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Jornal do Vestibulando

ENSINO, INFORMAÇÃO E CULTURA

JORNAL ETAPA – 2015 • DE 20/08 A 02/09

ENTREVISTA

“Pensava também em Ciências Sociais, Medicina, Psicologia, Filosofia.” Otávio Francisco da Cruz Martins entrou em Engenharia Química na Poli. Nesta entrevista ele conta como se preparou no cursinho após a decepção de não passar direto na Fuvest, no ano anterior, quando ficou na 1 502a posição na carreira. Agora subiu para a 83a colocação na Poli, que oferece 750 vagas em seus 17 cursos de Engenharia.

Otávio Francisco da Cruz Martins Em 2014: Etapa Em 2015: Engenharia Química – USP

JV – O que levou você a escolher Engenharia Química como carreira? Otávio – O primeiro curso em que pensei prestar foi Engenharia Química. Mas pensava também em Ciências Sociais, Medicina, Psicologia, Filosofia. Eu gosto um pouco de tudo, mas acho que Engenharia Química vai me servir muito bem. Na escola eu não era um bom aluno e quase fui reprovado no 1o ano do Ensino Médio. A única matéria de que eu gostava mesmo e em que ia bem era Química. E decidi por Engenharia porque tem um campo de atuação bem grande. Além da Fuvest, quais vestibulares você prestou? Prestei Unicamp, Enem e Unesp. Fui aprovado em todos. No Sisu do meio do ano, mesmo estando na Poli, coloquei Medicina e fui aprovado na Federal Fluminense e na Federal de Pelotas. Você pretende mudar para Medicina? Preferi ficar na USP. Você prestou vestibular direto do 3o ano? Prestei. Na Fuvest eu passei para a 2a fase, mas não estava bem preparado, não deu. Nunca fui bem em Português, tive uma nota horrível no primeiro dia, 41. Mesmo tendo tirado 80 nas prioritárias do terceiro dia, não foi suficiente para passar. Minha colocação final foi 1 502. O que motivou você a vir estudar aqui? É meio natural você passar por aqui para ir para a Poli. Meus amigos que eram da mesma escola vieram para cá. Decidi vir também. Você estava animado no começo do ano passado? O começo do ano foi um pouco estressante porque eu estava meio triste. Achava realmente

ENTREVISTA

Otávio Francisco da Cruz Martins CONTO A Sereníssima República (Conferência do Cônego Vargas) – Machado de Assis

que fosse passar. Eu queria ter ido logo para a faculdade, não queria estar aqui, mas ao longo do ano fui me acostumando com o ambiente, conhecendo o pessoal, e gostei bastante da experiência.

Como era sua rotina durante o cursinho? Acordava às 5 horas da manhã todo dia e vinha para o Etapa. Chegava umas 6 e 50, mais ou menos. Terminada a aula, ia para casa de metrô, almoçava, dormia até umas 4, 5 horas. Depois estudava até umas 9, 10 horas da noite. Essa foi minha rotina até a Revisão.

Você estudava a matéria do dia? Costumava pegar sempre a matéria do dia e costumava focar nas coisas que eu tinha certeza de não ter visto na escola. Ou tentava pegar alguma matéria atrasada que eu não tinha entendido direito. Nas matérias em que eu tinha mais dificuldade, como Biologia, a parte de Citologia, tentava fazer um resumo. Também tentava fazer isso em algumas partes de História e Geografia que eu não tive. Mas normalmente eu estudava pelos testes da apostila. Fazia quase todos os testes. A parte de escritas eu tentava fazer mais as de Exatas. Um erro meu foi nunca ter dado muito foco a Português.

Em Português, o que você acha que poderia ter feito? Português era aquela matéria que em casa dava sono, não conseguia estudar. Você deixa de canto, mas uma hora você tem que recuperar. Eu tentava fazer as coisas de Português na aula ou no intervalo. Tentava rever toda a matéria, dar uma lida, pelo menos nas partes mais importantes, fazer um exercício ou outro. Interpretação de texto é que pegava mais.

