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Jornal do Colégio JORNAL DO COLÉGIO ETAPA – 2016 • DE 19/02 A 03/03
ENTREVISTA
Começando a vida como empreendedor. O ex-aluno Rafael Arb de Castro formou-se na Poli. Trabalhou como trainee, para assumir cargo gerencial numa multinacional. Mas então decidiu tornar-se empreendedor. Sua empresa oferece um aplicativo para restaurantes, que permite consultar os cardápios e preços, pedir a refeição, verificar a conta e fazer o pagamento. Aqui ele fala de sua trajetória e formação no Colégio Etapa e na Poli, e de sua empresa.
Rafael Arb de Castro
JC – O que motivou você a escolher Engenharia como carreira?
Como foi seu início na Poli?
Rafael – Acho que a flexibilidade do curso é que o deixa mais atrativo. Escolhi Engenharia de Produção que tem um ar voltado para produtividade, para business e para administração, o que sempre me atraiu muito.
Foi muito interessante. É uma fase nova em sua vida, são outras rotinas, outras atividades, maior independência. Você começa deslumbrado. E nas aulas você fica muito por conta própria, os professores dão uma diretriz e você tem de ir atrás. Mas é um clima muito gostoso e você acaba se adaptando.
Quando você fez essa escolha?
Qual a importância dos anos iniciais na Poli?
A decisão veio no 2o ano do Ensino Médio. Antes eu tinha dúvida entre Engenharia, Publicidade e Fisioterapia. Comecei a investigar um pouco mais, conversei com alguns politécnicos e vi que Engenharia é muito mais ampla, inclusive no mercado de trabalho. A Engenharia tem aplicação em diversos segmentos. Eu mesmo, com seis anos de formado, acabei trabalhando com marketing, vendas, e hoje sou empreendedor.
Os anos iniciais são importantíssimos, fundamentais para a base do engenheiro. Dão noção de todas as áreas da Engenharia. A construção do raciocínio lógico do engenheiro é feita nesses dois primeiros anos. Tem Cálculo e Álgebra Linear, que são matérias que estimulam seu raciocínio, você começa a criar naturalmente capacidade analítica.
Como começou sua história com o Etapa?
O que você estudou nos últimos anos?
Eu conheci o Etapa através do meu irmão, que veio para cá dois anos antes.
Engenharia de Produção tem muitos projetos a serem feitos em empresas reais. Você tem de buscar uma empresa no mercado e fazer um projeto nela. Tem de ir atrás, fazer visitas, no começo em pequenas empresas, depois nas grandes. Tem uma conexão de teoria e prática. Nisso, você começa a ver do que gosta mais, porque, mesmo dentro da Produção, há uma série de possibilidades para seguir depois. Tem parte de estatística, tem parte de logística muito forte, parte industrial.
Você se adaptou fácil aqui? Os primeiros dois meses foram de adaptação. Vi que a minha preparação anterior era inferior à dos demais alunos. Química eu não sabia, nunca tinha tido no outro colégio. Mas, depois, entrando no ritmo de trabalho, de estudo, a adaptação foi tranquila. ENTREVISTA
Carreira – Engenharia de Produção
CONTO
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ARTIGO
ENTRE PARÊNTESIS
N dias
Conto de escola – Machado de Assis
ESPECIAL
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Alimentação saudável na adolescência
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Torneio de Robótica
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ESPECIAL ENEM
Você fez estágio a partir de que ano? Fiz no 5 ano só. Abri mão de fazer no 4 porque fui eleito presidente do Centro Acadêmico da Engenharia de Produção. o
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Durante o curso, de quais atividades extracurriculares você participou? Eu comecei com esporte, desde o 1o ano. Tem o Bichusp, participei no futsal. Depois fui do time de futsal por dois anos. No 3o ano comecei a me envolver com o Centro Acadêmico e em novembro, na eleição oficial, virei presidente. No 4o ano fui presidente do Centro Acadêmico e no 5o ano fiquei como colaborador.
muito, me encantei com marketing. Depois voltei para vendas, trabalhei três meses em vendas, depois oito meses em marketing, depois um ano em vendas. Aí, internamente, redirecionei minha carreira para marketing. Consegui voltar para o marketing e assumi a segunda maior marca da Unilever, que era a Seda.
O que você fazia nesse trabalho? Dentro do marketing eu cuidava de como se ia investir em comunicação. A gente não criava a comunicação; a gente executava a comunicação. Em execução o engenheiro cabe muito bem.
Como presidente, o que você fez no Centro Acadêmico?
Você ficou quanto tempo na Unilever?
O Centro Acadêmico da Engenharia de Produção até então era muito fechado e fazia as coisas para grupos pequenos. Eu queria ampliar isso. Tínhamos um espaço reduzido, consegui com a Prefeitura da USP que o espaço fosse aumentado. E criamos uma série de atividades abertas a todo mundo. Envolvemos mais alunos.
Considerando o estágio, fiquei quase quatro anos. Dentro do meu período de trainee, fiquei metade em vendas, metade em marketing.
Como foi esse envolvimento? Criamos um calendário intenso de atividades. Organizamos uma forma para possibilitar que o maior número de alunos participassem do Enegep, o Encontro Nacional de Engenharia de Produção, que é realizado anualmente em algum lugar do Brasil. Na maioria das vezes essa participação é mais fácil para os alunos do 3o ano, pois eles ficam isentos de aulas durante a semana. Também criamos eventos esportivos e incentivamos a parte social para integrar mais com os veteranos, com os bichos, uma série de coisas.
