Jornal do Vestibulando Nº1469

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Jornal do Vestibulando

ENSINO, INFORMAÇÃO E CULTURA

JORNAL ETAPA – 2014 • DE 27/03 A 09/04

ENTREVISTA

Após um ano de luta ele teve a nota da Fuvest aumentada de 27 pontos. De 50 para 77. Matheus Carreira Ribeiro fez o Extensivo à tarde, e à noite estudava na escola técnica. Entrou na Poli, em Engenharia Mecânica. No ano anterior, ele tinha feito 50 pontos na 1ª fase da Fuvest. Agora, chegou a 77, para um corte de 60 pontos (Poli). Duas atitudes foram essenciais, segundo ele, durante o ano: determinação e disciplina.

Matheus Carreira Ribeiro Em 2013: Etapa Em 2014: Engenharia Mecânica Poli – USP

JV – Quando você decidiu seguir Engenharia Mecânica? Matheus – Acho que foi no Ensino Médio. Eu entrei na Federal, no curso técnico de Mecânica integrado ao Ensino Médio. Dura quatro anos e inclui estágio. Acabei gostando.

Como você organizou seus estudos? Eu estabeleci uma meta: “Vou ter de pegar estes exercícios, esta lista, vou ter de fazer”. Procurava deixar acumular o menos possível e descansar. Se você fica muito cansado, chega uma hora em que diminui o seu rendimento. Saber controlar o que você faz é questão de organização.

Onde você fez estágio? Na empresa MS Metalúrgica, em 2012. Programei o estágio para ao terminá-lo já poder vir para o cursinho, no ano passado. Fiz o cursinho junto com o último ano da Federal.

Além da Fuvest, você prestou outros vestibulares? Unicamp e Vunesp, também para Engenharia Mecânica. E Enem – voltado para a UFSCar.

Como você veio estudar no Etapa? Um primo estudou aqui e falava bem. Não só ele, todo mundo que eu conhecia e fez cursinho dizia que aqui preparava melhor.

Com aulas à tarde e à noite, as matérias do cursinho eu estudava sempre na manhã do dia seguinte. Eu rendia mesmo de manhã. Tinha muitos exercícios, não consegui fazer todos, fazia os que eu sentia que estava precisando, de matérias em que estava mais fraco.

Acho que é para você ter uma ideia de como vai ser seu rendimento. Não é exatamente aquilo, mas ajuda bem para te deixar mais tranquilo, mais confiante.

Como você selecionava?

Sábado, depois dos simulados, saía com os amigos. Para desestressar mesmo. Ou ficava em casa dormindo, que era bom.

Eu via pelos simulados. Por exemplo, se em Biologia tinha errado bastante em Genética, focava mais nesse assunto.

Acho que em Biologia, Português e Redação. Em Matemática, às vezes. Não em todos os assuntos, em alguns tópicos. Em Química, comecei mais ou menos, melhorei bem.

Você estudava também no fim de semana? Aos sábados fazia o RPE. Tinha simulado sábado à tarde. Quando não tinha, costumava estudar à tarde também, em casa. Fiz simulado no domingo umas três vezes.

Até que horas iam as aulas na Federal?

Como eram as aulas do RPE?

Até 10 e 15. Alguns dias, até 10 e 50. Quando saía às 10 e 50 chegava em casa à meia-noite. No outro dia não vinha tão cedo para o cursinho. Descansava um pouco mais.

O RPE focava mais em exercícios. Fazia sábado de manhã, foi bom porque estava estudando. Também permite pôr em prática o que você viu na semana. Às vezes não conseguia fazer todos os exercícios que queria, no RPE dava uma revisada.

Você conseguiu manter esse ritmo até o fim do ano?

No início do ano você estava confiante em relação ao vestibular? Estava animado. Sabia que era difícil, mas acreditei desde o começo.

ENTREVISTA

Matheus Carreira Ribeiro

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Coleta seletiva e reciclagem do lixo

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Inscrições

Como você estudava essas matérias? Biologia era mais conceitual, Português também. Se tinha alguma dúvida, procurava sempre solucionar com algum amigo. Em último caso ia ao Plantão de Dúvidas ou pesquisava na Internet. Em Português era mais em Redação que eu tinha dificuldade.

Com que frequência você fazia Redação? Fazia pelo menos uma Redação por mês. Em alguns meses fiz mais, até três. Não tive uma constância. Depois da 1ª fase fiz bastante.

Você acha que melhorou seu desempenho na Redação? Nunca fui muito bem em Redação. Mas na Fuvest fui melhor do que esperava.

POIS É, POESIA

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Luís Vaz de Camões

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ENTRE PARÊNTESIS

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SERVIÇO DE VESTIBULAR

VOCÊ SABIA QUE...

... Vasco da Gama

Até que comecei um pouco bem, minhas notas ficavam em torno de C mais, com alguns C menos. Eu estabilizei no C mais até o final do ano. Às vezes dava algumas deslizadas, vinha cansado para um simulado de manhã, não rendia tão bem. No final teve simulados escritos, era mais complicado, fiquei um pouco no C menos.

ARTIGO

CONTO

Romantismo – Artur Azevedo

Nos simulados, quais eram os seus resultados?

ARTIGO Onça-pintada pode desaparecer da Mata Atlântica

Você tinha alguma atividade para relaxar?

Em quais matérias você tinha mais dificuldades?

Quanto tempo você estudava por dia? Praticamente a manhã inteira.

No final do ano, terminado o curso na Federal, fiquei aqui em tempo integral.

Para falar a verdade, eu ficava preocupado. Queria sempre mais. O C mais é uma nota perigosa, às vezes ficava perto do B, às vezes perto do C menos.

Qual é a importância do simulado para o vestibular?

