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Jornal do Colégio SEGUNDA QUINZENA DE NOVEMBRO DE 2014 – NÚMERO 582
ENTREVISTA “Minha motivação: ajudar as pessoas em coisas simples, talvez ajudar o dia delas a ser mais legal.” Bruno Cordeiro Capelas sempre quis ser jornalista. Procurou ensino forte no Etapa, entrou em Jornalismo na USP. Está no último ano do curso e faz estágio no Estadão. Ele fala de coisas marcantes aqui – o Clube do Livro e o Clube de Cinema. Fala do Intercâmbio na Europa e de seu projeto atual – o livro-reportagem sobre o programa Castelo Rá-Tim-Bum, da TV Cultura. Ele também indica aos alunos que querem Jornalismo que cuidem da formação científica que recebem aqui – ela pode fazer muita diferença.
Bruno Cordeiro Capelas
JC – Quando e por que escolheu Jornalismo como carreira? Bruno – Decidi fazer Jornalismo bem moleque. Cheguei no Etapa já querendo fazer Jornalismo. Gostava de ler, gostava de escrever.
Além da Fuvest, você prestou quais outros vestibulares? Prestei a Cásper Líbero.
Qual a diferença nos cursos de jornalismo da ECA e da Cásper? As duas faculdades estão em níveis muito próximos. Elas divergem no que são boas. A ECA é um curso muito prático, desde o primeiro semestre você já tem noção do que é jornalismo. A Cásper tem muita coisa de teoria, principalmente nos dois primeiros anos. Na USP a gente tem muito mais, tem o jornal laboratório Notícias do Jardim São Remo [comunidade ao lado da universidade], o Jornal do Campus, quinzenal, com uma tiragem de 10 mil exemplares, tem um programa de rádio que a gente tem de fazer, tem o Suplemento Literário, muita coisa bacana em termos de laboratório.
O que levou você a optar pela ECA? O curso da ECA é muito legal, muito bacana. O lado teórico deixa a desejar, mas aí tem uma coisa que é importante frisar, a USP não é só o curso. A USP é um universo no ensino. Tem extensão, pesquisa, muita coisa. E desde o início foi muito ENTREVISTA
Carreira – Jornalismo CONTO Armazém Progresso de São Paulo – Antônio de Alcântara Machado
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legal porque a maioria dos meus amigos na USP eram aqui do Etapa. Era uma turma de engenheiros, químicos. Saía da aula, ia almoçar com o pessoal da Poli.
O que motivou você a vir estudar no Etapa? Eu era um dos melhores alunos do meu colégio em Santo André, mas queria um ensino mais puxado. Meu pai sugeriu que eu viesse para São Paulo.
Como foi sua adaptação ao Etapa? Eu fui um bom aluno no fundamental, sem muito esforço. Quando cheguei no Etapa não foi bem assim. Aqui era outro nível de dificuldade. Minha primeira nota foi um 6,5, na semana seguinte tirei 4 em Matemática, fiquei de recuperação. Foi um choque. Falei: “Aqui a coisa é diferente”. Então, nas matérias em que eu tinha mais facilidade, Português, História e Geografia, eu preparava os resumos depois das aulas para a prova e ficava bem. Matemática, Física, Química e Biologia eu ficava tardes inteiras estudando. No 1o ano e no 2o foi isso, no 3o ano foi uma consolidação. Mas ao mesmo tempo em que eu tinha de estudar muito, foi uma época gostosa, a gente encontrava meios para se divertir, para relaxar.
O que mais você fazia no colégio, onde há muitas atividades extracurriculares? Eram muito legais o Clube de Cinema e o Clube do Livro. A gente discutia coisas que não necessariamente estavam nas VOCÊ SABIA QUE...
ENTRE PARÊNTESIS
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A lebre e o porco-espinho
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ARTIGO Ambiente celular é fator decisivo para desenvolvimento do câncer, diz pesquisadora
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Aristóteles
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ESPECIAL
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Lugares inesquecíveis
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aulas, mas que ajudavam muito a pensar. Discutir os livros ajudou a fazer a Redação na Fuvest. De uma maneira bem simples, porque era mais profundo, a gente discutia sobre a humanidade de uma maneira engraçada, divertida. Eu adorava. Tanto que depois de entrar na ECA passei quase um ano vindo aos clubes de cinema e do livro, como convidado.
Como foi seu início na ECA? O que mais me chocou na ECA foi a estrutura de aprendizado. O Etapa tem uma coisa muito boa que é o sistema de avaliação constante. É muito diferente da ECA. No Etapa você tinha um script, apostilas, exercícios, Plantão de Dúvidas. Na ECA, não.
Quanto tempo demorou sua adaptação? Demorei o 1o ano para entender e me encaixar na USP. E logo depois comecei a trabalhar. A gente começa a estagiar muito cedo e tem menos tempo para se dedicar à universidade.
