567
Jornal do Colégio PRIMEIRA QUINZENA DE MARÇO DE 2014 – NÚMERO 567
ENTREVISTA
“É um passo por vez, um exercício por vez. Um dia vai ter volta. Você vai colher o que plantou.” Rebecca Ranzani Martins foi uma das raras candidatas que conseguiram a dificílima aprovação do 3º ano do EM direto para Medicina USP/Pinheiros. Aqui ela conta como organizou seus estudos no ano passado e se recuperou em matérias em que se sentia menos preparada, como Física, Geografia e Biologia. Hoje, caloura da USP, diz que a ficha ainda não caiu: “Mesmo agora, que eu já fiz matrícula, parece que não é verdade, parece que não aconteceu”.
Rebecca Ranzani Martins
JC – Quando você começou a pensar em Medicina?
No 3º ano você mudou sua rotina de estudos?
Rebecca – Desde criancinha mesmo. Quando tinha dia de profissão na escola eu já ia vestida de médica.
O 3º ano é muito corrido. Terça e quarta você tem aula à tarde, chega em casa à noite, não tem mais tempo de estudar para a prova do dia seguinte. Mas eu procurei aproveitar todo o tempo livre, principalmente nos dias em que só tinha aula de manhã. Eu estudava o máximo possível nas tardes e noites e pegava as últimas horas do dia para dar uma repassada na prova que eu ia fazer no dia seguinte. Eu terminava por volta das 10 horas, ia dormir às 11 e acordava às 5 e meia. No meio do ano e no fim do ano eu estava muito cansada, tinha de ir dormir mais cedo.
Você tem algum parente médico? Distante, só. Minha mãe é advogada, meu pai é engenheiro. Eu pensei em outras opções, nas áreas de Exatas e de Humanas, mas não tinha outra coisa que eu gostaria de fazer. Eu gosto da Medicina.
Você foi aprovada em quais vestibulares de Medicina? Fui aprovada na USP, na Unifesp e, pelo Enem, na UFSCar.
Como foi que você veio estudar no Etapa? Meus pais vieram conhecer o colégio, gostaram, acharam que eu ia ter uma preparação forte – sabiam que eu já queria prestar Medicina – e me colocaram aqui. Praticamente todos os meus amigos também vieram para cá.
Decidida a fazer Medicina, como você se preparou, sabendo da concorrência nos vestibulares? No 1º e no 2º ano eu não tinha tanta noção do vestibular para Medicina. No final do 2º ano, começo do 3º ano, é que caiu a ficha, então comecei a estudar para o vestibular e não só para a escola.
ENTREVISTA
Carreira – Medicina
1
Você estava confiante no ano passado em ser aprovada para Medicina? Eu achava que tinha condição de passar direto, mas não esperava entrar na Pinheiros.
Descoberto gene que regula potencial de formação de tumores das células-tronco embrionárias
POIS É, POESIA
5
SOBRE AS PALAVRAS
4
ENTRE PARÊNTESIS
A mais velha toca piano
Os sábados e domingos eram dedicados na maior parte ao estudo para o vestibular. No sábado de manhã eu tinha o Projeto Medicina. Chegando em casa, dormia um pouco e depois estudava durante a tarde. A noite eu deixava livre para fazer outras coisas. No domingo eu começava a estudar depois do almoço.
ARTIGO
CONTO
A doença do Fabrício – Artur Azevedo
Estudava no fim de semana também?
4
Arco-da-velha
Luís Vaz de Camões (1525?-1580)
7
ESPECIAL
6
Simulação da ONU
8
2
ENTREVISTA
Em qual vestibular você achava que tinha mais chance de ser aprovada?
tos fracos. Depois de fazer, eu corrigia questão por questão dos simulados.
Não era na Fuvest, com certeza. Na verdade, eu tinha problemas com todos os vestibulares, achava um “porém” em todos. Achava a Fuvest muito difícil, achava a 2ª fase da Unicamp mais difícil do que a 2ª fase da Fuvest, achava que não ia passar na Unifesp por causa do Enem, achava que não ia passar em Botucatu por causa da concorrência muito grande, achava que não ia passar na Famema e na Medicina do ABC porque não gosto da prova da PUC. Eu achava que não era possível, que tudo que eu estava fazendo desse em nada. Em algum lugar eu tinha de entrar, mas achava difícil.
