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Jornal do Colégio JORNAL DO COLÉGIO ETAPA – 2016 • DE 07/10 A 20/10
ENTREVISTA
“A gente leva do colégio para a vida toda o raciocínio lógico, não só aceitar, questionar” Patrícia Satie Fukuda entrou em Administração na FEA em 2010 e durante o curso passou seis meses em intercâmbio na Holanda. Hoje trabalha na Latam, em vendas, e planeja fazer pós-graduação. Aqui ela fala de sua formação no colégio e na USP, dos estágios e atividades que desenvolveu. Em sua avaliação, “o aluno da FEA sai bem preparado para o mercado profissional”.
Patrícia Satie Fukuda
JC – Desde quando você quis Administração como carreira? Patrícia – Minha família inteira é de administradores. Meu pai, minha mãe, meu irmão, minha irmã. As conversas em casa eram muito voltadas para Administração, tudo de empresas. E eu acho que é um curso do qual todo mundo vai precisar um dia, vai precisar saber cuidar do dinheiro, fazer gestão de pessoas. Até quem não for trabalhar no ramo. Na minha cabeça tinha muito isso: “É um curso que vou ter que fazer. Se não fizer agora vou ter que fazer depois”.
Quando e por que você veio para o Etapa? Vim em 2006, no 8o ano do Fundamental. Antes eu estudava em uma boa escola de Santo André, que não tinha o Ensino Médio. Meu irmão e amigos dele tinham estudado aqui. Minha irmã também; quando vim ela já estava na 3a série do Ensino Médio. Falei a meu pai que eu queria estudar aqui também; ele concordou.
Como foi sua adaptação ao colégio? No início foi bem difícil porque todas as matérias, até História e Geografia, já estavam muito à frente do que eu sabia. Não ENTREVISTA
Carreira – Administração
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CONTO
Um apólogo – Machado de Assis
Na 3a série do Ensino Médio você focou os estudos de alguma forma diferente? No primeiro semestre do 3o ano eu fui com as aulas normais, mas no segundo semestre começou a dar aquela coisa: “E se eu não passar?”. Eu só pensava: “Tenho que estudar, tenho que estudar”. Minha maior dificuldade era em Química e comecei a fazer um monte de resumos. Na época eu tinha orientação com a Priscila. Quem tinha essa orientação podia agendar um monitor que ficava uma hora só com você. Agendei todos os monitores de Química. E fiz todos os exercícios de todas as apostilas, de todas as matérias.
Além da Fuvest, você prestou outros vestibulares? Prestei FGV. Administração também.
COLUNA M
Como calcular o dia da semana
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ARTIGO
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SOBRE AS PALAVRAS
Cair no conto do vigário
tinha nem aprendido equação de 2o grau e aqui já estavam em 3o, 4o grau. A primeira aula de Matemática que tive foi de Inequações. Não entendi nada. A única matéria em que eu conseguia ir bem era Português, mas em Redação ia muito mal. Como um quarto da sala era de gente nova, os professores passaram a fazer umas revisões. Com o tempo fui me adaptando e acabei conseguindo acompanhar.
O Brasil dos africanos
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MAS, MÁS, MAIS
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[E OUTRAS QUESTÕES GRAMATICAIS]
Assistir
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ENTRE PARÊNTESIS
Zeros ESPECIAL Parceria com universidades americanas
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ENTREVISTA
Você foi aprovada na FGV?
Para conseguir a vaga você teve que fazer o TOEFL?
Fui. Fiquei em dúvida entre os dois porque meu irmão se formou na FEA e minha irmã se formou na GV. Conversando com os dois, acabei optando pela USP. Na USP eu me encontrei. É muito aberta a iniciativas.
Sim. Como decidi em cima da hora, não me preparei e tive que fazer às pressas. Fiz em Campinas, que era o único lugar que tinha vaga. Mesmo assim não ia dar para receber a tempo o certificado físico. Perguntei: “E se apresentar o certificado eletrônico?”. Eles falaram que se tivessem o eletrônico aguardariam o físico depois.
Como foi o seu início na FEA, em 2010? Primeiro, o que mais me impactou foram as aulas, que tinham a duração de duas aulas do Etapa. Muito extensas. Lá não tem apostila, são uns livros enormes. Me dava muito sono. E eram aqueles assuntos bem introdutórios – “Como vou estudar tanta matéria?”. A adaptação foi difícil, mas você acaba se acostumando. Em uns dois meses começa a pegar o jeito.
