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Jornal do Colégio SEGUNDA QUINZENA DE FEVEREIRO DE 2014 – NÚMERO 566
ENTREVISTA
“Uma coisa que me ajudou muito para a faculdade foi fazer prova todo dia aqui.” Mikail Campos Freitas entrou no IME-USP em 2008, formou-se em Ciência da Computação e há pouco mais de um ano trabalha em uma startup, como programador. Em seus planos inclui fazer Astrofísica: “Para ser mais preciso, fazer Astronomia e depois uma pós-graduação em Física”. Pretende também fazer pós em Computação, por ter muito interesse em inteligência artificial.
Mikail Campos Freitas
JC – Como você veio estudar no Etapa? Mikail – Minha mãe fez cursinho no Etapa, e meu primo, oito anos mais velho do que eu, estudou numa escola meio fraca para vestibular. Queria também Ciência da Computação. Não passou nem na 1ª fase. Fez cursinho no Etapa e entrou com folga. O pessoal da minha família disse: “O Etapa parece muito bom. Faz o colégio lá”. Vim para cá em 2005.
Computação e Programação. Em linhas gerais, muito parecido com Engenharia Elétrica. Era mais para quem se interessava por hardware, circuito, esse tipo de coisa. Eu queria mais programar mesmo, fazer programas. Ciência da Computação tem um caráter bem teórico, muita Matemática, muita mesmo, mas é lá que você vai aprender a programar, fazer sistemas.
Além da Fuvest, você prestou outros vestibulares? Prestei UFSCar e Unicamp, também para Ciência da Computação.
Que tipo de reforços do colégio você seguia? Eu fazia aulas para olimpíadas desde o 1º ano. Isso fez um diferencial muito grande no vestibular e na faculdade. Fiz também aula de Cálculo, nem cai no vestibular, mas eu achava legal.
Com relação à carreira, seu primo influiu em sua escolha? Sempre gostei de Exatas, quando pequeno queria fazer Física. Eu gosto de Computação. Só não sabia se era Engenharia ou Ciência. Até o começo do 3º ano ainda não tinha decidido. Fui falar com o professor Edmilson para saber qual é a diferença entre Ciência da Computação e Engenharia da Computação, e ele explicou. Então decidi que não era Engenharia o que eu queria e me foquei em Ciência da Computação. Qual a diferença entre as duas carreiras que levou você a preferir Ciência da Computação? Engenharia da Computação, pelo menos na Poli, é basicamente um curso de Engenharia Elétrica com ênfase em ENTREVISTA
Carreira – Ciência da Computação
Você chegou a pensar num plano B se não passasse na Fuvest? O meu plano B era fazer cursinho aqui. Como foi seu início na USP? No IME foi tudo muito tranquilo. Tanto na relação com as novas pessoas, porque aqui eu conheci muito mais gente do que lá, como nas matérias. Cálculo 1 eu já tinha estudado aqui, foi bem mais fácil. Eu fazia olimpíadas de Informática, cheguei na faculdade sabendo programar. A Mate-
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CONTO
Entre santos – Machado de Assis
No 3º ano você mudou alguma coisa em sua forma de estudo? No 3º ano fiz simulado toda semana.
Onça-pintada pode desaparecer da Mata Atlântica
ENTRE PARÊNTESIS
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SOBRE AS PALAVRAS
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Pode tirar o cavalo da chuva
Do baile
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ESPECIAL
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Arte e cultura
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ENTREVISTA
mática aqui do colégio é bem forte. Foi bem tranquilo meu começo.
Que outras atividades você fazia aqui no Etapa? Além das aulas para olimpíadas de Física, aqui eu ia às aulas para olimpíadas de Informática e de Química. Você participava das olimpíadas ou só das aulas? Participava das olimpíadas. Acabei conseguindo medalhas em Física e Informática, e menção honrosa no Torneio das Cidades, uma competição de Matemática. Em linhas gerais, o que você viu em cada ano do curso no IME? No 1º ano, basicamente, tem Fundamentos de Matemática e Fundamentos de Programação. Matemática, no caso, seria Cálculo e Álgebra. O 2º ano é praticamente a continuação dos Fundamentos, coisas mais elaboradas. Em Programação você começa a pôr mais a mão na massa. Estatística também já tem uma matéria mais avançada. A partir do 3º ano é mais específico? Sim. Uma característica do IME de que eu gosto muito é que o número de matérias obrigatórias do 3º ano diminui em relação ao 2º, e do 4º diminui em relação ao 3º. No 4º ano só tem duas obrigatórias, fora o TCC [Trabalho de Conclusão de Curso]. Entram as optativas? Isso. Você tem de fazer oito optativas eletivas. Você escolhe. Fiz Criptografia, Inteligência Artificial, Computação Gráfica, Métodos ágeis de desenvolvimento de software. O TCC é individual ou em grupo? Pode ser em grupo. No meu caso foi individual. Qual foi o tema? O meu tema foi baseado em lógica. Chama-se O problema da satisfatibilidade probabilística. O TCC tem de ser algo sério, tem de ser bom, tem de ser formal. Vai ter uma banca de professores lendo, orientador criticando. Eu me preocupava com isso. Você fez estágios durante o curso? O estágio é obrigatório? Não, não é. Fiz no 3º ano, em setembro. Não foi muito legal, era uma empresa muito no começo e o estágio estava me atrapalhando para estudar. Saí depois de três semanas. Eu não queria ser reprovado. De qual ano você mais gostou? Acho que do 4º ano, porque é quando tem o menor número de obrigatórias e, ao mesmo tempo, você já tem uma base muito boa em tudo que precisa para se formar em Ciência da Computação. Deu para fazer eletivas junto com o pessoal da pós-graduação. No IME, muitas das eletivas são junto com a pós. Fiz várias matérias assim, é bem mais elaborado e complexo, pude me envolver bastante, me ajudou muito com o TCC também.
