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Jornal do Vestibulando
ENSINO, INFORMAÇÃO E CULTURA
JORNAL ETAPA – 2015 • DE 06/08 A 19/08
ENTREVISTA
“Quero focar na área científica, participar de pesquisas”. Pedro Victor Massaroto e Silva, de Jundiaí, fez o Etapa Valinhos e entrou em Medicina na Pinheiros, onde é da primeira turma com a nova grade curricular da faculdade. Esse é um dos temas abordados nesta entrevista, na qual Pedro conta como se preparou no cursinho.
Pedro Victor Massaroto e Silva Em 2014: Etapa Em 2015: Medicina – USP
JV – O que levou você a escolher Medicina como carreira? Pedro – Eu sempre gostei muito da área de Biológicas e tinha um particular interesse no corpo humano. No colegial comecei a pesquisar profissões e vi que Medicina é uma carreira em que você ajuda as pessoas. É uma carreira que também pode lhe dar uma condição financeira boa. E você pode fazer pesquisas na área. Não vi profissão melhor. Como foi estudar no Etapa em Valinhos, mo rando em Jundiaí? Eu não passei na Fuvest no fim do 3o colegial. Falei: “Se vou fazer cursinho, vou fazer no melhor”. Perguntei a alguns amigos, eles falaram que o Etapa de Valinhos era muito bom, aprovava muito. Alguns amigos já iam para lá, também fui. Como era seu método de estudo? Você estu dava no Etapa ou ficava em casa? Eu preferia estudar em casa, sozinho. Eu penso assim: “No vestibular não vai ter ninguém junto e você tem de saber se virar sozinho. Se pega uma questão difícil, tem de achar meios de resolver. Em casa eu ia fazendo exercícios e tentava acertar”. Quebrava a cabeça com as questões. E quando não conseguia resolver? Quando não entendia mesmo, eu via na internet ou ia para o plantonista. Às vezes, um conceito que eu não entendia eu perguntava para o professor. Você estudava quanto tempo por dia? No começo do ano chegava em casa por volta das 2 horas, almoçava rapidinho e ia estudar. Ficava até umas 9, 10 horas da noite.
CONTO
O suave milagre – Eça de Queirós
Você estudava no fim de semana também? No sábado de manhã tinha o Reforço para Medicina. À tarde eu ia para a casa da minha avó. No domingo eu dormia até 11 e meia, meio-dia. Depois estudava sete, seis horas. Qual foi para você a importância das aulas de Medicina? Eu gostava bastante dessas aulas. Os professores davam uma puxadinha a mais. Tinha exercícios que eles colocavam, de Matemática e Física, e eu falava: “Gente, não sei fazer isto”. Era mais forte e eu sentia que estava me preparando melhor para Medicina. Em qual matéria você tinha mais dificul dade? Exatas sempre adorei. Em Humanas eu gostava de ler História e Geografia, só não gostava de Português. Não gosto dos testes, das questões escritas, de livros, nem de Redação. Já em História e Geografia o bom é que você consegue fazer as questões com o que leu. Minha ideia no começo do ano era passar sem contar com Português. Mas Português pesa muito, não dá para ignorar a matéria. Nos simulados, quais eram os seus resul tados? Nos do Enem, ficava em quase todos em A e alguns em B. Nos simulados da 1a fase da Fuvest era só A. Nos da 2a fase eu costumava ficar em A e B.
ARTIGO
ENTREVISTA
Pedro Victor Massaroto e Silva
Estudava direto? Com intervalos. Eu já tinha lido que não dá para ficar estudando 12 horas seguidas, tem de dar intervalos. Então, estudava duas horas, dava um descanso de meia hora, uma hora, e voltava.
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A arte medieval e a arte renascentista
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POIS É, POESIA
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Alberto de Oliveira (1857-1937)
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Em Redação, você ficava em que faixa? Ficava em C menos, C mais. Nunca passava disso. No geral, você achava que estava bem nos simulados ou podia melhorar? Sempre tentava melhorar. A minha nota costumava ser 86, 85. Sempre me esforçava para tirar mais. Eu ia passando e ouvi uma menina dizer que tinha tirado 86, pensei: “Por que ela tirou 86 e eu não?” Tentava me esforçar mais. Durante o ano, você fazia redação com que frequência? Mais ou menos duas por mês. Quando cheguei, fazia uma por mês. Você leu as obras indicadas como obrigató rias pela Fuvest? Li todas as obras, fui a todas as palestras e vi as videoaulas. Li os resumos. Uma semana antes da 2a fase eu assisti a todas as videoaulas. Tinha algumas coisas que eu não lembrava. As videoaulas do Etapa foram salvadoras. Como as palestras contribuíram para o seu melhor preparo? O legal das palestras é que elas direcionam o que você precisa saber. Eu li os livros antes de ter aula sobre eles. Nas palestras, os professores vão mostrando o que é importante, o que cai, o que é cobrado. Você tinha alguma atividade para relaxar? Fazia natação uma vez por semana. Eu adorava ler coisas sobre como melhorar o desempenho. Exercício físico ajuda a melhorar sua capacidade de aprender. Seu desempenho vai ser melhor se você fizer uma hora de esporte por semana. Ficava bravo comigo mesmo quando não ia à academia.
