Jornal do Colégio - 622

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Jornal do Colégio JORNAL DO COLÉGIO ETAPA  –  2017  •  DE 03/03 A 16/03

CURSO DE DIREITO

Adriane mostra novas áreas e projetos na carreira de Direito. Adriane Nakagawa Baptista estudou no Colégio Etapa e se formou em Direito pela USP. Também colaborou na FGV durante a implantação do curso de Direito. Participou de estudos dos impactos econômicos de tratados internacionais. Estudou Direito europeu na Holanda e há dois anos criou escritório próprio de advocacia. Nele instalou um Atelier Jurídico, espaço colaborativo para advogados e estudantes de Direito.

Adriane Nakagawa Baptista

JC – Quando você escolheu Direito como carreira? Adriane – Ainda no Ensino Fundamental eu já queria cursar Direito, porque naquela época minha ideia era me tornar diplomata e tinha visto que a carreira jurídica proporcionava formação relevante para a diplomacia. Eu sempre me interessei por assuntos internacionais, ficava fuçando jornais, revistas. Você teve que mudar sua rotina quando começou a estudar no Colégio Etapa? Com certeza! Passei de um modelo construtivista de ensino para uma forma mais estruturada de estudo, digamos assim. Lembro até hoje do meu choque com 25 provas seguidas. Eram três ou quatro por semana. Pensei: “Nossa, preciso mudar muito, preciso de um estudo constante das matérias”. Foi isso que mudou: a necessidade de uma disciplina mais rígida. Quanto tempo demorou para se adaptar ao nosso sistema? Não demorei muito. Eu tinha motivação e me apliquei desde o início. Além da Fuvest, você prestou outros vestibulares? Prestei PUC para Direito e Unicamp para Filosofia. Prestei Filosofia por causa de um grupo que criamos no Etapa para estudar os filósofos da época do Renascimento. Fiquei interessada e resolvi prestar. ENTREVISTA

Carreira – Direito

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CONTO

A doença do Fabrício – Artur Azevedo

Como se formou esse grupo de estudos de Filosofia? Tudo começou em uma aula de História em que ficamos discutindo o que seria a verdade, o conceito da verdade, as várias facetas. Foi uma discussão acalorada. Uma amiga minha, que hoje é professora universitária na área de Matemática, conversou com o professor e montamos o grupo de estudos. Como foi o início na São Francisco? No 1o ano teve Introdução ao Estudo do Direito, Teoria Geral do Estado, um pouco de Filosofia, noções de Economia, mas nada voltado para aquilo que um advogado desenvolve. Tivemos os princípios de Direito Civil, Direito Constitucional. Eu senti falta de contato com as matérias. Mas a partir do 2o ano estudamos os outros módulos de Direito Civil, de Direito Comercial, se não me engano o Direito do Trabalho veio depois. No 3o ano tivemos Direito do Comércio Internacional e a matéria que mais me impressionou, Direito Internacional Privado. Você participou de atividades além das aulas? O que me fez abandonar a ideia por uma carreira diplomática foi o Núcleo de Estudos Internacionais, o NEI. Fui uma das primeiras pessoas que estiveram ali com a equipe central de fundadores que participou de Moots (competições estudantis de simulação de Direito). Acho que a minha participação ESPECIAL

ENTRE PARÊNTESIS

Jardineiro

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ARTIGO

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Mais é melhor

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O dia da comemoração

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CURSO DE DIREITO

nesse núcleo e particularmente na competição do Jessup, que simula o que seria uma sessão da Corte Internacional de Justiça, fez com que me apaixonasse mesmo pelo Direito.

