Jornal do Colégio - 621

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Jornal do Colégio JORNAL DO COLÉGIO ETAPA  –  2017  •  DE 17/02 A 02/03

ENTREVISTA

Rebecca: da Engenharia Poli à Alemanha, Austrália, China e Chile. Rebecca Hiromi Teoi entrou na Poli em 2008, onde se formou em Engenharia Química. Fez intercâmbio na Alemanha, trabalhou na Austrália e na China pela empresa Mckinsey e hoje, temporariamente, está no Chile, de onde irá para um MBA no exterior. Aqui ela relata suas atividades acadêmicas e profissionais. Sobre a carreira que escolheu, diz que está bastante satisfeita. “Fiz essa escolha como forma de ampliar meus horizontes e foi o que aconteceu”.

Rebecca Hiromi Teoi

JC – O que levou você a escolher o Etapa? Rebecca – Foi um conjunto de fatores. Eu acho a cultura do Etapa muito forte, ela traz mais ao aluno. Com prova todo dia, incentiva a vontade de estudar. Aqui você cria o pensamento de que estudar é importante. E o que levou você a escolher Engenharia? Eu entrei no Etapa pensando em fazer Engenharia Aeronáutica no ITA, porque achava que com essa formação seria mais fácil virar astronauta. Era o que eu queria. Mas, durante o Ensino Médio, na Feira de Profissões do colégio, conversando com as pessoas, achei que não era exatamente esse o meu caminho. Na USP existe o curso de Ciências Moleculares. Se você entrar em algum curso da USP, depois eles chamam os melhores colocados para esse curso. Achei fantástico, fiquei com muita vontade de fazer Ciências Moleculares. Pensava: “Quem sabe não vou virar cientista?” Com essa ideia, decidi que ia prestar Fuvest para algum curso da área de Exatas. Como chegou à Engenharia Química? Eu sou parte da geração que quer fazer algo de que gosta, que tenha sentido para você. Engenharia veio pela vontade de saber como as coisas funcionam na vida real. E a Química porque eu me envolvi bastante por conta das ENTREVISTA

Carreira – Engenharia Química CONTO Gaetaninho – Antônio de Alcântara Machado

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olimpíadas. Estive envolvida com a Olimpíada de Química logo que entrei no Etapa.

Você teve bom desempenho nas olimpíadas de que participou? Fui premiada na Olimpíada Brasileira de Química e na Olimpíada de São Paulo. No Etapa, você participava de outras atividades extra-aula? Eu fazia questão de participar de todas as atividades. Ia a muitas palestras. Toquei algumas vezes nas gincanas. Fiz bastante esporte e participei de competições de handebol e vôlei. Você se sente satisfeita com a carreira que escolheu? Bastante satisfeita. Fiz essa escolha como forma de ampliar meus horizontes e foi o que aconteceu. Como foi seu início na Poli? Não foi fácil, mas em um semestre eu me adaptei. A USP é um ambiente muito legal, é uma experiência de vida, enriquece bastante. Para mim foi uma experiência bacana. Lá não tem as coisas tão arrumadas como no Etapa, que tem uma superestrutura, com todo mundo focado nos alunos. Na faculdade você precisa estudar de forma independente.

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A arte medieval e a arte renascentista

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ESPECIAL Saem as primeiras aprovações internacionais 2017

