Jornal do colégio - 609

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Jornal do Colégio JORNAL DO COLÉGIO ETAPA  –  2016  •  DE 13/05 A 26/05

ENTREVISTA

“Faça os simulados a sério. É importante.” Barbara Benassi Motter, ex-aluna do Colégio Etapa, graduou-se este ano em Engenharia Mecânica na Poli. No seu currículo está o intercâmbio de duplo diploma, quando ficou dois anos em Turim, na Itália. Viajou bastante e aproveitou a tese que fez lá, aqui na Poli. Para quem vai prestar vestibular este ano, recomenda fazer todos os simulados com seriedade. E para os demais, sugere que participem das atividades extracurriculares.

Barbara Benassi Motter

JC – Quando foi feita sua escolha por Engenharia?

Prestei o Enem e concorri à vaga na UFSCar pelo Sisu.

trônica, Naval e Produção. O 1o ano era igual para todo mundo. Transferência só era possível pedir a partir do segundo semestre. Para isso era preciso ter notas boas. No final do 1o ano eu pedi transferência para Naval e no terceiro semestre pedi transferência para Mecânica. Na Naval eu tive as mesmas aulas que as pessoas da Mecânica.

Como foi sua experiência inicial aqui?

Mecânica era realmente o que você queria?

No começo, ter provas todo dia era uma coisa bem estranha. Mas em um semestre você se acostuma e começa a achar bom.

Especialmente no começo tem muita matéria que é base, que não é tão o que você quer. Você imagina, por exemplo, que na Engenharia Mecânica vai aprender a fazer um carro. As matérias que estuda não dão condição para isso. Mas Mecânica é bem abrangente então continuei e entrei na atividade extracurricular. E aí realmente a gente fazia um carro.

Barbara – A escolha por Engenharia vem do meu gosto de ver como as coisas funcionam.

Além da Fuvest, você prestou quais vestibulares?

No início da Poli, como foram seus estudos? A gente descobre um jeito de estudar cada matéria. Em Física, por exemplo, nós sabíamos que um professor de outra sala fazia um resumo bonitinho. Então todo mundo ia lá pegar esse resumo. Também havia professores que tinham apostila. Só era preciso descobrir quais eram.

Como foi o processo de escolha da área na Poli? Na Poli os cursos são separados em Grandes Áreas. Mecânica é na Grande Área Mecânica, que inclui também MecaENTREVISTA

Carreira – Engenharia Mecânica

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Distância

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CONTO

A carteira – Machado de Assis

No segundo semestre do 2o ano, quando já estava em Mecânica, fiz muitas atividades extracurriculares. Essa é a parte mais legal. Eu queria uma das atividades que fazem projetos de verdade. Uma é de pequenos robôs, outra é de aviões pequeninos, muito difíceis de fazer. E tem o Baja, POIS É, POESIA

ARTIGO

Antigas e muito valiosas

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A César o que é de César

Cláudio Manuel da Costa (1729-1789)

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ESPECIAL

ENTRE PARÊNTESIS

MAS, MÁS, MAIS

[E OUTRAS QUESTÕES GRAMATICAIS]

Fale sobre essa atividade extracurricular.

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Aprovações internacionais

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ENTREVISTA

que é o desenvolvimento de um veículo off road. Também tem o carro Fórmula 1, dentro do Projeto SAE (Society of Automotive Engineers). Gostei mais do Fórmula 1.

Você pegou o projeto desde o início? Entrei em agosto de 2011 e só saí em julho de 2013, quando fui para o intercâmbio. No primeiro ano peguei o projeto em parte, na construção do carro. No ano seguinte peguei o trabalho inteiro e no terceiro ano peguei a parte de projeto do carro.

curso é diferente. [Obs.: cada dois anos cursados no exterior equivalem a um ano na Poli. A equivalência das disciplinas somente é aplicável quando o curso feito no exterior é semelhante ao cursado na Poli].

Como você ficou sabendo desse intercâmbio?

Na equipe temos umas 15 pessoas, mas as que trabalham mesmo devem ser umas sete.

Os intercâmbios são bem divulgados na Poli. O de duplo diploma me pareceu mais legal. Tem na Alemanha, mas você precisa falar alemão e eu não falava nada. Na França é onde mais tem, mas também não falava francês. Tem em Portugal, mas era novo, ninguém tinha se formado ainda. Na Itália tem em Turim e Milão. Escolhi Turim. Instituto Politécnico de Turim. Fui para esse porque já tinha estudado um pouco de italiano.