O que você fazia para relaxar? Algum hobby, alguma atividade?
Em quais matérias você tinha mais dificuldade? As aulas são muito boas, consertam todas as suas falhas de aprendizado. Em Física eu cresci muito no ano passado. Lembro que a primeira aula do Projeto Medicina foi de Elétrica. Tive notas altas de Elétrica no 1º e no 2º ano, mas quando o professor começou a fazer exercícios, falei: “não sei nada de Elétrica, tenho de começar do zero”, não entendia os conceitos mais básicos. Tive de pegar o material do 1º e do 2º ano para rever e fazer muito exercício.
Além de Física, tinha dificuldade em outras matérias? No Projeto eu descobri também o quanto não sabia de Geografia. Eu não sabia nada de Geografia Física, de relevo, isso é importantíssimo, Geografia do Brasil. Biologia também. Prestando Medicina, eu achava que sabia Biologia. Eu sabia o básico, quando comecei a fazer exercícios percebi que os vestibulares cobravam muito mais do que isso. Eu tinha o conhecimento que poderia me fazer entrar em outros cursos, mas não em Medicina. Em Português, mesmo tentando correr atrás, vi que poderia ter feito mais.
Você treinava Redação? Eu fazia as práticas redacionais, que eram semana sim, semana não. Tentei fazer todas as redações do Fique Esperto, acho que fiz 10 ou 11, sobraram algumas. Queria ter feito mais redações. Mas as que eu fazia, levava todas ao Plantão de Dúvidas para corrigir. Eu nunca tinha ido ao plantão de Humanas. Foi muito bom, retomei muita coisa que tinha deixado passar.
Em que outras matérias você recorria ao Plantão de Dúvidas? Principalmente Física e Matemática.
Nos simulados, quais eram seus resultados? Nos simulados do Enem eu ficava no C mais, acho que fiquei com B em um deles. Isso foi uma ironia, porque fui muito bem no Enem, acho que fiz 160 de 180, foi o que me fez passar na Unifesp.
E nos simulados Fuvest? Eu ia bem nos simulados da Fuvest 1ª fase, fazia mais ou menos o que eu fiz na prova, 79. Teve um mais complicado em que eu fiz 70.
Eu gostava de sair com meus pais, sair para dar uma volta, olhar para o céu de vez em quando, espairecer. Sair para ir ao parque, ao shopping, passear. Era só isso.
O que você fez nas férias de julho? Eu viajei na primeira quinzena. Na segunda quinzena eu retomei os estudos. Corrigi simulados, li uns livros que faltavam da lista da Fuvest, fiz resumos, mapas de Geografia para ajudar a decorar os conceitos, tabelas de Biologia. Deixei prontos os resumos porque sabia que ia começar a revisão e eu não ia ter tempo de fazer. Eu estudava com resumos, fazia muitos resumos de todas as matérias, menos de Exatas, em que eu fazia exercícios.
Você fazia resumos e tabelas desde o início no Etapa? Desde o 1º ano. Eu estudava assim, fazendo resumos.
Você usava resumos para estudar para as provas? Sim, mas no ano passado eu abri mão disso porque achava que ia aproveitar mais fazendo exercícios.
Você passou em várias faculdades. Como foi a escolha pela Medicina Pinheiros? A Pinheiros tem a tradição, tem professores que são médicos famosos, tem infraestrutura de laboratórios, pesquisas. Eu iria para as outras, mas qualquer um que passa na Pinheiros não pensa duas vezes. Você tem de conseguir as melhores notas na Fuvest para entrar, e a Fuvest é a prova mais temida, selecionadora e tudo. Entrando na Pinheiros você se sente muito feliz e satisfeita, você acha que tudo se realizou.
Você disse que fez 79 pontos na 1ª fase da Fuvest. Ficou contente com essa nota? Era o que você esperava? Eu fiquei contente, é uma boa nota, porque eu estava 6 pontos acima do corte do ano anterior, que foi 73. Quando saiu o corte em 70, fiquei muito feliz. Eu estava 9 pontos acima.