O que você teve de matérias em cada ano? O 1o ano é Introdução a tudo. Introdução a Marketing, Introdução à Contabilidade, Economia. É tudo bem geral, mas não é tão fácil porque são matérias que a gente nem imaginava que existiam. Contabilidade, nunca imaginei o que era aquilo na vida. Tem os Cálculos básicos, Matemática Financeira. O 2o ano já tem um pouco mais de matérias de conteúdo. Cálculo II, Estatística, Macroeconomia, Microeconomia. Você começa a entender o que é cada bloco. Também tem matérias de Sociologia. O 3o ano foi meu pior ano, porque aí vem Finanças; complica. Marketing e RH começam a ter trabalhos puxados, que exigem mais. No 4o ano já são mais as optativas. E o TCC.
Estágio é obrigatório? Tem que fazer um ano de estágio. No 2o ano você já pode fazer, mas só quatro horas por dia. A partir do 3o ano os estágios são de seis horas.
Em que ano você começou a estagiar? Eu procurei adiar o meu estágio o mais possível porque uma vez que você começa a trabalhar não para mais. A minha ideia era aproveitar o máximo da faculdade. No 3o ano comecei a procurar estágio, acho que é o ano ideal mesmo.
Onde você estagiou? Estagiei na ESPN Brasil, canal de esportes de TV por assinatura, na parte de projetos e planejamento. Eu tinha que garantir que os projetos iam ficar prontos, porque muitos projetos eram iniciados e nada acabava. Por isso criaram nossa área. Comecei a entender o que é Administração.
Você ficou quanto tempo nesse estágio? Fiquei o 3o ano inteiro. No finzinho falei com meu pai que eu queria fazer intercâmbio e ele disse que me apoiaria. Meus pais iam me ajudar na parte de custos. A faculdade você tem de graça, mas todos os custos da viagem são por sua conta.
Você não teve bolsa? No meu semestre não deram bolsas. Eles já tinham gastado as bolsas com o pessoal que foi no meio do ano.
Para onde você foi? Eu queria ir para os Estados Unidos. Falei com meus gestores e eles me aconselharam a ir para a Europa: “Você vai viajar mais, vai conhecer muito mais diversidades”. Um deles me indicou a Holanda, um lugar de onde é fácil ir para muitos países. Nunca tinha pensado na Holanda em minha vida. Quando saiu o resultado fiquei até mais feliz que os outros.
Você foi para Amsterdã. Em que universidade? Na Vrije Universiteit Amsterdam [Universidade Livre de Amsterdã].
Qual foi o principal motivo para ser Amsterdã? Foi para conhecer outra cultura? Foi mais para conhecer.
As aulas eram em inglês? Sim. Nas ruas falam holandês. Mas eles são muito fluentes em inglês, dá para entender fácil.
Que países você conseguiu visitar? Muitos. Inglaterra, Escócia, Espanha, Itália e França. Para mim deu muito certo ter escolhido essa faculdade porque ela é um pouco mais tranquila em questão de aulas. Tinha aula, tinha prova, mas não era presença obrigatória.
Que matérias você cursou lá? Fiz Marketing Internacional, Marketing de Serviços e Direito Internacional.
Você então ficou seis meses na Holanda. Como foi ao voltar? Ao voltar estava já no meio do 4o ano. Teria que me formar no final do ano, mas ainda faltava fazer o TCC. Aí comecei a pensar: “Já que entrei na FEA tão cedo, vou ficar um pouco mais. Não vou correr, fazer meu TCC em um semestre, vou fazer com calma em um ano. Então me formaria no meio de 2014. Também decidi não ficar fazendo só TCC. Peguei uma optativa de Finanças, a matéria chama-se Valuation. Nunca tive uma aula que me demandasse tanto. Era uma aula que eles davam em convênio com o Citibank. A gente ia fazer um projeto junto com o analista do Citi e depois os alunos iam competir para apresentar um caso X de valuation. Peguei essa matéria porque sempre gostei mais da parte de Matemática e a professora era uma das melhores que eu tive na FEA. Peguei ainda matérias fora da FEA. Peguei duas na ECA: uma de Audiovisual e uma
ENTREVISTA de Fotografia. Peguei também uma de Psicologia. Mas acabei focando no Áudio.