Como era seu método de estudos?

Como era sua rotina? Eu vinha para cá cedo, umas 7, 7 e pouco. Ficava na Sala de Estudos, almoçava por aqui, ficava até o fim das aulas, às 6 e meia, e ia correndo para a Federal. As aulas lá começavam às 6 e 50. Às vezes chegava atrasado.

C mais, C menos. Você achava que estava bem preparado para o vestibular com essas notas?

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Caiu na Fuvest

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ENTREVISTA

Em quais matérias você achava que tinha uma base mais forte? Física. Fiz muito teste, me ajudou bastante. Em História e Geografia eu tinha facilidade. Mesmo Matemática, dependendo do assunto.

Tinha alguma matéria de que você não gostava e aqui passou a ver de outra forma? Geografia. Não ligava muito, acabei gostando mais aqui. E História. Eram as duas, na Federal não eram muito o foco. Poucas aulas.

O que você achou desse resultado? Foi bom para dar uma motivada, para me deixar mais confiante, me dar mais força nos estudos.

Para a 2ª fase mudou seu método de estudo? Foquei mais em Redação e nas matérias específicas do terceiro dia das provas: Matemática, Química e Física.

Como você foi na 2ª fase?

Você leu as obras obrigatórias? Li umas três. Nas restantes peguei os resumos e fiz exercícios. Além dos resumos do Etapa, peguei outros materiais na Internet. Procurei ficar bem atualizado nos livros.

Você teve de abrir mão de alguma atividade para se preparar para os vestibulares? Praticava natação. Tive que parar de treinar. Às vezes, no domingo, conseguia ir ao clube nadar, mas só para dar uma oxigenada.

Você pretende voltar a nadar agora? Já estou treinando na Atlética. Por enquanto, estou na natação. Não sei se vou praticar outro esporte.

Quando foi mais cansativo para você no ano passado? No mês da Fuvest, novembro. Acumulou tudo, os principais vestibulares e eu estava tendo prova na Federal, entrega de TCC. Para o vestibular mesmo já tinha estudado quase tudo.

Teve uma época mais tranquila para você no ano passado? Em dezembro, depois da 1ª fase, eu estava estudando bastante, mas fiquei mais tranquilo. Conseguia descansar mais, estudar mais.

O que você fez nas duas semanas de férias, em julho? Fui viajar. Essas duas semanas são boas para dar uma descansada, se preparar também, porque o segundo semestre vai ser muito mais estressante, muito mais tenso.

Se você não passasse na Poli, qual seria sua segunda opção? Eu estava entre Poli e Unicamp. Se não passasse na Poli iria para a Unicamp. Minhas duas opções eram essas. Se não entrasse em nenhuma, faria mais um ano de cursinho.

Em qual vestibular você achava que tinha mais chance de passar? O Enem eu tinha como o mais tranquilo e acabou não sendo. Não fui tão bem, uma prova cansativa e um pouco mais difícil.

Cálculo. Acho que também em Projeto: você precisa construir, atender especificações. Você tem de tomar cuidado porque o risco de não dar certo o experimento é considerável.

De quais matérias você está gostando mais até agora?

E na segunda prova, de todas as matérias?

Estou achando legal Introdução à Engenharia.

Na prova geral fui melhor, tirei 64,06.

No terceiro dia, da prova com as matérias prioritárias, qual foi sua nota? Foi o melhor dia para mim: tirei 68,75.

Olhando as notas tanto da 1ª quanto da 2ª fase, teve alguma surpresa ou o resultado ficou dentro do que você esperava? Foi dentro do que eu estava esperando.

Mesmo a Redação? Fui ver as curvas, fiquei até que bem.

Na escala de zero a 1 000, qual foi sua pontuação na Fuvest? Fiz 746,2 pontos.

Como ficou sabendo de sua aprovação na Fuvest? Eu vim aqui ver a lista. Estávamos eu e meus amigos. Com eles, é mais legal quando você vê a lista. Mais emocionante.

É uma matéria mais teórica? Bem parecida com a matéria de projetos, só que não envolve desenho, construção. Agora mudou a estrutura do curso, eles estão trabalhando mais a questão de inovação. Você não pode aprender uma tecnologia e ficar só nela. Ser um cara flexível. Eles fazem alguns trabalhos em grupo e vão mudando os grupos.

Do que você conhece na Poli até agora, do que mais gostou? Eu gostei da infraestrutura em geral. Da Poli e da USP. Muitos laboratórios, muitos restaurantes, Hospital Universitário. Tem atendimento odontológico, essas coisas, achei interessante. E as atividades que você pode fazer. Lá você pode fazer o que quiser de esporte, de curso. Mesmo as matérias, tem as optativas, tem uma certa liberdade.

Hoje você se imagina em outro curso?

É um alívio. Acabou, sensação de dever cumprido.

Eu acho que optei por Mecânica por ser uma das áreas mais abrangentes. Posso ir para Naval, Aeronáutica, Automobilística. Ela é a base. Se eu quiser mudar, se quiser fazer Engenharia Civil, tem como, um processo interno.

Qual o segredo para entrar na Poli?

Como fica marcado para você o ano passado?

Além de estudar muito – isso não é segredo –, acho que organizar a rotina de estudos e ter muita vontade. Determinação. Vai dar cansaço, você tem de estar querendo mesmo.

Foi um ano difícil, corrido, mas eu já esperava, desde que entrei na Federal, que iam ser quatro anos, com estágio, já tinha planejado. E foi bem como planejei: terminar o estágio o quanto antes para pegar o cursinho no final.

Na hora em que você viu seu nome na lista, o que sentiu?

Você já conhecia a Poli? Tinha amigos que entraram no ano passado, fui lá duas vezes. Mas de perto mesmo, só no dia da matrícula.