Qual o tema do seu livro-reportagem? Meu tema é o Castelo Rá-Tim-Bum. Eu sou da geração TV Cultura e aprendi a ler com o Castelo Rá-Tim-Bum. Quando fui escolher o tema, falei: tem que ser uma coisa de que eu gosto muito. No livro eu pretendo descobrir porque o Castelo foi um programa tão importante, porque fez tanto sucesso e porque até hoje, quando se pensa em programa infantil no Brasil, fala-se dele. Já fiz 30 entrevistas para esse projeto, conversei com diretores, criadores e atores.
Ao longo da faculdade, além das atividades que você men cionou, ligadas ao Jornalismo, sobrou tempo para fazer atividades extracurriculares? Fiquei o primeiro ano inteiro de faculdade na Empresa Júnior. O curso da ECA ainda não tem Assessoria de Imprensa, que é uma atividade que os jornalistas estão fazendo muito, mas a Empresa Júnior tem.
O que você viu em termos de matéria em cada ano, em linhas gerais?
Quando você fez intercâmbio?
No 1 ano, História, Filosofia, Teoria da Comunicação, Ciências da Linguagem, Ética, e começa o contato com algumas práticas de Jornalismo. Tem o Jornal São Remo no primeiro semestre; Jornalismo em Rádio e TV no segundo semestre. No 2o ano tem algumas disciplinas teóricas também, História do Jornalismo no Mundo e no Brasil, Gerenciamento de Empresas Jornalísticas, Fotojornalismo. No 2o ano tem também o Jornal do Campus.
Como surgiu essa oportunidade?
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Isso é uma matéria? É uma matéria obrigatória. O nome dela é Laboratório de Jornalismo Impresso II. Tem Laboratório de Jornalismo Im presso I, que é uma agência de notícias, eles pegam os alunos, dividem a sala, cada um vai ser responsável por um instituto, uma faculdade. Eu fui setorista da FEA durante um semestre, indo a palestras, conversando com professores, lendo teses de doutorado e mestrado sobre Economia. Foi uma experiência bacana conhecer uma faculdade.
Isso nos dois primeiros anos. E no 3o ano? No 3o ano começam experiências mais sofisticadas em Jor nalismo. Tem Livro-Reportagem, que é basicamente uma iniciação, escrever um projeto de livro e reportagem, tem Radiojornalismo, Telejornalismo, Jornalismo On-line, Suplemen to Literário. No 3o ano fiz intercâmbio. No 4o ano é mais livre. O 4o ano do matutino tem Jornalismo em Revista. São matérias de fôlego, de páginas e páginas. Você já é praticamente um jornalista.
Você está no 4o ano agora? Estou fazendo meu quinto ano na USP por causa do intercâmbio. Na ECA, estou no 4o ano. No primeiro semestre do 4o ano você tem de fazer um documentário em vídeo. No segundo semestre tem o TCC. Você pode escrever um livro-reportagem, que é o que estou fazendo. Você pode fazer uma reportagem fotográfica, pode fazer uma reportagem especial de rádio de uma hora, pode fazer um documentário, pode fazer uma monografia, um estudo científico sobre jornalismo.
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Em 2013. De fevereiro a julho. A ECA tem vínculo de intercâmbio com instituições es trangeiras. Tinha vagas e um amigo meu, da minha sala, tinha ido para Lisboa. Resolvi fazer intercâmbio para ter um tempo para mim, último respiro antes de me jogar no mercado de trabalho, de virar profissional de verdade. Minha opção era fazer o intercâmbio em inglês, treinar a língua. Mas a ECA não tinha nenhum convênio com faculdade de língua inglesa. Eu não falo outra língua. Sobrou português. Eu sou descendente de português. Minha família é bastante ligada à cultura de Portugal. E para mim foi uma delícia conhecer o lugar de minha origem.
Em Portugal, o intercâmbio foi em que universidade? Universidade Nova de Lisboa. Existe a Universidade de Lisboa, que é a clássica e é incrível para quem quer prestar Letras, História. A Universidade Nova de Lisboa é mais voltada para Ciências Sociais, Jornalismo, Engenharia, Direito. Eu vi toda a grade curricular e escolhi fazer matérias que iam entrar depois como optativas para mim na USP. Era bastante livre o intercâmbio, basicamente fiz matérias optativas. Estudei Teoria Política, Literatura e Mitologia, Teoria do Cinema e Televisão.
Você foi morar na faculdade mesmo? Morava na faculdade, que tem um sistema de moradia para intercambistas. Tem muito brasileiro em Portugal, a gente cozinhava junto, saía junto. Quase como viver no Brasil, mas com outro cenário. Depois eu fiz um mochilão, passei um mês rodando pela Europa, com o dinheiro que eu tinha guardado. Antes de ir para a Europa, eu fiz estágio na Agência USP de Notícias e depois trabalhei no IG durante um ano.
