Jornal do vestibulando - 1501

Page 1

1501

Jornal do Vestibulando

ENSINO, INFORMAÇÃO E CULTURA

JORNAL ETAPA  –  2015  •  DE 01/10 A 14/10

ENTREVISTA

“No ano anterior eu fiz Fuvest como treineiro, minhas notas foram ridículas.” Rafael Alves Deutner entrou em Engenharia Elétrica na Poli. Nesta entrevista, ele conta como se empenhou no cursinho para superar as dificuldades que tinha em Matemática e como seu gosto por matérias de Humanas o ajudou a aumentar sua pontuação na Fuvest.

Rafael Alves Deutner Em 2014: Etapa Em 2015: Engenharia Elétrica – Poli/USP

JV – Como foi a escolha de Engenharia Elé­ trica como carreira? Rafael – Eu fazia curso técnico em Eletrônica na Federal, o que acabou me direcionando para Engenharia Elétrica. Como você conheceu o Etapa? Todo mundo lá na Federal vem para o Etapa. Quando cheguei aqui devia ter umas 20 pessoas que eu conhecia. Qual era seu ânimo ao começar no cursinho? Comecei bem animado. Só que depois de dois ou três meses percebi que não sabia tanta coisa assim. Fiquei preocupado. Como desenvolveu seus estudos? Pegava mais Matemática, Física e Química porque poderiam ser as minhas matérias prioritárias na 2a fase, se confirmasse a escolha por Engenharia. Mas procurava estudar tudo por igual. Você estava terminando o Ensino Médio In­ tegrado na Federal. Como conciliou o último ano com o cursinho? Foi difícil porque eu tinha também de fazer um TCC – um projeto que na época eu não sabia como fazer. Hoje, olhando para trás, vejo como era fácil aquele trabalho. Na Poli a gente tem matéria de programação e o meu segundo trabalho foi mais difícil do que o TCC. Qual era a sua rotina no ano passado? Eu entrava na Federal às 7 horas, ficava até meio-dia, vinha para o Etapa, saía às 6 e 35, ENTREVISTA

Rafael Alves Deutner CONTO

Polítipo – Aluísio Azevedo

1

chegava em casa por volta das 8 horas da noite. Em casa, começava a estudar às 9 e meia, 10 horas. Ficava estudando até 11 e meia, meia-noite. Você estudava a matéria do dia? Quando consegui pegar firme eu estudava as matérias do dia e dava preferência para as minhas prioritárias. Depois fazia História e Geografia. Você estudava quanto tempo durante a se­ mana? Durante a semana eu estudava umas duas horas por dia. No final do ano a Federal ficou mais leve e em novembro já tinha entregado meu TCC. Então comecei a ficar no Etapa depois da aula. Ficava na Sala de Estudos até umas 8, às vezes 9 horas da noite. Nos fins de semana você estudava? Eu fazia o Reforço para Engenharia no sábado de manhã e depois quase sempre tinha simulado. Fiz todos os simulados. Era muito bom o simulado para ver o que eu sabia e corrigir alguns erros recorrentes. Mas eu ficava muito cansado. No domingo eu dificilmente estudava. Quando estudava, eram História e Geografia. Em vez de estudar o que eu precisava aprender, estudava o que gostava de aprender. Em que matérias você tinha uma base mais forte? Minha base era parecida em quase tudo. Base mais forte, talvez em Português, História e Geografia. Sempre tive professores bons ARTIGO Ração com erva-mate para boi melhora a qualidade da carne

Muito além da nutrição

3

4 5

Você fez o RPE. Qual é a importância da aula do Reforço? No RPE você faz só exercícios, o que é muito bom. E não era tão difícil porque tinha um professor para ajudar. Acho que era o momento em que eu mais estudava na semana. Era mais produtivo. Como você tirava dúvidas sobre os exercí­ cios da apostila? Usava bastante as resoluções de exercícios no site. Isso deu muito certo. Você disse que fez todos os simulados. Quais eram seus resultados? No início do ano ficava em C mais e C menos. Não tirei nenhum B ou A. No meio do ano minhas notas pioraram, ficava mais em C menos. Teve um simulado em que fiquei no D, ainda por cima era das matérias prioritárias. No final do ano minhas notas melhoraram. Ficava mais em C mais e comecei a tirar B em algumas matérias, como Português, Redação. Nos simulados do RPE, como ficava? Ficava também em C mais, C menos. Você treinava Redação? Fiz todas as que tinha de entregar e as dos simulados do Enem. Sabia que, dependendo de como gerenciasse meu tempo na prova do Enem e na Fuvest, eu ia ter uma hora, POIS É, POESIA

Castro Alves SERVIÇO DE VESTIBULAR

Inscrições

ENTRE PARÊNTESIS

Cavaleiros e patifes

de Matemática, mas precisava aprender muito mais coisas ainda. Em Física também.

6

7 7


2

ENTREVISTA

uma hora e meia para fazer a Redação. Tinha que dar certo. A Redação não precisa ficar maravilhosa. Você só precisa conseguir fazer um trabalho bom no tempo que vai ter. Nos simulados do RPE eu colocava metas para fazer a Redação. Como eram essas metas? Sempre dava uma estruturada na Redação antes de começar a fazer. Quando começava o simulado eu lia o tema, ficava uns 10 minutos pensando, tendo ideias e anotando tópicos. Depois separava os tópicos – “este aqui fica legal para colocar na introdução, este aqui vai ser minha tese depois, este aqui vai ser meu desenvolvimento, estes serão os meus argumentos”. Já deixava o script pronto. Aí eu fazia as questões do simulado e quando terminava todas, começava a Redação. Você leu as obras obrigatórias da Fuvest? Assistiu às palestras sobre elas? Li todas e só não vi uma das palestras. Qual foi a importância das palestras? Lendo, você consegue lembrar muito melhor a história do livro e a palestra é boa para explicar coisas que você não entendeu. Principalmente Drummond, só lendo, ninguém vai entender direito Sentimento do Mundo. Teve alguma época mais difícil para você? Acho que foi em junho e agosto. Antes e depois das férias. Foram as minhas piores notas em simulados. Acho que era devido ao cansaço, porque eu tinha que fazer muita coisa. Como foi na Revisão? Nas apostilas 4 e 5 tinha muita coisa que não consegui fazer. Na Revisão pude refazer tudo e foi muito bom para melhorar. Consegui resolver as questões mais rapidamente, para ficar mais eficiente na prova. Na 1a fase da Fuvest, quantos pontos você fez? Com bônus de escola pública fiz 78 pontos. A nota de corte foi 62. Com 16 pontos aci­ ma, você ficou satisfeito? Quando fiz a 1a fase da Fuvest, eu achei que tivesse ido mal. Estava muito difícil. Depois vi a nota do pessoal e a minha era uma das melhores. Descobri que fui melhor por causa de História e Geografia. Então, o seu interesse por História e Geo­ grafia ajudou? Bastante. As questões de Matemática, Fí­ sica e Química estavam muito difíceis na 1a fase. As de Humanas é que me salvaram. Gabaritei História e Geografia, se não me en-