Você tem saudade de alguma coisa do ano passado?

Como foi na matrícula?

Acho que foi legal o cursinho, a aula é bem tranquila, você aprende de um jeito dinâmico. Foi um ano bem legal até pelas amizades. Conheci bastante gente aqui. Nesse sentido, tenho saudades.

Fui sozinho. Tinha o dia do trote, recepção dos bichos.

Além da Atlética, o que mais você faz na Poli? Vou começar a estudar francês, lá mesmo. Para intercâmbio no futuro é bom. E entrar em algum grupo de extensão. Eles têm bastante disso lá, tem equipe de míni baja, de fórmula SAE (Society of Automotive Engineers), você projeta um carro de corrida, tem de seguir as especificações deles. O legal da Poli é que lá tem muita coisa de graduação. Mesmo nos esportes, você tem uma infraestrutura muito boa na Cidade Universitária.

Na SAE dá para fazer parte desde o 1º ano? Quantos pontos você fez no Enem?

Segundo os veteranos, em qual matéria você tem de tomar mais cuidado?

Português foi a prova em que me saí pior, tirei 58,13. Na Redação minha nota foi 58,75.

Usava o Plantão Virtual, na Internet? Eu baixava as resoluções de Matemática, Física e Biologia.

ta matéria você foca desenho, esboço, desenho em software. Trabalha em grupo.

Hoje você acha que está diferente de quando entrou no cursinho? Estou mais organizado para a rotina em geral. Mais determinado. Mais focado. Ajudou a criar uma rotina de estudos.

O que você diria a quem tentou no ano passado, ficou no quase e vai prestar vestibular de novo? Não pode desistir. Eu estava nessa: “Se não der este ano tento de novo”. Só perde quem desiste.

740 pontos, com a Redação.

Dá, eles recrutam os bichos. Dá para entrar depois também.

Qual foi sua pontuação na 1ª fase da Fuvest?

O que você tem de matéria neste semestre?

O que fica de lição do ano no cursinho?

Na 1ª fase eu fiz 68 pontos. Com bônus subiu para 77. O corte na Poli ficou em 60. No ano anterior, eu tinha feito 50 pontos.

No primeiro semestre tenho Cálculo, Física, Álgebra Linear, Introdução à Química, Introdução à Engenharia, Projeto e Geometria Gráfica para Engenharia. Nes-

Acreditar em você mesmo. Ter determinação foi essencial no ano passado. Aprendi a ter disciplina também.

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CONTO

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Romantismo Artur Azevedo I

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ntão, Rodolfo, decididamente, não te casas com a viúva Santos? – Nem com ela, nem com outra qualquer. E peço-lhe, meu pai, que não insista sobre esse ponto, para poupar-lhe o desgosto de contrariá-lo. O casamento assusta-me; é a destruição de todos os sonhos, o aniquilamento de todas as ilusões. Deixe-me sonhar ainda. Tenho apenas vinte e cinco anos. – Tu o que tens é uma carregação de romantismo e preguiça, que me aborrece deveras. O teu prazer, meu mariola, é andar envolvido em aventuras de novela, desencaminhando senhoras casadas, procurando amores misteriosos e noturnos, paixões de horas mortas, de chapéu desabado e capa. Olha que um dia vem a casa abaixo! Don Juan, quando menos pensava, lá se foi para as profundas do inferno! – Entretanto, observou Rodolfo a sorrir, Don Juan também usava capa, e dizem que quem tem capa sempre escapa. – Ri-te! Ri-te! um dia hás de chorar! E o doutor Sepulveda pôs-se a medir com largos passos nervosos o assoalho do gabinete. De repente estacou, sentou-se, e, voltando-se para o filho: – Que diabo! disse, a viúva Santos é uma das senhoras mais lindas que conheço! Não se diga que te estou metendo à cara um estupor! – Fosse a própria Vênus! – É mais, muito mais, porque a Vênus não tinha duzentos contos de réis em prédios e apólices. – Ora, sou bastante rico, e o senhor, meu pai, não sabe o que há de fazer do dinheiro. A sua banca de advogado rende-lhe uma fortuna todos os anos e eu tenho a satisfação de lhe lembrar que sou filho único. – A minha banca, maluco, há muito tempo não rende o que rendia no tempo em que os cães andavam com linguiças no pescoço. O que te ficou por morte da tua mãe, e o que te posso dar, ou deixar, é pouco para a tua dispendiosa vida de rapaz romântico, anacrônico e serôdio. – Tenho ainda meu padrinho, o general. – Pois sim! Teu padrinho é muito bom, sim senhor, muita festa pra festa, meu afilhado pra cá, meu afilhado pra lá, mas olha que daquela mata não sai coelho. – É extraordinário o interesse que o senhor toma por essa viúva Santos!