ENTRE PARÊNTESIS
A César o que é de César SERVIÇO DE VESTIBULAR
Inscrição
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ENTREVISTA
Como foi no segundo semestre? Depois das férias, eu voltei animado. Também porque estava conseguindo boas notas. Quando chegou a Revisão, comecei a estudar feito um louco. No mês de Revisão, antes do Enem, eu chegava na aula, abria a apostila, separava 90 exercícios em cima da Fuvest e fazia os 90. Chegava em casa, fazia mais 90 questões. Um dia da semana, quando acumulava muita dúvida, eu ficava no plantão. Na 1a fase da Fuvest, quantos pontos você fez? Fiz 80, mas esperava tirar até mais. Na 2a fase, no primeiro dia, prova de Portu guês e Redação, qual foi sua nota? Esperava tirar muito pouco. Quando fiz a correção, falei: “Vou tirar 60”. Mas tirei 69,5, de 100. E na Redação? Tirei 69, muito mais do que esperava. Fiquei surpreso. Quanto tirou no segundo dia, que é a prova geral, com 16 questões de Biologia, Física, Geografia, História, Inglês, Matemática e Química, algumas delas interdisciplinares? Tirei 90,63, fui bem. Estava preocupado porque queria tirar bastante nessa prova. Acho que em 2014 o pessoal não tinha ido bem no segundo dia porque a prova foi muito pesada, a nota máxima tinha sido 85. Mas este ano foi mais fácil. No terceiro dia, com 12 questões das maté rias prioritárias para Medicina Pinheiros – Biologia, Física e Química –, qual foi sua nota? Foi 89,58. Na escala de zero a 1 000, qual foi sua pon tuação na Fuvest? Somei 846,5 pontos. Na carreira, como você se classificou? Em 60o lugar. [São 175 vagas na Pinheiros. Ele foi melhor do que cerca de 2/3 dos aprovados] Como ficou sabendo de sua aprovação na Fuvest? No dia do resultado estava almoçando na minha avó. Lá não tem internet boa então pedi a um amigo para olhar a lista e me dizer. Quando ele ligou dando os parabéns, não aguentei, gritei, pulei. Você já conhecia a Pinheiros? Eu tinha ido lá uma vez, no colegial. Era uma excursão com três pessoas que faziam a faculdade. Mas naquele dia não tinha ninguém na Pinheiros e não vi como ela funcionava. Depois que passei, uma veterana, que é também de Jundiaí, me mostrou a faculdade antes de começarem as aulas. Na Pinheiros tem a prática de acolhimento, cada veterano pega um
calouro para ele. Então, antes da matrícula eu já conhecia bastante a faculdade.
Como foi no dia da matrícula? Eu estava tranquilo, estava feliz. Fui com meus pais, que estavam bem animados. Meu pai comprou uma camiseta com a inscrição “Meu bebê passou na USP”. Ele estava chorando de felicidade, até mais que eu. Achei engraçado porque ele nunca me disse: “Você tem que fazer Medicina”. Ele nunca foi disso. Sempre falou: “Você pode fazer o que quiser da sua vida. Apenas estude e faça o que você gostar”. Nesse dia, como foi o contato com o pessoal da faculdade? O pessoal de lá é muito legal. Não teve nenhum trote. A minha veterana me mostrou tudo, depois me levou para a casa dela para mostrar o material que ela tem da escola. Os veteranos são demais. Na faculdade, o que mais chamou sua aten ção até agora? Eu pensei que na faculdade ia ser só Medicina, mas lá é um universo. É uma microssociedade, tem esporte, pesquisa, tem alguma coisa em que você vai se enquadrar. Não é uma turma fechada, onde todas as pessoas são de um jeito. Tem gente de todo tipo. Você consegue se enquadrar em algum lugar. Além das aulas, você está fazendo alguma outra atividade? Estou fazendo uma liga de Oftalmologia e vou fazer prova para uma liga contra sífilis. Estou também fazendo um trabalho voluntário na EMA [Extensão Médica Acadêmica], em que a gente vai atender pessoas. O que você faz nesse trabalho voluntário? A gente tem aula toda semana de Propedêutica e aprende a fazer consultas. Você já fez algum atendimento? Fiz. Você não vai sozinho, óbvio, vai com outro calouro e alguns veteranos. Você conversa com pacientes, faz o prontuário, começa a ter uma vida de médico mesmo. Que matérias você teve no primeiro se mestre? Neste ano a Pinheiros entrou com um novo currículo. Somos a primeira turma que está no currículo que é voltado para os modelos internacionais das universidades de Toronto e de Harvard. Estou tendo várias matérias: Fundamentos Morfofuncionais da Medicina, na verdade um grande mix de Histologia, Anatomia, Embriologia. A ideia é deixar o curso mais integrado, pegar Histologia e relacionar com Anatomia e com Embriologia. Tive Introdução à Medicina e à Saúde, tive também Bioquímica e Biomoléculas. Essas não mudaram muito. Entrou uma nova, que se chama Discussão Integrada de Casos.