Qual foi a importância dessa atividade?

Você ficou quanto tempo lá?

Nem todos dão atenção às atividades extracurriculares. Mas é algo que você faz, é uma responsabilidade de verdade que você tem. Você está lá na Mecânica para fazer alguma coisa, além de estudar. É uma experiência que eu tenho que vale também pelo trabalho em equipe.

Dois anos.

Quantos estudantes participam da equipe?

No curso, de modo geral, quais matérias você viu? Nos primeiros dois anos tinha bastante base: Álgebra, Cálculo, Física, Álgebra Linear, uma matéria básica de Química, outra que se chama Introdução ao Projeto de Engenharia, que é meio que você montar um projeto com todas as fases. No 1o ano tem também duas matérias de Desenho Técnico. No começo do curso você tem Computação, Física dos Blocos e Movimentos Circulares. Algumas matérias servem ao cálculo de estruturas. O 2o ano já é um pouco mais específico, com Aerodinâmica e Fluidos. Nos 3o, 4o e 5o anos você aprende a calcular engrenagens, pinhões, fazer desenhos. Então começam as termoelétricas, que são mais difíceis. No 3o ano você vê Liberações, e no 4o ano Retrações além de Modelagem e Controle.

O que você estudou na Itália? Do curso de Mecânica fomos em três. Um fez Mecânica mesmo, outro fez Automotiva, eu fiz Engenharia Matemática. Matemática mesmo. Equação diferencial, métodos numéricos para resolver equação diferencial. Outra era Equações da Física Matemática, outra era Matemática discreta. Fiz as duas matérias que eram mais de Engenharia.

O que determinou sua escolha dessa área? Na Poli eu gostava da matéria de modelagem, de ver os modelos, daí escolhi Engenharia Matemática. Não tem isso aqui e me pareceu uma opção legal.

As aulas eram em italiano? Tem em italiano e em inglês. As matérias ministradas pelo departamento de Matemática eram em italiano. Alguns cursos são só em inglês. Outros são oferecidos tanto em italiano quanto em inglês. Eu tive nos dois.

E no último ano?

Como foi nesses dois anos?

Devido ao meu intercâmbio, no 5o ano fiz só o segundo semestre. No 5o ano existe o estágio obrigatório e temos matérias que você escolhe, das quais 12 são optativas eletivas, como Automotiva, Aeronáutica, Bioengenharia, Termodinâmica.

Foi legal, Turim é uma cidade muito tranquila. Tem que se acostumar com algumas coisas, como a pausa do almoço de três horas. Você ia a uma loja, estava fechada. Mas era bem tranquilo, o transporte era bom. A gente estava num lugar que tinha supermercado, lojinhas de tudo.

Você fez o quê?

Você conheceu outros países?

Devido ao intercâmbio eu só tive de fazer duas matérias. Podiam ser optativas eletivas. Fiz uma de Cálculo Numérico de Fluidos e uma na área de Automotivos.

Viajei bastante. Fui para França, Espanha, Alemanha, Grécia, Hungria. Ia só nas férias, em fins de semana, para não faltar nas aulas. Mas deu para planejar bem.

O intercâmbio contou como estágio?

Você teve bolsa da Poli?

Meu intercâmbio de duplo diploma na Engenharia faz equivalência do 8o e do 9o semestre. O estágio está nesse período, então a equivalência foi automática. Dependendo do

A vaga é pela Poli, mas pela Poli você vai só se conseguir seu dinheiro ou arranjar bolsa fora. Eu consegui ir pelo programa Ciência sem Fronteiras.


ENTREVISTA Depois de retornar da Itália você ficou mais seis meses na Poli. O que fez nesse tempo? No final de dois anos fora, você deve apresentar sua tese. As pessoas aproveitam muito da tese de lá para cá, então nesses seis meses finais tem pouca coisa para fazer. Mas eu tive um problema, não fiz isso, então precisei fazer a tese toda em seis meses. Geralmente, na Mecânica da Poli a tese é feita em um ano e meio. Estava muito preocupada mas consegui terminar. Apresentei minha tese agora em março.

Qual foi sua tese na Poli? Tem um método que se chama redes neurais para prever as coisas. Vários trabalhos na Poli usaram redes neurais para prever o consumo energético. Eu usei o método novo de Redes Neurais e Lógica Fuzzi.

Foi a mesma tese de Turim? Sim. Aproveitei.

O que você está fazendo hoje, recém-formada? Estou procurando trabalho e estou mandando currículo para todos os lugares.