– Não é por ela, é por ti, pedaço de asno! Vocês foram feitos um para o outro, acredita, e o que mais lhe agrada na tua pessoa é justamente esse feitio que tens, de Antony de edição barata. – Ela nunca me viu. – Nunca te viu, mas conhece-te. Pois se não lhe falo senão do meu Rodolfo! Levei-lhe a tua fotografia, aquela maior... do Pacheco... aquela em que estás tão bonito, que até me parece a tua mãe... – Que tolice! minha mãe com bigodes! – Os bigodes não, mas os olhos, a boca e o nariz parecem tirados de uma cara e pregados na outra. – Mas se o senhor lhe levou o meu retrato, por que não me trouxe o dela? – Disso me lembrei eu. Infelizmente nunca se fotografou. Se eu lhe apanhasse o retrato, oh! oh! mostrava-to, e estou certo que não resistirias. – O senhor mete-me medo! Para evitar uma asneira de minha parte, hei de fugir da viúva Santos como o diabo da cruz! – Disseste que me interesso por ela; e quando me interessasse? Não é filha de um bom camarada, o Teles, que morou comigo quando éramos estudantes, e se formou em Olinda no mesmo dia que eu? – Não imaginas o prazer que tive quando recebi uma carta de Rosalina – ela chama-se Rosalina – dizendo-me: “Venha ver-me; quero conhecer um dos melhores amigos de meu pobre pai.” – O pai é morto? – Há muitos anos. Morreu juiz municipal nas Alagoas. Deixou a mulher e os filhos na mais completa pobreza, mas os rapazes arranjaram-se no comércio, e lá estão em Pernambuco em companhia da mãe. A Rosalina, essa casou-se com um negociante aqui do Rio, o Santos, que a viu por acaso uma vez que teve de ir a Pernambuco tratar de negócios. O doutor Sepulveda aproximou a sua cadeira para mais perto do filho e comentou: – Alguém disse que a viúva é como a casa que está para alugar: há sempre lá dentro alguma coisa esquecida pelo antigo inquilino. Bem vejo, meu filho: o que te desgosta é esse Santos, esse marido, esse inquilino; pois não tens razão. O casamento de Rosalina foi obra dos irmãos – um casamento de conveniência. A pobre rapariga sacrificou-se à felicidade dos seus. O coração entrou ali como Pilatos no Credo. Oito dias depois de casados, os noivos vieram para o Rio de Janeiro. Seis meses depois morreu o marido, mas antes disso teve a boa ideia de chamar um

tabelião e fazer testamento em favor dela. Ofereço-te um coração virgem, meu rapaz; aceita-o, e com isso darás muito prazer a teu pai e ao general, teu padrinho, que consultei a esse respeito, e é inteiramente da minha opinião. Rodolfo ergueu-se, espreguiçou-se longamente, e disse, com os braços estendidos, e a boca aberta num horroroso bocejo: – Ora, meu pai, não falemos mais nisso. E não falaram mais nisso. O doutor Sepulveda foi ter com o general, e contou-lhe a relutância do afilhado. – Mas hei de teimar, seu compadre, hei de teimar! – Não teime. Você não arranja nada. Aquele que está ali não se casa nem à mão de Deus Padre. – É o que havemos de ver, seu compadre, é o que havemos de ver... II Dois dias depois, Rodolfo sentia-se abalado pela insistência paterna, e estava quase disposto a pedir ao doutor Sepulveda que o apresentasse à viúva Santos, quando o correio urbano lhe trouxe uma carta concebida nos seguintes termos: “Rodolfo – Se não é medroso, esteja amanhã, quinta-feira, às 8 horas da noite, no largo da Lapa, junto ao chafariz. Ali encontrará uma senhora idosa, vestida de preto, com o rosto coberto por um véu. Faça o que ela indicar. Trata-se de sua felicidade.” A carta escrita com letra de mulher, em papel finíssimo, não tinha assinatura, e exalava um delicioso perfume aristocrata. Rodolfo leu-a, releu-a três vezes, e guardou-a cuidadosamente. Ocioso é dizer que a viúva Santos varreu-se inteiramente da sua imaginação, excitada agora pelo misterioso da aventura que lhe propunham. Foi ao largo da Lapa. Por que não havia de ir? Poderia recear uma cilada? Ora! no Rio de Janeiro não há torres de Nesle nem Margaridas de Borgonha. Já lá encontrou a velha, junto do chafariz. Ela foi ao seu encontro, cumprimentou-o, e, dirigindo-se a um coupé estacionado a alguns passos de distância, abriu a portinhola e com um gesto convidou-o a entrar. Rodolfo não hesitou um segundo; entrou; a velha entrou também, e o coupé rodou na direção do Passeio Público. – Aonde vamos? perguntou ele.


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CONTO

A velha disse-lhe por gestos que era muda, e abaixou os stores. Rodolfo percebeu que o carro entrou na rua das Marrecas, e dobrou a dos Barbonos; depois não pôde saber ao certo se tomou a rua dos Arcos ou a de Riachuelo. As rodas moviam-se vertiginosamente. De vez em quando dobravam uma esquina. Dez minutos depois, o moço ignorava completamente se se achava em caminho de Botafogo ou de Vila Isabel, da Tijuca ou do Saco do Alferes. Quis levantar um store. A velha opôs-se com um gesto precipitado e enérgico. Ele caiu resignadamente no fundo do carro, e deixou-se levar. Ora, adeus! A viagem durou seguramente uma hora. Quando o coupé estacou, a velha ergueu-se, tirou um lenço da algibeira, e tapou os olhos do moço, que se deixou vendar humildemente, sem proferir uma palavra. Ela ajudou-o a descer, e levou-o pela mão, sempre de olhos tapados, como Raul de Nagis nos Huguenotes. Pelo cascalho que pisava e pelo aroma que sentia, Rodolfo adivinhou que estava num jardim, caminhando em deliciosa alameda. Depois de andar cinco minutos,

guiado sempre pela mão encarquilhada da velha, esta murmurou baixinho: – Adeus, seja feliz! – e afastou-se. Ao mesmo tempo, uma voz argentina, uma voz de mulher que parecia vir do alto e soou musicalmente aos seus ouvidos, disse-lhe: – Desvenda-se, Rodolfo. Ele arrancou o lenço dos olhos. Estava efetivamente num jardim, defronte de uma das partes laterais de um belo prédio moderno. A lua, iluminando suavemente aquele magnífico cenário, batia de chofre na sacada em que se achava uma mulher vestida de branco com os cabelos soltos. – Onde estou eu? perguntou ele, e olhou para o horizonte, a ver se algum morro conhecido o orientava. Nada! – nos fundos da casa erguia-se, é verdade, um morro, mas tão próximo e tão alto, que o moço do lugar em que se achava, não lhe podia notar a configuração. – Onde estou eu? repetiu. Por única resposta a mulher de cabelos soltos deixou cair uma escada de seda, cuja extremidade ficou presa à sacada; e Rodolfo subiu por ela com mais presteza do que o faria o próprio Romeu. Ao entrar na alcova, fracamente iluminada pela meia-luz de um bico de gás, ficou deslumbradíssimo. Estava diante de um prodígio de formosura! O pasmo