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De que matéria você está gostando mais? Discussão Integrada de Casos. A ideia é pegar um caso clínico e fazer perguntas com o que a gente aprendeu nas matérias básicas. Antes havia reclamações de que coisas que se aprendia no 1o e no 2o ano eram esquecidas, e que só tinha Medicina de verdade no Internato. Agora a gente tem uma matéria que pega as outras e aplica em um caso clínico. Do que você gostou mais até agora, na Pinheiros e na Cidade Universitária? O que me deixa abismado na USP é que você tem muita oportunidade. Se você quer fazer intercâmbio, tem; se você quer fazer iniciação científica, com certeza tem. Você tem de tudo para fazer. Tive uma aula em que eles iam fazer uma dissecção. Abriram um telão no anfiteatro e a gente conversava com a pessoa que estava no laboratório mexendo no corpo. O professor falava: “Agora faz isso” para os alunos verem, ela fazia. Alguém tinha uma dúvida, a pessoa que estava no laboratório explicava. A estrutura deles é animal. Sobre o aspecto humano, que eu acho muito legal, todo mundo quer ajudar. Os veteranos querem ajudar. Você pergunta as coisas, o pessoal ajuda, te mostra. Você tem ideia da área que quer seguir na Medicina? Não. Apesar das novas integrações, não tivemos ainda Cardiologia, Neurologia. Então, não sei. Ainda vou descobrir. Mas tenho certeza de que quero focar na área científica, participar de pesquisas. Como fica marcado para você o ano pas sado? No Etapa eu aprendi a ser humilde. No 3o colegial, minha escola era meio fraca, eu era muito arrogante. Eu era meio assim: “Se eu não consigo fazer este exercício, ninguém mais consegue, não preciso saber isto”. E não passei na Fuvest. Quando fui para o Etapa de Valinhos, tinha gente muito boa. No Etapa aprendi a valorizar mais o conhecimento dos outros. No Etapa aprendi muito com o conhecimento dos professores e a ser menos arrogante também. Tenho muito que aprender com outras pessoas. Então, hoje você está diferente de quando começou no cursinho? Além de mais humilde, estou mais feliz, porque agora estou na faculdade. Você quer dizer mais alguma coisa para nos sos atuais alunos? Vejo muitas pessoas que querem Medicina e estudam 12, 16 horas por dia. Talvez você precise estudar muito, mas no 2o semestre eu estudava oito horas por dia e passei. O importante é focar na produtividade de seu estudo.
Jornal ETAPA, editado por Etapa Ensino e Cultura REDAÇÃO: Rua Vergueiro, 1 987 – CEP 04101-000 – Paraíso – São Paulo – SP JORNALISTA RESPONSÁVEL: Egle M. Gallian – M.T. 15343
CONTO
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O suave milagre Eça de Queirós
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esse tempo Jesus ainda se não afastara da Galileia e das doces, luminosas margens do lago de Tiberíade – mas a nova dos seus milagres penetrara já até Enganim, cidade rica, de muralhas fortes, entre olivais e vinhedos, no país de Issacar. Uma tarde um homem de olhos ardentes e deslumbrados passou no fresco vale, e anunciou que um novo profeta, um rabi formoso, percorria os campos e as aldeias da Galileia, predizendo a chegada do Reino de Deus, curando todos os males humanos. E enquanto descansava, sentado à beira da Fonte dos Vergéis, contou ainda que esse rabi, na estrada de Magdala, sarara da lepra o servo de um decurião romano, só com estender sobre ele a sombra das suas mãos; e que noutra manhã, atravessando numa barca para a terra dos Gerazenos, onde começava a colheita do bálsamo, ressuscitara a filha de Jaira, homem considerável e douto que comentava os Livros na sinagoga. E como em redor, assombrados, seareiros, pastores, e as mulheres trigueiras com a bilha no ombro, lhe perguntassem se esse era, em verdade, o Messias de Judeia, e se diante dele refulgia a espada de fogo, e se o ladeavam, caminhando como as sombras de duas torres, as sombras de Gog e de Magog – o homem, sem mesmo beber daquela água tão fria de que bebera Josué, apanhou o cajado, sacudiu os cabelos, e meteu pensativamente por sob o aqueduto, logo sumido na espessura das amendoeiras em flor. Mas uma esperança, deliciosa como o orvalho nos meses em que canta a cigarra, refrescou as almas simples: logo, por toda a campina que verdeja até Áscalon, o arado pareceu mais brando de enterrar, mais leve de mover a pedra do lagar; as crianças, colhendo ramos de anêmonas, espreitavam pelos caminhos se além da esquina do muro, ou de sob o sicômoro, não surgiria uma claridade; e nos bancos de pedra, as portas da cidade, os velhos, correndo os dedos pelos fios das barbas, já não desenrolavam, com tão sapiente certeza, os ditames antigos. Ora então vivia em Enganim um velho, por nome Obed, de uma família pontifical de Samaria, que sacrificara nas aras do monte Ebal, senhor de fartos rebanhos e de fartas vinhas – e com o coração tão cheio de orgulho como o seu celeiro de trigo. Mas um vento árido e abrasado, esse vento de desolação que ao mando do Senhor sopra das torvas terras de Assur, matara as reses mais gordas das suas manadas, e pelas encostas onde as suas vinhas se enroscavam no olmo, e se estiravam na latada airosa, só deixara, em torno dos olmos e pilares despidos, sarmentos, cepas mirradas, e a parra roída de crespa ferrugem. E Obed, agachado à soleira da sua porta, com a ponta do manto sobre a face, palpava a poeira, lamentava a velhice, ruminava queixumes contra Deus cruel.