É normal no IME fazer matérias eletivas junto com o pessoal da pós-graduação? É. Eles consideram assim: os anos anteriores são mais pesados justamente porque, na verdade, “a gente quer formar vocês em três anos. E deixar o 4º para vocês aprenderem coisas extras”. Como é que você descreve cada ano do curso? No meu caso, o 1º ano foi fácil, por causa do colégio. No 2º ano é quando você percebe que as coisas são difíceis. No 3º ano você vê que está virando gente grande. Foi quando vi que estava aprendendo muita coisa na faculdade. O 4º ano foi a consolidação de tudo isso. Ao sair da faculdade, eu me considerava um profissional, pronto para o mercado. Qual foi sua maior preocupação no último ano? Mercado de trabalho? Devido ao apoio da minha família, eu tive a sorte de não precisar trabalhar logo que saí da faculdade. Os meus pais apoiavam isso. “Não precisa correr, pegar qualquer coisa que apareça”. Eu me formei em dezembro de 2012. Mesmo não tendo pressa, em outubro eu tinha feito entrevistas em dois lugares. No fim daquele mês a Microsoft foi ao IME, e em seu processo de recrutamento, basicamente, você só tinha de se inscrever e mandar seu currículo. Considero que fui chamado para o processo de seleção da Microsoft por causa das olimpíadas que fiz aqui e um projeto pessoal que comecei no meio do último ano, em julho, e depois continuei um pouco em dezembro, que era fazer um joguinho com coisas mais elaboradas, envolvendo projeção de luz, sombra. Terminei esse processo antes das entrevistas em outros lugares. Em janeiro do ano passado, outra empresa em que tinha feito entrevista perguntou se queria começar a trabalhar na semana seguinte. Comecei no dia 6 de fevereiro e estou lá até agora. Que empresa é? É uma startup, uma empresa pequena, mas em processo de expansão. E eu fiz parte do processo de expansão. Quando cheguei, a equipe tinha cinco pessoas. Hoje, de programadores, na minha equipe, somos oito. Em outra equipe tem cinco. Estamos expandindo mais ainda. A gente vai trocar de escritório. Você está gostando do seu trabalho? No lugar onde trabalho é muito legal, não tenho horário fixo, vou trabalhar de bermuda, a gente não tem chefe. Na equipe, cada um tem suas responsabilidades, sabe o que fazer. Como está o mercado de trabalho para Ciência da Computação? Aquecido? Muito. Principalmente aqui no Brasil, se for programação específica, programador web e Java. Java principalmente, por causa do Android. Hoje em dia, smartphone é o que dá dinheiro, todo mundo usa. Onde o profissional encontra emprego? Na área de programação você tem um leque muito grande. Empresas grandes, bancos, consultorias sempre vão
ENTREVISTA precisar, sempre vão querer muito programador. Se o que você tem mais interesse é por vida corporativa, vai conseguir bem fácil. Também tem muita startup, mas é um pouco mais difícil porque são empresas pequenas.
Na hora de uma entrevista de emprego, o que diferencia uma pessoa, além da faculdade? Eu diria projeto pessoal. Até mais que experiência. Nas entrevistas que fiz, minha experiência era só projeto na faculdade, mas isso é o que fazia crescer os olhos de quem estava me entrevistando. O interesse em fazer algo em que, em princípio, não se está ganhando nada, mas que se quer fazer por gosto. Você pretende continuar estudando, fazer pós-graduação? Desde o colégio eu estudava matérias extras porque queria aprender. Ainda pretendo fazer Astrofísica. Para ser mais preciso, fazer Astronomia, depois uma pós em Física. Pretendo também fazer pós em Computação, tenho muito interesse em Inteligência Artificial. Quando você planeja iniciar a pós-graduação? Ainda estou num dilema. Passei direto do colégio para o IME e nunca parei de estudar. Agora quero parar um pouco, respirar, porque sei que pós é mais difícil ainda. E eu estou usando este tempo para pensar se faço ou não pós agora. Mas não quero deixar muito para depois. Você tem algum plano para este ano? No caso de Ciência da Computação, o esquema para fazer pós-graduação é meio parecido com o vestibular. Tem uma prova, que é lá para setembro, são 70 questões em forma de teste. Você faz a prova, recebe o resultado e leva a sua prova à faculdade em que você quer fazer a pós. A prova não é da USP? Não. É nacional. Ela vale por dois anos. Você já fez essa prova? Fiz no final do ano passado para me garantir, porque só tem nessa época do ano. Se você decidir que quer fazer mestrado no começo do ano vai esperar até setembro. Geralmente o ingresso na pós é no começo e no meio do ano. No começo do ano decidi não fazer mesmo. Mas vai que no ano que vem eu mude de ideia, já estou com a prova pronta... A prova é um dos processos? Há outras exigências? Eles analisam suas propostas de pós-graduação. Por exemplo, você quer fazer mestrado em Inteligência Artificial, mas se erra tudo na prova de Inteligência Artificial, mesmo acertando tudo de Matemática, é claro que é melhor mudar de proposta. Eu me encaixei muito bem nas propostas que eu
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queria fazer e como estava mais ou menos na dúvida já deixei a prova feita.
