Jornal do Vestibulando Nº 1492

Page 1

1492

Jornal do Vestibulando

ENSINO, INFORMAÇÃO E CULTURA

JORNAL ETAPA – 2015 • DE 07/05 A 20/05

ENTREVISTA

“O curso de Administração abrange muitas áreas, amplia as possibilidades.” Beatriz de Souza Ribeiro está hoje na FEA-USP. Ela oscilou no ano passado entre Administração e Engenharia de Produção, mas no fim decidiu por Administração. Aqui ela conta como se preparou no cursinho, comenta como está o início do curso e fala de atividades extra-aula que quer desenvolver na USP.

Beatriz de Souza Ribeiro Em 2014: Etapa Em 2015: Administração – USP

JV – Como você chegou à escolha de Administração como carreira? Beatriz – Eu estava na dúvida entre Administra­ ção e Engenharia de Produção. Um dos meus ir­ mãos fez Administração numa particular, o outro fez Engenharia de Produção na Federal de San­ ta Catarina. Conversei muito com os dois. O de Produção me falava para fazer Administração, o de Administração falava para fazer Produção. Um sentia falta do que o outro tinha. Tanto é que eles têm projetos juntos. O que levou você a preferir Administração? Foi através de conversas. Conversei com pes­ soas que estavam na Poli e na FEA. E meu perfil realmente não era da Poli. Você estuda muito no vestibular e lá ainda mais, é exaustivo. Muitas pessoas com quem eu conversei pensavam em sair da Poli, prestar Engenharia em outros lugares ou prestar para a FEA. E pessoas que me conhe­ ciam falavam que eu tinha tudo a ver com a FEA. Olhei os cursos de Engenharia em outros lugares que se enquadrassem. Mas a Poli eu descartei. Além da Fuvest, você prestou quais vestibulares? Prestei Unicamp, Unesp e a Federal de Santa Ca­ tarina. Esses três para Engenharia de Produção. Como você veio estudar no Etapa? Meu irmão da Engenharia de Produção fez Etapa há uns anos. A gente pesquisou diversos cursi­ nhos. Para o meu foco, o que melhor se encai­ xou foi o Etapa. Com que expectativa você estava no começo do ano passado? Estava confiante, porque estudei em um colégio modelo em São Bernardo, muito puxado. Só que ele não tinha o foco de vestibular, ele não tem

ENTREVISTA

Beatriz de Souza Ribeiro CONTO

A igreja do Diabo – Machado de Assis

uma revisão, não tem um acompanhamento – tudo que eu tive aqui.

Quais foram suas dificuldades no ano passado? Para mim era um pouco longe, a distância atra­ palhava porque demorava muito tempo e era desgastante, mas acho que o maior problema foi a organização de tempo. Isso exige autoconheci­ mento. Fui olhando o que outros alunos fizeram e fui tentando de várias maneiras até achar o jei­ to em que melhor me enquadrei. Durante o ano no cursinho, como era sua rotina de estudo? Eu comecei indo estudar em casa, mas vi que não dava certo e no final da apostila 1 passei a estudar aqui. Na Sala de Estudos fluía e aproveitei muito os plantonistas. Ficava lá até umas 6, 7 horas. An­ tes de dormir eu sempre lia alguma coisa. Apro­ veitava todos os tempos que eu tinha, no metrô, no trólebus para ler alguma coisa, ver um vídeo, ler uma revista. Sempre aproveitando o tempo.

Em quais matérias você usava mais o Plantão de Dúvidas? Química foi a que mais usei. E Física. Matemá­ tica nem tanto, as dúvidas eu tirava com meu pai, que é professor de Matemática. Mas ele não tinha muito tempo para me ajudar, trabalhava o dia inteiro. Matemática, Física, Química eram as matérias em que eu tinha mais dúvidas. Teve alguma matéria que você não gostava muito e aqui passou a ver de maneira diferente? Não gostava de Biologia, mas aprendi a estudar. Os professores são bem didáticos, bem bacanas, prendiam a atenção. Isso facilitou muito para eu aprender Biologia. De Física eu sempre gostei, mas aqui no Etapa me apaixonei. Isso me deixou mais em dúvida se prestava Engenharia ou não.

Teve uma época mais tranquila para você? O começo do ano. As matérias são básicas e eu tive uma base boa. Mesmo assim, não deixava de fazer, pegava a apostila e fazia tudo que o pro­ fessor mandava.

Você fez Reforço? Eu fiz o RPE, Reforço para Engenharia, quando ainda estava em dúvida. No começo, durante uns três meses, fiz tudo. No meio do ano era praticamente um final de semana sim, outro não. E mais perto dos vestibulares era irregular. Quan­ do estava com a matéria em dia, eu ia. Quando estava tudo acumulado, eu vinha para o cursinho e ficava só estudando.

E quando foi a época mais cansativa? No meio do ano. Antes das férias. Estava naque­ la exaustão, muita gente estava.

Quem é quem?

5

POIS É, POESIA

3

Quais matérias você precisava estudar mais? Nunca tive gosto por Biologia, mas me esforcei mais no cursinho. Em História, apesar de sempre ter gostado, eu vi que realmente me faltava uma base mais sólida. Matemática, mesmo no come­ ço achando bem fácil, eu fazia tudo. Peguei firme em Matemática porque sabia que lá na frente ti­ nha conteúdos em que eu estava meio assim.

Você estudava a matéria do dia? Eu pegava a matéria do dia. Uma coisa que me ajudou muito foi trabalhar com agenda. Eu anota­ va no caderno todos os exercícios que o profes­ sor passava e as dúvidas que surgiam. Chegava em casa, fazia os exercícios, olhava na internet as dúvidas que eu tinha, mas tudo com base no que os professores passavam no dia.

ENTRE PARÊNTESIS

1

Em quais matérias você tinha uma base mais sólida? Matemática, Geografia, Português.

