Jornal do Vestibulando Nº1472

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Jornal do Vestibulando

ENSINO, INFORMAÇÃO E CULTURA

JORNAL ETAPA – 2014 • DE 08/05 A 21/05

ENTREVISTA

“Tinha de pegar tudo do zero. Coisas que eu nunca tinha visto antes.” Victor Nogueira Correa viu sua nota na 1ª fase da Fuvest subir 21 pontos depois do cursinho. Entrou em Engenharia Naval, carreira que elogia muito e na qual vê grandes possibilidades de atuação profissional. Não entrou na primeira lista. Chegou mesmo a recomeçar o cursinho este ano – até que foi chamado para a Poli. Aqui ele conta como conseguiu superar o que chamou de “buracos” em sua formação no Ensino Médio.

Victor Nogueira Correa Em 2013: Etapa Em 2014: Poli – USP

JV – Quando você fez a opção por ser engenheiro? Victor – Eu sempre gostei muito da parte de consultoria, pegar um projeto, analisar cada um dos seus parâmetros, ver onde pode melhorar, onde está dando errado. Desde pequeno gostava muito de ver no Discovery Chanel aqueles programas de construção, como montar as coisas. Conversando com meu irmão mais velho, que também fez cursinho no Etapa e entrou em Administração na FEA, ele falou que Engenharia é uma das melhores carreiras para você fazer consultoria.

Quantos pontos você fez?

Você estudava à noite ou de manhã?

Fiz 49 pontos. Com o bônus de escola pública foi para 54.

Principalmente à noite, porque eu ficava muito aqui para o vôlei que tinha mais tarde. Saía da aula, ia estudar. Terminava de estudar, ia jogar vôlei. De manhã estudava mais um pouco. No segundo semestre, passei para o período da manhã. Aí ampliei meu tempo de estudo. Passava o dia inteiro no Etapa, parecia minha casa. Em alguns dias ficava estudando até as 8 e meia da noite. Depois jogava vôlei. Mas mudei mesmo meu ritmo de estudos na Revisão para a 1ª fase. Estudava todo dia até 9, 10 horas da noite. Estudava cerca de 8, 9 horas por dia. Consegui manter esse ritmo até a prova da Fuvest. Focava muito nos exercícios. Como a 1ª fase da Fuvest é teste, foquei em aprender a fazer teste. Precisa de uma técnica para fazer teste. Acho que consegui pegar isso muito bem com os simulados e a bateria de exercícios.

Como você sentia suas chances de aprovação quando entrou no cursinho? Como a nota de corte da Poli fica, em média, em 62, 63, pensei que se conseguisse consertar os buracos do Ensino Médio poderia dar certo. Eu tinha feito dois anos do Ensino Médio na Federal, junto com o Técnico em Informática. No 3º ano mudei para a Escola Técnica Camargo Aranha.

Além da Fuvest, você prestou quais vestibulares? Unicamp, também para Engenharia de Produção, e Enem. Na Poli minha primeira opção era Produção. Entrei na Engenharia Naval.

Você conseguiu tapar esses buracos? Consegui. Quando terminei o cursinho eu estava com minha base muito sólida. Em todas as matérias.

Está satisfeito com a Naval?

No cursinho, como era seu método de estudo?

Estou extremamente feliz. As pessoas acabam muitas vezes não conhecendo o curso, mas Engenharia Naval tem muito a ver com logística e tem um amplo mercado de trabalho. Você pode trabalhar em consultoria, banco, estaleiro. Se eu pudesse prestar Fuvest de novo, minha primeira opção seria Naval. Tenho amigos que entraram na Poli e prestaram Fuvest outra vez para tentar entrar na Naval.

Eu entrei no cursinho no período da tarde. Comecei pensando em estudar a matéria do dia e fazer os exercícios. Sempre estudei na Sala de Estudos. No começo do ano eu tentei estudar em casa, não estava dando certo. Falei: “Vou estudar no Etapa para ver como me saio”. Percebi que meu aproveitamento aqui era muito melhor. Estudava umas três horas por dia, às vezes quatro horas.

Você conheceu o Etapa pelo seu irmão? Conheci o Etapa pelo meu irmão mais velho. Ele também estudou na Escola Federal de São Paulo e veio para o cursinho. Entrou em Administração na FEA. Hoje trabalha com consultoria.

Você já tinha feito vestibular? No ano anterior, prestei direto do 3º ano.

ENTREVISTA

Victor Nogueira Correa

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CONTO

A nova Califórnia – Lima Barreto

Era suficiente para você? Para o começo é tranquilo. Se você vem de uma rotina em que não estudava nada e passa a estudar quatro horas por dia, todo dia, você sente um choque e às vezes precisa de um pouco de tempo para pegar o ritmo. Com o tempo você vai conseguindo pegar o ritmo do cursinho.

ARTIGO Pesquisadores brasileiros desenvolvem modelo sobre a origem da água na Terra

Olavo Bilac

Sim, principalmente quando tinha matéria atrasada. No início fazia o RPE [Reforço para Engenharia] no sábado de manhã. Depois que fui para o período da manhã, passei a fazer o RPE durante a semana. Eu fazia os simulados na sexta-feira, e no sábado geralmente os revisava. Rever simulado é estudo, só que mais leve. Achei que combinava muito mais com o fim de semana, porque eu começava a nova semana mais tranquilo.

Como ajudou o RPE? As aulas do RPE focavam mais em coisas específicas, que muita gente não vê normalmente, então você acaba passando um pouco à frente. Ou, às vezes, você aprende um jeito mais rápido, uma melhor resolução para problemas normais.

ENTRE PARÊNTESIS

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POIS É, POESIA

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Você estudava também nos fins de semana?

Jogo de palavras

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SERVIÇO DE VESTIBULAR

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Inscrições

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ENTREVISTA

Quais foram as principais dificuldades que você teve no ano passado? Acho que foram as matérias que eu nunca tinha visto, porque na escola, durante o Ensino Médio havia o princípio de que o Curso Técnico vem em primeiro lugar. Eu tive toda a matéria de Física no 1º ano porque o curso técnico precisava dessa parte. No 3º ano, quando mudei de escola, revi as matérias. Para mim, matérias como Matemática, Física e Química eram como se não tivessem existido. Sentia dificuldades – tinha de pegar tudo do zero. Coisas que eu nunca tinha visto antes.

O que você fez nas férias de julho?

Você já conhecia a Poli?

Dei uma revisada em uma coisa e outra, um pouquinho. Depois viajei. Eu pensei assim: “A partir de agosto vou ter de rachar, tenho de entrar zero bala para poder levar até o final do ano. Vou segurar agora um pouco e voltar 100%”.

Não conhecia. Gostei muito, bem grande, enorme, me perdi lá.