Qual era sua maior preocupação nesse seu último ano na FEA?
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Por quê? Na Latam eu me encontrei, no trabalho tem muita gente da GV, da FEA, isso dá motivação. O ambiente é muito bom, você trabalha com pessoas que te inspiram; fiz muitos amigos.
Falei: preciso ter um estágio, porque aí é mais fácil ser efetivada. Comecei a procurar e passei num estágio da GE, para uma área de pós-vendas. Gostei bastante, era bem operacional. E você acaba tendo o desafio de aprender a organizar processo. Como se organiza um processo? A GE me ensinou muito disso porque ela tem um programa de compliance muito forte.
Você está em qual área?
Você ficou quanto tempo nesse estágio?
Você pensa em fazer pós-graduação?
Um ano. Entrei no final de 2013 e saí no final de 2014.
Penso. Muitos amigos meus já fizeram pós. Eu ainda não fiz porque me formei há pouco tempo. Para escolher outra coisa que não um MBA tenho que saber exatamente o que eu quero. Lógico, queremos crescer sempre, mas acho que a gente tem que encontrar o que quer de verdade, se conhecer melhor.
Qual foi o tema do seu TCC? Meu tema foi mais voltado para RH. Quase ninguém faz para RH. Eu gosto muito de gestão de pessoas, não para trabalhar em RH, mas para a questão de liderança, gestão de pessoas que os líderes aplicam no dia a dia.
Você ficou quanto tempo fazendo o TCC? Um ano e meio. Como eu tive a matéria Valuation não consegui focar no TCC. Eu queria fazer direito o TCC e decidi dedicar mais um semestre a ele. Entreguei e me formei.
Durante o curso, você participou de atividades extra-aulas? Participei da Atlética. Foi mais no 2o ano. Também participei durante um ano e meio do Pesc [Programa de Extensão de Serviços à Comunidade], que era como uma FEA Júnior, com atuação social. Fazia consultoria de graça para ONGs. Quando entrei no Pesc ele era da faculdade, não era uma entidade independente, como agora.
Na Atlética, o que você fez? Eu comecei treinando judô. Acabei virando diretora de modalidade. No 2o ano eu assumi mais a Atlética. Atuei bastante na área de patrocínios. Foi bem legal, gostei bastante.
Como você avalia a formação do aluno de Administração da FEA? Acho que o aluno da FEA sai bem preparado para o mercado profissional. Nesse ponto é muito bom lá.
Você se formou e não podia mais estagiar. O que fez? Na época comecei a procurar um trainee na GE mesmo. Consegui vaga de analista, não como trainee.
Hoje, onde você trabalha? Estou na Latam. Depois da GE passei no programa de trainee da Etna e Vivara, que são do mesmo grupo familiar. Fiquei cinco meses, de abril a agosto, até conseguir vaga na TAM – ainda não era Latam. Entrei em setembro. Estou superfeliz.
Área comercial. É bem analítico, análise para o time de vendas ir a campo fazer acordo com as agências embasado em números. É bem olhar performance, os resultados de cada agência, o que negociar com elas. É bem dinâmico, eu me identifiquei bastante.
Alguma matéria do colégio foi mais importante para você na faculdade? Matemática Financeira me ajudou bastante. Aprender Matemática Financeira com um professor que não é tão didático como no colégio é desafiador. Uma matéria que não valorizei na época foi Coaching. Era uma matéria em que se questionava o que queríamos fazer. Achava que não tinha nada a ver com o que estava vivendo. Eu acho que era nova demais para fazer essa matéria aqui. Depois, muitos exercícios que fiz aqui acabei tendo nas matérias de gestão de pessoas na faculdade. Outra coisa que a gente leva do colégio para a vida toda é o raciocínio lógico, entender as coisas passo a passo e não só aceitar, questionar. Isso é um diferencial no mercado de trabalho.
Você ainda tem amigos da época do colégio? Tenho um grupo de amigos do Etapa e todos fizeram Engenharia. Só eu fiz Administração. A maioria fez Poli e uma ou outra fez Unicamp. A gente se encontra ainda.
Que recordações você tem do colégio? Eu gosto muito do colégio. São muitas pessoas de lugares diferentes, de cidades diferentes. Eu antes era muito mais fechada, mais difícil, insegura para conversar com outras pessoas. Aqui eu encontrei um grupo de amigas. E para passar no vestibular, é o lugar onde você tem que estar, onde vai ter todos os recursos.