Isso foi em que fase do curso? Começou no segundo semestre do 1o ano. Depois de uns seis meses participando das reuniões eu me tornei coordenadora de algumas atividades do NEI, sobretudo aquelas voltadas para formação da equipe que participaria do Jessup. Competi com a minha equipe por dois anos. Nas rodadas nacionais conseguimos alguns resultados. No primeiro ano fomos para as semifinais, no segundo ano ganhamos o prêmio de melhor memorial. Além do Núcleo de Estudos Internacionais, o que você fez extraclasse? Eu cheguei a dar aulas de Química no cursinho 11 de Agosto. Porque tive bons professores no Etapa. Você entrou na graduação diurna ou noturna? Eu estudava de manhã e a partir do 3o ano estagiava à tarde. Depois eu solicitei transferência para a noite, para poder trabalhar em período integral ou semi-integral. Onde você estagiou? Eu estagiei no escritório Leo Baptista Advogados, que depois se tornou L. O. Baptista, Schmidt, Valois, Miranda, Ferreira e Agel. Fiquei dois anos nesse estágio. Qual era seu trabalho no escritório? Eu fazia muita pesquisa, a parte de organização de documentos, que é superimportante. A gente não dá valor a essa atividade porque é muito braçal e você não aplica o seu conhecimento jurídico, mas é fundamental. Eu me formei em 2007, fui efetivada, fiquei em 2008 e 2009 ainda trabalhando no escritório e aí resolvi buscar outra experiência. Fui para a Fundação Getúlio Vargas trabalhar em um periódico denominado Pontes. A principal atividade de um convênio da GV com uma ONG suíça, o International Center for Trade and Sustainable Development (ICTSD), consiste na publicação do periódico para promover o estudo e o debate de temas de comércio internacional e desenvolvimento sustentável. O que você fazia no periódico? Fazia pesquisas, entrevistas com agentes do governo, com o pessoal da iniciativa privada e também colocava etiqueta em envelope... Era uma equipe muito enxuta, a gente fazia de tudo. Por que essa mudança, da prática do Direito para a área acadêmica? Minha principal preocupação era encontrar o meu chamado, por assim dizer. Eu queria ter certeza. As competições de Direito Internacional Público me ajudaram muito a estabelecer um foco na advocacia, mas no final da faculdade eu estava pensando se não precisava de outras experiências para me certificar de que era isso mesmo que eu queria, porque o

Direito oferece muitas possibilidades. Por exemplo, na área acadêmica. Daí veio a ideia de trabalhar um pouco na GV.

Era o início da GV Direito? O curso estava começando a ser estruturado. Entre 2009 e 2010 foi o início da GV Direito e lá eu tive como mentora a professora Michelle Ratton. Juntas, escrevemos vários artigos voltados para a área de comércio internacional. Também ajudava como monitora informal da professora, acompanhava algumas aulas, fazia anotações. Você disse que logo após se formar procurava um “chamado”. Na GV você encontrou esse chamado? Eu encontrei um aspecto da minha personalidade, descobri que gosto muito de pesquisa. Esse aspecto da minha natureza meio que desabrochou. Ainda assim, quando está na atividade acadêmica, sobretudo no campo do Direito, você acaba sentindo falta da prática jurídica. Acho que é uma retroalimentação. Quando você voltou para a prática jurídica? Ainda na GV eu comecei a pensar se não deveria complementar a minha formação voltando a advogar. É lógico que não foi uma coisa imediata, eu estava na Escola de Direito. Nesse meio tempo, quando ia terminando minhas atividades no ICTSD, apareceu a oportunidade de trabalhar com a professora Vera Thorstensen que, durante muitos anos, foi assessora econômica da Missão do Brasil em Genebra. Então, quando já cogitava voltar a advogar, apareceu a chance de ir para a Escola de Economia da GV. Abracei a oportunidade, porque eram outras atividades. Qual foi o resultado dessa mudança dentro da GV? Tanto na Escola de Direito quanto na de Economia eu pude me aprofundar. Por exemplo, participei de projetos que eram desenvolvidos não só por advogados, mas também por economistas. Estudávamos modelos econômicos voltados à prática e aplicação no comércio internacional. Pegávamos tratados, acordos da OMC e analisávamos não só do ponto de vista de interpretação do advogado, mas qual o impacto em relação à economia. A prática na área de comércio internacional foi um retorno, ainda que gradual, à atividade da advocacia. Você ficou quanto tempo nesse estágio na GV? Dois anos. De 2009 a 2011. Depois desse período de estágio eu voltei a trabalhar como advogada no meu antigo escritório e também fiz LL.M na Holanda. [LL.M: legum magister, mestre em leis]. LL.M é um mestrado? Teria que ser equivalente a um mestrado, mas você precisa pedir a validação. Onde você fez esse mestrado? Fiz em 2011 na Universidade de Leiden, na Holanda. Fica a 15 quilômetros de Amsterdam. Ganhei uma bolsa para es-


CURSO DE DIREITO tudar no LexS Gold Scholarship, não tive que pagar a tuition. Fiquei um ano fora. Estudei Direito europeu. Para mim foi importante ter essa visão do Direito europeu. Hoje, quando vejo um contrato ou estou numa negociação, consigo entender as motivações, as coisas que não estão escritas, mas que fazem parte do cenário jurídico e cultural de um cliente europeu.