Da 1ª para a 2ª fase, mudou alguma coisa no seu estudo? Mudou. Eu foquei muito mais nas matérias específicas, as prioritárias do terceiro dia. Achei que tinha de tirar uma nota muito alta nas específicas. Na prova geral do segundo dia eu achava que conseguiria me virar, porque os exercícios são mais fáceis. Eu tinha muito medo do terceiro dia da Fuvest, então passei a estudar só Biologia, Física e Química.
Na 2ª fase da Fuvest entram todas as matérias. Você não ficou preocupada em se concentrar só em três?
Eu me sentia bem com os resultados nos simulados Fuvest. Não que eu ficasse tranquila, não ficava confortável, sempre me preocupava.
Durante todo o ano eu fiz mais exercícios testes, de todas as matérias. Eu tentava o máximo possível estar em dia com as listas de exercícios que os professores passavam em todas as aulas. Mas no fim do ano eu tive de escolher o que era mais importante. Isso é algo que precisa ser desenvolvido, saber escolher o que é mais importante. Para a 2ª fase eu deixei de estudar Humanas e foquei nas específicas de Medicina.
Como os simulados foram importantes em sua preparação?
E Redação, como você fez? Deixou de lado também?
Corrigir os simulados é muito importante. Você vai descobrir o que deixou de fazer e o que está errando demais, os seus pon-
No final do ano eu fiz uma lista de temas que eu achava que poderiam cair, que tinham caído nas minhas práticas redacionais,
Seus resultados nos simulados Fuvest aumentavam sua confiança?
ENTREVISTA que tinha no Fique Esperto. Fiz uma lista de temas e argumentos que eu poderia usar. Em Português, reli todas as minhas anotações de Literatura, das leituras obrigatórias. Reli os resumos que eu tinha feito para ver se mantinha tudo fresco na cabeça. Eu tinha muito medo da prova de Português.
Como você foi na primeira prova da 2ª fase, Português e Redação? Tirei 66,25 no geral, que é uma nota boa para Medicina. Na Redação eu fiquei com 67,5. Eu achava que poderia tirar mais, mas foi uma nota razoável.
No segundo dia, na prova geral, qual foi a sua nota? No segundo dia eu tirei 78,13. O segundo dia, por incrível que pareça, eu achei mais difícil do que o terceiro. Não foi uma nota tão alta, mas acho que foi essa nota que me fez entrar na Pinheiros.
No terceiro dia, que você temia, quanto você tirou? Eu me surpreendi no terceiro dia. Fiz toda a prova muito mais tranquila do que no segundo dia, deu tempo de rever tudo. Tirei 89,58, mas todo mundo foi bastante bem. Se eu não tivesse ido tão bem no segundo dia, não teria passado.
Qual foi sua pontuação geral, na escala de zero a 1 000? 804,3.
Como ficou sabendo de sua aprovação na Fuvest? Vim para o Etapa. Eu já estava supersatisfeita por ter passado na Unifesp. Aqui, uma amiga checou primeiro na lista, viu o nome dela – ela passou em Direito –, viu o meu nome e saiu pulando, berrando, me abraçando. Eu não acreditava. Não caiu muito a ficha. Mesmo agora, que eu já fiz matrícula, parece que não é verdade, parece que não aconteceu.
No dia da lista, depois de ver seu nome, você foi para a Pinheiros com os veteranos que sempre vêm aqui confraternizar com os aprovados? Não fui porque meus pais vieram me buscar para jantar com toda a família. Comemoramos em casa, porque eles me acompanharam sempre e ficaram superfelizes com minha aprovação.
O que se destacou no seu contato inicial com a faculdade? Eu conheço pouco ainda da Pinheiros. O que me chamou a atenção foi a recepção dos veteranos. Eles querem que você aproveite ao máximo a faculdade, querem que você se sinta tão à vontade quanto eles. Eles convidam para todas as atividades extracurriculares.
Você já se interessou por alguma atividade? Ainda não. São muitas atividades e você fica até atordoada.
Quais são as matérias neste primeiro semestre? As matérias no 1º e no 2º ano são mais teóricas. É o ciclo básico. No primeiro semestre tem Anatomia Geral, Bioquímica, Fisiologia de Membranas, Biologia Molecular, Biologia Celular, Introdução à Medicina e suas Especialidades, Atenção Primária em Saúde, em que você vai até as UBS (Unidade Básica de Saúde). Em Introdução à Medicina são os cuidados básicos de saúde.
