Jornal do Vestibulando - 1495

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Jornal do Vestibulando

ENSINO, INFORMAÇÃO E CULTURA

JORNAL ETAPA – 2015 • DE 18/06 A 01/07

ENTREVISTA

“Estudar é algo essencial sempre.” Ricardo Miyabayashi está na Poli, no curso de Engenharia Química. Ele fez o Extensivo do Etapa junto com o Ensino Médio, por isso sua maior dificuldade no ano passado foi conciliar seus estudos. Compensando a falta de tempo teve o entusiasmo que resultou desse esforço: “O diferencial que eu achei no cursinho é que você vem e encontra todos os alunos estudando, então sente mais vontade ainda de estudar”.

Ricardo Shinichi Zukeram Miyabayashi Em 2014: Etapa Em 2015: Poli USP

JV – Como você chegou à escolha de Engenharia Química como carreira? Ricardo – Logo que entrei no Ensino Médio passei a gostar bastante das aulas de Biologia. Por isso pensei em Medicina. No 2o ano comecei a me interessar pelo meu curso técnico em Eletrônica e até uma semana antes de me inscrever na Fuvest queria Engenharia Elétrica. E no ano passado, no Etapa, meu interesse mudou para a Engenharia Química.

O que fez você mudar da Engenharia Elétrica para Química? Foram as aulas de Química – em especial uma sobre combustíveis. Ver todos os derivados de petróleo me encantou. Não imaginava tantas coisas que uma pessoa fazia numa refinaria. Eu não fazia ideia dos processos químicos que estavam na área da Engenharia Química. Antes era uma carreira desconhecida. Passei a conhecer e escolhi.

Como você veio estudar no cursinho? Vim com meus colegas da Federal. Vieram 15 alunos da nossa turma de 30.

Qual era sua expectativa ao entrar no cursinho? Estava confiante? Não estava tão confiante, mas no primeiro mês foi tudo bem. Estudava, conseguia terminar todas as lições, tudo direitinho.

Qual foi a principal dificuldade que você enfrentou no ano passado? Foi conciliar a escola com o Etapa. Eu tinha também muita lição das matérias do curso técnico e do Ensino Médio. No mesmo dia podia ter aula de telecomunicações e aula de História. Tinha de estudar para provas de ambas as

CONTO

No moinho – Eça de Queirós

Sua confiança aumentou durante o ano? No segundo semestre eu e meus amigos ficávamos até a noite estudando aqui. Todo mundo se empenhava, por isso senti que havia esperança. E lendo o Jornal do Vestibulando eu via os alunos da Federal que passavam. Fiquei mais confiante. O diferencial que eu achei no cursinho é que você vem e encontra todos os alunos estudando, então sente mais vontade ainda de estudar.

Qual a época mais pesada para você? Foi em outubro, época da Revisão. Tinha muito exercício para fazer e na Federal ainda tinha matérias para concluir.

Qual foi a época mais tranquila aqui? Acho que foi em dezembro, quando já estava na 2ª fase da Fuvest.

Durante o ano, como era sua rotina de estudo? Eu saía de casa às 5 e meia, 6 horas da manhã e entrava na Federal às 7 horas. Eu moro um pouco longe. Saía às 11 e 45 das aulas e ia com meus amigos almoçar no refeitório da Federal. Levávamos marmita porque não dava tempo de almoçar em algum lugar e vir para o Etapa. Aqui a aula começava às 2 e 5. Depois das aulas do cursinho nós ficávamos na Sala de Estudos à noite, para estudar, fazer as lições do dia e tirar algumas dúvidas. Chegava em casa por volta das 10 e 15 da noite.

ARTIGO

ENTREVISTA

Ricardo Shinichi Zukeram Miyabayashi

matérias. E tinha de terminar o TCC, o trabalho de conclusão do curso técnico, que tomou bastante tempo. Do meio para o final do ano foi a época mais crítica porque foi a época da entrega do TCC.

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Teatro Grego

Geografia e História. Geografia eu estudei muito do começo ao fim do ano. Porque eu acho que além de importante para o vestibular é importante para a vida entender onde você se encaixa na sociedade. Acho primordial.

Tem alguma matéria de que você não gostava muito e no cursinho passou a considerar de modo diferente? Acho que foi justamente Geografia. Não gostava de Geografia Física porque não conhecia mesmo, não entendia muito.

Em que matérias você ia mais ao Plantão de Dúvidas? Geografia e Biologia. De vez em quando, Física. Mas algumas dúvidas eu conseguia tirar com os amigos.

Você chegou a usar o Plantão Virtual pela internet? Sim, para ver resoluções das apostilas. Peguei também as videoaulas, os comentários.

Você parou de estudar durante as férias de julho? Não deixei de estudar completamente. Revi algumas matérias em que eu tinha dúvidas, mas também descansei bastante. Saí com minha namorada, fui para a praia. Estressar durante as férias não ajudaria em nada no resto do ano.

Quais eram seus resultados nos simulados? Ficava entre C menos e C mais. Tirei um B num simulado de prova da 2ª fase da Fuvest.

ENTRE PARÊNTESIS

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POIS É, POESIA

Augusto dos Anjos

Em que matérias você tinha menos base e teve de correr mais atrás?

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Do baile SERVIÇO DE VESTIBULAR

Inscrições

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ENTREVISTA

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Para a Poli você achava que estava bom esse rendimento? Não, porque sempre ia mal em simulado da 1ª fase da Fuvest. Tirava 55, 56. Essa não era uma média boa.

Você usava o simulado para seus estudos? Eu via em meu resultado, em cada simulado, o que devia estudar mais. E estudava mais.

Como foi seu treino em Redação ao longo do ano? Tinha uma redação por semana para fazer. Às vezes não dava tempo, mas as que fazia eu entregava para serem corrigidas. Em geral minhas notas eram medianas. C mais, C menos.

Você leu os livros indicados como obrigatórios pela Fuvest? Só não li Sentimento do mundo e Viagens na minha terra. Li também os resumos e assisti às palestras sobre os livros.

E conseguiu resolver as questões de Literatura no vestibular? Consegui. As palestras ajudaram bastante.

Quantos pontos você fez na 1a fase da Fuvest? Fiz 62 pontos. O corte foi 61.

Para a 2a fase você mudou o seu estudo? Já não tinha mais aula na Federal, ficava no cursinho o dia inteiro. Ficava de manhã estudando, à tarde ia para as aulas e depois ficava até à noite na Sala de Estudos. Passei a estudar mais as matérias do terceiro dia, Matemática, Física e Química. a

No primeiro dia da 2 fase da Fuvest a prova é de Português e Redação. Que nota você tirou? Minha nota no primeiro dia foi 64,5. Na Redação tirei 69, de 100. A média ficou em 50,8.

No segundo dia, com 16 questões de História, Geografia, Matemática, Física, Química, Biologia e Inglês, algumas delas interdisciplinares, qual foi sua nota? Tirei 60,94. A média ficou em 43,55. Foi o dia mais difícil para mim. Até nos simulados dessa prova, com questões interdisciplinares, eu sentia um pouco de dificuldade. No meio da questão muda um pouco de matéria, seu raciocínio tem que mudar. Isso exige prática.