Você tinha alguma atividade que ajudava a relaxar? Para desestressar, eu dormia. No fim de semana, quando não estava estudando, estava dormindo. Às vezes eu saía para dar uma relaxada.

Quais foram as matérias que você não viu?

Quantos pontos você fez na 1ª fase da Fuvest?

Em todas as áreas, um pouquinho de cada.

Minha nota foi 70. Com o bônus, 79. O corte ficou em 60. Sem o bônus, acertei 21 questões a mais do que na primeira vez em que prestei Fuvest.

Como você treinava Redação ao longo do ano? Eu fazia as redações que eram indicadas. Fazia alguns temas do “Fique Esperto” e outros temas sobre os quais eu gostava de escrever. Fazia a Redação, via o que tinha feito de errado, o que podia melhorar, reescrevia e depois levava para o plantonista. Foi o que fiz em todas as provas. Eu escrevo rápido. Fiz a Redação, reli e refiz. A mesma Redação, mais bem escrita.

Nos simulados, quais eram os seus resultados? Geralmente era C mais, C menos às vezes. De vez em quando, B. Nunca tirava uma nota menor do que tinha tirado no simulado anterior. Eu achava isso ótimo porque as provas iam ficando mais difíceis e minha nota nunca piorava.

Como você via esses resultados? As notas dos simulados eram o reflexo do meu estudo. Ia adaptando minha rotina de estudo aos resultados nos simulados.

Qual foi a importância da prática no simulado? Essa prática me ajudou a achar a melhor maneira de estudar para as provas.

Você esperava esse resultado? Achei que meu desempenho foi muito bom. Eu esperava um pouco menos porque nos simulados minha média era 66, 65. Pensava: “Se a Fuvest for mais difícil, minha nota fica em 63”. Foi mais difícil, só que eu acabei indo melhor.

Mudou alguma coisa em seus estudos para a 2ª fase? Mudou o jeito de estudar. Para a 2ª fase não basta saber a resposta, você precisa escrever certo. Eu treinava essa parte de como escrever a questão, como justificar a questão.

Quais foram suas notas na 2ª fase? Eu tirei praticamente a mesma nota todos os dias. No primeiro dia, minha nota foi 53,13 – na Redação eu tirei 61,25, que achei uma nota boa. No segundo e no terceiro dia minhas notas foram iguais, 56,25. Fiquei surpreso, porque eu achava que tinha ido melhor no terceiro dia do que no segundo. Mas na somatória geral foi mais ou menos o que eu esperava.

Na escala de zero a 1 000, qual foi sua pontuação na Fuvest? No total, 681,5.

Você ia ao Plantão de Dúvidas? Principalmente em Matemática, porque eu sempre fazia os exercícios que os professores pediam, mas, a partir da Revisão, passei a ir um pouco além. Pegava os exercícios mais difíceis. E, às vezes, os exercícios eram muito difíceis. Então ia ao Plantão. Na área de Exatas tem vários jeitos de resolver um exercício, ficava tentando achar sempre o melhor. Especialmente, o mais rápido.

Como você se preparou para as questões sobre as obras literárias obrigatórias? Procurei ler algumas obras. Li os resumos e foquei principalmente nas palestras. Não consegui ir a todas as palestras, mas assisti a todas na Internet, mais de uma vez. Se tinha dificuldade, revia a palestra. Melhorou? Tudo bem. Não melhorou, procurava me aprofundar na obra.

Em que posição se classificou na carreira?

Do que você mais gostou até agora na Poli? Principalmente da parte da integração. Comecei mais tarde, pensei: “Vou ter um pouco de problema para entrar no ritmo, me integrar”. Só que tive muita sorte porque na Poli cada área tem seu Centro Acadêmico. Logo que entrei comecei a frequentar o Centro Acadêmico da Engenharia Naval e o pessoal é muito receptivo. Os veteranos me receberam muito bem, as pessoas da minha sala me ajudaram. Em uma semana já estava integrado, tranquilo.

Quais matérias você tem neste primeiro semestre? Cálculo, Álgebra Linear, Geometria, Introdução à Engenharia, Química Teórica e Laboratorial, Física 1 e Computação.

De qual matéria você está gostando mais até agora? A matéria de que eu mais gosto é Introdução à Engenharia, que faço junto com o pessoal de Engenharia de Produção e de Engenharia Mecânica.

O que você vê de mais interessante na Engenharia Naval? A parte da Naval mesmo, estaleiro, que é uma coisa que gostaria de fazer. E eles têm laboratórios de pesquisa que a gente visitou. Lá eles têm um simulador de navio e de porto, sensacional. Tem um tanque de ondas que é um dos mais avançados do mundo. Gostei muito do curso em geral. É muito amplo. Consigo ver vários lugares onde eu me encaixaria para trabalhar.

Você tem uma ideia da área que quer seguir? No princípio era consultoria. Depois eu gostei da parte de estaleiro. Agora imagino algo como consultoria para estaleiros.

O mercado de estaleiros no Brasil é bom? Agora, com o pré-sal, tem muito projeto para plataforma de petróleo. Mas eu pretendo trabalhar fora, Japão, Coreia do Sul. No Japão, o mercado naval é muito desenvolvido.

Fiquei na posição 815.

Que dicas você tem para o pessoal deste ano?

Como soube de sua aprovação para a Poli?

Primeiro, ir às aulas, estudar a matéria do dia, procurar não ficar com a matéria atrasada, fazer muitos exercícios. Segundo, usar o Plantão de Dúvidas, assistir às palestras, aproveitar tudo que o Etapa tem para oferecer, porque é um curso feito para ajudar a passar no vestibular. Eles estão ajudando você, aceite a ajuda.

Não passei na primeira lista, fui chamado na sétima. Enquanto esperava as listas, cheguei a começar as aulas aqui este ano. Numa sexta-feira, depois da aula, fui para casa, sabia que ia sair a lista, vi que fui aprovado. Foi na sexta-feira da primeira semana de aulas na USP.

Qual foi sua reação ao saber que era um calouro da USP? Eu quase não acreditei. Só caiu a ficha quando fiz a matrícula. Mas fiquei superfeliz, liguei para minha família inteira: “Gente, um pouquinho tarde, mas passei”.

Jornal do Vestibulando

Qual o significado do esforço que você fez no ano passado? Eu amadureci muito. O ano de cursinho me ensinou muitas coisas, me ensinou a ter um pouco mais de controle, a saber que, se quero uma coisa, eu tenho que correr atrás, que preciso me esforçar. A lição para mim foi nunca perder a esperança e estudar bastante. Vale a pena.

