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Jornal do Vestibulando
ENSINO, INFORMAÇÃO E CULTURA
JORNAL ETAPA – 2016 • DE 07/04 A 20/04
ENTREVISTA
Depois do cursinho, a nota da primeira fase subiu 22 pontos! Bruno Gazotti Vallim Acosta quer estudar Medicina para dedicar-se à área de pesquisa, sem excluir a parte clínica, por valorizar o contato com as pessoas. Aqui ele conta como se preparou no cursinho e como superou dificuldades nas matérias, principalmente em Matemática, conseguindo entrar na Medicina Pinheiros em 11o lugar.
Bruno Gazotti Vallim Acosta Em 2015: Etapa Em 2016: Medicina – USP
JV – Quando e por que você decidiu estudar
Como você fazia nas aulas?
Medicina? Bruno – Optei por Medicina no ano passado.
Eu tentava acompanhar o professor. Pegava os exercícios e ia resolvendo durante a explicação.
No início do cursinho eu ainda estava em dúvida sobre o que fazer. Eu fiz o curso técnico em Informática e pendia para Engenharia ou Ciências da Computação. Até entrei aqui na turma de Exatas. Mas logo parei para pensar. Sempre gostei muito de ajudar as pessoas e Biologia e Química são matérias que eu gostava muito de estudar por conta. Percebi que tinha vocação para Medicina, uma carreira em que eu vejo muitas oportunidades.
Além da Fuvest, você prestou quais vestibulares? Prestei Unesp, Unifesp, Unicamp e Enem. Com a nota do Enem fui aprovado na UFSCar. Medicina também.
Ao começar no cursinho você estava confiante em suas possibilidades de aprovação nos vestibulares? Eu me sentia despreparado, mas confiava que, fazendo o cursinho, ia passar.
Como era seu método de estudo? Assistia às aulas de manhã e depois ia para casa. Entrava no meu quarto, fechava a porta, abria a apostila e exercício, exercício, exercício. Achava importante estudar bem. Procurava prestar o máximo de atenção nas aulas para entender bem o que os professores falavam e em casa eu focava praticamente só na resolução de exercícios.
Bruno Gazotti Vallim Acosta CONTO
O poço – Mário de Andrade SOBRE AS PALAVRAS
Lágrimas de crocodilo
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Vi todas as palestras sobre as obras da Fuvest.
Você estudava no fim de semana?
Qual é a importância das palestras?
No fim de semana só fazia o que não tinha conseguido acabar durante a semana. Procurava ficar o mais relaxado possível para o estudo render mais. Quando não tinha simulado eu ficava jogando ou saía com o pessoal.
Achei importante assistir às palestras porque eram bem completas, os professores davam elementos do enredo, da estrutura, falavam um pouco sobre o autor e as características da época, do estilo do livro. Era bastante informação. É muito legal porque você consegue ver a obra por uma perspectiva diferente.
Você tinha dificuldade em alguma matéria? Tinha mais dificuldade em Matemática. Às vezes deixava de resolver exercícios de outras matérias para fazer mais exercícios de Matemática. Eu sabia que precisava melhorar.
Como você resolvia dúvidas sobre resolução de questões? Costumava perguntar para alguns amigos que estavam no cursinho no intervalo das aulas ou, estando em casa, mandava mensagem. Procurava também a resolução no site do Etapa.
Você treinava Redação? Eu fazia quase todas as redações que os professores sugeriam. Nas que eram corrigidas eu via que meu desempenho era mais ou menos, não era tão bom.
O que era esse desempenho “mais ou menos”? Eram notas como 7, 7,5. Sabia que não eram legais para o curso que eu estava tentando. Uma coisa que me deixou preocupado foi que comecei tirando 8. Depois minha nota caiu.
ARTIGO
ENTREVISTA
Você assistiu às palestras sobre as obras indicadas como obrigatórias?
Ora pois, uma língua bem brasileira
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ENTRE PARÊNTESIS
O caracol teimoso
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Nos simulados, que resultados você alcançava? Nos simulados eu estava tirando notas boas. Na maioria era A. Às vezes B e C mais. As notas menores costumavam ser nos simulados do Enem.