Como você se imagina na carreira daqui a uns 10 anos? Eu gostaria de estar fazendo um trabalho muito parecido com o que faço agora, trabalhando num lugar descontraído, porque é o que eu vejo que dá certo. Tem gente que se imagina dono de uma empresa, eu me imagino muito bem estabelecido na minha vida, mas atuando no que eu gosto. Pretendo continuar a trabalhar num lugar tranquilo. Que dica você pode dar aos alunos que no fim do ano vão prestar vestibular? Não há dúvida de que você precisa estudar, mas estudar todo mundo estuda. O que eu falo mais é para pensar no que você quer. Imagine algo que você vai ter de fazer por dezenas de anos na sua vida. Pense exatamente no que você gostaria de estar fazendo. Há coisas muito fáceis de fazer, qualquer um consegue: entre no site da Fuvest, procure o link para descrição das carreiras, até do curso. Vai encontrar a grade com as matérias. Você tem de dar uma lida. Se você tem interesse, pesquise um pouco mais sobre cada uma. Se tiver oportunidade, converse com quem entende e com professores. Eles estão aqui preparando você para isso. Conversar sobre a escolha fez uma diferença absurda para mim. Foi o que me esclareceu sobre a escolha da carreira. Das matérias que você viu no colégio, quais hoje ajudam bastante no seu dia a dia? Algumas partes de Matemática. Partes de Álgebra. Embora veja isso mais leve no colégio, a base da Álgebra começa em coisas que a gente vê aqui. Não imaginei, mas acabou sendo meu diferencial quando entrei na faculdade. E um pouco de Programação, que a gente tem bem de leve, acabou sendo uma das matérias mais difíceis da faculdade. Realmente ajudou ter visto no colégio, deu uma base. Que recordações você tem do colégio? Do próprio colégio, porque passei muito tempo aqui dentro. Das aulas, dos professores. A gente se aproximava muito dos professores. E os amigos da época do Etapa? Tenho até hoje. E tenho certeza de que vão continuar para o resto da vida. O que mais você quer dizer para nossos alunos? Existem coisas que podem parecer ruins no colégio, mas não são. Por exemplo, uma coisa que me ajudou muito para a faculdade foi fazer prova todo dia aqui. Aprendi a estudar, aprendi a dividir o tempo, aprendi a fazer esboço, aprendi a dar respostas.
Jornal do Colégio ETAPA, editado por Etapa Ensino e Cultura REDAÇÃO: Rua Vergueiro, 1 987 – CEP 04101-000 – Paraíso – São Paulo – SP JORNALISTA RESPONSÁVEL: Egle M. Gallian – M.T. 15343
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CONTO
Entre santos Machado de Assis
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uando eu era capelão de S. Francisco de Paula (contava um padre velho) aconteceu-me uma aventura extraordinária.
Morava ao pé da igreja, e recolhi-me tarde, uma noite. Nunca me recolhi tarde que não fosse ver primeiro se as portas do templo estavam bem fechadas. Achei-as bem fechadas, mas lobriguei luz por baixo delas. Corri assustado à procura da ronda; não a achei, tornei atrás e fiquei no adro, sem saber que fizesse. A luz, sem ser muito intensa, era-o demais para ladrões; além disso notei que era fixa e igual, não andava de um lado para outro, como seria a das velas ou lanternas de pessoas que estivessem roubando. O mistério arrastou-me; fui a casa buscar as chaves da sacristia (o sacristão tinha ido passar a noite em Niterói), benzi-me primeiro, abri a porta e entrei. O corredor estava escuro. Levava comigo uma lanterna e caminhava devagarinho, calando o mais que podia o rumor dos sapatos. A primeira e a segunda porta que comunicam com a igreja estavam fechadas; mas via-se a mesma luz e, porventura, mais intensa que do lado da rua. Fui andando, até que dei com a terceira porta aberta. Pus a um canto a lanterna, com o meu lenço por cima, para que me não vissem de dentro, e aproximei-me a espiar o que era. Detive-me logo. Com efeito, só então adverti que viera inteiramente desarmado e que ia correr grande risco aparecendo na igreja sem mais defesa que as duas mãos. Correram ainda alguns minutos. Na igreja a luz era a mesma, igual e geral, e de uma cor de leite que não tinha a luz das velas. Ouvi também vozes, que ainda mais me atrapalharam, não cochichadas nem confusas, mas regulares, claras e tranquilas, à maneira de conversação. Não pude entender logo o que diziam. No meio disto, assaltou-me uma ideia que me fez recuar. Como naquele tempo os cadáveres eram sepultados nas igrejas, imaginei que a conversação podia ser de defuntos. Recuei espavorido, e só passado algum tempo, é que pude reagir e chegar outra vez à porta, dizendo a mim mesmo que semelhante ideia era um disparate. A realidade ia dar-me coisa mais assombrosa que um diálogo de mortos. Encomendei-me a Deus, benzi-me outra vez e fui andando, sorrateiramente, encostadinho à parede, até entrar. Vi então uma coisa extraordinária. Dois dos três santos do outro lado, S. José e S. Miguel (à direita de quem entra na igreja pela porta da frente), tinham