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ENTREVISTA

Como se desenvolve o curso de Engenharia Química na Poli? Funciona assim: você entra na Grande Área Química e no fim do Biênio, de acordo com suas notas, escolhe uma habilitação. Eu estava em dúvida entre Engenharia Química e Engenharia de Petróleo. Mas Engenharia Química na Poli tem um fator que para mim foi decisivo: a partir do 3o ano o curso é quadrimestral. São dois quadrimestres de aulas e um de estágio. Eu sempre pensei que o curso tinha de ter uma vantagem prática e em Engenharia Química você se forma com uma carga de trabalho de período integral. O que você estudou em cada ano do curso de Engenharia Química? Hoje em dia está diferente, mas eu tive no 1o e no 2o ano os quatro cálculos, quatro álgebras lineares e quatro físicas. A parte de Engenharia Química começa um pouco no 2o ano e é forte do 3o ao 5o ano. No 3o ano você tem os fundamentos da Engenharia Química. Do 3o ano em diante tem Termodinâmica, que é uma mistura de Física com Química. No 5o ano tem algumas matérias que são mais ligadas a projetos. E tem o TCC. Em linhas gerais, no 1o e no 2o ano tem a base. No 3o ano e até a metade do 4o tem os fundamentos da Engenharia Química. No 5o ano tem mais a parte de projetos. Qual foi o tema do seu TCC? Foi uma comparação de impacto ambiental entre carvão vegetal e carvão mineral. Uma análise do ciclo de vida. É uma técnica bem conhecida, você avalia o impacto ambiental de um ciclo inteiro e prova por A mais B que o carvão vegetal é ecologicamente mais sustentável e o carvão mineral é economicamente mais viável. Além das aulas, de quais atividades você participou na USP? Desde o 1o ano eu fiz aulas de alemão na Poli. Voltei a jogar handebol, fiz esportes em geral. Eu me envolvi bastante com o Centro Acadêmico, inclusive no meu 3o ano coordenei um evento de Engenharia Química com gente de outros estados. Na época eu fazia também trabalho voluntário na “favela” São Remo, que fica atrás do campus da Cidade Universitária. Trabalhava com crianças. Foi uma forma que encontrei de contribuir. Também fiz Iniciação Científica no 2o ano – trabalhando com uma pós-graduanda no programa de reatores. Você estudava alemão pensando em fazer intercâmbio? Sim. Os intercâmbios fortes são na Alemanha, França e Itália. Eu sentia mais afinidade com a Alemanha. Seu primeiro estágio começou quando? Comecei no final do 3o ano. Foi em consultoria estratégica, numa consultoria alemã. Fui a primeira da minha turma a conseguir estágio. Na Poli as pessoas estagiam nos últimos anos e na época tinha só uma empresa de consultoria estratégica contratando gente do 3o ano, a Roland Berger. Fiz o processo seletivo, um processo difícil, e passei.

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Por que consultoria? O consultor tem uma porta mais aberta para conversar dentro da empresa e juntar as melhores ideias e melhores soluções. Eu gosto muito porque envolve trabalho analítico. Você aprende a pensar com restrições, recursos limitados, onde a gente quer chegar, o que precisa, que perguntas tem que fazer para chegar a uma determinada resposta. Você começa a adquirir outras habilidades, que são habilidades genéricas, aprende a usar melhor o raciocínio. Na consultoria estratégica eu trabalhei em projetos de diferentes setores: farmacêutico, vestuário, seguros, energia. Aprendi a ter versatilidade e a ver como funciona o mundo dos negócios. Entrei como estagiária e saí como analista. Quanto tempo levou o processo para ser aprovada no intercâmbio? Demorou em torno de quatro meses. Eu estava procurando um intercâmbio para o final desse período de estágio. Pesquisei opções de intercâmbio em que também poderia trabalhar, fazer aqueles trabalhos de férias. Fui aprovada no começo de 2011. Você teve alguma bolsa para o intercâmbio? Não. Meus pais estavam levando muito a sério que eu ia fazer um intercâmbio desses e disseram: “Você vai para o intercâmbio pela Poli, aqui tem uma quantia”. Era basicamente o valor do meu carro. Pensei: “Depois que eu voltar vou conseguir um estágio e pago”. Para mim era como se fosse um empréstimo. Onde você fez o intercâmbio? Na Technischen Universität Berlin (Universidade Técnica de Berlim). Antes do intercâmbio eu fiquei sabendo de um curso de verão de Engenharia Química que era em Berlim. Summer school, como chamam. Por coincidência era na mesma universidade para a qual eu ia. Fiz esse curso de verão com bolsa. No intercâmbio, o que você estudou? Eu podia fazer todas as matérias de Engenharia Química e outras matérias. Foi aí que comecei a estudar uma matéria de Gerenciamento e Estratégias. Eram aulas em inglês ou em alemão? As aulas eram em inglês e alemão. Eu tinha muita dificuldade em algumas aulas, porque o alemão que você aprende na sala de aula é diferente do dia a dia. Eu tinha que ficar traduzindo os slides antes para aprender o vocabulário e na aula saber do que se tratava. Você procurou um intercâmbio que lhe permitiria trabalhar. O que conseguiu? Logo depois do curso de verão eu precisei arrumar um estágio, mas não sabia falar alemão o suficiente para trabalhar, não me sentia confortável. Fui conversar com o serviço de estágios da universidade e eles me disseram para procurar um grupo internacional, Rocket, incubador de startups, que estava contratando. Lá, conheci uma menina que tinha morado no Brasil quando pequena e sabia falar um pouco

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ENTREVISTA de português. Ela me disse que tinha vaga. O grupo tinha duas grandes centrais, uma em Chicago, que cuidava dos Estados Unidos e do Canadá, e outra em Berlim, que cuidava do resto do mundo. Eles estavam procurando alguém que falasse e escrevesse em português e conhecesse São Paulo. Eu disse: “Sou eu!”. Entrei logo no começo do meu intercâmbio e trabalhei durante dez meses.