E no terceiro dia, com as matérias prioritárias da carreira, Matemática, Física e Química, você tirou quanto? Foi o meu melhor dia, tirei 70,83. A média foi 32.

Você teve alguma surpresa nas provas da 2a fase? No terceiro dia tive uma surpresa muito positiva, esperava ir pior. Como tinha dado

ênfase no estudo de Geografia, acabei deixando as matérias prioritárias um pouco de lado. Um pouco antes de chegar na 2ª fase eu senti dificuldade nas questões de Física e Matemática.

Na escala de zero a 1 000, qual foi sua pontuação na Fuvest? 795,5.

Qual foi sua classificação na carreira? Fiquei no 64o lugar (melhor do que 92% dos aprovados).

Como ficou sabendo da sua aprovação na Fuvest? Estava em casa, muito ansioso em relação ao resultado. Inclusive, já tinha me matriculado no cursinho para este ano. A prova do terceiro dia foi bem difícil, achei que não tinha passado. Por isso foi grande minha surpresa.

Você estava sozinho? Eu estava no meu quarto sozinho. Estava usando a internet e quando vi meu nome na lista fui correndo contar para meus pais e minha irmã. Minha irmã foi quem mais me apoiou em casa, quem sempre acreditou em mim, até nos momentos em que nem eu acreditava. Depois vim para o Etapa encontrar meus amigos. Eles tinham vindo ver o resultado pessoalmente. Eu os abracei, tirei fotos, me jogaram tinta.

O que você pensou ao ver seu nome na lista? Que valeu a pena cada minuto que deixei de me divertir, cada fim de semana que não pude sair com minha namorada. Foi o momento em que senti que cada um daqueles dias valeu a pena.

Você já conhecia a Poli? Eu já tinha ido à Poli para uma seleção de estágio no Instituto de Pesquisas Tecnológicas. Conhecia um pouco. Meus amigos conheciam mais porque dois deles fizeram estágio lá.

Eles estão também na USP? Sim, um está em Engenharia Elétrica e o outro em Física.

Que matérias você tem neste primeiro semestre? Cálculo, Álgebra Linear, Física, Laboratório de Química – que é Transformações Químicas, uma matéria específica de Engenharia Química –, Introdução à Engenharia Química, Computação, Representação Gráfica, que é desenho técnico.

O que você destaca na Poli? Na parte humana, acho legal o contato com as pessoas. Tem gente do Brasil inteiro lá, de todos os estados. E, dos intercâmbios, tem franceses, italianos, espanhóis. Você acaba conhecendo um mundo dentro da USP. Sobre

Jornal do Vestibulando

a estrutura, os laboratórios são sensacionais. Na USP, já conheci alguns institutos, são muito bem equipados.

Hoje, qual é sua visão sobre a Engenharia Química? Na matéria de Introdução à Engenharia Química o meu professor trouxe um ex-aluno de Engenharia Química, que agora faz doutorado e contou um pouco da vida dele. Motiva bastante ver um ex-aluno voltando para contar sua experiência profissional. Ele fez um curso na Itália sobre Petroquímica. As oportunidades que a USP oferece são muitas.

Você já tem ideia da área que quer seguir dentro da Engenharia Química? Vi esse palestrante, que é engenheiro projetista. Acho essa uma área muito legal para seguir, mas também acho que é bem interessante trabalhar numa refinaria de petróleo. Seriam essas duas áreas, mas por enquanto estou indeciso.

Como a experiência do cursinho afetou sua vida no ano passado? Para mim foi sensacional fazer cursinho. Muitas pessoas que eu conheci durante o cursinho motivaram a gente. Tínhamos coisas em comum. Algumas pessoas também faziam cursinho junto com o colégio e falavam das suas dificuldades, que eram iguais às nossas. Um vai ajudando o outro, motivando o outro.

Como ficou marcado esse ano? Até o fim do ano eu talvez falasse que foi o ano mais complicado da minha vida – e talvez tenha sido. Mas depois de dezembro eu senti que talvez foi o melhor ano da minha vida. Com os amigos que conheci durante o cursinho eu me diverti, fiz amizades que espero levar pela vida inteira. Foi um ano que passou correndo, era tanta coisa para fazer num dia só, que nem sentia o outro dia chegando.

Sente falta disso hoje? Até estranho, mas eu sinto saudades de quando ficava aqui até mais tarde para estudar. Mesmo quando não dava para fazer todas as lições do dia eu voltava para casa conversando com os amigos, era um momento de socialização. Era muito divertido.

Que palavras você diria aos alunos atuais, encerrando nossa entrevista? Gostaria de dizer a cada um para ficar firme e estudar. Estudar é algo essencial sempre, mesmo que a pessoa pense que só vai usar aquela matéria para o vestibular. Você vai usar em algum momento da sua vida. O que você aprender não será inútil.

Jornal ETAPA, editado por Etapa Ensino e Cultura REDAÇÃO: Rua Vergueiro, 1 987 – CEP 04101-000 – Paraíso – São Paulo – SP JORNALISTA RESPONSÁVEL: Egle M. Gallian – M.T. 15343


CONTO

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No moinho Eça de Queirós

D.

Maria da Piedade era considerada em toda a vila como “uma senhora modelo”. O velho Nunes, diretor do Correio, sempre que se falava nela, dizia, acariciando com autoridade os quatro pelos da calva: – É uma santa! É o que ela é! A vila tinha quase orgulho na sua beleza delicada e tocante; era uma loura, de perfil fino, a pele ebúrnea, e os olhos escuros de um tom de violeta, a que as pestanas longas escureciam mais o brilho sombrio e doce. Morava ao fim da estrada, numa casa azul de três sacadas; e era, para a gente que às tardes ia fazer o giro até ao moinho, um encanto sempre novo vê-la por trás da vidraça, entre as cortinas de cassa, curvada sobre a sua costura, vestida de preto, recolhida e séria. Poucas vezes saía. O marido, mais velho que ela, era um inválido, sempre de cama, inutilizado por uma doença de espinha; havia anos que não descia à rua; avistavam-no às vezes também à janela, murcho e trôpego, agarrado à bengala, encolhido no robe de chambre, com uma face macilenta, a barba desleixada e com um barretinho de seda enterrado melancolicamente até ao cachaço. Os filhos, duas rapariguitas e um rapaz, eram também doentes, crescendo pouco e com dificuldade, cheios de tumores nas orelhas, chorões e tristonhos. A casa, interiormente, parecia lúgubre. Andava-se em pontas dos pés, porque o senhor, na excitação nervosa que lhe davam as insônias, irritava-se com o menor rumor; havia sobre as cômodas alguma garrafada da botica, alguma malga com papas de linhaça; as mesmas flores com que ela, no seu arranjo e no seu gosto de frescura, ornava as mesas, depressa murchavam naquele ar abafado de febre, nunca renovado por causa das correntes de ar; e era uma tristeza ver sempre algum dos pequenos ou de amplastro sobre a orelha, ou a um canto do canapé, embrulhado em cobertores com uma amarelidão de hospital. Maria da Piedade vivia assim, desde os vinte anos. Mesmo em solteira, em casa dos pais, a sua existência fora triste. A mãe era uma criatura desagradável e azeda; o pai, que se empenhara pelas tavernas e pelas batotas, já velho, sempre bêbedo, os dias que aparecia em casa passava-os à lareira, num silêncio sombrio, cachimbando e escarrando para as cinzas. Todas as semanas desancava a mulher. E quando João Coutinho pediu Maria em casamento, apesar de doente já, ela aceitou, sem hesitação, quase com reconhecimento, para salvar o casebre da penhora, não ouvir mais os gritos da mãe, que a faziam tremer, rezar, em cima no seu quarto, onde a chuva entrava pelo telhado. Não amava o marido decerto; e mesmo na vila tinha-se lamentado que aquele lindo rosto de Virgem Maria, aquela figura de fada, fosse

