581
Jornal do Colégio PRIMEIRA QUINZENA DE NOVEMBRO DE 2014 – NÚMERO 581
ENTREVISTA
“Em termos de conteúdo eu estava bem mais preparado que muita gente.” André Bina Possatto entrou direto na Poli USP, à frente de 98,7% dos aprovados. Interrompeu o curso para fazer um ano de intercâmbio na Inglaterra. Nesta entrevista, ele fala do Etapa, da Poli, do intercâmbio e das atividades profissionais. Ele afirma que “o mercado para Engenharia já foi, é e vai continuar muito forte; não tem falta de emprego em Engenharia”.
André Bina Possatto
JC – Quando você começou a pensar em ser enge nheiro? André – Mais ou menos na 8a série. O que eu queria até então era mais a parte de Administração. Sempre gostei de mexer com finanças, sempre gostei de Matemática e achava que ia gostar da parte administrativa. Mas aí me apresentaram Engenharia de Produção em uma palestra e falei: “Pode-se fazer uma coisa mais embasada talvez.” Escolhi então Engenharia de Produção.
Além da Fuvest, você prestou outros vestibulares? Prestei também UFSCar e Mauá. Sempre para Engenharia de Produção. Passei em 10o lugar na Poli (750 aprovados); em 4o lugar na UFSCar; e em 1o lugar na Mauá.
Como você conheceu o Etapa? Meus pais correram atrás de colégio na época. Fomos conhecer outros também, mas escolhemos o Etapa. Eu gostei, meus pais gostaram bastante.
Você já veio para o Etapa pensando em prestar Enge nharia? Já queria prestar Engenharia de Produção. Nos três anos no colégio não passei por crise de escolha de curso.
ENTREVISTA
Carreira – Engenharia de Produção
1
Em termos de nível da escola eu senti um pouco, vim de uma escola bem menor. Mas engatei bem.
No 3o ano você mudou alguma coisa na sua maneira de estudar? Pegava vestibular antigo, resolvia, via quanto eu tirava, via meus pontos fracos e trabalhava neles. Fazia a avaliação de erros. Sempre gostei de fazer dessa maneira. Se eu quero enfrentar uma prova, tenho de saber exatamente como ela é.
Você chegou a pensar na possibilidade de não passar direto do 3o ano? Sempre fiz tudo certinho, dava tudo certo. Obviamente você fica em dúvida porque é difícil e tem coisas que fogem do seu controle, mas sempre fui confiante.
Como foi seu início na Poli? Em termos de conteúdo eu estava bem mais preparado que muita gente. Eu e uma turma grande do Etapa que passou comigo. Todos nós sentimos muito menos dificuldade em termos de conhecimento que os outros.
ARTIGO Bactéria pode ter sistema imune rudimentar, indica estudo
PARA PENSAR
6
ENTRE PARÊNTESIS
CONTO
A polêmica – Artur Azevedo
Como foi sua adaptação no colégio?
4
Jardineiro
7
Stonehenge
7
ESPECIAL
Torneios esportivos
8
2
ENTREVISTA
Além das aulas, você participou de alguma atividade na Poli?
Em que condições você passou o ano de intercâmbio na Inglaterra?
Participei da Empresa Júnior desde o 1o ano até o final do 3o.
Vivia na universidade, a 10 minutos das salas de aula, dos professores, de qualquer coisa que eu precisasse, diferente da minha vida normal. Morava numa acomo dação universitária, eram 12 pessoas para cada cozinha, banheiro no corredor, quartos individuais.
O que você fazia na Júnior? Consultoria em Engenharia, de maneira geral. Claro que, como a maioria dos participantes é dos dois primeiros anos de curso, você não consegue chegar muito longe tecnicamente. Você vende projeto muito barato porque não tem conhecimentos que justifiquem aumentar o custo. Mas é uma oportunidade de fazer coisas interessantes. Fiz projeto com empresas grandes.
Foi o primeiro contato profissional que você teve? No ramo da Engenharia, sim. Mas de setembro de 2010 a junho de 2013 eu trabalhei no Etapa, como plantonista de Física. Saí para fazer intercâmbio.
Por ter feito intercâmbio, você está no 5o ano corrido, 4o de matéria. O que teve de matérias em cada ano? No 1o e no 2o ano, matérias básicas de Matemática e de Física e matérias introdutórias de Engenharia. Cálculos, Física, Mecânica, Manufatura – que é matéria geral da Mecânica inteira –, Projeto Mecânico, a gente teve no 2o ano. Elétrica também. Pelo menos uma matéria de cada Engenharia para você ter uma noção básica.
