Jornal do Collégio - 625

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Jornal do Colégio JORNAL DO COLÉGIO ETAPA  –  2017  •  DE 13/04 A 27/04

CURSO – FARMÁCIA-BIOQUÍMICA

“Estudar e se dedicar faz diferença.” Mariana Yasue Saito Miyagi entrou em 2010 no curso de Farmácia-Bioquímica da USP. Desde o primeiro estágio escolheu a indústria como área de atuação. Hoje, recém-formada, trabalha em uma grande empresa, na área de desenvolvimento farmacotécnico, e planeja iniciar mestrado a seguir. Aqui ela fala sobre a formação que recebeu tanto no colégio quanto na faculdade.

Mariana Yasue Saito Miyagi

JC – Quando e por que você escolheu Farmácia-Bioquímica como carreira? Mariana – Foi aqui, no Ensino Médio. Comecei a pensar em Farmácia no 1o ano, no 2o e no 3o ano pensei em Engenharia Ambiental, Química, várias coisas. O que pesou no final na escolha de Farmácia foi a afinidade com as matérias e o campo de trabalho, que eu sempre ouvi falar que era bem amplo. Como foi seu 1o ano no colégio? No começo foi puxado, mas deu para me acostumar relativamente rápido com o ritmo de estudo. Sempre estudei bastante. No 3o ano, você mudou alguma coisa em seu método de estudo, devido ao vestibular? Mudei, sim. Antes eu estudava para as provas e tentava fazer um resumo geral junto com o calendário do Etapa. No final, no segundo semestre do 3o ano, consegui estudar para as provas em paralelo com as apostilas de revisão. Participei da orientação para Redação, em que eu era meio fraca, e me dediquei bastante a Física, que era das matérias principais para o meu vestibular.

ENTREVISTA

Carreira – Farmácia-Bioquímica

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CONTO

A melhor vingança – Artur Azevedo

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Você chegou a pensar na possibilidade de não passar direto do 3o ano? Pensei. Inclusive, depois do primeiro dia da 2a fase da Fuvest eu achei que não ia dar e vim fazer matrícula no cursinho. Mas no final deu certo. Como foi seu início na Farmácia-Bioquímica? Eu entrei no curso noturno, que é em seis anos. Uma prima que já tinha se formado em Farmácia me disse que é muito difícil conseguir estágio quando se está no integral. Por conta disso acabei ficando no noturno. Quais foram as principais dificuldades no início do curso? Além da adaptação ao horário, foi o jeito como as matérias são dadas na faculdade. Aqui no Etapa a gente tem a coisa bem direcionada, os professores são muito preocupados com a didática. Lá eles estão preocupados em atender uns tópicos que acham importantes, mas o estudo mesmo vem depois, por conta própria. No final do primeiro semestre eu tinha entendido como era. No segundo semestre foi tranquilo.

ENTRE PARÊNTESIS

Do baile

POIS É, POESIA Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805)

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ARTIGO Grupo da Unesp divulga censo de mamíferos em florestas imersas na cana-de-açúcar ESPECIAL Alunos do 4o e 5o anos se colocam no papel de artistas em Projeto de Artes

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CURSO – FARMÁCIA-BIOQUÍMICA

O que tem de aulas no 1o ano? No começo tem bastante Química. São as Químicas básicas, tem Química Orgânica 1, 2, 3, Físico-Química, Química Analítica, que é bem difícil. Tem Cálculo para Farmácia, Física para Farmácia, Estatística. Depois vêm as matérias mais ligadas a Bioquímica. É uma fase muito teórica, são muitas reações, mas é a base para entender os processos bioquímicos depois.

Você fez estágios durante a graduação? Sim. Voltei do intercâmbio no primeiro semestre de 2013 e enquanto escrevia o paper para publicar comecei um estágio de pesquisa no Einstein. Era um projeto chamado LMA, leucemia mieloide aguda. A gente recebia verba do SUS para investigar as mutações nas doenças pré-leucêmicas que podem levar a essa doença. Eu ajudava na análise com técnicas de biologia molecular, cultura celular também.