Para você, qual foi a importância dos simulados? Os simulados são importantes não só como termômetro, instrumento de avaliação de como a coisa está indo, mas também para pegar o jeito das provas, ficar bem preparado, saber administrar o tempo quando chegar o dia. Algumas vezes, durante o ano, tive a impressão de que os simulados eram mais fáceis que a prova de verdade. Quando chegaram as provas dos vestibulares, falei: “Não, são realmente desse nível”. Posso garantir que os simulados são muito fortes, dão uma boa noção do que é o exame para valer.
Teve alguma época mais pesada para você? Na Revisão, com certeza. Eu estudava basicamente com exercícios e tinha muito mais
VOCÊ SABIA QUE...
As grandes navegações SERVIÇO DE VESTIBULAR
Inscrições
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ENTREVISTA
exercícios para resolver. Mesmo assim eu tentava não me exceder muito. Quando ficava cansado, dava uma parada, ia fazer alguma coisa. Depois retomava, às vezes.
O que você fazia nessa parada para dar um descanso? Eu conversava com os amigos. De vez em quando até saía, ia tomar um café.
Você tinha outras atividades para relaxar?
estava mais bem preparado. Quando saí da prova até passei mal. Tive que ir até para o hospital.
No terceiro dia, qual foi o resultado? Fui muito bem nas prioritárias. Quase gabaritei a prova, tirei 97,92. Foi uma surpresa bem grande. No início da prova fui folheando a prova e, nossa, vi que não tinha nenhuma questão que eu não conseguiria resolver. Fiquei bem feliz, terminei a prova no tempo mínimo, fui embora festejando.
Gostava bastante de jogar videogame. Fazia aula de piano uma vez por semana e também tocava violão. Uma coisa para relaxar mesmo, tirar a cabeça dos estudos.
Na escala de zero a 1 000, qual foi sua pontuação na Fuvest?
No final do primeiro semestre você estava em dia com a matéria?
Fiquei em 11o na carreira. Entre 765 candidatos que fizeram a 2a fase.
Na maior parte. Em algumas coisas eu estava um pouco atrás, especialmente em Matemática.
O que você fez nas férias? Larguei tudo. No último dia de aula, falei: “Vou descansar.“ Eu sabia que quando voltasse ia ser aquele ritmo de antes e, se eu não descansasse direito durante as férias, acho que não ia ter pique para terminar o ano.
Você prestou vários vestibulares. Qual era sua primeira opção? Quando optei por Medicina eu estava pendendo um pouco para a Unicamp.
Qual a razão? Não tinha uma razão específica. Alguns amigos da minha mãe dão aula lá e falavam bem da universidade. Só que seria bem difícil, teria que me mudar e teria muitos gastos. Acabei mudando minha opção para a USP. a
Na 1 fase da Fuvest, qual foi sua pontuação? Acertei 78 questões das 90. Com bônus minha pontuação subiu para 88. Na maioria dos simulados eu tirava entre 76 e 78. Foi o que me convenceu de que os simulados são bem importantes.
No ano anterior você tinha feito quantos pontos? 56 pontos.
Como foi seu estudo para a 2a fase? Depois da 1a fase, acabei focando bem nos exercícios escritos, porque sabia que era o que ia contar daí em diante.
Você focou mais em alguma parte? Continuei focando em Matemática porque, mesmo não sendo uma das prioritárias para Medicina, era a matéria em que eu ia ter mais dificuldade. Foquei em Literatura também. Dei mais uma olhada nos livros obrigatórios e revi as palestras.
Como você foi no primeiro dia da 2a fase, na prova de Português e Redação? No primeiro dia eu tirei 69,5. Na Redação tirei 74, uma boa nota.
Na prova geral, do segundo dia, qual foi a nota? No segundo dia tirei 70, nota que me deixou um pouco preocupado. Não sei se fiquei nervoso na hora e não consegui responder algumas questões de Matemática. Tinha poucas questões de Biologia e de Química, as matérias em que eu
908 pontos.
E qual a sua classificação na carreira?
Nos outros vestibulares, como você foi? Tive notas boas também, especialmente na 1a fase da Vunesp: 81 acertos em 90. Fiquei com o 1o lugar entre o pessoal das cotas. Dava para passar mesmo sem as cotas. Na Unifesp, entre o pessoal das cotas, fiquei em 9o. Na Unicamp fui o 30o colocado.