O que você fez nesse trabalho? Eu cuidava do conteúdo do site, ou seja, do alemão e do inglês para português. Fazia atualizações do formato do site. Além do curso de férias, do intercâmbio e do estágio, você fez outras coisas na Alemanha? Uma coisa bacana que fiz na Alemanha foi participar de um congresso da Mckinsey. Você conheceu a Mckinsey na Alemanha? Isso. Fiquei sabendo pelos veteranos da Roland Berger desse evento, que seria em Paris, com 100 mulheres que eles recrutavam em toda a Europa e no norte da África. Eu ainda não sabia o que era a Mckinsey. Na Poli, o pessoal de Engenharia de Produção conhece bastante, eles estão muito mais por dentro na parte do mercado financeiro. Eu, de Engenharia Química, não tinha noção. Tinha que mandar seu currículo e uma redação em inglês sobre por que achava que podia ser parte do evento. Eu fui uma das selecionadas. Era um momento de recrutamento, o objetivo era conhecer a Mckinsey. Nós ficamos em um castelo privado no subúrbio de Paris, teve palestras geniais com líderes, uma delas tinha sido astronauta e ministra da França. Esse evento era só para 100 mulheres? Isso. Eles mandaram uma gerente da Mckinsey do Brasil, que hoje é uma das minhas mentoras. Uma coincidência enorme: ela era da Poli, da Engenharia Química, e tinha trabalhado na Roland Berger. Quando terminei o intercâmbio eu tinha certeza de que queria trabalhar na Mckinsey.

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dois contratos e deu certo. Também negociei com a Shell, em vez de trabalhar 30 horas semanais por oito semanas, eu podia fazer 40 horas por seis semanas. Minhas aulas terminaram no meio de dezembro, em uma sexta-feira. No sábado eu estava no Rio, porque a empresa era lá. Só voltei para o Natal e passei janeiro quase inteiro para completar as seis semanas. Voltei em uma quarta-feira e na quinta-feira comecei na Mckinsey.

Você fez o estágio na Mckinsey e foi efetivada? Isso, continuei como analista. Qual foi seu trabalho na Mckinsey? Na Mckinsey eu fiz diversos projetos. Por exemplo, trabalhei com produtor de açúcar [fez um otimizador para integrar a produção de ponta a ponta, da colheita até ação logística de exportação] e com empresa instaladora de telefones. Nessa, eu entrei fazendo uma implementação para mais de cinco mil técnicos em sete estados. Aumentou muito a produtividade, a situação financeira da empresa, os funcionários ficaram mais unidos, porque quem trabalha direito ganha mais. Na Mckinsey eu tive oportunidade de ir para fora também. Passei cinco meses na Austrália, onde trabalhei com mineração, e quatro meses na China, fazendo workshops para encontrar reduções de custos em uma indústria de componentes eletrônicos. Na Austrália, onde você ficou? Fiquei no interior, na região norte de Queensland. É quase no deserto lá. Não tenho expertize de mineração, mas fiz projetos de transformação. Na mineração você tem os passos, por exemplo, você tem que usar os explosivos para balançar a primeira parte do solo e depois tem que remover essa parte até chegar no carvão. Fizemos um simulador para ajudar nessa questão. Foi bem legal.

Como foi o processo para entrar no estágio na Mckinsey? O processo da empresa era muito competitivo e eu não tinha nenhuma vantagem. Nesse mesmo tempo eu estava tentando um estágio de verão da Shell aqui no Brasil. Eu queria fazer alguma coisa na área da Engenharia Química. O que aconteceu foi que passei nos dois estágios, na Mckinsey e na Shell.