Florbela Espanca (1894-1930)

6

ARTIGO Política externa dos Estados Unidos (séculos XX-XXI) SERVIÇO DE VESTIBULAR

Inscrições

7 8


2

ENTREVISTA

Você fez os simulados? Em que faixas de classificação você ficava? Fiz quase todos. Não lembro qual era a faixa, mas os primeiros resultados eram muito bons. Minha média anual de notas foi de 65 a 70. Nos primeiros simulados era um pouco mais, chegava a 75, às vezes um pouco menos, sem nunca ficar abaixo de 63. Mas eu sabia que na Fuvest o emocional ia me abalar e a nota ia cair. Foi o que aconteceu. Qual foi a importância dos simulados em sua preparação? Foram importantes para organizar o tempo e a forma de fazer a prova. Eu achei meu jeito de preencher gabarito fazendo simulados. Eu não faço direto, começo fazendo uma matéria, mudo de Humanas para Exatas, sempre mar­ cando onde parei. Consegui me organizar des­ se jeito. Não sei se é recomendável, mas eu gostei de fazer assim, deixou a prova mais ágil, porque quando eu fico só numa matéria fico cansada, não sei mais fazer. Você treinava Redação? No começo do ano eu tentava fazer uma Reda­ ção por mês. Acabou que nos períodos em que tinha mais coisas nem isso eu fazia. Depois que passei para a 2a fase tentei fazer uma por se­ mana. Mas não fiquei tão focada nas redações quanto me falaram para ficar. Na verdade, eu não tenho dificuldade na escrita, mas não gosto de escrever. Sou muito exigente, demoro muito tempo, para mim é desgastante. Na gramática, na coerência, eu sou muito exigente. O proble­ ma maior era realmente o conteúdo. A média de minhas redações no decorrer do ano foi 6,5, 7. Você leu as obras da Literatura indicadas pela Fuvest? Eu li no Ensino Médio. Aqui no cursinho fiquei nos resumos e nas palestras. Acho importante as palestras, ajudaram bastante. Os professo­ res dão uma visão do que é pedido, que não é só você ler, tem de interpretar, tem toda uma análise, o contexto histórico. O que você fez nas duas semanas de férias em julho? Minha ideia era colocar tudo em dia. Mas eu descansei, convivi mais com minha família, por­ que fiquei muito ausente naquele ano. Saía, mas nada muito exaustivo, nenhuma viagem, nenhu­ ma bateria de festas. Foi bem tranquilo. Assisti a algum filme, li alguma coisa, fiz alguns exercícios, mas nada assim: “Hoje vou parar para estudar”.

Não acho ruim morar fora, no interior, acho enri­ quecedor, eu iria.

Em qual universidade você achava que tinha mais chance de passar? Na USP e na Unesp. A Unicamp era minha segunda possibilidade. Coloquei Engenharia de Produção como 1a opção e Administração como 2a. Você foi chamada pela Unicamp? Para Administração. Na Unesp aconteceu um imprevisto, a prova da 2a fase coincidiu com a prova na Federal de Santa Catarina. Tive de es­ colher entre as duas. Na Unesp eu tinha sido a 12a colocada na 1a fase, era quase certo que eu passaria, e na Federal de Santa Catarina era incerto, o estilo de prova lá é diferente. Qual você escolheu? Santa Catarina. Na 1a fase da Fuvest, quantos pontos você fez? Fiz 56 pontos. O corte foi 52, sua nota ficou quase 10% acima do corte. Ficou satisfeita? Eu fui prática quando contei os pontos: “Tudo bem, passei, fiquei feliz”. Mas poderia ter sido melhor, meu objetivo era fazer mais de 60. Eu realmente fiquei bem nervosa no dia da prova. Achei a Fuvest mais difícil do que nos outros anos que prestei, ao terminar o Ensino Médio. Depois, olhando a prova com mais calma, vi que era para fazer até uns 5 pontos a mais. Na 2a fase, quais foram suas notas nos três dias de provas? No primeiro dia, prova de Português, tirei 55,5. Minha nota na Redação foi 56. No segundo dia, na prova geral, tirei 62,5. No terceiro dia, das matérias prioritárias da carreira, tirei 37,5. O que achou desses resultados? Eu nunca tinha feito uma 2a fase da Fuvest. Achei mais tranquilo do que eu esperava, as questões são mais abrangentes, não são tão específicas, eu me organizei bem em relação ao tempo. Estava com muito medo da Reda­ ção, mas me dei bem, fluiu tranquilo. Você lembra qual foi sua pontuação na Fuvest, na escala de zero a 1 000? 544,3 pontos. Você já conhecia a FEA? Pessoalmente, não. Já tinha pesquisado, con­ versei bastante com um amigo que está lá.

Você teve que abrir mão de alguma atividade para se preparar melhor para os vestibulares? Parei de ir à academia. Mas consegui conciliar um curso de inglês com o cursinho. Fiquei na dúvida se valia a pena fazer, mas achei um curso que se enquadrava no que eu queria, porque ti­ nha autonomia de horário, eu marcava as aulas.

O primeiro contato foi na matrícula? Foi na matrícula. Estava com meus pais. O pri­ meiro trote é na matrícula e eu vestia uma roupa que não era para sujar. Minha mãe insistiu para que me pintassem pelo menos alguma coisa. Conversei com algumas pessoas, me pintaram, minha mãe tirou foto. Tudo bem tranquilo.

Se você não passasse na Fuvest, passasse na Unicamp e na Unesp, você iria para o interior? Iria. Eu acho que a USP tem muitos benefícios, mas outras faculdades também têm os delas.

Que matérias você tem neste semestre? Estou tendo Microeconomia, Computação, Matemática, Contabilidade e Fundamentos de Administração.

Jornal do Vestibulando

De que matéria você está gostando mais? Fundamentos de Administração é legal, bem simples. É o que sempre quis estudar, estou adorando a matéria, bem didática. Microecono­ mia também é legal. Mas tudo está bem básico por enquanto. O que você destaca da FEA além das aulas? Na parte física, achei a FEA organizada. Do pon­ to de vista social, as pessoas foram bem recep­ tivas. O pessoal convive muito bem. Hoje, na FEA, como você vê a Administração? Fim da indecisão? O curso de Administração abrange muitas áreas, amplia as possibilidades. Não estou com aquela indecisão: “Será que escolhi o curso cer­ to?” A FEA está permitindo que eu me conheça melhor. Você está participando de alguma atividade extra-aula? A que mais me interessou até agora é a Empre­ sa Júnior. Tem outras, tem o pessoal que é mais esportista, tem a bateria, tem várias. Mas a que mais me interessou foi a Júnior. O que você pode dizer a quem está se preparando este ano, para aproveitar o melhor possível o estudo no cursinho? Eu acredito que vale a pena se dedicar integral­ mente, não negligenciar nenhuma matéria. No meu caso, até mesmo Biologia, que era uma matéria de que não gostava, eu estudei bastan­ te e me ajudou muito. E o que você pode dizer a quem prestou no ano passado, não entrou e está aqui de novo este ano? Não se trata de uma prova, trata-se de um pro­ jeto de vida, da realização de um sonho. Se você descobriu o que deu errado, não repita. Repita o que deu certo. É isso, não desista. Hoje você acha que está diferente de quando veio para o cursinho? Eu acho que me tornei mais autônoma. Hoje eu tomo decisões não porque meus pais querem que eu faça, não porque me disseram para fa­ zer, mas porque eu quero. O que foi marcante para você no Etapa? Em relação aos professores, são brilhantes em dar aula. Em relação às pessoas, são muitos so­ nhos, histórias diferentes. O que eu mais levo daqui são as pessoas que encontrei. Você tem saudade de alguma coisa? Eu acho que vou ter saudade sempre da convi­ vência com as pessoas daqui e das aulas bem divertidas, bem legais, que a gente não vai en­ contrar em lugar nenhum. O que você tira de lição dessa experiência em que foi bem-sucedida com sua entrada na USP? Vale a pena focar no que você quer. A recom­ pensa é muito grande.