Você ficou um ano lá e o foco era o estudo mesmo? O foco era o estudo, mas vou dizer uma coisa, os LL.M hoje em dia não têm aquele formato estritamente acadêmico que era tradicional. Eles são cursos mais voltados para a prática advocatícia. As aulas eram bastante desafiadoras porque os professores propunham problemas e a gente tinha que resolver. O curso era organizado ao redor do estudo de casos e de como nós, como advogados, poderíamos resolver. Os professores já chegavam esperando que os alunos estivessem aptos e preparados, com todas as leituras feitas já para discutir a solução dos casos e apresentar opiniões bem fundamentadas. O que você fez ao voltar para o Brasil? De 2012 a 2015 eu trabalhei no escritório com a equipe de construção [Direito da Construção]. Pode parecer outra área, mas o instrumental, as ferramentas e o raciocínio jurídico acabam se desenvolvendo quando você é colocada numa situação em que tem que negociar, litigar, etc. Era uma área que estava precisando de novos advogados para trabalhar e era uma oportunidade de aprender. A partir de 2015, o que você desenvolveu profissionalmente? Em março de 2015 passei a ter escritório próprio, Cattel Alves e Nakagawa Baptista Sociedade de Advogados, e vim para um espaço que desde maio daquele ano inclui também o Atelier Jurídico. O que é o Atelier Jurídico? É um espaço colaborativo entre e para advogados e estudantes de Direito. Tem uma biblioteca com mais de 5 000 livros, abrangendo Direito Civil, Comercial, Internacional e sobretudo arbitragem. É um espaço onde a gente desenvolve atividades acadêmicas e que ao mesmo tempo abriga o escritório de advocacia. Hoje, qual é a sua rotina de trabalho? Acho que advogado não tem muito essa de rotina, ele trabalha quando tem que trabalhar. Final de semana, férias, não tem como deixar o cliente na mão. Mas em geral meu dia começa cedo, eu deixo minha filha na escola e chego no escritório por volta das 8h30min, mas isso não quer dizer que quando volto para casa eu não precise revisar e ler. Estudantes de Direito que tenham interesse nessa área podem utilizar o Atelier? Encorajamos, abrimos as portas para receber pessoas com esse objetivo. Agora mesmo estamos pensando em

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oferecer cursos para advogados. Estamos com isso enfileirado na trilha.

No Brasil existem muitas faculdades de Direito. Como está o mercado de trabalho para os advogados? Eu acho que o mercado tem, sim, muitos advogados, muita competição. Só que se você for analisar para o lado dos grandes escritórios – estou falando de arbitragem internacional – vai ver que faltam profissionais. Há muito espaço para absorver profissionais bons. Alguém que tenha aplicação, gosto, vocação pelo Direito dentro da área técnica, e tenha também boa formação cultural. Que conheça diversos idiomas com profundidade. Enfim, que tenha cons­ ciência de que precisa estar um passo à frente dos desafios do mercado, inclusive dos que virão com a tendência de automatizar certos processos. Quais características uma pessoa precisa ter para se dar bem em Direito? Ou o Direito, com várias áreas, não exige um perfil específico? Tem que gostar muito de ler. A gente passa muito tempo lendo peças, estudando para essas peças, e isso exige uma metodologia também. Você tem que fichar ou vai esquecer ou vai citar de forma incorreta. Quais são seus planos para o futuro? Espero que o Atelier Jurídico consiga desenvolver sua equipe, que é muito coesa, muito unida. Os projetos que estamos começando a engendrar e gerar, eu espero que se tornem uma referência na formação jurídica para advogados e estudantes. Espero também que a nossa prática advocatícia se desenvolva. O que você tem de recordação da sua época no colégio? Nossa, tenho muitas recordações do Etapa. Lembro que formávamos grupos de estudo de acordo com a matéria. Lembro da camaradagem entre alunos, que era muito legal. Meu amigo Lucas, por exemplo, que se formou no Etapa e hoje é professor de Química na USP, passava horas cercado por um séquito de alunos que queriam entender Química. Outro colega, que estudou fora, nos ensinava Matemática. E lembro das lições dos professores, que não eram só sobre as matérias, eram lições de vida. Eu acho que o Etapa me ensinou a criar um senso de responsabilidade em relação ao que eu me proponho fazer. Você quer dizer mais alguma coisa aos nossos alunos atuais? Para aqueles que estão querendo seguir pelo curso de Direito, digo para aproveitar este período e aprender idiomas, porque depois fica muito corrido. O mercado reconhece esse requisito. É uma dica que pode parecer paliativa, marginal, mas não é. Eu diria que vale a pena correr atrás dos idiomas para já ir montando um currículo. E gostaria que os futuros estudantes de Direito não tivessem medo de, na carreira, experimentar novas áreas e projetos.