Como ficou sabendo de sua aprovação na Fuvest? Vim ao Etapa para a festa dos aprovados. Na verdade, enquanto estava esperando a lista um amigo meu, veterano da Pinheiros, veio me buscar e já disse: “Já vi seu nome na lista”. Mesmo assim foi muito legal ver o nome na lista e poder falar que todo estudo valeu a pena. Aí teve aquela coisa, jogaram tinta na gente e comecei a comemorar com o pessoal que estava comigo.
Como foi a matrícula na Pinheiros? Fui lá sozinho e acabei encontrando meu amigo veterano. Fui recebido por vários veteranos, que já foram tentando recrutar a gente para várias extensões.
Que matérias você tem neste semestre? Até agora eu tive Introdução à Medicina e Saúde, que é uma disciplina em que eles falam um pouco sobre o curso, apresentando a faculdade, as ferramentas que a gente tem à disposição. Falam bastante sobre buscar conhecimento em periódicos, as bases melhores para pesquisa científica. Agora estou tendo Fundamentos da Ciência Médica, que são as aulas de Bioquímica, Biofísica, Fisiologia das Membranas, Estudo de Proteínas.
Uma matéria que se subdivide em várias? Sim. Com a reestruturação eles estão dividindo a grade em unidades curriculares. A gente está tendo aula em blocos. Teve esse bloco introdutório. É uma disciplina bem abrangente, aborda vários tópicos. No primeiro semestre são três ou quatro blocos. Tem discussão integrada de casos clínicos também. Mas isso é mais no final do semestre. E tem avaliação trimestral. É uma prova especial. Ela não está vinculada a nenhuma das outras disciplinas. É uma disciplina própria, só para a prova. É uma avaliação que segue modelos de provas internacionais. Começou a valer no ano passado.
Você está participando de alguma atividade fora das aulas? Pretendo participar da EMA, a Extensão Médica Acadêmica, que faz atendimento de saúde
em regiões carentes. Também tem o Remusp, o Recital dos Estudantes de Medicina da USP, que é música de instrumentos. Começou com um grupo de música clássica, depois abriram para entrar mais gente e hoje eles tocam tudo. Já fui a alguns ensaios. Também estou querendo entrar para o MedEnsina, que é o cursinho do pessoal da faculdade. Os alunos dão aula e fazem o plantão de dúvidas [o material do MedEnsina é cedido pelo Etapa].
Do que você viu até agora, do que mais gostou? A gente tem várias aulas sobre humanização do tratamento médico, que é uma coisa que eu acho muito importante. Nas primeiras semanas teve palestras muito legais, explicando o sistema de saúde brasileiro em toda sua complexidade, falando do SUS, dos hospitais particulares, como a coisa toda se encaixa. A gente teve palestras sobre pesquisas científicas, eu gostei bastante porque pretendo ir para essa área.
Você já tem ideia da área que pretende seguir na Medicina? Eu ainda não sei no que pretendo trabalhar de verdade, o que pretendo pesquisar. Também não tenho intenção de deixar a clínica de lado porque aí tem toda a parte de contato com paciente, que eu acho uma coisa muito legal.
A parte de relacionamento no curso, como é? Os professores são bem legais. Tanto os da Faculdade de Medicina quanto os das outras unidades da USP costumam ser bem prestativos. Se você tem alguma dúvida é só ir lá conversar, eles explicam.
Que dicas você dá para o pessoal que está se preparando este ano, para aproveitar o melhor possível o estudo no Etapa? Primeiro de tudo, acho muito importante que a pessoa se conheça e saiba o quanto aguenta. Saber o que está funcionando e o que não está funcionando para ela. Cada um tem facilidade de aprender de um jeito. Você tem que estudar do melhor jeito para você.
O que você pode dizer a quem prestou no ano passado, ficou por pouco e vai prestar de novo? O melhor que eu posso falar é: não desista. Tem que saber que todo esse esforço vai valer a pena. A Pinheiros, por exemplo, é uma faculdade muito legal em termos humanos, os professores, os próprios alunos. E, também, antes de ser um aluno da Pinheiros, sou aluno da USP. Você vai ter contato com muita gente, de vários cursos. Muito legal isso.