A que lugares você foi? Fiz Espanha – Barcelona e Madri –, fui para a Grécia. No final fiz Londres, Berlim, Amsterdã. Fui um dia a Liverpool para ver a casa dos Beatles. Também estive em Roma, Florença, Paris e Dublin. Durante o semestre tinha umas folgas, rodei Portugal, fui para o norte, fui para o sul, cheguei a ir até Sagres, que é o ponto final do continente.
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Sobre estágios, você começou na Agência USP?
E o que é esse projeto?
Fiz estágio na Agência USP em 2011, estava no 4 semestre, junto com o Jornal do Campus. A USP tem uma série de órgãos, veículos de comunicação social. Tem TV USP, Rádio USP, Jornal da USP, Agência USP de Notícias, Portal Online da USP. É onde os estudantes de Jornalismo começam. Tem umas 15, 20 vagas de estágio. Você conhece mais a universidade e se prepara para o mercado de trabalho. Na Agência, trabalhei na cobertura de produção científica da universidade, mas tinha de fazer matérias sobre Poli, ECA, FEA, sobre qualquer coisa. Fiquei do meio de 2011 até o começo de 2012. Depois fui para o IG Jovem, uma experiência totalmente diferente, experiência de Internet. De março a dezembro. Só saí do IG para fazer o intercâmbio.
Quero testar como é escrever um livro. Uma das coisas que o jornalista está apto a fazer muito bem é pesquisa para livro. E quero passar anos em redação, construindo repertório, construindo fontes, descobrindo coisas, descobrindo ideias. E depois me dedicar a livros-reportagem. Ser um biógrafo, um pesquisador. Muito na área de cultura. O Castelo Rá-Tim-Bum talvez seja um balão de ensaio disso, como eu me saio como pesquisador. Fazendo não uma matéria de duas páginas, mas um livro de 120. Quero fazer biografias sobre bandas de que eu gosto, movimentos artísticos. Não sei que ideias podem surgir daqui a cinco anos e serem legais.
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E depois que voltou? Passei uns dois meses procurando estágio. Uma colega minha tinha sido estagiária do Estadão, no Caderno Link. Aí fui trabalhar como estagiário também. Estou lá desde setembro do ano passado. Tem sido uma experiência muito legal. Meu contrato vence agora em dezembro. Quando me formar, o estágio acaba.
Você disse que desde moleque quis ser jornalista. O que o motiva a prosseguir na profissão? Além do dinheiro, claro que a gente tem de pensar nisso, minha motivação para continuar fazendo jornalismo é tentar mudar a vida de alguém. E não precisa ser aquela supermudança. Para mim é isso, escrever um texto legal que faz a pessoa se informar, se divertir, aprender alguma coisa nova. Acho que é essa a minha motivação: ajudar as pessoas em coisas simples, talvez ajudar o dia delas a ser mais legal. Do meu lado, saber que sempre vão existir histórias incríveis para serem contadas. Nunca vai deixar de ter uma pessoa legal para entrevistar, um bate-papo bom em que ideias possam ser levadas adiante. No fim das contas, é isso. Por mais que a gente tenha fatos, a principal coisa é discutir ideias. E aqui acho legal falar do Etapa, um lugar onde aprendi a ter muitas ideias, tive ferramentas para ter boas ideias.
Você pretende continuar estudando depois de se formar? Quero estudar sim. Provavelmente indo para uma pós de Jornalismo ou para uma graduação em História. Acho que a faculdade de Jornalismo hoje talvez não seja o melhor jeito de aprender a fazer Jornalismo. Eu aprendi mais jornalismo nas redações em que trabalhei do que na faculdade. A gente precisa de uma mudança, que seja como nos Estados Unidos: você se forma em Economia, Letras, Estudos Avançados e depois passa dois anos fazendo como se fosse uma pós no curso de Jornalismo. Eu acredito que o jornalista pode ter uma formação mais plural.
Como você se imagina daqui a 10 anos? Eu tenho um projeto, talvez o TCC seja um balão de ensaio sobre isso.
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Tem alguma matéria que viu aqui no Etapa e que você nem dava muita bola e hoje você vê que é importante? Talvez seja uma coincidência pelo fato de eu estar trabalhando com tecnologia agora. Mas eu não gostava nada das aulas de Informática. Para mim era: “Por que estou aprendendo isso?” E era aprender programação. Eu não tinha consciência para o que servia. Mas sabendo programar, você faz um aplicativo, você faz um site e pode mudar sua vida. Uma das coisas que eu quero é aprender a programar, fazer um site. Eu sempre gostei muito de Física, Química e ter estudado no Etapa me fez ter um lado forte em Exatas, de raciocínio lógico, que faz até hoje a diferença.