Em que área você pretende atuar? Uma área mais técnica. Não queria ir para banco. Depois que você sai da área é difícil voltar. Por isso continuo tentando ficar na Mecânica, que eu acho legal e gosto mais.

Como você vê sua caminhada na carreira até agora? Acho que eu tenho um currículo bom, só falta entrar no mercado para ter uma visão mais clara.

Profissionalmente, como você se vê daqui a alguns anos? Estou pensando em fazer mestrado, já que não está dando para entrar direto no mercado. Não sei ainda – os planos estão meio turvos.

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Em que áreas o engenheiro mecânico pode atuar? Conheço muita gente que está em banco, banco de investimento, consultoria estratégica. Pegam engenheiro para tudo onde não precisam de conhecimentos muito focados. Por exemplo, para Engenharia Civil não dá para pegar um engenheiro mecânico porque o CREA não dá autorização. Mas às vezes até dá para você entrar, você estudou estrutura, dá para fazer, só não dá para você assinar um prédio de 30 andares, por exemplo.

Que matérias você teve no Etapa que mais a ajudaram? Não indico uma matéria especificamente. Acho que tudo formou uma base. Quando fui aprender programação, por exemplo, vi que muita gente tinha dificuldade. No Etapa a gente teve aula de Programação. Lembrei: “Nossa, tive isso na aula”. Química também, as coisas de eletrólise eu entendi quando o professor falou.

O que você pode dizer a quem vai prestar vestibular para Engenharia este ano? Se não passar direto, não perca os cabelos por isso. É difícil. Se você tiver de fazer o cursinho, não será um problema. Tem gente que entrou direto, não gostou, fez cursinho, entrou de novo. Tive amigos que fizeram o cursinho. Não é nenhum drama.

Em relação ao vestibular, alguma dica especialmente para quem está no 3o ano? Faça os simulados a sério. É importante. Mesmo os simulados de vestibulares que você não vai prestar, neles entram matérias que vão cair em todos. Eu não pretendia prestar Unicamp, mas fazia os simulados. Faça e olhe direitinho o que você errou.

O que mais você diria para os alunos de todas as séries? Façam também atividades extracurriculares. Qualquer uma.

MAS, MÁS, MAIS [E OUTRAS QUESTÕES GRAMATICAIS]

Distância • Usa-se crase antes da palavra distância, se determinada. Por exemplo: Estava à distância de dez metros. • Mas se a distância for indeterminada, não se usa crase. Por exemplo: Seguiram-me a distância.