No 3 ano há mudanças? o
Como era sua vida na Universidade de Warwick? A universidade tem muito aluno internacional, conheci gente de todo canto, até mais do que ingleses, que na verdade acabam ficando entre eles. Conheci alemães, belgas, franceses, tinha gente de Cingapura. Sobrava bastante dinheiro para viajar, se quisesse.
No ano em que ficou na Europa, conheceu muitos paí ses? Fiz duas viagens grandes, nas férias de Natal e Páscoa, cada uma de um mês. Na de Natal saí no primeiro dia que deu e voltei no último. Foram 35 dias de viagem. Fiz Polônia, Suécia, Alemanha, Hungria, República Tcheca, Áustria e também fui a Barcelona. Fiz Bélgica em outra viagem.
Nesse período você retornou ao Brasil? Não, pela bolsa não poderia voltar para o Brasil.
Você voltou agora em agosto. Como foi o reinício na Poli?
No 3o ano são as matérias básicas da Produção, as matérias que vão dar a base teórica para fazer o curso mesmo. Pesquisa Operacional, de que eu gostava bas tante, Organização e Administração. Contabilidade, Pro jeto de TI. E ainda tinha algumas matérias básicas de Engenharia.
Perdi três semanas de aula porque ainda não tinha terminado o estágio de pesquisa que era do programa. Fiquei num departamento dentro da faculdade. Trabalhava com simulação de eventos com um grupo de automação. Integração de softwares. Era legal, mas bem mais técnico.
E este ano?
Teve porque são softwares que auxiliam o controle da produção. Softwares para você analisar a capacidade considerando variáveis aleatórias.
No 4 ano entram matérias mais aprofundadas, até mais práticas, digamos assim. Todas as matérias têm trabalhos gigantescos em empresas. Tem Logística, Ergonomia, Gestão de TI, Projeto de Produto. Um ano bem puxado. o
O próximo ano será o seu último na Poli. Como é o final do curso? No 5o ano tem matérias de dois créditos para comple mentar, mas são matérias importantes. Tem Marketing, Gestão de Serviços, Gestão da Estratégia, Projeto Integrado de Produção. Já fiz algumas, para adiantar. E tem o TCC, que é individual e baseado no seu estágio.
Você fez intercâmbio em qual universidade? Na Universidade de Warwick, em Coventry, no Reino Unido.
Quando você foi pra lá? Como o ano letivo lá começa em setembro, eu fui em setembro de 2013 e voltei no final de agosto de 2014.
O estágio de pesquisa teve relação com Produção?
Você voltou há pouco tempo para a Poli e já está estagiando. Como foi isso? Fiz todo o processo seletivo antes de viajar. Voltei e comecei a trabalhar. Já fiz um mês de estágio.
Você está estagiando onde? Na A.T. Kearney, uma consultoria estratégica. Gosto muito, um ambiente legal. Trabalho bastante, isso é normal em consultoria, mas também a remuneração é legal. Eles respeitam meu horário da Poli, nunca tive problema.
Na prática, o que você faz? Consultoria é por projeto. Você tem um projeto, tem um gerente e a equipe que foi alocada naquele pro jeto. Então, basicamente você vai fazer uma imersão no cliente, saber o que o cliente faz e como você pode
ENTREVISTA
3
melhorar. Você tem de ir fundo para entender as ope rações daquele cliente. É bem dinâmico, não tem rotina.
com mais foco no estágio, porque vou ter menos carga na Poli.
Qual é a importância do estágio na formação?
Muitos dizem que as matérias dos primeiros anos não parecem ligadas à Engenharia. Como elas parecem hoje a você?
A faculdade pública é de alta qualidade, mas muito teórica. O estágio é onde você vai ver onde aquilo entra. Na prática tem muitos problemas com os quais você não depara na faculdade. No meu estágio eu recebo muitas informações do cliente que não vêm bonitinhas, nem tratadas. Às vezes não são coerentes e você tem de lidar com isso. Tratamento de informação é um problema grande.
Quando entrou na Engenharia de Produção você já pensava em fazer consultoria, ou outra coisa? Eu não tinha tanta consciência se o que eu queria fazer era consultoria ou não, porque eu não conhecia tantas oportunidades. Mas acho que bate com o que eu sempre imaginei.