Apenas ouvira porém desse novo rabi da Galileia, que alimentava as multidões, amedrontava os demônios, emendava todas as desventuras – Obed, homem lido, que viajara na Fenícia, logo pensou que Jesus seria um desses feiticeiros, tão costumados na Palestina, como Apolônio, ou rabi Ben-Dossa, ou Simão, o Sutil. Esses, mesmo nas noites tenebrosas, conversam com as estrelas, para eles sempre claras e fáceis nos seus segredos; com uma vara afugentam de sobre as searas os moscardos gerados nos lodos do Egito; e agarram entre os dedos as sombras das árvores, que conduzem, como toldos benéficos, para cima das eiras, à hora da sesta. Jesus da Galileia, mais novo, com magias mais viçosas decerto, se ele largamente o pagasse, sustaria a mortandade dos seus gados, reverdeceria os seus vinhedos. Então Obed ordenou aos seus servos que partissem, procurassem por toda a Galileia o rabi novo, e com promessa de dinheiros ou alfaias o trouxessem a Enganim, no país de Issacar. Os servos apertaram os cinturões de couro – e largaram pela estrada das caravanas, que, costeando o lago, se estende até Damasco. Uma tarde, avistaram sobre o poente, vermelho como uma romã muito madura, as neves finas do monte Hermon. Depois, na frescura de uma manhã macia, o lago de Tiberíade resplandeceu diante deles, transparente, coberto de silêncio, mais azul que o céu, todo orlado de prados floridos, de densos vergéis, de rochas de pórfiro, e de alvos terraços por entre os palmares, sob o voo das rolas. Um pescador que desamarrava preguiçosamente a sua barca de uma ponta de relva, assombreada de aloendros, escutou, sorrindo, os servos. O rabi de Nazaré? Oh! desde o mês de Ijar, o rabi descera, com os seus discípulos, para os lados para onde o Jordão leva as águas. Os servos, correndo, seguiam pelas margens do rio, até adiante do vau, onde ele se estira num largo remanso, e descansa, e um instante dorme, imóvel e verde, à sombra dos tamarindos. Um homem da tribo dos essênios, todo vestido de linho branco, apanhava lentamente ervas salutares, pela beira da água, com um cordeirinho branco ao colo. Os servos humildemente saudaram-no, porque o povo ama aqueles homens de coração tão limpo e claro e cândido como as suas vestes cada manhã lavadas em tanques purificados. E sabia ele da passagem do novo rabi da Galileia, que como os essênios ensinava a doçura, e curava as gentes e os gados? O essênio murmurou que o rabi atravessara o oásis de Engadi, depois se adiantara para além... – Mas onde, além? – Movendo um ramo de flores roxas que colhera, o essênio mostrou as terras de além-Jordão, a planície de Moab. Os servos vadearam o rio – e debalde procuraram Jesus, arquejando pelos rudes trilhos, até
às fragas onde se ergue a cidadela sinistra de Makaur... No Poço de Jacó repousava uma larga caravana, que conduzia para o Egito mirra, especiarias e bálsamos de Gilead: e os cameleiros, tirando a água com os baldes de couro, contaram aos servos de Obed que em Gadara, pela Lua-nova, um rabi maravilhoso, maior que Davi ou Isaías, arrancara sete demônios do peito de uma tecedeira, e que, à sua voz, um homem degolado pelo salteador Barrabás se erguera da sua sepultura e recolhera ao seu horto. Os servos, esperançados, subiram logo açodadamente pelo caminho dos peregrinos até Gadara, cidade de altas torres, e ainda mais longe até às nascentes da Amalha... Mas Jesus, nessa madrugada, seguido por um povo que cantava e sacudia ramos de mimosa, embarcara no lago, num batel de pesca, e à vela navegara para Magdala. E os servos de Obed, descoroçoados, de novo passavam o Jordão na Ponte das Filhas de Jacó. Um dia, já com as sandálias rotas dos longos caminhos, pisando já as terras da Judeia Romana, cruzaram um fariseu sombrio, que recolhia a Efraim, montado na sua mula. Com devota reverência detiveram o homem da Lei. Encontrara ele, por acaso, esse profeta novo da Galileia que, como um Deus passeando na Terra, semeava milagres? A adunca face do fariseu escureceu enrugada – e a sua cólera retumbou como um tambor orgulhoso: – Oh escravos pagãos! Oh blasfemos! Onde ouvistes que existissem profetas ou milagres fora de Jerusalém? Só Jeová tem força no seu Templo. De Galileia surgem os néscios e os impostores... E como os servos recuavam ante o