gano. Errei umas cinco de Português e umas sete de Matemática e de Física. Na 2a fase, quais foram suas notas? Fui muito bem no primeiro dia, tirei 80 na Redação e fiquei com 68,75 na média. No segundo dia foi a nota 67,19. Minha pior nota foi no terceiro dia, 56,25. Teve alguma surpresa nessas notas? Fiquei muito feliz quando vi minha nota de Redação. Eu não esperava que ela fosse tão alta. No ano anterior eu fiz Fuvest como treineiro e minhas notas foram ridículas. No terceiro dia da 2a fase tirei 29. Na escala de zero a 1 000, qual foi sua pon­ tuação? 793,2. Como você ficou sabendo de sua aprovação? Estava em casa esperando sair a lista. Na primeira vez que acessei já consegui. Caramba, passei. Isso foi muito bom. Os meus pais ficaram mais felizes do que eu, chorando. Depois vim para o Etapa, encontrei meus amigos, o pessoal da Poli estava aqui também. Legal. Como foi sua primeira semana na Poli? Teve o dia da matrícula. E aí foi trote, lama, farinha, ovo, essas coisas. Fomos pegar dinheiro na rua, teve festa. Até aí já esperava. Depois de uma palestra inicial teve uma semana normal de aulas, os professores se apresentando. Não tinha matéria, era só apresentação. Depois começou a ficar uma loucura, muita coisa para aprender muito rápido. Na primeira aula de Cálculo eu devia esboçar um gráfico de função. Não consegui fazer quase nada. Você pegou DP? Peguei DP em Cálculo. Vou ter que fazer de novo. Eu sofro muito na Poli, os outros são muito bons. Dá um desânimo, você vê todas as pessoas indo bem em Cálculo, Álgebra e eu sofrendo. Por isso, digo: “É bom o pes­ soal ficar de olho em Matemática, não só para o vestibular, mas também para o início na Poli. Gente, estudem função. Vocês não sabem como a falta disso pode atrapalhar sua vida na faculdade.” Que matérias você tem neste semestre? Tenho Cálculo, Álgebra Linear, Física, Mecânica e outras matérias que são da minha ênfase. Tem uma de Laboratório de Programação Orientada. E estou fazendo umas optativas legais, uma delas é do IME, Introdução a Equações Diferenciadas. De quais matérias você gostou até agora? A que mais gostei foi Laboratório de Programação. No primeiro semestre tinha Programação, o professor ia fazendo as coisas no

Jornal do Vestibulando

computador e projetava na lousa. A gente não se mexia. Tinha que fazer em casa depois. Mas você chega em casa e não lembra como é que faz. Agora, nessa matéria, como tenho uma aula teórica e uma prática, posso fazer as coisas na hora. Se tenho dúvida, pergunto. Está funcionando muito melhor. Do que você gostou mais até agora na Poli? A parte mais legal da Poli são os grupos de extensão, de que você vai fazer parte, as pessoas que você vai conhecer. Em relação às instalações, não são as melhores. Os prédios são meio velhos, os materiais são antigos e não são suficientes. Podia ser muito melhor pelo fato de ser a melhor faculdade da América Latina. Isso se refere à Poli. E da USP, o que você destaca? Tem muita coisa na USP. Tanto que você não vai conseguir conhecer tudo direito. Tem o Cepê, em que você pode praticar qualquer esporte, tem cinema, museu, banco. O que você pode dizer a quem prestou ves­ tibular no último ano e não entrou? Tem de continuar estudando. Vai parar agora? Vai desperdiçar tudo que aprendeu só porque não passou na primeira vez? O segundo ano de cursinho fica melhor e muito mais fácil porque você já viu as coisas, o que não entendeu você vai entender direito. Como fica marcado para você o ano passado? Foi um ano muito difícil, muito cansativo, mas valeu a pena porque agora estou na faculdade. Aprendi muita coisa também, aprendi a controlar o meu tempo para fazer tudo que precisava. Um ano que precisava acontecer, precisava ser daquele jeito. Você acha que está diferente de quando veio para o cursinho? Sim. Faz muita diferença fazer cursinho. O cursinho faz você crescer. Você tem de carregar responsabilidades, estudar, se comprometer. É uma coisa que você faz para você mesmo, não é para os outros. É muito importante nesse sentido. Você quer dizer mais alguma coisa para nossos alunos? A Poli é muito puxada, você precisa querer bastante fazer o curso, ou não vai aguentar. Mas as pessoas são muito legais, mesmo os professores são muito legais apesar de cobrarem muito. Tem muita coisa para fazer além do curso. Eu faço parte da Rateria (bateria da Escola Politécnica) e é a melhor coisa que arranjei para mim. Conheço pessoas incríveis lá. Através da rateria conheci pessoas do 4o, 5o ano que me ajudam muito, me explicam muitas coisas que eu não sei do curso, das matérias.

Jornal ETAPA, editado por Etapa Ensino e Cultura REDAÇÃO: Rua Vergueiro, 1 987 – CEP 04101-000 – Paraíso – São Paulo – SP JORNALISTA RESPONSÁVEL: Egle M. Gallian – M.T. 15343