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CONTO

A doença do Fabrício Artur Azevedo

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Fabrício era amanuense numa repartição pública, e gostava muito da Zizinha, filha única do Major Sepúlveda. O seu desejo era casar-se com ela, mas para isso era preciso ser promovido porque os vencimentos de amanuense não davam para sustentar família. Portanto, o Fabrício limitava-se à posição de namorado, esperando ansioso o momento em que pudesse ter a de noivo. Um dia, o rapaz recebeu uma carta de Zizinha, participando-lhe que o pai, o Major Sepúlveda, resolvera passar um mês em Caxambu, com a família, e pedindo-lhe que também fosse, pois ela não teria forças para viver tão longe dele. Sorriu ao amanuense a ideia de ficar uma temporada em Caxambu, hospedado no mesmo hotel que Zizinha. Sendo como era, moço econômico, tinha de parte os recursos necessários para as despesas da viagem; faltava-lhe apenas a licença, mas com certeza o ministro não lha negaria. Enganava-se o pobre namorado. O ministro, a quem ele se dirigiu pessoalmente, perguntou-lhe de carão fechado: – Para que quer o senhor dois meses de licença? – Para tratar-me. – Mas o senhor não está doente! – Estou, sim, senhor; não parece, mas estou. – Nesse caso submeta-se à inspeção de saúde e traga-me o laudo. Só lhe darei a licença sob essa condição. Três dias depois o Fabrício, metido numa capa, com lenço de seda atado em volta do pescoço, a barba por fazer, algodão nos ouvidos, foi à Diretoria Geral de Saúde. O seu aspecto era tão doentio que o doutor encarregado de examiná-lo disse logo que o viu:

– Aqui está um que não engana: vê-se que está realmente enfermo! E dirigindo-se ao Fabrício: – Que sente o senhor? O Fabrício respondeu com uma voz arrastada e chorosa: – Sinto muitas coisas, doutor; dores pelo corpo, cansaço, ferroadas no estômago, opressão no peito. – Vamos lá ver isso! Dispa o casaco! O Fabrício pôs-se em mangas de camisa, e o médico auscultou-o. – Não tem tosse? – Tenho, mas só à noite; não me deixa dormir. – Bom. Pode vestir o casaco. E o doutor foi escrever o laudo, que entregou ao amanuense. Este na rua desdobrou o papel, para ver que espécie de doença lhe arranjara o médico e leu: “Cardialgia sintomática da diátese artrítica”. Não imaginem o efeito que lhe produziram essas palavras enigmáticas para ele. – E não é que eu estou mesmo doente? – pensou o pobre rapaz. Ao chegar a casa, tinha as fontes a estalar. Vieram depois arrepios de frio, a que sucedeu uma febre violenta e febre foi ela, que durou vinte dias. O enfermo teve alta justamente quando Zizinha voltava de Caxambu com um noivo arranjado lá. Maldita cardialgia sintomática da diátese artrítica. Extraído de: www.dominiopublico.com.br

(ENTRE PARÊNTESIS)

Jardineiro Um jardineiro pretende plantar a metade da área de um canteiro retangular, usando a outra metade para deixar um caminho de largura constante em torno de toda a área plantada. Como determinar a largura desse caminho se o jardineiro só dispõe de um barbante (de comprimento igual ao da diagonal do retângulo) e se ele não pode sair do canteiro?