seu punho erguido, todo enrodilhado de dísticos sagrados – o furioso doutor saltou da mula e, com as pedras da estrada, apedrejou os servos de Obed, uivando: “Racca! Racca!” e todos os anátemas rituais. Os servos fugiram para Enganim. E grande foi a desconsolação de Obed, porque os seus gados morriam, as suas vinhas secavam – e todavia, radiantemente, como uma alvorada por detrás de serras, crescia, consoladora e cheia de promessas divinas, a fama de Jesus da Galileia. Por esse tempo, um centurião romano, Públio Sétimo, comandava o forte que domina o vale de Cesareia, até à cidade e ao mar. Públio, homem áspero, veterano da campanha de Tibério contra os partas, enriquecera durante a revolta da Samaria com presas e saques, possuía minas na Ática, e gozava, como favor supremo dos deuses, a amizade de Flaco, legado imperial da Síria. Mas uma dor roía a sua prosperidade muito poderosa, como um verme rói um fruto muito suculento. Sua filha única, para ele mais amada que vida ou bens, definhava com um mal sutil e lento, estranho mesmo ao saber dos esculápios e mágicos que ele mandara consultar a Sídon e a Tiro. Branca
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CONTO
e triste como a Lua num cemitério, sem um queixume, sorrindo palidamente a seu pai, definhava, sentada na alta esplanada do forte, sob um velário, alongando saudosamente os negros olhos tristes pelo azul do mar de Tiro, por onde ela navegara de Itália, numa galera enfestada. Ao seu lado, por vezes, um legionário entre as ameias apontava vagarosamente ao alto a flecha, e varava uma grande águia, voando de asa serena, no céu rutilante. A filha de Sétimo seguia um momento a ave torneando até bater morta sobre as rochas – depois, mais triste com um suspiro, e mais pálida, recomeçava a olhar para o mar. Então Sétimo, ouvindo contar, a mercadores de Chorazim, deste rabi admirável, tão potente sobre os espíritos, que sarava os males tenebrosos da alma, destacou três decúrias de soldados para que o procurassem pela Galileia, e por todas as cidades da Decápola, até a costa e até Áscalon. Os soldados enfiaram os escudos nos sacos de lona, espetaram nos elmos ramos de oliveira – e as suas sandálias ferradas apressadamente se afastaram, ressoando sobre as lajes de basalto da estrada romana que desde Cesareia até ao lago corta toda a tetrarquia de Herodes. As suas armas, de noite, brilhavam no topo das colinas, por entre a chama ondeante dos archotes erguidos. De dia invadiam os casais, rebuscavam a espessura dos pomares, esfuracavam com a ponta das lanças a palha das medas: e as mulheres, assustadas, para os amansar, logo acudiam com bolos de mel, figos novos, e malgas cheias de vinho, que eles bebiam de um trago, sentados à sombra dos sicômoros. Assim correram a Baixa Galileia – e, do rabi, só encontraram o sulco luminoso nos corações. Enfastiados com as inúteis marchas, desconfiando que os judeus sonegassem o seu feiticeiro para que os romanos não aproveitassem do superior feitiço, derramavam com tumulto a sua cólera, através da piedosa terra submissa. À entrada das pontes detinham os peregrinos, gritando o nome do rabi, rasgando os véus às virgens: e, à hora em que os cântaros se enchem nas cisternas invadiam as ruas estreitas dos burgos, penetravam nas sinagogas, e batiam, sacrilegamente com os punhos das espadas nas Thebahs, os santos armários de cedro que continham os Livros Sagrados. Nas cercanias de Hébron arrastaram os solitários pelas barbas para fora das grutas, para lhes arrancar o nome do deserto ou do palmar em que se ocultava o rabi – e dois mercadores fenícios que vinham de Jope com uma carga de malóbatro, e a quem nunca chegara o nome de Jesus, pagaram por esse delito cem dracmas a cada decurião. Já a gente dos campos, mesmo os bravios pastores de Idumeia, que levam as reses brancas para o Templo, fugiam espavoridos para as serranias, apenas luziam, nalguma volta do caminho, as armas do banco violento. E da beira dos eirados, as velhas sacudiam como taleigos a ponta dos cabelos desgrenhados, e arrogavam sobre eles as Más Sortes, invocando a vingança de Elias. Assim tumultuosamente erraram até Áscalon: não encontraram Jesus: e retrocederam ao longo da costa enterrando as sandálias nas areias ardentes.