Nos anos seguintes, o que você estudou? No 2o ano o noturno passa a ter algumas matérias ligadas a Botânica, tem matérias de Ética, de Epidemiologia. Tem Anatomia também. No final do 2o ano começam as matérias que eles chamam de integradas. Biologia Celular, Fisiologia. No 3o ano entram as matérias mais relacionadas com Farmácia mesmo. Tem um pouco de Física Industrial, Obtenção de Fármaco, Imunologia, Hematologia. No final do 3o para o 4o ano começam Fisiologia, Fisiopatologia e Química Farmacêutica. No final do curso são as matérias mais relacionadas com Tecnologia Farmacêutica, Farmacotécnica, que são coisas mais aplicáveis à indústria e que eu usei bastante.

Você ficou quanto tempo no Hospital Albert Einstein? Mais ou menos nove meses. Em junho de 2014 eu já estava saindo de lá.

Além das aulas, o que mais você fez durante a graduação? No 1o ano comecei Iniciação Científica na área de imunologia ligada a transplante renal. Minha iniciação durou dois anos e meio. Comecei com bolsa do CNPq e depois consegui bolsa da Fapesp. Era em um laboratório muito bem equipado. Eles davam bastante oportunidade de participar de simpósios e congressos, de expor o trabalho. Que pesquisa você fez na iniciação? Era um modelo de lesão por cisplatina, que é um quimioterápico que induz a lesão renal. Trabalhava com camundongos para testar se conseguiria diminuir a lesão renal. Consegui publicar o paper, foi bem legal para mim. Foi só você que fez esse trabalho? Foi muito interessante ter um projeto só meu. Eu é que fazia os experimentos, ajudava a analisar e escrevia também. Tive muita orientação da doutoranda na época, que me ajudou bastante. Foi graças à essa Iniciação Científica que consegui fazer intercâmbio. Para onde você foi? Fui para Boston, onde fiquei três meses – março, abril e maio de 2013. Lá eu estagiei num hospital que é parte de Harvard, o Beth Israel Deaconess Medical Center (BIDMC). Com bolsa Fapesp, fiz um estágio de pesquisa, que tinha relação com minha Iniciação Científica. Era um complemento, mas com uma visão diferente, mexia mais com cultura celular e de bactérias. Modelo camundongo lá a gente não usava.

Depois do Einstein você fez mais estágios? Cumpri o estágio obrigatório da faculdade em Atenção Farmacêutica. A gente precisa fazer basicamente um mês de um estágio que dê mais contato com paciente. Podia ser em hospital ou farmácia de manipulação. Por conta de disponibilidade de horário, optei por fazer em farmácia de manipulação. Tem uma lista de farmácias credenciadas pela faculdade. Nesse meio tempo eu já estava participando de processos seletivos para a indústria. No final de julho entrei em um programa de estágio na Eurofarma, uma empresa forte em genéricos. Participei do primeiro programa de estágio deles, uma seleção para a área de desenvolvimento. O que você fazia nesse estágio? Entrei na área de desenvolvimento farmacotécnico. Era para formar o profissional mesmo. Foi muito legal porque passei por áreas de produção, de desenvolvimento analítico, de documentação técnica, pré-formulação e desenvolvimento farmacotécnico. Tem divisão: o grupo que começa o desenvolvimento, o grupo que faz o scale up, o aumento do tamanho de lote, o grupo que cuida dos produtos de linha, o de portfólio. Eu fiquei no grupo que faz a interface entre o grupo de pesquisa inicial e o grupo do scale up. Gostei muito, me identifiquei com a área e fiquei lá por quase dois anos. Esse estágio terminou no final de maio de 2016 e aí surgiu a oportunidade de ser efetivada. Só que não fui efetivada na área em que estava, e sim na área de garantia de qualidade. Como atua a área de garantia de qualidade? Ela atua para garantir que toda a atividade dentro da indústria está sendo realizada em conformidade com o que os órgãos regulatórios pedem. Tanto em termos de documentação quanto das matérias-primas, se atendem a certas especificações de processo. Ela atua tanto no desenvolvimento quanto na produção mesmo e depois da produção. A área de garantia de qualidade é muito ampla, vai além da distribuição, na parte de recolhimento, informação do mercado, devolução.