RESPOSTA b a + b !d a + b ! a2 + b2 ,= , ou seja, , = (d é a medida da diagonal). 4 4 a +b −d . Como a + b > d ; a − 2, > 0 e b − 2, > 0, o jardineiro deve considerar apenas , = 4 4, pode ser obtido utilizando-se o fio como compasso (v. figura). Obtido 4,, dobra-se o fio ao meio, duas vezes. Resolvendo a equação, obtemos: Então, o retângulo menor tem dimensões a − 2, e b − 2,. Assim, (a − 2,)(b − 2,) = Sejam , a largura do caminho e a e b as dimensões do retângulo.

ab ab isto é, 4,2 − 2(a + b), + = 0. 2 2

a a d−a b−d+a

d−a


ARTIGO

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Mais é melhor A diversidade das espécies é vantajosa para todos

A

preservação da diversidade gené­tica é ao mesmo muda a demanda dos consumidores. Assim, os agricultores tempo um se­guro e um investimento – ambos nee outros produtores de ali­mentos não podem prescindir da cessários à manutenção e melhoria da produção reserva de possibilidades evolutivas existente na gama de agrícola, florestal e pesqueira, à viabilidade das opções variedades de plantas e animais, tanto domésticos como futuras e à pro­teção contra mudanças nocivas impos­tas em estado selvagem. A existência permanente das varieao ambiente. A diversidade genética é matéria-prima para dades selvagens e primitivas das plantas alimentícias do muitas inovações industriais e científicas, e é também um planeta é o principal seguro de que dispõe a humanidade princípio moral. contra a destruição dessas espécies por doenças como a praga da castanheira ou a enfermidade do olmo. Tal princípio está particularmente rela­ cionado com a extinção das espécies, e pode ser formulado do seguinte Não nos referimos a uma ameaça remota. O fato já ocormodo: a espécie humana tornou-se importan­te agente da reu com as videiras europeias. A Philloxera, inseto que vive evolução; podemos causar enormes modificações na bios­ nas raízes da videira, chegou à Europa via América do Norfera, embora ainda não disponhamos de conhe­cimentos te, produzindo efeitos catastróficos. Foram destruídos quasuficientes para controlá-la. Por isto temos uma obrigação se to­dos os vinhedos do continente europeu. Mas logo se moral, para com nossos descendentes descobriu que as videiras autóctones e as demais espécies, de agir com a americanas toleravam o in­seto. A promaior prudência. dução vinícola europeia foi salva graças a enxertos de videiras eu­ropeias Essa prudência impõe-se pelo fato em rizomas americanos, o que aliás mesmo de que, embora tenhamos continua sendo feito até hoje. capa­ cidade para alterar o curso da evolução, continuamos sujeitos a ela. A perspectiva de desastres seme­ Não podemos prever que espécies lhantes em relação a outros cultivos nos poderão ser úteis algum dia. Na aumenta à medida que os agricultores verdade, verificamos que muitas espétrabalham com um número menor de cies aparentemente dispensáveis povariedades. A uniformidade e a seledem fornecer produtos importantes – ção intensiva – através das quais se sobretudo farmacêuticos – ou ser parbuscam rendimentos mais elevados – A cada outono, milhões de andorinhas, maçari­ te integrante dos sistemas vi­ tais de reduziram perigosamente a base geque dependemos. Assim, por motivos cos e tarambolas deixam o litoral nordeste da nética de boa parte da produção aliAmérica do Norte numa longa e acidentada mi­ tanto éticos como de nosso próprio gração para as Antilhas e a América do Sul até mentícia moderna. in­ teresse, devemos evitar contribuir a Patagônia. Os pontos brancos nesta foto de Setenta e cinco por cento do total tela de radar, instalada na ilha de Antígua, cons­ cientemente para a extinção de uma das colheitas de trigo no Canadá cor­ representam pássaros migradores voando entre qualquer espécie que seja. 3 000 e 6 000 metros de altitude. A maioria voa respondem a apenas quatro variedaO material genético contido nas para sudeste, mas alguns estão voando para des; e em mais de 50% dos trigais sudoeste. varie­ dades domésticas de plantas cultiva-se uma única variedade. Da cultiváveis, árvores, gado, animais aquáticos e mi­ cromesma forma, 72% da produção de batatas dos EUA de-organismos – assim como em seus “parentes” que permapendem tão somente de quatro variedades, e só existem necem em estado selvagem – é essencial aos programas duas variedades de ervilhas. Quase todos os cafeeiros do de aprimoramento de raças, de rendimentos, de qualidade Brasil descendem de uma única planta, e toda a produção nutritiva, de sabor, de du­ração de vida, de resistência às norte-americana de soja foi iniciada a partir de seis plantas pragas e tolerância às doenças, de adaptação a diferentes provenientes da mesma região da Ásia. solos e climas, etc. Esses exemplos demonstram a extrema vulnerabilidaMas é raríssimo que essas qualidades sejam permanende dessas plantas (e de outras em idêntica situação) aos tes – se é que alguma vez o são. A longevidade média do ataques de pragas, epidemias, ou mudanças desfavoráveis trigo e de outros cereais, na Europa e na América do Norte, que possam interferir subitamente nas condições de cresé de 5 a 15 anos, pois as pestes e doenças desenvolvem cimento dos cultivos. Infelizmente, enquanto a base genénovas forças e vencem a resistência dos grãos. Outros fatotica dos cultivos mundiais e de outros recursos vivos vai res influem também: o clima se modifica, os solos variam e diminuindo com rapidez, vão sendo também destruídos os