Você falou que gostava de Finanças? Isso muito atrás. Eu gosto muito de Matemática aplicada, otimização. Faço isso no estágio e faço isso no curso.
Como está o mercado de trabalho para o engenheiro em geral? O mercado para Engenharia já foi, é e vai continuar muito forte. Não tem falta de emprego em Engenharia. Tem muito mercado, inclusive fora de aplicações clássicas da Engenharia: na Consultoria, no Mercado Financeiro. Por isso até faltam engenheiros que façam Engenharia propriamente dita.
Você se forma no ano que vem. Qual é sua maior preo cupação em relação ao último ano de faculdade? Conseguir me formar e estagiar ao mesmo tempo. O estágio demanda muito. E a graduação vai ter um TCC que não é pouca coisa. Eu adiantei muitas matérias, mas tem algumas que eu ainda preciso fazer. E já projetar um caminho que depois eu possa seguir, seja na área em que estou, seja em outra.
Quais são as áreas de atuação do engenheiro? Onde há um problema, há uma oportunidade para o engenheiro. Pensar a questão em projeto, ver como se faz alguma coisa, como melhorar alguma coisa. E capa cidade de analisar grande quantidade de dados. Não que outros cursos não tenham isso, mas é uma coisa forte na Engenharia.
Quais são seus planos para este ano? Meu objetivo neste momento é sobreviver ao semestre e conseguir arrumar a casa. E no ano que vem voltar
Jornal do Colégio
Várias matérias constituem a base de seu raciocínio. Não é que de repente você viu aplicação prática para elas de uma forma direta. No curso inteiro elas estavam presentes como um background para aquilo que você estava aprendendo. Uma matéria a que não dava valor durante o curso é Cálculo Numérico. É uma matéria difícil, você não entende para que serve. Depois fui vendo que era muito necessária para resolver coisas que você não pode resolver de forma analítica.
Alguma matéria do Etapa ganhou importância para você especialmente depois de que saiu do colégio? História. História é muito importante para você ter um contexto das coisas. Sem um contexto de como e por que as coisas surgiram, você muitas vezes perde a essência.
Você ainda tem amigos da época do colégio? Um monte. Minha turma de amigos ainda é baseada muito no Etapa. Adicionei muita gente, mas boa parte ainda é do Etapa.
Quais são aquelas pequenas recordações que ficam da época do colégio? Eu lembro muito de ir comer no Zé, ir ao Centro Cultural, andar na Paulista, coisas da região que hoje eu lembro e das quais sinto falta. E dentro do Etapa, a gincana era sensacional.
O que você diria a quem vai prestar Engenharia no fim do ano? Chegou a hora. É botar na área e chutar para o gol. Mante nha o foco e o controle emocional, isso é importantíssimo. Esteja pronto em todos os sentidos para fazer a prova, no sentido do conhecimento e do preparo emo cional. Cuide também do descanso. Você tem de estar bem fisi camente.
Você quer dizer mais alguma coisa para os nossos alunos? Para o pessoal do 3o ano: espero que vocês tenham gos tado. Para os outros anos, aproveitem ainda os anos de colegial, porque é uma época muito boa, em que vocês têm uma vantagem impressionante em relação ao que viverão no futuro. O vestibular é uma coisa tão grande, tão forte nos seus horizontes que vocês não têm ainda de se preocupar com o resto da sua vida. Isso vem depois.