descido dos nichos e estavam sentados nos seus altares. As dimensões não eram as das próprias imagens, mas de homens. Falavam para o lado de cá, onde estão os altares de S. João Batista e S. Francisco de Sales. Não posso descrever o que senti. Durante algum tempo, que não chego a calcular, fiquei sem ir para diante nem para trás, arrepiado e trêmulo. Com certeza, andei beirando o abismo da loucura, e não caí nele por misericórdia divina. Que perdi a consciência de mim mesmo e de toda outra realidade que não fosse aquela, tão nova e tão única, posso afirmá-lo; só assim se explica a temeridade com que, dali a algum tempo, entrei mais pela igreja, a fim de olhar também para o lado oposto. Vi aí a mesma coisa: S. Francisco de Sales e S. João, descidos dos nichos, sentados nos altares e falando com os outros santos. Tinha sido tal a minha estupefação que eles continuaram a falar, creio eu, sem que eu sequer ouvisse o rumor das vozes. Pouco a pouco, adquiri a percepção delas e pude compreender que não tinham interrompido a conversação; distingui-as, ouvi claramente as palavras, mas não pude colher desde logo o sentido. Um dos santos, falando para o lado do altar-mor, fez-me voltar a cabeça, e vi então que S. Francisco de Paula, o orago da igreja, fizera a mesma coisa que os outros e falava para eles, como eles falavam entre si. As vozes não subiam do tom médio e, contudo, ouviam-se bem, como se as ondas sonoras tivessem recebido um poder maior de transmissão. Mas, se tudo isso era espantoso, não menos o era a luz, que não vinha de parte nenhuma, porque os lustres e castiçais estavam todos apagados; era como um luar, que ali penetrasse, sem que os olhos pudessem ver a
lua; comparação tanto mais exata quanto que, se fosse realmente luar, teria deixado alguns lugares escuros, como ali acontecia, e foi num desses recantos que me refugiei. Já então procedia automaticamente. A vida que vivi durante esse tempo todo, não se pareceu com a outra vida anterior e posterior. Basta considerar que, diante de tão estranho espetáculo, fiquei absolutamente sem medo; perdi a reflexão, apenas sabia ouvir e contemplar. Compreendi, no fim de alguns instantes, que eles inventariavam e comentavam as orações e implorações daquele dia. Cada um notava alguma cousa. Todos eles, terríveis psicólogos, tinham penetrado a alma e a vida dos fiéis, e desfibravam os sentimentos de cada um, como os anatomistas escalpelam um cadáver, S. João Batista e S. Francisco de Paula, duros ascetas, mostravam-se às vezes enfadados e absolutos. Não era assim S. Francisco de Sales; esse ouvia ou contava as cousas com a mesma indulgência que presidira ao seu famoso livro da Introdução à Vida Devota. Era assim, segundo o temperamento de cada um, que eles iam narrando e comentando. Tinham já contado casos de fé sincera e castiça, outros de indiferença, dissimulação e versatilidade; os dois ascetas estavam a mais e mais anojados, mas S. Francisco de Sales recordava-lhes o texto da Escritura; muitos são os chamados e poucos os escolhidos, significando assim que nem todos os que ali iam à igreja levavam o coração puro. S. João abanava a cabeça. – Francisco de Sales, digo-te que vou criando um sentimento singular em santo: começo a descrer dos homens. – Exageras tudo, João Batista, atalhou o santo bispo, não exageremos nada. Olha – ainda hoje aconteceu aqui uma coisa que me fez sorrir, e pode ser, entretanto, que te indignasse. Os homens não são piores do que eram em outros séculos; descontemos o que há neles ruim, e ficará muita coisa boa. Crê isto e hás de sorrir ouvindo o meu caso. – Eu? – Tu, João Batista, e tu também, Francisco de Paula, e todos vós haveis de sorrir comigo: e, pela minha parte, posso fazê-lo, pois já intercedi e alcancei do Senhor aquilo mesmo que me veio pedir esta pessoa. – Que pessoa? – Uma pessoa mais interessante que o teu escrivão, José, e que o teu lojista, Miguel... – Pode ser, atalhou S. José, mas não há de ser mais interessante que a adúltera que aqui veio hoje prostrar-se a meus pés. Vinha pedir-me que lhe limpasse o coração da lepra da luxúria. Brigara ontem mesmo com o namorado, que a injuriou torpemente, e passou a noite em lágrimas. De manhã, determinou abandoná-lo e veio buscar aqui a força precisa para sair das garras do demônio. Começou rezando bem cordialmente; mas pouco a pouco vi que o pensamento a ia deixando para remontar aos primeiros deleites. As palavras, paralelamente, iam ficando sem vida. Já a oração era morna, depois fria, depois inconsciente; os lábios, afeitos à reza, iam rezando: mas a alma, que eu espiava cá de cima, essa já não estava aqui, estava com o outro. Afinal persignou-se, levantou-se e saiu sem pedir nada. – Melhor é o meu caso. – Melhor que isto? perguntou S. José curioso. – Muito melhor, respondeu S. Francisco de Sales, e não é triste como o dessa pobre alma ferida do mal da terra, que a graça do Senhor ainda pode salvar. E por que não salvará também a esta outra? Lá vai o que é. Calaram-se todos, inclinaram-se os bustos, atentos, esperando. Aqui fiquei com medo; lembrou-me que eles, que veem tudo o que se passa no interior da gente, como se fôssemos de vidro, pensamentos recônditos, intenções torcidas, ódios secretos, bem podiam ter-me lido já algum pecado ou gérmen de pecado. Mas não tive tempo de refletir muito; S. Francisco de Sales começou a falar. – Tem cinquenta anos o meu homem, disse ele; a mulher está de cama, doente de uma erisipela na perna esquerda. Há cinco dias vive