Onde você estagiou? Estagiei na Unilever, na área de vendas. Não tinha a ver com Engenharia. O padrão do engenheiro de produção é ir para logística numa multinacional, eu quis ser diferente e fui estagiar na parte de vendas. Foi bom conhecer outros modelos de trabalho. Conhecer pequenas, médias e grandes empresas. Foi através disso que eu me encantei pelo mundo de bens de consumo.
O que você fazia em vendas? Eu estruturava tudo para a equipe de vendas. Eu não ia a campo, fazia a parte analítica interna. Fazia toda a avaliação de vendas, de análise de oportunidades. Foi bem focado nisso e na parte de suporte de apresentações de projetos.
Por que saiu da empresa? Lá, ao término do trainee, você assume um cargo de gerência. Estava na reta final do meu trainee quando, em junho de 2012, decidi empreender, queria abrir minha própria empresa. Só que eu precisava ficar até setembro na empresa. Em julho eu fui promovido, mas recusei e comuniquei que já tinha decidido sair em setembro.
Não deve ter sido uma decisão fácil recusar a promoção. Não foi fácil. Mas eu tinha muita vontade. Tomei a decisão e não voltei atrás. Tirei um mês de férias para descansar e aí comecei a analisar. Em três meses montei cinco planos de negócios. Obviamente, não 100% estruturados, mas achei cinco oportunidades que fui avaliando, sempre consultando pessoas amigas, família. Eu tinha as ideias, depois avaliava o mercado, fazia projeções, via as oportunidades de negócio. Uma delas foi a oportunidade em que até hoje eu trabalho – na verdade, foi o meu sócio que apresentou a ideia.
Como chegou essa ideia até você? Meu sócio veio com a ideia do VocêQpad e o protótipo, que não tinha estruturado. Eu me interessei pela ideia, pelo mercado. Acabou sendo rápido o processo. Só que começou com um projeto diferente: a gente sentava com tablet em mesas de restaurantes para fazer o pedido. O custo dos tablets ia ser muito alto.
Depois desse estágio, o que você fez?
Aí decidiram trocar o tablet pelo smartphone?
Continuei na Unilever. Eu me candidatei como trainee de vendas e fui aprovado.
Sim. Ao longo de 2014 desenvolvemos o produto e em 2015 fizemos o lançamento oficial. Temos trabalhado e temos crescido. Em 2014, éramos eu e meu sócio na empresa, com um ou dois desenvolvedores trabalhando conosco. Hoje é uma equipe de 10 pessoas. A empresa ainda é enxuta, mas tem responsáveis pelo comercial, pelo marketing, por TI e também tem uma parte de implantação que é diferente do comercial.
Como é o trabalho no sistema de trainee? O projeto de trainee nas empresas sempre visa o crescimento acelerado do profissional. Passei por vendas – todo mundo tem que passar por vendas, mesmo sendo candidato a outra área. Depois fui para o marketing. Aprendi
ESPECIAL ENEM
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Qual é a proposta do VocêQpad? É chegar ao restaurante e fazer o pedido independente de garçom?
Como a Poli e a Produção foram importantes nessa sua trajetória?
Exato. Na mesa do restaurante, você vê o cardápio no smartphone, com fotos, e faz o pedido. Como o VocêQpad é integrado ao sistema da casa, o pedido vai direto para a cozinha. Depois você acompanha a conta em tempo real e faz o pagamento com o próprio celular. O pagamento já vai direto para o caixa. O garçom não deixa de existir: ele traz o pedido para a mesa, serve, etc. Além de ser uma boa experiência para o usuário, é muito operacional para o restaurante. Numa praça de alimentação, por exemplo, você faz pedido e pagamento sem pegar fila.
A base que a Engenharia me deu e a abrangência da Engenharia de Produção propiciaram que eu chegasse onde estou hoje. A Poli dá abertura para você ter contato com uma série de interfaces e, mais do que isso, aprender a se virar, a conhecer coisas novas. Isso me deu muita confiança para tomar a decisão de largar tudo e montar uma empresa. A parte financeira e a parte de administração da Engenharia de Produção são muito fortes. Na Engenharia de Produção tem até curso jurídico, que não dá uma base tão forte, mas hoje eu conheço uma série de coisas jurídicas que eu não sabia antes. E a parte fiscal também.
Seus clientes são os restaurantes? Nossos clientes são restaurantes e também os usuários. Só que os usuários não são pagantes. O aplicativo é gratuito. Quem oferece o serviço é o estabelecimento e ele é o cliente pagante.
Hoje, quantos restaurantes usam o sistema? Estamos com 40 restaurantes em São Paulo, Jundiaí e Santos. Agora vamos começar a expansão. O ano de 2015 foi de aprendizado, estruturação de projetos e de processos, consolidação de parcerias. O de 2016 é para aumentar a base de estabelecimentos.
Qual a projeção para este ano? Este ano o objetivo é sair de 40 para 400 estabelecimentos, pelo menos. Esse é ainda um objetivo conservador nosso. E estamos pensando em internacionalização em 2017. Já estamos conversando com alguns outros países. Queremos ser um case de experiência tecnológica no Brasil que deu certo e vai espalhar isso para outros lugares.