Jornal ETAPA, editado por Etapa Ensino e Cultura REDAÇÃO: Rua Vergueiro, 1 987 – CEP 04101-000 – Paraíso – São Paulo – SP JORNALISTA RESPONSÁVEL: Egle M. Gallian – M.T. 15343


CONTO

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A nova Califórnia Lima Barreto A

fonso Henriques de Lima Barreto nasceu a 13 de maio de 1881 no Rio de Janeiro, e faleceu ali a 1º de novembro de 1922. Um dos maiores romancistas urbanos, sem prejuízo da nota social dos seus livros, que só depois da sua morte alcançaram a merecida repercussão. Obras principais: Recordações do escrivão Isaías Caminha (1909), romance; Triste fim de Policarpo Quaresma (1915), romance; Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá (1919), romance; Histórias e sonhos (1920), contos; Clara dos Anjos, romance publicado inicialmente em folhetim, entre 1923 e 1924, além de outros livros e de vasta colaboração na imprensa.

I inguém sabia donde viera aquele homem. O agente do Correio pudera apenas informar que acudia ao nome de Raimundo Flamel, pois assim era subscrita a correspondência que recebia. E era grande. Quase diariamente, o carteiro lá ia a um dos extremos da cidade, onde morava o desconhecido, sopesando um maço alentado de cartas vindas do mundo inteiro, grossas revistas em línguas arrevesadas, livros, pacotes... Quando Fabrício, o pedreiro, voltou de um serviço em casa do novo habitante, todos na venda perguntaram-lhe que trabalho lhe tinha sido determinado. – Vou fazer um forno, disse o preto, na sala de jantar. Imaginem o espanto da pequena cidade de Tubiacanga, ao saber de tão extravagante construção: um forno na sala de jantar! E, pelos dias seguintes, Fabrício pôde contar que vira balões de vidros, facas sem corte, copos como os da farmácia – um rol de coisas esquisitas a se mostrarem pelas mesas e prateleiras como utensílios de uma bateria de cozinha em que o próprio diabo cozinhasse. O alarma se fez na vila. Para uns, os mais adiantados, era um fabricante de moeda falsa; para outros, os crentes e simples, um tipo que tinha parte com o tinhoso. Chico da Tirana, o carreiro, quando passava em frente da casa do homem misterioso, ao lado do carro a chiar, e olhava a chaminé da sala de jantar a fumegar, não deixava de persignar-se e rezar um “credo” em voz baixa; e, não fora a intervenção do farmacêutico, o subdelegado teria ido dar um cerco à casa daquele indivíduo suspeito, que inquietava a imaginação de toda uma população. Tomando em consideração as informações de Fabrício, o boticário Bastos concluíra que o desconhecido devia ser um sábio, um grande químico, refugiado ali para mais sossegadamente levar avante os seus trabalhos científicos. Homem formado e respeitado na cidade, vereador, médico também, porque o Dr. Jerônimo não gostava de receitar e se fizera sócio da farmácia para mais

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em paz viver, a opinião de Bastos levou tranquilidade a todas as consciências e fez com que a população cercasse de uma silenciosa admiração a pessoa do grande químico, que viera habitar a cidade. De tarde, se o viam a passear pela margem do Tubiacanga, sentando-se aqui a ali, olhando perdidamente as águas claras do riacho, cismando diante da penetrante melancolia do crepúsculo, todos se descobriam e não era raro que às “boas noites” acrescentassem “doutor”. E tocava muito o coração daquela gente a profunda simpatia com que ele tratava as crianças, a maneira pela qual as contemplava, parecendo apiedar-se de que elas tivessem nascido para sofrer e morrer. Na verdade, era de ver-se, sob a doçura suave da tarde, a bondade de Messias com que ele afagava aquelas crianças pretas, tão lisas de pele e tão tristes de modos, mergulhadas no seu cativeiro moral, e também as brancas, de pele baça, gretada e áspera, vivendo amparadas na necessária caquexia dos trópicos. Por vezes, vinha-lhe vontade de pensar qual a razão de ter Bernardin de Saint-Pierre gasto toda a sua ternura com Paulo e Virgínia e esquecer-se dos escravos que os cercavam... Em poucos dias a admiração pelo sábio era quase geral, e, não o era, unicamente porque havia alguém que não tinha em grande conta os méritos do novo habitante. Capitão Pelino, mestre-escola e redator da Gazeta de Tubiacanga, órgão local e filiado ao partido situacionista, embirrava com o sábio. “Vocês hão de ver, dizia ele, quem é esse tipo. Um caloteiro, um aventureiro ou talvez um ladrão fugido do Rio.” A sua opinião em nada se baseava, ou antes, baseava-se no seu oculto despeito vendo na terra um rival para a fama de sábio de que gozava. Não que Pelino fosse químico, longe disso; mas era sábio, era gramático. Ninguém escrevia em Tubiacanga que não levasse bordoada do Capitão Pelino, e mesmo quando se falava em algum homem notável lá do Rio, ele não deixava de dizer: “Não há dúvida! O homem tem talento,

mas escreve: um outro, de resto...” E contraía os lábios como se tivesse engolido alguma coisa amarga. Toda a vila de Tubiacanga acostumou-se a respeitar o solene Pelino, que corrigia e emendava as maiores glórias nacionais. Um sábio... Ao entardecer, depois de ler um pouco o Sotero, o Cândido de Figueiredo ou o Castro Lopes e de ter passado mais uma vez a tintura nos cabelos, o velho mestre-escola saía vagarosamente de casa, muito abotoado no seu paletó de brim mineiro, e encaminhava-se para a botica do Bastos a dar dois dedos de prosa. Conversar é um modo de dizer, porque era Pelino avaro de palavras, limitando-se tão somente a ouvir. Quando, porém, dos lábios de alguém escapava a menor incorreção de linguagem, intervinha e emendava. “Eu asseguro, dizia o agente do Correio, que”... Por aí, o mestre-escola intervinha com mansuetude evangélica: “Não diga asseguro, Sr. Bernardes; em português é garanto.” E a conversa continuava depois da emenda, para ser de novo interrompida por uma outra. Por essas e outras, houve muitos palestradores que se afastaram, mas Pelino, indiferente, seguro dos seus deveres, continuava o seu apostolado de vernaculismo. A chegada do sábio veio distraí-lo um pouco da sua missão. Todo o seu esforço voltava-se agora para combater aquele rival, que surgia tão inopinadamente. Foram vãs as suas palavras e a sua eloquência: não só Raimundo Flamel pagava em dia as suas contas, como era generoso – pai da pobreza – e o farmacêutico vira numa revista de específicos seu nome citado como químico de valor. II Havia já anos que o químico vivia em Tubiacanga, quando, uma bela manhã, Bastos o viu entrar pela botica adentro. O prazer do farmacêutico foi imenso. O sábio não se dignara até aí visitar fosse quem fosse, e, certo dia, quando o sacristão Orestes ousou penetrar em sua casa, pedindo-lhe uma esmola para a futura