CONTO

3

Polítipo Aluísio Azevedo

S

uicidou-se anteontem o meu triste amigo Boaventura da Costa. Pobre Boaventura! Jamais o caiporismo encontrou asilo tão cômodo para as suas traiçoeiras manobras como naquele corpinho dele, arqueado e seco, cuja exiguidade física, em contraste com a rara grandeza de sua alma, muita vez me levou a pensar seriamente na injustiça dos céus e na desequilibrada desigualdade das cousas cá da terra. Não conheci ainda criatura de melhor coração, nem de pior estrela. Possuía o desgraçado os mais formosos dotes morais de que é susceptível um animal da nossa espécie, escondidos porém na mais ingrata e comprometedora figura que até hoje viram meus olhos por entre a intérmina cadeia dos tipos ridículos. O livro era excelente, mas a encadernação detestável. Imagine-se um homenzinho de cinco pés de altura sobre um de largo, com uma grande cabeça feia, quase sem testa, olhos fundos, pequenos e descabelado; nariz de feitio duvi­doso, boca sem expressão, gestos vulgares, nenhum sinal de barba, braços curtos, peito apertado e pernas arqueadas; e ter-se-á uma ideia do tipo do meu malogrado amigo. Tipo destinado a perder-se na multidão, mas que a cada instante se destacava justamente pela sua extraordinária vulgaridade; tipo sem nenhum traço individual, sem uma nota própria, mas que por isso mesmo se fazia singular e apontado; tipo cuja fisionomia ninguém conseguia reter na memória mas que todos supunham conhecer ou já ter visto em alguma parte; tipo a que homem algum, nem mesmo aqueles a quem o infeliz, levado pelos impulsos generosos de sua alma, prestava com sacrifício os mais galantes obséquios, jamais encarou sem uma instintiva e secreta ponta de desconfiança. Se em qualquer conflito, na rua, num tea­tro, no café ou no bonde, era uma senhora desacatada, ou um velho vítima de alguma violência; ou uma criança batida por alguém mais forte do que ela, Boaventura tomava logo as dores pela parte fraca, revoltava-se indignado, castigava com palavras enérgicas o culpado; mas ninguém, ninguém lhe atribuía a paternidade de ação tão generosa. Ao passo que, quando em sua presença se cometia qualquer ato desairoso, cujo autor não fosse logo descoberto, todos olhavam para ele desconfiados, e em cada rosto o pobre Boaventura percebia uma acusação tácita. E o pior é que nestas ocasiões, em que tão injustamente era tomado por outro, ficava o desgraçado por tal modo confuso e perplexo, que, em vez de protestar, começava a empalidecer, a engolir em seco, agravando cada vez mais a sua dura situação. Outro doloroso caiporismo dos seus era o de parecer-se como todo o mundo. Boaventura não tinha fisionomia própria; tinha um pouco da de toda a gente. Daí os quiproquós em que ele, apesar de tão bom e tão pacato, vivia sempre enredado. Tão depressa o toma­vam por um ator, como por um padre, ou por um barbeiro, ou por um polícia secreto; tomavam-no por tudo e por todos, menos pelo Boaventura da Costa, rapaz solteiro,

amanuense de uma repartição pública, pessoa honesta e de bons costumes. Tinha cara de tudo e não tinha cara de nada, ao certo. As circunstâncias da sua falta absoluta de barba davam-lhe ao rosto uma dúbia expressão, que tanto podia ser de homem, como de mulher, ou mesmo de criança. Era muito difícil, senão impossível, determinar-lhe a idade. Visto de certo modo, parecia um sujeito de trinta anos, mas bastava que ele mudasse de posição para que o observador mudasse também de julgamento; de perfil representava pessoa bastante idosa, mas, olhado de costas, dir-se-ia um estudante de preparatórios; contemplado de cima para baixo era quase um bonito moço, porém, de baixo para cima era simplesmente horrível. Encarando-o bem de frente, ninguém hesitaria em dar-lhe vinte e cinco anos, mas, com o rosto em três quartos, afigurava apenas dezoito. Quando saía à rua, em noites chuvosas, com a gola do sobretudo até às orelhas e o chapéu até a gola do sobretudo, passava por um velhinho octogenário; e, quando estava em casa, no verão, em fralda de camisa, a brincar com o seu gato ou com o seu cachorro, era tirar nem pôr um nhonhô de uns dez ou doze anos de idade. Um dia, entre muitos, em que a polícia, por engano, lhe invadiu os aposentos, sur­preendeu-o dormindo, muito agachadinho sob os lençóis, com a cabeça embrulhada num lenço à laia de touca, e o sargento exclamou comovido: – Uma criança! Pobrezinha! Como a deixaram aqui tão desamparada! De outra vez quando ainda a polícia quis dar caça a certas mulheres, que tiveram a fantasia de tomar trajos de homem e percorrer assim as ruas da cidade, Boaventura foi logo agarrado e só na estação conseguiu provar que não era quem supunham. Outra ocasião, indo procurar certo artista, de cujos serviços precisava, foi recebido no corredor com esta singularíssima frase: – Quê? Pois a senhora tem a coragem de voltar?... E quer ver se me engana com essas calças? Tomara-o pela pobre, a quem na véspera havia despedido de casa. Não se dava conflito de rua, em que, passando perto o Boaventura, não o tomassem imediatamente por um dos desordeiros. Era ele sempre o mais sobressaltado, o mais lívido, o mais suspeito dos circunstantes. Não conseguia atravessar um quarteirão, sem que fosse a cada passo interrompido por várias pessoas desconhecidas, que lhe davam joviais palmadas no ombro e na barriga, acompanhando-as de alegres e risonhas frases de velha e íntima amizade. Em outros casos era um credor que o perseguia, convencido de que o devedor queria escapar-lhe, fingindo não ser o próprio; ou uma mulher que o descompunha em público; ou um agente policial que lhe rondava os passos; ou um soldado que lhe cortava o caminho supondo ver nele um colega desertor. E tudo isto ia o infeliz suportando, sem nunca aliás ter em sua vida cometido a menor culpa. Uma existência impossível! Se se achava numa repartição pública, tomavam-no, infalivelmente, pelo contínuo; nas

igrejas passava sempre pelo sacristão, nos cafés, se acontecia levantar-se da mesa sem chapéu, bradava-lhe logo um consumidor, segurando-lhe o braço: – Garçom! Há meia hora que reclamo que me sirva. Se ia provar um paletó à loja do alfaiate, enquanto estivesse em mangas de camisa, era só a ele que se dirigiam as pessoas chegadas depois. Nas muitas vezes que foi preso como suposto autor de vários crimes, a autoridade afiançava sempre que ele tinha diversos retratos na polícia. Verdade era que as fotografias não se pareciam entre si, mas todas se pareciam com Boaventura. Num clube familiar, quando o infeliz, já no corredor, reclamava do porteiro o seu chapéu para retirar-se, uma senhora de nervos fortes chegou-se por detrás dele na ponta dos pés e ferrou-lhe um beliscão. – Pensas que não vi o teu escândalo com a viúva Sarmento, grandíssimo velhaco?! O mísero voltara-se inalteravelmente, sem a menor surpresa. Ah! Ele já estava mais habituado àqueles enganos. Que vida! Afinal, e nem podia deixar de ser assim, atirou-se ao mar. No necrotério, onde fui por acaso, encontrei já muita gente; e todos aflitos, e todos agoniados defronte daquele cadáver que se parecia com um parente ou com um amigo de cada um deles. Havia choro a valer e, entre o clamor geral, distinguiam-se estas e outras frases: – Meu filho morto! Meu filho morto! – Valha-me Deus! Estou viúva! Ai o meu rico homem! – Oh, senhores! Ia jurar que este cadáver é o do Manduca! – Mas não me engano! É o meu caixeiro! – Dir-se-ia que este moço era um meu antigo companheiro de bilhar!... – E eu aposto como é um velho, que tinha um botequim por debaixo da casa onde eu moro! – Qual velho, o quê! Conheço este defunto. Era estudante de medicina! Uma vez até tomamos banho juntos, no boqueirão. Lembro-me dele perfeitamente! – Estudante! Ora muito obrigado! Há mais de dois anos chamei-o fora de horas para ir ver minha mulher que tinia de cólicas! Era médico velho! – Impossível! Afianço que este era um pequeno que vendia jornais. Ia levar-me todos os dias a Gazeta à casa. É que a morte alterou-lhe as feições. – Meu pai! – O Bernardino! – Olha! Meu padrinho! – Jesus! Este é meu tio José! – Coitado do padre Rocha! Pobre Boaventura! Só eu compreendi, adivinhei, que aquele cadáver não podia ser senão o teu, ó triste Boaventura da Costa! E isso mesmo porque me pareceu reconhecer naquele defunto todo o mundo, menos tu, meu desgraçado amigo. Extraído de: Histórias divertidas.