CURSO – FARMÁCIA-BIOQUÍMICA Você ficou quanto tempo na Eurofarma? Dois anos e quase dois meses. Pedi demissão porque consegui na Hypermarcas uma vaga para voltar para a área de desenvolvimento farmacotécnico, que é a área de que eu realmente gostei. Desenvolvimento de medicamentos, na maioria genéricos, e investimento da empresa em novas tecnologias. Na prática, o que você faz nessa empresa? Minha rotina envolve trabalho no laboratório, fazer pesquisas bibliográficas, relatórios e preenchimento de documentações que serão apresentados às agências reguladoras. Conhecimento da legislação é muito importante. E há preocupação constante com a segurança e a eficácia dos medicamentos, pois trabalhamos com um produto com impacto direto na saúde do paciente. Além disso tenho contato com várias áreas da empresa: desenvolvimento analítico, documentação técnica, garantia da qualidade, projetos, marketing, suprimentos etc. Qual a importância do estágio na formação? Acho essencial. Na USP o conhecimento nunca vem mastigado, mas a gente tem muita base para procurar informações e correr atrás. Só que para correr atrás é preciso ter um objetivo. Enquanto não se faz estágio, enquanto não se procura exatamente o que se quer, com o que você se identifica, não tem como saber. Só experimentando. Qual foi o tema de seu trabalho de conclusão de curso? Liofilização qualite by design, um conceito aplicado no desenvolvimento de produtos liofilizados. Os produtos liofilizados são basicamente desidratados com uma tecnologia diferente, a partir da sublimação. Em vez de simplesmente evaporar e desidratar, você submete o produto a baixas pressões e elevação da temperatura. O solvente acaba sublimando e você tem um produto muito mais estável. Em lugar de vacinas ou outros produtos que teriam validade de alguns dias ou poucas semanas, você acaba conseguindo guardar na prateleira até em temperatura ambiente por dois anos. Porque ele tem uma umidade residual muito baixa. No final do curso na USP, quais eram suas preocupações? Minha maior preocupação era conseguir um emprego fixo porque estava como temporária e o contrato ia acabar em dezembro. Profissionalmente, você se encontrou na área da indústria? Na indústria, na parte de desenvolvimento. Se as leis brasileiras começarem a inovar mesmo, que eu acho que é a tendência, haverá fármacos diferentes e coisas para se desenvolver. Eu espero que o Brasil entre nessa parte de desenvolvimento e quero estar presente, porque gosto bastante.

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Quais áreas de atuação existem para o graduado em Farmácia-Bioquímica? Na indústria tem a parte de documentação, as pessoas que mexem com DMF (drug master files), que é documentação do ativo. Todo fabricante de algum ativo tem que ter um dossiê com todas as informações. Tem a área de regulatórios, que faz interface direta com a Anvisa, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Tem a área de garantia de qualidade. O farmacêutico pode atuar como líder de produção. Dentro da indústria tem controle de qualidade, inclusive na parte de farmácia de manipulação. Na farmácia tem farmacêutico responsável e até auxiliar de manipulação nas fórmulas. No hospital tem farmacêutico responsável. Em laboratório tem análises clínicas, pesquisa clínica também. Na área acadêmica, o que você tem planejado? Eu acabei de me formar e pretendo começar a fazer mestrado na área no próximo ano. Na USP ou em outro local? A USP é uma boa escolha, mas eu ainda tenho vontade de fazer algum curso de especialização no exterior. Talvez eu tenha a possibilidade de conseguir uma bolsa durante o mestrado na USP e fazer uma parte fora. Que dica você pode dar a quem vai prestar vestibular neste ano? Dedique-se muito porque vai valer a pena depois. Estudar e se dedicar faz diferença. Nada vai ser jogado fora. Teve alguma matéria no colégio a que você não dava muita importância e que na faculdade, na iniciação científica e nos estágios se mostrou fundamental? Não que eu não valorizasse, mas Português sempre é muito importante, sempre tem muita coisa para você ler e interpretar. Matemática ajuda bastante na parte de raciocínio. É uma matéria puxada, mas desenvolve a gente nesse sentido. E como vai sua relação com os amigos da época do colégio? A gente se vê uma vez por ano. E ainda viaja junto. Hoje, ao ver de novo a escola onde fez o Ensino Médio, o que você sentiu? Olhando as pessoas, bateu uma saudade. Tive aqui um ambiente inteiro que me motivava a estudar, muitas atividades, amigos. O que mais você quer dizer aos alunos atuais? É muita prova no colégio, mas é isso o que cria sua disciplina de estudos, que você vai levar para o resto da vida. Uma disciplina importante para ir atrás do que você quer e conseguir realizar.