Jornal ETAPA, editado por Etapa Ensino e Cultura REDAÇÃO: Rua Vergueiro, 1 987 – CEP 04101-000 – Paraíso – São Paulo – SP JORNALISTA RESPONSÁVEL: Egle M. Gallian – M.T. 15343


CONTO

3

A igreja do Diabo Machado de Assis Capítulo I De uma ideia mirífica Conta um velho manuscrito beneditino que o Diabo, em certo dia, teve a ideia de fundar uma igreja. Embora os seus lucros fossem contínuos e grandes, sentia-se humilhado com o papel avulso que exercia desde séculos, sem organização, sem regras, sem cânones, sem ritual, sem nada. Vivia, por assim dizer, dos remanescentes divinos, dos descuidos e obséquios humanos. Nada fixo, nada regular. Por que não teria ele a sua igreja? Uma igreja do Diabo era o meio eficaz de combater as outras religiões, e destruí-las de uma vez. – Vá, pois, uma igreja, concluiu ele. Escritura contra Escritura, breviário contra breviário. Terei a minha missa, com vinho e pão à farta, as minhas prédicas, bulas, novenas e todo o demais aparelho eclesiástico. O meu credo será o núcleo universal dos espíritos, a minha igreja uma tenda de Abraão. E depois, enquanto as outras religiões se combatem e se dividem, a minha igreja será única; não acharei diante de mim, nem Maomé, nem Lutero. Há muitos modos de afirmar; há só um de negar tudo. Dizendo isto, o Diabo sacudiu a cabeça e estendeu os braços, com um gesto magnífico e varonil. Em seguida, lembrou-se de ir ter com Deus para comunicar-lhe a ideia, e desafiá-lo; levantou os olhos, acesos de ódio, ásperos de vingança, e disse consigo: – Vamos, é tempo. E rápido, batendo as asas, com tal estrondo que abalou todas as províncias do abismo, arrancou da sombra para o infinito azul.

Capítulo II Entre Deus e o Diabo Deus recolhia um ancião, quando o Diabo chegou ao céu. Os serafins que engrinaldavam o recém-chegado, detiveram-se logo, e o Diabo deixou-se estar à entrada com os olhos no Senhor. – Que me queres tu? perguntou este. – Não venho pelo vosso servo Fausto, respondeu o Diabo rindo, mas por todos os Faustos do século e dos séculos. – Explica-te. – Senhor, a explicação é fácil; mas permiti que vos diga: recolhei primeiro esse

bom velho; dai-lhe o melhor lugar, mandai que as mais afinadas cítaras e alaúdes o recebam com os mais divinos coros... – Sabes o que ele fez? perguntou o Senhor, com os olhos cheios de doçura. – Não, mas provavelmente é dos últimos que virão ter convosco. Não tarda muito que o céu fique semelhante a uma casa vazia, por causa do preço, que é alto. Vou edificar uma hospedaria barata; em duas palavras, vou fundar uma igreja. Estou cansado da minha desorganização, do meu reinado casual e adventício. É tempo de obter a vitória final e completa. E então vim dizer-vos isto, com lealdade, para que me não acuseis de dissimulação... Boa ideia, não vos parece? – Vieste dizê-la, não legitimá-la, advertiu o Senhor. – Tendes razão, acudiu o Diabo; mas o amor-próprio gosta de ouvir o aplauso dos mestres. Verdade é que neste caso seria o aplauso de um mestre vencido, e uma tal exigência... Senhor, desço à terra; vou lançar a minha pedra fundamental. – Vai. – Quereis que venha anunciar-vos o remate da obra? – Não é preciso; basta que me digas desde já por que motivo, cansado há tanto da tua desorganização, só agora pensaste em fundar uma igreja? O Diabo sorriu com certo ar de escárnio e triunfo. Tinha alguma ideia cruel no espírito, algum reparo picante no alforje da memória, qualquer cousa que, nesse breve instante da eternidade, o fazia crer superior ao próprio Deus. Mas recolheu o riso, e disse: – Só agora concluí uma observação, começada desde alguns séculos, e é que as virtudes, filhas do céu, são em grande número comparáveis a rainhas, cujo manto de veludo rematasse em franjas de algodão. Ora, eu proponho-me a puxá-las por essa franja, e trazê-las todas para minha igreja; atrás delas virão as de seda pura... – Velho retórico! murmurou o Senhor. – Olhai bem. Muitos corpos que ajoe­ lham aos vossos pés, nos templos do mundo, trazem as anquinhas da sala e da rua, os rostos tingem-se do mesmo pó, os lenços cheiram aos mesmos cheiros, as pupilas centelham de curiosidade