CONTO aflito porque o mal agrava-se e a ciência não responde pela cura. Vede, porém, até onde pode ir um preconceito público. Ninguém acredita na dor do Sales (ele tem o meu nome), ninguém acredita que ele ame outra coisa que não seja dinheiro, e logo que houve notícia da sua aflição desabou em todo o bairro um aguaceiro de motes e dichotes; nem faltou quem acreditasse que ele gemia antecipadamente pelos gastos da sepultura. – Bem podia ser que sim, ponderou S. João. – Mas não era. Que ele é usurário e avaro não o nego; usurário, como a vida, e avaro, como a morte. Ninguém extraiu nunca tão implacavelmente da algibeira dos outros o ouro, a prata, o papel e o cobre; ninguém os amuou com mais zelo e prontidão. Moeda que lhe cai na mão dificilmente torna a sair; e tudo o que lhe sobra das casas mora dentro de um armário de ferro, fechado a sete chaves. Abre-o às vezes, por horas mortas, contempla o dinheiro alguns minutos, e fecha-o outra vez depressa; mas nessas noites não dorme, ou dorme mal. Não tem filhos. A vida que leva é sórdida; come para não morrer, pouco e ruim. A família compõe-se da mulher e de uma preta escrava, comprada com outra, há muitos anos, e às escondidas, por serem de contrabando. Dizem até que nem as pagou, porque o vendedor faleceu logo sem deixar nada escrito. A outra preta morreu há pouco tempo; e aqui vereis se este homem tem ou não o gênio da economia; Sales libertou o cadáver... E o santo bispo calou-se para saborear o espanto dos outros. – O cadáver? – Sim, o cadáver. Fez enterrar a escrava como pessoa livre e miserável para não acudir às despesas da sepultura. Pouco embora, era alguma cousa. E para ele não há pouco; com pingos d’água é que se alagam as ruas. Nenhum desejo de representação, nenhum gosto nobiliário; tudo isso custa dinheiro, e ele diz que o dinheiro não lhe cai do céu. Pouca sociedade, nenhuma recreação de família. Ouve e conta anedotas da vida alheia, que é regalo gratuito. – Compreende-se a incredulidade pública, ponderou S. Miguel. – Não digo que não, porque o mundo não vai além da superfície das cousas. O mundo não vê que, além de caseira eminente, educada por ele, e sua confidente de mais de vinte anos, a mulher deste Sales é amada deveras pelo marido. Não te espantes, Miguel; naquele muro aspérrimo brotou uma flor descorada e sem cheiro, mas flor. A botânica sentimental tem dessas anomalias. Sales ama a esposa; está abatido e desvairado com a ideia de a perder. Hoje de manhã, muito cedo, não tendo dormido mais de duas horas, entrou a cogitar no desastre próximo. Desesperando da terra, voltou-se para Deus; pensou em nós, e especialmente em mim que sou o santo do seu nome. Só um milagre podia salvá-la; determinou vir aqui. Mora perto, e veio correndo. Quando entrou trazia o olhar brilhante e esperançado; podia ser a luz da fé, mas era outra cousa muito particular, que vou dizer. Aqui peço-vos que redobreis de atenção. Vi os bustos inclinarem-se ainda mais; eu próprio não pude esquivar-me ao movimento e dei um passo para diante. A narração do santo foi tão longa e miúda, a análise tão complicada, que não as ponho aqui integralmente, mas em substância. – Quando pensou em vir pedir-me que intercedesse pela vida da esposa, Sales teve uma ideia específica de usurário, a de prometer-me uma perna de cera. Não foi o crente, que simboliza desta maneira a lembrança do benefício; foi o usurário que pensou em forçar a graça divina pela expectação do lucro. E não foi só a usura que falou, mas também a avareza; porque em verdade, dispondo-se à promessa, mostrava ele querer deveras a vida da mulher – intuição de avaro; – despender é documentar: só se quer de coração aquilo que se paga a dinheiro, disse-lho a consciência pela mesma boca escura. Sabeis que pensamentos tais não se formulam como outros, nascem das entranhas do caráter e ficam na penumbra da consciência. Mas eu li tudo nele logo que aqui entrou alvoroçado, com o olhar fúlgido de esperança; li tudo e esperei que acabasse de benzer-se e rezar. – Ao menos, tem alguma religião, ponderou S. José. – Alguma tem, mas vaga e econômica. Não entrou nunca em irmandades e ordens terceiras, porque nelas se rouba o que pertence ao Senhor; é o que ele diz para conciliar a devoção com a algibeira. Mas não se pode ter tudo; é certo que ele teme a Deus e crê na doutrina. – Bem, ajoelhou-se e rezou.