O que você tira de lição de sua experiência aqui? O cursinho me ensinou a ser responsável e me sinto mais maduro mesmo. Você tem que saber muito bem o que está fazendo e que todas as ações têm consequências. Por mais que todo mundo esteja te ajudando, todo mundo trabalhando, vai ficar todo mundo feliz em ver sua aprovação, no fundo essa luta é sua. É de cada aluno, cada pessoa. Então, se dedique, dê o melhor de si, que com certeza vai dar tudo certo.
CONTO
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O poço Mário de Andrade
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li pelas onze horas da manhã o velho Joaquim Prestes chegou no pesqueiro. Embora fizesse força em se mostrar amável por causa da visita convidada para a pescaria, vinha mal-humorado daquelas cinco léguas de fordinho cabritando na estrada péssima. Aliás o fazendeiro era de pouco riso mesmo, já endurecido por setenta e cinco anos que o mumificavam naquele esqueleto agudo e taciturno. O fato é que estourara na lona a mania dos fazendeiros ricos adquirirem terrenos na barranca do Moji pra pesqueiros de estimação. Joaquim Prestes fora dos que inventaram a moda, como sempre: homem cioso de suas iniciativas, meio cultivando uma vaidade de família – gente escoteira por aqueles campos altos, desbravadora de terras. Agora Joaquim Prestes desbravava pesqueiros na barranca fácil do Moji. Não tivera que construir a riqueza com a mão, dono de fazendas desde o nascer, reconhecido como chefe, novo ainda. Bem rico, viajado, meio sem quefazer, desbravava outros matos. Fora o introdutor do automóvel naquelas estradas, e se o município agora se orgulhava de ser um dos maiores produtores de mel, o devia ao velho Joaquim Prestes, primeiro a se lembrar de criar abelhas ali. Falando o alemão (uma das suas “iniciativas” goradas na zona) tinha uma verdadeira biblioteca sobre abelhas. Joaquim Prestes era assim. Caprichosíssimo, mais cioso de mando que de justiça, tinha a idolatria da autoridade. Pra comprar o seu primeiro carro fora à Europa, naqueles tempos em que os automóveis eram mais europeus que americanos. Viera uma “autoridade” no assunto. E o mesmo com as abelhas de que sabia tudo. Um tempo até lhe dera de reeducar as abelhas nacionais, essas “porcas” que misturavam o mel com a samora. Gastou anos e dinheiro bom nisso, inventou ninhos artificiais, cruzou as raças, até fez vir umas abelhas amazônicas. Mas se mandava nos homens e todos obedeciam, se viu obrigado a obedecer às abelhas que não se educaram um isto. E agora que ninguém falasse perto dele numa inocente jataí, Joaquim Prestes xingava. Tempo de florada no cafezal ou nas fruteiras do pomar maravilhoso, nunca mais foi feliz. Lhe amargavam penosamente aquelas mandassaias, mandaguaris, bijuís que vinham lhe roubar o mel da Apis mellifica. E tudo o que Joaquim Prestes fazia, fazia bem. Automóveis tinha três. Aquela marmon de luxo pra o levar da fazenda à cidade, em compras e visitas. Mas como fosse um bocado estreita para que coubessem à vontade, na frente, ele choferando e a mulher que era gorda (a mulher não podia ir atrás com o mecânico, nem este na frente e ela atrás) mandou fazer uma rolls-royce de encomenda, com dois assentos na frente que pareciam poltronas de hol, mais de cem contos. E agora, por causa do pesqueiro e da estrada nova, comprara o fordinho cabritante, todo dia quebrava alguma peça, que o deixava de mau humor. Que outro fazendeiro se lembrara mais disso! Pois o velho Joaquim Prestes dera pra cons-