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meios de corrigir esta perigosa situasimas espécies. De acor­ do com um ção (a diversidade de variedades de estudo recente, mais de 40% das replantas e de espécies aparentadas). ceitas prescritas anualmente nos EUA contêm como princípio ativo, isolado Já estão extintas muitas variedades ou associado, alguma substância de selvagens e domesticadas de vegeori­gem natural – seja de plantas (25%), tais – trigo, arroz, milho, feijão, inhame, de micróbios (13%) ou de animais tomate, batata, banana, lima e laranja – (3%). Ain­da nos EUA o valor dos mee outras correm risco de extinção. dicamentos à base de plantas superioAlgumas variedades valiosas, porém res monta a US$ 3 milhões por ano, e primitivas ou muito localizadas, são de continua a au­mentar. certa forma vítimas de sua própria utili­ Na medicina, as aplicações mais imdade, porque é delas que derivam, em portantes de plantas e animais supegrande parte, as qualidades de alta proriores são as seguintes: dutividade e maior resistência a doenças que deram às variedades avança• Como componentes utilizados didas vantagens sobre as primitivas. retamente como agentes terapêuticos: a digitoxina, a morfina e a Devido à crescente demanda de ali­ atropina, insuperáveis em suas resmentos, a rápida substituição das va­ pectivas aplicações; riedades tradicionais por outras novas constitui uma evolução necessária e • Como materiais a partir dos quais po­ sitiva; mas seria contraproducente se chega à síntese medicamentosa: não preservar ao mesmo tempo as vaos hormônios do córtex suprarrenal riedades tradicionais e seus parentes e outros esteroides, que são geralsilvestres. mente sintetizados a partir das sapogeninas, esteroides vegetais; As populações primitivas de plantas cultivadas, assim como as populações • Como modelos para a síntese de de plantas silvestres a elas relacionasubstâncias medicamentosas: a codas, são com frequência uma fonte caína, base para o desenvolvimento importante – senão única – de resisda anestesia local moderna. tência a pragas e enfermidades, além O comércio de espécies animais e vegetais ameaEsta última aplicação não deveria çadas vem sendo substancialmente reduzido ser subestimada. Como ressalta um de serem um fator de adaptação a desde 1975, quando entrou em vigor a Con­ ambientes naturais pouco propícios. cialista na matéria, “sem a exisvenção sobre o comércio internacional de es­ espe­ Possuem também pro­priedades agropécies selvagens da fauna e da flora ameaçadas tência das substâncias ativas naturais de extinção. Regulamentações rigorosas são nômicas de grande valor, como as que é provável que jamais se tivesse desagora aplicadas a uma longa lista de espécies, produzem o arroz-anão e o trigo-anão do almiscareiro a moluscos, passando pela coberto nem as substâncias nem sua e que revolucionaram es­sas culturas e Parriassius apollo, uma borboleta europeia mui­ atividade. Su­ponhamos que um químito rara, e o Chrysocyon brachyurus, lobo sulpermitiram aumentar seu rendimento co quisesse elaborar um remédio para -americano de juba. em muitas regiões do mundo. insuficiência cardíaca; os métodos Valiosas raças de gado também se en­contram ameaçaatualmente disponí­ veis não lhe possibilitariam sintetizar das. Das 145 raças bo­vinas indígenas da Europa e da reuma molécula semelhante à digitoxina se o protótipo natugião do Mediterrâneo, 115 correm o risco de ex­tinção. E, ral não fosse conhecido”. tal como ocorre com as plantas, há muitas raças pecuárias Paradoxalmente, quanto mais um país se desenvolve, tradicio­nais da maior importância para a criação. mais depende de sua própria reserva de diversidade genétiA raça ovina Wensleydale, extrema­mente rara, foi utilizada ca (assim como da de outros países). E essas reservas dimipara obter-se uma raça de ovelhas capaz de suportar bem o nuem constantemente. Vá­rios países em desenvolvimento calor, a fim de que se pudesse produzir lã de boa qualidade estão criando hoje suas próprias indústrias farmacêuticas nos países subtropicais. A galinha de Cornualhas, que em para atender à demanda interna de medicamentos essencerta época só tinha interesse para determinado tipo de criaciais a custos aceitáveis. dores, re­velou-se – através do cruzamento com outras raças – Numa contribuição a esse esforço, um grupo de trabalho de grande utilidade na obtenção de frangos de crescimento da ONU elaborou há pouco tempo uma relação básica das rápi­do, tornando-se a base da indústria de frangos para assar. plantas medicinais da África, da Ásia e da América Latina Plantas e animais são de grande importância para a mecujos princípios ativos são utilizados na medicina moderna. dicina moderna, em­bora as pesquisas acerca de seu valor Das 90 espécies relacionadas, 40 só podem ser encontramedicinal e farmacêutico tenham-se limitado a pouquísdas na própria natureza; cerca de 20 outras, embora cultiva-