pertencer ao Joãozinho Coutinho, que desde rapaz fora sempre entrevado. O Coutinho, por morte do pai, ficara rico; e ela, acostumada por fim àquele marido rabugento, que passava o dia arrastando-se sombriamente da sala para a alcova, ter-se-ia resignado, na sua natureza de enfermeira e de consoladora, se os filhos ao menos tivessem nascido sãos e robustos. Mas aquela família que lhe vinha com o sangue viciado, aquelas existências hesitantes, que depois pareciam apodrecer-lhe nas mãos, apesar dos seus cuidados inquietos, acabrunhavam-na. Às vezes, só, picando a sua costura, corriam-lhe as lágrimas pela face: uma fadiga da vida invadia-a, como uma névoa que lhe escurecia a alma. Mas se o marido de dentro chamava desesperado, ou um dos pequenos choramingava, lá limpava os olhos, lá aparecia com a sua bonita face tranquila, com alguma palavra consoladora, compondo a almofada a um, indo animar o outro, feliz em ser boa. Toda a sua ambição era ver o seu pequeno mundo bem tratado e bem acarinhado. Nunca tivera desde casada uma curiosidade, um desejo, um capricho: nada a interessava na Terra senão as horas dos remédios e o sono dos seus doentes. Todo o esforço lhe era fácil quando era para os contentar: apesar de fraca, passeava horas trazendo ao colo o pequerrucho, que era o mais impertinente, com as feridas que faziam dos seus pobres beicinhos uma crosta escura: durante as insônias do marido não dormia também, sentada ao pé da cama, conversando, lendo-lhe as Vidas dos Santos, porque o pobre entrevado ia caindo em devoção. De manhã estava um pouco mais pálida, mas toda correta no seu vestido preto, fresca, com os bandós bem lustrosos, fazendo-se bonita para ir dar as sopas de leite aos pequerruchos. A sua única distração era à tarde sentar-se à janela com a sua costura, e a pequenada em roda aninhada no chão, brincando tristemente. A mesma paisagem que ela via da janela era tão monótona como a sua vida: embaixo a estrada, depois uma ondulação de campos, uma terra magra plantada aqui e além de oliveiras e, erguendo-se ao fundo, uma colina triste e nua, sem uma casa, uma árvore, um fumo de casal que pusesse naquela solidão de terreno pobre uma nota humana e viva. Vendo-a assim tão resignada e tão sujeita, algumas senhoras da vila afirmavam que ela era beata: todavia ninguém a avistava na igreja, a não ser ao domingo, com o pequerrucho mais velho pela mão, todo pálido no seu vestido de veludo azul. Com efeito, a sua devoção limitava-se a esta missa todas as semanas. A sua casa ocupava-a muito para se deixar invadir pelas preocupações do Céu; naquele dever de boa mãe, cumprido com

amor, encontrava uma satisfação suficiente à sua sensibilidade; não necessitava adorar santos ou enternecer-se com Jesus. Instintivamente mesmo pensava que toda a afeição excessiva dada ao Pai do Céu, todo o tempo gasto em se arrastar pelo confessionário ou aos pés do oratório, seria uma diminuição cruel no seu cuidado de enfermeira: a sua maneira de rezar era velar os filhos: e aquele pobre marido pregado numa cama, todo dependente dela, tendo-a só a ela, parecia-lhe ter mais direito ao seu fervor que o outro, pregado numa cruz, tendo para o amimar toda uma humanidade pronta. Além disso nunca tivera estas sentimentalidades de alma triste que levam à devoção. O seu longo hábito de dirigir uma casa de doentes, de ser ela o centro, a força, o amparo daqueles inválidos tornara-a terna, mas prática: e assim era ela que administrava agora a casa do marido, com um bom-senso que a afeição dirigia, uma solicitude de mãe próvida. Tais ocupações bastavam para entreter o seu dia: o marido, de resto, detestava visitas, o aspecto de caras saudáveis, as comiserações de cerimônia; e passavam-se meses sem que em casa de Maria da Piedade se ouvisse outra voz estranha à família, a não ser a do Dr. Abílio – que a adorava, e que dizia dela com os olhos esgazeados: – É uma fada! É uma fada!... Foi por isso grande a excitação na casa, quando João Coutinho recebeu uma carta de seu primo Adrião, que lhe anunciava que em duas ou três semanas ia chegar à vila. Adrião era um homem célebre, e o marido de Maria da Piedade tinha naquele parente um orgulho enfático. Assinara mesmo um jornal de Lisboa, só para ver o seu nome nas locais e na crítica. Adrião era um romancista: e o último livro, Madalena, um estudo de mulher trabalhado a grande estilo, de uma análise delicada e sutil, consagrara-o como um mestre. A sua fama, que chegara até à vila, num vago de legenda, apresentava-o como uma personalidade interessante, um herói de Lisboa, amado das fidalgas, impetuoso e brilhante, destinado a uma alta situação no Estado. Mas realmente na vila era sobretudo notável por ser primo do João Coutinho. D. Maria da Piedade ficou aterrada com esta visita. Via já a sua casa em confusão com a presença do hóspede extraordinário. Depois a necessidade de fazer mais toalete, de alterar a hora do jantar, de conversar com um literato, e tantos outros esforços cruéis!... E a brusca invasão daquele mundano, com as suas malas, o fumo do seu charuto, a sua alegria de são, na paz triste do seu hospital, dava-lhe a impressão apavorada de uma profanação. Foi por isso um alívio, quase um reconhecimento, quando Adrião chegou, e muito simplesmente se instalou