O que mais você quer dizer para os alunos atuais? O aluno do 3o ano tem uma pressão muito grande para escolher uma faculdade, um curso. Parece que isso vai determinar toda a nossa vida. Mas está muito novo ainda para escolher. Por isso digo, fique calmo. Nada é definitivo na vida. Escolha o que sente que é o seu curso, independente do motivo. Você sempre pode trocar depois, não tem problema. A nossa vida está nas nossas mãos. No dia que você quiser mudar, fazer uma coisa diferente, você pode. E no vestibular faça o seu melhor, com calma.
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CONTO
Um apólogo Machado de Assis
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ra uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha: – Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma coisa neste mundo? – Deixe-me, senhora. – Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça. – Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros. – Mas você é orgulhosa. – Decerto que sou. – Mas por quê? – É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu? – Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu, e muito eu? – Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados... – Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço e mando... – Também os batedores vão adiante do imperador. – Você imperador? – Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto... Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costu-
reira, ágeis como os galgos de Diana – para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha: – Então senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima... A linha não respondia nada; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha, vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte; continuou ainda nesse e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile. Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da bela dama, e puxava a um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando, a linha, para mofar da agulha, perguntou-lhe: – Ora, agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a caixinha da costureira antes de ir para o balaio das mucamas? Vamos, diga lá. Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha: – Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico. Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça: – Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária! Extraído de: Várias histórias.
SOBRE AS PALAVRAS
Cair no conto do vigário Uma imagem de Nossa Senhora dos Passos foi doada pelos espanhóis à cidade de Ouro Preto (MG). Houve uma disputa entre os vigários de duas igrejas – a do Pilar e a da Conceição – para saber com quem ficaria a imagem da santa. Para resolver o impasse, o vigário de Pilar sugeriu que a imagem fosse colocada em cima de um burro, no caminho entre as duas
igrejas. A imagem pertenceria à igreja em cuja direção o burro seguisse. O burro imediatamente se dirigiu para a igreja de Pilar. Mais tarde, soube-se que o burro era treinado e pertencia ao vigário que havia sugerido a solução e, por isso, “cair no conto do vigário” passou à linguagem popular como “golpe” ou “falcatrua”.
COLUNA ARTIGOM
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Como calcular o dia da semana Suponhamos que você queira saber o dia da semana de 24 de agosto de 1954, dia do suicídio do presidente Getúlio Vargas, ou queira saber que dia da semana foi 30.06.2002, dia em que o Brasil foi penta. Há várias maneiras para isso, que podem ser demonstradas matematicamente. Vamos apresentar uma maneira sem a demonstração. Primeiramente, consideremos o dia d/m/19xy, onde d é o dia do mês, m é o mês e x, y são algarismos de 0 a 9. Para cada mês m vamos associar um número f(m). Se o ano não for bissexto, esses números são dados pela sequência (1, 4, 4, 0, 2, 5, 0, 3, 6, 1, 4, 6), isto é, ao mês de janeiro associamos o número 1; a fevereiro, o número 4, etc. (se você quiser guardar: 122, 052, 062, 122 + 2). Se o ano for bissexto, a sequência muda apenas nos dois primeiros meses, ficando (0, 3, 4, ..., 6). Lembremos que um ano é bissexto se é múltiplo de 4, com exceção dos múltiplos de 100, que não são múltiplos de 400. Assim, 1900 não é bissexto e 2000 é bissexto. Antes de apresentar a maneira de calcular o dia da semana, vamos associar a cada dia da semana um número. Ao sábado associamos o número 0; ao domingo, o número 1; à segunda-feira, o número 2, e assim por diante, até sexta-feira, associada ao número 6. O dia da semana é dado então pelo resto da Divisão Euclidiana xy de xy + < F + d + f(m) por 7. O resto é um número de 0 a 6. 4
Associamos esse número com o dia da semana como dado no a parágrafo precedente. Antes que esqueçamos, a notação < F 4 significa que devemos dividir a por 4 e tomar o número inteiro menor ou igual ao quociente da divisão de a por 4, ou, como é a dito em alguns contextos, < F significa que devemos truncar 4 a 54 ,5A 13 . = < F . Assim, se o ano é 1954, xy = 54 e = < F 713 4 4 O que descrevemos até agora vale para os dias dos anos de 1900 a 1999. Para anos 20xy, há uma pequena mudança: o dia da semana xy é dado pelo resto da Divisão Euclidiana de xy + < F + d + 4 f(m) − 1 por 7. Vamos calcular agora o dia da semana de 24.08.1954. Já vimos que <
54 F = 13. Para m igual a agosto, f(m) = 3. Temos então 4
que o resto da Divisão Euclidiana de 54 + <
54 F + 24 + 3 = 54 + 4
13 + 24 + 3 = 94 por 7 é 3, que corresponde a uma terça-feira. Em que dia da semana o Brasil foi penta? Confira! E agora, responda: em que dia da semana você nasceu?