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CONTO

festa de Nossa Senhora da Conceição, foi com visível enfado que ele o recebeu e atendeu. Vendo-o, Bastos saiu de detrás do balcão, correu a recebê-lo com a mais perfeita demonstração de quem sabia com quem tratava e foi quase em uma exclamação que disse: – Doutor, seja bem-vindo. O sábio pareceu não se surpreender nem com a demonstração de respeito do farmacêutico, nem com o tratamento universitário. Docemente olhou um instante a armação cheia de medicamentos e respondeu: – Desejava falar-lhe em particular, Sr. Bastos. O espanto do farmacêutico foi grande. Em que poderia ele ser útil ao homem, cujo nome corria mundo e de quem os jornais falavam com tão acendrado respeito? Seria dinheiro? Talvez... Um atraso no pagamento das rendas, quem sabe? E foi conduzindo o químico para o interior da casa, sob o olhar espantado do aprendiz, que, por um momento, deixou a mão descansar no gral, onde macerava uma tisana qualquer. Por fim, achou aos fundos, bem no fundo, o quartinho que lhe servia para exames médicos mais detidos ou para as pequenas operações, porque Bastos também operava. Sentaram-se e Flamel não tardou a expor: – Como o senhor deve saber, dedico-me à química, tenho mesmo um nome respeitado no mundo sábio... – Sei perfeitamente, doutor, eu mesmo tenho disso informado, aqui, aos meus amigos. – Obrigado. Pois bem: fiz uma grande descoberta, extraordinária... Envergonhado com o seu entusiasmo, o sábio fez uma pausa e depois continuou: – Uma descoberta... Mas não me convém, por ora, comunicar ao mundo sábio, compreende? – Perfeitamente. – Por isso precisava de três pessoas conceituadas que fossem testemunhas de uma experiência dela e me dessem um atestado em forma, para resguardar a prioridade da minha invenção... O senhor sabe: há acontecimentos imprevistos e... – Certamente! Não há dúvida! – Imagine o senhor que se trata de fazer ouro... – Como? O quê? fez Bastos arregalando os olhos. – Sim! ouro! disse com firmeza Flamel. – Como? – O senhor saberá, disse o químico secamente. A questão do momento são as pessoas que devem assistir à experiência,

não acha? – Com certeza, é preciso que os seus direitos fiquem resguardados, porquanto... – Uma delas, interrompeu o sábio, é o senhor; as outras duas o Sr. Bastos fará o favor de indicar-me. O boticário esteve um instante a pensar, passando em revista os seus conhecimentos, e ao fim de uns três minutos, perguntou: – O Coronel Bentes lhe serve? Conhece? – Não. O senhor sabe que não me dou com ninguém aqui. – Posso garantir-lhe que é homem sério, rico e muito discreto. – É religioso? Faço-lhe esta pergunta, acrescentou Flamel logo, porque temos que lidar com ossos de defunto e só estes servem... – Qual! É quase ateu... – Bem! aceito. E o outro? Bastos voltou a pensar e dessa vez demorou-se um pouco mais consultando a sua memória... Por fim falou: – Será o Tenente Carvalhaes, O Coletor, conhece? – Como já lhe disse... – É verdade. É homem de confiança, sério, mas... – Que é que tem? – É maçom. – Melhor. – E quando é? – Domingo. Domingo os três irão lá em casa assistir à experiência e espero que não me recusarão as suas firmas para autenticar a minha descoberta. – Está tratado. Domingo, conforme prometeram, as três pessoas respeitáveis de Tubiacanga foram à casa de Flamel, e, dias depois, misteriosamente, ele desaparecia sem deixar vestígio ou explicação para o seu desaparecimento. III Tubiacanga era uma pequena cidade de três ou quatro mil habitantes, muito pacífica, em cuja estação, de onde em onde, os expressos davam a honra de parar. Há cinco anos não se registrava nela um furto ou roubo. As portas e janelas só eram usadas... porque o Rio as usava. O último crime notado em seu pobre cadastro fora um assassinato por ocasião das eleições municipais; mas, atendendo que o assassino era do partido do governo, e a vítima da oposição, o acontecimento em nada alterou os hábitos da cidade, continuando ela a exportar o seu café e a mirar as suas casas baixas e acanhadas nas escassas águas do pequeno rio que a batizara. Mas, qual não foi a surpresa dos seus

habitantes quando se veio a verificar nela um dos mais repugnantes crimes de que se tem memória! Não se tratava de um esquartejamento ou parricídio; não era o assassinato de uma família inteira ou um assalto à Coletoria; era coisa pior, sacrílega aos olhos de todas as religiões e consciências; violavam-se as sepulturas do “Sossego”, do seu cemitério, do seu Campo Santo. Em começo, o coveiro julgou que fossem cães, mas, revistando bem o muro, não encontrou senão pequenos buracos. Fechou-os; foi inútil. No dia seguinte, um jazigo perpétuo arrombado e os ossos saqueados; no outro, um carneiro e uma sepultura rasa. Era gente ou demônio. O coveiro não quis mais continuar as pesquisas por sua conta, foi ao subdelegado e a notícia espalhou-se pela cidade. A indignação na cidade tomou todas as feições e todas as vontades. A religião da morte precede todas e certamente será a última a morrer nas consciências. Contra a profanação, clamaram os seus presbiterianos do lugar – os bíblias, como lhes chama o povo; clamava o agrimensor Nicolau, antigo cadete, e positivista do rito Teixeira Mendes; clamava o major Camanho, presidente da Loja Nova Esperança; clamavam o turco Miguel Abudalah, negociante de armarinho, e o cético Belmiro, antigo estudante, que vivia ao deus-dará, bebericando parati nas tavernas. A própria filha do engenheiro residente da Estrada de Ferro, que vivia desdenhando aquele lugarejo, sem notar sequer os suspiros dos apaixonados locais, sempre esperando que o expresso trouxesse um príncipe a desposá-la, – a linda e desdenhosa Cora não pôde deixar de compartilhar da indignação e do horror que tal ato provocara em todos do lugarejo. Que tinha ela com o túmulo de antigos escravos e humildes roceiros? Em que podia interessar aos seus lindos olhos pardos o destino de tão humildes ossos? Porventura o furto deles perturbaria o seu sonho de fazer radiar a beleza de sua boca, dos seus olhos e do seu busto nas calçadas do Rio? De certo, não; mas era a Morte, a Morte implacável e onipotente, de quem ela também se sentia escrava, e que não deixaria um dia de levar a sua linda caveirinha para a paz eterna do cemitério. Aí Cora queria os seus ossos sossegados, quietos e comodamente descansando num caixão bem feito e num túmulo seguro, depois de ter sido a sua carne encanto e prazer dos vermes... O mais indignado, porém, era Pelino. O professor deitara artigo de fundo, imprecando, bramindo, gritando: “Na história do crime, dizia ele, já bastante rica