Voltando hoje ao Etapa, o que vem de recordação? Tenho muita lembrança das aulas, de alguns professores incríveis. Alguns até se tornaram amigos. Tenho saudade da certeza de que tudo ia dar certo, no sentido de que o Etapa dá uma receita que parece pronta. Para você fazer tudo muito direitinho. Sinto saudade dessa certeza, é só seguir o plano que vai dar certo. Claro, sinto saudade dos amigos, dos colegas, do ambiente em que todo mundo estava interessado na mesma coisa. Adorava a gincana cultural.
O que você diria a quem vai prestar vestibular este ano? Acho que estar no Etapa é uma coisa legal, você tem um lado forte, matérias que as pessoas que pensam em Jornalismo necessariamente não estão interessadas. Aproveite para fazer o diferencial nessas matérias. Se você acha que pode ser melhor que seus concorrentes em Matemática, Física, Química, Biologia, vai fundo que pode ser a diferença. Foi a diferença para mim. E não descuide da Redação, talvez seja o ponto mais importante.
O que mais você quer dizer para nossos alunos? Aproveitem enquanto estão aqui, porque é um lugar muito bacana, ambiente legal. Gosto muito do Etapa. Tenho uma irmã mais nova e a gente fica brincando: ela vai para o Etapa também? Aproveitem o Etapa porque é um lugar muito legal, onde conheci os melhores amigos. É um lugar onde você pode ter ideias incríveis, pode aprender coisas incríveis.
Jornal do Colégio ETAPA, editado por Etapa Ensino e Cultura REDAÇÃO: Rua Vergueiro, 1 987 – CEP 04101-000 – Paraíso – São Paulo – SP JORNALISTA RESPONSÁVEL: Egle M. Gallian – M.T. 15343
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CONTO
Armazém Progresso de São Paulo Antônio de Alcântara Machado
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armazém do Natale era célebre em todo o Bexiga por causa deste anúncio:
AVISO ÀS EXCELENTÍSSIMAS MÃES DE FAMÍLIA! O ARMAZÉM PROGRESSO DE SÃO PAULO DE NATALE PIENOTTO TEM ARTIGOS DE TODAS AS QUALIDADES DÁ-SE UM CONTO DE RÉIS A QUEM PROVAR O CONTRÁRIO N. B. Jogo de bocce com serviço de restaurante nos fundos. Isso em letras formidáveis na fachada e em prospectos entregues a domicílio. O filho do doutor da esquina, que era muito pândego e comprava cigarros no armazém mandando-os debitar na conta do pai com outro nome bulia todos os santos dias com o Natale: – Seu Natale, o senhor tem pneumáticos balão aí? – Que negócio é esse? – Ah, não tem? Então passe já para cá um conto de réis. – Você não vê logo, Zezinho, que isso é só para tapear os trouxas? Que é que você quer? Um maço de Sudan Ovais? E como é na caderneta? – Bote hoje uma Si-Si que é também pra tapear o trouxa. O Natale achava uma graça imensa e escrevia: Duas Si-Si pro Snr. Zezinho – 1$200.
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O Armazém Progresso de São Paulo começou com uma porta no lado par da Rua da Abolição. Agora tinha quatro no lado ímpar. Também o Natale não despregava do balcão de ma drugada a madrugada. Trabalhava como um danado. E Dona Bianca suando firme na cozinha e no bocce. – Se não é essa coisa de imposto, puxa vida! Mas a caderneta da Banca Francese ed Italiana per l’America del Sud ria dessa coisa de imposto.
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– Dá aí duzentão de cachaça! O negro fedido bebeu de um gole só. Começou a cuspir. No quintal o pessoal do bocce gritava que nem no futebol. Entusiasmos estalavam: – Evviva il campionissimo!
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O Ferrucio entrou de pé no chão e relógio-pulseira. – Mais duas de Hamburguesa, Seu Natale. Meninas enlaçadas passeavam na calçada. O lampião de gás piscava pra elas. A locomotiva fumegando no carrinho de mão apitava amendoim torrado. O Brodo passou can tando. Natale veio à porta da rua estirar os braços. Em frente à Confeitaria Paiva Couceiro expunha renques de cebola e a mulher do proprietário grávida com um filhinho no colo. Esse espetáculo diário era um gozo para o Natale. Cebola era artigo que estava por preço que as excelentíssimas mães de família achavam uma beleza de preço. E o mondrongo coitado tinha um colosso de cebolas galegas empatado na confeitaria. Natale que não perdia tempo calculou logo quanto poderia oferecer por toda aquela mercadoria (cebolas e o resto) no leilão da falência: dez contos, talvez sete, quem sabe cinco. O português não aguentaria mesmo o tranco por mais tempo. – Dona Bianca está chamando o senhor depressa na cozinha. Resolveu primeiro apertar o homem no vencimento da letra. E acendeu um Castro Alves.