ARTIGO
O Brasil dos africanos José Tadeu Arantes
As
principais obras da crítica literária do século 20 conceberam a literatura brasileira como um grande receptáculo transformador da literatura europeia. Descrita a partir de uma perspectiva antropofágica, no sentido atribuído à palavra por Oswald de Andrade (1890-1954), a imagem de Brasil que resultou dessas formulações foi a do devorador da cultura estrangeira, que, devidamente digerida, teria dado origem à nossa cultura nacional. Sem negar a validade e a eficácia desse eixo interpretativo, uma nova pesquisa procurou transitar nele pelo sentido inverso, explorando a ideia de uma literatura brasileira sendo devorada e digerida por outros, de uma literatura brasileira ocupando a outra ponta da relação. Trata-se de “A internacionalização da cultura brasileira e o Sul Global”, de Alfredo Cesar Barbosa de Melo, desenvolvida com apoio da FAPESP. Melo é professor do Departamento de Teoria Literária da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Para levar adiante seu projeto, investigou o impacto provocado nos escritores afri-
canos de língua portuguesa pela literatura brasileira nas décadas de 1940, 1950 e 1960. “A antropofagia cultural e o paradigma da crítica literária do século 20 tentaram responder a uma espécie de complexo de inferioridade brasileiro. No século 19, havia a ideia de que éramos incapazes de sermos originais devido ao nosso passado colonial. Pelo fato de termos sido colonizados pela Europa, estávamos condenados a ter uma cultura sempre derivativa. Ao afirmar que nossa derivação era criativa, que éramos capazes de transmutar aquilo que recebíamos, a antropofagia cultural e o paradigma da crítica literária do século 20 atribuíram uma conotação positiva ao que antes nos causava mal-estar”, disse o pesquisador à Agência FAPESP. “O que procurei fazer foi investigar a nova situação que se configurou no momento em que nossos produtos culturais passaram a ser exportados. Essa nova realidade, que pode ser sintetizada na expressão ‘antropófagos devorados’, foi um dos pressupostos de minha pesquisa. O outro pressuposto foi escapar das
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ARTIGO
dicotomias metrópole-colônia, centro-periferia, desenvolvido-subdesenvolvido, que sempre orientaram nossa reflexão sobre a inserção do Brasil no mundo. Procurei considerar um outro eixo relacional, que poderíamos chamar de Sul-Sul, comparando a produção brasileira com as produções africanas”, acrescentou. Melo relatou que o tema lhe ocorreu a partir da própria leitura de depoimentos e entrevistas de escritores africanos de língua portuguesa. “Percebi neles uma enorme admiração pela cultura brasileira. No momento em que as antigas colônias portuguesas estavam gestando seu próprio nacionalismo político e cultural, escritores brasileiros, como Guimarães Rosa, Jorge Amado, José Lins do Rego e até mesmo Gilberto Freire, constituíram para os intelectuais angolanos, moçambicanos e cabo-verdianos um modelo inspirador, de autonomia cultural”, afirmou. Para exemplificar sua afirmação, o pesquisador lembrou nomes como os de Ruy Duarte de Carvalho e José Luandino Vieira em Angola, José Craveirinha e Mia Couto em Moçambique, Gabriel Mariano e Baltasar Lopes em Cabo Verde. “Todos estes escritores, em algum momento, referiram-se à importância que teve para eles a literatura brasileira”, sublinhou. Foi na cadeia que José Luandino Vieira tomou conhecimento da obra de Guimarães Rosa. O escritor angolano foi preso pela Pide, a polícia política da ditadura portuguesa, em 1959. E, novamente, em 1961, permanecendo encarcerado por 11 anos, até obter a liberdade condicional em 1972. Em entrevista famosa, recordou como, durante esse período, chegou às suas mãos o livro Sagarana, e quão importante foi poder lê-lo naquele momento. “Na literatura brasileira, esses intelectuais africanos encontraram o referente literário de uma realidade que não