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CONTO

A carteira Machado de Assis

...D

e repente, Honório olhou para o chão e viu uma carteira. Abaixar-se, apanhá-la e guardá-la foi obra de alguns instantes. Ninguém o viu, salvo um homem que estava à porta de uma loja, e que, sem o conhecer, lhe disse rindo: – Olhe, se não dá por ela; perdia-a de uma vez. – É verdade, concordou Honório envergonhado. Para avaliar a oportunidade desta carteira, é preciso saber que Honório tem de pagar amanhã uma dívida, quatrocentos e tantos mil-réis, e a carteira trazia o bojo recheado. A dívida não parece grande para um homem da posição de Honório, que advoga; mas todas as quantias são grandes ou pequenas, segundo as circunstâncias, e as dele não podiam ser piores. Gastos de família excessivos, a princípio por servir a parentes, e depois por agradar à mulher, que vivia aborrecida da solidão; baile daqui, jantar dali, chapéus, leques, tanta cousa mais, que não havia remédio senão ir descontando o futuro. Endividou-se. Começou pelas contas de lojas e armazéns; passou aos empréstimos, duzentos a um, trezentos a outro, quinhentos a outro, e tudo a crescer, e os bailes a darem-se, e os jantares a comerem-se, um turbilhão perpétuo, uma voragem. – Tu agora vais bem, não? dizia-lhe ultimamente o Gustavo C..., advogado e familiar da casa. – Agora vou, mentiu o Honório. A verdade é que ia mal. Poucas causas, de pequena monta, e constituintes remissos; por desgraça perdera ultimamente um processo, em que fundara grandes esperanças. Não só recebeu pouco, mas até parece que ele lhe tirou alguma cousa à reputação jurídica; em todo caso, andavam mofinas nos jornais. D. Amélia não sabia nada; ele não contava nada à mulher, bons ou maus negócios. Não contava nada a ninguém. Fingia-se tão alegre como se nadasse em um mar de prosperidades. Quando o Gustavo, que ia todas as noites à casa dele, dizia uma ou duas pilhérias, ele respondia com três e quatro; e depois ia ouvir os trechos de música alemã, que D. Amélia tocava muito bem ao piano, e que o Gustavo escutava com indizível prazer, ou jogavam cartas, ou simplesmente falavam de política. Um dia, a mulher foi achá-lo dando muitos beijos à filha, criança de quatro anos, e viu-lhe os olhos molhados; ficou espantada, e perguntou-lhe o que era. – Nada, nada. Compreende-se que era o medo do futuro e o horror da miséria. Mas as esperanças voltavam com facilidade. A ideia de que os dias melhores tinham de vir dava-lhe conforto para a luta. Estava com trinta e quatro anos; era o princípio da carreira; todos os princípios são difíceis. E toca a trabalhar, a esperar, a gastar, pedir fiado ou emprestado, para pagar mal, e a más horas. A dívida urgente de hoje são uns malditos quatrocentos e tantos mil-réis de carros. Nunca demorou tanto a conta, nem ela cresceu tanto, como agora; e, a rigor, o credor não lhe punha a faca aos peitos; mas disse-lhe hoje uma palavra azeda, com um gesto mau, e Honório quer pagar-lhe hoje mesmo. Eram cinco horas da tarde. Tinha-se lembrado de ir a um agiota, mas voltou sem ousar pedir nada. Ao enfiar pela Rua da Assembleia é que viu a carteira no chão, apanhou-a, meteu no bolso, e foi andando. Durante os primeiros minutos, Honório não pensou nada; foi an­ dando, andando, andando, até o Largo da Carioca. No Largo parou alguns instantes, – enfiou depois pela Rua da Carioca, mas voltou logo, e entrou na Rua Uruguaiana. Sem saber como, achou-se daí a pouco no Largo de S. Francisco de Paula; e ainda, sem saber como, entrou em um Café. Pediu alguma cousa e encostou-se à parede, olhando para fora. Tinha medo de abrir a carteira; podia não achar nada, apenas papéis e sem valor para ele. Ao mesmo tempo, e esta era a causa principal das reflexões, a consciência perguntava-lhe se podia utilizar-se do dinheiro que achasse. Não lhe perguntava com o ar de quem não sabe, mas antes com uma expressão irônica

e de censura. Podia lançar mão do dinheiro, e ir pagar com ele a dívida? Eis o ponto. A consciência acabou por lhe dizer que não podia, que devia levar a carteira à polícia, ou anunciá-la; mas tão depressa aca­bava de lhe dizer isto, vinham os apuros da ocasião, e puxavam por ele, e convidavam-no a ir pagar a cocheira. Chegavam mesmo a dizer-lhe que, se fosse ele que a tivesse perdido, ninguém iria entregar-lha; insinuação que lhe deu ânimo. Tudo isso antes de abrir a carteira. Tirou-a do bolso, finalmente, mas com medo, quase às escondidas; abriu-a, e ficou trêmulo. Tinha dinheiro, muito dinheiro; não contou, mas viu duas notas de duzentos mil-réis, algumas de cinquenta e vinte; calculou uns setecentos mil-réis ou mais; quando menos, seiscentos. Era a dívida paga; eram menos algumas despesas urgentes. Honório teve tentações de fechar os olhos, correr à cocheira, pagar, e, depois de paga a dívida, adeus: reconciliar-se-ia consigo. Fechou a carteira, e com medo de a perder, tornou a guardá-la. Mas daí a pouco tirou-a outra vez, e abriu-a, com von­tade de contar o dinheiro. Contar para quê? era dele? Afinal venceu-se e contou: eram setecentos e trinta mil-réis. Honório teve um calafrio. Ninguém viu, ninguém soube; podia ser um lance da fortuna, a sua boa sorte, um anjo... Honório teve pena de não crer nos anjos... Mas por que não havia de crer neles? E voltava ao dinheiro, olhava, passava-o pelas mãos; depois, resolvia o contrário, não usar do achado, restituí-lo. Restituí-lo a quem? Tratou de ver se havia na carteira algum sinal. “Se houver um nome, uma indicação qualquer, não posso utilizar-me do dinheiro,” pensou ele. Esquadrinhou os bolsos da carteira. Achou cartas, que não abriu, bilhetinhos dobrados, que não leu, e por fim um cartão de visita; leu o nome; era do Gustavo. Mas então, a carteira?... Examinou-a por fora, e pareceu-lhe efetivamente do amigo. Voltou ao interior; achou mais dous cartões, mais três, mais cinco. Não havia duvidar; era dele. A descoberta entristeceu-o. Não podia ficar com o dinheiro, sem praticar um ato ilícito, e, naquele caso, doloroso ao seu coração, por­que era em dano de um amigo. Todo o castelo levantado esboroou-se como se fosse de cartas. Bebeu a última gota de café, sem reparar que estava frio. Saiu, e só então reparou que era quase noite. Caminhou para casa. Parece que a necessidade ainda lhe deu uns dous empurrões, mas ele resistiu. “Paciência, disse ele consigo; verei amanhã o que posso fazer.” Chegando a casa, já ali achou o Gustavo, um pouco preo­cupado, e a própria D. Amélia o parecia também. Entrou rindo, e perguntou ao amigo se lhe faltava alguma cousa. – Nada. – Nada? – Por quê? – Mete a mão no bolso; não te falta nada? – Falta-me a carteira, disse o Gustavo sem meter a mão no bolso. Sabes se alguém a achou? – Achei-a eu, disse Honório entregando-lha. Gustavo pegou dela precipitadamente, e olhou desconfiado para o amigo. Esse olhar foi para Honório como um golpe de estilete; depois de tanta luta com a necessidade, era um triste prêmio. Sorriu amar­gamente; e, como o outro lhe perguntasse onde a achara, deu-lhe as explicações precisas. – Mas conheceste-a? – Não; achei os teus bilhetes de visita. Honório deu duas voltas, e foi mudar de toilette para o jantar. Então Gustavo sacou novamente a carteira, abriu-a, foi a um dos bolsos, tirou um dos bilhetinhos, que o outro não quis abrir nem ler, e estendeu-o a D. Amélia, que, ansiosa e trêmula, rasgou-o em trinta mil pedaços: era um bilhetinho de amor. Extraído de: Outros contos.