e devoção entre o livro santo e o bigode do pecado. Vede o ardor, – a indiferença, ao menos, – com que esse cavalheiro põe em letras públicas os benefícios que liberalmente espalha, – ou sejam roupas ou botas, ou moedas, ou quaisquer dessas matérias necessárias à vida... Mas não quero parecer que me detenho em cousas miúdas; não falo, por exemplo, da placidez com que este juiz de irmandade, nas procissões, carrega piedosamente ao peito o vosso amor e uma comenda... Vou a negócios mais altos... Nisto os serafins agitaram as asas pesadas de fastio e sono. Miguel e Gabriel fitaram no Senhor um olhar de súplica. Deus interrompeu o Diabo. – Tu és vulgar, que é o pior que pode acontecer a um espírito da tua espécie, replicou-lhe o Senhor. Tudo o que dizes ou digas está dito e redito pelos moralistas do mundo. É assunto gasto; e se não tens força, nem originalidade para renovar um assunto gasto, melhor é que te cales e te retires. Olha; todas as minhas le­giões mostram no rosto os sinais vivos do tédio que lhes dás. Esse mesmo ancião parece enjoado; e sabes tu o que ele fez? – Já vos disse que não. – Depois de uma vida honesta, teve uma morte sublime. Colhido em um naufrágio, ia salvar-se numa tábua; mas viu um casal de noivos, na flor da vida, que se debatiam já com a morte; deu-lhes a tábua de salvação e mergulhou na eternidade. Nenhum público: a água e o céu por cima. Onde achas aí a franja de algodão? – Senhor, eu sou, como sabeis, o espírito que nega. – Negas esta morte? – Nego tudo. A misantropia pode tomar aspecto de caridade; deixar a vida aos outros, para um misantropo, é realmente aborrecê-los... – Retórico e sutil! exclamou o Senhor. Vai; vai, funda a tua igreja; chama todas as virtudes, recolhe todas as franjas, convoca todos os homens... Mas, vai! vai! Debalde o Diabo tentou proferir alguma cousa mais. Deus impusera-lhe silêncio; os serafins, a um sinal divino, encheram o céu com as harmonias de seus cânticos. O Diabo sentiu, de repente, que se achava no ar; dobrou as asas, e, como um raio, caiu na terra.


4

CONTO Capítulo III A boa nova aos homens

Uma vez na terra, o Diabo não perdeu um minuto. Deu-se pressa em enfiar a cogula beneditina, como hábito de boa fama, e entrou a espalhar uma doutrina nova e extraordinária, com uma voz que reboava nas entranhas do século. Ele prometia aos seus discípulos e fiéis as delícias da terra, todas as glórias, os deleites mais íntimos. Confessava que era o Diabo; mas confessava-o para retificar a noção que os homens tinham dele e desmentir as histórias que a seu respeito contavam as velhas beatas. – Sim, sou o Diabo, repetia ele; não o Diabo das noites sulfúreas, dos contos soníferos, terror das crianças, mas o Diabo verdadeiro e único, o próprio gênio da natureza, a que se deu aquele nome para arredá-lo do coração dos homens. Vede-me gentil e airoso. Sou o vosso verdadeiro pai. Vamos lá: tomai daquele nome, inventado para meu desdouro, fazei dele um troféu e um lábaro, e eu vos darei tudo, tudo, tudo, tudo, tudo, tudo... Era assim que falava, a princípio, para excitar o entusiasmo, espertar os indiferentes, congregar, em suma, as multidões ao pé de si. E elas vieram; e logo que vieram, o Diabo passou a definir a doutrina. A doutrina era a que podia ser na boca de um espírito de negação. Isso quanto à substância, porque, acerca da forma, era umas vezes sutil, outras cínica e deslavada. Clamava ele que as virtudes aceitas deviam ser substituídas por outras, que eram as naturais e legítimas. A soberba, a luxúria, a preguiça foram reabilitadas, e assim também a avareza, que declarou não ser mais do que a mãe da economia, com a diferença que a mãe era robusta, e a filha uma esgalgada. A ira tinha a melhor defesa na existência de Homero; sem o furor de Aquiles, não haveria a Ilíada: “Musa, canta a cólera de Aquiles, filho de Peleu”... O mesmo disse da gula, que produziu as melhores páginas de Rabelais, e muitos bons versos do Hissope; virtude tão superior, que ninguém se lembra das batalhas de Luculo, mas das suas ceias; foi a gula que realmente o fez imortal. Mas, ainda pondo de lado essas razões de ordem literária ou histórica, para só mostrar o valor intrínseco daquela virtude, quem negaria que era muito melhor sentir na boca e no ventre os bons manjares, em grande cópia, do que os maus bocados, ou a saliva do jejum? Pela sua

parte o Diabo prometia substituir a vinha do Senhor, expressão metafórica, pela vinha do Diabo, locução direta e verdadeira, pois não faltaria nunca aos seus com o fruto das mais belas cepas do mundo. Quanto à inveja, pregou friamente que era a virtude principal, origem de prosperidades infinitas; virtude preciosa, que chegava a suprir todas as outras, e ao próprio talento. As turbas corriam atrás dele entusiasmadas. O Diabo incutia-lhes, a grandes golpes de eloquência, toda a nova ordem de cousas, trocando a noção delas, fazendo amar as perversas e detestar as sãs. Nada mais curioso, por exemplo, do que a definição que ele dava da fraude. Chamava-lhe o braço esquerdo do homem; o braço direito era a força; e concluía: muitos homens são canhotos, eis tudo. Ora, ele não exigia que todos fossem canhotos; não era exclusivista. Que uns fossem canhotos, outros destros; aceitava a todos, menos os que não fossem nada. A demonstração, porém, mais rigorosa e profunda, foi a da venalidade. Um casuísta do tempo chegou a confessar que era um monumento de lógica. A venalidade, disse o Diabo, era o exercício de um direito superior a todos os direitos. Se tu podes vender a tua casa, o teu boi, o teu sapato, o teu chapéu, cousas que são tuas por uma razão jurídica e legal, mas que, em todo caso, estão fora de ti, como é que não podes vender a tua opinião, o teu voto, a tua palavra, a tua fé, cousas que são mais do que tuas, porque são a tua própria consciência, isto é, tu mesmo? Negá-lo é cair no absurdo e no contraditório. Pois não há mulheres que vendem os cabelos? não pode um homem vender uma parte do seu sangue para transfundi-lo a outro homem anêmico? e o sangue e os cabelos, partes físicas, terão um privilégio que se nega ao caráter, à porção moral do homem? Demonstrando assim o princípio, o Diabo não se demorou em expor as vantagens de ordem temporal ou pecuniária; depois, mostrou ainda que, à vista do preconceito social, conviria dissimular o exercício de um direito tão legítimo, o que era exercer ao mesmo tempo a venalidade e a hipocrisia, isto é, merecer duplicadamente. E descia, e subia, examinava tudo, retificava tudo. Está claro que combateu o perdão das injúrias e outras máximas de brandura e cordialidade. Não proibiu formalmente a calúnia gratuita, mas induziu a exercê-la mediante retribuição, ou pecuniária, ou de outra espécie; nos