Jornal do Colégio ETAPA, editado por Etapa Ensino e Cultura REDAÇÃO: Rua Vergueiro, 1 987 – CEP 04101-000 – Paraíso – São Paulo – SP JORNALISTA RESPONSÁVEL: Egle M. Gallian – M.T. 15343
4
CONTO
A polêmica Artur Azevedo
O
Romualdo tinha perdido, havia já dois ou três meses, o seu lugar de redator numa folha diária; estava sem ganhar vintém, vivendo sabe Deus com que dificuldades, a maldizer o instante em que, levado por uma quimera da juventude, se lembrara de abraçar uma carreira tão incerta e precária como a do jornalismo. Felizmente era solteiro, e o dono da “pensão” onde ele morava fornecia-lhe casa e comida a crédito, em atenção aos belos tempos em que nele tivera o mais pontual dos locatários. Cansado de oferecer em pura perda os seus serviços literários a quanto jornal havia então no Rio de Janeiro, o Romualdo lembrou-se, um dia, de procurar ocupação no comércio, abandonando para sempre as suas veleidades de escritor público, os seus desejos de consideração e renome. Para isso, foi ter com um negociante rico, por nome Caldas, que tinha sido seu condiscípulo no Colégio Vitório, a quem jamais ocupara, embora ele o tratasse com muita amizade e o tuteasse, quando raras vezes se encontravam na rua. O negociante ouviu-o, e disse-lhe: – Tratarei mais tarde de arranjar um emprego que te sirva, por enquanto preciso da tua pena. Sim, da tua pena. Apareceste ao pintar! Foste a sopa que me caiu no mel! Quando entraste por aquela porta, estava eu a matutar, sem saber a quem me dirigisse para prestar-me o serviço que te vou pedir. Confesso que não me tinha lembrado de ti... perdoa... – Estou às tuas ordens. – Preciso publicar amanhã, impreterivelmente, no Jornal do Comércio, um artigo contra o Saraiva. – Que Saraiva? – O da rua Direita. – O João Fernandes Saraiva? – Esse mesmo. – E queres tu que seja eu quem escreva esse artigo? – Sim. Ganharás uns cobres que não te farão mal al gum. A essa palavra “cobres”, o Romualdo teve um estreme ção de alegria; mas caiu em si: – Desculpa, Caldas; bem sabes que o Saraiva é, como tu, meu amigo... como tu, foi meu companheiro de colégio... – Quando conheceres a questão que vai ser o assun to desse artigo, não te recusarás a escrevê-lo, porque não admito que sejas mais amigo dele do que meu. Demais, nota uma coisa: não quero insultá-lo, não quero dizer nada que o fira na sua honra, quero tratá-lo com luva de pelica. Sou eu o primeiro a lastimar que uma
questão de dinheiro destruísse a nossa velha amizade. Escreves o artigo? – Mas... – Não há mas nem meio mas! O Saraiva nunca saberá que foi escrito por ti. – Tenho escrúpulos... – Deixa lá os teus escrúpulos, e ouve de que se trata. Presta-me toda a atenção. E o Caldas expôs longamente ao Romualdo a queixa que tinha do Saraiva. Tratava-se de uma pequena questão comercial, de um capricho tolo que só poderia irritar, um contra o outro, dois amigos que não conhecessem o que a vida tem de áspero e difícil. O artigo seria um desabafo menos do brio que da vaidade, e, escrevendo-o, qualquer pena hábil poderia, efetivamente, evitar uma injúria grave. O Romualdo, que há muito tempo não pegava numa nota de cinco mil-réis, e apanhara, na véspera, uma descompostura de lavadeira, cedeu, afinal, às tentadoras instâncias do amigo, e no próprio escritório deste redigiu o artigo, que satisfez plenamente. – Muito bem! – exclamou o Caldas, depois de três leituras consecutivas. – Se eu soubesse escrever, escreveria isto mesmo! Apanhaste perfeitamente a questão! E, depois de um passeio à burra, meteu um envelope na mão de Romualdo, dizendo-lhe: – Aparece-me daqui a dias: vou procurar o emprego que desejas. – A época é difícil, mas há de se arranjar. O Romualdo saiu, e, ao dobrar a primeira esquina, abriu sofregamente o envelope: havia dentro uma nota de cem mil-réis! Exultou! Parecia-lhe ter tirado a sorte grande! Na manhã seguinte, o ex-jornalista pediu ao dono da “pensão” que lhe emprestasse o Jornal do Comércio, e viu a sua prosa “Eu e o sr. João Fernandes Saraiva” assinada pelo Caldas; sentiu alguma coisa que se assemelhava ao remorso, o mal-estar que acomete o espírito e se reflete no corpo do homem todas as vezes que este pratica um ato inconfessável, e aquilo era uma quase traição. Entretanto almoçou com apetite. À sobremesa entrou na sala de jantar um menino, que lhe trazia uma carta em cujo sobrescrito se lia a palavra “urgente”. Ele abriu-a e leu: “Romualdo. – Preciso falar-lhe com a maior urgência. Peço-lhe que dê um pulo ao nosso escritório hoje mesmo, logo que possa. Recado do – João Fernandes Saraiva.”