ARTIGO

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Antigas e muito valiosas Heitor Shimizu

E

sponjas são animais (do filo Porifera) sem sistemas nervoso, digestivo ou circulatório. Como não se movem, dependem da água que passa por elas para obter alimentos e oxigênio. São organismos bastante simples, mas que se destacam por certas peculiaridades. Uma delas é o pioneirismo. Esponjas são os primeiros animais a habitar a Terra, de acordo com diversos estudos, incluindo um feito por pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology e publicado na edição de março da Proceedings of the National Academy of Sciences. Por meio de análises genéticas, o grupo confirmou a existência de esponjas há 640 milhões de anos, cerca de 100 milhões antes da explosão do Cambriano, quando os animais passaram a dominar o planeta. Outra peculiaridade também faz com que as esponjas sejam atraentes como objeto de pesquisa: o fato de terem importante potencial medicinal. Isso se deve à presença nesses animais de compostos químicos que poderão ser usados na produção de medicamentos para combater vírus, bactérias e até mesmo tumores. A descoberta e o desenvolvimento de produtos naturais com potencial bioativo a partir de organismos marinhos é um dos principais focos da pesquisa do grupo do professor Roberto Gomes de Souza Berlinck no Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da Universidade de São Paulo (USP). “Há muitos organismos marinhos que são fontes de grande diversidade de pequenas moléculas que chamamos de metabólitos secundários, uma vez que não são essenciais para a sobrevivência desses organismos”, disse. “Apesar de não serem muito importantes para esses animais, os metabólitos secundários são fundamentais para a sobrevivên-

cia de diversas espécies, nas quais apresentam, por exemplo, função de defesa química ou de proteção contra bactérias”, disse o pesquisador, que coordena o Projeto Temático “Componentes da biodiversidade, e seus caracteres metabólicos, de ilhas do Brasil – uma abordagem integrada”, apoiado pela Fapesp. O grupo de Berlinck descobriu metabólitos em esponjas que resultaram na produção de compostos com atividade contra leishmania e tripanossoma, parasitas causadores, respectivamente, da leishmaniose e da doença de Chagas. “É importante encontrar novas drogas contra essas doen­ças, pois as disponíveis atualmente contra a leishmaniose, por exemplo, estão sendo utilizadas há muito tempo e são bastante tóxicas”, disse. “Estudamos detalhadamente vários dos compostos antiparasitários que descobrimos, como alcaloides, e temos realizado análises in vivo e in vitro sobre os mecanismos por meio dos quais esses compostos apresentam atividades farmacológicas”, disse Berlinck. Metabólitos encontrados pelos pesquisadores na esponja da espécie Monanchora arbuscula, coletada na costa sudeste do Brasil, levaram ao isolamento de uma série de alcaloides – guanidinas e pirimidinas – com ação antiparasitária contra Trypanosoma cruzi e Leishmania infantum. “E é importante ressaltar que esses compostos afetam especificamente esses parasitas e não o organismo humano, o que é uma vantagem no tratamento das doenças causadas por eles”, disse Berlinck. Extraído de: Agência FAPESP – Divulgando a cultura científica, abr./2016.