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CONTO

A melhor vingança Artur Azevedo

O

Vieirinha namorou durante dois anos a Xandoca; mas o pai dele, quando soube do namoro, fez intervir a sua autoridade paterna. – A rapariga não tem eira nem beira, meu rapaz; o pai é um simples empregado público que mal ganha para sustentar a família! Foge dela antes que as coisas assumam proporções maiores, porque, se te casares com essa moça, não contes absolutamente comigo – faze de conta que morri, e morri sem te deixar vintém. Tu és bonito, inteligente, e tens a ventura de ser meu filho; podes fazer um bom casamento. Não sei se o Vieirinha gostava deveras da Xandoca; só sei que depois dessa observação do Comendador Vieira nunca mais passou pela Rua Francisco Eugênio, onde a rapariga todas as tardes o esperava com um sorriso nos lábios e o coração a palpitar de esperança e de amor. O brusco desaparecimento do moço fez com que ela sofresse muito, pois que já se considerava noiva, e era tida como tal por toda a vizinhança; faltava apenas o pedido oficial. Entretanto, Xandoca, passado algum tempo, começou a consolar-se, porque outro homem, se bem que menos jovem, menos bonito e menos elegante que o Vieirinha, entrou a requestá-la seriamente, e não tardou a oferecer-lhe o seu nome. Pouco tempo depois estavam casados. Dir-se-ia que Xandoca foi uma boa fada que entrou em casa desse homem. Logo que ele se casou, o seu estabelecimento comercial entrou num maravilhoso período de prosperidade. Em pouco mais de dois anos, Cardoso – era esse o seu nome – estava rico; e era um dos negociantes mais considerados e mais adulados da praça do Rio de Janeiro. Ele e Xandoca amavam-se e viviam na mais perfeita harmonia, gozando, sem ostentação, os seus haveres e de vez em quando correndo mundo. Uma tarde em que D. Alexandrina (já ninguém a chamava Xandoca) estava à janela do seu palacete, em companhia do marido, viu passar na rua um bêbedo maltrapilho, que servia de divertimento aos garotos, e reconheceu, surpresa, que o desgraçado era o Vieirinha. Ficou tão comovida, que o Cardoso suspeitou, naturalmente, que ela conhecesse o pobre-diabo, e interrogou-a neste sentido.

– Antes de nos casarmos, respondeu ela, confessei-te, com toda a lealdade, que tinha sido namorada e noiva, ou quase noiva, de um miserável que fugiu de mim, sem me dar a menor satisfação, para obedecer a uma intimação do pai. – Bem sei, o tal Vieirinha, filho do Comendador Vieira, que morreu há três ou quatro anos, depois de ter perdido em especulações da bolsa tudo quanto possuía. – Pois bem – o Vieirinha ali está! E Alexandrina apontou para o bêbado, que afinal caíra sobre a calçada, e dormia. – Pois, filha, disse o Cardoso, tens agora uma boa ocasião de te vingares! – Queres tu melhor vingança? – Certamente, muito melhor, e, se me dás licença, agirei por ti. – Faze o que quiseres, contanto que não lhe faças mal. – Pelo contrário. Quando no dia seguinte o Vieirinha despertou, estava comodamente deitado numa cama limpa e tinha diante de si um homem de confiança do Cardoso. – Onde estou eu? – Não se importe. Levante-se para tomar banho! O Vieirinha deixou-se levar como uma criança. Tomou banho, vestiu roupas novas, foi submetido à tesoura e à navalha de um barbeiro, e almoçou como um príncipe. Depois de tudo isso, foi levado pelo mesmo homem a uma fábrica, onde, por ordem do Cardoso, ficou empregado. Antes de se retirar, o homem que o levava deu-lhe algum dinheiro e disse-lhe: – O senhor fica empregado nesta fábrica até o dia em que torne a beber. – Mas a quem devo tantos benefícios? – A uma pessoa que se compadeceu do senhor e deseja guardar o incógnito. O Vieirinha atribuiu tudo a qualquer velho amigo do pai; deixou de beber, tomou caminho, não é mau empregado, e há de morrer sem nunca ter sabido que a sua regeneração foi uma vingança. Extraído de: www.dominiopublico.com.br

(ENTRE PARÊNTESIS)

Do baile

Logo, r = m − 4.

· · ·

alternativa C Se r = 1m = 5 r = 2m = 6

e) n.r.a.

