Jornal do Colégio - 623

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Jornal do Colégio JORNAL DO COLÉGIO ETAPA  –  2017  •  DE 17/03 A 30/03

CURSO – MEDICINA

“Os veteranos fazem o calouro se sentir especial.” Rafael Gomes de Melo D’Elia este ano tornou-se parte da grande comunidade de alunos do Colégio Etapa na Medicina USP (é o colégio com maior total de alunos entre os ingressantes na escola). Aqui ele conta como foi sua preparação para enfrentar o mais disputado vestibular de Medicina e fazer parte da restrita lista dos que conseguem entrar direto. Ele sabe que, além do vestibular, a carreira que escolheu oferece muitos desafios: “Medicina é uma profissão que requer muito; você é médico o tempo todo”.

Rafael Gomes de Melo D’Elia

JC – Como foi seu início aqui? Rafael – No início foi aquele impacto, mas tive uma boa adaptação. Logo me acostumei com as provas, com a quantidade de pessoas. Além das aulas, você participava de outras atividades no colégio? Sim, no 1o e no 2o ano eu fazia olimpíadas, mas no 3o ano abandonei essa atividade para investir só no estudo com o propósito do vestibular. Foi premiado em alguma das olimpíadas? Fiquei em 3o lugar na fase nacional da olimpíada de Física chamada IYPT [International Young Physicists’ Tournament]. Ganhei medalhas também na Olimpíada Paulista de Química e no Torneio Virtual de Química. Foi importante participar dessas olimpíadas? Foi muito importante porque, além de ter bastante contato com matérias que caem de maneira bem específica nos vestibulares para a carreira que eu queria, você aprende a estudar sozinho, aprende a investir

ENTREVISTA

Carreira – Medicina

É extremamente raro entrar direto em Medicina. Como você via isso no 3o ano? Acho que um dos pensamentos que mais passam na cabeça de quem está no 3o ano é a possibilidade de não passar. Eu estava até preparado para isso, mas passei. Como era seu método de estudos? No 3o ano eu passava as tardes estudando matérias em que tinha mais dificuldade, matérias em que precisava investir um pouco mais de tempo. Eu estudava para as provas de forma mais leve, justamente porque no Etapa o 3o ano é revisão e eu já tinha outras matérias frescas na cabeça. Você tem que aproveitar o que aprendeu no 1o e no 2o ano para no 3o ano conseguir investir no que falta. Em quais matérias você tinha mais dificuldade? Geografia e Português foram as matérias em que eu tive de correr mais atrás. Redação também.

SOBRE AS PALAVRAS

ENTRE PARÊNTESIS

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Sistema de medidas

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ARTIGO Pequenas empresas paulistas desenvolvem novas estratégias de combate ao vírus Zika

CONTO

Solfieri – Álvares de Azevedo

seu tempo, a correr atrás. Aprende também a estudar junto com os colegas, a se esforçar de verdade.