embargou-lhe a fala; quis soluçar um madrigal, e não teve uma palavra, uma sílaba, um som inarticulado! – Amo-te, disse ela com uma voz que mais parecia um ciciar de brisa; amo-te muito, Rodolfo, e quero que também me ames. – Oh! sim, sim... quem quer que sejas... eu amo-te, e... Uma gargalhada o interrompeu. Era o doutor Sepulveda que entrava na alcova e dava mais luz ao bico de gás. – Meu pai! – Teu pai, sim, meu romântico. Era esse o único meio de te fazer cá vir. Ora aqui tens a viúva Santos. Agora recuas, se és homem! O casamento ficou definitivamente tratado naquela mesma noite. III No dia seguinte o doutor Sepulveda, nadando em júbilo, foi ter com o general e contou-lhe tudo. – Então? não lhe dizia, seu compadre? – Ora muito obrigado! respondeu o outro com a sua rude franqueza de velho militar; por esse processo você poderia casá-lo até com a Chica Polka! Extraído de: Contos de Artur Azevedo. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br

VOCÊ SABIA QUE... ... Vasco da Gama teve grande importância não só para a história de Portugal como para a própria expansão cultural europeia? Nascido em Sines, Portugal, em 1469, Vasco da Gama foi encarregado pelo rei Manuel I de abrir uma rota marítima até as Índias (terras produtoras de especiarias) em 1497. O intuito era atenuar a vantajosa posição conquistada pela Coroa espanhola com o descobrimento da América; além, é claro, de fazer uso do Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494 entre os dois países, o qual garantia a Portugal o direito de exploração de praticamente todo o mundo oriental. Por muito tempo acreditou-se que a expedição tivesse margeado a costa africana até chegar ao cabo da Boa Esperança. Hoje sabe-se que Vasco da Gama se valeu de uma sofisticada estratégia para escapar das correntes contrárias do golfo da Guiné: a “volta do mar”, traçado este que aproveitava a hoje denominada corrente do Brasil. Esse nome, aliás, não é por acaso. Alguns historiadores apostam que já nessa viagem os portugueses perceberam evidências de uma nova terra a ser explorada. A chegada das embarcações portuguesas à Índia, em 1498, foi o primeiro contato direto da civilização europeia com a indiana, um marco fundamental para o decorrer da história: estávamos na época das grandes navegações, época essa em que os europeus almejavam descobrir, conquistar e ocupar as mais diversas áreas, seja na África, Ásia ou América.


ARTIGO

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Onça-pintada pode desaparecer da Mata Atlântica Karina Toledo

terar a estrutura da vegetação. “O predador de topo de cadeia tem um papel de regulação do ecossistema e, quando ele desaparece, um distúrbio é criado. Isso pode causar a extinção de algumas espécies, até que o ecossistema encontre um novo equilíbrio”, disse Galetti, que coordena pesquisa apoiada pela FAPESP e realizada no âmbito do Sisbiota – programa lançado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em 2010 que reúne pesquisadores de diversos Estados e, em São Paulo, conta com financiamento da FAPESP. John Foxx Images

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Mata Atlântica está na iminência de perder um de seus mais ilustres habitantes: a onça-pintada (Panthera onca). O alerta foi feito na revista Science, em carta publicada por um grupo de pesquisadores brasileiros membros do Sistema Nacional de Pesquisa em Biodiversidade (Sisbiota). “Uma recente reunião de especialistas em vida selvagem concluiu que a Mata Atlântica, que no passado se estendia por toda a costa brasileira e também por parte da Argentina e do Paraguai, pode em breve ser o primeiro bioma tropical a perder seu principal predador, a onça-pintada”, relataram os cientistas na carta. “Pesquisadores estimaram menos de 250 animais adultos vivos em todo o território, distribuídos em oito populações isoladas. Ainda pior, análises moleculares demonstraram que o tamanho da população efetiva local (número de animais que estão de fato se reproduzindo e deixando descendente, um parâmetro crítico para a manutenção da diversidade genética) está abaixo de 50 animais”, destacaram. De acordo com Ronaldo Gonçalves Morato, coautor do texto e chefe do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap) do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), entre as causas do declínio estão a perda de habitat resultante do desmatamento e da fragmentação da mata e também a caça. Estima-se que, atualmente, reste apenas entre 7% e 12% da cobertura original da Mata Atlântica. O impacto do desaparecimento da onça-pintada para o ecossistema local é difícil de prever, mas certamente o saldo será negativo. “Quando um grande predador desaparece, pode haver explosão nas populações de herbívoros, como veados, catetos e queixadas. Em excesso, esses animais acabam consumindo todo o sub-bosque da floresta e isso implica em perda da capacidade de recomposição e perda de estoque de carbono. Em longo prazo, pode levar à quebra da dinâmica da floresta”, avaliou Morato. Pedro Manoel Galetti Junior, professor do Departamento de Genética e Evolução (DGE) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e coautor do texto, lembrou que o desaparecimento da onça-pintada pode ainda causar aumento desmedido nas populações de predadores intermediários, como jaguatiricas e outros carnívoros. Por sua vez, isso poderá levar a um aumento na predação de ninhos e, potencialmente, à extinção local de muitas aves, importantes dispersoras de sementes, e al-

De acordo com alerta feito por pesquisadores brasileiros na revista Science, restam no bioma 250 animais adultos distribuídos em oito populações isoladas e apenas 50 estão de fato se reproduzindo.

