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Jornal do Colégio SEGUNDA QUINZENA DE SETEMBRO DE 2014 – NÚMERO 578
ENTREVISTA
“Estudar é um hábito que eu obtive aqui no Etapa e é para o resto da vida.” Elisa Tiemi Sant’ana Takahashi formou-se no Etapa e cursou Engenharia de Produção na Poli. Durante o curso, ficou três anos na França, no programa de intercâmbio da faculdade. Como disse, adquiriu aqui o hábito de estudar todos os dias e pretende continuar sua formação com uma pós-graduação: “Eu me sinto muito grata ao Etapa por ter me habituado ao estudo. O Etapa ensina você a ter esse hábito, o que me ajudou muito na faculdade".
Elisa Tiemi Sant’ana Takahashi
JC – Quando você começou a pensar em Engenharia? Elisa – Na 8a série. Na época eu pensava em Engenharia, mas também pensava em Administração, Economia, Ciên cias Atuariais, até em Relações Internacionais. No Ensino Médio eu pesquisei, tinha uns fóruns de profissões aqui no Etapa, conversei com profissionais das áreas. Acabei achando que Engenharia de Produção seria uma carreira adequada, por ser de Exatas e ter também uma conotação de Humanas. A decisão final por Engenharia de Produção se deu quando? Foi aqui, no 2o ano do Ensino Médio. Além da Fuvest, você prestou outros vestibulares? Prestei Unicamp, Unesp e UFSCar. Fui aprovada em todos. Sempre Engenharia de Produção? Na Unicamp não tinha Engenharia de Produção. Lembro que era Engenharia Mecânica. Você entrou no Etapa em que ano? Em 2004, no 1o ano do Ensino Médio. Sempre ouvi falar muito bem do Etapa e achei que precisava de um colégio que me instigasse mais a estudar. ENTREVISTA
Carreira – Engenharia de Produção
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CONTO
A melhor vingança – Artur Azevedo
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ENTRE PARÊNTESIS
Moedas
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Você se adaptou bem no colégio? Sem problemas. O colégio casou bem com o que eu espe rava. Você participava de atividades extracurriculares? No Etapa eu participei de alguns treinamentos para olim píadas. Uma vez que você se definiu por Engenharia de Produção, mudou alguma coisa em seu estudo? No 3o ano a coisa se intensificou. Mantive sempre o hábito de estudar. O que mudou mais no 3o ano é que, além de estudar para as provas, tentei zerar os exercícios da apostila. Independente de ter prova ou não. Foi puxado, me dediquei muito. Aprovada em todos os vestibulares que prestou, você escolheu estudar na Poli. A adaptação também foi fácil? Acho que sim. A maior dificuldade que os alunos, em geral, têm na Poli é justamente a questão do hábito de estudo. Na Poli, com exceção de algumas matérias, não dá para es tudar na última hora. Eu me sinto muito grata ao Etapa por ter me habituado ao estudo. Antes eu estudava, mas não era um estudo organizado. O Etapa ensina você a ter esse hábito, o que me ajudou muito na faculdade.