CONTO Este bilhete inquietou o ex-jornalista. Com certeza, pensou ele, o Saraiva soube que fui eu o autor do artigo! Naturalmente alguém me viu entrar em casa do Caldas, demorar-me no escritório... desconfiou da coisa e foi dizer-lhe... Mas para que me chamará ele? O seu desejo era não acudir ao chamado; alegar que estava doente, ou não alegar coisa alguma, e lá não ir; mas o menino de pé, junto à mesa do almoço, esperava a resposta... Era impossível fugir! – Diga ao seu patrão que daqui a pouco lá estarei. O menino foi-se. O Romualdo acabou a sobremesa, tomou o café, saiu, e dirigiu-se ao escritório do Saraiva, receoso de que este o recebesse com duas pedras na mão.
***
Foi o contrário. O amigo recebeu-o de braços abertos, dizendo-lhe: – Obrigado por teres vindo! Estava com medo de que o pequeno não te encontrasse! Vem cá! E levou-o para um compartimento reservado. – Leste o Jornal do Comércio de hoje? – Não – mentiu prontamente o Romualdo. – Raramente leio o Jornal do Comércio. – Aqui o tens; vê que descompostura me passou o Caldas! O Romualdo fingiu que leu. – Isso que aí está é uma borracheira, mas não é escrito por ele! – bradou o Saraiva. – Aquilo é uma besta que não sabe pegar na pena senão para assinar o nome! – O artigo não está mau... Tem até estilo... – Preciso responder! – Eu, no teu caso, não respondia... – Assim não penso. Preciso responder amanhã mesmo no próprio Jornal do Comércio e, se te chamei, foi para pedir-te que escrevas a resposta. – Eu?... – Tu, sim! Eu podia escrever, mas... que queres?... Estou fora de mim!... – Bem sabes – gaguejou o Romualdo – que sou amigo do Caldas. Não me fica bem... – Não te fica bem, por quê? Ele com certeza não é mais teu amigo que eu! Depois, não é intenção minha injuriá-lo; quero apenas dar-lhe o troco! No íntimo o Romualdo estava satisfeito, por ver naquele segundo artigo um meio de atenuar, ou, se quiserem, de equilibrar o seu remorso. Ainda mastigou umas escusas, mas o outro insistiu: – Por amor de Deus não te recuses a este obséquio tão natural num homem que vive da pena! Tu estás desempregado, precisas ganhar alguma coisa... O Romualdo cedeu a este último argumento, e, depois de convenientemente instruído pelo Saraiva sobre a resposta que devia dar, pegou na pena e escreveu ali mesmo o artigo.
5
Reproduziu-se então a cena da véspera, com mudança apenas de um personagem. O Saraiva, depois de ler e reler o artigo, exclamou: – Bravo! Não podia sair melhor! – e, tirando da algibeira um maço de dinheiro, escolheu uma nota de duzentos mil-réis e entregou-a ao prosador. – Oh! Isto é muito, Saraiva! – Qual muito! Estás a trocar leques por bandurra: é justo que te pague bem! – Obrigado, mas olha: recomendo-te que mandes copiar o artigo, porque no jornal pode haver alguém que conheça a minha letra. – Copiá-lo-ei eu mesmo. – Adeus. – Adeus. Se o Caldas treplicar, aparece-me! – Está dito. No dia seguinte, o Caldas entrou muito cedo no quarto do Romualdo, com o Jornal do Comércio na mão. – O bruto replicou! Vais escrever-me a tréplica! E batendo com as costas da mão no jornal: – Isto não é dele... Aquilo é incapaz de traçar duas linhas sem quatro asneiras... mas ainda assim, quem escreveu por ele está longe de ter o teu estilo, a tua graça... Anda! Escreve!... E o Romualdo escreveu...
***
Durante um mês teve ele a habilidade de alimentar a polêmica, provocando a réplica, para que não estancasse tão cedo a fonte de receita que encontrara. Para isso fazia insinuações vagas, mas pérfidas, e depois, em conversa ora com um ora com outro, era o primeiro a aconselhar a retaliação e o esforço. Tanto o Caldas como o Saraiva se mostraram cada vez mais generosos, e o Romualdo nunca em dias de sua vida se viu com tanto dinheiro. Ambos os contendores lhe diziam: – Escreve! Escreve! Eu quero ser o último!