Hoje você trabalha quantas horas por dia? Umas 12, 14 horas, pelo menos. Tenho paixão pelo que faço.
Pretende continuar assim mais adiante? Sim, eu me vejo ainda empreendedor. Minha intenção é ter o negócio estruturado e passar a ser o estimulador de novos empreendedores no Brasil.
Da sua época para cá, qual a principal mudança na grade curricular da Poli? Uma mudança é que hoje a entrada é direta na ênfase. Com relação ao currículo, incrementaram alguma coisa na Produção. Hoje tem noções de marketing, na minha época não tinha. Foi colocada muita coisa de empreendedorismo na grade curricular.
O que você aprendeu no Etapa que mais o ajudou na Poli e na atividade profissional, e continua ajudando? Você não pode menosprezar nenhuma matéria. A abrangência de conhecimento abre portas. É importante você ter conhecimento, estimular sua capacidade de estudo, entender outros assuntos. E ter conhecimento gera mais conhecimento.
Você ainda tem amigos da época do colégio? Na verdade, as amizades que tenho hoje, que se mantiveram, são do Etapa e da Poli.
Você quer dizer mais alguma coisa para nossos alunos? Corra atrás do que você quer, independente do que é. Corra atrás do seu sonho, isso é o mais importante. Siga seu coração e acredite nos próximos passos. A vida só vai ser muito bem vivida se você estiver feliz. A gente tem que fazer a própria felicidade.
(ENTRE PARÊNTESIS)
N dias Depois de N dias um estudante observa que: 1) choveu 7 vezes de manhã ou à tarde; 3) houve 5 tardes sem chuva; 4) houve 6 manhãs sem chuva. N é igual a quanto?
RESPOSTA Somando os períodos sem chuva com os períodos com chuva, teremos a soma total dos períodos (manhãs + tardes) observados; logo, teremos 2N. Assim, 2N = 7 + 5 + 6, isto é, N = 9 dias.
2) quando chove de manhã, não chove à tarde;
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CONTO
Conto de escola Machado de Assis
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escola era na Rua do Costa, um sobradinho de grade de pau. O ano era de 1840. Naquele dia – uma segunda-feira, do mês de maio – deixei-me estar alguns instantes na Rua da Princesa a ver onde iria brincar a manhã. Hesitava entre o morro de S. Diogo e o Campo de Sant’Ana, que não era então esse parque atual, construção de gentleman, mas um espaço rústico, mais ou menos infinito, alastrado de lavadeiras, capim e burros soltos. Morro ou campo? Tal era o problema. De repente disse comigo que o melhor era a escola. E guiei para a escola. Aqui vai a razão. Na semana anterior tinha feito dous suetos, e, descoberto o caso, recebi o pagamento das mãos de meu pai, que me deu uma sova de vara de marmeleiro. As sovas de meu pai doíam por muito tempo. Era um velho empregado do Arsenal de Guerra, ríspido e intolerante. Sonhava para mim uma grande posição comercial, e tinha ânsia de me ver com os elementos mercantis, ler, escrever e contar, para me meter de caixeiro. Citava-me nomes de capitalistas que tinham começado ao balcão. Ora, foi a lembrança do último castigo que me levou naquela manhã para o colégio. Não era um menino de virtudes. Subi a escada com cautela, para não ser ouvido do mestre, e cheguei a tempo; ele entrou na sala três ou quatro minutos depois. Entrou com o andar manso do costume, em chinelas de cordovão, com a jaqueta de brim lavada e desbotada, calça branca e tesa e grande colarinho caído. Chamava-se Policarpo e tinha perto de cinquenta anos ou mais. Uma vez sentado, extraiu da jaqueta a boceta de rapé e o lenço vermelho, pô-los na gaveta; depois relanceou os olhos pela sala. Os meninos, que se conservaram de pé durante a entrada dele, tornaram a sentar-se. Tudo estava em ordem; começaram os trabalhos. – Seu Pilar, eu preciso falar com você, disse-me baixinho o filho do mestre. Chamava-se Raimundo este pequeno, e era mole, aplicado, inteligência tarda. Raimundo gastava duas horas em reter aquilo que a outros levava apenas trinta ou cinquenta minutos; vencia com o tempo o que não podia fazer logo com o cérebro. Reunia a isso um grande medo ao pai. Era uma criança fina, pálida, cara doente; raramente estava alegre. Entrava na escola depois do pai e retirava-se antes. O mestre era mais severo com ele do que conosco. – O que é que você quer? – Logo, respondeu ele com voz trêmula. Começou a lição de escrita. Custa-me dizer que eu era dos mais adiantados da escola; mas era. Não digo também que era dos mais inteligentes, por um escrúpulo fácil de entender e de excelente efeito no estilo, mas não tenho outra convicção. Note-se que não era pálido nem mofino: tinha boas cores e músculos de ferro. Na lição de escrita, por exemplo, acabava sempre antes de todos, mas deixava-me estar a recortar narizes no papel ou na tábua, ocupação sem nobreza nem espiritualidade, mas em todo caso ingênua. Naquele dia foi a mesma cousa; tão depressa acabei, como entrei a reproduzir o nariz do mestre, dando-lhe cinco ou seis atitudes diferentes, das quais recordo a interrogativa, a admirativa, a dubitativa e a cogitativa. Não lhes punha esses nomes, pobre estudante de primeiras letras que era; mas, instintivamente, dava-lhes essas expressões. Os outros foram acabando; não tive remédio senão acabar também, entregar a escrita, e voltar para o meu lugar.