Jornal do Colégio
3
Eles convidam você a fazer extensões, por exemplo a Extensão Médica Acadêmica, as ligas também, você já pode ter contato com hospital e com pacientes desde o começo.
Você tem ideia da área que vai seguir na Medicina? Não tenho nenhuma ideia ainda. Durante o Internato, quando passamos por todas as áreas, é a melhor hora de escolher.
Que dica você pode dar para o pessoal do colégio que vai prestar vestibular este ano? Eu diria para não abandonar as provas, elas vão ajudar muito porque trazem a matéria do vestibular, mas você tem de fazer mais do que isso. Tem de aproveitar muito as aulas, porque você vai ficar mais tempo no colégio. Você tem de aproveitar o tempo em casa para fazer muitos exercícios. Eu acho que na primeira revisão você tem de consertar todas as falhas teóricas, e depois fazer exercícios. Na revisão final vai ser bem mais puxado, depois da primeira fase você vai estar cansado, tendo de estudar de novo para a segunda fase. Em dezembro você pode achar que nada vai dar certo, mas cada exercício que você faz vai servir para alguma coisa. Nenhum conhecimento é desperdiçado.
Especificamente para quem pretende fazer Medicina, o que você recomenda? É praticamente a mesma coisa que para os outros cursos, só que um tanto mais radical, mais pesado. Então eu acho que o conselho mesmo é: aproveite o tempo o máximo possível, aproveite as suas aulas, não deixe nada para trás, nenhuma dúvida, não menospreze matérias, e estude Português. Faça Redação. Eu acho que tem de aproveitar muito as aulas do Projeto Medicina e, se ainda não está fazendo, é para entrar. Se tem certeza de que vai prestar Medicina, procure resolver provas passadas, faça a maior parte dos exercícios que puder. Eu sei que tem pouco tempo, mas você tem de dar o máximo possível nesse tempo.
Que recordações você guarda do colégio? Eu guardo recordação das gincanas, sinto falta da convivência diária com os amigos que fiz aqui, agora cada um vai seguir seu caminho. Sinto falta dos professores, que tentam manter você sempre animado, descontraído. Eles sabem que você pode estar desanimado, ou estressado, e tentam puxar na matéria e ao mesmo tempo te tranquilizar.
Hoje, o que vem à sua mente aqui no Etapa? As aulas. Eu acho que a presença dos professores junto com você é muito grande no Etapa. Principalmente no final do ano, você está estudando, eles sentam do seu lado e ajudam você a fazer exercício,respondem todas as suas dúvidas de última hora até mesmo existenciais. Os professores estão sempre junto com você, riem com você, choram com você.
O que mais você quer dizer para nossos alunos? Se acha que Medicina é a carreira certa para você, tem de se comprometer a ir em frente. É um passo por vez, um exercício por vez. Um dia vai ter volta. Você vai colher o que plantou.
Jornal do Colégio ETAPA, editado por Etapa Ensino e Cultura REDAÇÃO: Rua Vergueiro, 1 987 – CEP 04101-000 – Paraíso – São Paulo – SP JORNALISTA RESPONSÁVEL: Egle M. Gallian – M.T. 15343
4
CONTO
A doença do Fabrício Artur Azevedo
O
Fabrício era amanuense numa repartição pública, e gostava muito da Zizinha, filha única do Major Sepúlveda. O seu desejo era casar-se com ela, mas para isso era preciso ser promovido porque os vencimentos de amanuense não davam para sustentar família. Portanto, o Fabrício limitava-se à posição de namorado, esperando ansioso o momento em que pudesse ter a de noivo. Um dia, o rapaz recebeu uma carta de Zizinha, participando-lhe que o pai, o Major Sepúlveda, resolvera passar um mês em Caxambu, com a família, e pedindo-lhe que também fosse, pois ela não teria forças para viver tão longe dele. Sorriu ao amanuense a ideia de ficar uma temporada em Caxambu, hospedado no mesmo hotel que Zizinha. Sendo como era, moço econômico, tinha de parte os recursos necessários para as despesas da viagem; faltava-lhe apenas a licença, mas com certeza o ministro não lha negaria. Enganava-se o pobre namorado. O ministro, a quem ele se dirigiu pessoalmente, perguntou-lhe de carão fechado: – Para que quer o senhor dois meses de licença? – Para tratar-me. – Mas o senhor não está doente! – Estou, sim, senhor; não parece, mas estou. Nesse caso submeta-se à inspeção de saúde e traga-me o laudo. Só lhe darei a licença sob essa condição. Três dias depois o Fabrício, metido numa capa, com lenço de seda atado em volta do pescoço, a barba por fazer, algodão nos ouvidos, foi à Diretoria Geral de Saúde.