ARTIGO

4

Ração com erva-mate para boi melhora a qualidade da carne Reinaldo José Lopes

M

isturar uma pequena quantidade de extrato de erva-mate à ração do gado de corte pode ser suficiente para produzir uma carne com mais benefícios à saúde, mais agradável ao paladar e com maior prazo de validade. O resultado vem de uma colaboração entre pesquisadores brasileiros e dinamarqueses, projeto que durou três anos e desenvolveu estratégias inovadoras para a produção de proteína animal e de pão. Apoiado pela FAPESP e pelo Innovation Fundation Denmark (antigo Danish Council for Strategic Research), o projeto Pão e Carne para o Futuro foi concluído com um workshop realizado no dia 28 de agosto de 2015 no Instituto de Química de São Carlos da Universidade de São Paulo (IQSC-USP). Além do efeito positivo do mate sobre o rebanho bovino, a equipe verificou benefícios semelhantes na alimentação do frango de corte, descobriu maneiras mais eficientes e saudáveis de produzir carne curada (como o presunto tipo parma ou a carne-seca) e estratégias para incorporar até 30% de farinha de mandioca à fabricação de pão em escala industrial. “Conseguimos reunir de forma muito interessante uma equipe multidisciplinar que nunca tinha trabalhado junta, incluindo químicos, microbiologistas, agrônomos, engenheiros de alimentos e farmacêuticos, fazendo experiências que ainda não tinham sido tentadas no Brasil”, disse Daniel Rodrigues Cardoso, professor do IQSC-USP e coordenador da iniciativa do lado brasileiro. “Hoje, se alguém quiser saber como determinada ração afeta o perfil metabólico da carne, conseguimos responder sem dificuldade a essa pergunta graças ao projeto”, disse. Além da USP e da Universidade de Copenhague, participaram do projeto a Embrapa e duas empresas, a Centroflora (fornecedora dos extratos de erva-mate) e a Novozymes (que colaborou com as enzimas usadas em diversos experimentos), além de pesquisadores de outras instituições. O investimento nacional na pesquisa ficou em cerca de R$ 1,4 milhão, com contrapartida idêntica dos financiadores dinamarqueses.

Macia e sem estresse De acordo com os pesquisadores, há uma série de indícios sobre os benefícios à saúde humana que podem estar ligados ao consumo do mate. É possível que a erva facilite o controle do peso e modere processos oxidativos e inflamatórios, por exemplo. Os efeitos do consumo do mate foram estudados em um plantel de cerca de 50 cabeças de gado, que recebiam um extrato da erva em proporções de 0,25% a 1,5% do total de sua ração. Não houve mudanças no crescimento e na quantidade de carne obtida a partir de cada

animal. Por outro lado, os pesquisadores verificaram, em primeiro lugar, que a carne se tornou mais macia e mais elogiada por consumidores, em teste sensorial cego feito com cem pessoas. “O desempenho foi melhor inclusive nos testes de força de cisalhamento [feitos por um aparelho que verifica a textura da carne]”, disse Renata Tieko Nassu, da Embrapa Pecuária Sudeste. A análise das diferentes moléculas presentes na carne mostrou ainda um aumento significativo do ácido linoleico conjugado (CLA) nos bovinos que receberam o suplemento de mate. Essa substância, explica Cardoso, tem papel anti-inflamatório e pode também auxiliar na diminuição do nível de colesterol de quem a consome. De quebra, atua como antioxidante – ou seja, reduz a formação de moléculas altamente reativas no organismo, que podem causar danos às células. Isso não só é bom para a saúde como também contribui significativamente para aumentar o tempo de prateleira da carne. Tudo indica que esse efeito benéfico é mediado pela atuação do consumo de mate sobre as bactérias do sistema digestivo dos bois, favorecendo a multiplicação de certos microrganismos. Isso, por sua vez, altera a maneira como o gado absorve nutrientes e, consequentemente, afeta a qualidade da carne. Além disso, os pesquisadores também observaram uma aparente redução do estresse e melhora no bem estar animal, o que também ajuda a melhorar a qualidade da carne. Para que a suplementação seja aplicada em larga escala nos rebanhos do país, o próximo passo é achar uma maneira mais econômica de oferecê-la aos animais, segundo explicou Rymer Ramiz Tullio, da Embrapa Pecuária Sudeste.

A questão é que, nos experimentos, foi usado um extrato feito seguindo padrões da indústria farmacêutica, o que encarece o produto. “É preciso verificar se a administração direta das folhas de erva-mate tem o mesmo efeito ou então usar o resíduo que é descartado na produção do extrato, o que também seria bem mais barato”, disse Cardoso.