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das, são também colhidas na natureza. domés­ ticos, desaparecem também A preservação dessas espécies e de muitas va­ riedades de plantas e aniseu hábitat é um dos pré-requisitos mais silvestres. Atualmente, a ameaça de extinção paira sobre cerca de 25 mil para o sucesso das indústrias farmaespécies de plantas e mais de mil escêuticas locais. pécies e sub­espécies de vertebrados. A história do aproveitamento, por E nessas cifras não está incluído o ineparte do homem, de espécies vegevitável desapare­cimento de pequenos tais e animais, demonstra que mesmo animais, sobretudo invertebrados – espécies aparentemente inúteis e até moluscos, insetos, co­ rais – cujos em vias de extinção podem revelarhábitats são destruídos. As estimati-se úteis e às vezes indispensáveis. O vas que tentam levar em conta esse “pescado blanco” (Chirostoma estor), fator afirmam que futuramente estapeixe que em estado natural só existe rão extintas de 500 mil a 1 milhão de em um lago mexicano, achava-se até espécies. Se efetivamente todas elas pouco tempo ameaçado de extinção O lince (Felis lynx), outrora muito disseminado rem a extinguir-se, a perda será devido à pesca abusiva, à deterioração por toda a Europa, declinou consideravelmente vie­ durante os últimos 100 anos, devido à diminui­ irrepará­ vel para a humanidade. de seu ambiente e ao ataque e concorção das áreas florestais onde eles habitavam e à A ameaça mais grave é a destruição rência de outras espécies introduzidas. atividade de caçadores de peles. dos hábitats, que engloba: a substituiAgora, graças a métodos adequados de ção completa dos ambientes naturais por as­sentamentos criação e reprodução artificial, esses peixes enchem vários humanos, portos e outras construções, por cultivos, pasreservatórios e lagos de represas, e está sendo construí­do tagens ou plantações, por minas ou pedreiras; os efeitos para eles um viveiro de 15 hectares. das represas (que bloqueiam as migrações de desova, Várias espécies, como o tatu e o urso polar, converteraminundam os hábitats, modificam as condições químicas e -se inesperadamente em objetos preciosos para a pesquisa tér­micas); a drenagem, a canalização e o controle do caucientífica, tanto na qualidade de matéria experimental como dal dos cursos d’água; a po­luição por elementos químina de fornecedores de ideias para inovações técnicas. Os cos e dejetos sólidos (domésticos, agrícolas, industriais tatus são os únicos animais, à exceção do homem, capazes ou provenientes de minas); a retirada excessiva de água de contrair lepra (hanseníase), e por isto são de grande uti(para fins domésticos, industriais e agrícolas); a extração lidade na busca de um remédio contra essa terrível doença. de materiais (vegetação, cascalho e pedras) para obtenção Descobriu-se recen­temente que o pelo do urso polar é um de madeira, combustível, material de construção, etc.; a ótimo absorvente de calor, o que levou os pesquisadores a dragagem e o depósito de dejetos; o pastoreio ex­cessivo; uma ideia que lhes permitirá conceber e produzir materiais a erosão e a sedimentação. para a fabricação de roupas para climas frios e também de Além destas, duas outras ameaças sérias pesam sobre coletores de energia solar. as espécies: a exploração excessiva e os efeitos introduVemos assim quanto é necessário preservar a diversidazidos por espécies exóticas. Tais espécies, introduzidas de genética, tanto para garantir o provimento de alimentos, quer deliberada, quer inadvertidamenfibras e determinados remédios, como te, podem ter sobre as espécies natipara o progresso científico e industrial. vas graves repercussões que se ma­ Por outro lado, é preciso impedir que nifestam de várias maneiras: luta pelo a extinção de determinadas espécies espaço vital ou por alimento; rapina; pre­judique o bom funcionamento dos destruição ou degradação do hábitat; pro­cessos ecológicos. É pouco provápropagação de doenças e parasitas. vel que as diferentes comunidades de As espé­ cies nativas que vivem em plantas, animais e micro-organismos água doce e nas ilhas são particularque cons­tituem os ecossistemas vincumente vulneráveis aos danos que as lados a tantos processos essenciais – espécies introduzidas podem causar. particu­larmente à polinização e à deA truta e a perca introduzidas nos EUA fesa natural contra as pragas – posameaçam várias espécies de peixes, sam ser substi­tuídas com rapidez por enquanto as cabras e coelhos estão outras comuni­ dades. A composição destruindo os hábitats de plantas, pás­ genética desses ecossistemas é fator O abutre-barbado (Gypaetus barbatus), impo­ nente ave de rapina alvinegra, com envergadura saros e répteis nas ilhas do Pacífico e básico para seu bom desempenho. de asa de três metros, desapareceu aos poucos do Índico. Assim como desaparecem inúmedos Alpes durante os primeiros 10 anos do século XX. Texto extraído de: O Correio da Unesco. ras variedades de plantas e animais