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A roda de pizza chiava na panela. – Con molte alici, eh dama Bianca! – Si capisce, sor Luigi! Natale entrou. – Vem aqui no quarto. Natale foi meio desconfiado.
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– Que é? Bianca quando dava para falar era aquela desgraça. – José Espiridião, o mulato, o do Abastecimento, ora o da Comissão do Abastecimento... – Já sei. ... estava ali no quintal assistindo a uma partida de bocce. Conversando com o Giribello, o sapateiro, o pai da Genoveva... – Já sei. Bianca foi levar lá um prato de não sei quê e o sem-vergonha do mulato até brincara com ela. Disse umas gracinhas. Mas ela não ficou quieta não. Que esperança. Deu uma resposta até que o Espiridião ficou até assim meio... – Já sei. Pois é. Ela ficou ali espiando o bocce porque era a vez do Nicola jogar. E como o Nicola já sabe é o campeão e estava num dia mesmo de...
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CONTO – Sei! Pois é. Ela ficou espiando. E também escutando o que o Espiridião estava dizendo para o Giribello. Não é que ela fazia questão de escutar o que ele falava. Não. Mas ela estava ali perto – não é? – então... – SEI! O Espiridião falava assim para o Giribello que a crise era um fato, que a cebola por exemplo ia ficar pela hora da morte. O pessoal da Comissão do Abastecimento andava até... – SEI! Ela então não quis ouvir mais nada. Veio correndo e mandou o Ferrucio chamá-lo para lhe dizer que desse um jeito com o português. – Já sei... Se não aproveitasse agora nunca mais. O homem que desse em pagamento da letra as... – Dona Bianca! Venha depressa que o Dino quer avançar nas comidas!
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– Mais um copo, Seu Doutor. José Espiridião aceitava o título e a cerveja. – Pois é como estou lhe contando, Seu Natale. A tabela vai subir porque a colheita foi fracota como o diabo. Ai, ai! Coitado de quem é pobre. Natale abriu outra Antártica. – Cebola até o fim do mês está valendo três vezes mais. Não demora muito temos cebola aí a cinco mil-réis o quilo ou mais. Olhe aqui, amigo Natale: trate de bancar
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o açambarcador. Não seja besta. O pessoal da alta que hoje cospe na cabeça do povo enriqueceu assim mesmo. Igualzinho. Natale já sabia disso. – Se o doutor me promete ficar quieto – compreende? – e o negócio dá certo o doutor leva também as suas vantagens... Espiridião já sabia disso.
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Dona Bianca pôs o Nino na caminha de ferro. Ele ficou com uma perna fora da coberta. Toda cheia de feridas. Então o Natale entrou assobiando a Tosca. A mulher olhou para ele. Percebeu tudo. Perguntou por perguntar: – Arranjou? Natale segurou-a pelas orelhas, quase encostou o nariz no dela. – Diga se eu tenho cara de trouxa! Deu na Dona Bianca um empurrão contente da vida, deu uma volta sobre os calcanhares, deu um soco na cômoda, saiu e voltou com meio litro de Chianti Ruffino. Parou. Olhou para a garrafa. Hesitou. Saiu de novo. E trouxe meia Pretinha.
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Dona Bianca deitou-se sem apagar a luz. Olhou muito para o Dino que dormia de boca aberta. Olhou muito para o Santo Antonio di Padova col Gesù Bambino bem no meio da parede amarela. Mais uma vez olhou muito para o Dino que mudara de posição. E fechou os olhos para se ver no palacete mais caro da Avenida Paulista. Extraído de: Brás, Bexiga e Barra Funda.
(ENTRE PARÊNTESIS)
A lebre e o porco-espinho Um amigo de Vítor conta-lhe a seguinte história: – A lebre, que é tida como um animal dos mais velozes, fará uma corrida com um porco-espinho. Como este é dez vezes mais lento que a lebre, receberá uma vantagem considerável: ficar 100 metros adiante. Mesmo assim, a lebre não terá qualquer chance de vencer e isto é fácil de comprovar. No instante em que a lebre chegar ao ponto onde o porco-espinho estava, este estará mais adiante. Quando a lebre chegar a este novo ponto, o outro já estará mais à frente e assim por diante. Dessa forma, a lebre jamais alcançará o porco-espinho ou o ultrapassará. Vítor não aceita este raciocínio. Sua experiência lhe diz que a lebre é muito mais rápida e vencerá. Ele garante que o raciocínio apresentado é falho. Será que ele tem razão? Ou não?