Com franqueza, estava arrependido de ter vindo. Agora que ficava preso, ardia por andar lá fora, e recapitulava o campo e o morro, pensava nos outros meninos vadios, o Chico Telha, o Américo, o Carlos das Escadinhas, a fina flor do bairro e do gênero humano. Para cúmulo de desespero, vi através das vidraças da escola, no claro azul do céu, por cima do morro do Livramento, um papagaio de papel, alto e largo, preso de uma corda imensa, que bojava no ar, uma cousa soberba. E eu na escola, sentado, pernas unidas, com o livro de leitura e a gramática nos joelhos. – Fui um bobo em vir, disse eu ao Raimundo. – Não diga isso, murmurou ele. Olhei para ele; estava mais pálido. Então lembrou-me outra vez que queria pedir-me alguma cousa, e perguntei-lhe o que era. Raimundo estremeceu de novo, e, rápido, disse-me que esperasse um pouco; era uma cousa particular. – Seu Pilar... murmurou ele daí a alguns minutos. – Que é? – Você... – Você quê? Ele deitou os olhos ao pai, e depois a alguns outros meninos. Um destes, o Curvelo, olhava para ele, desconfiado, e o Raimundo, notando-me essa circunstância, pediu alguns minutos mais de espera. Confesso que começava a arder de curiosidade. Olhei para o Curvelo, e vi que parecia atento; podia ser uma simples curiosidade vaga, natural indiscrição; mas podia ser também alguma cousa entre eles. Esse Curvelo era um pouco levado do diabo. Tinha onze anos, era mais velho que nós. Que me quereria o Raimundo? Continuei inquieto, remexendo-me muito, falando-lhe baixo, com instância, que me dissesse o que era, que ninguém cuidava dele nem de mim. Ou então, de tarde... – De tarde, não, interrompeu-me ele; não pode ser de tarde. – Então agora... – Papai está olhando. Na verdade, o mestre fitava-nos. Como era mais severo para o filho, buscava-o muitas vezes com os olhos, para trazê-lo mais aperreado. Mas nós também éramos finos; metemos o nariz no livro, e continuamos a ler. Afinal, cansou e tomou as folhas do dia, três ou quatro, que ele lia devagar, mastigando as ideias e as paixões. Não esqueçam que estávamos então no fim da Regência, e que era grande a agitação pública. Policarpo tinha decerto algum partido, mas nunca pude averiguar esse ponto. O pior que ele podia ter, para nós, era a palmatória. E essa lá estava, pendurada do portal da janela, à direita, com os seus cinco olhos do diabo. Era só levantar a mão, despendurá-la e brandi-la, com a força do costume, que não era pouca. E daí, pode ser que alguma vez as paixões políticas dominassem nele a ponto de poupar-nos uma ou outra correção. Naquele dia, ao menos, pareceu-me que lia as folhas com muito interesse; levantava os olhos de quando em quando, ou tomava uma pitada, mas tornava logo aos jornais, e lia a valer. No fim de algum tempo – dez ou doze minutos – Raimundo meteu a mão no bolso das calças e olhou para mim. – Sabe o que tenho aqui? – Não. – Uma pratinha que mamãe me deu. – Hoje? – Não, no outro dia, quando fiz anos...
CONTO – Pratinha de verdade? – De verdade. Tirou-a vagarosamente, e mostrou-me de longe. Era uma moeda do tempo do rei, cuido que doze vinténs ou dous tostões, não me lembra; mas era uma moeda, e tão moeda que me fez pular o sangue no coração. Raimundo revolveu em mim o olhar pálido; depois perguntou-me se a queria para mim. Respondi-lhe que estava caçoando, mas ele jurou que não. – Mas então você fica sem ela? – Mamãe depois me arranja outra. Ela tem muitas que vovô lhe deixou, numa caixinha; algumas são de ouro. Você quer esta? Minha resposta foi estender-lhe a mão disfarçadamente, depois de olhar para a mesa do mestre. Raimundo recuou a mão dele e deu à boca um gesto amarelo, que queria sorrir. Em seguida propôs-me um negócio, uma troca de serviços; ele me daria a moeda, eu lhe explicaria um ponto da lição de sintaxe. Não conseguira reter nada do livro, e estava com medo do pai. E concluía a proposta esfregando a pratinha nos joelhos... Tive uma sensação esquisita. Não é que eu possuísse da virtude uma ideia antes própria de homem; não é também que não fosse fácil em empregar uma ou outra mentira de criança. Sabíamos ambos enganar ao mestre. A novidade estava nos termos da proposta, na troca de lição e dinheiro, compra franca, positiva, toma lá, dá cá; tal foi a causa da sensação. Fiquei a olhar para ele, à toa, sem poder dizer nada. Compreende-se que o ponto da lição era difícil, e que o Raimundo, não o tendo aprendido, recorria a um meio que lhe pareceu útil para escapar ao castigo do pai. Se me tem pedido a cousa por favor, alcançá-la-ia do mesmo modo, como de outras vezes; mas parece que era a lembrança das outras vezes, o medo de achar a minha vontade frouxa ou cansada, e não aprender como queria, – e pode ser mesmo que em alguma ocasião lhe tivesse ensinado mal, – parece que tal foi a causa da proposta. O pobre-diabo contava com o favor, – mas queria assegurar-lhe a eficácia, e daí recorreu à moeda que a mãe lhe dera e que ele guardava como relíquia ou brinquedo; pegou dela e veio esfregá-la nos joelhos, à minha vista, como uma tentação... Realmente, era bonita, fina, branca, muito branca; e para mim, que só trazia cobre no