PRA PENSAR

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Stonehenge

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POIS É, POESIA

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Fernando Pessoa (Alberto Caeiro)

Em quais matérias você recorria mais ao Plantão de Dúvidas? Eu tinha a teimosia de achar um jeito de resolver as questões de Exatas. Acho que a persistência é que leva a acertar. Tentava fazer os exercícios de Exatas e nos que não achava o resultado, principalmente nos escritos, perguntava para os amigos. Se eles também não soubessem, ia ao plantão. Eu pedia ao plantonista para apontar meus erros conceituais nos exercícios. Também ia para resolver uns exercícios mais difíceis em que eu realmente travava. Usei um pouco também para Biologia. Para Português eu usei na Revisão Final, fiz algumas provas antigas da Fuvest e pedia à plantonista para corrigir as questões comigo. Isso me ajudou bastante na 2a fase. Como era seu desempenho no cursinho? Eu nunca fui mal no cursinho, sempre tive um desempenho mais ou menos constante. Sempre focava em fazer um simulado melhor que o outro, nunca deixar a média cair. Perto da Revisão decidi ficar um pouco mais no cursinho, porque precisava superar o atraso. Saía da aula e ficava aqui até umas 8 horas da noite, estudando com os amigos. Estudando no cursinho, sua preparação melhorou? Estudando aqui o rendimento era maior. Eu tinha um foco melhor e conseguia me concentrar de verdade. Eu costumava ajudar bastante gente no cursinho em suas dificuldades. Sempre gostei de ajudar e costumava estudar ajudando as pessoas. E acho que isso me ajudou bastante. Quais eram seus resultados nos simulados? Na maioria deles eu fiquei no C mais, em um ou dois fiquei no C menos, no B umas quatro vezes

ARTIGO Estudo testa nova classe de drogas com potencial efeito antidepressivo

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SERVIÇO DE VESTIBULAR

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Inscrições

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ENTREVISTA

e no A umas duas ou três. Nos da Fuvest ficava numa média de 70 e 80. Fui subindo de ponto em ponto. Mais ou menos isso.

Você leu os livros indicados pela Fuvest como obrigatórios? Tinha lido todos no Ensino Médio, menos Capitães da Areia, de Jorge Amado, que li nas férias do cursinho. Você assistiu às palestras sobre os livros? Fui a todas e, uma, Sentimento do mundo, de Carlos Drummond de Andrade, vi pela internet. Qual a diferença entre só ler o livro e ler e assistir à palestra? O livro, muitas vezes, tem aquele emaranhado de situações em que você perde detalhes. E, às vezes a beleza do livro está nesses detalhes. E tem também aquele livro com uma linguagem mais difícil, até pedante. As palestras resolvem bem esses pontos. Achei as palestras muito interessantes e muito importantes. O que você fez nas férias? Nas férias eu descansei. Só li Capitães da Areia porque foi relaxante. Gostava de ler, para mim era uma coisa boa. Você tinha alguma atividade para dar uma relaxada? Para relaxar eu simplesmente dormia. Na 1a fase da Fuvest, quantos pontos você fez? Fiz 72 pontos. Esperava mais. Fiquei decepcionado com minha nota porque tinha a expectativa de ficar na margem em que estava no cursinho. Eu fiz algumas provas antigas e estava acertando em média 85 questões. Na prova eu estava nervoso e acertei bem menos. Fazer 72 pontos foi uma coisa que eu achei que não estava condizente com o meu conhecimento naquele momento. O que aconteceu? O ar condicionado da sala estava quebrado, um calor danado. Lembro que estava pingando literalmente em cima da prova. Não estava conseguindo me concentrar. Foi uma coisa que acabou me prejudicando um pouco. O corte da Engenharia Química foi 61. Apesar de decepcionado com sua nota, você ficou tranquilo em relação à 2a fase? Como gosto de estatísticas, eu tinha visto qual era a média para passar em Engenharia Química. No ano retrasado tinha sido 730. Meu foco era ficar pelo menos por aí. Com 72 acertos, passando para a base de 100 eu teria 80. Eu teria que fazer uma prova razoável para conseguir alcançar a média. Mas, como eu tinha déficit em Português, não achei muito bom. No primeiro dia da 2a fase da Fuvest a prova tem 10 questões de Português e Redação. Que nota você tirou? Eu fui melhor do que esperava, fiquei com 69 na média final. E tirei 73 na Redação. Na Redação, acho que ajudou bastante ter citado mui-

tos filósofos. Mas para isso é preciso ter uma base e citar com relação ao tema da Redação.

Como foi no segundo dia, na prova geral, com 16 questões de todas as matérias? Eu achei que foi a prova mais tranquila. Errei apenas duas questões. Fiquei com 87,5. Uma nota que eu não esperava também.

Qual foi sua nota no terceiro dia, com 12 questões das três matérias prioritárias para Engenharia – Física, Química e Matemática? Tirei 79,17. Achei a prova de Matemática bem mais difícil que no outro ano, mas acabei ficando com a mesma nota. Pelo nível da prova, foi condizente.