Mais mandioca Ampliar o potencial de uso da mandioca na indústria panificadora mundo afora foi outro objetivo-chave do projeto. Como não há expectativa de expansão das áreas de lavoura de trigo no planeta, incluir farinha de mandioca em pães e outros produtos aumentaria a segurança alimentar de muitos países, em especial os de clima tropical. O grande desafio, conta a pesquisadora dinamarquesa Ulla Kidmose, da Universidade de Aarhus, é compensar a ausência da rede proteica de glúten que está presente na massa de pão feita exclusivamente com trigo. “Já a mandioca é praticamente só amido, com pouquíssima proteína. E é justamente o glúten do trigo que aumenta o volume do pão e dá a ele uma textura mais suave, duas coisas que, para a indústria, fazem muita diferença”, explicou. Essa dificuldade, no entanto, foi contornada graças à escolha da variedade de mandioca mais apropriada para a fabricação da farinha e ao uso de um coquetel de enzimas que modificam ligeiramente o processo de fermentação da massa. Com tais ajustes, foi possível fazer com que até um terço da farinha usada na produção do pão fosse de mandioca. Ulla afirma que a tecnologia poderia ser transferida imediatamente para a indústria,


ARTIGO sem muita dificuldade ou custo. “O problema que eu vejo por enquanto é de aceitação, ao menos no mercado europeu ou do hemisfério Norte de maneira geral, porque pouca gente por lá conhece a mandioca hoje”, disse. Apesar das diferenças de clima, cultivares e animais de criação, Dinamarca e Brasil têm

muitos interesses em comum na área da ciência de alimentos, como destacou o coordenador dinamarquês do projeto, Leif Skibsted, da Universidade de Copenhague. “Os problemas básicos que temos de enfrentar são mais ou menos os mesmos, independentemente do país”, disse Skibsted, que

5

visita a USP de São Carlos ao menos uma vez por ano desde 1998 e foi co-orientador de Daniel Cardoso durante o período em que o pesquisador brasileiro esteve na Dinamarca em seu doutorado-sanduíche. Extraído de: Agência FAPESP – Divulgando a cultura científica, set./2015.

Muito além da nutrição Karina Toledo

E

mbora não sejam digeríveis pelo organismo humano, alguns tipos de polissacarídeos encontrados em alimentos – como, por exemplo, a pectina – parecem ter a capacidade de modular o funcionamento de células do sistema imunológico. Identificar compostos com essa propriedade é o objetivo de um projeto coordenado por João Roberto Oliveira do Nascimento, professor da faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF -USP), no âmbito do Centro de Pesquisa em Alimentos (FoRC, na sigla em inglês ) – um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) apoiados pela FAPESP. “Estamos fazendo uma triagem de polissacarídeos hidrossolúveis encontrados em banana, goiaba, chuchu e algumas espécies de cogumelos. Com base na composição da molécula e em dados da literatura científica, é possível especular se ela tem potencial imunomodulador. As mais promissoras vamos purificar e testar em culturas de células do sistema imune”, contou o pesquisador. Dependendo do resultado observado in vitro e, posteriormente, in vivo, disse Nascimento, o grupo poderá pensar em extrair o composto para usá-lo como suplemento alimentar ou como ingrediente em diversas formulações. O trabalho foi apresentado durante o 1o FoRC Symposium: Advances in Food Science and Nutrition, realizado nos dias 2 e 3 de setembro na FCF -USP. O evento reuniu diversos projetos em andamento nas quatro subáreas em que o FoRC foi dividido: Sistemas Biológicos em Alimentos; Alimentos, Nutrição e Saúde; Qualidade e Segurança dos Alimentos; e Novas Tecnologias e Inovação. Ao lado de Adriana Mercadante, da faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas (FEA-Unicamp), Nascimento coordena o pilar Sistemas Biológicos em Alimentos, cujo objetivo principal é estudar a composição química de frutas, hortaliças e fungos. “A composição química tem relação direta tanto com a qualidade sensorial – cor, textura e sabor – quanto com os efeitos fisiológicos no organismo. A ideia é estudar não apenas os componentes presentes no alimento durante o cultivo como também as transformações que eles sofrem durante o envelhecimento, armazenamento e processamento”, explicou Nascimento. No projeto liderado por Mercadante, o objetivo é identificar carotenoides (pigmentos que conferem cor vermelha, alaranjada ou amarela aos alimentos) presentes em frutas da biodiversidade brasileira e descobrir se

proporcionam benefícios à saúde. A pesquisadora vem desenvolvendo novas metodologias para facilitar esse tipo de análise. Já na pesquisa coordenada por Eduardo Purgatto, da FCF -USP, estão sendo comparadas três variedades de pitanga. Embora sejam da mesma espécie – Eugenia uniflora – uma apresenta cor amarela (conferida pelo betacaroteno), a outra roxa (por causa das antocianinas) e a terceira e mais comum, vermelha (graças ao licopeno). “Os três pigmentos têm ação biológica diferente, embora sejam todos antioxidantes. A antocianina tem sido estudada por sua ação anti-inflamatória. O consumo de licopeno já foi associado em estudos anteriores à redução no risco de câncer de próstata e de pulmão. Já o betacaroteno parece ter efeito contra câncer hepático”, afirmou Purgatto.

Com o auxílio de técnicas de transcriptômica (análise de expressão de genes em larga escala) e metabolômica (que faz um amplo screening dos metabólitos produzidos pela planta), os pesquisadores tentam compreender como são reguladas as vias metabólicas relacionadas à síntese dos pigmentos. “Queremos descobrir se há influência do solo ou do clima ou se foi uma mutação natural que surgiu. Com a compreensão do que influencia o metabolismo de formação de pigmentos, podemos interferir nesse processo e melhorar atributos de qualidade na planta. E também queremos entender o que acontece com esses pigmentos quando a fruta é armazenada ou processada para a produção de suco, por exemplo”, explicou Purgatto.

Impactos na saúde Investigar como os compostos bioativos dos alimentos, particularmente os polifenóis, agem no organismo desde o nível celular e como são absorvidos e metabolizados é o foco do pilar Alimentos, Nutrição e Saúde, coordenado pelos professores Franco Lajolo e Thomas Ong, ambos da FCF-USP.

“Essencialmente, estudamos por que é importante comer fruta e verdura”, brincou Lajolo. “Há estudos epidemiológicos que associam o consumo de vegetais a um menor risco de desenvolver doenças, mas são raros os ensaios clínicos de intervenção, nos quais um alimento é dado ao paciente para verificar seu efeito na saúde e estudar os mecanismos envolvidos nessa ação biológica”, disse o pesquisador. O grupo tem estudado diversas variedades de laranja, segundo Lajolo a principal fonte de polifenóis da dieta brasileira, e também frutos regionais como jabuticaba, grumixama e uma variedade de milho-roxo desenvolvida em parceria com a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP). “Isolamos um determinado componente do alimento, damos a roedores e depois estudamos o impacto na urina, no plasma sanguíneo, nos órgãos e eventuais modificações no metabolismo. Tudo ao mesmo tempo. Também fazemos estudos de mecanismos de ação em culturas de células”, contou Lajolo. Uma vez comprovado o efeito biológico in vivo, disse o pesquisador, será possível aplicar o conhecimento de diferentes maneiras. Uma delas é selecionar variedades de plantas que produzam quantidades maiores do composto bioativo de interesse. Outra possibilidade é desenvolver processos tecnológicos para processar o alimento sem comprometer suas propriedades funcionais. Além disso, torna-se possível calcular quanto é preciso ingerir de um determinado alimento para se obter o benefício à saúde. “São todos desdobramentos na direção de uma agricultura biomédica”, afirmou Lajolo.