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– Rezou. Enquanto rezava, via eu a pobre alma, que padecia deveras, conquanto a esperança começasse a trocar-se em certeza intuitiva. Deus tinha de salvar a doente, por força, graças à minha intervenção, e eu ia interceder; é o que ele pensava, enquanto os lábios repetiam as palavras da oração. Acabando a oração, ficou Sales algum tempo olhando, com as mãos postas; afinal falou a boca do homem, falou para confessar a dor, para jurar que nenhuma outra mão, além da do Senhor, podia atalhar o golpe. A mulher ia morrer... ia morrer... ia morrer... E repetia a palavra, sem sair dela. A mulher ia morrer. Não passava adiante. Prestes a formular o pedido e a promessa não achava palavras idôneas, nem aproximativas, nem sequer dúbias, não achava nada, tão longo era o descostume de dar alguma coisa. Afinal saiu o pedido; a mulher ia morrer, ele rogava-me que a salvasse, que pedisse por ela ao Senhor. A promessa, porém, é que não acabava de sair. No momento em que a boca ia articular a primeira palavra, a garra da avareza mordia-lhe as entranhas e não deixava sair nada. Que a salvasse... que intercedesse por ela... No ar, diante dos olhos, recortava-se-lhe a perna de cera, e logo a moeda que ela havia de custar. A perna desapareceu, mas ficou a moeda, redonda, luzidia, amarela, ouro puro, completamente ouro, melhor que o dos castiçais do meu altar, apenas dourados. Para onde quer que virasse os olhos, via a moeda, girando, girando, girando. E os olhos a apalpavam, de longe, e transmitiam-lhe a sensação fria do metal e até a do relevo do cunho. Era ela mesma, velha amiga de longos anos, companheira do dia e da noite, era ela que ali estava no ar, girando, às tontas: era ela que descia do teto, ou subia do chão, ou rolava no altar, indo da Epístola ao Evangelho, ou tilintava nos pingentes do lustre. Agora a súplica dos olhos e a melancolia deles eram mais intensas e puramente voluntárias. Vi-os alongarem-se para mim, cheios de contrição, de humilhação, de desamparo; e a boca ia dizendo algumas cousas soltas, – Deus, – os anjos do Senhor, – as bentas chagas, – palavras lacrimosas e trêmulas, como para pintar por elas a sinceridade da fé e a imensidade da dor. Só a promessa da perna é que não saía. Às vezes, a alma, como pessoa que recolhe as forças, a fim de saltar um valo, fitava longamente a morte da mulher e rebolcava-se no desespero que ela lhe havia de trazer: mas, à beira do valo, quando ia a dar o salto, recuava. A moeda emergia dele e a promessa ficava no coração do homem. O tempo ia passando. A alucinação crescia, porque a moeda, acelerando e multiplicando os saltos, multiplicava-se a si mesma e parecia uma infinidade delas; e o conflito era cada vez mais trágico. De repente, o receio de que a mulher podia estar expirando, gelou o sangue ao pobre homem e ele quis precipitar-se. Podia estar expirando... Pedia-me que intercedesse por ela, que a salvasse... Aqui o demônio da avareza sugeria-lhe uma transação nova, uma troca de espécie, dizendo-lhe que o valor da oração era superfino e muito mais excelso que o das obras terrenas. E o Sales, curvo, contrito, com as mãos postas, o olhar submisso, desamparado, resignado, pedia-me que lhe salvasse a mulher. Que lhe salvasse a mulher, e prometia-me trezentos – não menos, – trezentos padre-nossos e trezentas ave-marias. E repetia enfático: trezentos, trezentas, trezentos... Foi subindo, chegou a quinhentos, a mil padre-nossos e mil ave-marias. Não via esta soma escrita por letras do alfabeto, mas em algarismos, como se ficasse assim mais viva, mais exata, e a obrigação maior, e maior também a sedução. Mil padre-nossos, mil ave-marias. E voltaram as palavras lacrimosas e trêmulas, as bentas chagas, os anjos do Senhor... 1 000 – 1 000 – 1 000. Os quatro algarismos foram crescendo tanto, que encheram a igreja de alto a baixo, e com eles, crescia o esforço do homem, e a confiança também; a palavra saía-lhe mais rápida, impetuosa, já falada, mil, mil, mil, mil... Vamos lá, podeis rir à vontade, concluiu S. Francisco de Sales. E os outros santos riram efetivamente, não daquele grande riso descomposto dos deuses de Homero, quando viram o coxo Vulcano servir à mesa, mas de um riso modesto, tranquilo, beato e católico. Depois, não pude ouvir mais nada. Caí redondamente no chão. Quando dei por mim era dia claro... Corri a abrir todas as portas e janelas da igreja e da sacristia, para deixar entrar o sol, inimigo dos maus sonhos. Extraído de: Várias histórias.