truir no pesqueiro uma casa de verdade, de tijolo e telha, embora não imaginasse passar mais que o claro do dia ali, de medo da maleita. Mas podia querer descansar. E era quase uma casa-grande se erguendo, quarto do patrão, quarto pra algum convidado, a sala vasta, o terraço telado, tela por toda a parte pra evitar pernilongos. Só desistiu da água encanada porque ficava um dinheirão. Mas a casinha, por detrás do bangalô, até era luxo, toda de madeira aplainada, pintadinha de verde pra confundir com os mamoeiros, os porcos de raça por baixo (isso de fossa nunca!) e o vaso de esmalte e tampa. Numa parte destocada do terreno, já pastavam no capim novo quatro vacas e o marido, na espera de que alguém quisesse beber um leitezinho caracu. E agora que a casa estava quase pronta, sua horta folhuda e uns girassóis na frente, Joaquim Prestes não se contentara mais com a água da geladeira, trazida sempre no forde em dois termos gordos, mandara abrir um poço. Quem abria era gente da fazenda mesmo, desses camaradas que entendem um pouco de tudo. Joaquim Prestes era assim. Tinha dez chapéus estrangeiros, até um panamá de conto de réis, mas as meias, só usava meias feitas pela mulher, “pra economizar”, afirmava. Afora aqueles quatro operários ali, que cavavam o poço, havia mais dois que lá estavam trabucando no acabamento da casa; as marteladas monótonas chegavam até a fogueira. E todos muito descontentes, rapazes de zona rica e bem servida de progresso, jogados ali na ceva da maleita. Obedeceram, mandados, mas corroídos de irritação. Só quem estava maginando que enfim se arranjara na vida era o vigia, esse caipira da gema, bagre sorna dos alagados do rio, maleiteiro eterno a viola e rapadura, mais a mulher e cinco famílias enfezadas. Esse agora, se quisesse tinha leite, tinha ovos de legornes finas e horta de semente. Mas lhe bastava imaginar que tinha. Continuava feijão com farinha, e a carne-seca do domingo. Batera um frio terrível esse fim de julho, bem diferente dos invernos daquela zona paulista, sempre bem secos nos dias claros e solares, e as noites de uma nitidez sublime, perfeitas pra quem pode dormir no quente. Mas aquele ano umas chuvas diluviais alagavam tudo, o couro das carteiras embolorava no bolso e o café apodrecia no chão. No pesqueiro o frio se tornara feroz, lavado daquela umidade maligna que, além de peixe, era só o que o rio sabia dar. Joaquim Prestes e a visita foram se chegando pra fogueira dos camaradas, que logo levantaram, machucando chapéu na mão, bom dia, bom dia. Joaquim tirou o relógio do bolso, com muita calma, examinou bem que horas eram. Sem censura aparente, perguntou aos camaradas si ainda não tinham ido trabalhar. Os camaradas responderam que já tinham sim, mas que com aquele tempo quem aguentava permanecer dentro do poço continuando a perfuração! Tinham ido fazer outra coisa, dando uma mão no acabamento da casa.
– Não trouxe vocês aqui pra fazer casa. Mas que agora estavam terminando o café do meio-dia. Espaçavam as frases, desapon tados, principiando a não saber nem como ficar de pé. Havia silêncios desagradáveis. Mas o velho Joaquim Prestes impassível, esperando mais explicações, sem dar sinal de compreen der nem de desculpar ninguém. Tinha um era o mais calmo, mulato desempenado, fortíssimo bem escuro na cor. Ainda nem falara. Mas foi esse que acabou inventando um jeito humilhante de disfarçar a culpa inexistente, botando um pouco de felicidade no dono. De repente contou que agora ainda ficara mais penoso o trabalho porque enfim já estava minando água. Joaquim Prestes ficou satisfeito, era visível, e todos suspiraram de alívio. – Mina muito? – A água vem de com força, sim senhor. – Mas percisa cavar mais. – Quanto chega? – Quer dizer, por enquanto dá pra uns dois palmo. – Parmo e meio, Zé. O mulato virou contrariado para o que falara, um rapaz branco, enfezadinho, cor de doente. – Ocê marcou, mano... – Marquei sim. – Então com mais dois dias de trabalho tenho água suficiente. Os camaradas se entreolharam. Ainda foi o José quem falou: – Quer dizer... a gente nem não sabe, tá uma lama... O poço tá fundo, só o mano que é leviano pode descer... – Quanto mede? – Quarenta e cinco palmo. – Papagaio! escapou da boca de Joaquim Prestes. Mas ficou muito mudo, na reflexão. Percebia-se que ele estava lá dentro consigo, decidindo uma lei. Depois meio que largou de pensar, dando