bolso, quando trazia alguma cousa, um cobre feio, grosso, azinhavrado... Não queria recebê-la, e custava-me recusá-la. Olhei para o mestre, que continuava a ler, com tal interesse, que lhe pingava o rapé do nariz. – Ande, tome, dizia-me baixinho o filho. E a pratinha fuzilava-lhe entre os dedos, como se fora diamante... Em verdade, se o mestre não visse nada, que mal havia? E ele não podia ver nada, estava agarrado aos jornais lendo com fogo, com indignação... – Tome, tome... Relanceei os olhos pela sala, e dei com os do Curvelo em nós; disse ao Raimundo que esperasse. Pareceu-me que o outro nos observava, então dissimulei; mas daí a pouco, deitei-lhe outra vez o olho, e – tanto se ilude a vontade! – não lhe vi mais nada. Então cobrei ânimo. – Dê cá... Raimundo deu-me a pratinha, sorrateiramente; eu meti-a na algibeira das calças, com um alvoroço que não posso definir. Cá estava ela comigo, pegadinha à perna. Restava prestar o serviço, ensinar a lição, e não me demorei em fazê-lo, nem o fiz mal, ao menos conscientemente; passava-lhe a explicação em um retalho de papel que ele recebeu com cautela e cheio de atenção. Sentia-se que despendia um esforço cinco ou seis vezes maior para aprender um nada; mas contanto que ele escapasse ao castigo, tudo iria bem. De repente, olhei para o Curvelo e estremeci; tinha os olhos em nós, com um riso que me pareceu mau. Disfarcei; mas daí a pouco, voltando-me outra vez para ele, achei-o do mesmo modo, com o mesmo ar, acrescendo que entrava a remexer-se no banco, impa-
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ciente. Sorri para ele e ele não sorriu; ao contrário, franziu a testa, o que lhe deu um aspecto ameaçador. O coração bateu-me muito. – Precisamos muito cuidado, disse eu ao Raimundo. – Diga-me isto só, murmurou ele. Fiz-lhe sinal que se calasse; mas ele instava, e a moeda, cá no bolso, lembrava-me o contrato feito. Ensinei-lhe o que era, disfarçando muito; depois, tornei a olhar para o Curvelo, que me pareceu ainda mais inquieto, e o riso, dantes mau, estava agora pior. Não é preciso dizer que também eu ficara em brasas, ansioso que a aula acabasse; mas nem o relógio andava como das outras vezes, nem o mestre fazia caso da escola; este lia os jornais, artigo por artigo, pontuando-os com exclamações, com gestos de ombros, com uma ou duas pancadinhas na mesa. E lá fora, no céu azul, por cima do morro, o mesmo eterno papagaio, guinando a um lado e outro, como se me chamasse a ir ter com ele. Imaginei-me ali, com os livros e a pedra embaixo da mangueira, e a pratinha no bolso das calças, que eu não daria a ninguém, nem que me serrassem; guardá-la-ia em casa, dizendo a mamãe que a tinha achado na rua. Para que me não fugisse, ia-a apalpando, roçando-lhe os dedos pelo cunho, quase lendo pelo tato a inscrição, com uma grande vontade de espiá-la. – Oh! seu Pilar! bradou o mestre com voz de trovão. Estremeci como se acordasse de um sonho, e levantei-me às pressas. Dei com o mestre, olhando para mim, cara fechada, jornais dispersos, e ao pé da mesa, em pé, o Curvelo. Pareceu-me adivinhar tudo. – Venha cá! bradou o mestre. Fui e parei diante dele. Ele enterrou-me pela consciência dentro um par de olhos pontudos; depois chamou o filho. Toda a escola tinha parado; ninguém mais lia, ninguém fazia um só movimento. Eu, conquanto não tirasse os olhos do mestre, sentia no ar a curiosidade e o pavor de todos. – Então o senhor recebe dinheiro para ensinar as lições aos outros? disse-me o Policarpo. – Eu... – Dê cá a moeda que este seu colega lhe deu! clamou. Não obedeci logo, mas não pude negar nada. Continuei a tremer muito. Policarpo bradou de novo que lhe desse a moeda, e eu não resisti mais, meti a mão no bolso, vagarosamente, saquei-a e entreguei-lha. Ele examinou-a de um e outro lado, bufando de raiva; depois estendeu o braço e atirou-a à rua. E então disse-nos uma porção de cousas duras, que tanto o filho como eu acabávamos de praticar uma ação feia, indigna, baixa, uma vilania, e para emenda e exemplo íamos ser castigados. Aqui pegou da palmatória. – Perdão, seu mestre... solucei eu. – Não há perdão! Dê cá a mão! dê cá! vamos! sem-vergonha! dê cá a mão! – Mas, seu mestre... – Olhe que é pior! Estendi-lhe a mão direita, depois a esquerda, e fui recebendo os bolos uns por cima dos outros, até completar doze, que me deixaram as palmas vermelhas e inchadas. Chegou a vez do filho, e foi a mesma cousa; não lhe poupou nada, dous, quatro, oito, doze bolos. Acabou, pregou-nos outro sermão. Chamou-nos sem-vergonhas, desaforados, e jurou que se repetíssemos o negócio, apanharíamos tal castigo que nos havia de lembrar para todo o sempre. E exclamava: Porcalhões! tratantes! faltos de brio! Eu por mim, tinha a cara no chão. Não ousava fitar ninguém, sentia todos os olhos em nós. Recolhi-me ao banco, soluçando, fustigado pelos impropérios do mestre. Na sala arquejava o terror; posso dizer que naquele dia ninguém faria igual negócio. Creio que o próprio Curvelo enfiara de medo. Não olhei logo para ele, cá dentro de mim jurava quebrar-lhe a cara, na rua, logo que saíssemos, tão certo como três e dous serem cinco.