ARTIGO Grupo estuda papel do sistema endocanabinoide na doença de Parkinson
POIS É, POESIA
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PARA PENSAR Divórcio
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Fernando Pessoa (Alberto Caeiro) ESPECIAL Novidades no vestibular Unicamp 2015
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ENTREVISTA
Como um bom hábito de estudo ajudou na Poli? Você prestava a Poli e, no final do 1o ano, escolhia uma Grande Área. Produção era na Grande Área Mecânica. A nota do vestibular contava 50% para a escolha da Grande Área. No fim do 2o ano, escolhia um curso nessa Grande Área. Contava a média das notas do 1o e do 2o ano. Então, tinha de estudar. O hábito de estudar todo dia me ajudou bastante a ir para Produção, que era o curso mais concorrido. O que você teve de matérias em cada ano na Poli? No 1o e no 2o ano, o chamado Biênio, eram matérias mais básicas. Tivemos Química, Ciência dos Materiais, as quatro Físicas, uma por semestre, tivemos quatro Cálculos, um por semestre também. Foram duas Álgebras Lineares no 1o ano, Mecânica A e Mecânica B – Mecânica A durante o 1o ano, Mecânica B no 2o ano, na Grande Área, em que a gente se aprofunda um pouco mais, com Introdução à Engenharia, Cálculo Numérico e Programação. A partir do 3o ano começaram matérias mais específicas da Produção, com algumas matérias básicas ainda, como Termodinâmica. Mas aí já passamos a ter Estatística, Programação e Controle da Produção, Logística, Finanças e Engenharia Econômica. No 3o e no 4o ano eram essas matérias, mais de Engenharia de Produção. Tivemos Administração, Organização do Trabalho e Economia. Na metade do 4o ano, eu fui para a França. Foi intercâmbio? Essa ideia surgiu na Poli ou você já sabia dessa possibilidade? Eu sabia que existiam parcerias da faculdade com univer sidades estrangeiras. E sempre senti muita vontade de ter experiências fora. Na Poli, descobri a parceria entre a facul dade e a École Nationale des Ponts et Chaussées (ENPC), também conhecida como École des Ponts Paristech, onde estudei. Eles dizem que é a mais antiga escola de Engenha ria do mundo, fundada em 1747, se não me engano. Como foi esse período de estudos na França? Eu estava no departamento de Engenharia Industrial, como eles falam, que aqui é Produção. Lá, independente do curso, tem algumas matérias obrigatórias e alguns créditos que você tem de usar para fazer opcionais. E você pode fazer em qualquer departamento. Isso é muito rico. Acabei escolhendo matérias um pouco mais na área de finanças. Fiz Macroeconomia, que eu não tinha na Poli. Fiz Sociologia. Vi matéria sobre transportes e sobre recursos hídricos. Você ficou quanto tempo na França? Três anos. O que você fez durante o intercâmbio? Na França, o primeiro ano foi de estudo. No segundo ano inteiro fiz estágio em uma empresa, a Saint-Gobain. Fiquei na área de logística, mais especificamente na parte da pro dução, planejamento detalhado, que era monitorar os níveis de estoque e estabelecer qual seria o plano de produção. Logística é uma vertente muito importante na Engenharia de Produção. Além dessa parte mais operacional tinha tam
bém um projeto em paralelo, que era trazer a gestão da produção para o SAP, um sistema de gestão integrada.
Primeiro ano de estudos, segundo ano no estágio. E no terceiro ano? No terceiro ano na França, metade eu fiz de aula e na outra metade fiz outro estágio. Fiquei seis meses na sede da Louis Vuitton, em Paris. Também na parte de logística. Fazia o planejamento de compras de matérias-primas e componen tes para as bolsas. Foi com base nosse estágio que fiz meu TCC na França, que eu precisava para ter o diploma. Depois, desenvolvi um pouco mais esse trabalho e me formei na Poli. Usei o mesmo tema e a mesma experiência. Qual foi o tema do seu TCC? A análise da confiabilidade desses planos de compra. Quanto valeu esses três anos na França, em termos de crédito para a Poli? Dois anos fora compensam um ano na Poli. Em vez de cinco, você se forma em seis anos. Mas, no caso da minha escola, tinha a possibilidade de fazer, além dos dois anos, mais um ano de estágio. Esse ano não compensava na Poli. Então, você ficou sete anos na graduação? Foram sete anos. Quando você voltou para cá? Em agosto do ano passado. O que faltava fazer na Poli? Tinha o TCC, que na Produção é algo muito grande, eles deixam muitos créditos dedicados ao TCC. E faltavam algumas matérias: Introdução ao Direito, Gestão Estratégica da Produção, Problemas Complexos do Brasil. Já de volta à Poli, qual era sua maior preocupação? No primeiro momento, fazer o TCC, que é levado muito a sério. É individual, essa era minha principal preocupação. A segunda preocupação era o que eu faria depois da Poli. Desde a viagem eu já tinha me inteirado em relação aos processos de trainee. Comecei a me inscrever na França e quando voltei continuei me inscrevendo nos processos. Qual foi o resultado dessa procura? O Itaú contratou uma agência de comportamento de jovens, que se chama Box 1824, que faz estudos sobre jovens com idade entre 18 e 24 anos. A ideia deles é buscar recém-formados que não se inscreveram em programas tradicionais de trainee, mas que tenham um perfil interessante. Um amigo me indicou para a Box, ela se interessou por meu perfil e me indicou para o Itaú. No Itaú, por quais etapas você passou para entrar no programa de trainee? No Itaú foram duas entrevistas, uma com o superintendente da vice-presidência da área e duas pessoas do RH. A segunda entrevista foi com mais pessoas, tinha diretor de RH, superintendente de RH, tinha um diretor da área, e o vice-presidente da área.