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Arco-da-velha

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ESPECIAL

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Baile de Carnaval

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CURSO – MEDICINA

Como era sua rotina de estudo? Era um pouco de tudo. Eu lia a apostila, fazia resumos, depois resolvia os exercícios. Se não conseguia resolver os exercícios, voltava para a teoria. Com os exercícios você testa o que sabe e a partir do que não sabe volta para a teoria e tenta consolidar. Fazia bastante resumo no caderno, vários cadernos cheios de resumos. Especialmente no segundo semestre, na revisão, como você estudou? O segundo semestre é uma fase que requer muito o seu foco. Você tem o cansaço do primeiro semestre e a expectativa por estar chegando perto dos vestibulares – o Enem é bem cedo no ano –, mas precisa continuar no ritmo. Além das aulas, quanto tempo por dia você estudava? Tinha aula de manhã e também à tarde. Em casa estudava até umas 10 horas da noite. Estudava também no fim de semana? Sábado eu fazia o Projeto Medicina de manhã e o Projeto Dr. Plantão à tarde. E mais nada no fim de semana, para aguentar a semana seguinte. Nos Projetos Medicina e Dr. Plantão, quais atividades foram importantes para o vestibular? Com as aulas do Dr. Plantão e do Projeto Medicina eu senti que consegui muito bem consolidar o conhecimento. Deu para me sentir seguro até com matérias mais complexas. Você leu as obras obrigatórias indicadas pela Fuvest? Assistiu às palestras? Li todas as obras e foi bem importante assistir às palestras do Etapa. Elas ajudaram a entender o contexto da obra que vai muito além daquilo que está escrito. Como você treinava Redação? Senti que em Redação eu precisava me esforçar um pouco mais. Eu não ia muito mal, mas para o curso que eu queria precisava realmente me esforçar. Separava um tempo na semana para fazer redação e trazia para o plantão, que corrigia. Via o que eu precisava melhorar e fazia mais redações. Um processo repetitivo até conseguir lapidar e ficar bom. Com que frequência você fazia as redações? Mais ou menos uma vez por semana. De onde você pegava os temas? No início do ano eu usava os temas de Redação da apostila. No segundo semestre, durante a Oficina de

Redação, eles davam temas e eu procurava sempre fazer todas as propostas. Quais eram seus resultados nos simulados? Ficava sempre na faixa A. Mesmo em Geografia, Português? Ficava numa faixa boa sim. Mas eu procurava não relaxar. Procurava não deixar a ideia de que eu estava indo muito bem fazer com que eu relaxasse minha rotina de estudos. Sempre levei como se não tivesse nada garantido. Quais os principais desafios que você teve no ano passado? Os principais desafios que eu enfrentei foram a ansiedade, o cansaço e abrir mão de sair com os amigos. Não podia sair com frequência porque precisava manter o foco, estudar bastante. Para relaxar, o que você fazia? Procurava passear um pouco, ir ao cinema. Passava também um tempo em casa assistindo a filmes. Mais nas noites de sábado e domingo. Dos vestibulares que você prestou, em qual você se sentiu mais confiante? Eu me senti mais seguro na Fuvest. Fiz muitos exercícios da Fuvest e me acostumei com o esquema da prova. No Enem, quantas questões você acertou? São 180 questões, fiz 154. Na Redação eu tirei uma nota boa, 900. Fiquei com média 815. Durante o ano você tinha maior preocupação com a 1a ou com a 2a fase da Fuvest? Acho que com a 2a fase. No ano anterior eu consegui um bom resultado na 1a fase, 75. E a 2a fase requer não só seu conhecimento, mas a forma como você consegue expor esse conhecimento. Na 1a fase da Fuvest, quantos pontos você fez este ano? Fiz 77. Tendo sido 69 a nota de corte de Medicina, como você viu seus 77 pontos? Eu pensei que poderia ter ido melhor. Nos simulados da Fuvest eu fazia por volta de 80. Sabia que a 2a fase ia ser complicada e estava contando com a nota da 1a fase. Mas depois que vi que não só eu tinha achado difícil, que todo mundo tinha achado difícil, que a nota de corte tinha diminuído, aí então percebi que tinha sido uma boa nota.