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CONTO
Daí a algum tempo olhei para ele; ele também olhava para mim, mas desviou a cara, e penso que empalideceu. Compôs-se e entrou a ler em voz alta; estava com medo. Começou a variar de atitude, agitando-se à toa, coçando os joelhos, o nariz. Pode ser até que se arrependesse de nos ter denunciado; e na verdade, por que denunciar-nos? Em que é que lhe tirávamos alguma cousa? “Tu me pagas! tão duro como osso!” dizia eu comigo. Veio a hora de sair, e saímos; ele foi adiante, apressado, e eu não queria brigar ali mesmo, na Rua do Costa, perto do colégio; havia de ser na Rua Larga de S. Joaquim. Quando, porém, cheguei à esquina, já o não vi; provavelmente escondera-se em algum corredor ou loja; entrei numa botica, espiei em outras casas, perguntei por ele a algumas pessoas, ninguém me deu notícia. De tarde faltou à escola. Em casa não contei nada, é claro; mas para explicar as mãos inchadas, menti a minha mãe, disse-lhe que não tinha sabido a lição. Dormi nessa noite, mandando ao diabo os dous meninos, tanto o da denúncia como o da moeda. E sonhei com a moeda; sonhei que, ao tornar à escola, no dia seguinte, dera com ela na rua, e a apanhara, sem medo nem escrúpulos... De manhã, acordei cedo. A ideia de ir procurar a moeda fez-me vestir depressa. O dia estava esplêndido, um dia de maio, sol
magnífico, ar brando, sem contar as calças novas que minha mãe me deu, por sinal que eram amarelas. Tudo isso, e a pratinha... Saí de casa, como se fosse trepar ao trono de Jerusalém. Piquei o passo para que ninguém chegasse antes de mim à escola; ainda assim não andei tão depressa que amarrotasse as calças. Não, que elas eram bonitas! Mirava-as, fugia aos encontros, ao lixo da rua... Na rua encontrei uma companhia do batalhão de fuzileiros, tambor à frente, rufando. Não podia ouvir isto quieto. Os soldados vinham batendo o pé rápido, igual, direita, esquerda, ao som do rufo; vinham, passaram por mim, e foram andando. Eu senti uma comichão nos pés, e tive ímpeto de ir atrás deles. Já lhes disse: o dia estava lindo, e depois o tambor... Olhei para um e outro lado; afinal, não sei como foi, entrei a marchar também ao som do rufo, creio que cantarolando alguma cousa: Rato na Casaca... Não fui à escola, acompanhei os fuzileiros, depois enfiei pela Saúde, e acabei a manhã na Praia da Gamboa. Voltei para casa com as calças enxovalhadas, sem pratinha no bolso nem ressentimento na alma. E contudo a pratinha era bonita e foram eles, Raimundo e Curvelo, que me deram o primeiro conhecimento, um da corrupção, outro da delação; mas o diabo do tambor... Extraído de: Várias histórias.
ARTIGO
Alimentação saudável na adolescência Noêmia Lopes
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ispostos em roda, alunos de Ensino Médio jogam uma espécie de “supertrunfo”. Mas em vez de comparar modelos de carros ou poderes de heróis, eles conversam sobre cartas com tabelas nutricionais de diferentes tipos de lanches, mais ou menos saudáveis: qual é o teor de açúcar, sal, gordura, fibras e vitaminas de cada alimento? O que cada uma dessas informações significa? Como a escolha do que consumimos afeta nossa saúde? A disputa faz parte de um conjunto de oficinas promovido mensalmente, desde abril de 2014, pelo Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades (OCRC, da sigla em inglês), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) apoiados pela FAPESP. Os encontros ocorrem no anfiteatro e nas arenas da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e, a cada mês, reúnem em média 92 convidados (88 alunos e quatro professores) de duas escolas da rede pública de ensino. “Buscamos mostrar aos jovens que uma dieta balanceada ajuda a prevenir o aparecimento de doenças como diabetes, hipertensão e obesidade. E, mais do que isso, que a ciência e particularmente a química dos alimentos não estão apenas nos livros – elas estão vivas e tocam permanentemente nossas vidas”, disse Ronaldo Aloise Pilli, coordenador de Educação e Difusão do Conhecimento do OCRC, à Agência FAPESP. As oficinas começam sempre com uma palestra introdutória, ministrada por pós-graduandos vinculados aos pesquisadores do
CEPID OCRC. Na última edição, realizada em 11 de setembro, a palestrante foi Vanessa Bóbbo, aluna de doutorado na Escola de Enfermagem da Unicamp. “Adolescentes costumam associar os cuidados com o corpo somente à aparência. Queremos chamar a atenção deles para o fato de que, desde cedo, as escolhas do cardápio também têm influência sobre algo muito mais importante – nossa saúde e qualidade de vida”, afirmou Bóbbo.