ENTREVISTA Quando você foi admitida? Eu comecei a trabalhar no dia 6 de janeiro deste ano. No primeiro mês, o programa tem um treinamento bastante intensivo de diversas matérias importantes para todo mun do que trabalha em banco – noções de Matemática Finan ceira, leitura de demonstrações financeiras, Contabilidade, Macroeconomia. Depois são seis meses em que a gente passa por diversas áreas da vice-presidência, mais ou me nos duas semanas por área. No final, em grupo, a gente entrega um projetinho, para ser apresentado. Você está em que área do banco? A vice-presidência em que estou atuando é nova, chama-se ACIVS (Área de Cartões, Crédito Imobiliário, Veículos e Seguros). O processo não foi finalizado ainda, faltam a parte de planejamento financeiro e a parte de cases. Agora em agosto a gente inicia a parte específica do programa de trainee. A ideia, de certa forma, é casar um pouco os interesses do trainee com os interesses do banco. Depois de deixar de ser trainee, você pode optar por seguir na área em que está ou ir para outra área? A ideia é, uma vez encerrado o programa de trainee, que você continue na sua área. Aí você muda de status. Uma vez que acaba o programa, dependendo do seu rendimento, você pode virar analista pleno ou sênior. A maioria acaba virando analista pleno, o que, no Itaú, é uma posição que exige bastante conhecimento. Com relação ao mercado de trabalho, como está Engenharia de Produção? Eu lembro que, na época em que comecei na Poli, Produção estava no auge. Hoje em dia, que não está tão fácil achar um bom emprego, pessoas com boa formação sempre vão ter lugar. Uma coisa que acaba pesando muito é a facul dade que você fez. Experiência internacional é importante, principalmente para aqueles que precisam trabalhar em empresas multinacionais. Idiomas e experiência profissio nal contam muito. Pessoas com um bom currículo con seguem se encaixar no mercado. Não é só porque você fez uma boa faculdade que vai ser fácil. Mas já tem meio caminho andado. O que você acha que diferencia uma pessoa na hora de conseguir um emprego? No seu caso foi realmente a experiência internacional? Uma coisa que eu achei que contribuiu muito foi a Iniciação Científica que fiz na Poli. O assunto era Física para engenheiros. Era o uso de experimentos nas matérias de Física para Engenharia. No final, consegui publicar um artigo que apresentei num congresso em Seul, na Coreia do Sul. Foi minha primeira experiência internacional. Fui sozinha. Quando você fez a Iniciação Científica? Ela durou entre 2008 e 2009.