· · ·

Em um baile há r rapazes e m moças. Um rapaz dança com cinco moças. Um segundo rapaz dança com seis moças e assim sucessivamente. O último rapaz dança com todas as moças. Temos, então: m b) r = m − 5 c) r = m − 4 d) r = m a) r = 5

RESPOSTA


POIS É, POESIA

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Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805) Saudades de Gertrúria

A

Cedendo a seu pesar à violência do destino

D

deja, coração, vai ter aos lares, Ditosos lares, que Gertrúria pisa; Olha, se inda te guarda a fé mais lisa, Vê, se inda tem pesar dos teus pesares:

as faixas infantis despido apenas, Sentia o sacro fogo arder na mente; Meu tenro coração inda inocente, Iam ganhando as plácidas Camenas:

No fulgor dos seus olhos singulares Crestando as asas, tua dor suaviza, Amor de lá te chama, te divisa, Interpostos em vão tão longos mares:

Faces gentis, angélicas, serenas, De olhos suaves o volver fulgente, Da ideia me extraíam de repente Mil simples, maviosas cantilenas.

Dize-Ihe, que do tempo o leve giro Não faz abalo em ti, não faz mudança, Que ainda lhe és fiel neste retiro:

O tempo me soprou fervor divino, E as Musas me fizeram desgraçado, Desgraçado me fez o Deus Menino:

Sim, pinta-lhe imortal minha lembrança; Dá-lhe teus ais, e pede-lhe um suspiro, Que alente, coração, tua esperança.

A Amor quis esquivar-se, e ao dom sagrado: Mas vendo no meu gênio o meu destino, Que havia de fazer? Cedi ao fado.

Ditado para a campa

Invocação à noite

S

O h deusa, que proteges dos amantes

À terra mão piedosa me transporte, E depois que em sepulcro mal composto Der ao frio cadáver frio encosto, Estes versos por dó na pedra corte:

Quero adoçar meus lábios anelantes No seio da Ritália melindroso; Estorva que os maus olhos do invejoso Turbem de amor os sôfregos instantes:

“Aqui se esconde Elmano; alegre estado Algum tempo deveu à amiga estrela, Foi de Armia amador, de Armia amado:

Tétis formosa, tal encanto inspire Ao namorado sol teu níveo rosto, Que nunca de teus braços se retire!

Desuniu duro caso o triste, e a bela; Viver sem ela lhe ordenava o fado; Quis antes o infeliz morrer por ela.”

Tarde ao menos o carro à Noite oposto, Até que eu desfaleça, até que expire Nas ternas ânsias, no inefável gosto.

Em louvor do grande Camões

Próximo aos seus últimos dias

obranceiro ao poder, e às leis da sorte, Amor ouviu meus ais, cumpriu meu gosto: Já, já sinto nos olhos, peito, e rosto A névoa, as ânsias, o suor da morte:

S

O destro furto, o crime deleitoso, Abafa com teu manto pavoroso Os importunos astros vigilantes:

A

obre os contrários o terror e a morte Dardeje embora Aquiles denodado, Ou no rápido carro ensanguentado Leve arrastos sem vida o Teucro forte:

ve da morte, que piando agouros Tinges meus ares de funéreo luto! Ave da morte (que em teus ais a escuto) Meus dias murcharás, mas não meus louros:

Embora o bravo Macedônio corte Coa fulminante espada o nó fadado, Que eu de mais nobre estímulo tocado, Nem lhe amo a glória, nem lhe invejo a sorte:

Doou-me Febo aos séculos vindouros, Deponho a flor da vida, e guardo o fruto, Pagando em vil matéria um vão tributo, Retenho a posse de imortais tesouros.

Invejo-te, Camões, o nome honroso; Da mente criadora o sacro lume, Que exprime as fúrias de Lieu raivoso:

Nome no tempo, e ser na eternidade! Que fado! Ó ponto escuro, assoma embora, Dê-me o piedoso adeus comum saudade:

Os ais de Inês, de Vênus o queixume, As pragas do gigante proceloso, O céu do Amor, o inferno do Ciúme.

E rindo-me na campa os dons de Flora, Mais do que eles a adorne esta verdade: “Lísia cantava Elmano, e Lísia o chora.” Extraído de: Sonetos completos de Bocage, Ed. Núcleo, 1989.