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CONTO

na antiga estalagem do Tio André, à outra extremidade da vila. João Coutinho escandalizou-se: tinha já o quarto do hóspede preparado, com lençóis de rendas, uma colcha de damasco, pratas sobre a cômoda, e queria-o todo para si, o primo, o homem célebre, o grande autor... Adrião porém recusou: – Eu tenho os meus hábitos, vocês têm os seus... Não nos contrariemos, hem?... O que faço é vir cá jantar. De resto, não estou mal no Tio André... Vejo da janela um moinho e uma represa que são um quadrozinho delicioso... E ficamos amigos, não é verdade? Maria da Piedade olhava-o assombrada: aquele herói, aquele fascinador por quem choravam mulheres, aquele poeta que os jornais glorificavam, era um sujeito extremamente simples – muito menos complicado, menos espetaculoso que o filho do recebedor! Nem formoso era: e com o seu chapéu desabado sobre uma face cheia e barbuda, a quinzena de flanela caindo à larga num corpo robusto e pequeno, os seus sapatos enormes, parecia-lhe a ela um dos caçadores de aldeia que às vezes encontrava, quando de mês a mês ia visitar as fazendas do outro lado do rio. Além disso não fazia frases; e a primeira vez que veio jantar, falou apenas, com grande bonomia, dos seus negócios. Viera por eles. Da fortuna do pai, a única terra que não estava devorada, ou abominavelmente hipotecada, era a Curgossa, uma fazenda ao pé da vila, que andava além disso mal arrendada... O que ele desejava era vendê-la. Mas isso parecia-lhe a ele tão difícil como fazer a Ilíada!... E lamentava sinceramente ver o primo ali, inútil sobre uma cama, sem o poder ajudar nesses passos a dar com os proprietários da vila. Foi por isso, com grande alegria, que ouviu João Coutinho declarar-lhe que a mulher era uma administradora de primeira ordem, e hábil nestas questões como um antigo rábula!... – Ela vai contigo ver a fazenda, fala com o Teles, e arranja-te isso tudo... E na questão de preço, deixa-a a ela!... – Mas que superioridade, prima! – exclamou Adrião maravilhado. – Um anjo que entende de cifras! Pela primeira vez na sua existência Maria da Piedade corou com a palavra de um homem. De resto prontificou-se logo a ser a procuradora do primo... No outro dia foram ver a fazenda. Como ficava perto, e era um dia de março fresco e claro, partiram a pé. Ao princípio, acanhada por aquela companhia de um leão, a pobre senhora caminhava junto dele com o ar de um pássaro assustado: apesar de ele ser tão simples, havia na sua figura enérgica e musculosa, no timbre rico da sua voz, nos seus olhos pequenos e luzidios alguma coisa de forte, de dominante, que a enleava. Tinha-se-lhe prendido à orla do seu vestido um galho de silvado, e como ele se abaixara para o desprender delicadamente, o contato daquela mão branca e fina de artista na orla da sua saia incomodou-a singularmente.

Apressava o passo para chegar bem depressa à fazenda, aviar o negócio com o Teles, e voltar imediatamente a refugiar-se, como no seu elemento próprio, no ar abafado e triste do seu hospital. Mas a estrada estendia-se, branca e longa, sob o sol tépido – e a conversação de Adrião foi-a lentamente acostumando à sua presença. Ele parecia desolado daquela tristeza da casa. Deu-lhe alguns bons conselhos: o que os pequenos necessitavam era ar, sol, uma outra vida que aquele abafamento de alcova... Ela também assim o julgava: mas quê!, o pobre João, sempre que se lhe falava de ir passar algum tempo à quinta, afligia-se terrivelmente: tinha horror aos grandes ares e aos grandes horizontes: a Natureza forte fazia-o quase desmaiar; tornara-se um ser artificial, encafuado entre os cortinados da cama... Ele então lamentou-a. Decerto poderia haver alguma satisfação num dever tão santamente cumprido... Mas enfim, ela devia ter momentos em que desejasse alguma outra coisa além daquelas quatro paredes, impregnadas do bafo da doença... – Que hei de eu desejar mais? – disse ela. Adrião calou-se: pareceu-lhe absurdo supor que ela desejasse, realmente, o Chiado ou o Teatro da Trindade... No que ele pensava era noutros apetites, nas ambições do coração insatisfeito... Mas isto pareceu-lhe tão delicado, tão grave de dizer àquela criatura virginal e séria – que falou da paisagem... – Já viu o moinho? – perguntou-lhe ela. – Tenho vontade de o ver, se mo quiser ir mostrar, prima. – Hoje é tarde. Combinaram logo ir visitar esse recanto de verdura, que era o idílio da vila. Na fazenda, a longa conversa com o Teles criou uma aproximação maior entre Adrião e Maria da Piedade. Aquela venda, que ela discutia com uma astúcia de aldeã, punha entre eles como que um interesse comum. Ela falou-lhe já com menos reserva quando voltaram. Havia nas maneiras dele, de um respeito tocante, uma atração que a seu pesar a levava a revelar-se, a dar-lhe a sua confiança: nunca falara tanto a ninguém: a ninguém jamais deixara ver tanto da melancolia oculta que errava constantemente na sua alma. De resto as suas queixas eram sobre a mesma dor – a tristeza do seu interior, as doenças, tantos cuidados graves... E vinha-lhe por ele uma simpatia, como um indefinido desejo de o ter sempre presente, desde que ele se tornava assim depositário das suas tristezas. Adrião voltou para o seu quarto, na estalagem do André, impressionado, interessado por aquela criatura tão triste e tão doce. Ela destacava sobre o mundo de mulheres que até ali conhecera, como um perfil suave de anjo gótico entre fisionomias de mesa redonda. Tudo nele concordava deliciosamente: o ouro do cabelo, a doçura da voz, a modéstia na melancolia, a linha casta, fazendo um ser delicado e tocante, a que mesmo o

seu pequenino espírito burguês, certo fundo rústico de aldeã e uma leve vulgaridade de hábitos davam um encanto: era um anjo que vivia há muito tempo numa vilota grosseira e estava por muitos lados preso às trivialidades do sítio: mas bastaria um sopro para o fazer remontar ao céu natural, aos cimos puros da sentimentalidade... Achava absurdo e infame fazer a corte à prima... Mas involuntariamente pensava no delicioso prazer de fazer bater aquele coração que não estava deformado pelo espartilho, e de pôr enfim os seus lábios numa face onde não houvesse pós de arroz... E o que o tentava sobretudo era pensar que poderia percorrer toda a província em Portugal, sem encontrar nem aquela linha de corpo, nem aquela virgindade tocante de alma adormecida... Era uma ocasião que não voltava. O passeio ao moinho foi encantador. Era um recanto de natureza, digno de Corot, sobretudo à hora do meio-dia em que eles lá foram, com a frescura da verdura, a sombra recolhida das grandes árvores, e toda a sorte de murmúrios de água corrente, fugindo, reluzindo entre os musgos e as pedras, levando e espalhando no ar o frio da folhagem, da relva, por onde corriam cantando. O moinho era de um alto pitoresco, com a sua velha edificação de pedra secular, a sua roda enorme, quase podre, coberta de ervas, imóvel sobre a gelada limpidez da água escura. Adrião achou-o digno de uma cena de romance, ou, melhor, da morada de uma fada. Maria da Piedade não dizia nada, achando extraordinária aquela admiração pelo moinho abandonado do Tio Costa. Como ela vinha um pouco cansada, sentaram-se numa escada desconjuntada de pedra, que mergulhava na água da represa os últimos degraus: e ali ficaram um momento calados, no encanto daquela frescura murmurosa, ouvindo as aves piarem nas ramas. Adrião via-a de perfil, um pouco curvada, esburacando com a ponteira do guarda-sol as ervas bravas que invadiam os degraus: era deliciosa assim, tão branca, tão loura, de uma linha tão pura sobre o fundo azul do ar: o seu chapéu era de mau gosto, o seu mantelete antiquado, mas ele achava nisso mesmo uma ingenuidade picante. O silêncio dos campos em redor isolava-os – e, insensivelmente, ele começou a falar-lhe baixo. Era ainda a mesma compaixão pela melancolia da sua existência naquela triste vila, pelo seu destino de enfermeira... Ela escutava-o de olhos baixos, pasmada de se achar ali tão só com aquele homem tão robusto, toda receosa e achando um sabor delicioso ao seu receio... Houve um momento em que ele falou do encanto de ficar ali para sempre na vila. – Ficar aqui? Para quê? – perguntou ela, sorrindo. – Para quê? Para isto, para estar sempre ao pé de si...