CONTO de fatos repugnantes, como sejam: o esquartejamento de Maria de Macedo, o estrangulamento dos irmãos Fuoco, não se registra um que o seja tanto como o saque às sepulturas do “Sossego”. E a vila vivia em sobressalto. Nas faces não se lia mais paz; os negócios estavam paralisados; os namoros suspensos. Dias e dias por sobre as casas pairavam nuvens negras e, à noite, todos ouviam ruídos, gemidos, barulhos sobrenaturais... Parecia que os mortos pediam vingança... O saque, porém, continuava. Toda noite eram duas, três sepulturas abertas e esvaziadas de seu fúnebre conteúdo. Toda a população resolveu ir em massa guardar os ossos dos seus maiores. Foram cedo, mas, em breve, cedendo à fadiga e ao sono, retirou-se um depois outro e, pela madrugada, já não havia nenhum vigilante. Ainda nesse dia o coveiro verificou que duas sepulturas tinham sido abertas e os ossos levados para destino misterioso. Organizaram então uma guarda. Dez homens decididos juraram perante o subdelegado vigiar durante a noite a mansão dos mortos. Nada houve de anormal na primeira noite, na segunda e na terceira; mas, na quarta, quando os vigias já se dispunham a cochilar, um deles julgou lobrigar um vulto esgueirando-se por entre a quadra dos carneiros. Correram e conseguiram apanhar dois dos vampiros. A raiva e a indignação até aí sopitadas no ânimo deles, não se contiveram mais e deram tanta bordoada nos macabros ladrões, que os deixaram estendidos como mortos. A notícia correu logo de casa em casa e, quando de manhã se tratou de estabelecer a identidade dos dois malfeitores, foi diante da população inteira que foram neles reconhecidos o Coletor Carvalhaes e o Coronel Bentes, rico fazendeiro e Presidente da Câmara. Este último ainda vivia e, a perguntas repetidas que lhe fizeram, pôde dizer que juntava os ossos para fazer ouro e o companheiro que fugira era o farmacêutico. Houve espanto e houve esperanças. Como fazer ouro com ossos? Seria possível? Mas aquele homem rico, respeitado, como desceria ao papel de ladrão de mortos se a coisa não fosse verdade! Se fosse possível fazer, se daqueles míseros despojos fúnebres se pudesse fazer alguns contos de réis, como não seria bom para todos eles! O carteiro, cujo velho sonho era a formatura do filho, viu logo ali meios de consegui-la. Castrioto, o escrivão do juiz de paz, que no ano passado conseguiu comprar uma casa, mas ainda não a pudera cercar, pensou no muro, que lhe

devia proteger a horta e a criação. Pelos olhos do sitiante Marques que andava desde anos atrapalhado para arranjar um pasto, passou logo o prado verde do Costa, onde os seus bois engordariam e ganhariam forças... Às necessidades de cada um, aqueles ossos que eram ouro, viriam atender, satisfazer e felicitá-los; e aqueles dois ou três milhares de pessoas, homens, crianças, mulheres, moços e velhos, como se fossem uma só pessoa, correram à casa do farmacêutico. A custo, o subdelegado pôde impedir que varejassem a botica e conseguir que ficassem na praça à espera do homem, que tinha o segredo de todo um Potosi. Ele não tardou a aparecer. Trepado a uma cadeira, tendo na mão uma pequena barra de ouro que reluzia ao forte sol da manhã, Bastos pediu graça, prometendo que ensinaria o segredo, se lhe poupassem a vida. Queremos já sabê-lo, gritaram. Ele então explicou que era preciso redigir a receita, indicar a marcha do processo, os reativos – trabalho longo que só poderia ser entregue impresso no dia seguinte. Houve um murmúrio, alguns chegaram a gritar, mas o subdelegado falou e responsabilizou-se pelo resultado. Docilmente, com aquela doçura particular às multidões furiosas, cada qual se encaminhou para casa, tendo na cabeça um único pensamento: arranjar imediatamente a maior porção de ossos de defunto que pudesse. O sucesso chegou à casa do engenheiro residente da Estrada de Ferro. Ao jantar, não se falou em outra coisa. O doutor concatenou o que ainda sabia do seu curso, e afirmou que era impossível. Isto era alquimia, coisa morta: ouro é ouro, corpo simples, e osso é osso, um composto, fosfato de cal. Pensar que se podia fazer de uma coisa outra era besteira. Cora aproveitou o caso para rir-se petropolimente da credulidade daqueles botocudos; mas sua mãe, D. Emília, tinha fé que a coisa era possível. À noite, porém, o doutor, percebendo que a mulher dormia, saltou a janela e correu em direitura ao cemitério; Cora, de pés nus, com as chinelas nas mãos, procurou a criada para irem juntas à colheita de ossos. Não a encontrou, foi sozinha; e D. Emília, vendo-se só, adivinhou o passeio e lá foi também. E assim aconteceu na cidade inteira. O pai, sem dizer nada ao filho, saía; a mulher, julgando enganar o marido, saía; os filhos, as filhas, os criados – toda a população, sob a luz das estrelas assombradas, correu ao satânico rendez-vous no “Sossego”. E ninguém faltou. O mais rico e o mais pobre lá estavam. Era o turco Miguel, era o professor Pelino, o Dr. Jerônimo, o major Camanho,

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Cora, a linda e a deslumbrante Cora, com os seus lindos dedos de alabastro, revolvia a sânie das sepulturas, arrancava as carnes ainda podres agarradas tenazmente aos ossos e deles enchia o seu regaço até ali inútil. Era o dote que colhia e as suas narinas que se abriam em asas rosadas e quase transparentes, não sentiam o fétido dos tecidos apodrecidos em lama fedorenta... A desinteligência não tardou a surgir; os mortos eram poucos e não bastavam para satisfazer a fome dos vivos. Houve facadas, tiros, cachações. Pelino esfaqueou o turco por causa de um fêmur e mesmo entre as famílias questões surgiram. Unicamente, o carteiro e o filho não brigaram. Andaram juntos e de acordo e houve uma vez que o pequeno, uma esperta criança de onze anos, até aconselhou ao pai: “Papai, vamos onde está mamãe; ela era tão gorda...” De manhã, o cemitério tinha mais mortos do que aqueles que recebera em trinta anos de existência. Uma única pessoa lá não estivera, não matara nem profanara sepulturas: fora o bêbedo Belmiro. Entrando numa venda, meio aberta, e nela não encontrando ninguém, enchera uma garrafa de parati e se deixara ficar a beber sentado na margem do Tubiacanga, vendo escorrer mansamente as suas águas sobre o áspero leito de granito – ambos, ele e o rio, indiferentes ao que já viram, ao que viam, mesmo à fuga do farmacêutico, com o seu Potosi e o seu segredo, sob o dossel eterno das estrelas.