Jornal do Colégio
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Do 2o para o 3o ano? Exatamente. Em 2009 fui para a Coreia apresentar o tra balho, que acabou abrindo portas. Esses diferenciais con tam. Quais são seus planos para este ano? Começar agora na minha área específica no banco, tentar aprender o máximo que puder e desenvolver algumas competências que ainda não tenho, mas que são essenciais para aqueles que querem fazer gestão de pessoas. E tentar fazer o melhor que eu conseguir. Uma vez acabado o programa de trainee, provavelmente continuar na área e tentar subir a escadinha no banco. Quem sabe conseguir uma gestão de pessoas, que é o que eu desejo. Fora isso, não deixar de lado os estudos. Estou tentando ver, talvez para o ano que vem, uma pós-graduação em finanças, para conhecer bem a atividade do banco. E talvez, depois de uns dois, três anos de experiência profissional, me candidatar a um MBA. Estudar é um hábito que eu obtive aqui no Etapa e é para o resto da vida. Como o Etapa foi importante no seu dia a dia? No Etapa eu conheci pessoas brilhantes e isso motiva a gente a querer melhorar. Sempre fui rodeada de pessoas extremamente inteligentes e muito humildes, que ensina vam caso a gente tivesse dúvidas. Eu ganhei a disciplina de estudar e a humildade de dizer: “não estou sabendo isso aqui, preciso aprender”. Que recordações você tem do Colégio? Tenho recordações muito boas. Conheci pessoas legais, com as quais mantenho contato até hoje. Tinha algumas atividades culturais a que eu ia bastante, e as gincanas. Lembro também de momentos que me exigiam bastante em termos de estudos. Tenho boas recordações. Adquiri aqui hábitos valiosíssimos. O que você pode dizer a quem vai prestar Engenharia? Acho que é uma profissão extremamente completa. A grande contribuição do curso de Engenharia é ensinar você a aprender coisas. É bem isso, aprender a aprender. A Engenharia ensina você a buscar, a se virar, a ir atrás de pessoas para te ensinar, a pesquisar. Você quer dizer mais alguma coisa para nossos alunos? Como recado final, quero sugerir que se dediquem muito nesta etapa. Pode ser difícil de vez em quando, mas vocês vão olhar para trás e ver que todo esforço vale a pena, que é um aprendizado que vai ajudar não só na faculdade mas também em diversas fases da vida. É claro que é importante cada um ter suas preferências, estar sempre aberto e fazer com gosto o que vier. É o que faz um profissional ser desejado no mercado.
Jornal do Colégio ETAPA, editado por Etapa Ensino e Cultura REDAÇÃO: Rua Vergueiro, 1 987 – CEP 04101-000 – Paraíso – São Paulo – SP JORNALISTA RESPONSÁVEL: Egle M. Gallian – M.T. 15343
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CONTO
A melhor vingança Artur Azevedo
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Vieirinha namorou durante dois anos a Xandoca; mas o pai dele, quando soube do namoro, fez intervir a sua autoridade paterna. – A rapariga não tem eira nem beira, meu rapaz; o pai é um simples empregado público que mal ganha para sustentar a família! Foge dela antes que as coisas assumam proporções maiores, porque, se te casares com essa moça, não contes absolutamente comigo – faze de conta que morri, e morri sem te deixar vintém. Tu és bonito, inteligente, e tens a ventura de ser meu filho; podes fazer um bom casamento. Não sei se o Vieirinha gostava deveras da Xandoca; só sei que depois dessa observação do Comendador Vieira nunca mais passou pela Rua Francisco Eugênio, onde a rapariga todas as tardes o esperava com um sorriso nos lábios e o coração a palpitar de esperança e de amor. O brusco desaparecimento do moço fez com que ela sofresse muito, pois que já se considerava noiva, e era tida como tal por toda a vizinhança; faltava apenas o pedido oficial. Entretanto, Xandoca, passado algum tempo, começou a consolar-se, porque outro homem, se bem que menos jovem, menos bonito e menos elegante que o Vieirinha, entrou a requestá-la seriamente, e não tardou a oferecer-lhe o seu nome. Pouco tempo depois estavam casados. Dir-se-ia que Xandoca foi uma boa fada que entrou em casa desse homem. Logo que ele se casou, o seu estabelecimento comercial entrou num maravilhoso período de prosperidade. Em pouco mais de dois anos, Cardoso – era esse o seu nome – estava rico; e era um dos negociantes mais considerados e mais adulados da praça do Rio de Janeiro. Ele e Xandoca amavam-se e viviam na mais perfeita harmonia, gozando, sem ostentação, os seus haveres e de vez em quando correndo mundo. Uma tarde em que D. Alexandrina (já ninguém a chamava Xandoca) estava à janela do seu palacete, em companhia do marido, viu passar na rua um bêbedo maltrapilho, que servia de divertimento aos garotos, e reconheceu, surpresa, que o desgraçado era o Vieirinha. Ficou tão comovida, que o Cardoso suspeitou, naturalmente, que ela conhecesse o pobre-diabo, e interrogou-a neste sentido.