casos, porém, em que ela fosse uma expansão imperiosa da força imaginativa, e nada mais, proibia receber nenhum salário, pois equivalia a fazer pagar a transpiração. Todas as formas de respeito foram condenadas por ele, como elementos possíveis de um certo decoro social e pessoal; salva, todavia, a única exceção do interesse. Mas essa mesma exceção foi logo eliminada, pela consideração de que o interesse, convertendo o respeito em simples adulação, era este o sentimento aplicado e não aquele. Para rematar a obra, entendeu o Diabo que lhe cumpria cortar por toda a solidariedade humana. Com efeito, o amor do próximo era um obstáculo grave à nova instituição. Ele mostrou que essa regra era uma simples invenção de parasitas e negociantes insolváveis; não se devia dar ao próximo senão indiferença; em alguns casos, ódio ou desprezo. Chegou mesmo à demonstração de que a noção de próximo era errada, e citava esta frase de um padre de Nápoles, aquele fino e letrado Galiani, que escrevia a uma das marquesas do antigo regime: “Leve a breca o próximo! Não há próximo!” A única hipótese em que ele permitia amar ao próximo era quando se tratasse de amar as damas alheias, porque essa espécie de amor tinha a particularidade de não ser outra cousa mais do que o amor do indivíduo a si mesmo. E como alguns discípulos achassem que uma tal explicação, por metafísica, escapava à compreensão das turbas, o Diabo recorreu a um apólogo: – Cem pessoas tomam ações de um banco, para as operações comuns; mas cada acionista não cuida realmente senão nos seus dividendos: é o que acontece aos adúlteros. Este apólogo foi incluído no livro da sabedoria.

Capítulo IV Franjas e franjas A previsão do Diabo verificou-se. Todas as virtudes cuja capa de veludo acabava em franja de algodão, uma vez puxadas pela franja, deitavam a capa às urtigas e vinham alistar-se na igreja nova. Atrás foram chegando as outras, e o tempo abençoou a instituição. A igreja fundara-se; a doutrina propagava-se; não havia uma região do globo que não a conhecesse, uma língua que não a traduzisse, uma raça que não a amasse. O Diabo alçou brados de triunfo. Um dia, porém, longos anos depois notou o Diabo que muitos dos seus fiéis, às escondidas, praticavam as antigas


CONTO virtudes. Não as praticavam todas, nem integralmente, mas algumas, por partes, e, como digo, às ocultas. Certos glutões recolhiam-se a comer frugalmente três ou quatro vezes por ano, justamente em dias de preceito católico; muitos avaros davam esmolas, à noite, ou nas ruas mal povoadas; vários dilapidadores do erário restituíam-lhe pequenas quantias; os fraudulentos falavam, uma ou outra vez, com o coração nas mãos, mas com o mesmo rosto dissimulado, para fazer crer que estavam embaçando os outros. A descoberta assombrou o Diabo. Meteu-se a conhecer mais diretamente o mal, e viu que lavrava muito. Alguns casos eram até incompreensíveis, como o de um droguista do Levante, que envenenara longamente uma geração inteira, e, com o produto das drogas socorria os filhos das vítimas. No Cairo achou um perfeito ladrão de camelos, que tapava a cara

para ir às mesquitas. O Diabo deu com ele à entrada de uma, lançou-lhe em rosto o procedimento; ele negou, dizendo que ia ali roubar o camelo de um drogman; roubou-o, com efeito, à vista do Diabo e foi dá-lo de presente a um muezim, que rezou por ele a Alá. O manuscrito beneditino cita muitas outras descobertas extraordinárias, entre elas esta, que desorientou completamente o Diabo. Um dos seus melhores apóstolos era um calabrês, varão de cinquenta anos, insigne falsificador de documentos, que possuía uma bela casa na campanha romana, telas, estátuas, biblioteca, etc. Era a fraude em pessoa; chegava a meter-se na cama para não confessar que estava são. Pois esse homem, não só não furtava ao jogo, como ainda dava gratificações aos criados. Tendo angariado a amizade de um cônego, ia todas as semanas confessar-se com ele, numa capela solitária; e, conquanto

5

não lhe desvendasse nenhuma das suas ações secretas, benzia-se duas vezes, ao ajoelhar-se, e ao levantar-se. O Diabo mal pôde crer tamanha aleivosia. Mas não havia duvidar; o caso era verdadeiro. Não se deteve um instante. O pasmo não lhe deu tempo de refletir, comparar e concluir do espetáculo presente alguma cousa análoga ao passado. Voou de novo ao céu, trêmulo de raiva, ansioso de conhecer a causa secreta de tão singular fenômeno. Deus ouviu-o com infinita complacência; não o interrompeu, não o repreendeu, não triunfou, sequer, daquela agonia satânica. Pôs os olhos nele, e disse: – Que queres tu, meu pobre Diabo? As capas de algodão têm agora franjas de seda, como as de veludo tiveram franjas de algodão. Que queres tu? É a eterna contradição humana. Extraído de: Onze contos de Machado de Assis.

Biografia Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em 1839 no Rio de Janeiro. Filho do pintor mulato Francisco José de Assis e da portuguesa Maria Leopoldina Machado de Assis. Sua carreira literária teve início cedo, aos 16 anos, quando publicou o poema “Ela”, no jornal de Paula Brito, A Marmota Fluminense, onde continuou como colaborador. Em 1861, publicou as primeiras peças, Desencantos e queda que as mulheres têm para os tolos. Seus primeiros contos foram publicados no Jornal das Famílias; o primeiro livro de versos, Crisálidas, foi editado em 1864; e o primeiro romance, Ressurreição, é de 1872. No ano seguinte publicou Histórias da meia-noite. Sua fase madura, ou a fase realista, teve início com a publicação, em 1881, de Memórias póstumas de Brás Cubas. Seu livro Poesias completas foi publicado em volume em 1901. Em 1908, publicou seu último livro, Memorial de Aires, e morreu no dia 29 de setembro.

(ENTRE PARÊNTESIS)

Quem é quem? Amélia, que está sentada de costas para Maria, está à esquerda de Rosa. Helena não está tomando chá. Maria está à esquerda da moça que está de costas para Rosa. Pergunta-se: a) Quem está sentada na mesa indicada pelo número 1? b) Qual moça ainda não está tomando chá? c) Quem se senta na mesa número 3? d) O garçom está na direção de qual das moças? e) Qual moça não foi citada nos itens acima?

RESPOSTA Amélia está na mesa 1 ou na mesa 4. Se Amélia está na mesa 1, então Maria está na mesa 2 e Rosa, na mesa 3. Nesse caso, Helena está na mesa 4, o que é absurdo, pois sabe-se que Helena não está tomando chá. Logo, Amélia está na mesa 4. Assim, Maria está na mesa 3; Rosa, na mesa 2; e Helena, na mesa 1. a) Helena b) Rosa c) Maria d) Rosa e) Amélia


6

POIS É, POESIA

Florbela Espanca (1894-1930) Ambiciosa

Amar!