lhes era estranha, uma realidade que lhes inspirava um sentimento de familiaridade, de contiguidade sociocultural”, resumiu Melo. Baltasar Lopes, por exemplo, afirmou que leu Evocação do Recife, de Manuel Bandeira, um poema referencial do modernismo brasileiro, projetando a realidade descrita no poema no contexto cabo-verdiano. Vila da Ribeira Brava, na ilha de São Nicolau, em Cabo Verde, forneceu a Lopes o cenário onde idealizou Recife. Um velho conhecido seu, Pedro António, fez as vezes do personagem Totônio Rodrigues, mencionado por Bandeira. E a moça tomando banho nua, cuja visão provocou no poeta brasileiro seu “primeiro alumbramento”, foi imaginada pelo cabo-verdiano na Ribeira Dom João. “Foi tamanho o sentimento de familiaridade despertado nesses intelectuais africanos pelos cenários e personagens da literatura brasileira que o Brasil pareceu ser, para eles, uma parte de sua própria realidade. Mia Couto, por exemplo, que já é integrante de uma geração posterior, disse que a primeira leitura da obra de Guimarães Rosa o fez lembrar-se das narrativas que escutava dos contadores de história em Moçambique quando era criança”, comentou o pesquisador. Esse sentimento de familiaridade despertado pelo mundo rosiano também foi saborosamente recordado por Ruy Duarte de Carvalho. Referindo-se especificamente a Grande sertão: veredas, ele disse: “Nas paisagens que Guimarães Rosa me
descrevia, eu estava a reconhecer aquelas que tinha por familiares. Já porque de natureza a mesma que muitas paisagens de Angola – e em algumas das paisagens de Angola eu reconhecia aquelas, enquanto o lia – já porque a gente que ele tratava, gente de matos e de grotas, de roças e capinzais, era também em Angola aquela com quem durante muitos anos andei a lidar pela via do ofício de viver”. “Ao estudar esse tipo de emulação, ocorreu-me imediatamente a comparação com o próprio processo de formação da literatura brasileira, tal como foi descrito por Antonio Candido. Aqui também houve a inserção de temas e modos da literatura europeia no cenário do Brasil. Foi o caso, por exemplo, de um Cláudio Manuel da Costa, de um Tomás Antônio Gonzaga, ao projetarem seu ideal arcádico na paisagem natural e humana de Minas Gerais. Mas a comparação entre esses dois conjuntos, “o brasileiro que se inspira na Europa” e “o africano que se inspira no Brasil”, me levou a perceber que, apesar de estruturalmente parecidos, existe entre eles uma diferença fundamental”, ponderou Melo. “Porque existe, na cultura brasileira, a ideia arraigada de que o Brasil é um país que está sempre em construção, sempre em desenvolvimento, nunca chegando a ser aquilo que gostaria de ser ou que deveria ser. O grande conflito entre o Brasil e a Europa é que ela parece sempre colocar diante de nossos olhos um ideal inalcançável. Da parte dos africanos, porém, a relação é outra. Em nenhum momento, o Brasil se apresenta para eles como um modelo a ser alcançado. Em nenhum momento, eles pensam que gostariam de ser o Brasil. A relação que estabelecem é que já são o Brasil, que suas sociedades são tais e quais a sociedade brasileira, que existe entre Brasil e África uma espécie de contiguidade existencial”, explicou. Assim, por exemplo, não foi como ideais inalcançáveis, mas como tipos imediatamente reconhecíveis e apropriáveis, que os compositores angolanos Ruy Mingas e Mario Antonio inseriram nos versos famosos de sua canção “Poema da farra” os personagens de Jubiabá, de Jorge Amado: “Quando li Jubiabá / me acreditei Antonio Balduíno / Meu primo, que nunca o leu / Ficou Zeca Camarão”. “Há algo a aprender com isso, algo que não deve ser negligenciado, algo que pode nos ajudar a rever nossa autoimagem e nossa inserção no mundo”, argumentou o pesquisador. A grande ironia é que essa aproximação entre Brasil e África foi promovida, nos anos 1940, pelas ditaduras brasileira e portuguesa. Foi o Acordo Cultural Luso-Brasileiro, assinado em 1941 pelos