– Antes de nos casarmos, respondeu ela, confessei-te, com toda a lealdade, que tinha sido namorada e noiva, ou quase noiva, de um miserável que fugiu de mim, sem me dar a menor satisfação, para obedecer a uma intimação do pai. – Bem sei, o tal Vieirinha, filho do Comendador Vieira, que morreu há três ou quatro anos, depois de ter perdido em especulações da bolsa tudo quanto possuía. – Pois bem – o Vieirinha ali está! E Alexandrina apontou para o bêbado, que afinal caíra sobre a calçada, e dormia. – Pois, filha, disse o Cardoso, tens agora uma boa ocasião de te vingares! – Queres tu melhor vingança? – Certamente, muito melhor, e, se me dás licença, agirei por ti. – Faze o que quiseres, contanto que não lhe faças mal. – Pelo contrário. Quando no dia seguinte o Vieirinha despertou, estava comodamente deitado numa cama limpa e tinha diante de si um homem de confiança do Cardoso. – Onde estou eu? – Não se importe. Levante-se para tomar banho! O Vieirinha deixou-se levar como uma criança. Tomou banho, vestiu roupas novas, foi submetido à tesoura e à navalha de um barbeiro, e almoçou como um príncipe. Depois de tudo isso, foi levado pelo mesmo homem a uma fábrica, onde, por ordem do Cardoso, ficou empregado. Antes de se retirar, o homem que o levava deu-lhe algum dinheiro e disse-lhe: – O senhor fica empregado nesta fábrica até o dia em que torne a beber. – Mas a quem devo tantos benefícios? – A uma pessoa que se compadeceu do senhor e deseja guardar o incógnito. O Vieirinha atribuiu tudo a qualquer velho amigo do pai; deixou de beber, tomou caminho, não é mau empregado, e há de morrer sem nunca ter sabido que a sua regeneração foi uma vingança. Extraído de: www.dominiopublico.com.br
(ENTRE PARÊNTESIS)
Moedas Este é um dos mais fáceis problemas com balança e moedas. Temos uma balança de prato e 9 moedas, sendo que apenas uma delas é mais pesada que as outras, embora todas tenham a mesma aparência. Como, com duas pesagens, podemos identificar a moeda mais pesada?
RESPOSTA Coloque três moedas em cada prato da balança. Se a balança estiver em equilíbrio, então a moeda diferente é uma das três que não foram usadas; caso contrário, um dos pratos estaria mais baixo. Estamos agora restritos a três moedas, digamos A, B e C. Pese A e B. Se a balança estiver em equilíbrio, então C é a moeda diferente; caso contrário, ela estará no prato que estiver mais baixo.
ARTIGO
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Grupo estuda papel do sistema endocanabinoide na doença de Parkinson Karina Toledo
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ma pesquisa em andamento no Instituto de Ciên cias Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP) tenta desvendar como o sistema endocanabi noide está envolvido no processo neurodegenerativo que acomete portadores da doença de Parkinson. O sistema endocanabinoide é formado por um conjunto de neurotransmissores quimicamente semelhantes a com postos químicos existentes na maconha (Cannabis sativa) e por seus receptores cerebrais. De acordo com Andrea da Silva Torrão, coordenadora da pesquisa apoiada pela FAPESP, esse conhecimento poderá ajudar no desenvolvimento de novas ferramentas terapêu ticas. “Os primeiros resultados obtidos mostram que o siste ma de neurotransmissão endocanabinoide está envolvido na doença de Parkinson, mas ainda não sabemos se para o bem ou para o mal. Conhecendo melhor como ele se com porta, poderemos ir atrás de drogas capazes de pelo menos melhorar a qualidade de vida dos pacientes”, disse Torrão. A doença de Parkinson é resultante da perda progressiva de neurônios que produzem o neurotransmissor dopamina e estão situados em um núcleo cerebral relacionado ao con trole de movimentos conhecido como substância negra. “A substância negra faz parte de um grande complexo cerebral denominado núcleos da base. Uma das funções dos núcleos da base é a organização dos movimentos vo luntários”, explicou a pesquisadora. Quando a perda dos neurônios dopaminérgicos ultra passa 50%, começam a se manifestar sintomas como tre mores de repouso, rigidez muscular, bradicinesia (lentidão de movimento) e acinesia (imobilidade). A doença também costuma causar depressão, problemas cognitivos e, em es tágio avançado, demência. Para tentar descobrir o que dispara a degeneração dos neurônios dopaminérgicos e entender como o sistema en docanabinoide participa do processo, os pesquisadores do ICB induziram um quadro semelhante ao Parkinson em ra tos. “Os endocanabinoides têm a função de neuromodula ção. Fazem uma espécie de ajuste fino das sinapses e con trolam a liberação de outros transmissores dos neurônios. Os receptores canabinoides CB1 ficam principalmente nos terminais axônicos de dois tipos de neurônios: os gabaér gicos – que usam como mediador o ácido gama-aminobutí
A CONTROL SIDE 6-ONDA SIDE
1 DPL
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Região cerebral afetada pela doença é rica em neurônios com receptores para os neurotransmissores com estrutura semelhante aos compostos químicos da maconha (figura mostra marcação para TH, enzima envolvida na síntese de dopamina).