Para aqueles fantasmas que passaram,

E u quero amar, amar perdidamente! Amar só por amar: Aqui... além... Mais Este e Aquele, o Outro e toda a [gente... Amar! Amar! E não amar ninguém!

Vagabundos a quem jurei amar, Nunca os meus braços lânguidos [traçaram O voo dum gesto para os alcançar... Se as minhas mãos em garra se cravaram Sobre um amor em sangue a palpitar... – Quantas panteras bárbaras mataram Só pelo raro gosto de matar! Minha alma é como a pedra funerária Erguida na montanha solitária Interrogando a vibração dos céus! O amor dum homem? – Terra tão pisada, Gota de chuva ao vento baloiçada... Um homem? – Quando eu sonho o amor [dum Deus!...

Eu

E u sou a que no mundo anda perdida

Eu sou a que na vida não tem norte, Sou a irmã do Sonho, e desta sorte Sou a crucificada... a dolorida...

Sombra de névoa tênue e esvaecida, E que o destino amargo, triste e forte, Impele brutalmente para a morte! Alma de luto sempre incompreendida!... Sou aquela que passa e ninguém vê... Sou a que chamam triste sem o ser... Sou a que chora sem saber por quê... Sou talvez a visão que Alguém sonhou, Alguém que veio ao mundo pra me ver E que nunca na vida me encontrou!

À morte

Morte, minha Senhora Dona Morte, Tão bom que deve ser o teu abraço! Lânguido e doce como um doce laço E como uma raiz, sereno e forte. Não há mal que não sare ou não conforte Tua mão que nos guia passo a passo, Em ti, dentro de ti, no teu regaço Não há triste destino nem má sorte.

E, à tua espera, enquanto o mundo [dorme, Ficaria, olhos quietos, a cismar... Esfinge olhando, na planície enorme...

Sóror Saudade A Américo Durão

Recordar? Esquecer? Indiferente!... Prender ou desprender? É mal? É bem? Quem disser que se pode amar alguém Durante a vida inteira é porque mente!

I rmã Sóror Saudade me chamaste...

Há uma primavera em cada vida: É preciso cantá-la assim florida, Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

Numa tarde de outono o murmuraste; Toda a mágoa do outono ele me trouxe; Jamais me hão de chamar outro mais [doce: Com ele bem mais triste me tornaste...

E se um dia hei de ser pó, cinza e nada Que seja a minha noite uma alvorada, Que me saiba perder... pra me encontrar...

Noitinha

A noite sobre nós se debruçou...

Minha alma ajoelha, põe as mãos e ora! O luar, pelas colinas, nesta hora, É a água dum gomil que se entornou... Não sei quem tanta pérola espalhou! Murmura alguém pelas quebradas fora... Flores do campo, humildes, mesmo [agora, A noite, os olhos brandos, lhes fechou... Fumo beijando o colmo dos casais... Serenidade idílica de fontes, E a voz dos rouxinóis nos salgueirais... Tranquilidade... calma... anoitecer... Num êxtase, eu escuto pelos montes O coração das pedras a bater...

Esfinge

S ou filha da charneca erma e selvagem:

Os giestais, por entre os rosmaninhos, Abrindo os olhos d’ouro, p’los caminhos, Desta minh’alma ardente são a imagem.

Dona Morte dos dedos de veludo, Fecha-me os olhos que já viram tudo! Prende-me as asas que voaram tanto!

E ansiosa desejo – ó vã miragem – Que tu e eu, em beijos e carinhos, Eu a Charneca, e tu o Sol, sozinhos, Fôssemos um pedaço da paisagem!

Vim da Mourama, sou filha de rei, Má fada me encantou e aqui fiquei À tua espera... quebra-me o encanto!

E à noite, à hora doce da ansiedade, Ouviria da boca do luar O De Profundis triste da saudade...

E na minh’alma o nome iluminou-se Como um vitral ao sol, como se fosse A luz do próprio sonho que sonhaste.

E baixinho, na alma de minh’alma, Como bênção de sol que afaga e acalma, Nas horas más de febre e de ansiedade, Como se fossem pétalas caindo, Digo as palavras desse nome lindo Que tu me deste: Irmã Sóror Saudade...

Biografia Florbela de Alma da Conceição Espanca nasceu em Vila Viçosa (Alentejo), em 1894. Seus primeiros versos datam dos anos em que fez o curso secundário em Évora, e que somente viriam a ser reunidos em volume depois de sua morte, com o título de Juvenília (1931). Malogrado seu casamento, vai para Lisboa com o fito de seguir Direito, e nesse mesmo ano (1919) publica Livro de mágoas, que passa despercebido. Igual destino teve a obra seguinte, Livro de Sóror Saudade, dado a lume em 1923. Novamente infeliz no casamento, retira-se do convívio social, embora continue a escrever poesia e a publicá-la ao acaso. Recolhe-se a Matosinhos, já agora estimulada pelas renovadas esperanças de felicidade conjugal, mas seus nervos entram a dar sinal de exaustão. Morre, talvez de suicídio, em 1930. Escreveu poesia (Juvenília, 1931; Livro de mágoas, 1919; Livro de Sóror Saudade, 1923; Reliquiae, 1931; Charneca em flor, 2a ed., 1931) e contos (As máscaras do destino, 1931; Dominó negro, 1931).


ARTIGO

7

Política externa dos Estados Unidos (séculos XX-XXI) Rogério F. da Silva

John F. Kennedy (1961-1963) O regime político imposto por Fulgencio Batista não deixava espaço para uma oposi­ ção política institucional, restando o recurso à luta armada. Os métodos de governo e a corrupção política forneceram oportunidade para que a oposição se aglutinasse em torno do advogado Fidel Castro Ruz, que tomou o poder em Cuba em 1o de janeiro de 1959. No poder, Castro implantou uma série de alterações na estrutura socioeconômica do país: nacionalizou a indústria, realizou uma reforma agrária e educacional e aproximou Cuba dos países da área socialista. Essas reformas atingiram diretamente os investi­ mentos norte-americanos no país. Os Es­ tados Unidos romperam relações diplomá­ ticas com Cuba em 3 de janeiro de 1961. No dia 15 de abril de 1961, o governo norte­ -americano tentou realizar a ocupação militar da Baía dos Porcos, onde não obteve êxito. Depois do episódio, Fidel Castro declarou em um discurso, no dia 24 de abril, o caráter socialista do regime, aliando-se à URSS. O sucesso do regime de Castro estava diretamente ligado ao apoio soviético. Com o esfacelamento desse regime, a econo­ mia cubana passou por uma gravíssima cri­ se, mas ainda é um dos poucos países do mundo que mantém um regime socialista. Durante o governo de John Fitzgerald Kennedy (1961-1963), foi criada a “Aliança para o Progresso”, que visava, por meio de um programa de ajuda (sobretudo econômica), neutralizar os possíveis efeitos que a Revo­ lução Cubana pudesse vir a causar sobre os outros países da América Latina. Os Estados Unidos passaram a realizar intervenções dire­ tas no Vietnã, envol­vendo-se cada vez mais e aumentando as tensões políticas da Guerra Fria. Em outubro de 1963, havia 16 mil norte­ -americanos em combate no Vietnã.