CURSO – MEDICINA Para a 2a fase você mudou a forma de seu estudo? Sim. Passei a focar mais nas prioritárias da Medicina: Física, Química e Biologia. Eu tinha investido bastante tempo nas outras matérias e sabia que ia ser mais puxado nessas três matérias. Eu tinha também de praticar questão discursiva, escrever minhas respostas, organizar a resolução, porque isso conta bastante. A gente não pode se dar ao luxo de perder ponto por falta de organização. Na 2a fase, quais foram suas notas? No primeiro dia, na prova de Português e Redação, a média deu 77. Na Redação eu tirei 79. Foi bem melhor que no ano anterior – como treineiro minha nota foi 60. No segundo dia, na prova geral, como foi? No segundo dia eu tirei 79, 80, uma coisa assim. E no terceiro dia, das matérias prioritárias da carreira? Fiz 86. Era o que você esperava? Acho que era mais ou menos o que eu esperava. Como eu fiquei sabendo dessas notas junto com a aprovação, fiquei muito satisfeito com elas. Na escala de zero a 1000, qual foi sua pontuação final? 798. Como soube de sua aprovação para a Pinheiros? Eu fiquei com medo de vir aqui. Vi de casa. Estavam minha mãe, minha tia e minha avó, todas sentadas na expectativa de sair a nota, atualizando a página da Fuvest. Quando saiu foi uma alegria. E assim que vi que tinha sido aprovado corri para cá e comemorei com a galera. Esse cabelo de calouro foi cortado no trote? Os veteranos da Pinheiros são muito tranquilos, são contra o trote, então eles não encostaram a mão em mim. Nem fui pintado nem nada. Mas a família ficou tão alegre que eles mesmos quiseram raspar minha cabeça em casa. Como foi a recepção na matrícula? Foi bom demais. Os veteranos são muito receptivos, alegres, todos querendo cumprimentar, convidar para sua respectiva extensão da faculdade, todo mundo

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querendo fazer você se sentir em casa. Muito bom. Eles fazem o calouro se sentir especial. Você já conheceu as atividades que existem dentro da Pinheiros para os alunos? Já. Na matrícula eles fazem questão de mostrar tudo, os vários estandes com várias extensões. Você tem interesse por alguma das atividades oferecidas? Sim, pelas bandeiras científicas e cirúrgicas que fazem você ter contato com a Medicina já nos primeiros anos, que são bastante teóricos. E pretendo começar a fazer alguns esportes. Quando você conheceu a estrutura da Pinheiros? No dia da lista, os veteranos fizeram um churrasco na Atlética. Fui lá e depois pedi para eles me apresentarem a faculdade na Dr. Arnaldo. A gente foi lá, passeou, conheci as instalações. É maravilhoso. Do que você gostou mais até agora? Nossa, é difícil. Acho que da simpatia do pessoal. Acho que foi a coisa com que mais fiquei maravilhado. Os veteranos foram extremamente receptivos, dá para ver que eles são uma família mesmo. Foi incrível. O que você acha que vai ser seu principal desafio? Medicina é uma profissão que requer muito; você é médico o tempo todo. Mas como eu tive contato desde pequeno com a profissão, não vou ter muita dificuldade. Já estou familiarizado com os obstáculos. O que você guarda da sua passagem pelo Etapa? Eu guardo com carinho os amigos. Conheci uma grande quantidade de pessoas incríveis e planejo manter pelo resto da vida o contato com elas. O que você aconselha a quem pretende prestar Medicina? Eu diria para não ter pressa em fazer essa escolha. Tem que considerar todas as suas opções e saber que Medicina não vai ser fácil, mas vai valer a pena se você escolher essa carreira. Que dica você pode dar ao pessoal do colégio para aproveitar o máximo possível e chegar no vestibular bem preparado? A dica é para a pessoa ter determinação. O vestibular não é fácil para ninguém, o importante é continuar no seu esforço, nunca desistir. Depois é colher os frutos.


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CONTO

Solf ieri Álvares de Azevedo Yet one kiss on your pale clay And those lips once so warm – my heart! my heart.* (Byron, Caim.)