O seu aspecto era tão doentio que o doutor encarregado de examiná-lo disse logo que o viu: – Aqui está um que não engana: vê-se que está realmente enfermo! E dirigindo-se ao Fabrício: – Que sente o senhor? O Fabrício respondeu com uma voz arrastada e chorosa: – Sinto muitas coisas, doutor; dores pelo corpo, cansaço, ferroadas no estômago, opressão no peito. – Vamos lá ver isso! Dispa o casaco! O Fabrício pôs-se em mangas de camisa, e o médico auscultou-o. – Não tem tosse? – Tenho, mas só à noite; não me deixa dormir. – Bom. Pode vestir o casaco. E o doutor foi escrever o laudo, que entregou ao amanuense. Este na rua desdobrou o papel, para ver que espécie de doença lhe arranjara o médico e leu: “Cardialgia sintomática da diátese artrítica”. Não imaginem o efeito que lhe produziram essas palavras enigmáticas para ele. – E não é que eu estou mesmo doente? – pensou o pobre rapaz. Ao chegar a casa, tinha as fontes a estalar. Vieram depois arrepios de frio, a que sucedeu uma febre violenta e febre foi ela, que durou vinte dias. O enfermo teve alta justamente quando Zizinha voltava de Caxambu com um noivo arranjado lá. Maldita cardialgia sintomática da diátese artrítica. Extraído de: www.dominiopublico.com.br
(ENTRE PARÊNTESIS)
A mais velha toca piano RESPOSTA Observe que o visitante sabia o número da casa e disse que, sabendo disso e que o produto é 36, ainda não dava para descobrir as idades. Isso significava que o número da casa era 13, pois é a única soma de três inteiros positivos cujo produto é 36 para qual há mais de uma possibilidade (as possibilidades 5 e 6). Com a informação adicional de que a mais velha toca piano, ficou claro que há uma mais velha, o que exclui a possibilidade 6. Logo, as idades são 9, 2 e 2. 1 2 3 4 5 6 7 8
Possibilidades Soma 36, 1, 1 38 18, 2, 1 21 12, 3, 1 16 9, 4, 1 14 9, 2, 2 13 6, 6, 1 13 6, 3, 2 11 4, 3, 3 10
As possibilidades para que o produto das idades seja 36, com a respectiva soma, são:
Dois amigos reencontram-se, depois de muitos anos, na casa de um deles. O visitante, após os cumprimentos usuais, inicia o seguinte diálogo: – Soube que você se casou, mas não sei se tem filhos. – Sim, tenho três filhas. Infelizmente não estão aqui para que eu possa apresentá-las. – Posso saber a idade delas? – Para lembrar nossos velhos tempos, vou apresentar-lhe um problema, pois sei que você gosta deles: o produto das idades das minhas três filhas é 36 e a soma das idades delas é o número de minha casa. – Sei o número da sua casa, mas mesmo assim ainda não dá para saber as idades. – Mais um dado: a mais velha toca piano. – Então fica fácil. As idades são... (Para o leitor, o problema consiste em dizer a idade das três filhas.)