Uma madrugada, perto de Cesareia, marchando num vale, avistaram sobre um outeiro um verde-negro bosque de loureiros, onde alvejava, recolhidamente, o fino e claro pórtico de um templo. Um velho, de compridas barbas brancas, coroado de folhas de louro, vestido com uma túnica cor de açafrão, segurando uma curta lira de três cordas, esperava gravemente, sobre os degraus de mármore, a aparição do Sol. Debaixo, agitando um ramo de oliveira, os soldados bradaram pelo sacerdote. Conhecia ele um novo profeta que surgira na Galileia, e tão destro em milagres que ressuscitava os mortos e mudava a água em vinho? Serenamente, alargando os braços, o sereno velho exclamou por sobre a rociada verdura do vale: – Oh romanos! pois acreditais que em Galileia ou Judeia apareçam profetas consumando milagres? Como pode um bárbaro alterar a ordem instituída por Zeus?... Mágicos e feiticeiros são vendilhões, que murmuram palavras ocas, para arrebatar a espórtula dos simples... Sem a permissão dos imortais nem um galho seco pode tombar da árvore, nem seca folha pode ser sacudida na árvore. Não há profetas, não há milagres... Só Apolo Délfico conhece o segredo das coisas! Então, devagar, com a cabeça derrubada, como numa tarde de derrota, os soldados recolheram à fortaleza de Cesareia. E grande foi o desespero de Sétimo, porque sua filha morria, sem um queixume, olhando o mar de Tiro – e todavia a fama de Jesus, curador dos lânguidos males, crescia, sempre mais consoladora e fresca, como a aragem da tarde que sopra do Hermon e, através dos hortos, reanima e levanta as açucenas pendidas. Ora entre Enganim e Cesareia, num casebre desgarrado, sumido na prega de um cerro vivia a esse tempo uma viúva, mais desgraçada mulher que todas as mulheres de Israel. O seu filhinho único, todo aleijado, passara do magro peito a que ela o criara para os farrapos da enxerga apodrecida, onde jazera, sete anos passados, mirrando e gemendo. Também a ela a doença a engelhara dentro dos trapos nunca mudados, mais escura e torcida que uma cepa arrancada. E, sobre ambos, espessamente a miséria cresceu como o bolor sobre cacos perdidos num ermo. Até na lâmpada de barro vermelho secara há muito o azeite. Dentro da arca pintada não restava grão ou côdea. No estio, sem pasto, a cabra morrera. Depois, no quinteiro, secara a figueira. Tão longe do povoado, nunca esmola de pão ou mel entrava o portal. E só ervas apanhadas nas fendas das rochas, cozidas sem sal, nutriam aquelas criaturas de Deus na Terra Escolhida, onde até às aves maléficas sobrava o sustento! Um dia um mendigo entrou no casebre, repartiu do seu farnel com a mãe amargurada, e um momento sentado na pedra da lareira, coçando as feridas das pernas, contou dessa grande esperança dos tristes, esse rabi que aparecera na Galileia, e de um pão no mesmo cesto fazia sete, e amava todas as criancinhas, e enxugava todos os prantos, e prometia aos pobres um grande e luminoso reino, de abundância maior que a corte de Sa-
lomão. A mulher escutava, com olhos famintos. E esse doce rabi, esperança dos tristes, onde se encontrava? O mendigo suspirou. Ah esse doce rabi! quantos o desejavam, que se desesperançavam! A sua fama andava por sobre toda a Judeia como o Sol que até por qualquer velho muro se estende e se goza; mas para enxergar a claridade do seu rosto, só aqueles ditosos que o seu desejo escolhia. Obed, tão rico, mandara os seus servos por toda a Galileia para que procurassem Jesus, o chamassem com promessas a Enganim; Sétimo, tão soberano, destacara os seus soldados até à costa do mar, para que buscassem Jesus, o conduzissem, por seu mando, a Cesareia. Errando, esmolando por tantas estradas, ele topara os servos de Obed, depois os legionários de Sétimo. E todos voltavama, como derrotados, com as sandálias rotas, sem ter descoberto em que mata ou cidade, em que toca ou palácio, se escondia Jesus. A tarde caía. O mendigo apanhou o seu bordão, desceu pelo duro trilho, entre a urze e a rocha. A mãe retomou o seu canto, a mãe mais vergada, mais abandonada. E então o filhinho, num murmúrio mais débil que o roçar de uma asa, pediu à mãe que lhe trouxesse esse rabi que amava as criancinhas, ainda as mais pobres, sarava os males, ainda mais antigos. A mãe apertou a cabeça esguedelhada: – Oh filho! e como queres que te deixe, e me meta aos caminhos, à procura do rabi da Galileia? Obed é rico e tem servos, e debalde buscaram Jesus, por areias e colinas, desde Chorazim até ao país de Moab. Sétimo é forte e tem soldados, e debalde correram por Jesus, desde o Hébron até ao mar. Como queres que te deixe? Jesus anda por muito longe e a nossa dor mora conosco, dentro destas paredes, e dentro delas nos prende. E mesmo que o encontrasse, como convenceria eu o rabi tão desejado, por quem ricos e fortes suspiram, a que descesse através das cidades até este ermo, para sarar um entrevadinho tão pobre, sobre enxerga tão rota? A criança, com duas longas lágrimas na face magrinha, murmurou: – Oh mãe! Jesus ama todos os pequeninos. E eu ainda tão pequeno, e com um mal tão pesado, e que tanto queria sarar! E a mãe, em soluções: – Oh meu filho, como te posso deixar? Longas são as estradas da Galileia, e curta a piedade dos homens. Tão rota, tão trôpega, tão triste, até os cães me ladrariam da porta dos casais. Ninguém atenderia o meu recado, e me apontaria a morada do doce rabi. Oh filho! Talvez Jesus morresse... Nem mesmo os ricos e os fortes o encontram. O Céu o trouxe, o Céu o levou. E com ele para sempre morreu a esperança dos tristes. De entre os negros trapos, erguendo as suas pobres mãozinhas que tremiam, a criança murmurou: – Mãe, eu queria ver Jesus... E logo, abrindo devagar a porta e sorrindo, Jesus disse à criança: – Aqui estou. Extraído de: Eça de Queirós, Obra completa, v. 2, Editora Nova Aguillar, 1970.