(ENTRE PARÊNTESIS)

A César o que é de César Seis homens de nomes Hamilton, Jaime, George, Francisco, Ricardo e Luciano são os únicos membros elegíveis de uma determinada organização para ocupar os cargos de presidente, vice-presidente e secretário. A dificuldade, porém, é que: • Hamilton quer trabalhar sem que Ricardo seja presidente. • Jaime não quer trabalhar com Luciano, nem ficar em posição inferior a Ricardo. • George não aceita cargo tendo Luciano como presidente ou Jaime como secre­tário, e também não quer trabalhar com Luciano ou Hamilton. • Francisco não quer ser subordinado a George ou a Jaime. • Ricardo não deseja a vice-presidência, não quer ser secretário se Francisco for funcionário e não aceita trabalhar com Hamilton, se Luciano também não trabalhar. Apoia a escolha de George para presidente. • Luciano não quer trabalhar se ele ou George não for escolhido como presidente.   Quais deles deverão preencher os três cargos?

RESPOSTA George deve ser o presidente, Jaime o vice-presidente e Ricardo deve ser o secretário.


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POIS É, POESIA

Cláudio Manuel da Costa (1729-1789) A i Nise amada! se este meu tormento,

Se estes meus sentidíssimos gemidos Lá no teu peito, lá nos teus ouvidos Achar pudessem brando acolhimento;

Como alegre em servir-te, como atento Meus votos tributara agradecidos! Por séculos de males bem sofridos Trocara todo o meu contentamento. Mas se na incontrastável, pedra dura De teu rigor não há correspondência, Para os doces afetos de ternura; Cesse de meus suspiros a veemência; Que é fazer mais soberba a formosura Adorar o rigor da resistência.

***

A cada instante, Amor, a cada instante

Se das flores a bela contextura Esmalta o campo na melhor fragrância, Para dar uma ideia da ventura; Como, ó Céus, para os ver terei constância, Se cada flor me lembra a formosura Da bela causadora de minha ânsia?

***

Destes penhascos fez a natureza

O berço, em que nasci: oh quem cuidara, Que entre penhas tão duras se criara Uma alma terna, um peito sem dureza! Amor, que vence os Tigres, por empresa Tomou logo render-me; ele declara Contra o meu coração guerra tão rara, Que não me foi bastante a fortaleza.

No duvidoso mar de meu cuidado Sinto de novo um mal, e desmaiado Entrego aos ventos a esperança errante.

Por mais que eu mesmo conhecesse o dono, A que dava ocasião minha brandura, Nunca pude fugir ao cego engano:

Por entre a sombra fúnebre e distante Rompe o vulto do alívio malformado; Ora mais claramente debuxado, Ora mais frágil, ora mais constante.

Vós, que ostentais a condição mais dura, Temei, penhas, temei; que Amor tirano, Onde há mais resistência, mais se apura.

Corre o desejo ao vê-lo descoberto; Logo aos olhos mais longe se afigura, O que se imaginava muito perto.

Musas, canoras Musas, este canto

Faz-se parcial da dita a desventura; Porque nem permanece o dano certo, Nem a glória tão pouco está segura.

***

Q uando cheios de gosto, e de alegria

Estes campos diviso florescentes, Então me vêm as lágrimas ardentes Com mais ânsia, mais dor, mais agonia. Aquele mesmo objeto, que desvia Do humano peito as mágoas inclementes, Esse mesmo em imagens diferentes Toda a minha tristeza desafia.

***

Vós me inspirastes, vós meu tenro alento Erguestes brandamente àquele assento, Que tanto, ó Musas, prezo, adoro tanto. Lágrimas tristes são, mágoas, e pranto, Tudo o que entoa o músico instrumento: Mas se o favor me dais, ao mundo atento Em assunto maior farei espanto. Se em campos não pisados algum dia Entra a Ninfa, o Pastor, a ovelha, o touro, Efeitos são da vossa melodia; Que muito, ó Musas, pois, que em fausto agouro Cresçam do pátrio rio à margem fria A imarcescível hera, o verde louro!