todo o cuidado lento em fazer o cigarro de palha com perfeição. Os camaradas esperavam, naquele silêncio que os desprezava, era insuportável quase. O rapaz não conseguiu se aguentar mais, como que se sentia culpado de ser mais leve que os outros. Arrancou: – Por minha causa não, Zé, que eu desço bem. José tornou a se virar com olhos enraivecidos pro irmão. Ia falar, mas se conteve enquanto outro tomava a dianteira. – Então ocê vai ficar naquela dureza de trabalho com essa umidade! – Se a gente pudesse revezar inda que bem... murmurou o quarto, também regularmente leviano de corpo mas nada disposto a se sacrificar. E decidiu: – Com essa chuvarada a terra tá mole demais, e se afunda!... Deus te livre... Aí José não pôde mais adiar o pressentimento que o invadia e protegeu o mano: – ‘cê besta, mano! e sua doença! A doença, não se falava o nome. O médico achara que o Albino estava fraco do peito. Isso de um ser mulato e o outro branco, o pai espa-
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CONTO
nhol primeiro se amigara com uma preta do litoral, e quando ela morrera, mudara de gosto, viera pra zona da Paulista casar com moça branca. Mas a mulher morrera dando à luz o Albino, e o espanhol, gostando mesmo de variar, se casara mas com a cachaça. José, taludinho, inda aguentou-se bem na orfandade, mas o Albino, tratado só quando as colonas vizinhas lembravam, Albino comeu terra, teve tifo, escarlatina, disenteria, sarampo, tosse comprida. Cada ano era uma doença nova, e o pai até esbravejava nos janeiros: ”Que enfermedade le falta, caramba!” e bebia mais. Até que desapareceu pra sempre. Albino, nem que fosse pra demonstrar a afirmativa do irmão, teve um acesso forte de tosse. E Joaquim Prestes: – Você acabou o remédio? – Inda tem um poucadinho, sim sinhô. Joaquim Prestes mesmo comprava o remédio do Albino e dava, sem descontar no ordenado. Uma vidraça que o rapaz quebrara, o fazendeiro descontou os três mil e quinhentos do custo. Porém montava na marmon, dava um pulo até a cidade só pra comprar aquele fortificante estrangeiro, “um dinheirão!” resmungava. E eram mesmo dezoito mil-réis. Com a direção da conversa, os camaradas perceberam que tudo se arranjava pelo milhor. Um comentou: – Não vê que a gente esta vendo si o sol vem e seca um pouco, mode o Albino descer no poço. Albino, se sentindo humilhado nessa condição de doente, repetiu agressivo: – Por isso não que eu desço bem! já falei... José foi pra dizer qualquer coisa mas sobresteve o impulso, olhou o mano com ódio. Joaquim Prestes afirmou: – O sol hoje não sai. O frio estava por demais. O café queimando, servido pela mulher do vigia, não reconfortava nada, a umidade corroía os ossos. O ar sombrio fechava os corações. Nenhum passarinho voava, quando muito algum pio magoado vinha botar mais tristeza no dia. Mal se enxergava o aclive da barranca, o rio não se enxergava. Era aquele arminho sujo de névoa, que assim de longe parecia intransponível. A afirmação do fazendeiro trouxera de novo um som apreensivo no ambiente. Quem concordou com ele foi o vigia chegando. Só tocou de leve no chapéu, foi esfregar forte as mãos, rumor de lixa, em cima do fogo. Afirmou baixo, com voz taciturna de afeiçoado àquele clima ruim: – Peixe hoje não dá. Houve silêncio. Enfim o patrão, o busto dele foi se erguendo impressionantemente agudo, se endireitou rijo e todos perceberam que ele decidira tudo. Com má vontade, sem olhar os camaradas, ordenou: – Bem... é continuar todos na casa, vocês estão ganhando. A última reflexão do fazendeiro pretendera ser cordial. Mas fora navalhante. Até a visita se sentiu ferida. Os camaradas mais que depressa debandaram, mas Joaquim Prestes: – Você me acompanhe, Albino, quero ver o poço. Ainda ficou ali dando umas ordens. Havia de tentar uma rodada assim mesmo. Afinal jogou o toco do cigarro na fogueira, e com a visita se dirigiu para a elevação a uns vinte metros da casa, onde ficava o poço.