RESPOSTA O sofisma lógico está em que, geralmente, compara-se a velocidade constante das lebres com uma distância que deverá ser continuamente menor. Sabemos que a lebre pode correr dez vezes mais rápido que o porco-espinho. Se ela percorreu os 100 metros de vantagem do porco-espinho, então este percorreu exatamente 10 metros. Assim que estes 10 metros são também percorridos, o porco-espinho estará 1 metro à frente. Assim, a distância de 10 centímetros diminui para 1 centímetro e assim por diante. Se se confrontar, a cada vez, os espaços que ficam, o resultado será: 100 + 10 + 1 + 0,1 + 0,01 + 0,001, etc. É uma série interminável com um intervalo sempre menor e de valor-limite em 112. Se a lebre corre 10 vezes mais rápido que o porco-espinho, atingirá assim, mais cedo, os 112 metros. E, se a diferença da velocidade não é de 1 : 10, como tomamos no problema, adia-se deste modo o valor-limite. Então, a princípio, não muda nada. JC_582.indd 5
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ARTIGO
Ambiente celular é fator decisivo para desenvolvimento do câncer, diz pesquisadora Karina Toledo
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urante muito tempo o câncer foi visto como uma doen ça de origem fundamentalmente genética, ou seja, cau sada por mutações no DNA – herdadas ou adquiridas – que alteram a expressão dos genes e fazem as células se proliferarem descontroladamente. Mas, na visão da cientista iraniana radicada nos Estados Unidos Mina Bissell, expoente no estudo do câncer de mama, esta é apenas uma parte da história. Metade dos fatores necessários para o desenvolvimento de um tumor estaria, segundo ela, do lado de fora das células, no chamado microambiente celular. “Se o genoma fosse realmente o fator dominante, uma única mutação herdada seria o suficiente para causar câncer em todo o nosso corpo – uma vez que todas as células compartilham exatamente o mesmo DNA”, afirmou Bissell durante palestra apresentada no dia 2 de setembro no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP). A pesquisadora, que atualmente coordena um laboratório com seu nome no Lawrence Berkeley National Laboratory, nos Estados Unidos, vem reunindo nos últimos 30 anos evidências para provar sua teoria de que a forma e a função de um determinado tecido se regulam reciprocamente, de forma dinâmica, e qualquer alteração dessa arquitetura e dessa rede de sinalização pode resultar em malignidade. Suas pesquisas já deram origem a cerca de 380 artigos publicados em revistas de alto impacto. Alguns dos principais resultados foram apresentados ao público brasileiro durante a palestra na USP. “Escolhemos a glândula mamária como modelo de estudo porque é um dos poucos tecidos que mudam durante a vida adulta. Ela se desenvolve durante a gravidez, durante a lactação e, quando a amamentação é interrompida, a glândula regride”, disse Bissell. Para investigar como ocorriam essas alterações no tecido, a pesquisadora se concentrou em estruturas conhecidas como ácinos, pequenos sacos existentes na mama cujas paredes são revestidas por células especializadas na secreção de leite. “Retiramos essas estruturas de camundongos fêmeas prenhes e as colocamos em uma cultura in vitro para ver se ainda se lembrariam de como é ser uma glândula mamária. Mas, em pouco tempo, elas assumiam uma estrutura completamente diferente e esqueciam como fazer leite. Isso mostra que é o microambiente que diz para as células o que elas devem fazer.
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As células não são autônomas, como alguns biólogos ainda acreditam”, avaliou a pesquisadora. E o que seria afinal esse microambiente? Segundo Bissell, trata-se da chamada matriz extracelular – uma massa que une as células e é composta por moléculas como colágeno, glicoproteínas, integrinas e laminina. Ainda nos anos 1980, Bissell formulou a teoria da reciprocidade dinâmica, segundo a qual a matriz extracelular enviaria sinais para o núcleo da célula que resultariam em um remodelamento da cromatina e uma mudança na expressão dos genes. E o núcleo então sinalizaria de volta, causando um remodelamento da matriz extracelular. Forma e função estariam se regulando reciprocamente. Para testar a hipótese da existência de uma comunicação entre célula e microambiente, Bissell reproduziu o experimento com as células mamárias de camundongos fêmeas, mas desta vez as colocou sobre um gel contendo alguns dos principais componentes da matriz extracelular. Em vez de assumir a estrutura achatada, bidimensional, como no primeiro experimento, as células se organizaram de maneira muito semelhante à observada in vivo e, o mais surpreendente, continuaram a secretar leite. Esse modelo celular tridimensional da glândula mamária foi adaptado para criar um teste capaz de diferenciar uma célula normal de uma célula maligna. Para isso, Bissell e colaboradores utilizaram uma série de linhagens de células humanas (HMT3522) oriundas de uma paciente sadia submetida a cirurgia para redução da mama. Quando cultivadas por dez dias em um ambiente tridimensional rico em laminina, essas células são capazes de recapitular as características da glândula mamária normal e apresentam um padrão de proliferação controlada e parada do ciclo celular. “Colocamos uma dessas linhagens em uma placa e retiramos o fator de crescimento epidérmico (proteína importante para o desenvolvimento normal da glândula mamária). As células transformadas começaram a se proliferar rapidamente e, ao injetá-las em um animal, foi possível formar um tumor”, contou Bissell. Quando se comparavam as células malignas com as normais em uma cultura bidimensional comum, elas pareciam exatamente iguais. Mas, ao colocá-las no modelo 3D, as células malignas assumiam estruturas desorganizadas características de um tumor.