O que você vem fazendo desde que se formou na Poli em 2013? Eu fiquei na Mckinsey até março de 2016, quando tirei licença não remunerada e me mudei para o Chile, onde estou até hoje e trabalho na Latin American Power – LAP. Fui para ajudar no processo de venda da empresa. Estamos procurando um comprador e eu ajudo mais na parte da contabilidade e controladoria com os consultores financeiros. Vou ficar até concluir a venda, que deve ser feita até o segundo trimestre deste ano. Depois pretendo fazer MBA. A Mckinsey vai patrocinar meu MBA no exterior. É uma oportunidade muito bacana porque complementa a minha formação de engenheira.

Você fez os dois estágios? O estágio de verão da Shell durava oito semanas, trabalhando 30 horas por semana, mas eu podia também trabalhar 40 horas por semana. Meu curso quadrimestral permite trabalhar 40 horas no estágio. E a Mckinsey começava só em fevereiro. O que eu fiz: negociei com a Poli para assinar os

Quais as recordações que ficaram do Etapa? Eu lembro muito das aulas, foram bem marcantes. Lembro da participação nas olimpíadas que fizeram diferença para mim. Fiz bons amigos aqui, havia uma cultura de colaboração e as pessoas se ajudavam. Saí do Etapa com a noção do mais de você em você mesmo.

Quando voltou para o Brasil, você estava em que ano? Eu estava no final do 4o ano.

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CONTO

Gaetaninho Antônio de Alcântara Machado i, Gaetaninho, como é bom! Gaetaninho ficou banzando bem no meio da rua. O Ford quase o derrubou e ele não viu o Ford. O carroceiro disse um palavrão e ele não ouviu o palavrão. – Eh! Gaetaninho! Vem pra dentro. Grito materno sim: até filho surdo escuta. Virou o rosto tão feio de sardento, viu a mãe e viu o chinelo. – Subito! Foi-se chegando devagarinho, devagarinho. Fazendo beicinho. Estudando o terreno. Diante da mãe e do chinelo parou. Balançou o corpo. Recurso de campeão de futebol. Fingiu tomar a direita. Mas deu meia volta instantânea e varou pela esquerda porta adentro. Eta salame de mestre!

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Ali na Rua Oriente a ralé quando muito andava de bonde. De automóvel ou carro só mesmo em dia de enterro. De enterro ou de casamento. Por isso mesmo o sonho de Gaetaninho era de realização muito difícil. Um sonho. O Beppino por exemplo. O Beppino naquela tarde atravessara de carro a cidade. Mas como? Atrás da Tia Peronetta que se mudava para o Araçá. Assim também não era vantagem. Mas se era o único meio? Paciência.

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Gaetaninho enfiou a cabeça embaixo do travesseiro. Que beleza, rapaz! Na frente quatro cavalos pretos empenachados levavam a Tia Filomena para o cemitério. Depois o padre. Depois o Savério noivo dela de lenço nos olhos. Depois ele. Na boleia do carro. Ao lado do cocheiro. Com a roupa marinheira e o gorro branco onde se lia: Encouraçado São Paulo. Não. Ficava mais bonito de roupa marinheira mas com a palhetinha nova que o irmão lhe trouxera da fábrica. E ligas pretas segurando as meias. Que beleza, rapaz! Dentro do carro o pai, os dois irmãos mais velhos (um de gravata vermelha, outro de gravata verde) e o padrinho Seu Salomone. Muita gente nas calçadas, nas portas e nas janelas dos palacetes, vendo o enterro. Sobretudo admirando o Gaetaninho. Mas Caetaninho ainda não estava satisfeito. Queria ir carregando o chicote. O desgraçado do cocheiro não queria deixar. Nem por um instantinho só. Gaetaninho ia berrar mas a Tia Filomena com a mania de cantar o “Ahi, Mari!” todas as manhãs o acordou. Primeiro ficou desapontado. Depois quase chorou de ódio.

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Tia Filomena teve um ataque de nervos quando soube do sonho de Gaetaninho. Tão forte que ele sentiu remorsos. E para sossego da família alarmada com o agouro tratou logo de substituir a tia por outra pessoa numa nova versão de seu sonho. Matutou, matutou, e escolheu o acendedor da Companhia de Gás, Seu Rubino, que uma vez lhe deu um cocre danado de doído. Os irmãos (esses) quando souberam da história resolveram arriscar de sociedade quinhentão no elefante. Deu a vaca. E eles ficaram loucos de raiva por não haverem logo adivinhado que não podia deixar de dar a vaca mesmo. O jogo na calçada parecia de vida ou morte. Muito embora Gaetaninho não estava ligando. – Você conhecia o pai do Afonso, Beppino? – Meu pai deu uma vez na cara dele. – Então você não vai amanhã no enterro. Eu vou! O Vicente protestou indignado: – Assim não jogo mais! O Gaetaninho está atrapalhando!