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A arte medieval e a arte renascentista
1. A experiência espacial do Renascimento se deu dentro de uma mudança estrutural da sociedade europeia (econômica, social e política) e, portanto, está vinculada à representação que os homens daquela época, com aqueles problemas específicos, faziam do mundo. Pode ser uma representação verdadeira do mundo para a sociedade que surgiu no século XV: verdadeira porque corresponde à nova estrutura social e aos novos conhecimentos científicos; verdadeira relativamente à época em que surgiu, e não para toda a humanidade, em todos os tempos e todos os espaços.
to pode estar duas vezes maior do que um outro personagem do quadro não porque este se encontra em segundo plano, mas porque Cristo lhe é superior na hierarquia de valores religiosos. Na pintura renascentista, a representação espacial se estrutura com base nas relações físicas e matemáticas entre objetos e figuras, sem se preocupar com qualquer outra conotação: é, portanto, um espaço quantitativo, que se preocupa em determinar as proporções
e as distâncias entre as figuras e não suas relações morais. Uma das consequências da nova visão foi que os corpos, não tendo mais existência separada enquanto grandezas absolutas, deviam ser coordenados com outros corpos no mesmo campo de visão, numa mesma escala de grandeza: tornou-se necessário quadricular a tela e calcular quase matematicamente a posição e a distância dos corpos representados. Reprodução
A
história da arte foi feita até agora em função da ideia de que o Renascimento marca uma aproximação decisiva e definitiva na representação verdadeira do mundo exterior. Essa atitude necessita ser analisada sob dois prismas:
2. A ideia de uma representação verdadeira do mundo exterior implica uma noção de espaço em si, um universo dado de uma vez por todas, sempre o mesmo para o homem de qualquer lugar e qualquer tempo. Ora, esse espaço ideal, que seria simplesmente reinterpretado de diversas maneiras pelos vários movimentos artísticos, não existe. O espaço não é uma realidade em si: é a experiência do homem com o seu meio ambiente, e, nesse sentido, o homem está sempre criando espaços novos, e não simplesmente visualizando de modo diferente o mesmo espaço. Em que consiste basicamente a grande diferença entre a pintura medieval (tanto a gótica quanto a bizantina) e a pintura renascentista? O espaço para a pintura medieval é qualitativo, isto é, as figuras e os objetos se dispõem em função das qualidades que possuem dentro de uma certa simbologia (em geral, simbologia religiosa) e o tamanho é determinado pelo valor da figura, e não pela sua distância física em relação às outras. Assim, Cris-
Simone Martini, Cristo no caminho do calvário, c. 1340.
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Fra Angelico, A anunciação, c. 1440-1450.
vocava; a cor na pintura bizantina era emblemática, havia uma cor – tipo para cada figura representada, que também dependia de tradição pictórica, e não de imitação da coloração natural dessa figura. A cor no Renascimento tenta emancipar-se das tradições expressionistas e emblemáticas para aderir plenamente à figura e ao objeto representado: é uma cor que se quer natural.
A bidimensionalidade que havia vigo rado na pintura medieval, isto é, o plano, deixa lugar à tridimensionalidade – o espaço da tela se torna um espaço ilusoriamente “real”, pois tem uma terceira dimensão, a da profundidade, conseguida pelas linhas de perspectiva. Os corpos evoluem nesse espaço como corpos pesados, consistentes, quase escultóricos.
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O espaço medieval, que era sucessivo (num mesmo quadro havia vários espaços com grandezas diferentes), deixa lugar a um espaço unitário, regido pelas leis da perspectiva, descobertas nessa mesma época. O tempo na pintura medieval era também plural, isto é, um mesmo quadro tratava de assuntos que se desenrolavam em períodos diferentes; o tempo na pintura renascentista passa a ser unitário, ou seja, a figura representada num momento único de sua ação. Disso decorre que a multiplicidade de ações que aconteciam em tempos e espaços diferentes num quadro medieval desaparece e é substituída por uma só ação acontecendo em um só tempo e num só espaço. O foco visual, que na pintura medieval era sucessivo e plural, isto é, o olho do espectador devia percorrer sucessivamente as várias cenas apresentadas, torna-se único e imediato, pois tudo está subordinado a um tema central, que é captado globalmente num só olhar do espectador. A cor na pintura gótica era geralmente expressionista, isto é; não representava a coloração natural do objeto pinta do, mas os sentimentos que este pro-
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Andrea Mantegna, S. Tiago conduzido ao suplício, c. 1455.
Andrea Mantegna, S. Tiago conduzido ao suplício, c. 1455. (Desenho à pena)
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Sandro Botticelli, O nascimento de Vênus, c. 1480.
Pietro Lorenzetti, O nascimento da virgem, c. 1342.