ARTIGO
5
Descoberto gene que regula potencial de formação de tumores das células-tronco embrionárias Karina Toledo
ram um padrão aberrante na expressão do gene E2F2 m testes feitos com animais, pesquisadores da em culturas de células-tronco tumorais. Universidade de São Paulo (USP) mostraram “Estávamos estudando amostras de glioblastoma, que o silenciamento específico de um gene – o tipo mais agressivo de câncer cerebral. Isolamos o E2F2 – reduz significativamente o risco de célulasas células-tronco desses tumores e fizemos uma -tronco embrionárias induzirem a formação de tumoanálise genética para ver quais eram os genes com res sem diminuir sua pluripotência (capacidade de se expressão aberrante nessas células. Elas são muito diferenciar em qualquer tipo de tecido). relevantes do ponto de vista clínico, pois são mais A descoberta pode ajudar a superar um dos princieficientes em gerar tumores e mais resistentes a trapais obstáculos para o avanço de terapias à base de tamento com químio e radioterapia”, contou o pescélulas-tronco pluripotentes – consideradas esperanquisador. ça de cura para lesões medulares, degeneração maO grupo observou que, quanto maior era a excular e doenças como diabetes, Parkinson, Alzheimer pressão do E2F2, maior era o grau de agressivie distrofia muscular. dade tumoral. “Desconfiamos então Os resultados do projeto “Fator que também nas células-tronco emde transcrição E2F2 e expressão de brionárias esse gene poderia estar proto-oncogenes em células-tronco relacionado à tumorigênese”, contou embrionárias humanas”, apoiado pela Okamoto. FAPESP, foram divulgados em janeiro A hipótese foi inicialmente testana revista Stem Cells and Development. da in vitro, em culturas de células“Embora ofereçam muitas vanta-tronco embrionárias humanas. O gens, como a grande capacidade de Em experimentos com camundonse autorrenovar e de gerar células gos, silenciamento do gene E2F2 ini- gene E2F2 foi silenciado com auxílio de qualquer tecido do organismo, as biu significativamente a formação de de uma técnica conhecida como RNA teratomas sem diminuir a pluripotêncélulas-tronco embrionárias têm uma cia (colônia de células-tronco embrio- de interferência, na qual são usadas pequenas moléculas de RNA não codesvantagem: o risco de causarem tu- nárias humanas/IB-USP). dificadoras de proteínas capazes de se ligar ao RNAmores do tipo teratoma”, disse Oswaldo Keith Okamo-mensageiro de um gene específico e interromper sua to, professor do Departamento de Genética e Biologia expressão. Evolutiva do Instituto de Biociências da USP e coorde“O silenciamento do E2F2 in vitro inibiu significatinador da pesquisa. vamente a proliferação das células-tronco embrionáEsses tumores são formados por uma mistura de rias e sua capacidade de geração de novas colônias”, diferentes tipos de células das três camadas germinacontou Okamoto. tivas: endoderma, mesoderma e ectoderma. “Embora O passo seguinte foi testar o efeito do procedisejam benignos em sua maioria, formas malignas de mento em camundongos imunossuprimidos. Para teratomas também existem. Em conjunto, eles repreisso, os animais foram divididos em dois grupos. Mesentam um risco aos pacientes e são um empecilho tade foi inoculada com células-tronco embrionárias para a realização de testes clínicos”, disse Okamoto. controles e a outra metade, com as células modifiEm artigo publicado em 2007 na revista Biochimica cadas. et Biophysica Acta, Okamoto e colaboradores observa-
E
6
ARTIGO
Em avaliação feita 30 dias depois, o grupo que recebeu as células controle havia desenvolvido tumores com volume médio superior a 50 milímetros cúbicos (mm³), enquanto o grupo que recebeu as células com o gene silenciado ainda estava livre de tumor. Em uma segunda avaliação, feita 60 dias após a inoculação, os tumores do grupo que recebeu as células-tronco controles já estavam com mais de 2 mil mm³, enquanto no outro grupo o volume médio foi de apenas 60 mm³. “Acompanhamos os animais por até 90 dias após a inoculação das células-tronco modificadas e observamos que o crescimento do tumor estabilizou”, disse Okamoto. Outra série de experimentos foi então realizada para assegurar que o procedimento não havia afetado a pluripotência das células-tronco embrionárias. “Estimulamos, in vitro, as células-tronco modificadas a se diferenciarem em células dos três folhetos germinativos e isso ocorreu normalmente. Além disso, elas continuavam expressando os chamados fatores de pluripotência, que incluem proteínas como a Oct4, a Nanog e a Sox2”, contou Okamoto. A análise dos pequenos tumores formados nos camundongos que receberam as células-tronco modificadas também revelou traços típicos de teratoma. “Embora os tumores estivessem subdesenvolvidos por causa do silenciamento do gene E2F2, continham células dos três folhetos germinativos. E a formação de teratoma é indício de pluripotência”, disse o professor do Instituto de Biociências da USP. Segundo ele, o E2F2 é um gene-chave porque, além de regular os chamados oncogenes (genes rela-
cionados ao surgimento de tumores malignos ou benignos), regula também uma série de outros genes envolvidos em processos importantes como proliferação e diferenciação celular, replicação de DNA e morte por apoptose.