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ARTIGO
Onça-pintada pode desaparecer da Mata Atlântica Karina Toledo
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Mata Atlântica está na iminência de perder um o desaparecimento da onça-pintada pode ainda causar de seus mais ilustres habitantes: a onça-pintada aumento desmedido nas populações de predadores inter(Panthera onca). O alerta foi feito na revista Science, mediários, como jaguatiricas e outros carnívoros. em carta publicada por um grupo de pesquisadores braPor sua vez, isso poderá levar a um aumento na predasileiros membros do Sistema Nacional de Pesquisa em ção de ninhos e, potencialmente, à extinção local de muitas aves, importantes dispersoras de sementes, e alterar Biodiversidade (Sisbiota). a estrutura da vegetação. “O predador de topo de cadeia “Uma recente reunião de especialistas em vida selvatem um papel de regulação do ecossistema e, quando gem concluiu que a Mata Atlântica, que no passado se ele desaparece, um distúrbio é criado. Isso pode causar estendia por toda a costa brasileira e também por parte a extinção de algumas espécies, até que o ecossistema da Argentina e do Paraguai, pode em breve ser o primeiencontre um novo equilíbrio”, disse Galetti, que coordero bioma tropical a perder seu principal predador, a onçana pesquisa apoiada pela FAPESP e realizada no âmbito -pintada”, relataram os cientistas na carta. do Sisbiota – programa lançado pelo Conselho Nacional “Pesquisadores estimaram menos de 250 animais de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em adultos vivos em todo o território, distribuídos em oito 2010 que reúne pesquisadores de diverpopulações isoladas. Ainda pior, análises sos Estados e, em São Paulo, conta com moleculares demonstraram que o tamafinanciamento da FAPESP. nho da população efetiva local (número de animais que estão de fato se reproPlano estratégico para duzindo e deixando descendente, um conservação parâmetro crítico para a manutenção da diversidade genética) está abaixo de 50 A iniciativa de enviar o alerta para a animais”, destacaram. revista Science, contaram os cientistas, De acordo com Ronaldo Gonçalves De acordo com alerta feito por pessurgiu após uma reunião promovida em Morato, coautor do texto e chefe do Cen- quisadores brasileiros na revista setembro de 2013 pelo Cenap com o obScience, restam no bioma 250 anitro Nacional de Pesquisa e Conservação mais adultos distribuídos em oito jetivo de elaborar um plano estratégico de Mamíferos Carnívoros (Cenap) do Ins- populações isoladas e apenas 50 espara a conservação da onça-pintada na tão de fato se reproduzindo. tituto Chico Mendes de Conservação da Mata Atlântica. Biodiversidade (ICMBio), entre as causas do declínio es“Na semana anterior ao evento, havia sido publicado tão a perda de habitat resultante do desmatamento e da também na Science um artigo sobre a recuperação da pofragmentação da mata e também a caça. Estima-se que, pulação de carnívoros no Hemisfério Norte graças a mediatualmente, reste apenas entre 7% e 12% da cobertura das adotadas há mais de 20 anos, como reflorestamento, original da Mata Atlântica. reintrodução e translocação de indivíduos. Alguns fatores O impacto do desaparecimento da onça-pintada para de manejo utilizados por lá permitiram que algumas espéo ecossistema local é difícil de prever, mas certamente o cies praticamente extintas voltassem a ocupar certos essaldo será negativo. “Quando um grande predador desapapaços. Nossa carta tinha o intuito de fazer um contraponto rece, pode haver explosão nas populações de herbívoros, a esse artigo”, contou Morato. como veados, catetos e queixadas. Em excesso, esses aniO evento promovido pelo Cenap reuniu diversos memmais acabam consumindo todo o sub-bosque da floresta e bros da rede Sisbiota. O objetivo do grupo é fomentar e isso implica em perda da capacidade de recomposição e ampliar o conhecimento não apenas sobre predadores, perda de estoque de carbono. Em longo prazo, pode levar à mas sobre toda a biodiversidade brasileira, bem como quebra da dinâmica da floresta”, avaliou Morato. melhorar a capacidade preditiva de respostas às mudanPedro Manoel Galetti Junior, professor do Departamenças de uso e cobertura da terra e às mudanças climáticas. to de Genética e Evolução (DGE) da Universidade Federal De acordo com os especialistas, a medida mais urgente a ser tomada para salvar a onça-pintada seria o aumende São Carlos (UFSCar) e coautor do texto, lembrou que