CONTO Ela cobriu-se de um rubor, o guarda-solinho escapou-lhe das mãos. Adrião receou tê-la ofendido, e acrescentou logo rindo: – Pois não era delicioso?... Eu podia alugar este moinho, fazer-me moleiro... A prima havia de me dar a sua freguesia... Isto fê-la rir; era mais linda quando ria: tudo brilhava nela, os dentes, a pele, a cor do cabelo. Ele continuou gracejando, com o seu plano de se fazer moleiro, e de ir pela estrada tocando o burro, carregado de sacas de farinha. – E eu venho ajudá-lo, primo! – disse ela, animada pelo seu próprio riso, pela alegria daquele homem a seu lado. – Vem? – exclamou ele. – Juro-lhe que me faço moleiro! Que Paraíso, nós aqui ambos no moinho, ganhando alegremente a nossa vida, e ouvindo cantar estes melros! Ela corou outra vez do fervor da sua voz, e recuou como se ele fosse já arrebatá-la para o moinho. Mas Adrião agora, inflamado àquela ideia, pintava-lhe na sua palavra colorida toda uma vida romanesca, de uma felicidade idílica, naquele esconderijo de verdura: de manhã, a pé cedo, para o trabalho; depois o jantar na relva à beira de água; e à noite as boas palestras ali sentados, à claridade das estrelas ou sob a sombra cálida dos céus negros de verão... E de repente, sem que ela resistisse, prendeu-a nos braços, e beijou-a sobre os lábios, de um só beijo, profundo e interminável. Ela tinha ficado contra o seu peito, branca, como morta: e duas lágrimas corriam-lhe ao comprido da face. Era assim tão dolorosa e fraca, que ele soltou-a; ela ergueu-se, apanhou o guarda-solinho e ficou diante dele, com o beicinho a tremer, murmurando: – É malfeito... É malfeito... Ele mesmo estava tão perturbado – que a deixou descer para o caminho: e daí a um momento seguiam ambos calados para a vila. Foi só na estalagem que ele pensou: “Fui um tolo!” Mas no fundo estava contente da sua generosidade. À noite foi à casa dela: encontrou-a com o pequerrucho no colo, lavando-lhe em água de malvas as feridas que ele tinha na perna. E então pareceu-lhe odioso distrair aquela mulher dos seus doentes. De resto um momento como aquele no moinho não voltaria. Seria absurdo ficar ali, naquele canto odioso da província, desmoralizando, a frio, uma boa mãe... A venda da fazenda estava concluída. Por isso, no dia seguinte, apareceu de tarde, a dizer-lhe adeus: partia à noitinha na diligência; encontrou-a na sala, à janela costumada, com a pequenada doente aninhada contra as suas saias... Ouviu que ele partia, sem lhe mudar a cor, sem lhe arfar o peito. Mas Adrião achou-lhe a palma da mão tão fria como um mármore: e quando ele saiu, Maria da Piedade ficou voltada para a janela, escondendo a face dos pequenos, olhando abstratamente a paisagem que escurecia, com as lágrimas, quatro a quatro, caindo-lhe na costura...

Amava-o. Desde os primeiros dias, a sua figura resoluta e forte, os seus olhos luzidios, toda a virilidade da sua pessoa, se lhe tinham apossado da imaginação. O que a encantava nele não era o seu talento, nem a sua celebridade em Lisboa, nem as mulheres que o tinham amado: isso para ela aparecia-lhe vago e pouco compreensível: o que a fascinava era aquela seriedade, aquele ar honesto e são, aquela robustez de vida, aquela voz tão grave e tão rica: e antevia, para além da sua existência ligada a um inválido, outras existências possíveis, em que se não vê sempre diante dos olhos uma face fraca e moribunda, em que as noites se não passam a esperar as horas dos remédios... Era como uma rajada de ar impregnado de todas as forças vivas da Natureza, que atravessava, subitamente, a sua alcova abafada: e respirava-a deliciosamente... Depois, tinha ouvido aquelas conversas em que ele se mostrava tão bom, tão sério, tão delicado: e à força do seu corpo, que admirava, juntava-se agora um coração terno, de uma ternura varonil e forte, para a cativar... Este amor latente invadiu-a, apoderou-se dela uma noite que lhe apareceu esta ideia, esta visão: “Se ele fosse meu marido!” Toda ela estremeceu, apertou desesperadamente os braços contra o peito, como confundindo-se com a sua imagem evocada, prendendo-se a ela, refugiando-se na sua força... Depois ele deu-lhe aquele beijo no moinho. E partira! Então começou para Maria da Piedade uma existência de abandonada. Tudo de repente em volta dela – a doença do marido, os achaques dos filhos, as tristezas do seu dia, a sua costura – lhe pareceu lúgubre. Os seus deveres, agora que não punha neles toda a sua alma, eram-lhe pesados como fardos injustos. A sua vida representava-se-lhe como desgraça excepcional: não se revoltava ainda, mas tinha desses abatimentos, dessas súbitas fadigas de todo o seu ser, em que caía sobre a cadeira, com os braços pendentes, murmurando: – Quando se acabará isto? Refugiava-se então naquele amor como uma compensação deliciosa. Julgando-o todo puro, todo de alma, deixava-se penetrar dele e da sua lenta influência. Adrião tornara-se, na sua imaginação, como um ser de proporções extraordinárias, tudo o que é forte, e que é belo, e que dá razão à vida. Não quis que nada do que era dele ou vinha dele lhe fosse alheio. Leu todos os seus livros, sobretudo aquela Madalena que também amara, e morrera de um abandono. Estas leituras calmavam-na, davam-lhe como uma vaga satisfação ao desejo. Chorando as dores das heroínas de romance, parecia sentir alívio às suas. Lentamente, esta necessidade de encher a imaginação desses lances de amor, de dramas infelizes, apoderou-se dela. Foi durante meses um devorar constante de romances. Ia-se assim criando no seu espírito um mundo artificial e idealizado. A realidade torna-