Células pluripotentes induzidas Em um futuro próximo, o grupo de Okamoto pretende realizar, no âmbito do Centro de Pesquisa sobre o Genoma Humano e Células-Tronco (HUG-CELL), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) da FAPESP, experimentos para confirmar se o silenciamento do gene E2F2 apresenta o mesmo efeito benéfico nas células pluripotentes induzidas (IPS na sigla em inglês). As células IPS podem ser obtidas a partir de células comuns da pele. Para isso, são inseridas na célula adulta certas proteínas – conhecidas como fatores de transcrição – capazes de reprogramar o genoma celular. Esses fatores de transcrição ativam genes relacionados ao estágio embrionário da célula e desligam outros genes que deveriam estar ativos após o amadurecimento. “Acreditamos que o mesmo que observamos em células-tronco embrionárias humanas deve ocorrer nas IPS. Isso seria muito interessante do ponto de vista terapêutico, pois esse tipo de célula pode ser obtida a partir de tecido do próprio paciente a ser tratado. Não oferece, portanto, o mesmo risco de rejeição das células-tronco embrionárias”, disse Okamoto. Extraído de: Agência FAPESP – Divulgando a cultura científica, fev./2014.
SOBRE AS PALAVRAS
Arco-da-velha Arco-da-velha e arco-celeste são nomes menos populares do arco-íris. Segundo alguns linguistas, a expressão é uma referência à faixa multicolorida que apareceu no céu logo após o dilúvio bíblico, sendo sinal de que a aliança entre Deus e os homens não havia sido quebrada. Com o passar do tempo, a expressão ampliaria seu sentido, sendo usada para indicar qualquer coisa fantástica, incrível, maravilhosa. Outros estudiosos acreditam que a expressão nasceu a partir de ilustrações medievais que mostravam velhas senhoras, possivelmente bruxas, sentadas sobre o arco-íris. Segundo a superstição popular dos séculos XIII a XVIII, as bruxas faziam do arco um meio de transporte para roubar ouro de um lugar e depositar em outro. Acredita-se que, por causa disso, no final do arco-íris existia um pote de ouro.
POIS É, POESIA
7
Luís Vaz de Camões (1525?-1580) Pois meus olhos não cansam de chorar
C ara minha inimiga, em cuja mão
Tristezas, não cansadas de cansar-me; Pois não abranda o fogo em que abrasar-me Pôde quem eu jamais pude abrandar;
Pôs meus contentamentos a ventura, Faltou-te a ti na terra sepultura, Porque me falte a mim consolação.
Não canse o cego Amor de me guiar Onde nunca de lá possa tornar-me; Nem deixe o mundo todo de escutar-me, Enquanto a fraca voz me não deixar.
Eternamente as águas lograrão A tua peregrina fermosura; Mas, enquanto me a mim a vida dura, Sempre viva em minha alma te acharão.
E se em montes, se em prados, e se em vales Piadade mora algua, algum amor Em feras, plantas, aves, pedras, águas;
E, se os meus rudos versos podem tanto Que possam prometer-te longa história De aquele amor tão puro e verdadeiro,
Ouçam a longa história de meus males, E curem sua dor com minha dor; Que grandes mágoas podem curar mágoas.
Celebrada serás sempre em meu canto; Porque, enquanto no mundo houver memória, Será a minha escritura o teu letreiro.