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Gaetaninho voltou para o seu posto de guardião. Tão cheio de responsabilidades. O Nino veio correndo com a bolinha de meia. Chegou bem perto. Com o tronco arqueado, as pernas dobradas, os braços estendidos, as mãos abertas, Gaetaninho ficou pronto para a defesa. – Passa pro Beppino! Beppino deu dois passos e meteu o pé na bola. Com todo o muque. Ela cobriu o guardião sardento e foi parar no meio da rua. – Vá dar tiro no inferno! – Cala a boca, palestrino! – Traga a bola! Gaetaninho saiu correndo. Antes de alcançar a bola um bonde o pegou. Pegou e matou. No bonde vinha o pai do Gaetaninho. A gurizada assustada espalhou a notícia na noite. – Sabe o Gaetaninho? – Que é que tem? – Amassou o bonde! A vizinhança limpou com benzina suas roupas domingueiras.

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Às dezesseis horas do dia seguinte saiu um enterro da Rua do Oriente e Gaetaninho não ia na boleia de nenhum dos carros do acompanhamento. Ia no da frente dentro de um caixão fechado com flores pobres por cima. Vestia a roupa marinheira, tinha as ligas, mas não levava a palhetinha. Quem na boleia de um dos carros do cortejo mirim exibia soberbo terno vermelho que feria a vista da gente era o Beppino. Extraído de: Brás, Bexiga e Barra Funda.

VOCABULÁRIO banzando: pasmado, distraído. boleia: parte fronteira superior de uma carruagem. cocre: o mesmo que croque; cascudo, pancada na cabeça com o nó dos dedos. palestrino: palmeirense, italianinho. salame de mestre: sair de fininho, enganando o adversário.

Sobre o autor Em pouco menos de dez anos de atividade, Antônio de Alcântara Machado deixou uma obra significativa, não pelo volume, mas pela atualidade, pela descontração, pela colocação do linguajar ítalo-paulistano na nossa literatura, pelos flagrantes tão saborosos que colhia e sabia transmitir com autenticidade. Nascido em São Paulo em 1901, morreu no Rio de Janeiro em 1935. Antes de Brás, Bexiga e Barra Funda (contos, 1927), intercala estudos com viagens à Europa, artigos para jornais e um volume de impressões de viagens, Pathé-Baby (1926). Para Francisco de Assis Barbosa, Alcântara Machado é “um escritor modernista típico, embora não tivesse participado da famosa Semana de Arte Moderna de 1922”. Em 1928 aparece, sob sua direção, a Revista de Antropofagia, que tamanha influên­ cia teria. Do mesmo ano é seu livro Laranja da China. A partir daí intensifica sua atividade literária e jornalística, publicando críticas, crônicas, contos e ensaios.

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A arte medieval e a arte renascentista

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1. A experiência espacial do Renascimento se deu dentro de uma mudança estrutural da sociedade europeia (econômica, social e política) e, portanto, está vinculada à representação que os homens daquela época, com aqueles problemas específicos, faziam do mundo. Pode ser uma representação verdadeira do mundo para a sociedade que surgiu no século XV: verdadeira porque corresponde à nova estrutura social e aos novos conhecimentos científicos; verdadeira relativamente à época em que surgiu, e não para toda a humanidade, em todos os tempos e todos os espaços.

Uma das consequên­cias da nova visão foi que os corpos, não tendo mais existência separada enquanto grandezas absolutas, deviam ser coordenados com outros corpos no mesmo campo de visão, numa mesma escala de grandeza: tornou-se necessário quadricular a tela e calcular quase matematicamente a posição e a distância dos corpos representados. Reprodução

história da arte foi feita até agora em função da ideia de que o Renascimento marca uma aproximação decisiva e definitiva na representação verdadeira do mundo exterior. Essa atitude necessita ser analisada sob dois prismas:

2. A ideia de uma representação verdadeira do mundo exterior implica uma noção de espaço em si, um universo dado de uma vez por todas, sempre o mesmo para o homem de qualquer lugar e qualquer tempo. Ora, esse espaço ideal, que seria simplesmente reinterpretado de diversas maneiras pelos vários movimentos artísticos, não existe. O espaço não é uma rea­lidade em si: é a expe­riência do homem com o seu meio ambiente, e, nesse sentido, o homem está sempre criando espaços novos, e não simplesmente visualizando de modo diferente o mesmo espaço.

