h

Trio Corrente

31/ago.

Domingo*, 19 h

Swami Jr. Trio

(*) Aos domingos, as apresentações serão gratuitas.

Para mais informações acesse: www.etapa.com.br/festival

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