Plano estratégico para conservação A iniciativa de enviar o alerta para a revista Science, contaram os cientistas, surgiu após uma reunião promovida em setembro de 2013 pelo Cenap com o objetivo de elaborar um plano estratégico para a conservação da onça-pintada na Mata Atlântica. “Na semana anterior ao evento, havia sido publicado também na Science um artigo sobre a recuperação da população de carnívoros no Hemisfério Norte graças a medidas adotadas há mais de 20 anos, como reflorestamento, reintrodução e translocação de indivíduos. Alguns fatores de manejo utilizados por lá permitiram que algumas espécies praticamente extintas voltassem a ocupar certos espaços. Nossa carta tinha o intuito de fazer um contraponto a esse artigo”, contou Morato. O evento promovido pelo Cenap reuniu diversos membros da rede Sisbiota. O objetivo do grupo é fomentar e ampliar o conhecimento não apenas sobre predadores, mas sobre toda a biodiversidade brasileira, bem como melhorar a capacidade preditiva de respostas às mudanças de uso e cobertura da terra e às mudanças climáticas.

De acordo com os especialistas, a medida mais urgente a ser tomada para salvar a onça-pintada seria o aumento da fiscalização para evitar a perda de indivíduos tanto pela caça quanto pela redução do ambiente causada pelo desmatamento ilegal. “Primeiro precisamos estancar a perda para então pensar em trabalhar para recuperar as populações. Estamos discutindo a possibilidade de fazer a translocação de indivíduos (colocar novos animais em uma população existente para trazer informação genética nova para o grupo), pois as análises têm mostrado que geneticamente muitas dessas populações remanescentes estão comprometidas. Mesmo se a perda de animais cessar, será necessário recompor essas populações”, afirmou Morato. Outra possibilidade, contou o pesquisador do Cenap, é recorrer a ferramentas de reprodução assistida. “Podemos coletar sêmen de um indivíduo de uma região e inseminar uma fêmea de outra população, por exemplo. Esse mecanismo pode ser mais prático do que fazer a translocação”, contou Morato. De acordo com o plano em elaboração pelo Sisbiota, nenhum animal seria solto sem um sistema de monitoramento 24 horas e sem um programa prévio de educação e conscientização com as comunidades do entorno. “É necessário um trabalho forte para que essas comunidades aceitem o retorno do animal. É preciso orientação para que não haja risco no contato com a população humana e para que haja um manejo de rebanhos de modo a evitar a caça por perda econômica”, afirmou Morato. Para Galetti, antes que qualquer medida seja tomada, é preciso ampliar o conhecimento científico sobre a onça-pintada – o que inclui informações sobre a biologia, a ecologia, a genética e os sistemas em que ela está incluída, ou seja, os demais organismos que interagem com ela. “Não se pode pensar em translocar animais enquanto não se tem segurança e controle sobre os impactos da medida”, ponderou. Muitos dos estudos que embasam a discussão do plano de recuperação da onça-pintada foram conduzidos no âmbito do Sisbiota, que completa três anos. Parte dos dados foi apresentada nos dias 9 e 10 de dezembro, em São Carlos, durante o 1o Simpósio Brasileiro sobre o Papel Funcional de Predadores de Topo de Cadeia. Extraído de: Agência FAPESP – Divulgando a cultura científica, jan./2014.


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ARTIGO

Coleta seletiva e reciclagem do lixo A melhor solução para a destinação final do lixo é ter menos lixo; a reciclagem é indispensável. José Carlos Vaz e Cristina C. Cabral

destinação do lixo é um problema constante em quase todos os municípios, apesar de ser mais “visível” nas grandes cidades. Os municípios se defrontam com a escassez de recursos para investimento na coleta e no processamento e disposição final do lixo. Os “lixões” continuam sendo o destino da maior parte dos resíduos urbanos produzidos no Brasil, com graves prejuízos ao meio ambiente, à saúde e à qualidade de vida da população. Mesmo nas cidades que implantaram aterros sanitários, o rápido esgotamento de sua vida útil mantém evidente o problema do destino do lixo urbano. A situação exige soluções para a destinação final do lixo no sentido de reduzir o seu volume. Ou seja: no destino final, é preciso ter menos lixo.

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As soluções convencionais Os aterros sanitários são grandes terrenos onde o lixo é depositado, comprimido e depois espalhado por tratores em camadas separadas por terra. As extensas áreas que ocupam, bem como os problemas ambientais que podem ser causados pelo seu manejo inadequado, tornam problemática a localização dos aterros sanitários nos centros urbanos maiores, apesar de serem a alternativa mais econômica a curto prazo. Os incineradores, indicados sobretudo para materiais de alto risco, podem ser utilizados para a queima de outros resíduos, reduzindo seu volume. As cinzas ocupam menos espaço nos aterros e reduz-se o risco de poluição do solo. Entretanto, podem liberar gases nocivos à saúde, e seu alto custo os torna inacessíveis para a maioria dos municípios.

As usinas de compostagem transformam os resíduos orgânicos presentes no lixo em adubo, reduzindo o volume destinado aos aterros. É difícil cobrir o alto custo do processo com a receita auferida pela venda do produto. Além disso, não se resolve o problema de destinação dos resíduos inorgânicos, cuja possibilidade de depuração natural é menor.