Você falou que na 1a fase esperava ir um pouco melhor. E da 2a fase, o que você achou? Como foquei bastante na qualidade de estudo no cursinho – foquei em conhecimento a longo prazo, não a curto prazo –, eu achava que tinha conhecimento para fazer uma prova boa na 2a fase. E foi o que aconteceu. Não foi muita surpresa. Apesar de eu achar que não tinha passado.

Por que você achava isso? Achei que tinha ido bem, mas na Redação não esperava muita coisa. Achava que no 2o dia tinha tirado 50 e pouco. No terceiro dia, porque teve aquela prova carrasco de Matemática e tinha passado erradamente o resultado de duas questões de Física.

Na escala de zero a 1 000, qual foi sua pontuação na Fuvest? 789,2.

E sua classificação na carreira? 83o lugar na Poli.

Como soube de sua aprovação? Eu estava realmente achando que não ia passar na Fuvest, mas pelo Enem tinha sido aprovado pela Federal do Rio de Janeiro e me matriculei lá. Aí, no dia da lista, eu abri a página da Fuvest na internet, mas não carregava. A página do desempenho carregou mais rápido do que a da lista. Vi minha nota final e falei: “Nossa, passei!”. Minha mãe e meu pai estavam ao meu lado, mais tensos que eu, esperando minha nota. “Eu passei, eu passei!”. Dei um pulo, quase caí da cadeira. Eles ficaram muito felizes. Depois vim para o Etapa, para a festa dos aprovados, e comemorei com os amigos. Tomei um pré-trote da Poli. Até apareci no SPTV. Foi divertido.

Como foi a semana de recepção na Poli? A semana de recepção também foi muito divertida. A parte do farol, pedir dinheiro, foi muito legal. Todo mundo que estava lá era porque queria, ninguém obrigou ninguém a nada. A gente ganhou uma festa da Atlética, foi bem legal. No dia do Grêmio conhecemos todos os centros acadêmicos da faculdade. Eu gostei bastante da Poli.

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O início do curso atendeu às suas expectativas? Na faculdade você descobre que não tem muita Química na Engenharia Química. É meio que um dos desafios de quem começa na faculdade achando que vai aprender Química. Mesmo mais para frente você não vê muito de Química no curso. Que matérias você teve no primeiro semestre? Cálculo Diferencial Integral I, Álgebra Linear I, Introdução à Computação, Fundamentos das Transformações Químicas – esta tem a parte teórica e o laboratório –, Física I, Introdução à Engenharia Química e Representação Gráfica para Projeto. De qual matéria você gostou mais? Eu gostei bastante de Introdução à Computação. Gostei também bastante de Fundamentos das Transformações Químicas. Você chegou a fazer alguma atividade fora da sala de aula no primeiro semestre? No primeiro semestre eu só fiz aula de francês. Fiz num curso da FFLCH [Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas]. O que você está pensando para o futuro próximo? Eu penso que os problemas que enfrentei no primeiro semestre na Engenharia Química talvez eu enfrentasse em outro curso, porque o início não é bem um parâmetro para o resto do curso. Conversando com os veteranos, vi que o curso pode ficar bem mais interessante lá para frente. Como fica marcado para você o ano passado? Foi um ano bem legal, porque eu tinha muitos amigos no cursinho. Acho que foi uma coisa muito importante não ficar sozinho, porque o cursinho demanda muito esforço, muita energia, tempo. Se ficar sozinho todo esse tempo você não vai conseguir ter uma experiência legal. Vai ficar muito mais cansado e propenso a desistir. Os amigos não deixam o seu psicológico ser afetado tanto. É muito importante manter seu psicológico de pé. E gostei bastante da dinâmica das aulas. Os professores, além das brincadeiras e tudo mais, despertam em você o interesse pela matéria. O que fica de lição para você dessa experiência? Acho que todo mundo que faz o cursinho aprende que é muito importante ter foco no trabalho e não deixar o psicológico cair. É um período muito importante para você aprender a gerir seu tempo e aprender que quantidade não é qualidade. O que mais você quer dizer para nossos alunos? Pensem bem no que vocês querem fazer. Não pensem só no que vão aprender na faculdade, pensem na carreira que vão seguir. A faculdade dura cinco, seis anos, a carreira vai durar o resto da vida.

Jornal ETAPA, editado por Etapa Ensino e Cultura REDAÇÃO: Rua Vergueiro, 1 987 – CEP 04101-000 – Paraíso – São Paulo – SP JORNALISTA RESPONSÁVEL: Egle M. Gallian – M.T. 15343


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