***
N um bosque, que das ninfas se habitava, Cibele, ninfa linda, andava um dia; E, subida nua árvore sombria, As amarelas flores apanhava. Cupido, que ali sempre costumava A vir passar a sesta à sombra fria, Em um ramo arco e setas, que trazia, Antes que adormecesse, pendurava. A Ninfa, como idóneo tempo vira Para tamanha empresa, não dilata; Mas com as armas foge ao moço esquivo. As setas traz nos olhos, com que tira. Ó pastores! fugi, que a todos mata, Senão a mim, que de matar-me vivo. ***
L
indo e sutil trançado, que ficaste Em penhor do remédio que mereço, Se só contigo, vendo-te, endoideço, Que fora cos cabelos que apertaste? Aquelas tranças de ouro que ligaste, Que os raios do Sol têm em pouco preço, Não sei se ou pera engano do que peço, Ou para me matar as desataste. Lindo trançado, em minhas mãos te vejo, E por satisfação de minhas dores, Como quem não tem outra, hei-de tomar-te. E, se não for contente o meu desejo, Dir-lhe-ei que, nesta regra dos amores, Por o todo também se toma a parte. ***
***
O h! Como se me alonga de ano em ano A peregrinação cansada minha! Como se encurta e como ao fim caminha Este meu breve e vão discurso humano! Minguando a idade vai, crescendo o dano; Perdeu-se-me um remédio, que inda tinha; Se por experiência se adivinha, Qualquer grande esperança é grande engano. Corro após este bem que não se alcança; No meio do caminho me falece; Mil vezes caio e perco a confiança. Quando ele foge, eu tardo; e na tardança, Se os olhos ergo, a ver se inda aparece, Da vista se me perde e da esperança. ***
Por os raros extremos que mostrou Em sábia Palas, Vénus em fermosa, Diana em casta, Juno em animosa, África, Europa e Ásia as adorou. Aquele saber grande que juntou Espírito e corpo em liga generosa, Esta mudana máquina lustrosa, De sós quatro Elementos fabricou. Mas fez maior milagre a Natureza Em vós, Senhoras, pondo em cada uma O que por todas quatro repartiu. A vós seu resplendor deu Sol e Lua; A vós com viva luz, graça e pureza, Ar, Fogo, Terra e Água vos serviu. Extraído de: Sonetos. In: Obras completas, Porto, Lello & Irmão Editores.
8
ESPECIAL
Simulação da ONU Alunos do Etapa participaram do 30º Ivy League Model United Nations Conference
omo funcionam as discussões e debates na Organização das Nações Unidas? Em janeiro de 2014, alunos do Ensino Médio do Colégio Etapa fizeram uma viagem aos Estados Unidos para descobrir todos esses processos em primeira mão. Eles participaram do 30º Ivy League Model United Nations Conference (ILMUNC), uma espécie de simulação da ONU. Estudantes de todo o mundo se reuniram na Universidade da Pensilvânia para o evento. Foram 200 delegações, contando com mais de 3 000 alunos. Cada delegação ficou responsável por representar um país, que foi selecionado aleatoriamente. Com base em suas próprias pesquisas, os jovens debateram temas da agenda internacional, divididos em diversos comitês e conselhos – como Direitos Humanos, Desenvolvimento Social e Segurança. Portanto, cada grupo precisou defender a posição tomada pelo seu país, explicando o seu ponto de vista – sempre utilizando a língua inglesa. O ILMUNC é um projeto que dá aos estudantes do Ensino Médio a oportunidade não apenas de compreender como funciona uma importante organização mundial, mas também – e principalmente – de desenvolver as suas próprias habilidades: o espírito de liderança, o pensamento crítico, o trabalho em equipe. Os adolescentes colocam em prática tudo isso e ainda aprendem a defender as suas ideias sem deixar de levar em conta as opiniões dos outros participantes. A delegação do Etapa ficou responsável por representar a Palestina e participou de alguns comitês, como o SPECPOL (sobre os refugiados da Palestina), o SOCHUM (sobre as condições de campos de refugiados) e o LEGAL (com relação à clonagem humana). Os alunos tiveram que discorrer sobre os temas de acordo com a política externa do país representado. Entre 30 de janeiro e 2 de fevereiro, o grupo do Etapa ainda pôde conhecer a sede da ONU, a Universidade da Pensilvânia e alguns pontos turísticos de Nova Iorque. Uma viagem como essa só poderia ter um saldo positivo: diversão, muitos aprendizados e várias experiências novas!
C