***
Por fim, vendo que a questão se eternizava, e de um momento para o outro a sua duplicidade podia ser descoberta, o Romualdo foi gradualmente adoçando o tom dos artigos, fazendo, por sua própria conta, con cessões recíprocas, lembrando a velha amizade, e com tanto engenho se houve, que os dois contendores se re conciliaram, acabando amigos e arrependidos de terem dito um ao outro coisas desagradáveis em letra de forma. E o público admirou essa polêmica, em que dois homens discutiam com estilos tão semelhantes que o próprio estilo pareceu harmonizá-los.
***
O Caldas cumpriu a sua promessa: o Romualdo pouco depois entrou para o comércio, onde ainda hoje se acha, completamente esquecido do tempo que perdeu no jornalismo. Extraído de: Contos de Artur Azevedo.
6
ARTIGO
Bactéria pode ter sistema imune rudimentar, indica estudo Karina Toledo
U
“Agora, de maneira inédita, estudamos a estrutura tri m estudo publicado na revista Nature Communications dimensional da macroglobulina secretada pela Salmonella revelou que a bactéria Salmonella enterica é capaz enterica por uma técnica conhecida como cristalografia de de produzir uma proteína muito semelhante à alfa-2raios X, que permite visualizar detalhes em nível atômico. E -macroglobulina humana, que desempenha um papel-chave pudemos confirmar que, de fato, ela é muito parecida com em nosso sistema imunológico. a macroglobulina humana”, contou Dessen. A hipótese levantada pelos pesquisadores do Instituto de De acordo com a pesquisadora, a descoberta reforça a Biologia Estrutural (IBS) de Grenoble, na França, é de que hipótese de que a alfa-2-macroglobulina tem o papel de também nas bactérias as macroglobulinas poderiam fazer proteger a bactéria das proteases secretadas por outras parte de um sistema de defesa rudimentar. Se a teoria for bactérias ou pelo organismo do hospedeiro que ela tenta confirmada por estudos futuros, essas proteínas podem se infectar. tornar alvos para o desenvolvimento de novos antibióticos. “Em um modelo de camundongo, pesquisadores cana“O mais fascinante é que as macroglobulinas são prodenses mostraram que cepas da bactéria Pseudomonas teínas imensas, formadas por quase 1 700 resíduos de aeruginosa que não produzem aminoácidos. Para a bactéria macroglobulina têm menor capasintetizar uma molécula tão cidade de causar doença, ou seja, grande é porque ela deve ter são menos virulentas. A proteína um papel muito importante”, parece dar uma vantagem à bacafirmou a brasileira Andréa téria na hora de colonizar o hosDessen, pesquisadora do IBS pedeiro, mas ainda não sabemos e coordenadora, no Laboratório exatamente por quê”, disse. Nacional de Biociência (LNBio), em Campinas, de um projeDesdobramentos to apoiado pela FAPESP por Em um braço da pesquisa que meio do programa São Paulo está sendo conduzido no LNBio, Excellence Chairs (SPEC). No organismo humano, a Salmonella enterica produz proteína semelhante à macro com apoio da FAPESP e orienta missão da alfa-2-macroglobulina globulina, que exerce papel-chave no sistema imunológico ção de Dessen, a pós-doutoranda humano; artigo foi publicado na Nature Communications é detectar e neutralizar protea (imagem de colônia de Salmonella enterica: CDC/Wikimedia). francesa Samira Zouhir investiga a estrutura da macroglobulina sinte ses secretadas por microrga tizada por bactérias da espécie Pseudomonas aeruginosa – nismos invasores, disse a pesquisadora. As proteases são causadora de diversos casos de infecção hospitalar. enzimas que quebram as ligações entre os aminoácidos “Se conseguirmos desvendar a estrutura tridimensional das proteínas. da proteína, isso nos dará pistas sobre sua função no pro “A macroglobulina impede, dessa forma, que as protea cesso infeccioso”, disse Dessen. ses dos invasores destruam os tecidos do organismo, o que Quando o papel das macroglobulinas estiver bem com permitiria a infecção de tecidos mais profundos”, explicou. preendido em diferentes espécies de bactérias, acrescen Além disso, a alfa-2-macroglobulina também se liga a tou, essas proteínas poderão se tornar alvo para o desenvol proteases que participam do processo de coagulação san vimento de novos antibióticos. guínea, evitando que proteínas importantes sejam destruí “Também há pesquisas interessantes em modelo de das indevidamente. camundongo mostrando que a aplicação de alfa-globulina Em estudos anteriores, nos quais o genoma de diversas humana pode oferecer proteção contra a sepse. Há várias espécies de bactérias foi sequenciado, pesquisadores ale possibilidades de tratamento a serem exploradas”, avaliou a mães já haviam observado a presença do gene da macro pesquisadora. globulina. No IBS, o grupo liderado por Dessen já havia feito a caracterização bioquímica da proteína produzida pelas Extraído de: Agência FAPESP – Divulgando a espécies Escherichia coli e Pseudomonas aeruginosa. cultura científica, out./2014.