rico (GABA) – e os glutamatérgicos – que usam como me diador o glutamato. Ambos existem em grande quantidade nos núcleos da base”, disse Torrão. Os experimentos com modelo animal foram realizados durante o doutorado de Gabriela Pena Chaves-Kirsten, com Bolsa da FAPESP. Parte dos resultados foi publicada na re vista PLoS One. A morte dos neurônios dopaminérgicos foi provocada em apenas um dos hemisférios cerebrais com a injeção de uma neurotoxina conhecida como 6-hidroxidopamina. “Por meio de um procedimento cirúrgico, injetamos essa substância diretamente no estriado, um dos compo nentes dos núcleos da base. Após uma ou duas semanas é possível observar uma perda significativa dos neurônios dopaminérgicos e, por meio de testes comportamentais, vimos que o animal já apresentava déficit locomotor”, con tou Torrão. Em uma primeira etapa da pesquisa, os cientistas avalia ram como a expressão do receptor CB1 era alterada com a injeção da neurotoxina. Quatro estruturas dos núcleos da base foram monitora das: o estriado, as porções externa e interna do chamado globo pálido e a outra parte da substância negra que não contém os neurônios dopaminérgicos e é conhecida como porção reticulada. “Todas essas regiões cerebrais estão en
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ARTIGO
volvidas no controle locomotor e dependem da informação dos neurônios dopaminérgicos”, explicou Torrão. O nível de expressão de CB1 foi medido no primeiro, no quinto, no décimo, no vigésimo e no sexagésimo dia após a indução da morte neuronal. Enquanto no estriado os pes quisadores não observaram nenhuma alteração, na porção reticulada da substância negra a expressão da proteína es tava diminuída já a partir do primeiro dia. Por outro lado, o globo pálido apresentou um padrão bifá sico nos níveis de CB1. Na sua porção externa (EGP), houve um aumento inicial de aproximadamente 40% em relação ao lado controle, seguido de uma diminuição gradativa ao longo do tempo. No quinto dia, a expressão era 25% maior que no lado controle e, no vigésimo dia, já estava igual. No sexagési mo dia, estava 20% menor do que no grupo controle. Na porção interna do globo pálido (IGP), foi observado um aumento da expressão de CB1 de 50% em relação ao controle apenas no primeiro dia. A partir do quinto dia houve uma diminuição gradual, chegando a 60% abaixo do lado controle no sexagésimo dia. “Acreditamos que esse aumento inicial observado em algumas estruturas dos núcleos da base esteja relacionado a um processo compensatório de plasticidade neural envol vendo a transmissão gabaérgica. Parece ser uma tentativa do sistema nervoso de compensar a falta dos neurônios dopaminérgicos. Mas a estratégia acaba falhando, pois a degeneração neuronal continua ocorrendo e os sintomas motores se agravam”, avaliou Torrão.