Biografia Cláudio Manuel da Costa nasceu em Vargem de Itacolomi, em Minas Gerais. Era filho de mineradores ricos, tendo estudado em Coimbra e se formado em Direito. Em Vila Rica (Ouro Preto) viveu como advogado e funcionário público. Foi um dos poetas envolvidos na conspiração da Inconfidência Mineira. Preso, entrou em pânico e confessou sua participação nas reuniões tidas como subversivas. Já era um homem de sessenta anos quando cometeu suicídio na prisão, em Ouro Preto.


ESPECIAL

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Aprovações internacionais Alunos do Etapa são aceitos em universidades no exterior.

H

á 17 anos, o Etapa envia alunos para as melhores universidades do mundo. Desde 1999, quando foi aprovado o primeiro aluno no Massachusetts Institute of Technology (MIT), regularmente os estudantes são aprovados por instituições dos Estados Unidos, Reino Unido, Portugal, Canadá, França, Japão, entre outros. Neste ano não foi diferente: 40 alunos aceitos em 80 universidades internacionais – Princeton, Duke University, Columbia University, University of British Columbia e Universidade de Coimbra são algumas das instituições que aguardam os alunos do Etapa para o início do ano letivo, em setembro de 2016. O processo de admissão nas universidades inter­ nacionais é diferente do vestibular brasileiro. Além de buscar um aluno com bom desempenho acadêmico, elas também avaliam as atividades extracurriculares realizadas durante o Ensino Médio e a trajetória pessoal do candidato. “É importante para as universidades no exterior que os seus alunos tenham os mesmos valores”, disse Laila Parada-Worby, coordenadora do Setor Internacional do Etapa. Em evento realizado em abril, os alunos do colégio conheceram alguns estudantes admitidos em 2016. Na ocasião, os jovens puderam ouvir de seus antigos colegas como foi o processo de preparação para ingressar nas universidades internacionais. Foi durante um desses eventos, realizados anualmente pelo Etapa, que Gabriel Toneatti Vercelli começou a cogitar a possibilidade de estudar fora do país. Ele passou em Ciências Físicas e Biomoleculares na USP, mas optou por aguardar o resultado das admissões internacionais. “Quando vi a minha aprovação na Princeton University fiquei realizado. Senti que tudo o que fiz valeu a pena. Foi a melhor sensação da minha vida”, disse Vercelli. Além de Princeton ser uma das mais tradicionais universidades americanas, ela também oferece a possibilidade dos seus alunos cursarem mais de um curso durante a graduação. Por isso, ele planeja estudar Biologia Molecular e Ciências da Computação. Entre os 16 brasileiros aprovados para a Columbia University está Pedro Tozzi. O jovem estudará no Department of Classics com foco em Latim e Grego (departamento de Letras Clássicas) – não existe no Brasil um curso de graduação voltado integralmente

para poemas épicos e literatura clássica com as especificações da Columbia University. Ele preparou-se desde o primeiro ano do Ensino Médio para estudar fora do país: participou das equipes olímpicas de Matemática e Física e do Etapa Model United Nations (EMUN) – grupo que simula reuniões nos moldes dos comitês da Organização das Nações Unidas (ONU). Além disso, ele também era voluntário no Projeto Voa (Vontade Olímpica de Aprender) dando aulas e suporte para alunos da rede pública – iniciativa cultural gratuita destinada a preparar estudantes da rede pública para participar de competições como a Olimpíada Brasileira de Matemática para as Escolas Públicas (OBMEP) e a Olimpíada Paulista de Matemática (OPM). “Todas essas atividades me ajudaram muito. O que eles pedem para os seus alunos é exatamente o que já faço agora. Eu sou a cara da Columbia University”, comemorou Tozzi. O Etapa conta com o Setor Internacional para ajudar os estudantes com a pesquisa sobre quais universidades têm perfis compatíveis com os seus, a conhecer o processo para solicitar bolsa de estudos e o passo a passo do processo seletivo para candidatar-se às instituições fora do país.