ARTIGO to da fiscalização para evitar a perda de indivíduos tanto pela caça quanto pela redução do ambiente causada pelo desmatamento ilegal. “Primeiro precisamos estancar a perda para então pensar em trabalhar para recuperar as populações. Estamos discutindo a possibilidade de fazer a translocação de indivíduos (colocar novos animais em uma população existente para trazer informação genética nova para o grupo), pois as análises têm mostrado que geneticamente muitas dessas populações remanescentes estão comprometidas. Mesmo se a perda de animais cessar, será necessário recompor essas populações”, afirmou Morato. Outra possibilidade, contou o pesquisador do Cenap, é recorrer a ferramentas de reprodução assistida. “Podemos coletar sêmen de um indivíduo de uma região e inseminar uma fêmea de outra população, por exemplo. Esse mecanismo pode ser mais prático do que fazer a translocação”, contou Morato. De acordo com o plano em elaboração pelo Sisbiota, nenhum animal seria solto sem um sistema de monitoramento 24 horas e sem um programa prévio de educação e
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conscientização com as comunidades do entorno. “É necessário um trabalho forte para que essas comunidades aceitem o retorno do animal. É preciso orientação para que não haja risco no contato com a população humana e para que haja um manejo de rebanhos de modo a evitar a caça por perda econômica”, afirmou Morato. Para Galetti, antes que qualquer medida seja tomada, é preciso ampliar o conhecimento científico sobre a onça-pintada – o que inclui informações sobre a biologia, a ecologia, a genética e os sistemas em que ela está incluída, ou seja, os demais organismos que interagem com ela. “Não se pode pensar em translocar animais enquanto não se tem segurança e controle sobre os impactos da medida”, ponderou. Muitos dos estudos que embasam a discussão do plano de recuperação da onça-pintada foram conduzidos no âmbito do Sisbiota, que completa três anos. Parte dos dados foi apresentada nos dias 9 e 10 de dezembro, em São Carlos, durante o 1o Simpósio Brasileiro sobre o Papel Funcional de Predadores de Topo de Cadeia. Extraído de: Agência FAPESP – Divulgando a cultura científica, jan./2014.
SOBRE AS PALAVRAS
Pode tirar o cavalo da chuva Significa que algo vai demorar para acontecer. A frase teve origem em cidade do interior, onde o meio de transporte mais utilizado era o cavalo, pois não enguiçava, nem parava por falta de combustível. O cavalo deixava clara a intenção do visitante na chegada: se ele fosse amarrado na entrada da casa era sinal de que a visita seria breve, mas se ele fosse levado para um lugar protegido da chuva e do sol, estava claro que a visita ia demorar. Depois o sentido da expressão se estendeu para desistir de um propósito qualquer.
(ENTRE PARÊNTESIS)
Do baile Em um baile há r rapazes e m moças. Um rapaz dança com cinco moças. Um segundo rapaz dança com seis moças e assim sucessivamente. O último rapaz dança com todas as moças. Temos, então:
RESPOSTA Se r = 1m = 5 r = 2m = 6 • • • • • • Logo, r = m − 4 alternativa C
m 5 b) r = m − 5 c) r = m − 4 d) r = m e) n.r.a. a) r =
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ESPECIAL
Arte e cultura Uma Noite de Teatro e Música uniu Grupo de Teatro e Coral Etapa
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o final de 2013, com o intuito de incentivar o interesse pela cultura e pela arte, o Colégio Etapa preparou um evento especial: Uma Noite de Teatro e Música, com apresentações do Grupo de Teatro e do Coral Etapa. O encontro das duas formas de expressão artística aconteceu no dia 3 de dezembro e teve como público alunos, pais e convidados. O Coral Etapa, formado em 2010, vem despertando nos alunos o interesse pela música através do canto. Os encontros permitem que eles se divirtam ao mesmo tempo em que ganham noções de teoria musical. Inicialmente, o grupo possuía apenas um repertório à capela, mas agora já conta com acompanhamento instrumental, proporcionando um dinamismo maior às apresentações. Seu repertório inclui a música popular brasileira e internacional. Para o evento, foram escolhidas ”O trenzinho do caipira” (Heitor Villa-Lobos/Ferreira Gullar), ”Encontros e despedidas” (Milton Nascimento/Fernando Brant), ”Brejo da cruz” (Chico Buarque de Holanda), “Yesterday” (The Beatles), ”Planeta água” (Guilherme Arantes), ”Ponta de areia” (Milton Nascimento/ Fernando Brant), ”Aquarela do Brasil” (Ary Barroso), ”Imagine” (John Lennon) e ”Maria, Maria” (Milton Nascimento/Fernando Brant). Antes de cada performance, uma dupla de alunos explicou um pouco sobre a canção e seu autor. Já o Grupo de Teatro é mais recente, criado em 2013. Trabalha a expressividade e a criatividade a partir da poesia, da dramaturgia e do cinema, com o intuito de contribuir no desenvolvimento da expressão corporal e da oratória. As diferentes facetas da arte se misturam para adentrar um mundo que oferece mil possibilidades. Inquietações é o nome do trabalho apresentado no evento, em que Fernando Pessoa dialoga com o filme Matrix na sua dúvida existencial do controle de nossas vidas, enquanto a discussão do fazer teatral e suas implicações éticas e estéticas também são levantadas. A reflexão acerca da vida e do futuro é explorada a partir de fragmentos de obras como ”João e Maria”, de Chico Buarque de Holanda, e ”Gênio e cultura”, de Umberto Boccioni. Foi uma noite em que a arte comandou o roteiro. Ambas as apresentações arrancaram aplausos animados da plateia e mostraram o talento dos nossos alunos!