ARTIGO A apresentação inclui recursos como imagens de tumblrs, gifs animados e memes, tornando a linguagem mais descontraída, mas o intuito é o de que esse momento sirva como pontapé inicial para discussões mais profundas que virão a seguir, nas oficinas propriamente ditas. “Depois de falarmos rapidamente sobre a composição dos alimentos, algo que o estudante dessa faixa etária já conhece, conversamos sobre o quê, quanto e quando consumir, o papel da insulina no corpo humano, o que os rótulos revelam, a importância dos exercícios físicos, entre outros temas.” Também é objetivo da equipe do OCRC que os alunos retransmitam as informações às suas famílias, incentivando-as a adotar hábitos mais saudáveis. “Quase todos têm um parente ou conhecido que é diabético, hipertenso ou obeso. Procuramos trazer essas experiências para o debate e dar dicas relacionadas a novos hábitos”, disse Bóbbo. Depois da palestra inicial, os estudantes participam de quatro a cinco oficinas, divididos em grupos que se revezam nas atividades, também conduzidas por pós-graduandos. Além do “supertrunfo” dos alimentos, há rodas dedicadas aos assuntos pressão arterial, aterosclerose, infarto e AVC; IMC (índice de massa corporal), massa magra versus massa gorda, alimentação e exercício físico; doação de sangue, antígenos e anticorpos, esta última promovida por profissionais do Hemocentro da Unicamp.
Parceria com os educadores O modelo atual das oficinas foi inspirado em um antigo projeto do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) de Obesidade e Diabetes, financiado pela FAPESP e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). “Até 2013, as atividades de educação do INCT já eram voltadas a estudantes de Ensino Fundamental e Médio. Quando o CEPID OCRC entrou em vigor, adotamos o projeto e priorizamos o atendimento a escolas que se propuseram a difundir o conhecimento adquirido nas oficinas a outros alunos, ampliando ainda mais o alcance de nossas ações”, disse Cristina Vidrich, gestora de Educação e Difusão do Conhecimento do OCRC. Hoje, já há escolas públicas de Campinas que procuram a equipe do centro de pesquisa a fim de entrar para o calendário das oficinas. Mas inicialmente a iniciativa partiu do OCRC, que procurou as duas diretorias de ensino da cidade, solicitando indicações dos dirigentes sobre quais comunidades necessitavam desse tipo de atenção e divulgação científica. “Estamos trabalhando mais intensamente com três unidades: a Escola Estadual Barão Geraldo de Rezende, próxima à Unicamp; a Escola Estadual Miguel Vicente Cury [a cerca de 15 quilômetros do campus]; e a Escola Estadual Barão Ataliba Nogueira [distante cerca de 13 quilômetros]”, contou Pilli. A equipe orienta os educadores a, na medida do possível, conciliar as demandas do conteúdo trabalhado na escola com o conteúdo ofertado nas oficinas, estendendo-o também a novas ações e desdobramentos. Segundo Pilli, “cabe a eles selecionar qual faixa etária e turma devem vir aos encontros, de acordo com as necessidades de aprendizagem dos estudantes”. Aos poucos, chegam notícias sobre como os professores têm feito a transposição entre oficina e sala de aula. “Soubemos de um professor de Matemática que incentivou seus alunos a replicar a oficina sobre cálculo do IMC para colegas da escola que não tinham vindo à Unicamp. Um docente de Geografia e um de Inglês travaram uma parceria para investigar costumes alimentares e aumento da obesidade em países de língua inglesa”, exemplificou Vidrich.
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Joander Rodrigues, professor de Física da Escola Estadual Miguel Vicente Cury, acompanhou seus alunos na oficina de 11 de setembro. “Eles têm a chance de absorver e multiplicar esse conteúdo a que têm acesso aqui. E, mais do que isso, podem sentir despertar o desejo de entrar também para o time acadêmico, como estudantes e pesquisadores”, disse. De acordo com Pilli, fomentar esse interesse está sempre entre as metas do OCRC. “Afinal”, questiona ele, “como o aluno pode se interessar por Ciência se ela não o encanta?”. Em 2014, as oficinas contaram com 848 participantes, entre alunos e docentes. Em 2015, estima-se que serão 880 até o mês de novembro. As escolas integram ainda outras atividades esporádicas, como visitas a museus e laboratórios da universidade, excursões ao Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) e orientações para montagem de feiras de ciências.