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ARTIGO “A arquitetura e a beleza do tecido aparecem apenas em 3D e a malignidade é regulada no nível da organização do tecido, pela interação entre célula e matriz extracelular. É um sinal de que a arquitetura do tecido governa o genoma e, quando ela é prejudicada, como quando envelhecemos, ficamos mais suscetíveis ao câncer”, disse a cientista. Se a sua teoria estivesse correta, uma intervenção que corrigisse a arquitetura do tecido poderia fazer com que células cancerígenas voltassem a se comportar como células normais. E, de fato, Bissell conseguiu comprovar essa hipótese. O grupo havia observado que na superfície das células malignas havia seis vezes mais integrinas e sete vezes mais EGFR do que o normal. Usando um inibidor para apenas uma dessas integrinas, o crescimento desordenado das células foi revertido. “Elas continuaram com o mesmo genoma aberrante, mas a desordem de crescimento foi revertida porque a arquitetura estrutural é dominante sobre o genoma. O fenótipo é dominante sobre o genótipo, mesmo em se tratando de câncer”, opinou Bissell.
O papel da actina Após três décadas de investigação, Bissell acredita estar perto de desvendar os mecanismos pelos quais ocorre a comunicação entre a célula mamária e a matriz extracelular – graças, em parte, à colaboração do pesquisador brasileiro Alexandre Bruni-Cardoso, docente do Instituto de Química da Universidade de São Paulo. Durante seu pós-doutorado realizado no laboratório de Bissell, Bruni-Cardoso ajudou a esclarecer como ocorre o transporte da proteína actina de dentro para fora do núcleo celular. “A actina é uma proteína que faz parte do citoesqueleto celular. Ela compõe fibras que ajudam a dar forma e movimento às células. Nos últimos 30 anos estudos começaram a apontar que também existe actina no núcleo e, mais recentemente, mostrou-se que lá dentro ela interage com outras proteínas nucleares e regula a transcrição gênica”, explicou Bruni-Cardoso.
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Em um estudo anterior, também no laboratório coordenado por Bissell, a pós-doutoranda Virginia Spencer mostrou em uma linhagem de células mamárias de camundongo que, quanto maior era a quantidade de actina no núcleo, mais as células se proliferavam. Ao tratar a cultura de células com a proteína laminina – uma das mais importantes proteínas da membrana basal das células –, Spencer observou que a quantidade de actina no núcleo caía drasticamente e isso acontecia bem antes de as células pararem de se proliferar. Ao repetir o experimento, mas desta vez acrescentando um peptídeo na actina que a impedia de sair do núcleo, Spencer observou que os sinais inibitórios da laminina eram anulados e as células continuavam a se proliferar. O estudo foi publicado no Journal of Cell Science em 2011. Usando como modelo uma cultura de células mamárias humanas, Bruni-Cardoso começou a investigar como os sinais da laminina chegavam até a actina nuclear. “Nós identificamos a proteína específica que recebe o sinal da laminina, vai até o núcleo e exporta a actina do núcleo. Os resultados devem ser publicados em breve”, contou Bruni-Cardoso. Em uma linhagem de células tumorais, o pesquisador observou que essa sinalização está desregulada e, mesmo tratando a cultura com laminina, os níveis de actina no núcleo não diminuem. “Esse pode ser um dos motivos pelos quais as células malignas se proliferam descontroladamente. A descoberta abre caminho para o estudo de drogas que possam corrigir essa sinalização celular”, comentou Bruni-Cardoso. De acordo com Bissell, a actina parece agir como uma alavanca de acionamento do crescimento celular. “A questão agora é descobrir como exatamente ela funciona. Hoje sabemos que não é apenas a arquitetura, mas também a sinalização que determina o comportamento das células”, concluiu. Extraído de: Agência FAPESP – Divulgando a cultura científica, set./2014.