representantes do “Estado Novo” de Vargas e do “Estado Novo” de Salazar, que abriu as portas para a entrada do livro brasileiro em Portugal. E, nos anos subsequentes, esses livros iriam cair nas mãos de jovens africanos que, mais tarde, assumiriam posição de vanguarda política e cultural em seus respectivos países. Na década de 1940, esses jovens estavam em Lisboa, na Casa dos Estudantes do Império, patrocinada pelo governo português. A expectativa da ditadura salazarista era que, ao voltarem à África, esses estudantes viessem a constituir uma espécie de elite colonial, aculturada e identificada com os valores da
ARTIGO
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veredas (1956) tenha sido inteiramente compreendida pelos intelectuais africanos. Também os brasileiros não a compreendem inteiramente. Mas isso não impede que romance seja lido sem a necessidade de se fazer uma pesquisa a cada tropeção. “José Luandino Vieira disse que leu, deixou de entender muita coisa, porém percebeu que, ali, estava um caminho a ser seguido pela literatura angolana, um caminho para marcar a diferença. Porque a grande questão que se coloca para um país em luta pela independência é marcar a diferença em relação à antiga metrópole. E foi isso que Guimarães Rosa ofereceu aos intelectuais africanos: a possibilidade de, escrevendo em português, escrever em uma língua completamente diferente daquela aprendida na escola”, pontuou o pesquisador. “As influências da literatura brasileira sobre as africanas de língua portuguesa são bem conhecidas e documentadas. A proposta da pesquisa foi tentar tirar as consequências dessa influência para o estudo do comparatismo feito no Brasil”, concluiu.
metrópole. Porém foram eles que, mais tarde, assumiram a liderança da luta anticolonial, da luta pela independência: Agostinho Neto e Mario Pinto de Andrade em Angola, Marcelino dos Santos em Moçambique, Amílcar Cabral e Gabriel Mariano em Cabo Verde, entre outros. “Para esses jovens africanos, escolarizados segundo os cânones do sistema colonial de educação, que tinham que ler os clássicos portugueses, Camões, Herculano, Garrett, Camilo, Eça, autores que eles associavam ao próprio colonialismo, a descoberta de obras como Menino de engenho (1932), de José Lins do Rego, Capitães da areia (1937), de Jorge Amado, ou Sagarana (1946), de Guimarães Rosa, deve ter constituído uma extraordinária experiência libertadora. A experiência de uma realidade que tanto se assemelhava à sua. A experiência de um idioma português totalmente transfigurado. Até mesmo um autor considerado conservador como Gilberto Freyre exerceu sobre eles um forte impacto, com sua leitura orientalizante, mouro-judaica, da história da Península Ibérica, tão diferente da genealogia convencional”, enfatizou Melo. Não é necessário supor que a linguagem caipira, arcaizante e reinventada de uma obra complexa como Grande sertão:
Extraído de: Agência FAPESP – Divulgando a cultura científica, ago./2016.
MAS, MÁS, MAIS [E OUTRAS QUESTÕES GRAMATICAIS]
Assistir Assistia o bispo no desempenho de sua função. “O sacerdote lhe assistia na hora.” (Rubem Braga)
1) Transitivo indireto: presenciar, estar presente. Objeto indireto acompanhado da preposição a. Assistia a lutas sangrentas. Assistia às lutas sangrentas. Se o objeto indireto for pronome pessoal, prefere-se a ele(s); lhe (e variantes) são formas desaconselháveis. “Lá vão uns frades celebrar um culto! Não serei eu que assista a ele.” (Herculano)
3) Intransitivo: morar, habitar, residir, permanecer. Pede a preposição em e adjunto adverbial. “Bentinho deixara o sítio lá de cima e agora assistia no quarto da bolandeira.” (José Lins do Rego) “Felizmente um ano depois volta ele ao sul e até 72 assiste em Avignon.” (Manuel Bandeira)
2) Transitivo direto ou indireto: socorrer, ajudar, acompanhar. “Deus bom, que assiste os coitados.” (Ciro dos Anjos)
(ENTRE PARÊNTESIS)
Zeros Com quantos zeros termina o número 137!?