S

abeis-lo. Roma é a cidade do fanatismo e da perdição: na alcova do sacerdote dorme a gosto a amásia, no leito da vendida se pendura o crucifixo lívido. É um requintar de gozo blasfemo, que mescla o sacrilégio à convulsão do amor, o beijo lascivo à embriaguez da crença! Era em Roma. Uma noite a lua ia bela como vai ela no verão por aquele céu morno, o fresco das águas se exalava como um suspiro do leito do Tibre. A noite ia bela. Eu passeava a sós pela ponte de... As luzes se apagaram uma por uma nos palácios, as ruas se faziam ermas, e a lua de sonolenta se escondia no leito de nuvens. Uma sombra de mulher apareceu numa janela solitária e escura. Era uma forma branca. – A face daquela mulher era como de uma estátua pálida à lua. Pelas faces dela, como gotas de uma taça caída, rolavam fios de lágrimas. Eu me encostei à aresta de um palácio. A visão desapareceu no escuro da janela e daí um canto se derramava. Não era só uma voz melodiosa: havia naquele cantar um como choro de frenesi, um como gemer de insânia: aquela voz era sombria como a do vento à noite nos cemitérios, cantando a nênia1 das flores murchas da morte. Depois o canto calou-se. A mulher apareceu na porta. Parecia espreitar se havia alguém nas ruas. Não viu ninguém: saiu. Eu segui-a. A noite ia cada vez mais alta: a lua sumira-se no céu, e a chuva caía às gotas pesadas: apenas eu sentia nas faces caírem-me grossas lágrimas de água, como sobre um túmulo prantos de órfão. Andamos longo tempo pelo labirinto das ruas: enfim ela parou: estávamos num campo. Aqui, ali, além eram cruzes que se erguiam de entre o ervaçal. Ela ajoelhou-se. Parecia soluçar: em torno dela passavam as aves da noite. Não sei se adormeci: sei apenas que quando amanheceu achei-me a sós no cemitério. Contudo a criatura pálida não fora uma ilusão: as urzes, as cicutas do campo santo estavam quebradas junto a uma cruz. O frio da noite, aquele sono dormido à chuva, causaram-me uma febre. No meu delírio passava e repassava aquela brancura de mulher, gemiam aqueles soluços, e todo aquele devaneio se perdia num canto suavíssimo...

(*) Tradução: “Ainda um beijo em sua pálida face / e naqueles lábios outrora tão ardentes – / meu amor! meu amor.” (1) Canto fúnebre entre os antigos gregos e romanos; por extensão, significa um canto triste, melancólico.

Um ano depois voltei a Roma. Nos beijos das mulheres nada me saciava: no sono da saciedade me vinha aquela visão... Uma noite, e após uma orgia, eu deixara dormida no leito dela a condessa Bárbara. Dei um último olhar àquela forma nua e adormecida com a febre nas faces e a lascívia nos lábios úmidos, gemendo ainda nos sonhos como na agonia voluptuosa do amor. Saí. Não sei se a noite era límpida ou negra – sei apenas que a cabeça me escaldava de embriaguez. As taças tinham ficado vazias na mesa: aos lábios daquela criatura eu bebera até a última gota o vinho do deleite... Quando dei acordo de mim estava num lugar escuro: as estrelas passavam seus raios brancos entre as vidraças de um templo. As luzes de quatro círios batiam num caixão entreaberto. Abri-o: era o de uma moça. Aquele branco da mortalha, as grinaldas da morte na fronte dela, naquela tez lívida e embaçada, o vidrento dos olhos mal-apertados... Era uma defunta!... e aqueles traços todos me lembraram uma ideia perdida... – Era o anjo do cemitério! Cerrei as portas da igreja, que, ignoro por que, eu achara abertas. Tomei o cadáver nos meus braços para fora do caixão. Pesava como chumbo... Sabeis a história de Maria Stuart degolada e do algoz, “do cadáver sem cabeça e do homem sem coração” como a conta Brantôme? – Foi uma ideia singular a que eu tive. Tomei-a no colo. Preguei-Ihe mil beijos nos lábios. Ela era bela assim: rasguei-lhe o sudário2, despi-lhe o véu e a capela3 como o noivo os despe à noiva. Era uma forma puríssima. Meus sonhos nunca me tinham evocado uma estátua tão perfeita. Era mesmo uma estátua: tão branca era ela. A luz dos tocheiros dava-lhe aquela palidez de âmbar que lustra os mármores antigos. O gozo foi fervoroso – cevei em perdição aquela vigília. A madrugada passava já frouxa nas janelas. Àquele calor de meu peito, à febre de meus lábios, à convulsão de meu amor, a donzela pálida parecia reanimar-se. Súbito abriu os olhos empanados. Luz sombria alumiou-os como a de uma estrela entre névoa, apertou-me em seus braços, um suspiro ondeou-lhe nos beiços azulados... Não era já a morte: era um desmaio. No aperto daquele abraço havia contudo alguma coisa de horrível. O leito de lájea onde eu passara uma hora de embriaguez me resfriava. Pude a custo soltar-me daquele aperto do peito dela... Nesse instante ela acordou... Nunca ouvistes falar de catalepsia? É um pesadelo horrível aquele que gira ao acordado que emparedam (2) Mortalha; véu com que, na Antiguidade, se cobria a cabeça dos mortos. (3) Grinalda (de flores ou folhas).