Surpresas e descobertas Apesar do fácil acesso que os estudantes têm à informação, Pilli e Vidrich contam que as turmas ainda se surpreendem com a quantidade de açúcar presente nos refrigerantes, o teor de gordura de certos biscoitos ou o fato de que barras de cereal e sucos de caixinha nem sempre são as melhores escolhas, dependendo dos ingredientes que os compõem. Há surpresas, contudo, que agregam novas opções ao cardápio. Na última parada das oficinas, e depois de todas as informações recebidas, as turmas são convidadas a montar lanches saudáveis, com direito à inclusão de salada e suco natural – escolhas distantes do biscoito recheado com achocolatado ou da batata frita com refrigerante que tanto aparecem, ao longo do dia, no discurso dos adolescentes. “Hoje escutei um garoto elogiando o sanduíche que montou adicionando tomate, cenoura e alface. Quanto ao suco, em geral as turmas já chegam perguntando pelo açúcar, mas acabam convencidas a provar a bebida apenas com o adocicado natural da fruta”, contou a nutricionista Carla Bueno, oficineira e doutoranda da FCM. “É uma questão de desconstruir pré-conceitos, por vezes criados há anos, há gerações. Quando os pais dizem ‘coma a salada senão ficará sem sobremesa’, a percepção que se cria é a de que salada é ruim, mas obrigatória para ganhar a recompensa, ou seja, o doce”, disse Bueno. “Mas o saudável custa caro, não custa?”, ouviu-se, enquanto isso, numa das rodas de conversa. “Depende”, responderam os oficineiros, que exemplificavam: os mesmos R$ 3 que compram uma barra de chocolate que termina depressa compram um pacote de aveia que dura por dias; frutas como banana, maçã ou mamão são mais acessíveis que o kiwi, o morango ou o maracujá. “Também trabalhamos nesse sentido, de desfazer equívocos”, contou Pilli. “Ainda existe muita confusão sobre o que é alimentação saudável, em públicos de todas as idades. Há quem pense que se trata de consumir produtos dietéticos – o que só é necessário em casos específicos. Ou que refrigerantes e chocolates não possuem sal – basta conferir os rótulos para verificar que possuem, sim. São más interpretações que buscamos resolver junto aos estudantes, professores e, se possível, suas famílias.” Para Emile Chiareli, de 15 anos, a novidade foi descobrir quão importante é cuidar de cada refeição do dia. “Sempre comi aleatoriamente, quando sinto vontade, e agora vou tentar prestar mais atenção no que como e quando como, de manhã, à tarde e à noite”, disse ela. Extraído de: Agência FAPESP – Divulgando a cultura científica, out./2015.
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ESPECIAL
Torneio de Robótica Alunos do 6o ano do Ensino Fundamental desenvolvem robôs e participam da primeira competição interna no Colégio Etapa.
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reze equipes do 6o ano do Ensino Fundamental participaram no dia 28 de novembro do 1o Torneio Interno de Robótica do Colégio Etapa. Todos os projetos seguiam os moldes da First Lego League (acesse <www.firstlegoleague.org>). Os estu dantes tinham dois minutos e 30 segundos em cada uma de três baterias para realizar com seus robôs as tarefas propostas. O objetivo da competição é desenvolver trabalho em equipe, pesquisa acadêmica e técnica. De acordo com Victor Reiss, coordenador de Robótica do Colégio Etapa, a atividade colabora no desenvolvimento do raciocínio lógico, capacidade estratégica, análise de dados, senso de responsabilidade e no processo de imaginação da mecânica dos robôs.
Parceria e troca de informações entre competidores, voluntários e professores no 1o Torneio Interno de Robótica do Colégio Etapa.
Equipes vencedoras O primeiro lugar no torneio ficou com a equipe Lego of Duty, formada por Felipe Fratti Baptista, João Pedro Bassetti Freitas e Luiz Felipe Arruda Torres, do Etapa Valinhos. Os alunos explicaram que a disciplina e a organização do grupo foram fundamentais para o sucesso do projeto. A equipe Buildbô, formada por Marco Polo Levorin Filho, Luiz Eduardo Yshida Takada e Marcelo Honda, conquistou a segunda posição no torneio. “No começo eu não sabia se era capaz de programar, mas agora essa é a minha matéria favorita”, disse Marco Polo. Sua mãe, Patrícia Bertho Levorin, comemorou o novo
a (esq. para por Felipe Fratti Baptist Lego of Duty, formada i Freitas, do sett Bas ro Ped es e João dir.), Luiz Felipe Arruda Torr Etapa Valinhos.
Jornal do Colégio
interesse: “Segunda-feira é o único dia em que ele não dá trabalho para levantar. Tudo por causa da aula de Robótica.” O terceiro lugar no torneio foi ocupado pela equipe Asasta Corps. Seus integrantes, Gabriel Pongelupp Oliveira, Pedro Costenaro, Vinícius de Simoni Guimarães e João Vichi, lamentaram os pontos perdidos devido a algumas falhas de programação. Mas garantiram que não vão repetir o mesmo equívoco em outras competições. “A competição os ajuda a aprender com os seus erros e a amadurecerem para os próximos desafios que virão”, disse Victor Reiss.
A equipe Buildbô , formada por Luiz Eduardo Yshida Tak (esq. para dir.), Ma ada rcelo Honda e Ma rco Polo Levorin Fil ho.
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