(ENTRE PARÊNTESIS)
7
Jardineiro Um jardineiro pretende plantar a metade da área de um canteiro retangular, usando a outra metade para deixar um caminho de largura constante em torno de toda a área plantada. Como determinar a largura desse caminho se o jardineiro só dispõe de um barbante (de comprimento igual ao da diagonal do retângulo) e se ele não pode sair do canteiro?
RESPOSTA
b
a + b !d a + b ! a2 + b2 ,= , ou seja, , = (d é a medida da diagonal). 4 4 a +b −d . Como a + b > d ; a − 2, > 0 e b − 2, > 0, o jardineiro deve considerar apenas , = 4 4, pode ser obtido utilizando-se o fio como compasso (v. figura). Obtido 4,, dobra-se o fio ao meio, duas vezes. Resolvendo a equação, obtemos: Então, o retângulo menor tem dimensões a − 2, e b − 2,. Assim, (a − 2,)(b − 2,) = Sejam , a largura do caminho e a e b as dimensões do retângulo.
a a d−a
ab ab isto é, 4,2 − 2(a + b), + = 0. 2 2
b−d+a
d−a
PARA PENSAR
Texto 1 Digital Stock
“Monólitos de Stonehenge, monumental assentamento circular pré-histórico que consiste em enormes blocos de pedra dispostos em círculo no centro de uma área também circular e terraplenada, cercado por um fosso. Situa-se a 13 km de Salisbury, no condado de Wiltshire, Inglaterra. O início de sua construção se deu por volta de 3 100 a.C. Embora não haja consenso entre os estudiosos, há quem acredite que se tratava de um sofisticado relógio solar da época.” Fonte: Nova enciclopédia Barsa.
Texto 2 FRANK & ERNEST/Bob Thaves
Folha de S. Paulo, 25.02.2007.
1. Qual o conhecimento prévio necessário para se compreender devidamente a tira? 2. De que modo o texto 2 se vale das informações do texto 1?
8
ESPECIAL
Torneios esportivos Colégio Etapa tem participado de competições com outras escolas
N
este ano, alunos do Colégio Etapa participaram de alguns torneios e jogos amistosos com estudantes de outras escolas de Ensino Fundamental e Ensino Médio. Além do desenvolvimento do trabalho em equipe, a prática es portiva ensina a conviver com vitórias e derrotas e a enfrentar desafios. Também ajuda a valorizar a disciplina e o respeito, contri buindo para uma vida mais saudável. Nas participações em competições externas, os times do Colé gio Etapa saíram-se muito bem, obtendo excelentes resultados. Em setembro, no basquete, em acirrada disputa com a equipe do Colégio Rio Branco, viraram o placar no último minuto e con quistaram o 1o lugar na VII Copa Salesiano. Já em jogos amistosos de handebol, futsal, basquete e voleibol, o Ensino Médio do Colégio Etapa obteve 5 vitórias e 1 empate, enquanto o Ensino Fundamental obteve 3 vitórias e 1 empate.
AGENDA CULTURAL
São Paulo – Clube de Cinema (quintas, das 19h10 às 21h35, sala 65) 30.10 – Edukators (Hans Weingartner: 2003) 06.11 – A grande beleza (Paolo Sorrentino: 2013) São Paulo – Clube de Debate (mensal, das 19h10 às 21h35, sala 65) 28.10 – Segurança e justiça em crise: arbítrio e impunidade Valinhos – Clube de Cinema (sextas, das 14h05 às 15h45) 31.10 – Um alguém apaixonado (Abbas Kiarostami: 2008) 07.11 – Babilônia 2000 & Edifício Master (Eduardo Coutinho: 2000-2002)
Fique ligado: todas as terças-feiras acontecem as Palestras de Profissões para os alunos de 2o e 3o anos do Ensino Médio!