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va-se-lhe odiosa, sobretudo sob aquele aspecto da sua casa, onde encontrava sempre agarrado às saias um ser enfermo. Vieram as primeiras revoltas. Tornou-se impaciente e áspera. Não suportava ser arrancada aos episódios sentimentais do seu livro, para ir ajudar a voltar o marido e sentir-lhe o hálito mau. Veio-lhe o nojo das garrafadas, dos emplastros, das feridas dos pequenos a lavar. Começou a ler versos. Passava horas só, num mutismo, à janela, tendo sob o seu olhar de virgem loura toda a rebelião de uma apaixonada. Acreditava nos amantes que escalam os balcões, entre o canto dos rouxinóis: e queria ser amada assim, possuída num mistério de noite romântica... O seu amor desprendeu-se pouco a pouco da imagem de Adrião e alargou-se, estendeu-se a um ser vago que era feito de tudo o que a encantara nos heróis de novela; era um ente meio príncipe e meio facínora, que tinha, sobretudo, a força. Porque era isto que admirava, que queria, por que ansiava nas noites cálidas em que não podia dormir – dois braços fortes como aço, que a apertassem num abraço mortal, dois lábios de fogo que, num beijo, lhe chupassem a alma. Estava uma histérica. Às vezes, ao pé do leito do marido, vendo diante de si aquele corpo de tísico, numa imobilidade de entrevado, vinha-lhe um ódio torpe, um desejo de lhe apressar a morte... E no meio desta excitação mórbida do temperamento irritado, eram fraquezas súbitas, sustos de ave que pousa, um grito ao ouvir bater uma porta, uma palidez de desmaio se havia na sala flores muito cheirosas... À noite abafava; abria a janela; mas o cálido ar, o bafo morno da terra aquecida do sol, enchiam-na de um desejo intenso, de uma ânsia voluptuosa, cortada de crises de choro... A santa tornava-se Vênus. E o romanticismo mórbido tinha penetrado tanto naquele ser, e desmoralizara-o tão profundamente, que chegou ao momento em que bastaria que um homem lhe tocasse, para ela lhe cair nos braços, – e foi o que sucedeu enfim, com o primeiro que a namorou, daí a dois anos. Era o praticante da botica. Por causa dele escandalizou toda a vila. E agora deixa a casa numa desordem, os filhos sujos e ramelosos, em farrapos, sem comer até altas horas, o marido a gemer abandonado na sua alcova, toda a trapagem dos emplastros por cima das cadeiras, tudo num desamparo torpe – para andar atrás do homem, um maganão odioso e sebento, de cara balofa e gordalhufa, luneta preta com grossa fita passada atrás da orelha e bonezinho de seda posto à catita. Vem de noite às entrevistas de chinelo de ourelo; cheira a suor; e pede-lhe dinheiro emprestado para sustentar uma Joana, criatura obesa, a quem chamam na vila a Bola de Unto. Extraído de: Obra completa, Rio de Janeiro, Editora José Aguilar, vol. II, 1970.


ARTIGO

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Teatro Grego Célia A. N. Passoni

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Inicialmente, o teatro contava com um ator que se modificava utilizando máscaras. Existia um coro e o diálogo – no princípio, raro – era travado. Posteriormente foram anexadas as máscaras femininas, o que tornava

Os Grandes Trágicos 1. Ésquilo Nasceu perto de Atenas, cerca de 525 a.C. Militar, lutou contra os persas na Ásia Menor e participou de várias outras batalhas. Como teatrólogo, é considerado o “pai da tragédia grega”. Reformulou os modelos do drama, acrescentando Busto de Ésquilo. mais um ator (antes se apresentava somente um ator, que dialogava com o coro ou corifeu – chefe do coro); dessa forma, centrou o interesse nos atores, reduzindo a função do coro. São atribuídas a ele inúmeras outras modificações, entre elas a introdução da cor nas máscaras, a adoção dos coturnos (sandálias de sola alta que davam maior estatura, servindo para destacar o herói) e as túnicas de mangas largas. Trabalha, sobretudo, os mitos e o destino da coletividade, mas valoriza o indivíduo, sendo Prometeu o símbolo da condição humana.

Morreu em 456 a.C., na Sicília. Autor de dezenas de peças, sendo que sete sobreviveram integralmente. Obras: As suplicantes, Prometeu acorrentado, Os persas, Os sete contra Tebas e a trilogia Oréstia (Agamenon, As coéforas e As eumênidas). Prometeu acorrentado – Tragédia de pouca ação, tem por trama a evolução dos deuses em cumprimento da lei das necessidades. No início, Prometeu é levado pela Força e pela Violência a uma montanha do Cáucaso e lá é amarrado pelo deus ferreiro Hefaísto, que cumpre sua tarefa a contragosto. Quando só, Prometeu dirige-se à Natureza e sobretudo à mãe Têmis ou Terra. O acorrentado possui o dom da previsão e sabia que, se levasse o fogo aos homens, estaria condenado. Mesmo assim, desafiou Zeus (Júpiter) por ter piedade dos homens. Contudo, suportará o fado, seguro do conhecimento de que a Necessidade ou Destino acabará por encerrar sua luta com Zeus e o redimirá do tormento. Logo ao assumir o poder, Zeus pretendia exterminar a humanidade e substituí-Ia por outra população, no entanto, Prometeu tinha outros planos. Primeiro libertou os homens do medo da morte, depois ofereceu-lhes o fogo que, mais tarde, os libertou do temor, tornando-os capazes de criar ferramentas. Oceano (ancião) covardemente lhe indica o caminho da submissão, e Prometeu desdenha os conselhos do ancião. Deixado a sós com as ninfas do mar, o titã expõe com maiores detalhes seu método para salvar a humanidade por meio da arte e da ciência. Ele daria aos homens a Memória. Entra Io em cena, outra vítima dos deuses olímpicos. A donzela é arrastada de um país para outro por uma mosca enviada por Hera (esposa ciumenta de Zeus). Prometeu conta à jovem que Zeus não é eterno. Se ele esposar uma terrena, nascerá uma criança que o destronará. Nesse momento, Hermes (mensageiro) chega com ordens de descobrir o segredo; como Prometeu permanece quieto, Zeus lança mão da força. Raios e

O Teatro na Grécia O teatro grego parece ter origem no culto a Dionísio (deus da orgia, do vinho, da embriaguez e do entusiasmo). As lamentações pela morte do deus eram expressas por seres que representavam as forças instintivas da natureza (sátiros) e eram acompanhadas de vozerios na ressurreição do mesmo deus. Esses rituais – conhecidos como ditirambos – eram repletos de danças, acompanhados de movimentos dramáticos. Sacrificar um animal (geralmente um bode), ou amarrar e espancar um escravo e expulsá-lo da cidade eram, também, traços do ritual. Foi sob a influência dessas evoluções nos rituais que Téspis trabalhou. Seu trabalho foi retomado por outros, entre eles Ésquilo, que estaria destinado a fazer da draRéplica da escultura de Dionísio, deus da festa matugia uma das mais altas aspirações da humanidade Teatro de Dionísio visto do alto da Acrópole, em Atenas, Grécia. ocidental. e do vinho.