Mais qualidade e menos risco Assegurar a inocuidade e a qualidade microbiológica dos alimentos ao longo de toda a cadeia produtiva é um dos objetivos do terceiro pilar do CEPID, intitulado “Qualidade e Segurança dos Alimentos”, coordenado pelas professoras Mariza Landgraf e Bernadette Dora Gombossy de Melo Franco, também da FCF-USP. Um dos projetos dessa subárea está focado em vegetais orgânicos e busca bactérias patogênicas como Escherichia coli produtora de toxina Shiga (STEC) e também as do gênero Salmonella, associadas a quadros severos de diarreia. “Escolhemos orgânicos porque, normalmente, os produtores usam fezes de animais como fertilizante. Mas não encontramos STEC em nenhuma das amostras e a ocorrência de


6

ARTIGO

Salmonella foi baixa. Acreditamos que isso se deve ao fato de os agricultores adotarem o processo de compostagem, durante o qual a matéria orgânica fica fermentando durante dois ou três meses, acidificando o pH. Isso faz com que microrganismos patogênicos, se presentes, sejam eliminados”, contou Landgraf. Em outro projeto do grupo, emprega-se microbiologia preditiva e modelagem matemática para estabelecer as medidas de controle necessárias para evitar que a contaminação cruzada durante o manuseio de alimentos prontos para consumo cause danos à saúde da população. Estuda-se principalmente a bactéria Listeria monocytogenes, que pode causar meningite e encefalite e provocar aborto em pessoas de risco, e que está frequentemente presente no ambiente de produção de alimentos. Simulam-se em laboratório procedimentos usados em locais de venda desses produtos, como, por exemplo, fatiamento de frios em supermercados e padarias. “Os resultados são empregados para prever o comportamento de microrganismos nesses alimentos e verificar quais medidas de controle são mais eficientes”, contou Landgraf. “Verificamos que um fatiador contaminado com essa bactéria, que é comum em queijos, pode ser a fonte de contaminação de até 200 fatias de presunto, se a limpeza e a temperatura ambiente não forem adequadas”, acrescenta Melo Franco. Outros projetos que integram o terceiro pilar se dedicam a avaliar substâncias naturais com ação antimicrobiana que possam ser usadas como aditivos alimentares ou acrescentadas em embalagens para evitar a multiplicação de microrganismos. Alguns exemplos são o limoneno, extraído do óleo essencial de limão, e o eugenol, extraído do cravo. Os pesquisadores estudam também compostos antimicrobianos produzidos por bactérias naturalmente presentes nos alimentos, como as bacteriocinas, que podem ser ativas contra outros microrganismos indesejáveis.

Inovação Fortemente interligado aos outros três pilares, “Tecnologia e Inovação” tem a missão de desenvolver processos tecnológicos que possibilitem produzir ingredientes funcionais em larga escala e transformar o conhecimento gerado nas diversas pesquisas do CEPID em produtos. A coordenação é de Carmen Tadini, da Escola Politécnica da USP, e Paulo José Sobral, da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP. Um dos projetos em fase mais avançada, que já conta com parceria de uma empresa de Ribeirão Preto, visa a obter em escala industrial a farinha de banana verde com alto teor de amido resistente. “Desenvolvemos um protótipo de um secador híbrido que está em fase de teste e estamos determinando os melhores parâmetros para obtenção dessa farinha, que contém um tipo de amido que não é digerido no intestino delgado, somente no intestino grosso e, portanto, não é convertido rapidamente em açúcar”, disse Tadini. Estudos coordenados pela pesquisadora Elizabete Wenzel de Menezes, da FCF -USP, mostraram que a farinha de banana verde promove a saciedade, melhora a mobilidade intestinal e favorece o crescimento de bactérias intestinais benéficas à saúde. “Usamos a farinha de banana verde na produção de barrinhas de cereais, sopas e outras formulações e observamos que ela impede que o alimento cause um pico glicêmico no organismo, um dos fatores que podem favorecer o desenvolvimento de doenças como diabetes”, disse Tadini. De acordo com Sobral, há ainda uma linha voltada ao desenvolvimento de embalagens bioativas, feitas à base de substâncias naturais como gelatinas e polissacarídeos, que aumentam o tempo de prateleira do alimento e reduzem o risco de contaminação. “O grande desafio é tornar a embalagem viável economicamente, pois ela não será como o plástico, que serve para qualquer

alimento. Será uma embalagem específica para cada produto, com a vantagem de ser biodegradável. E sabemos que há demanda”, disse o pesquisador.

Desafios Durante a abertura do simpósio, o diretor científico da FAPESP, Carlos Henrique de Brito Cruz, disse que a instituição espera que as pesquisas desenvolvidas no âmbito dos CEPIDs tenham grande impacto científico, econômico e social. “Nossa expectativa é que os pesquisadores desenvolvam conexões com a indústria e com os setores governamentais relacionados com alimentos. É preciso boa articulação entre os quatro pilares deste CEPID para que seja possível somar resultados”, disse Brito Cruz. De acordo com Melo Franco, coordenadora do FoRC, fazer a transferência do conhecimento gerado nas pesquisas para a sociedade, e principalmente para a indústria de alimentos, é o maior desafio do grupo. “No Brasil, temos poucas empresas na área de alimentos com fôlego para investir em pesquisa, desenvolvimento e inovação. As grandes multinacionais trazem produtos desenvolvidos em centros de pesquisa localizados em seus países de origem. As empresas brasileiras têm margem de lucro apertada. Mas já temos algumas negociações promissoras em andamento”, disse Melo Franco. O evento ainda contou com a participação de membros do Conselho Consultivo Internacional do FoRC, que apresentaram as pesquisas realizadas em suas instituições de origem. Entre eles estavam Didier Attaix (Center for Food Safety and Security Systems), K. P. Sandeep (North Carolina State University), Paul Kroon (Institute for Food Research), Donald Schaffner (Rutger University) e Robert Buchanan (Center for Food Safety and Security Systems da University of Maryland). Extraído de: Agência FAPESP – Divulgando a cultura científica, set./2015.