CONTO num sepulcro; sonho gelado em que sentem-se os membros tolhidos e as faces banhadas de lágrimas alheias, sem poder revelar a vida! A moça revivia a pouco e pouco. Ao acordar desmaiara. Embucei-me na capa e tomei-a nos braços coberta com seu sudário como uma criança. Ao aproximar-se da porta topei num corpo; abaixei-me, olhei: era algum coveiro do cemitério da igreja que aí dormira de ébrio, esquecido de fechar a porta... Saí. Ao passar a praça encontrei uma patrulha. – Que levas aí? A noite era muito alta: talvez me cressem um ladrão. – É minha mulher que vai desmaiada... – Uma mulher!... Mas essa roupa branca e longa? Serás acaso roubador de cadáveres? Um guarda aproximou-se. Tocou-lhe a fronte: era fria. – É uma defunta... Cheguei meus lábios aos dela. Senti um bafejo morno. – Era a vida ainda. – Vede, disse eu. O guarda chegou-lhe os lábios: os beiços ásperos roçaram pelos da moça. Se eu sentisse o estalar de um beijo... o punhal já estava nu em minhas mãos frias... – Boa-noite, moço, podes seguir, disse ele. Caminhei. – Estava cansado. Custava a carregar o meu fardo; e eu sentia que a moça ia despertar. Temeroso de que ouvissem-na gritar e acudissem, corri com mais esforço... Quando eu passei a porta ela acordou. O primeiro som que lhe saiu da boca foi um grito de medo... Mal eu fechara a porta, bateram nela. Era um bando de libertinos meus companheiros que voltavam da orgia. Reclamaram que abrisse. Fechei a moça no meu quarto, e abri. Meia hora depois eu os deixava na sala bebendo ainda. A turvação da embriaguez fez que não notassem minha ausência. Quando entrei no quarto da moça via-a erguida. Ria de um rir convulso como a insânia, e frio como a folha de uma espada. Trespassava de dor o ouvi-la.

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Dois dias e duas noites levou ela de febre assim... Não houve como sanar-lhe aquele delírio, nem o rir do frenesi. Morreu depois de duas noites e dois dias de delírio. À noite saí; fui ter com um estatuário que trabalhava perfeitamente em cera, e paguei-lhe uma estátua dessa virgem. Quando o escultor saiu, levantei os tijolos de mármore de meu quarto, e com as mãos cavei aí um túmulo. Tomei-a então pela última vez nos braços, apertei-a a meu peito muda e fria, beijei-a e cobri-a adormecida do sono eterno com o lençol de seu leito. Fechei-a no seu túmulo e estendi meu leito sobre ele. Um ano – noite a noite – dormi sobre as lajes que a cobriam... Um dia o estatuário me trouxe a sua obra. Paguei-lha e paguei o segredo... Não te lembras, Bertram de uma forma branca de mulher que entreviste pelo véu do meu cortinado? Não te lembras que eu te respondi que era uma virgem que dormia? – E quem era essa mulher, Solfieri? – Quem era? seu nome? – Quem se importa com uma palavra quando sente que o vinho lhe queima assaz os lábios? quem pergunta o nome da prostituta com quem dormiu e que sentiu morrer a seus beijos, quando nem há dele mister por escrever-lho na lousa? Solfieri encheu uma taça. – Bebeu-a. – Ia erguer-se da mesa quando um dos convivas tomou-o pelo braço. – Solfieri, não é um conto isso tudo? – Pelo inferno que não! por meu pai que era conde e bandido, por minha mãe que era a bela Messalina das ruas – pela perdição que não! Desde que eu próprio calquei aquela mulher com meus pés na sua cova de terra, eu vo-lo juro! – guardei-lhe como amuleto a capela de defunta. Ei-la! Abriu a camisa, e viram-lhe ao pescoço uma grinalda de flores mirradas. Vede-la? murcha e seca como o crânio dela! Extraído de: Noite na taverna, Ed. Núcleo, 1993.