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ARTIGO

Grupo da Unesp divulga censo de mamíferos em florestas imersas na cana-de-açúcar Karina Toledo

P

esquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) acabam de publicar um censo de mamíferos de médio e grande porte encontrados em 22 remanescentes florestais circundados por monocultura de cana-de-açúcar em São Paulo. A conclusão do estudo é “surpreendentemente positiva”, segundo Mauro Galetti, professor do Departamento de Ecologia do Instituto de Biociências, em Rio Claro. “Encontramos cerca de 90% de todas as espécies de mamíferos que são esperadas para o Estado de São Paulo. Nesses fragmentos ainda existem onça-pintada (panthera onca), tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), anta (Tapirus terrestris) e queixada (Tayassu pecari), ou seja, não há registro de extinção regional de espécies. Só não registramos algumas extremamente raras, como o tatu-canastra (Priodontes maximus)”, disse Galetti. A pesquisa, cujos resultados foram publicados na revista Biological Conservation, foi realizada com apoio da Fapesp. Porém, nem tudo é boa notícia. Conforme relatam os autores no artigo, nos fragmentos florestais pequenos são encontrados apenas entre 20% e 50% das espécies esperadas para o estado. Isso quer dizer que, em alguns casos, até 80% das espécies foram localmente extintas. “Observamos que, quanto maior a área florestal remanescente, mais animais raros ela possui. Encontramos até mesmo um único registro do cachorro-vinagre (Speothos venaticus), algo não esperado nesses ambientes circundados pela cana-de-açúcar”, afirmou Gabrielle Beca, primeira autora do estudo. Já nos fragmentos menores, acrescentou a pesquisadora, restam somente as espécies mais generalistas, como gambá (Didelphis albiventris) ou o tatu-galinha (Dasypus novemcimtus), que conseguem se adaptar a ambientes conturbados por não necessitarem de áreas tão grandes para encontrar alimento.

Metodologia O trabalho de campo foi realizado durante o mestrado de Beca, sob orientação de Galetti, no âmbito do Programa FAPESP de Pesquisas em Caracterização, Conservação, Restauração e Uso Sustentável da Biodiversidade (BIOTA-FAPESP). Os remanescentes estudados vão desde a região de Presidente Prudente, no extremo oeste do estado, até São José do Rio Pardo, a leste, passando por regiões ao norte perto de Araçatuba e São José do Rio Preto. “Visitamos esses 22 fragmentos e instalamos em cada um deles, no meio da mata, armadilhas fotográficas. Colocamos as máquinas automáticas onde havia grande possibilidade de os animais passarem, como locais com água ou próximos de árvores que estavam frutificando”, explicou Beca.

As câmeras foram retiradas após um mês e, para complementar o trabalho, foi feito um censo de pegadas deixadas nas bordas da floresta. “Há guias que permitem identificar a espécie pelo formato da pegada e o tipo de marca deixada e também fizemos avistamentos diretos dos animais”, contou Beca. Ao todo, foram identificadas 29 espécies de mamíferos de médio e grande porte. Além das já mencionadas, foram observados também quati (Nasua nasua), tatuí (Cabassous tatouay), tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla), ouriço-cacheiro (Coendou prehensilis), capivara (Hydrochoerus hydrochaeris) e cutia (Dasyprocta azarae), entre outras. “Também houve muitos registros de animais invasores, como o javaporco (Sus scrofa), um híbrido de javali com porco doméstico que se tornou uma praga no Brasil”, comentou Beca. De acordo com uma pesquisa anterior do grupo de Galetti, o javaporco representa uma ameaça à saúde pública, pois se tornou uma importante fonte de alimento dos morcegos-vampiros (Desmodus rotundus), fazendo aumentar a população desses animais transmissores do vírus da raiva. Além disso, segundo Beca, eles trazem impactos na agricultura e competem com outras espécies de mamíferos, como o cateto (Pecari tajacu) e a queixada. “Outro registro problemático foi o de cães domésticos (Canis lupus familiaris), que são predadores de muitas espécies silvestres”, contou Beca.

Corredores ecológicos Na avaliação de Galetti, os resultados do censo indicam que ainda há chances de preservar boa parte da fauna de mamíferos do Estado de São Paulo se forem criados corredores ecológicos para conectar os diversos fragmentos florestais. “No momento, não é preciso reintroduzir animais que foram extintos, mas sim conectar essas paisagens por meio do plantio de corredores florestais para que os animais possam se achar e sobreviver. Caso contrário, essa fauna ficará ilhada


ARTIGO e com o tempo haverá extinções de várias espécies”, disse o pesquisador. Para Beca, os fragmentos que abrigam maior número de espécies devem ter prioridade nesse trabalho. “Espécies como a anta e a queixada prestam um importante serviço ecossistêmico, pois são dispersoras de sementes. Precisamos olhar para as áreas onde elas ocorrem e, a partir desses pontos, conectar com outros”, avaliou. Segundo a pesquisadora, um bom começo seria colocar em prática medidas preconizadas pelo Novo Código Florestal (Lei no 12.651, de 2012).