Testes com drogas Em uma segunda etapa da pesquisa, o grupo decidiu tra tar os ratos com compostos canabinoides para tentar re verter o processo de degeneração neuronal. Dois tipos de
substâncias foram testados: os antagonistas canabinoides, que bloqueiam o receptor, e os agonistas canabinoides, drogas quimicamente semelhantes aos compostos ativos extraídos da maconha e aos endocanabinoides. Os animais foram divididos em três grupos. O primeiro recebeu apenas a substância agonista, o segundo, a anta gonista e o terceiro, placebo. O tratamento começou no dia seguinte à injeção de 6-hidroxidopamina e durou quatro dias. Além de avaliações comportamentais dos sintomas locomotores, os pesquisa dores acompanharam a degeneração neuronal por meio de ensaios de imunoistoquímica, que mediam a expressão de dopamina. “O tratamento com o agonista canabinoide aparente mente piorou os sintomas motores e a degeneração do paminérgica e, portanto, parece não ser uma boa opção de terapia. Já o composto antagonista, embora não tenha conseguido evitar a morte progressiva dos neurônios, conseguiu ao menos melhorar os sintomas motores nos ratos. Mas ainda não sabemos exatamente como”, contou Torrão. A hipótese, acrescentou a pesquisadora, é que, ao con seguir bloquear o aumento inicial na expressão da proteína CB1, a droga retardaria a evolução dos sintomas motores. Na tentativa de compreender melhor os achados, os pes quisadores do ICB/USP estão realizando agora estudos in vitro com as drogas. “É mais fácil estudar mecanismos moleculares em cultu ras de células, pois é uma situação com menos variáveis, na qual não há outros processos metabólicos para interferir”, disse Torrão. Extraído de: Agência FAPESP – Divulgando a cultura científica, jul./2014.
PARA PENSAR Chico Bacon/Caco Galhardo
1) No 3o quadrinho, o que indica a fala da atendente: conformidade ou surpresa? 2) Por que o personagem associa o divórcio à carta de alforria?
RESPOSTA 1) Surpresa, afinal o documento a ela entregue não corresponde ao solicitado. 2) A carta de alforria era dada (mas principalmente vendida) aos escravos como certificado de sua liberdade ou libertação. Ao associar o divórcio à liberdade, o personagem ironiza os “prazeres” da vida conjugal.
POIS É, POESIA
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Fernando Pessoa (Alberto Caeiro) (1888-1935) XVII
N
o meu prato que mistura de Natureza! As minhas irmãs as plantas, As companheiras das fontes, as santas A quem ninguém reza... E cortam-as e vêm à nossa mesa E nos hotéis os hóspedes ruidosos, Que chegam com correias tendo mantas Pedem “Salada”, descuidosos..., Sem pensar que exigem à Terra-Mãe A sua frescura e os seus filhos primeiros, As primeiras verdes palavras que ela tem, As primeiras cousas vivas e irisantes Que Noé viu Quando as águas desceram e o cimo dos montes Verde e alagado surgiu E no ar por onde a pomba apareceu O arco-íris se esbateu...
XXII
C
omo quem num dia de Verão abre a porta de casa E espreita para o calor dos campos com a cara toda, Às vezes, de repente, bate-me a Natureza de chapa Na cara dos meus sentidos, E eu fico confuso, perturbado, querendo perceber Não sei bem como nem o quê... Mas quem me mandou a mim querer perceber? Quem me disse que havia que perceber? Quando o Verão me passa pela cara A mão leve e quente da sua brisa, Só tenho que sentir agrado porque é brisa Ou que sentir desagrado porque é quente, E de qualquer maneira que eu o sinta, Assim, porque assim o sinto, é que é meu dever senti-lo...
XXXIV
A
cho tão natural que não se pense Que me ponho a rir às vezes, sozinho, Não sei bem de quê, mas é de qualquer cousa Que tem que ver com haver gente que pensa... Que pensará o meu muro da minha sombra? Pergunto-me às vezes isto até dar por mim A perguntar-me cousas... E então desagrado-me, e incomodo-me Como se desse por mim com um pé dormente... Que pensará isto de aquilo? Nada pensa nada. Terá a terra consciência das pedras e plantas que tem? Se ela a tiver, que a tenha... Que me importa isso a mim?
Se eu pensasse nessas cousas, Deixaria de ver as árvores e as plantas E deixava de ver a Terra, Para ver só os meus pensamentos... Entristecia e ficava às escuras. E assim, sem pensar tenho a Terra e o Céu.
XLIV
A
cordo de noite subitamente, E o meu relógio ocupa a noite toda. Não sinto a Natureza lá fora. O meu quarto é uma cousa escura com paredes vagamente [brancas. Lá fora há um sossego como se nada existisse. Só o relógio prossegue o seu ruído. E esta pequena cousa de engrenagens que está em cima da minha [mesa Abafa toda a existência da terra e do céu... Quase que me perco a pensar o que isto significa, Mas estaco, e sinto-me sorrir na noite com os cantos da boca, Porque a única cousa que o meu relógio simboliza ou significa Enchendo com a sua pequenez a noite enorme É a curiosa sensação de encher a noite enorme Com a sua pequenez...