RESPOSTA Logo, o número termina em 27 + 5 + 1 zeros, isto é, 33 zeros . 2 27 137 5
12 1
12 5
137 53
137 52
Logo, para saber com quantos zeros termina 137!, basta saber quantos fatores 5 aparecem em 137! quando o decompomos em produtos de fatores primos, isto é, basta calcular α3 de (*). Para isto, fazemos a divisão de 137 por 5, por 52 e 53 (potências de 5 menores que 137) e somamos os quocientes. Como 137! tem mais fatores 2 que 5 (isto é, α1 > α3), temos 137! = (2 $ 5) Reescrevendo (*): 137! = 2
α1
$
3
α2
$
5
α3
$ f $
pk
αk
=
Recordando: 137! = 1 ⋅ 2 ⋅ ... ⋅ 137 α Pelo Teorema Fundamental da Aritmética, 137! = 2 1
$
2
α1
3
α2
$ $
5
α3
5
α3
α3
$
2
α1
− α3
$
P = 10
α3
⋅ Q, sendo Q um fator que não contém 10.
⋅ P, sendo P um fator que não contém nem 2 nem 5. $ f $
k
pk (*), sendo p o k-ésimo primo menor ou igual a 137. αk
8
ESPECIAL
Parceria com universidades americanas Responsável pelo Setor Internacional do Colégio Etapa visita instituições em Connecticut, Massachusetts e Nova Iorque.
E
studar fora do país não é apenas um sonho para os alunos do Colégio Etapa, onde podem contar com um departamento totalmente voltado para auxiliá-los no processo de admissão nas melhores universidades do mundo. Recentemente, a coordenadora do Setor Internacional Laila Parada Worby fez um tour pelos Estados Unidos, onde visitou 16 faculdades dos estados de Connecticut, Massachusetts e New York. O objetivo foi conhecer a grade curricular, acomodações, programas de bolsa de estudos e processo de admissão das instituições. “Dessa forma, conseguimos orientar os alunos de modo mais personalizado. Procuramos compatibilizar as pretensões e características dos estudantes ao perfil das universidades”, afirma Laila Parada Worby, do Setor Internacional do Etapa.
Na ocasião, ela também participou de uma conferência e duas feiras – uma feira tradicional das universidades e outra de colégios. A ação é direcionada a membros da International Association for College Admissions Counseling (IACAC), do qual o Etapa faz parte. A associação reúne representantes da área de admissões das principais universidades do mundo (sendo a maior parte delas instituições americanas) e orientadores dos alunos dentro das escolas. Nos últimos dois anos, o Colégio Etapa somou mais de 190 aprovações em universidades do exterior, posicionando-se como a escola brasileira com mais aprovações internacionais.
AGENDA CULTURAL São Paulo – Clube de Cinema (quintas, das 19 h às 21 h, sala 65) 13.10 – Duelo de gigantes (Arthur Penn: 1976) 20.10 – Ele está de volta (David Wnendt: 2015) São Paulo – Clube de Debate (quinzenal, das 19 h às 21h50min, sala 87) 17.10 – Os benefícios e os riscos oferecidos pela tecnologia digital São Paulo – Clube do Livro (terça, das 19 h às 21 h, sala 65) 08.11 – As ruínas circulares (Jorge Luis Borges) Valinhos – Clube de Cinema (sextas, das 14h05min às 16h05min, sala 209) 07.10 – Black Mirror. Episódios: “The National Anthem”; “Fifteen Million Merits” (Otto Bathurst/Euros Lyn: 2013) 14.10 – Black Mirror. Episódios: “The Entire History of You”; “Be Right Back” (Brian Welsh/Owen Harris: 2011/2013) 21.10 – Black Mirror. Episódios: “White Bear”; “The Waldo Moment” (Carl Tibbetts/ Bryn Higgins: 2012) Valinhos – Clube de Debate (quinzenal, das 14h05min às 17h45min, sala 214) 20.10 – Os benefícios e os riscos oferecidos pela tecnologia digital. Valinhos – Clube do Livro (terça, das 14h05min às 15h45min, sala 209) 18.10 – Poema sujo (Ferreira Gullar)
Laila Parada Worby, do Setor Internacional, durante feira de colégios nos Estados Unidos, ocasião que apresentou o Colégio Etapa.
Jornal do Colégio
Jornal do Colégio ETAPA, editado por Etapa Ensino e Cultura REDAÇÃO: Rua Vergueiro, 1 987 – CEP 04101-000 – Paraíso – São Paulo – SP JORNALISTA RESPONSÁVEL: Egle M. Gallian – M.T. 15343