(ENTRE PARÊNTESIS)

Sistema de medidas Suponhamos um sistema de medidas onde as unidades são dó, ré, mi e fá, valendo entre elas as seguintes relações: 3dó = 1ré; 5ré = 1mi; 8mi = 1fá A soma 7mi 4ré 2dó + 5mi 2dó é igual a: a) 1fá 5mi 1dó

b) 1fá 4mi 1dó

c) 1fá 3mi 1ré

d) 1fá 1mi 1ré 1dó

RESPOSTA alternativa A 7mi 4ré 2dó + 5mi 2dó = 12mi 4ré 4dó = 12mi + 4ré + 3dó + 1dó = 12mi + 4ré + 1ré + 1dó = 12mi + 5ré + 1dó = 12mi + 1mi + 1dó = 8mi + 5mi + 1dó = 1fá 5mi 1dó


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ARTIGO

Pequenas empresas paulistas desenvolvem novas estratégias de combate ao vírus Zika Elton Alisson

A

s estratégias de combate ao vírus Zika e ao mosquito Aedes aegypti devem ganhar reforços nos próximos meses. Um grupo de seis pequenas empresas paulistas desenvolverá, com apoio da Fapesp e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), repelentes à base de novos compostos naturais e armadilhas para captura do Aedes, entre outras soluções, a fim de aumentar as barreiras contra o vetor da Zika, dengue, Chikungunya e da febre amarela. As empresas foram selecionadas em uma chamada lançada pela Fapesp e a Finep, com objetivo de selecionar propostas de projetos que visem ao desenvolvimento de tecnologias para produtos, serviços e processos voltados ao combate do vírus Zika e do mosquito Aedes aegypti. “Já vínhamos desenvolvendo o produto, independente de a nossa proposta ser selecionada na chamada. Mas, agora, com recursos da Fapesp e da Finep, o desenvolvimento deverá ser muito mais rápido”, disse Bruno de Arruda Carillo, diretor da DC Química, à Agência FAPESP. A empresa pretende viabilizar a aplicação do ramnolipídeo – um composto produzido por bactérias, como as Pseudomonas aeruginosa – como repelente. A substância já era conhecida como um biossurfactante – um composto de origem natural que possui a capacidade de reduzir a tensão superficial (elasticidade da superfície) de líquidos e emulsionar compostos com diferentes polaridades (eletronegatividade), as polares e as apolares. É utilizado na indústria, principalmente na de produtos de limpeza, como detergentes, por sua capacidade emulsionante – de unir substâncias que não se misturam, como a água e o óleo –, e na de cosméticos, entre outras. Nos últimos anos, contudo, começaram a surgir estudos relatando que a molécula também demonstra ter ação larvicida e repelente. A fim de comprovar essas propriedades propaladas do ramnolipídeo, os pesquisadores da empresa realizaram testes preliminares. Os resultados dos testes da substância como larvicida para matar larvas do mosquito Aedes aegypti, entretanto, não foram satisfatórios. Com base nessa constatação, a empresa decidiu testar a sua aplicação como repelente.

“Fizemos alguns testes iniciais e os resultados foram muito bons. Estimamos que em dois anos consigamos disponibilizar amostras para empresas interessadas a fim de viabilizar a produção de repelentes à base desse composto”, disse Carillo.