(ENTRE PARÊNTESIS)

Cavaleiros e patifes Em uma ilha, todos os habitantes são necessariamente cavaleiros ou patifes. Cavaleiros sempre dizem a verdade e patifes sempre mentem. 1. Suponha que você deparou com duas pessoas, A e B, uma das quais é um cavaleiro e outra um patife, não necessariamente nessa ordem. A faz a seguinte declaração: “Pelo menos um de nós é um cavaleiro”. O que são A e B? 2. Agora suponha que você encontrou três pessoas, C, D e E e que a classificação “mesmo tipo” é usada para duas pessoas que são ambos cavaleiros ou ambos patifes. C faz a seguinte declaração: “D é um patife”. Em seguida, D faz a seguinte declaração “C e E são do mesmo tipo”. O que é E?

RESPOSTA 1. Como sabemos de antemão que uma das pessoas é um cavaleiro e outra um patife, a declaração de A é verdadeira. A portanto é um cavaleiro e B um patife. Se A fosse um patife, não poderia proferir uma sentença verdadeira.

2. E é necessariamente um patife. Supondo que C seja um cavaleiro, temos que D é um patife e sua declaração é falsa. Assim, C e E não são do mesmo tipo. Como havíamos suposto que C fosse um cavaleiro, nesse caso E seria um patife.

Agora, supondo que C seja um patife, temos que sua declaração é falsa e portanto D é um cavaleiro. Assim, a afirmação de D seria verdadeira: C e E são do mesmo tipo, e E também seria um patife nesse caso.


POIS É, POESIA

7

Castro Alves (1847-1871) Dalila Fair defect of nature.

Milton (Paradise Lost)

Foi desgraça, meu Deus!... Não!... Foi

[loucura Pedir seiba de vida – à sepultura, Em gelo – me abrasar, Pedir amores – a Marco sem brio, E a rebolcar-me em leito imundo e brio – A ventura buscar. Errado viajor – sentei-me à alfombra E adormeci da mancenilha à sombra Em berço de cetim... Embalava-me a brisa no meu leito... Tinha o veneno a lacerar-me o peito – A morte dentro em mim... Foi loucura!... No ocaso – tomba o astro; A estátua branca e pura de alabastro – Se mancha em lodo vil... Quem rouba a estrela – à tumba do [ocidente? Que Jordão lava na lustral corrente O marmóreo perfil?...

*** Talvez!... Foi sonho!... Em noite nevoenta Ela passou sozinha, macilenta, Tremendo a soluçar... Chorava – nenhum eco respondia... Sorria – a tempestade além bramia... E ela sempre a marchar.

E eu disse-lhe: Tens frio? – arde minha alma. Tens os pés a sangrar? – podes em calma Dormir no peito meu. Pomba errante – é meu peito um ninho [vago! Estrela – tens minha alma – imenso lago – Reflete o rosto teu!...

Minha alma nodoou no ósculo imundo, Bem como Satanás – beijando o mundo – Manchou a criação, Simum – crestou-me da esperança as [flores... Tormenta – ela afogou nos seus negrores A luz da inspiração...

E amamos – Este amor foi um delírio... Foi ela minha crença, foi meu lírio, Minha estrela sem véu... Seu nome era o meu canto de poesia, Que com o sol – pena de ouro – eu escrevia Nas lâminas do céu.

Vai, Dalila!... É bem longa tua estrada... É suave a descida – terminada Em báratro cruel. Tua vida – é um banho de ambrosia... Mais tarde a morte e a lâmpada sombria Pendente do bordel.

Em seu seio escondi-me... como à noite Incauto colibri, temendo o açoite Das iras do tufão, A cabecinha esconde sob as asas, Faz seu leito gentil por entre as gazas Da rosa do Japão.

Hoje flores... A música soando... As perlas do Champagne gotejando Em taças de cristal. A volúpia a escaldar na louca insônia... Mas sufoca os festins de Babilônia A legenda fatal.

E depois... embalei-a com meus cantos Seu passado esqueci... lavei com prantos Seu lodo e maldição... ... Mas um dia acordei... E mal desperto Olhei em torno a mim... – Tudo deserto... Deserto o coração...

Tens o seio de fogo e a alma fria. O cetro empunhas lúbrico da orgia Em que reinas tu só!... Mas que finda o ranger de uma mortalha, A enxada do coveiro que trabalha A revolver o pó.

Ao vento, que gemia pelas franças Por ela perguntei... de suas tranças À flor que ela deixou... Debalde... Seu lugar era vazio... E meu lábio queimado e o peito frio, Foi ela que o queimou...

Não te maldigo, não!... Em vasto campo Julguei-te – estrela, – e eras – pirilampo Em meio à cerração... Prometeu – quis dar luz à fria argila... Não pude... Pede a Deus, louca Dalila, A luz da redenção!!... Recife, 1864.

Extraído de: “Espumas flutuantes”. In: Obras completas. Nova Aguilar, 1976.

SERVIÇO DE VESTIBULAR Escola Superior de Engenharia e Gestão (Eseg)

Centro Universitário de Araraquara (Uniara)

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG)

Período de inscrição: até 04 de novembro de 2015. Somente via internet. Endereço da faculdade: rua Vergueiro, 1 951 – Vila Mariana – São Paulo – SP – CEP: 04101-000 – Telefone: 0800-723-23-33. Requisito: taxa de R$ 45,00. Cursos e vagas: consultar site www.eseg.edu.br Exame: dia 07 de novembro de 2015.

Período de inscrição: até 09 de outubro de 2015. Somente via internet. Endereço da faculdade: rua Voluntários da Pátria, 1 309 – Centro – Araraquara – SP – CEP: 14801-320 – Telefone: (16) 3301-7100. Requisito: taxa de R$ 25,00. Cursos e vagas: consultar site www.uniara.com.br/vestibular/ Exame: dia 17 de outubro de 2015.

Período de inscrição: até 06 de outubro de 2015. Somente via internet. Endereço da faculdade: av. Dom José Gaspar, 500 – Coração Eucarístico – Belo Horizonte – MG – CEP: 30535-901 – Telefone: (31) 3319-4444. Requisito: taxa de R$ 105,00. Cursos e vagas: consultar site www.pucminas.br Exame: dia 18 de outubro de 2015.