A concepção de arte medieval e a revolução renascentista Em que consiste basicamente a grande diferença entre a pintura medieval (tanto a gótica quanto a bizantina) e a pintura renascentista? O espaço para a pintura medieval é qualitativo, isto é, as figuras e os objetos se dispõem em função das qualidades que possuem dentro de uma certa simbologia (em geral, simbologia religiosa) e o tamanho é determinado pelo valor da figura, e não pela sua distância física em relação às outras. Assim, Cristo pode estar duas vezes maior do que um outro personagem do quadro não porque este se encontra em segundo plano, mas porque Cristo lhe é superior na hierarquia de valores religiosos. Na pintura renascentista, a representação espacial se estrutura com base nas relações físicas e matemáticas entre objetos e figuras, sem se preocupar com qualquer outra conotação: é, portanto, um espaço quantitativo, que se preocupa em determinar as proporções e as distâncias entre as figuras e não suas relações morais.

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Simone Martini, Cristo no caminho do calvário, c. 1340.

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O espaço medieval, que era sucessivo (num mesmo quadro havia vários espaços com grandezas diferentes), deixa lugar a um espaço unitário, regido pelas leis da perspectiva, descobertas nessa mesma época. O tempo na pintura medieval era também plural, isto é, um mesmo quadro tratava de assuntos que se desenrolavam em períodos diferentes; o tempo na pintura renascentista passa a ser unitário, ou seja, a figura representada num momento único de sua ação. Disso decorre que a multiplicidade de ações que aconteciam em tempos e espaços diferentes num quadro medieval desaparece e é substituída por uma só ação acontecendo em um só tempo e num só espaço. O foco visual, que na pintura medieval era sucessivo e plural, isto é, o olho do espectador devia percorrer sucessivamente as várias cenas apresentadas, torna-se único e imediato, pois tudo está subordinado a um tema central, que é captado globalmente num só olhar do espectador. A cor na pintura gótica era geralmen­te expressionista, isto é; não represen­tava a coloração natural do objeto pin­ta­do, mas os sentiFra Angelico, A anunciação, c. 1440-1450. mentos que este pro­vo­cava; a cor na pintura bizantina era emblemática, havia uma cor – tipo para cada figura A bidimensionalidade que havia vi­go­rado na pintura medieval, representada, que também dependia de tradição pictórica, e não isto é, o plano, deixa lugar à tridimensionali­dade – o espaço da tela de imitação da coloração natural dessa figura. se torna um espaço ilu­soriamente “real”, pois tem uma terceira A cor no Renascimento tenta emancipar-se das tradições exdimensão, a da profundidade, conseguida pelas linhas de perspressionistas e emblemáticas para aderir plenamente à figura e ao pectiva. Os corpos evoluem nesse espaço como corpos pesados, objeto representado: é uma cor que se quer natural. consistentes, quase escultóricos. Finalmente, a estilização das figuras na pintura medieval vai ser substituída pela busca da expressão natural dos corpos na pintura renascentista.

Andrea Mantegna, S. Tiago conduzido ao suplício, c. 1455. (Desenho à pena)

Andrea Mantegna, S. Tiago conduzido ao suplício, c. 1455.

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Pietro Lorenzetti, O nascimento da virgem, c. 1342.

giar este único aspecto, pois a pintura medieval também alcançou nesse período grande desenvolvimento; às vezes, no mesmo quadro, os pintores do Pré-Renascimento apresentam características da pintura medieval e daquela que será chamada renascentista. Na Itália e nos Países Baixos do Sul (também chamados Flandres) é que se desenvolvem as pesquisas em torno do novo espaço pictórico. Fonte: Acervo Etapa.