VOCABULÁRIO acendrado: apurado, acrisolado. alabastro: brancura, alvura. alentado: grande, volumoso. apostolado e vernaculismo: missão evangelizadora de linguagem pura. arrevesadas: confusas, obscuras, às avessas. botocudos: selvagens, caipiras. cachações: empurrões, pancadas na parte posterior do pescoço. caquexia: estado de desnutrição profunda. carneiros: sepulturas. concatenou: relacionou, encadeou. dossel: cobertura de leito, sobrecéu. gral: prato, travessa. gretada: pele com pequenas rachaduras. inopinadamente: inesperadamente. lobrigar: ver a custo, ver ao longe. parricídio: crime praticado por pessoa que matou o pai, mãe ou qualquer dos ascendentes. persignar-se: benzer-se fazendo o sinal da cruz. Potosi: fonte de riqueza. rendez-vous: local de encontro. sânie: podridão. sopesando: sustentando com a mão. sopitadas: abrandadas, acalmadas, adormecidas. tinhoso: diabo. tisana: medicamento feito com ervas medicinais. varejassem: investissem, atacassem.


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ARTIGO

Pesquisadores brasileiros desenvolvem modelo sobre a origem da água na Terra Elton Alisson

P

esquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Guaratinguetá, em colaboração com colegas da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e do Instituto de Astrobiologia da agência espacial norte-americana (Nasa), desenvolveram um modelo mais preciso para determinar a origem da água e da vida na Terra. Realizado no âmbito do projeto de pesquisa “Dinâmica orbital de pequenos objetos”, apoiado pela FAPESP, o modelo foi descrito em um artigo publicado no The Astrophysical Journal, da Sociedade Americana de Astronomia, e apresentado nesta segunda-feira (24/02) no UK-Brazil-Chile Frontiers of Science. Organizado pela Royal Society, do Reino Unido, em conjunto com a FAPESP e as Academias Brasileira e Chilena de Ciências, o evento ocorre até quarta-feira (26/02) em uma propriedade da Royal Society em Chicheley, vilarejo do condado de Buckinghamshire, no sul da Inglaterra. E tem como objetivo fomentar a colaboração científica e interdisciplinar entre jovens pesquisadores brasileiros, chilenos e do Reino Unido em áreas de fronteira do conhecimento. “Desenvolvemos um modelo em que analisamos todas as possíveis fontes espaciais de água e estipulamos qual seria a provável contribuição de cada uma delas na quantidade total de água existente hoje na Terra”, disse à Agência FAPESP Othon Cabo Winter, pesquisador do Grupo de Dinâmica Orbital & Planetologia da Unesp de Guaratinguetá e coordenador do estudo. De acordo com Winter, até recentemente se acreditava que os cometas, ao colidir com a Terra durante a formação do Sistema Solar, haviam trazido a maior parte da água existente hoje no planeta. Simulações computacionais da quantidade de água que esses objetos celestes compostos de gelo podem ter fornecido para a Terra – baseadas em medições da quantidade de deutério (o hidrogênio mais pesado) da água deles – revelaram, no entanto, que os cometas não foram as maiores fontes. E que eles não poderiam ter contribuído com uma fração tão significativa de água para o planeta como se estimava, explicou Winter. “Pelas simulações, a contribuição dos cometas no fornecimento de água para a Terra seria de, no máximo, 30%”, disse o pesquisador. “Mais do que isso é pouco provável”, afirmou Winter. No início dos anos 2000, segundo o pesquisador, foram publicados estudos internacionais que sugeriram que, além dos cometas, outros objetos planetesimais (que deram origem aos planetas), como asteroides carbonáceos – o tipo mais abundante de asteroides no Sistema Solar –, também poderiam ter água e fornecê-la para a Terra por meio da interação com planetas e embriões planetários durante a formação do Sistema Solar. A hipótese foi confirmada nos últimos anos por observações de asteroides feitas a partir da Terra e de meteoritos (pedaços de asteroides) que entraram na atmosfera terrestre. Outras possíveis fontes de água da Terra, também propostas nos últimos anos, são grãos de silicato (poeira) da nebulosa solar (nuvem de gás e poeira do cosmos relacionada diretamente com a origem do Sistema Solar), que encapsularam moléculas de água durante o estágio inicial de formação do Sistema Solar. Essa “nova” fonte, no entanto, ainda não tinha sido validada e incluída nos modelos de distribuição de água por meio de corpos celestes primordiais, como os asteroides e os cometas. “Incluímos esses grãos de silicato da nebulosa solar, com os cometas e asteroides, no modelo que desenvolvemos e avaliamos qual a contribuição de

Importância de corpos menores

última missão espacial para a exploração de asteroides, realizada pela agência espacial japonesa (Jaxa, na sigla em inglês) com a sonda Hayabusa para tirar amostras do asteroide Itokawa, resultou em diversos artigos em revistas como a Science e a Nature. O país oriental planeja lançar este ano a sonda espacial Hayabusa-2, para extrair amostras do subsolo do asteroide “1999JU3” em 2018 e trazê-las para a Terra em 2020. Por sua vez a agência espacial europeia (ESA) mantém no espaço a sonda Rosetta, que deve ser o primeiro objeto a pousar em um cometa, o 67P/ Churyumov-Gerasimenko. E a Nasa também pretende realizar uma missão para captura de asteroide próximo da Terra. Já o Brasil pretende desenvolver e lançar em 2017 a sonda espacial Áster, para orbitar em 2019 um asteroide triplo, o 2001-SN263, formado por um objeto central, com 2,8 quilômetros de diâmetro, e outros dois menores com 1,1 quilômetro e 400 metros de diâmetro. “Nunca foi realizada uma missão para um sistema de asteroides desse tipo”, disse Winter. “Todas as missões foram feitas para observar um único asteroide”, afirmou. Ao explorar asteroides e cometas, em missões como essas, é possível explicar melhor as condições de formação da Terra e a aparição da vida no planeta, explicou o pesquisador. “Como são corpos celestes primordiais, os cometas e os asteroides preservam informações sobre como era o Sistema Solar durante seu estágio de formação”, disse Winter. Um dos desafios para disponibilizar esses preciosos materiais geológicos para estudos científicos, contudo, é não apenas coletar, mas realizar uma curadoria cuidadosa das amostras, assegurando a gravação e o arquivamento de diversas informações relacionados a cada uma das espécimes, tais como as circunstâncias nas quais foram coletadas e os resultados de análises, destacou Caroline Smith, curadora da coleção de meteoritos do Museu de História Natural de Londres, na palestra que proferiu após Winter. De acordo com Smith, os meteoritos começaram a ser estudados cientificamente no final do século XVIII por cientistas como o físico alemão Ernest Chladni (1756-1827). O Museu Britânico começou a sua coleção de meteoritos 50 anos após ser fundado, em 1753, contou Smith. Desde então, com as amostras colhidas por missões realizadas por agências espaciais de diversos países, as coleções de instituições, como a do Museu de História Natural de Londres, têm se expandido muito rapidamente. “Em 1961 havia, aproximadamente, 2 100 meteoritos conhecidos, dos quais 40% possuíam o registro do momento e do lugar onde caíram”, disse Smith. “Em contrapartida, hoje, há 48 mil meteoritos conhecidos e apenas 2,4% têm o registro da queda”, contou Smith. O número cada vez maior de amostras de meteoritos coletadas e os estudos científicos realizados a partir deles têm imposto grandes desafios às equipes de curadoria desses objetos dos museus, avaliou a pesquisadora. “Alguns dos nossos atuais dilemas é manter o acesso à coleção e, ao mesmo tempo, preservar os meteoritos para as futuras gerações”, afirmou.