Albino já estava lá, com muito cuidado retirando as tábuas que cobriam a abertura. Joaquim Prestes, nem mesmo durante a construção, queria que caíssem “coisas” na água futura que ele iria beber. Afinal ficaram só aquelas tábuas largas, longas, de cabreúva, protegendo a terra do rebordo do perigo de esbarrondar. E mais aquele aparelho primário, que “não era o elegante, definitivo”, Joaquim Prestes foi logo explicando à visita, servindo por agora pra descer os operários no poço e trazer terra. – Não pise aí, nhô Prestes! Albino gritou com susto. Mas Joaquim Prestes queria ver a água dele. Com mais cuidado, se acocorou numa das tábuas do rebordo e firmando bem as mãos em duas outras que atravessavam a boca do poço e serviam apenas pra descanso da caçamba, avançou o corpo pra espiar. As tábuas abaularam. Só o viram fazer o movimento angustiado, gritou: – Minha caneta! Se ergueu com rompante e sem mesmo cuidar de sair daquela bocarra traiçoeira, olhou os companheiros, indignado: – Essa é boa!... Eu é que não posso ficar sem a minha caneta-tinteiro! Agora vocês hão de ter paciência, mas ficar sem minha caneta é que eu não posso! têm que descer lá dentro buscar! Chame os outros, Albino! e depressa! que com o barro revolvido como está, a caneta vai afundando! Albino foi correndo. Os camaradas vieram imediatamente, solícitos, ninguém sequer lembrava mais de fazer corpo mole nem nada. Pra eles era evidente que a caneta-tinteiro do dono não podia ficar lá dentro. Albino já tirava os sapatões e a roupa. Ficou nu num átimo da cintura pra cima, arregaçou a calça. E tudo, num átimo, estava pronto, a corda com o nó grosso pro rapaz firmar os pés, afundando na escureza do buraco. José mais outro, firmes, seguravam o cambito. Albino com rapidez pegou na corda, se agarrou nela, balanceando no ar. José olhava, atento: – Cuidado, mano... – Vira. – Albino... – Nhô? – ... veja si fica na corda pra não pisar na caneta. Passe a mão de leve no barro... – Então é melhor botar um pau na corda pra fincar os pés. – Qual, mano! vira isso logo! José e o companheiro viraram o cambito, Albino desapareceu no poço. O sarilho gemeu, e à medida que a corda se desenrolava o gemido foi aumentando, aumentando, até que se tornou num uivo lancinante. Todos estavam atentos, até que se escutou o grito de aviso do Albino, chegado apenas uma queixa até o grupo. José parou o manejo e fincou o busto no cambito. Era esperar, todos imóveis. Joaquim Prestes, mesmo o outro camarada espiavam, meio esquecidos do perigo da terra do rebordo esbarrondar. Passou um minuto, passou mais outro minuto, estava desagradabilíssimo. Passou mais tempo, José não se conteve. Segurando firme só com a mão direita o cambito, os músculos saltaram no braço magnífico, se inclinou quanto pôde na beira do poço: – Achooooou! Nada de resposta. – Achou, manoooo!...