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Passa uma borboleta por diante de mim
E pela primeira vez no Universo eu reparo Que as borboletas não têm cor nem movimento, Assim como as flores não têm perfume nem cor. A cor é que tem cor nas asas da borboleta, No movimento da borboleta o movimento é que se move, O perfume é que tem perfume no perfume da flor. A borboleta é apenas borboleta E a flor é apenas flor.
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C
omo um grande borrão de fogo sujo O sol posto demora-se nas nuvens que ficam. Vem um silvo vago de longe na tarde muito calma. Deve ser dum comboio longínquo. Neste momento vem-me uma vaga saudade E um vago desejo plácido Que aparece e desaparece. Também às vezes, à flor dos ribeiros, Formam-se bolhas na água Que nascem e se desmancham E não têm sentido nenhum Salvo serem bolhas de água Que nascem e se desmancham. Extraído de: “Poemas Completos de Alberto Caeiro”, in: Obra poética, Ed. Aguilar, 1965.
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ESPECIAL
Novidades no vestibular Unicamp 2015 A Comvest divulgou mudanças na estrutura do processo seletivo Outra novidade é a inclusão de Inglês e de qua tro questões interdisciplinares na 1a fase. Segundo o Prof. Dr. José Tadeu Jorge, reitor da universidade, “não existe mais profissional que se sustente única e exclusivamente pelo conhecimento da sua espe cificidade de formação. O mundo hoje é um mun do interdisciplinar, portanto os profissionais também precisam ganhar essa característica”. A ideia é que, nos próximos anos, a quantidade de questões desse tipo venha a aumentar. A prova da 1a fase acontecerá no dia 23 de novembro de 2014, enquanto a 2a fase será em 11, 12 e 13 de janeiro de 2015. Veja a distribuição das provas nesses dias: 11/jan. – Redação, Língua Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa
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Comvest anunciou algumas mudanças para o vestibular 2015. As principais delas são referentes ao formato da prova. Até o ano passado, a 1a fase do processo seletivo continha 48 questões de múltipla escolha e mais duas redações. Agora, o teste de Conhecimentos Gerais contará com 90 questões, também de múltipla escolha, e as propostas de textos a serem desenvolvidos pelos candidatos ficarão na 2a fase. Na visão do coordenador executivo da Comvest, Prof. Dr. Edmundo Capelas de Oliveira, essa nova es trutura beneficiará o estudante bem preparado. Além disso, com a mudança, a nota da redação passará a ter peso igual para todas as carreiras (20% na nota final), diferente do que acontecia antes.
12/jan. – Matemática, História e Geografia 13/jan. – Física, Química e Biologia Serão convocados para a 2a fase os candidatos que optarem pelo curso em 1a opção e que obtiverem nota igual ou superior a 550 pontos na prova de Co nhecimento Gerais. O número máximo de convoca dos para a 2a fase nos cursos cuja relação candidato/ vaga seja menor do que 100, será limitado a seis ve zes o número de vagas do curso. Para os cursos cuja relação candidato/vaga seja maior ou igual a 100, o limite máximo será de oito vezes o número de vagas do curso, entre candidatos de 1a opção. O número mínimo de convocados para a 2a fase em cada curso será de três vezes o número de vagas do curso.
AGENDA CULTURAL
São Paulo – Clube de Cinema (quintas, das 19h10 às 21h35, sala 65) 18.09 – O silêncio dos inocentes (Jonathan Demme: 1991) 25.09 – O sétimo selo (Ingmar Bergman: 1957)
São Paulo – Clube do Livro (Mensal, das 19h10 às 21h35, sala 65) 23.09 – Noites brancas (Fiódor Dostoiévski)
Valinhos – Clube de Cinema (Sextas, das 14h05 às 15h45) 19.09 – Intocáveis (Olivier Nakache & Éric Toledano: 2012) 26.09 – Janela indiscreta (Alfred Hitchcock: 1954)