O século XV foi um período ambivalente, na medida em que os artistas estavam insatisfeitos com as antigas formas de representação, mas ainda não tinham construído um outro sistema coerente de relações espaciais. É chamado Pré-Renascimento por que já se prenunciavam as características da pintura do Renascimento. Mas não se deve privilegiar este único aspecto, pois a pintura medieval também
alcançou nesse período grande desenvolvimento; às vezes, no mesmo quadro, os pintores do Pré-Renascimento apresentam características da pintura medieval e daquela que será chamada renascentista. Na Itália e nos Países Baixos do Sul (também chamados Flandres) é que se desenvolvem as pesquisas em torno do novo espaço pictórico. Fonte: Acervo Etapa.
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Finalmente, a estilização das figuras na pintura medieval vai ser substituída pela busca da expressão natural dos corpos na pintura renascentista. O Renascimento propriamente dito começa em fins do século XV e continua até metade do século XVI, quando o Maneirismo e o Barroco iniciam o esvaziamento das formas criadas pelos pintores renascentistas e propõem novas relações espaciais.
Hubert van Eyck; Jan van Eyck, Retábulo de Ghent (Adoração do Cordeiro Sagrado), 1430-1432.
POIS É, POESIA
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Alberto de Oliveira (1857-1937) A história de Carmem
C
I
armem, como a inspirá-la o mar em frente visse, e a noite a cair calma e estrelada, tangeu, nervosa e apaixonadamente, no dourado salão a harpa dourada. E, aos pausados soluços do instrumento, ia-lhe a alma de moça (como ao vento, sem saber onde vai, folha perdida) ia-lhe a alma num cântico àquela hora fora pela janela, espaço fora, longe da casa, longe desta vida. Mas alguém de repente entra na sala, e em rude voz que lhe feriu o ouvido: – “Para que música?” (é o marido) fala. Não gostava de música o marido. II
S
em a harpa, a amiga fiel a quem contava as suas penas e os seus dissabores, Carmem: – “Não me permitem – suspirava – amar a música: amarei as flores”.
Desce ao jardim. Borboleteia, esvoaça, e violetas e cravos, quando passa, rosas, jasmins, rindo, com as mãos nervosas colhe. Volta, e ante o espelho às tranças [pretas prende os jasmins, os cravos e as violetas prende à cintura, prende ao seio as rosas. E olha, vê-se, revê-se. Quando, ai dela! o mesmo tom de voz aborrecido: – ”Para que flores?” – a surpreende e gela. Não gostava de flores o marido.
S
III
em música, sem flores, que seria, Carmem, de ti, se, em seu poder, que é tanto, como as flores e a música, a poesia não viesse as horas te vestir de encanto? Para Carmem agora a vida é um sonho; Do verso às asas, o país risonho vê da ilusão, entre os dourados climas; lá vai! Que azul de eternos sóis coberto! Tanto é o influxo que tem um livro aberto, um punhado de estrofes e de rimas. Range, porém, da alcova, a um lado, a porta,
e o tom de sempre, austero e desabrido: – ”Para que versos?” – o êxtase lhe corta. Não gostava de versos o marido. IV
S
em poesia, sem música, sem flores, só e aos vinte anos, quem viver pudera? Mísera Carmem! Já do rosto as cores com o pranto esmaiam, já se desespera. Quando uma vez... Não foi um cavaleiro (como se diz) em seu corcel ligeiro... foi das cousas que amava o amor vencido, vencedor, afinal, que num perfume, Num som, num verso, como outrora um [nume, A arrebatou dos braços do marido. E onde hoje vive, ri, doudeja, salta Carmem, ditosa Carmem, de alegria, pois para ser feliz nada lhe falta: nem música, nem flores, nem poesia. Extraído de: Poesias completas de Alberto de Oliveira, Núcleo Editorial da UERJ, 1978.
(ENTRE PARÊNTESIS)
A César o que é de César Seis homens de nomes Hamilton, Jaime, George, Francisco, Ricardo e Luciano são os únicos membros elegíveis de uma determinada organização para ocupar os cargos de presidente, vice-presidente e secretário. A dificuldade, porém, é que: • Hamilton quer trabalhar sem que Ricardo seja presidente. • Jaime não quer trabalhar com Luciano, nem ficar em posição inferior a Ricardo. • George não aceita cargo tendo Luciano como presidente ou Jaime como secre tário, e também não quer trabalhar com Luciano ou Hamilton. • Francisco não quer ser subordinado a George ou a Jaime. • Ricardo não deseja a vice-presidência, não quer ser secretário se Francisco for funcionário e não aceita trabalhar com Hamilton, se Luciano também não trabalhar. Apoia a escolha de George para presidente. • Luciano não que trabalhar se ele ou George não for escolhido como presidente. Quais deles deverão preencher os três cargos?
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RESPOSTA George deve ser o presidente, Jaime o vice-presidente e Ricardo deve ser o secretário.
SERVIÇO DE VESTIBULAR Universidade Federal do Amazonas (Ufam) Período de inscrição: até 25 de agosto de 2015. Somente via internet. Endereço
da faculdade: av. General Rodrigo Octávio Jordão Ramos, 3 000 – Campus Universitário Coroado I – Manaus – AM – CEP: 69077-000 – Telefone: (92) 3305-1480. Requisito: taxa de R$ 40,00.
Cursos e vagas: consultar site www.comvest.ufam.edu.br Exame: dia 29 de novembro de 2015. Leitura obrigatória: • O Quinze – Raquel de Queiroz.