Winter destacou em sua palestra na Inglaterra a importância da exploração de corpos menores, como asteroides e cometas, pelas missões espaciais. A

Extraído de: Agência FAPESP – Divulgando a cultura científica, fev./2014..

cada uma dessas fontes para a quantidade de água que chegou à Terra”, detalhou Winter.

Simulações computacionais Segundo Winter, a água de cada uma dessas possíveis fontes para a Terra possui uma quantidade diferente de deutério – que pode ser utilizado como um indicador de origem da água. O pesquisador e seus colaboradores conseguiram estimar a contribuição de cada um desses objetos celestes com base nesse “certificado de origem” da água encontrada na Terra, por meio de simulações computacionais. Além disso, conseguiram determinar qual o volume de água que cada uma dessas fontes forneceu e em que momento fizeram isso durante a formação do planeta terrestre, uma vez que a contribuição de cada uma delas foi feita em períodos diferentes.

Resultados do estudo foram apresentados no encontro científico UK-Brazil-Chile Frontiers of Science, realizado no Reino Unido pela Royal Society, FAPESP e pelas academias Brasileira e Chilena de Ciências (Nasa). “A maior parte veio dos asteroides, que deram uma contribuição de mais de 50%. Uma pequena parcela veio da nebulosa solar, com 20% de participação, e os 30% restantes dos cometas”, detalhou Winter. Os resultados das simulações feitas pelos pesquisadores também indicaram que grandes planetas, com grandes quantidades de água, como a Terra, podem ter sido formados entre 0,5 e 1,5 unidade astronômica – entre 75 milhões e 225 milhões de quilômetros de distância do Sol. “Essa faixa de distância do Sol, que nós chamamos de ‘zona habitável’, permite ter água no estado líquido”, disse Winter. “Fora dessa região é muito frio e a água ficaria congelada. Já mais próximo do Sol é muito quente e a água seria vaporizada”, explicou. As simulações também sugeriram que o modelo desenvolvido parece mais eficiente para determinar a quantidade e o momento da entrega de água para a Terra por esses corpos planetários do que modelos que indicam que a água foi transferida meramente por meio de meras colisões entre corpos celestes em início de formação (protoplanetários), afirmou Winter. “As informações parciais da possível contribuição de cada uma dessas fontes já existiam. Mas, até então, não tinham sido reunidas em um único modelo e não havia sido determinado quando e quanto contribuíram para a formação da massa de água na Terra”, disse.


POIS É, POESIA

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Olavo Bilac (1865-1918) A um poeta

Longe do estéril turbilhão da rua, Beneditino, escreve! No aconchego Do claustro, na paciência e no sossego, Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua! Mas que na forma se disfarce o [emprego Do esforço; e a trama viva se construa De tal modo, que a imagem fique nua, Rica mas sóbria, como um templo [grego. Não se mostre na fábrica o suplício Do mestre. E, natural, o efeito agrade, Sem lembrar os andaimes do edifício: Porque a Beleza, gêmea da Verdade, Arte pura, inimiga do artifício, É a força e a graça na simplicidade.

Mas, sobre essa volúpia, erra a [tristeza Dos desertos, das matas e do oceano: Bárbara poracé, banzo africano, E soluços de trova portuguesa. És samba e jongo, chiba e fado, cujos Acordes são desejos e orfandades De selvagens, cativos e marujos: E em nostalgias e paixões consistes. Lasciva dor, beijo de três saudades, Flor amorosa de três raças tristes. Crepúsculo na mata

Na tarde tropical, arfa e pesa a [atmosfera. A vida, na floresta abafada e sonora, Úmida exalação de aromas evapora, E no sangue, na seiva e no húmus [acelera.

Milagre

Depois de tantos anos, frente a frente, Um encontro... O fantasma do meu [sonho! E, de cabelos brancos, mudamente, Quedamos frios, num olhar tristonho. Velhos!... Mas, quando, ansioso, de [repente, Nas suas mãos as minhas palmas [ponho, Ressurge a nossa primavera ardente, Na terra em bênçãos, sob um sol [risonho: Felizes, num prestígio, estremecemos; Deliramos, na luz que nos invade Dos redivivos êxtases supremos; E fulgimos, volvendo à mocidade, Aureolados dos beijos que tivemos, No divino milagre da saudade.

Tudo, entre sombras, – o ar e o chão, [a fauna e a flora, A erva e o pássaro, a pedra e o tronco, [os ninhos e a hera, A água e o réptil, a folha e o inseto, a [flor e a fera, – Tudo vozeia e estala em estos de [pletora. O amor apresta o gozo e o sacrifício [na ara: Guinchos, berros, zenir, silvar, ululos de [ira, Ruflos, chilros, frufrus, balidos de [ternura... Súbito, a excitação declina, a febre para: E misteriosamente, em gemido que [expira, Um surdo beijo morno alquebra a [mata escura...

Amo-te, hora hesitante em que se [preludia O adágio vesperal, – tumba que te [recamas De luto e de esplendor, de crepes e [auriflamas, Moribunda que ris sobre a própria [agonia! Amo-te, ó tarde triste, ó tarde [augusta, que, entre Os primeiros clarões das estrelas, no [ventre, Sob os véus do mistério e da sombra [orvalhada, Trazes a palpitar, como um fruto do [outono, A noite, alma nutriz da volúpia e do [sono, Perpetuação da vida e iniciação do [nada.... Fogo-fátuo

Cabelos brancos! dai-me, enfim, a [calma A esta tortura de homem e de artista: Desdém pelo que encerra a minha [palma. E ambição pelo mais que não exista; Esta febre, que o espírito me encalma E logo me enregela; esta conquista De ideias, ao nascer, morrendo na [alma, De mundos, ao raiar, murchando à [vista: Esta melancolia sem remédio, Saudade sem razão, louca esperança Ardendo em choros e findando em [tédio;

Hino à tarde Música brasileira

Tens, às vezes, o fogo soberano Do amor: encerras na cadência, acesa Em que requebros e encantos de [impureza, Todo o feitiço do pecado humano.