Implantando a coleta seletiva A coleta seletiva e a reciclagem de resíduos são uma solução indispensável, por permitir a redução do volume de lixo para disposição final em aterros e incineradores. Não é a única forma de tratamento e disposição: exige o complemento das demais soluções. O fundamento deste processo é a separação, pela população, dos materiais recicláveis (papéis, vidros, plásticos e metais) do restante do lixo, que é destinado a aterros ou usinas de compostagem. A implantação da coleta seletiva começa com uma experiência-piloto, que vai sendo ampliada aos poucos. O primeiro passo é a realização de uma campanha informativa junto à população, convencendo-a da importância da reciclagem e orientando-a para que separe o lixo em recipientes para cada tipo de material. É aconselhável distribuir à população, ao menos inicialmente, recipientes adequados à separação e ao armazenamento dos resíduos recicláveis nas residências (normalmente sacos de papel ou plástico). A instalação de postos de entrega voluntária em locais estratégicos possibilita a realização da coleta seletiva em locais públicos. A mobilização da sociedade, a partir das campanhas, pode estimular iniciativas em conjuntos habitacio-

nais, shopping centers e edifícios comerciais e públicos. Deve-se elaborar um plano de coleta, definindo equipamentos e periodicidade de coleta dos resíduos. A regularidade e eficácia no recolhimento dos materiais são importantes para que a população tenha confiança e se disponha a participar. Não vale a pena iniciar um processo de coleta seletiva se há o risco de interrompê-lo, pois a perda de credibilidade dificulta a retomada. Finalmente, é necessária a instalação de um centro de triagem para a limpeza e separação dos resíduos e o acondicionamento para a venda do material a ser reciclado. Também é possível implantar programas especiais para reciclagem de entulho.

Recursos O custo de operação do projeto varia em função do município, sendo considerado baixo um custo de US$150 por tonelada de resíduo coletado. A receita auferida com a venda do material é, em média, US$45 por tonelada de plástico, US$502 para alumínio, US$30 para vidro, US$100 para papel de primeira e US$48 para aparas de papel. Os custos de transporte são os maiores limitantes da coleta seletiva. Distâncias superiores a 100 km entre a fonte dos resíduos e a indústria de reciclagem tendem a tornar o processo deficitário. O processamento primário dos materiais (através de equipamentos como prensas e trituradores) aumenta seu valor e atenua o problema. Para a coleta, a prefeitura pode colocar caminhões com caçamba e pessoal à disposição ou contratar os serviços. Uma campanha informativa pode custar à prefeitura apenas a impressão dos folhetos e cartilhas. A prefeitura deve dispor de uma área para o centro de triagem.


ARTIGO A iniciativa privada atua na reciclagem apenas nas atividades mais lucrativas; procurar novas formas para seu envolvimento que reduzam os gastos públicos é um desafio para as prefeituras. Tais parcerias podem ocorrer através do fornecimento de cartilhas, folhetos e sacos para o recolhimento do lixo, da colocação de postos de entrega, da organização da coleta seletiva no interior de edifícios e instalações comerciais, da compra de materiais reciclados ou mesmo da instalação de indústrias de reciclagem ou processamento primário, mesmo que de pequeno porte. Parcerias com entidades da sociedade civil, através de campanhas de esclarecimento, instalação de postos de entrega, organização e realização da coleta e separação dos materiais, ampliam o alcance das ações e reduzem custos. Consórcios intermunicipais possibilitam economias de escala, com ações conjuntas entre prefeituras. Tão importante quanto o investimento, é o papel do governo municipal como articulador junto à sociedade e outros governos.

da, foi distribuída uma cartilha à população e iniciada a coleta domiciliar e em supermercados, onde os resíduos recicláveis são trocados por vales-compra. A prefeitura assume o custo de coleta e o material recolhido é doado a uma entidade assistencial, que o processa e comercializa, destinando o lucro para suas atividades assistenciais. A coleta seletiva criou condições técnicas para a implantação de uma usina de compostagem na cidade, pois boa parte do material inorgânico (metais, vidros, etc.) já é separado, reduzindo os custos de operação da usina. A instalação da usina de reciclagem de Vitória-ES, em 1990, em um antigo “lixão”, evitou enormes prejuízos ambientais e reuniu trabalhadores que viviam em condições sub-humanas, explorados pelas “máfias do lixo”, controladas por aparistas e sucateiros, dando-lhes melhores condições de trabalho e remuneração. Da avaliação dessas experiências, pode-se dizer que a participação da população é a principal condição para o sucesso da coleta seletiva.

Algumas experiências Em Niterói-RJ, a iniciativa partiu dos moradores de um bairro, em 1985, que contaram com o apoio da Universidade Federal Fluminense e de uma entidade do governo alemão. A prefeitura apenas cedeu um técnico, temporariamente, e fez a terraplanagem do terreno. Os moradores administram o serviço, investindo o lucro em atividades comunitárias. Curitiba-PR criou, em 1989, o projeto “Lixo que não é lixo”, iniciado com um trabalho de educação ambiental nas escolas. Em segui-

Resultados a) Ambientais – os maiores beneficiados por esse sistema são o meio ambiente e a saúde da população. A reciclagem de papéis, vidros, plásticos e metais – que representam em torno de 40% do lixo doméstico – reduz a utilização dos aterros sanitários, prolongando sua vida útil. Se o programa de reciclagem contar, também, com uma usina de compostagem, os benefícios são ainda maiores. Além disso, a reciclagem implica uma redução significativa dos níveis de polui-