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O Renascimento propriamente dito co­meça em fins do século XV e continua até metade do século XVI, quando o Maneirismo e o Barroco iniciam o esvaziamento das formas criadas pelos pintores renascentistas e propõem novas relações espaciais. O século XV foi um período ambivalente, na medida em que os artistas estavam insatisfeitos com as antigas formas de representação, mas ainda não tinham construído um outro sistema coerente de relações espaciais. É chamado Pré-Renascimento por­que já se prenunciavam as características da pintura do Renascimento. Mas não se deve privile-

Sandro Botticelli, O nascimento de Vênus, c. 1480.

Hubert van Eyck; Jan van Eyck, Retábulo de Ghent (Adoração do Cordeiro Sagrado), 1430-1432.

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ESPECIAL

Saem as primeiras aprovações internacionais 2017 MIT, University of Notre Dame e Columbia University estão na lista de admissões dos alunos do Colégio Etapa. m 2016, o Etapa foi o colégio brasileiro com o maior número de aprovações internacionais. Este ano, 20 alunos já foram aprovados em 24 universidades internacionais. Na lista, estão instituições como MIT (Massachusetts Institute of Technology), University of Chicago, University of Notre Dame, Universidade de Tóquio, Columbia University, University of Pennsylvania (Upenn), University of Colorado (Boulder), entre outras. Tradicionalmente, as respostas das admissões internacionais chegam entre os meses de março e abril, mas estas aprovações divulgadas fazem parte do chamado Early Admission. Nesse processo o aluno se compromete a enviar sua candidatura no início de novembro, antes do prazo habitual, que costuma ser no mês de janeiro. Contudo, não são todas as faculdades que oferecem essa opção. O Early Admission é também uma forma de o aluno mostrar à universidade que ele tem forte interesse por ela e que está comprometido com o processo de candidatura. No entanto, concluir o processo de admissão com antecedência não aumenta as chances desse candidato sobre os demais alunos. Entregando o material para a admissão no primeiro ou segundo prazo, os candidatos são avaliados com os mesmos critérios. Dentre os primeiros aprovados em 2017, está Bárbara Ramos, que cursará Veterinária na Universidade de Tóquio (considerada a melhor instituição da Ásia). Bárbara, no entanto, não entra na modalidade Early Admission, porque não há essa opção nas universidades japonesas. A aluna passou na Bolsa MEXT, oferecida pelo Consulado Geral do Japão em São Paulo. “Nunca aprovamos tantos alunos na modalidade Early. Este é um indicador da excelência do colégio”, destacou a coordenadora do Etapa Internacional, Laila Parada-Worby.

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Lista completa dessa primeira fase de aprovações internacionais: André de Oliveira Soares Institut National Des Sciences Appliquées – INSA (França) Bárbara Ramos Universidade de Tóquio (Japão) Bruno Rojo de Camargo University of Chicago (EUA) Bryan Rabelo Gonzalez Brigham Young University (EUA) University of Utah (EUA) Caroline Magalhães de Toledo Columbia University (EUA) Cíntia Vieira de Araujo Purdue University (EUA) Gabriel Dante Cawamura Seppelfelt Giancarlo Sciacca Guimarães Pereira University of Colorado, Boulder (EUA) Isabela Beatriz Pascoal Alves dos Santos Rollins College (EUA) University of Tampa (EUA) Julia Sachs Negreiros Vicente Wharton School – University of Pennsylvania (EUA) Leonardo Cimatti Lucarelli Institut National Des Sciences Appliquées – INSA (França) Lucas de Camargo Mainente Fédération Gay-Lussac (França) Lucas Xie Fu Colorado State University (EUA) Purdue University (EUA) Michigan State University (EUA) Mariana Mazjoub Brandani Michigan State University (EUA) Pedro Henrique de Sousa Lopes University of Notre Dame (EUA) Pedro Nogueira Calvin College (EUA) Rafael Gehrke University of Pennsylvania (EUA) Thiago Ross-White Bergamaschi Massachusetts Institute of Technology – MIT (EUA)

a s, admitid Julia Sach ness da si u B e d o no curs lvania. of Pennsy University

Caroline Magalhães, aprovada na Columbia University.

Jornal do Colégio

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Victor Cunha Oushiro Hult International Business School (Inglaterra) William Kenzo Felipone Indiana University, Bloomington (EUA)

Jornal do Colégio ETAPA, editado por Etapa Ensino e Cultura REDAÇÃO: Rua Vergueiro, 1 987 – CEP 04101-000 – Paraíso – São Paulo – SP JORNALISTA RESPONSÁVEL: Egle M. Gallian – M.T. 15343

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