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ESPECIAL

O dia da comemoração Festão reuniu alunos aprovados nos principais vestibulares do país

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orgulho está literalmente estampado no rosto dos ex-alunos do Colégio e Curso Etapa. No Festão dos Aprovados, os calouros têm os nomes da carreira e faculdade pintados de canetão azul no rosto. Não satisfeitos, muitos ainda pintam os braços e o pescoço. O evento já é tradição entre os alunos que passam em instituições como USP, Unesp, Unicamp, Unifesp, UFABC, entre outras. Em Valinhos, a festa aconteceu no dia 17 de fevereiro. No dia seguinte, foi a vez dos calouros do Etapa São Paulo comemorarem. Olhos marejados, sorriso estampado e a camiseta “Virei Bicho” diferem alunos de professores e orientadores, que compartilham a alegria pela aprovação dos calouros nas principais universidades do país. “Saí de Mato Grosso do Sul para estudar aqui, porque meu irmão foi aluno do Etapa e passou na Unicamp. Hoje é a minha vez de comemorar, mas eu ainda estou custando a acreditar que isso tudo é real”, disse Carmem Roberta Souza, aprovada em Medicina na USP e Unicamp. Ao som da bateria da faculdade de Direito da USP, Driely Lima era uma das mais animadas. Aprovada em Química pela Unesp, ela conciliou o trabalho com o curso. Chegou a dormir

erta Souza

Carmem Rob

Jornal do Colégio

três horas por noite para dar conta. “O sonho da minha vida sempre foi a Unesp. Dei tudo de mim e quando vi o meu nome na lista percebi o quanto valeu a pena”, afirmou Driely. Na ocasião, também foram sorteados aparelhos de celular, iPod, Xbox, entre outros prêmios.

Driely Lim

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Jornal do Colégio ETAPA, editado por Etapa Ensino e Cultura REDAÇÃO: Rua Vergueiro, 1 987 – CEP 04101-000 – Paraíso – São Paulo – SP JORNALISTA RESPONSÁVEL: Egle M. Gallian – M.T. 15343


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