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A Estrutura do Teatro

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Existem duas formas de entender a origem histórica do teatro. Uma remonta as raízes ao já estruturado teatro grego, e a outra diz que o teatro não é só o produto da cultura, mas a função natural do ser humano. Do segundo ponto de vista, o teatro teria nascido da evolução do homem. O homem traz em si vontades ou necessidades impe­riosas que são capazes de formar mágicas e mistificar qualquer momento da existência. Assim, as necessidades – religiosas, lúdicas, amorosas, ou a luta contra o mal, a von­tade de adivinhar – tecem a essência do drama. Antes da Grécia, o mundo da magia cria o ator. O sacer­dote é o elo entre o representante e o representado do poder oculto e utiliza-se de todas as artimanhas para prender a atenção do espectador. Quando a prática da magia atinge o clã, está iniciado o drama. A evolução do teatro é gradativa. Os primeiros rituais de magia começam a ampliar a trama e as paixões neles contidas. Mas, até que a evolução da cultura humana se tornasse complexa, as formas do drama eram primitivas. Somente na Grécia houve necessidade de ampliar as determinações do drama e lhe dar contornos definidos. Ao atingir a maturidade, o drama faz a primeira transição do ritual para a arte e dá o primeiro passo para a caracterização do conteúdo amplamente humano. Nasce o teatro, que logo passa a ser a arte primeira. Combina a ação dramática com a poesia e pede auxílio à música, à pintura e à escultura, resultando num poderoso órgão para a expressão da experiência e do pensamento humano.

um pouco mais aberta a possibilidade de contato com o humano, e, consequentemente, ampliava as dimensões da trama. Foram introduzidos o segundo e terceiro atores (que se multiplicavam pelo uso da máscara), aumentaram-se os personagens Máscara teatral promudos, e o efeito de duzida em mármore multidões foi obtido por no século III a.C. meio do coro. Os figurinos foram enriquecidos e a estatura dos atores, pela utilização de solados altos, foi aumentada. Houve a necessidade da casa de espetáculos – em Atenas, o teatro abrigava mais de vinte mil pessoas – e aprofundaram-se as técnicas de cenografia e os estudos de acústica.

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Origens do Teatro


ARTIGO

Nascido prova­ velmente em 496 a.C., era fi­lho de rico co­m er­c iante de es­­­­ padas. Desde cedo par­ ticipou da vida teatral, interpretando papéis femininos (a mulher não tinha acesso ao palco no Teatro Grego). Foi sacerdote e, embora não tivesse predis- Busto de Sófocles. posição para a política, foi nomeado duas vezes para a Junta dos Generais que administrava os negócios civis e militares de Atenas. Já velho, uniu-se a uma cortesã, com quem teve um filho. Iofan, seu filho legítimo, temendo que o pai legasse bens para o irmão, moveu uma ação judicial acusando o teatrólogo de senil e incapaz. Levado à presença dos juízes, Sófocles defendeu-se lendo parte da peça Édipo em Colona e foi absolvido. Morreu em 406 a.C., cantando versos de Antígona. Trouxe contribuições fundamentais ao desenvolvimento da tragédia. Suas peças apresentam inovações no campo da cenografia. Reduz o número de integrantes do coro, acrescenta atores. Suas peças têm como tema os mitos simultaneamente divinos e heroicos, sendo que os heróis representam o elo entre o mundo dos homens e dos deuses. A Sófocles pertencem duas das maiores tragédias da literatura dramática mundial: Édipo rei e Antígona, escritas em 442 a.C., em que trabalha dois conflitos básicos, as pretensões rivais do Estado e da consciência individual. Antígona – Tem início quando a jovem entra no palco com um discurso no qual exprime a intenção de enterrar o irmão, embora haja um edito que a proíbe. Depois de discutir com a irmã – Ismena –, corre a fim de prestar ao irmão essa última homenagem. Creonte, sabendo que o morto havia sido enterrado, chama Antígona, que, em vez de fraquejar ante o governante, desafia-o, alegando que as suas leis não eram as dela: “Não fui feita para o ódio e sim para o amor”. Creonte a condena à morte (emparedada em

Eurípedes viu Atenas florescer. Acusado pro­ vavelmente de blasfêmia, foi exilado primeiro na Ásia Menor e depois transferiu-se para a Macedônia, onde se hospedou na corte do rei Arquelau. Morre aí em 406 a.C. A estrutura de suas peças pouco difere daquelas de Ésquilo e Sófocles, escrevendo sobre deuses e heróis da Grécia, refletindo a cultura ateniense de sua época. Introduziu o prólogo – um resumo dos antecedentes, isto é, os acontecimentos que levaram àquele momento trágico. É considerado o autor que humaniza as tragédias, sendo seus personagens homens que agiam e sentiam-se como tal. Escreveu uma centena de peças, das quais conhecemos inteiras um drama satírico – O ciclope – e dezessete tragédias: Alceste, Medeia, Hércules, Os heráclidas, Hipólito coroado, Hécuba, As suplicantes, Andrômaca, As troianas, Íon, Electra, Ifigênia em Táuride, Helena, Orestes, As fenícias, Ifigênia em Áulis e As bacantes. Medeia – Filha do rei Eetes, Medeia é uma princesa que trai seu pai e seu irmão a fim de salvar a vida de Jasão (herói dos Argonautas), com quem se casa. Após anos, já na Grécia, Jasão começa a ficar cansado da mulher e busca outra ligação, mais jovem e mais conveniente politicamente. Quer se casar com a princesa de Corinto e assim se tornar o sucessor do trono. Mas o homem fez seus cálculos sem contar com a esposa. Desprezada, ameaçada de viver no exílio e enlouquecida pelo ciúme, Medeia articula a mais completa vingança. Usando uma veste envenenada, levada pelos seus dois filhos ao palácio real, ela consegue o primeiro trunfo – assassina a princesa e o próprio rei, vítimas dos venenos da mulher. Em seguida, para vingar-se completamente do homem que a humilhou, atrai para si seus dois filhos e os mata.

uma caverna e lá abandonada), não ouvindo os rogos da irmã e do próprio filho, Hemon, a quem Antígona era prometida. Sem se arrepender, mas lamentando o seu destino (era filha de Édipo), a jovem é arrastada para fora de cena. Um coro de senadores também permanece surdo aos apelos, reprovando-a pela audácia. Eles são também Estado. Uma reviravolta processa-se, repentinamente, quando Tirésias – profeta e sacerdote cego – entra em cena e amaldiçoa o ato de Creonte, advertindo-o de que será punido pelos deuses. Embora acredite que Tirésias havia sido subornado, o governante fica perturbado pela profecia do sacerdote. E, embora amargo, submete-se dando ordem para libertar Antígona. A ansiedade o assalta quando percebe seu atraso, e logo são confirmadas as grandes mágoas que o esperam. Antígona preferiu enforcar-se; Hemon, ao ver o corpo da noiva inerte, apunhalou-se; Eurídice, a mãe do rapaz, quando é informada de que perdeu seu único filho, suicida-se. Creonte está destruído e dificilmente conseguirá en­contrar qualquer consolo entre os Senadores. Édipo rei – Considerada uma das maiores obras da dra­maturgia universal, na qual Sófocles busca desvendar o enigma do destino. O acidente – a morte de Laios – dá-se antes do início da peça. Édipo mata o pai e desposa a própria mãe, Jocasta, sem sabê-lo, e ninguém poderia impedir a consumação da tragédia. Édipo não é culpado, é simplesmente um personagem forte, corajoso, nobre, que busca obstinadamente descobrir a verdade sobre si mesmo. Quando tem início a peça, um grupo de tebanos busca o rei para que afastasse a maldição que está sobre Tebas. Tirésias, o adivinho cego, diz que só será extirpado o mal ao se descobrir quanta desgraça há em volta do rei. Perseverante, vai deduzindo e chegando ao ápice de sua desventura. Édipo foi criado por Políbio e, ouvindo adivinhos do Oráculo dizendo que ele haveria de matar o próprio pai e desposar a mãe, foge atormentado e refugia-se em Tebas, desposando a mulher de Laios, rei tebano assassinado por um desconhecido. Sábio e inteligente, Édipo vai buscar o assassino de Laios e descobre ter sido ele mesmo. Entrementes, ouve de um pastor o relato de sua origem e, finalmente, quando descobre toda a verdade, alucinado, vaza seus olhos para não ver mais as infelicidades que o rodeiam.