VOCÊ SABIA QUE... ... Aristóteles, o filósofo, foi o primeiro pesquisador científico no sentido atual do termo? Dotado de uma metodologia rigorosa, pesquisou diversos campos do saber, chegando mesmo a considerar todas as manifestações do conhecimento humano como ramos de um mesmo tronco. Aristóteles nasceu em Estagira, Macedônia, em 384 a.C. Durante vinte anos foi discípulo de Platão, outro famoso pensador. Após a morte do mestre, estabeleceu-se por algumas cidades gregas até ser chamado, em 343, à corte de Filipe da Macedônia. Motivo? Cuidar da educação do príncipe, aquele que viria a ser conhecido como Alexandre, o Grande. Dez anos depois voltou a Atenas, onde fundou o Liceu. Durante treze anos dedicou-se ao ensino e à elaboração da maior parte de seus escritos. Praticamente tudo aquilo que temos de Aristóteles chegou a nós por meio de anotações de seus alunos. Quase tudo que ele publicou se perdeu no tempo.
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Pensador polivalente, Aristóteles desenvolveu estudos sobre Lógica, Física, Psicologia, Psicanálise, Zoologia, Metafísica, Ética, Política, Retórica e Poética. Diferentemente dos filósofos até então, Aristóteles per cebeu a importância de integrar o pensamento tradicional às inovações que ele propunha. Pode-se dizer, desse modo, que ele fez um incessante trabalho de revisão dos conhecimentos. Ao contrário do dualismo platônico (mundo das ideias e mundo sensível), Aristóteles adotou uma postura mais cética e objetivista sem, no entanto, deixar de lado questões mais abstratas como a alma e as paixões. Após a morte de Alexandre (323 a.C.), os democratas atenienses passaram a perseguir Aristóteles que teve de fugir, refugiando-se em Cálcide, na Eubeia, onde morreu em 322 a.C. Fonte: Nova enciclopédia Barsa.
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ESPECIAL
Lugares inesquecíveis Exposição cultural contou com trabalhos muito criativos
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esenvolver um projeto pela primeira vez é uma experiência que proporciona muitos aprendizados. Além de todo o conhecimento adquirido, é preciso trabalhar em equipe e lidar com responsabilidades, mantendo sempre a organização. Esses são alguns dos motivos que fazem com que a Exposição Cultural seja tão relevante para os alunos do Ensino Fundamental II. O evento acontece anualmente e possui sempre um tema central, que norteia os projetos desenvolvidos. Na edição de 2014, o mote escolhido foi “Lugares inesquecíveis”. Os trabalhos foram muito criativos: um local que os estudantes gostaram de conhecer, um cenário da ficção, uma viagem que sonham em realizar – as abordagens foram várias. O Egito e seus mistérios, Independência dos EUA, Hogwarts e Hogsmeade, Mundo dos games, foram apenas alguns dos temas presentes. Houve também uma peça de teatro apresentada pelo 9o ano: A hora e a vez de uma memória. Contando com a orientação de cinco professores, o grupo se envolveu nos vários aspectos: roteiro, figurino, cenário, coreografias, atuações. “Foi um trabalho coletivo. Cada um deu um pouquinho de si para que isso acontecesse”, contou Taciana Padilha, uma das professoras responsáveis pela equipe. Para Marcello Donadio, pai da aluna Giovanna Donadio (6o ano), a Exposição Cultural faz com que os alunos desenvolvam aspectos como a criatividade e a comunicação. Afinal, além de realizar os trabalhos, eles precisam apresentá-los. “Você começa a enxergar que eles estão conseguindo aplicar aquilo que aprenderam no colégio”, afirmou ele. “Isso é muito importante, porque estamos formando profissionais e cidadãos que vão ser responsáveis pelo crescimento deste país”. A Exposição Cultural teve este ano a sua 17a edição. Depois de um início modesto, com o passar do tempo o número de participantes cresceu e a tecnologia se desenvolveu, proporcionando um acesso maior às informações. “Os professores estão cada vez mais integrados à interdisciplinaridade do projeto. Tentamos torná-lo cada vez melhor”, afirmou Roseli Macedo Dias, coordenadora da Exposição Cultural. Trata-se de um evento diferente e muito aguardado. Afinal, é uma ótima oportunidade para os alunos diversificarem as suas ideias e terem uma experiência nova e enriquecedora, trabalhando também com outras linguagens e temas. Como disse Enzo Kruschewsky Filipini, aluno do 7o ano, é um momento para “trabalhar com os amigos, compartilhar cultura e se divertir”!
AGENDA CULTURAL
São Paulo – Clube de Cinema (quintas, das 19h10 às 21h35, sala 65) 13.11 – Ponto final – Match Point (Woody Allen: 2005) São Paulo – Clube do Livro (mensal, das 19h10 às 21h35, sala 65) 18.11 – Fazer uma fogueira (Jack London) Valinhos – Clube de Cinema (sextas, das 14h05 às 15h45) 14.11 – Malévola (Robert Stromberg: 2014)
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Fique ligado: todas as terças-feiras acontecem as Palestras de Profissões para os alunos de 2o e 3o anos do Ensino Médio!
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