Glória jovem do sol no berço de [ouro em chamas, Alva! natal da luz, primavera do dia, Não te amo! nem a ti, canícula bravia, Que a ti mesma te estruis no fogo [que derramas!

Esta ansiedade absurda, esta corrida Para fugir o que o meu sonho [alcança, Para querer o que não há na vida! Extraído de: Tarde, Livraria Francisco Alves, 1935.


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(ENTRE PARÊNTESIS)

Jogo de palavras A partir da palavra inicial MOLE você deve chegar à palavra final NETA trocando, em cada linha, uma única letra. Todas as novas palavras devem ter sentido dicionarizado.

RESPOSTA MOLE MOLA SOLA SOPA COPA COTA COLA BELO SELO SELA TELA VELA VETA NETA

BOLA

BELA

SERVIÇO DE VESTIBULAR Centro Universitário Belas Artes de São Paulo (Belas Artes) Período de inscrição: até 26 de maio de 2014. Presencial ou via Internet. Endereço da faculdade: Rua Dr. Álvaro Alvim, 90 – CEP 04018-010 – Vila Mariana – São Paulo – SP – Fone: (11) 5576-7300. Requisito: taxa de R$ 80,00. Cursos e vagas: consultar site www.belasartes.br/vestibular Exame: dia 31 de maio de 2014.

Faculdade de Administração, Propaganda e Marketing (ESAMC-SP) Período de inscrição: até 28 de maio de 2014. Somente via Internet. Endereço da faculdade: Rua Sabará, 524 – CEP 01239-010 – Consolação – São Paulo – SP – Fone: (11) 2424-3860. Requisito: taxa de R$ 51,00. Cursos e vagas: consultar site www.esamc.br Exame: dia 1º de junho de 2014.

Universidade Presbiteriana Mackenzie (Mack) Período de inscrição: até 19 de maio de 2014. Somente via Internet. Endereço da faculdade: Rua da Consolação, 930 – CEP 01302-907 – Consolação – São Paulo – SP – Fone: (11) 2114-8000. Requisito: taxa de R$ 85,00. Cursos e vagas: consultar site www.mackenzie.br Exame: dia 2 de junho de 2014.

Escola Superior de Engenharia e Gestão (Eseg) Período de inscrição: até 30 de maio de 2014. Somente via Internet. Endereço da faculdade: Rua Vergueiro, 1 951 – CEP 04101-100 – Vila Mariana – São Paulo – SP – Fone: 0800-723-23-33. Requisito: não há taxa de inscrição. Cursos e vagas: consultar site www.eseg.edu.br Exame: dia 31 de maio de 2014.

Fundação Educacional Inaciana “Pe. Sabóia de Medeiro” (FEI) Período de inscrição: até 30 de maio de 2014. Presencial ou via Internet. Endereço da facul-

dade: Av. Humberto de Alencar Castelo Branco, 3 972 – CEP 09850-901 – Assunção – São Bernardo do Campo – SP – Fone: (11) 4353-2900. Requisito: taxa de R$ 110,00. Cursos e vagas: consultar site www.fei.edu.br Exames: dias 7 e 8 de junho de 2014.

Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG) Período de inscrição: até 8 de maio de 2014. Somente via Internet. Endereço da faculdade: Av. Amazonas, 5 253 – CEP 30421-169 – Nova Suiça – Belo Horizonte – MG – Fone: (31) 3319-7000. Requisito: taxa de R$ 90,00. Cursos e vagas: consultar site www.copeve.cefetmg.br Exames: dia 31 de maio e 1º de junho de 2014.

Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG) Período de inscrição: até 9 de maio de 2014. Somente via Internet. Endereço da faculdade: Rua Gabriel Passos, 259 – CEP 39400-112 – Centro – Montes Claros – MG – Fone: (38) 3201-3050. Requisito: taxa de R$ 25,00. Cursos e vagas: consultar site www.ifnmg.edu.br/vestibular Exame: dia 25 de maio de 2014.

Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) Período de inscrição: até 15 de maio de 2014. Somente via Internet. Endereço da faculdade: Av. Carlos Cavalcanti, 4 748 – CEP 84030-900 – Ponta Grossa – PR – Fone: (42) 3220-3718. Requisito: taxa de R$ 100,00. Cursos e vagas: consultar site www.cps.uepg.br Exames: dias 27 e 28 de julho de 2014. Leituras obrigatórias: • Recordações do escrivão Isaías Caminha – Lima Barreto. • O aprendiz de feiticeiro – Mário Quintana. • O grande mentecapto – Fernando Sabino. • Quase memória, quase romance – Carlos Heitor Cony. • Amor e outros contos – Luiz Vilela.

Faculdade de Tecnologia Termomecânica (TM) Período de inscrição: até 16 de maio de 2014. Somente via Internet. Endereço da faculdade: Estrada dos Alvarengas, 4 001 – CEP 09850-550 – Bairro Alvarenga – São Bernardo do Campo – SP – Fone: (11) 4359-6565. Requisito: taxa de R$ 20,00. Cursos e vagas: consultar site www.consesp.com.br Exame: dia 1º de junho de 2014.

Universidade de Caxias do Sul (UCS) Período de inscrição: até 20 de maio de 2014. Somente via Internet. Endereço da faculdade: Rua Francisco Getúlio Vargas, 1 130 – CEP 95070-560 – Petrópolis – Caxias do Sul – RS – Fone: (54) 3218-2100. Requisito: taxa de R$ 60,00. Cursos e vagas: consultar site www.ucs.br Exame: dia 8 de junho de 2014.

Universidade Metodista de São Paulo (Umesp) Período de inscrição: até 29 de maio de 2014. Presencial ou via Internet. Endereço da faculdade: Rua Alfeu Tavares, 149 – CEP 09641-000 – Vila América – São Bernardo do Campo – SP – Fone: (11) 4366-5000. Requisito: taxa de R$ 80,00. Cursos e vagas: consultar site www.metodista.br Exame: dia 1º de junho de 2014.

Universidade Estadual Paulista (Unesp) Período de inscrição: até 8 de maio de 2014. Somente via Internet. Endereço da faculdade: Rua Quirino de Andrade, 215 – CEP 01049-010 – Centro – São Paulo – SP – Fone: (11) 5627-0245/7036. Requisito: taxa de R$ 130,00. Cursos e vagas: consultar site www.unesp.com.br Exames: • 1ª fase – dia 25 de maio de 2014. • 2ª fase – dias 21 e 22 de junho de 2014.


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