Richard Nixon (1969-1974) Durante a administração Nixon, aprofun­ dou-se o envolvimento dos Estados Unidos no Vietnã quando o presidente ordenou o bombardeamento do Camboja sob a alega­ ção de este ser uma área de treinamento das tropas inimigas. Desde o início de seu governo, anunciou a vietnamização da guer­ ra, isto é, tirou tropas norte-americanas do conflito e substituiu-as por tropas do Vietnã do Sul aliado.

A política norte-americana para a Améri­ ca Latina foi de apoio aos regimes militares das nações “ameaçadas” pelo comunismo, tais como República Dominicana, Peru, Bo­ lívia, Chile e Brasil. Ainda nesse período, os Estados Unidos se aproximaram da China, visitada por Nixon em 1972. Sua intenção era, entre outras, buscar um arranjo de equilíbrio de poder com a União Soviética e a China, ocupando uma posição interme­ diária favorável. Ainda em 1972, ocorreu o chamado caso (ou escândalo) Watergate, que consistiu na invasão da sede do Partido Democrata por cinco homens que, presos em seguida, se identificaram como funcionários do comitê para a reeleição de Nixon. Com as investiga­ ções, desvendou-se uma trama envolvendo assessores diretos do presidente. O caso agravou-se de tal forma que, em agosto de 1974, Nixon anunciou sua renúncia.

Jimmy Carter (1977-1981) Carter e o presidente panamenho Omar Torrijos chega­ ram a um acordo sobre a zona do canal do Panamá, que deveria ser devolvida (como de fato o foi) à soberania pa­namenha em 31 de dezembro de 1999. Carter também ini­ciou uma política de defe­ sa dos direitos humanos por todo o mundo, sendo ela dirigida, sobretudo, à União Soviética e seus satélites, à Argentina, ao Chile e a Cuba; convém notar que tal política não se aplicava a países como Filipinas, Indoné­ sia ou Coreia do Sul, cujas ditaduras eram franca­ mente favoráveis aos Estados Uni­ dos. Nesse período, a ajuda financeira con­ cedida pelos Estados Unidos condi­cionava-se ao respeito pelos direitos humanos. Durante o governo Carter, ocorreu a Re­ volução Islâmica do Irã, que conduziu toda sua hostilidade contra os Estados Unidos, responsáveis pela manutenção do xá. A Re­ volução Iraniana e a ameaça à estabilidade do Oriente Médio causou preocupações tanto nos Estados Unidos quanto na União Soviética, tendo esta invadido o Afeganis­ tão com a intenção de garantir um governo pró-Moscou nesse país. Os Estados Unidos reagiram, reativando a Guerra Fria.

Ronald W. Reagan (1981-1989) A administração Reagan caracterizou-se, entre outros aspectos, por uma afirmação

dos conteúdos políticos veiculados pela Guerra Fria, procurando destacar a hege­ monia dos Estados Unidos no contexto das relações internacionais. Reagan ado­ tou uma política externa de endurecimento com o bloco socialista e todos os governos de esquerda (especialmente os da América Latina), tendo ordenado a invasão da ilha de Granada, em 1983, a fim de depor um governo de esquerda. Apoiou grupos que lutavam contra o governo de esquerda na Nicarágua (sandinistas). Com a ascensão de Mikhail Gorbachev ao poder na União Soviética, o presidente Reagan retomou as negociações com os soviéticos. Em 1987, foi assinado um acor­ do entre a União Soviética e os Estados Unidos que desacelerava a corrida arma­ mentista, prevendo a destruição de mísseis nucleares. Os referidos acordos fazem parte de um processo mais amplo que culminou, entre outros aspectos, na desagregação do bloco socialista e o término da Guerra Fria.

George Bush (1989-1993) Bush, vice-presidente de Reagan, foi eleito em 1988 e deu sequência à políti­ ca de negociações com a União Soviética. Nesse período, os Estados Unidos ado­ taram uma política de aproximação com a URSS, mantendo essa posição após a desintegração do bloco soviético e o des­ moronamento dos governos socialistas do Leste Europeu. Durante o governo Bush ocorreu a Guer­ ra do Golfo (1990-1991), cuja origem este­ ve na invasão do Kuweit pelo Iraque, que considerava esse país como parte de seu território. Tal fato provocou a intervenção direta dos Estados Unidos que, à frente de uma coalizão de trinta países, enfrentou o Iraque. A partir daí, estabeleceu-se a supre­ macia militar dos Estados Unidos, dando ao país uma posição hegemônica na Nova Ordem Mundial.

Bill Clinton (1993-2001) A política externa de Bill Clinton visou reforçar a liderança dos Estados Unidos no mundo e a consequente intervenção nas questões internacionais mais graves. Sua administração patrocinou, a partir de 1993, encontros entre palestinos e israe­ lenses com vistas ao estabelecimento da


ARTIGO

8

paz no Oriente Médio. Israel e a OLP (Or­ ganização para a Libertação da Palestina) se reconheceram mutuamente e concordaram com a autonomia provisória dos palestinos na Faixa de Gaza e Cisjordânia. Ainda nes­ sa fase, os Estados Unidos interferiram nos Bálcãs, pondo um fim à Guerra da Bósnia (1995) e liderando tropas da Otan no bom­ bardeio da Iugoslávia. Clinton reforçou a aliança multinacional de países para nova intervenção no Iraque (cujo governo foi acusado de produzir armas químicas), que consistiu principalmente em bombardeios aéreos sobre Bagdá e outras cidades iraquianas, causando vultosas bai­ xas na população civil. Em 1999, o canal do Panamá foi devolvi­ do aos pana­menhos – cumprindo acordos realizados durante a admi­nistração Carter –, pondo um fim ao controle norte-ame­ricano sobre a zona do canal. A hegemonia e liderança dos Estados Unidos na Nova Ordem Mundial se for­ taleceu com a inclusão, no bloco da Otan (1999), da Polônia, Hungria e República Tcheca (antigos países do bloco socialista e, portanto, antigos adversários da aliança militar da Otan).