Tempo de repelência Um dos maiores desafios tecnológicos para o uso do ramnolipídeo como repelente, de acordo com o pesquisador, é fazer com que apresente ação de repelência pelo mesmo período que as matérias-primas convencionais. A molécula sintética DEET (N,N-Dietil-m-toluamida) usada na composição da maioria dos repelentes comercializados hoje no mercado brasileiro tem ação de duas horas. Já a icaridina – substância derivada da pimenta, que começou a surgir na formulação de repelentes recém-lançados no Brasil – pode ter efeito de até 10 horas, caso a temperatura não seja superior a 30 oC e a pessoa não tenha entrado em contato com água. O problema é que o DEET é tóxico e, por isso, só pode ser reaplicado três vezes ao dia, o que possibilita uma proteção total de até seis horas. Já a icaridina ainda é muito cara, comparou Carillo. “Ainda não conseguimos atingir o tempo mínimo de repelência que desejamos, que é de duas horas. Mas estimamos que conseguiremos atingir essa meta por meio de mudanças na formulação do produto, que deverá ser um líquido”, afirmou.


ARTIGO Já a Nanomed, uma spin-off (empresa de base tecno­ ló­gica) surgida na USP, pretende fazer com que o óleo essencial do cravo-da-índia (Eugenia caryophyllata) tenha ação de repelência de oito horas. Para isso, os pesquisadores da empresa pretendem encapsular a molécula em partículas na escala nanométrica (da bilionésima parte do metro) para que a sua liberação seja controlada. Dessa forma, será possível assegurar a atividade de repelência por oito horas, o que não é possível hoje por meio das formulações convencionais. “O óleo essencial do cravo-da-índia é uma substância muito volátil [transforma-se facilmente em gás ou vapor quando exposta ao ar]. Por isso não dura muito tempo em condições normais de temperatura”, explicou Amanda Luizetto dos Santos, diretora da Nanomed. Os repelentes caseiros à base de uma mistura de óleo essencial de cravo-da-índia e álcool, por exemplo, têm ação de repelência de apenas 30 minutos, disse a pesquisadora. A fim de atingir as oito horas de ação de repelência almejada, a empresa pretende encapsular o composto natural em nanopartículas que romperiam gradativamente, liberando o produto de forma controlada e modulada – a exemplo das nano e micropartículas produzidas hoje para encapsular fragrâncias de amaciantes e produtos cosméticos. “Nosso objetivo é tanto disponibilizar o ativo encapsulado como matéria-prima, como também desenvolver produtos finais à base dele, em creme e aerossol”, afirmou Santos.

Armadilha para mosquito Em vez de repelir o Aedes aegypti, a empresa Bio Controle pretende capturar e prender as fêmeas do mosquito – principalmente as grávidas – em armadilhas para inibir a reprodução e a proliferação do mosquito. Para isso, pretende utilizar compostos químicos sintéticos, como ácidos graxos, que mimetizam os odores dos humanos, além de luz com intensidade e cores específicas, para atrair os mosquitos para as armadilhas.