“A lei estabelece, por exemplo, que deve ser preservada uma área de mata de 30 metros em volta dos rios. Mas no geral isso não tem sido respeitado, nem implementado”, afirmou Beca. “Se todos cumprirem o Código Florestal e não perseguirem os animais silvestres, haverá uma enorme chance de São Paulo ser um exemplo que alie conservação da biodiversidade e produção agrícola” comentou Galetti. Extraído de: Agência FAPESP – Divulgando a cultura científica, mar./2017.

ESPECIAL

Alunos do 4o e 5o anos se colocam no papel de artistas em Projeto de Artes

C

om o intuito de despertar um clima de liberdade e descontração que estimule a criatividade dos alunos do 4o e 5o anos do Ensino Fundamental do Colégio Etapa, vem sendo desenvolvido um Projeto de Artes que coloca os alunos no papel de artistas. Segundo explicou a professora da disciplina, Fernanda Gusen, o projeto foi pensado para que os conceitos artísticos fossem trabalhados a partir de obras criadas pelos alunos. “Além de trabalhar com obras de arte de artistas consagrados e famosos, os alunos puderam se colocar no lugar dos artistas e, com isso, vivenciar o processo de criação de uma obra”, disse. Primeiro, os alunos foram divididos em grupos e tiveram acesso a uma ampla variedade de objetos: acessórios, plantas, tecidos, molduras etc. Em seguida, criaram uma composição com os objetos escolhidos, além de escolherem o local onde ela seria montada. As obras foram registradas em fotografia e projetadas para as turmas, que debateram sobre as peças criadas. A atividade em si desenvolveu não só a criatividade. Os alunos, em grupo, trocaram opiniões, dialogaram sobre os arranjos e, principalmente, divertiram-se aprendendo. Em seguida, foram projetadas as fotos para uma análise em conjunto dos trabalhos. A revisão do material, ou melhor, das obras de arte produzidas levantou temas como a intenção do artista quando monta uma obra de arte, a escolha do lugar, o que buscam com a arte, porque escolhem alguns materiais e não outros, como lidar com a crítica, o processo de desmontagem da obra, e o respeito pela opinião do outro. Os alunos também tiveram oportunidade de analisar e discutir temas como profundidade, cores, suporte, performance, interferência do meio, retrato, escultura, pintura, crítica, natureza morta, apreciação artística, percepção estética, atenção, assinatura da obra etc. “É um trabalho que vai continuar servindo de base para a discussão de todos os conceitos que devem ser trabalhados durante o ano letivo na disciplina de artes”, acrescenta Fernanda.

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ESPECIAL

AGENDA CULTURAL

Jornal do Colégio

São Paulo – Clube de Debate (quinzenal, das 19h às 22h, sala 60) 17.04 – “O voto nulo é um ato político eficaz?” São Paulo – Clube de Cinema (quinta, das 19h às 21h, sala 66) 27.04 – Aquarius (Kleber Mendonça Filho: 2016) São Paulo – Clube do Livro (terça, das 19h às 21h, sala 63) 09.05 – A morte de Ivan Ilitch (Liev Tolstói) Valinhos – Clube de Debate (quinzenal, das 14h05min às 17h45min, sala 215) 20.04 – “O voto nulo é um ato político eficaz?” Valinhos – Clube de Cinema (das 14h05min às 16h05min, sala 209) 18.04 – Pulp fiction (Quentin Tarantino: 1995) 24.04 – Os outros (Alejandro Amenábar: 2001) Valinhos – Clube do Livro (quinta, das 14h05min às 15h45min, sala 216) 20.04 – Assassinato no Expresso Oriente (Agatha Christie)

Jornal do Colégio ETAPA, editado por Etapa Ensino e Cultura REDAÇÃO: Rua Vergueiro, 1 987 – CEP 04101-000 – Paraíso – São Paulo – SP JORNALISTA RESPONSÁVEL: Egle M. Gallian – M.T. 15343


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