3. Eurípedes

Muito pouco se conhece sobre as origens de Eurípedes. Parece ter nascido em 484 a.C. Foi discípulo de filósofos como Anaxágoras e Protágoras, cujas ideias o influenciaram. Foi também treinado em atividades atléticas, que logo abandonou, preferindo a pintura Busto de Eurípedes. e a música – usando esta para compor a parte cantada de suas tragédias. Sob o governo de Péricles – a quem admirava a ponto de exaltá-lo –,

A Comédia

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2. Sófocles

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trovões são atirados do céu. O final da peça não esgota o mito de Prometeu, fixa o deus destemido e silencioso. Após fazer triunfar uma providência moral dos deuses no universo, só restava a Ésquilo fazer com que a vontade deles prevalecesse sobre os homens – volta-se, então, para o drama do homem e começa uma longa série de peças em que trabalha a maldição familiar e a formação do Estado tebano. A maldição começa com Laios, homossexual liber­tino que rapta um jovem. Pélops, pai do rapaz, amaldiçoa Laios. A maldição realiza-se no mito de Édipo; continua na prole do casamento incestuoso quando os dois filhos de Édipo se matam numa luta obstinada pelo poder. Meditando sobre a primitiva história do homem, repleta de sangue, Ésquilo recusa-se a explicações pré-fabricadas, fazendo registros de parricídios, incestos, fratricídios e conflitos políticos.

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A comédia antiga iniciava-se com uma cena de caráter explosivo, passada entre as personagens, na qual eram expostos o cenário e a história. O coro muitas vezes estava fantasiado. No palco, o coro permanecia durante toda a ação, nela participando com muita liberdade. Um ponto alto da comédia era a disputa. Duas personagens, trocando pontos de vista diferentes, discutiam até a derrota de uma delas – em geral com uma corrente de insultos e injúrias. Enquanto os atores se retiravam do palco, o coro dirigia para a plateia um discurso altamente pessoal (parábase), no qual emitia as opiniões do dramaturgo. Algumas vezes criticava figuras importantes que estavam na plateia, chegando a injúrias. Encerrando o discurso, os atores voltavam em cenas curtas e a peça terminava com a representação das consequências da disputa.

Aristófanes

Pouco se sabe sobre a vida do comediógrafo. Sabe-se que foi conservador aristocrático que encarava com irritação todas as rupturas com uma Atenas mais antiga e afortunada que ele dificilmente poderia ter conhecido, já que nasceu por volta de 445 a.C. O ímpeto do seu pensamento levou-o a extremos irracionais com seus constantes ataques ao dramaturgo Eurípedes e ao filósofo Sócrates. Obras: As nuvens (em que satiriza os métodos de Sócrates), As vespas e As rãs.


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POIS É, POESIA

Augusto dos Anjos (1884-1914) Solitário

C omo um fantasma que se refugia

Na solidão da natureza morta, Por trás dos ermos túmulos, um dia, Eu fui refugiar-me à tua porta! Fazia frio e o frio que fazia Não era esse que a carne nos conforta... Cortava assim como em carniçaria O aço das facas incisivas corta!

Quando a promiscuidade aterradora Matar a última força geradora E comer o último óvulo do ventre!

Na canonização emocionante, Da dor humana, sou maior que Dante, – A águia dos latifúndios florentinos!

Apocalipse

Sistematizo, soluçando, o Inferno... E trago em mim, num sincronismo eterno A fórmula de todos os destinos!

Mas tu não vieste ver minha Desgraça! E eu saí, como quem tudo repele, – Velho caixão a carregar destroços –

O lupanar

A h! Por que monstruosíssimo motivo Prenderam para sempre, nesta rede, Dentro do ângulo diedro da parede, A alma do homem polígamo e lascivo?!

Levando apenas na tumbal carcaça O pergaminho singular da pele E o chocalho fatídico dos ossos!

Este lugar, moços do mundo, vede: É o grande bebedouro coletivo, Onde os bandalhos, como um gado vivo, Todas as noites, vêm matar a sede!

Minha finalidade

Turbilhão teleológico incoercível,

Predeterminação imprescritível Oriunda da infra-astral Substância calma Plasmou, aparelhou, talhou minha alma Para cantar de preferência o Horrível!

Que força alguma inibitória acalma, Levou-me o crânio e pôs-lhe dentro a palma Dos que amam apreender o Inapreensível!

É o afrodístico leito do hetairismo, A antecâmara lúbrica do abismo, Em que é mister que o gênero humano entre,

M inha divinatória Arte ultrapassa

Os séculos efêmeros e nota Diminuição dinâmica, derrota Na atual força, integérrima, da Massa. É a subversão universal que ameaça A Natureza, e, em noite aziaga e ignota, Destrói a ebulição que a água alvorota E põe todos os astros na desgraça! São despedaçamentos, derrubadas, Federações sidéricas quebradas... E eu só, o último a ser, pelo orbe adiante, Espião da cataclísmica surpresa, A única luz tragicamente acesa Na universalidade agonizante! Extraído de: Eu e outras poesias, Livraria São José, Rio de Janeiro, 1965.

(ENTRE PARÊNTESIS)

Do baile Em um baile há r rapazes e m moças. Um rapaz dança com cinco moças. Um segundo rapaz dança com seis moças e assim sucessivamente. O último rapaz dança com todas as moças. Temos, então:

RESPOSTA r = m − 4.

r = 1m = 5 r = 2m = 6

Se

· · ·

· · ·

b) r = m − 5 c) r = m − 4 d) r = m e) n.r.a.

Logo,

a) r = m 5

alternativa C

SERVIÇO DE VESTIBULAR Escola Superior de Engenharia e Gestão (Eseg) Período de inscrição: até 19 de junho de 2015. Somente via internet. Endereço da faculdade: rua Vergueiro, 1 951 – Vila Mariana – São Paulo – SP – CEP: 04101-000 – Telefone: 0800-723-23-33. Requisito: taxa de R$ 45,00. Cursos e vagas: consultar site www.eseg.edu.br Exame: dia 20 de junho de 2015.


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