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A ideia é que, ao se aproximar das armadilhas atraídos pelo odor exalado pelos compostos químicos sintéticos liberados de forma controlada, os mosquitos fiquem gru­ dados em uma superfície adesiva que será colocada em torno dos dispositivos. “Já desenvolvemos e comercializamos uma série de armadilhas para o monitoramento e coleta em massa de diversos insetos que atacam culturas agrícolas utilizando feromônios [hormônios sexuais] sintéticos”, disse Mário Yacoara de Menezes Neto, diretor da empresa. “Nosso objetivo, agora, é testar outros compostos químicos sintéticos como atrativos em armadilhas para capturar o Aedes aegypti de forma mais simples e prática”, afirmou. A empresa pretende, com o apoio da Fapesp e da Finep, desenvolver protótipos de armadilhas que possam ser usadas tanto pelos agentes de saúde pública, como também pela população em geral. “Como as armadilhas deverão ser atóxicas, não necessitariam de uma regulamentação específica para serem comercializadas”, estimou Menezes. Por sua vez, a empresa Barth/Inovatech pretende desenvolver um teste de diagnóstico sorológico rápido e de baixo custo para o Zika vírus, utilizando a plataforma Elisa, para disponibilizá-lo, principalmente, ao Ministério da Saúde. Para atingir esse objetivo, os pesquisadores vinculados à empresa estão modificando algumas técnicas de biologia molecular utilizadas no desenvolvimento dos testes de diagnóstico existentes hoje, que elevam o custo do processo. “Um kit de diagnóstico de Zika vírus para 100 amostras desenvolvido por uma empresa estrangeira custa no Brasil hoje entre R$ 4 mil e R$ 6 mil. Pretendemos desenvolver um teste para esse mesmo número de amostras que custe entre R$ 1,2 mil e R$ 1,7 mil”, disse Danielle Bruna Leal de Oliveira Durigon, pesquisadora responsável. Extraído de: Agência FAPESP – Divulgando a cultura científica, fev./2017.

SOBRE AS PALAVRAS

Arco-da-velha Arco-da-velha e arco-celeste são nomes menos populares do arco-íris. Segundo alguns linguistas, a expressão é uma referência à faixa multicolorida que apareceu no céu logo após o dilúvio bíblico, sendo sinal de que a aliança entre Deus e os homens não havia sido quebrada. Com o passar do tempo, a expressão ampliaria seu sentido, sendo usada para indicar qualquer coisa fantástica, incrível, maravilhosa. Outros estudiosos acreditam que a expressão nasceu a partir de ilustrações medievais que mostravam velhas senhoras, possivelmente bruxas, sentadas sobre o arco-íris. Segundo a superstição popular dos séculos XIII a XVIII, as bruxas faziam do arco um meio de transporte para roubar ouro de um lugar e depositar em outro. Acredita-se que, por causa disso, no final do arco-íris existia um pote de ouro.


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ESPECIAL

Baile de Carnaval Marchinhas de Carnaval e brincadeiras animam a tarde dos alunos da Educação Infantil e do Ensino Fundamental I

“D

o que vocês mais gostam no Carnaval?” Essa pergunta foi feita a um animado trio de amigos do 3o ano do Ensino Fundamental que brincavam no Baile de Carnaval realizado pelo Colégio Etapa (unidade São Paulo) no dia 24 de fevereiro para os alunos do Ensino Infantil e Fundamental I. Em coro, os alunos Luísa Morette, Otávio Shinji Sakamoto e Evelin Chen Zheng responderam: “Correr, comer, brincar e fazer colares”. Além de dançar ao som de marchinhas de Carnaval, as crianças brincavam, se deliciavam com saladas de frutas e podiam participar de uma oficina de colares para usarem no baile. Os objetos que decoraram a festa também foram produzidos em sala de aula. Nas paredes das quadras de espor-

Jornal do Colégio

tes onde foi realizada a festa, podiam ser vistos cartazes e tirinhas inspiradas em letras de músicas de Carnaval criados na Oficina de Leitura. “Momentos como esse ajudam na criação de repertório, e são oportunidades para que as crianças entrem em contato com a cultura brasileira”, diz Gabriela Valdrigue, professora do 3o ano do Ensino Fundamental. Os alunos capricharam nas fantasias. Arunima Chaudhuri, do 5o ano, optou por usar um traje fabricado no norte da Índia: “É uma fantasia bonita, que mostra a cultura da minha família”, disse a aluna. Já Henrique de Camargo Moreira, do 2o ano, estava com uniforme de jogador de futebol, mas deixou bem claro que não era de qualquer jogador: “Sou o Neymar Jr.”, brincou.

Jornal do Colégio ETAPA, editado por Etapa Ensino e Cultura REDAÇÃO: Rua Vergueiro, 1 987 – CEP 04101-000 – Paraíso – São Paulo – SP JORNALISTA RESPONSÁVEL: Egle M. Gallian – M.T. 15343


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