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ção ambiental e do desperdício de recursos naturais, através da economia de energia e matérias-primas. b) Econômicos – a coleta seletiva e reciclagem do lixo doméstico apresenta, normalmente, um custo mais elevado do que os métodos convencionais. Iniciativas comunitárias ou empresariais, entretanto, podem reduzir a zero os custos da prefeitura e mesmo produzir benefícios para as entidades ou empresas. De qualquer forma, é importante notar que o objetivo da coleta seletiva não é gerar recursos, mas reduzir o volume de lixo, gerando ganhos ambientais. É um investimento no meio ambiente e na qualidade de vida. Não cabe, portanto, uma avaliação baseada unicamente na equação financeira dos gastos da prefeitura com o lixo, que despreze os futuros ganhos ambientais, sociais e econômicos da coletividade. A curto prazo, a reciclagem permite a aplicação dos recursos obtidos com a venda dos materiais em benefícios sociais e melhorias de infraestrutura na comunidade que participa do programa. Também pode gerar empregos e integrar na economia formal trabalhadores antes marginalizados, como no caso de Vitória-ES. c) Políticos – além de contribuir positivamente para a imagem do governo e da cidade, como no caso de Curitiba, a coleta seletiva exige um exercício de cidadania, no qual os cidadãos assumem um papel ativo em relação à administração da cidade. Além das possibilidades de aproximação entre o poder público e a população, a coleta seletiva pode estimular a organização da sociedade civil. Extraído de: Internet, Dicas, nº 1, 1993.

SERVIÇO DE VESTIBULAR Insper Período de inscrição: até 19 de maio de 2014. Somente via Internet. Endereço da faculdade: Rua Quatá, 300 – CEP 04546-042 – Vila Olímpia – São Paulo – SP – Fone: (11) 4504-2400. Requisito: taxa de R$ 300,00. Cursos e vagas: consultar site www.insper.edu.br Exame: dia 8 de junho de 2014.


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POIS É, POESIA

Luís Vaz de Camões (1525?-1580) O fogo que na branda cera ardia,

Amor, com a esperança já perdida,

Em flor vos arrancou, de então crescida,

Vendo o rosto gentil, que eu na alma vejo, Se acendeu de outro fogo do desejo, Por alcançar a luz que vence o dia.

Teu soberano templo visitei; Por sinal do naufrágio que passei, Em lugar dos vestidos, pus a vida.

(Ah! Senhor D. Antônio!) a dura sorte, Donde fazendo andava o braço forte A fama dos Antigos esquecida.

Como de dois ardores se encendia, Da grande impaciência fez despejo, E, remetendo com furor sobejo, Vos foi beijar na parte onde se via.

Que mais queres de mim, pois destruída Me tens a glória toda que alcancei? Não cuides de render-me; que não sei Tornar a entrar onde não há saída.

~ Ua só razão tenho conhecida Com que tamanha mágoa se conforte: Que, se no mundo havia honrada morte, Não podíeis vós ter mais larga vida.

Ditosa aquela flama, que se atreve A apagar seus ardores e tormentos Na vista a quem o Sol temores deve!

Vês aqui alma, vida e esperança, Doces despojos de meu bem passado, Enquanto o quis aquela que eu adoro.

Se meus humildes versos podem tanto Que co desejo meu se iguale a arte, Especial matéria me sereis.

Nelas podes tomar de mim vingança; E, se te queres inda mais vingado, Contenta-te coas lágrimas que choro.

E, celebrado em triste e longo canto, Se morrestes nas mãos do fero Marte, Na memória das gentes vivereis!

Namoram-se, Senhora, os Elementos De vós, e queima o fogo aquela neve Que queima corações e pensamentos. ***

De vós me parto, ó Vida, e em tal [mudança Sinto vivo da morte o sentimento; Não sei para que é ter contentamento, Se mais há-de perder quem mais alcança.

*** Apolo e as nove Musas, discantando Com a dourada lira, me influíam Na suave harmonia que faziam, Quando tomei a pena, começando:

*** Espanta crescer tanto o crocodilo Só por seu limitado nascimento; Que se maior nascera, mais isento Estivera de espanto o pátrio Nilo.

Mas dou-vos esta firme segurança: Que, posto que me mate o meu tormento, Por as águas do eterno esquecimento Segura passará minha lembrança.

Em vão levantará seu baixo estilo Vosso pontifical, novo ornamento; Pois no ventre o imortal merecimento Vo-lo talhou, para depois vesti-lo.

Antes sem vós meus olhos se entristeçam, Que com coisa outra alguma se contentem; Antes os esqueçais, que vos esqueçam;

Tardou, mas veio; que a quem mais merece Vir o prêmio mais tarde é sempre certo, Inda que vez alguma venha cedo.

Antes nesta lembrança se atormentem Que com esquecimento desmereçam A glória que em sofrer tal pena sentem.

Os Céus, que do primeiro estão mais perto, Mais devagar se movem. Quem conhece Sobre aquele segredo, este segredo!

***

“Ditoso seja o dia e hora, quando Tão delicados olhos me feriam! Ditosos os sentidos que sentiam Estar-se em seu desejo transpassando!” Assi cantava, quando Amor virou A roda à esperança, que corria Tão ligeira que quase era invisível. Converteu-se-me em noite o claro dia; ~ esperança me ficou, E, se algua Será de maior mal, se for possível. Extraído de: “Sonetos”, in: Obras completas, Porto, Lello & Irmão editores.

***

(ENTRE PARÊNTESIS)

Caiu na Fuvest Cada um dos cartões apresentados tem de um lado um número e do outro uma letra. Alguém afirmou que todos que têm uma vogal numa face têm um número par na outra. Para verificar isso: É suficiente virar todos os cartões? É necessário virar quantos e quais cartões?

A

B

2

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RESPOSTA A afirmação será falsa somente se houver algum cartão com número ímpar e letra vogal. Caso contrário, será verdadeira. Para verificarmos isso, é, obviamente, suficiente virar todos os cartões, embora não seja necessário. É necessário virar apenas dois cartões: o cartão “A” (verificando se é par ou ímpar o número do verso) e o cartão “3” (verificando se a letra do lado oposto é consoante ou vogal).


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