8

SERVIÇO DE VESTIBULAR Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Período de inscrição: até 13 de outubro de 2015. Somente via internet. Endereço da fa­ cul­dade: av. Paulo Gama, 110 – Farropilhas – Porto Alegre – RS – CEP: 90040-060 – Telefone: (51) 3308-6000. Requisito: taxa de R$ 110,00. Cursos e vagas: consultar site www.vestibular.ufrgs.br Exames: dias 10, 11, 12 e 13 de janeiro de 2016. Leituras obrigatórias: • A noite das mulheres cantoras – Lídia Jorge. • As Parceiras – Lya Luft. • Boca de ouro – Nelson Rodrigues. • Dom Casmurro – Machado de Assis. • Fernando Pessoa __ Autopsicografia; __ Ela canta, pobre ceifeira; __ Isto; __ Lá fora vai um redemoinho de sol os cavalos do carrossel... (poema V de Chuva oblíqua); __ Liberdade; __ Mar português (mensagem); __ Nevoeiro (mensagem); __ Noite (mensagem); __ Não sei quantas almas tenho; __ Não sei se é sonho, se realidade; __ Natal... Na província neva; __ O infante (mensagem); __ O maestro sacode a batuta (poema VI de Chuva oblíqua); __ Padrão (mensagem); __ Pobre velha música; __ Viajar! Perder países! • Murilo Rubião Contos: __ A cidade; __ A flor de vidro; __ Bárbara; __ O convidado; __ O edifício; __ O ex-mágico da Taberna Minhota; __ Ofélia, meu cachimbo e o mar; __ O homem do boné cinzento; __ O lodo; __ O pirotécnico Zacarias; __ Os dragões; __ Teleco, o coelhinho. • O amor de Pedro – João Tabajara Ruas. • O cortiço – Aluísio Azevedo. • Padre Antônio Vieira __ Sermão da sexagésima; __ Sermão de Santo António aos peixes; __ Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda. • Dançar tango em Porto Alegre – Sergio Faraco Lista de contos do livro: __ A dama do bar Nevada; __ A língua do cão chinês; __ Café Paris; __ Conto do inverno; __ Dançar tango em Porto Alegre; __ Dois guaxos; __ Guapear com frangos; __ Guerras Greco-Pérsicas;

__ Idolatria; __ Majestic

Hotel; __ Não chore, papai; __ Noite de matar um homem; __ No tempo do trio Los Panchos; __ Outro brinde para Alice; __ O voo da garça-pequena; __ Sesmarias do urutau mugidor; __ Travessia; __ Um aceno na garoa. • Terras do sem fim – Jorge Amado. • Tropicalia ou panis et circensis (álbum/ disco) – Caetano Veloso, Gilberto Gil, Mutantes e outros.

Universidade Estadual do Norte do Paraná (Uenp) Período de inscrição: até 26 de outubro de 2015. Somente via internet. Endereço da facul­ dade: av. Getúlio Vargas, 850 – Jacarezinho – PR – CEP: 86400-000 – Telefone: (43) 3525-3589. Requisito: taxa de R$ 120,00. Cursos e vagas: consultar site vestibular.uenp.edu.br Exames: dias 13 e 14 de dezembro de 2015.

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

• O cortiço – Aluísio Azevedo. • O santo e a porca – Ariano Suassuna.

Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Período de inscrição: até 08 de outubro de 2015. Somente via internet. Endereço da faculdade: rua São Francisco Xavier, 524, Pavilhão João Lyra Filho, 1o andar, bloco F, sala 1148 – Maracanã – Rio de Janeiro – RJ – CEP 20550-013 – Telefone: (21) 2334-0239 Requisito: taxa de R$ 117,00. Cursos e vagas: consultar site www.vestibular.uerj.br Exame: dia 29 de novembro de 2015.

Universidade Regional do Cariri (Urca) Período de inscrição: até 20 de outubro de 2015. Somente via internet. Endereço da faculdade: rua Coronel Antônio Luiz, 1 161 – Pimenta – Crato – CE – CEP: 63100-000 – Telefone: (88) 3102-1212. Requisito: taxa de R$ 120,00. Cursos e vagas: consultar site cev.urca.br/vestibular Exames: dias 12 e 13 de dezembro de 2015. Leituras obrigatórias: • As odes de Ricardo Reis – Fernando Pessoa. • Aves de arribação – Antônio Sales. • Contos negreiros – Marcelino Freire. • Faca – Ronaldo Correia de Brito. • O silêncio laminado do casulo – Cleílson Pereira Ribeiro. • Para viver um grande amor – Vinicius de Moraes.

Período de inscrição: até 14 de outubro de 2015. Somente via internet. Endereço da facul­ dade: campus Reitor João David Ferreira Lima, s/no – Trindade – Florianópolis – SC – CEP: 88040-900 – Telefone: (48) 3721-9000. Requisito: taxa de R$ 105,00. Cursos e vagas: consultar site www.vestibular2016.ufsc.br Exames: dias 12, 13 e 14 de dezembro de 2015. Leituras obrigatórias: • A hora da estrela – Clarice Lispector. • Além do ponto e outros elementos – Caio Fernando Abreu. • A majestade do Xingu – Moacyr Scliar. • O cortiço – Aluísio Azevedo. • O fantástico na ilha de Santa Catarina – Franklin Cascaes. • O santo e a porca – Ariano Suassuna. • Poesia marginal – Vários autores. • Várias histórias – Machado de Assis.

Período de inscrição: até 04 de outubro de 2015. Somente via internet. Endereço da faculdade: av. Dr. Silas Munguba, 1 700 – Campus do Itaperi – Fortaleza – CE – CEP: 60714-903 – Telefone: (85) 3101-9600. Requisito: taxa de R$ 120,00. Cursos e vagas: consultar site www.uece.br/cev Exames: • 1a fase – dia 15 de novembro de 2015. • 2a fase – dias 06 e 07 de dezembro de 2015.

Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc)

Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb)

Período de inscrição: até 08 de outubro de 2015. Somente via internet. Endereço da faculdade: av. Madre Benvenuta, 2 007 – Itacorubi – Florianópolis – SC – CEP: 88035-001 – Telefone: (48) 3321-8000. Requisito: taxa de R$ 90,00. Cursos e vagas: consultar site www.vestibular.udesc.br/ Exame: dia 15 de novembro de 2015. Leituras obrigatórias: • Além do ponto e outros contos – Caio Fernando Abreu. • A majestade do Xingu – Moacyr Scliar. • Melhores contos – Salim Miguel.

Período de inscrição: até 05 de outubro de 2015. Somente via internet. Endereço da faculdade: estrada do Bem-Querer, km 4 – Campus Universitário – Vitória da Conquista – BA – CEP: 45083-900 – Telefone: (77) 3424-8757/8607. Requisito: taxa de R$ 85,00. Cursos e vagas: consultar site www2.uesb.br/vestibular/ Exames: dias 13, 14 e 15 de dezembro de 2015. Leituras obrigatórias: • Eu e as outras poesias – Augusto dos Anjos. • O santo e a porca – Ariano Suassuna. • Sermão da Sexagésima – Padre Antônio Vieira.

Universidade Estadual do Ceará (Uece)


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.