George W. Bush (2001-2008) George Walker Bush (filho do ex-presi­ dente George Bush) sucedeu Bill Clinton após uma acirrada disputa eleitoral com o candidato democrata Al Gore. A admi­ nistração republicana se caracterizou pelo endurecimento das posições de política externa dos Estados Unidos no sentido da preservação de seus próprios inte­ resses. Sob essa perspectiva destacam-se, por exemplo, a não ratificação do Proto­ colo de Kyoto (sobre questões ambientais) e a adoção de uma política econômica pro­ tecionista. No dia 11 de setembro de 2001, os Esta­ dos Unidos sofreram um grave atentado ter­ rorista que resultou, entre outros aspectos, na retomada de uma política armamentista e intervencionista. O ataque foi atribuído à AI­ -Qaeda, liderada por Osama Bin Laden, que vivia no Afeganistão. Como as autoridades afegãs se recusaram a entregar Bin Laden, os Estados Unidos, ajudados por aliados, ocuparam aquele país no final de 2001. A doutrina defendida pelo governo norte­ -americano – a chamada “Doutrina Bush” –

propunha atacar frontalmente os países que são, segundo seu conceito, ameaças à civilização. De acordo com essa perspec­ tiva, o mundo se divide em dois blocos: o “eixo do bem” – de nações livres, lideradas pelos EUA – e o “eixo do mal”, do qual fazem parte o Iraque, o Irã e a Coreia do Norte. De acordo com a Doutrina Bush, o Ira­ que passou a ser considerado uma ameaça à paz mundial. Em março de 2003, os Esta­ dos Unidos, desconsiderando decisões da ONU e da opinião pública mundial, ataca­ ram, com seus aliados, o território iraquiano para depor Saddam Hussein. Bagdá foi tomada em abril de 2003; os EUA declararam o término da guerra no início de maio. Em dezembro, Saddam Hussein foi capturado por tropas norte­ -americanas. Durante o ano de 2004, pros­ seguiu-se a ocupação do Iraque. Em novembro de 2004, George W. Bush foi reeleito em disputa eleitoral com o se­ nador John Kerry, representante do Partido Democrata. Em 2006, Saddam Hussein foi condenado à morte por enforcamento pela justiça iraquiana, gerando dúvidas quanto à legitimidade do processo, sendo executado em dezembro do mesmo ano.

SERVIÇO DE VESTIBULAR Escola Superior de Engenharia e Gestão (Eseg)

União das Faculdades dos Grandes Lagos (Unilago)

Período de inscrição: até 19 de junho de 2015. Somente via internet. Endereço da Facul­ dade: rua Vergueiro, 1 951 – Vila Mariana – São Paulo – SP – CEP: 04101-000 – Fone: 0800-723-23-33. Requisito: taxa de R$ 45,00. Cursos e vagas: consultar site www.eseg.edu.br Exame: dia 20 de junho de 2015.

Período de inscrição: até 15 de maio de 2015. Somente via internet. Endereço da Faculdade: rua Doutor Eduardo Nielsem, 960 – Jardim Congonhas – São José do Rio Preto – SP – CEP: 15030-070 – Fone: (17) 3354-6000. Requisito: taxa de R$ 270,00. Cursos e vagas: consultar site www.unilago.com.br/vestibular Exame: dia 14 de junho de 2015.

Centro Universitário de Votuporanga (Unifev)

Universidade Presbiteriana Mackenzie (Mack)

Período de inscrição: até 21 de maio de 2015. Somente via internet. Endereço da Facul­dade: av. Nasser Marão, 3 069 – Parque Industrial I – Votuporanga – SP – CEP: 15503-005 – Fone: (17) 3405-9999. Requisito: taxa de R$ 250,00. Cursos e vagas: consultar site www.unifev.edu.br Exame: dia 21 de junho de 2015.

Período de inscrição: até 29 de maio de 2015. Somente via internet. Endereço da Faculdade: rua da Consolação, 930 – Consolação – São Paulo – SP – CEP: 01302-907 – Fone: (11) 2114-8000. Requisito: taxa de R$ 100,00. Cursos e vagas: consultar site www.mackenzie.br. Exame: dia 11 de junho de 2015.

Universidade de Caxias do Sul (UCS)

Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG)

Período de inscrição: até 28 de maio de 2015. Somente via internet. Endereço da Facul­ dade: rua Francisco Getúlio Vargas, 1 130 – Petrópolis – Caxias do Sul – RS – CEP: 95070-560 – Fone: (54) 3218-2100. Requisito: taxa de R$ 70,00. Cursos e vagas: consultar site www.ucs.br Exame: dia 21 de junho de 2015.

Período de inscrição: até 13 de maio de 2015. Somente via internet. Endereço da Faculdade: av. General Carlos Cavalcanti, 4 748 – Praça Santos Andrade – Ponta Grossa – PR – CEP: 84030-900 – Fone: (42) 3220-3000. Requisito: taxa de R$ 115,00. Cursos e vagas: consultar site www.cps.uepg.br/vestibular

Exame: 12 de julho de 2015. Leituras obrigatórias: • Recordações do escrivão Isaías Caminha – Lima Barreto. • O aprendiz de feiticeiro – Mário Quintana. • O grande mentecapto – Fernando Sabino. • Quase-memória, quase romance – Carlos Heitor Cony. • Amor e outros contos – Luiz Vilela.

Universidade Metodista de São Paulo (Umesp) Período de inscrição: até 28 de maio de 2015. Presencial ou via internet. Endereço da Faculdade: rua Alfeu Tavares, 149 – Rudge Ramos – São Bernardo do Campo – SP – CEP: 09641-000 – Fone: (11) 4366-5000. Requisito: taxa de R$ 80,00. Cursos e vagas: consultar site www.metodista.br Exame: dia 31 de maio de 2015.

Faculdade de Tecnologia do Estado de São Paulo (Fatec) Período de inscrição: até 09 de junho de 2015. Somente via internet. Endereço da Facul­ dade: praça Coronel Fernando Prestes, 30 – Bom Retiro – São Paulo – SP – CEP: 01124-060 – Fone: (11) 3322-2200. Requisito: taxa de R$ 70,00. Cursos e vagas: consultar site www.vestibularfatec.com.br Exame: dia 05 de julho de 2015.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.