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ESPECIAL

Veja algumas das aprovações internacionais dos alunos do Colégio Etapa em 2016: Adriana Barros de Araujo Faro: Ithaca University (EUA); Miami University (EUA); Pennsylvania State University (EUA); Purdue University (EUA); University of Cincinnati (EUA); University of Kentucky (EUA); Xavier University (EUA). Breno Helfstein Moura: University of British Columbia (Canadá). Bruno Scatolini: INSA (França). César Seo Takose: Case Western Reserve University (EUA); University of Minnesota – Twin Cities (EUA). Eduardo Higa: INSA (França). Enzo Yamada Satake: Cal Poly Pomona (EUA); Vancouver Island University (Canadá). Fernanda da Rocha Parrado: Ohio University (EUA); Temple University (EUA); Universidade de Coimbra (Portugal); Xavier University (EUA). Fernando Nazário: Boston College (EUA). Gabriel Alberto Sans: Universidade de Coimbra (Portugal). Gabriel Matsuda Torres: INSA (França). Gabriel Toneatti Vercelli: Princeton University (EUA); University of Notre Dame (EUA).

Luana Sozzo Simão Borges: Columbia College Chicago (EUA); School of Visual Arts (EUA). Lucas Buzola Bonventi: University of South Florida (EUA). Lucas Fidalgo Knoeller: Universidade de Coimbra (Portugal). Lucas Martin Ishida: Gay-Lussac (França). Lucca Paffi Vidal: Gay-Lussac (França); INSA (França). Lucki Li: University of Michigan (EUA). Luís Felipe Sugai: UT Austin (EUA); University of British Columbia (Canadá). Luís Guilherme Cappelozzi: Pennsylvania State University (EUA). Milenna Akye Okamura: UC Santa Cruz (EUA); University of Colorado Boulder (EUA); University of Miami (EUA); Virginia Institute of Technology (EUA). Pedro Henrique Andrade e Silva: Católica Lisbon School of Business & Economics (Portugal); Hult International Business School (Reino Unido). Pedro Tozzi Capitani Pistoso: Columbia University (EUA); Duke University (EUA); Hamilton College (EUA). Rafael Geromel: Milwaukee School of Engineering (EUA).

Giovanna Vendramini: INSA (França).

Rafael Seles Macedo: Florida Institute of Technology (EUA).

Guilherme Ryoji Kato Setani: INSA (França); Northeastern University (EUA); UCSB (EUA); UCSD (EUA); University of Minnesota – Twin Cities (EUA); UT Austin (EUA).

Raquel Nakamura: School of Visual Arts (EUA).

Guilherme Watanabe Iwabuchi: Case Western Reserve University (EUA); INSA (França); Northeastern University (EUA); University of British Columbia (Canadá); University of Miami (EUA); University of Minnesota – Twin Cities (EUA). Henrique Martinez Rocamora: University of British Columbia (Canadá). João Pedro Ferreira de Araújo: INSA (França). João Victor Couto de Oliveira Martins: Washington State University (EUA); Wentworth Institute of Technology (EUA). João Vítor Barão Astolfo: Flagler College (EUA). Juliana Rubinatto Serrano: Bryn Mawr College (EUA); University of Cincinnati (EUA); Wake Forest University (EUA).

Renan Laham Hazan: Purdue University (EUA). Samuel Vieira Ducca: Stevens Institute of Technology (EUA). Talissa da Cunha Gracio: Belmont University (EUA); George Mason University (EUA). Tami Ito Tahira: California College of the Arts (EUA); University of British Columbia (Canadá). Victor Castanheira Morelli: Pratt Institute (EUA); Ringling College of Art and Design (EUA); Rochester Institute of Technology (EUA); School of the Art Institute of Chicago (EUA); School of the Museum of Fine Arts (EUA). Vitor Cavalheri Pereira: INSA (França). William Hashimoto Shie: Worcester Polytechnic Institute (EUA).

AGENDA CULTURAL

São Paulo – Clube de Cinema (quinta, das 19h às 21h, sala 65) 19.05 – O Grande Hotel Budapeste (Wes Anderson: 2014). São Paulo – Clube de Debate (mensal, das 19h às 21h50min, sala 87) 23.05 – A ideia de belo e sua representação nos meios de comunicação de massa. São Paulo – Clube do Livro (quinta, das 19h às 21h, sala 65) 23.06 – Macbeth (William Shakespeare). Valinhos – Clube de Cinema (sexta, das 14h05min às 16h05min, sala 209) 13.05 – A grande beleza (Paolo Sorrentino: 2013). Valinhos – Clube de Debate (mensal, das 14h05min às 15h45min, sala 214) 19.05 – A ideia de belo e sua representação nos meios de comunicação de massa.

Jornal do Colégio

Jornal do Colégio ETAPA, editado por Etapa Ensino e Cultura REDAÇÃO: Rua Vergueiro, 1 987 – CEP 04101-000 – Paraíso – São Paulo – SP JORNALISTA RESPONSÁVEL: Egle M. Gallian – M.T. 15343


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