Ainda uns segundos. A visita não aguentara mais aquela angústia, se afastara com o pretexto de passear. Aquela voz de poço, um tom surdo, ironicamente macia que chegava aqui em cima em qualquer coisa parecia com um “não”. Os minutos passavam, ninguém mais se aguentava na impaciência. Albino havia de estar perdendo as forças, grudado naquela corda, de cócoras, passando a mão na lama coberta de água. – José... – Nhô. Mas atentando onde o velho estava, sem mesmo esperar a ordem, José asperejou com o patrão: – Por favor, nhô Joaquim Prestes, sai daí, terra tá solta! Joaquim Prestes se afastou de má vontade. Depois continuou: – Grite pro Albino que pise na lama, mas que pise num lugar só. José mais que depressa deu a ordem. A corda bambeou. E agora, aliviados, os operários entreconversavam. O magruço, que sabia ler no jornal da vendinha da estação, deu de falar, o idiota, no caso do “Soterrado de Campinas”. O outro se confessou pessimista, mas pouco, pra não desagradar o patrão. José mudo, cabeça baixa, olho fincado no chão, muito pensando. Mas a experiência de todos ali, sabia mesmo que a caneta-tinteiro se metera pelo barro mole e que primeiro era preciso esgotar a água do poço. José ergueu a cabeça, decidido: – Assim não vai não, nhô Joaquim Prestes, percisa secar o poço. Aí Joaquim Prestes concordou. Gritaram ao Albino que subisse. Ele ainda insistiu uns minutos. Todos esperavam em silêncio, irritados com aquela teima do Albino. A corda sacudiu, chamando. José mais que depressa agarrou o cambito e gritou: – Pronto! A corda enrijou retesada. Mesmo sem esperar que o outro operário o ajudasse, José com músculos de amor virou sozinho o sarilho. A mola deu aquele uivo esganado, assim virada rápido, e veio uivando, gemendo. – Vocês me engraxem isso, que diabo! Só quando Albino surgiu na boca do poço o sarilho parou de gemer. O rapaz estava que era um monstro de lama. Pulou na terra firme e tropeçou três passos, meio tonto. Baixou muito a cabeça sacudida com estertor purrr! agitava as mãos, os braços, pernas, num halo de lama pesada que caía aos ploques no chão. Deu aquele disfarce pra não desapontar: – Puta-frio! Foi vestindo, sujo mesmo, com ânsia, a camisa, o pulôver esburacado, o paletó. José foi buscar o seu próprio paletó, o botou silencioso na costinha do irmão. Albino o olhou, deu um sorriso quase alvar de gratidão. Num gesto feminino, feliz, se encolheu dentro da roupa, gostando. Joaquim Prestes estava numa exasperação terrível, isso via-se. Nem cuidava de disfarçar para a visita. O caipira viera falando que a mulher mandava dizer que o almoço do patrão estava pronto. Disse um “Já vou” duro, continuando a escutar os operários. O magruço lembrou buscarem na cidade um poceiro de profissão. Joaquim Prestes estrilou. Não estava pra pagar poceiro por causa duma coisa à-toa! que eles estavam com má vontade de trabalhar! esgotar poço de pouca água não era nenhuma áfrica. Os homens acharam ruim, imaginando que o patrão os tratara de negros. Se tomaram
CONTO dum orgulho machucado. E foi o próprio magro, mais independente, quem fixou José bem nos olhos, animando o mais forte, e meio que perguntou, meio que decidiu: – Bamo!... Imediatamente se puseram nos preparos, buscando o balde, trocando as tábuas atravessadas por outras que aguentassem peso de homem. Joaquim Prestes e a visita foram almoçar. Almoço grave, apesar do gosto farto do dourado. Joaquim Prestes estava árido. Dera nele aquela decisão primária, absoluta de reaver a caneta-tinteiro hoje mesmo. Pra ele, honra, dignidade, autoridade não tinha gradação, era uma só: tanto estava no custear a mulher da gente como em reaver a caneta-tinteiro. Duas vezes a visita, com ares de quem não sabe perguntou sobre o poceiro da cidade. Mas só o forde podia ir buscar o homem e Joaquim Prestes, agora que o vigia afirmara que não dava peixe, tinha embirrado, havia de mostrar que, no pesqueiro dele, dava. Depois que diabo! os camaradas haviam de secar o poço, uns palermas! Estava numa cólera desesperada. Botando a culpa nos operários, Joaquim Prestes como que distrai a culpa de fazê-los trabalhar injustamente. Depois do almoço chamou a mulher do vigia, mandou levar café aos homens, porém que fosse bem quente. Perguntou si não havia pinga. Não havia mais, acabara com a friagem daqueles dias. Deu de ombros. Hesitou. Ainda meio que ergueu os olhos pra visita, consultando. Acabou pedindo desculpa, ia dar uma chegadinha até o poço pra ver o que os camaradas andavam fazendo. E não se falou mais em pescaria. Tudo trabalhava na afobação. Um descia o balde. Outro, com empuxões fortes na corda, afinal conseguia deitar o balde lá no fundo pra água entrar nele. E quando o balde voltava, depois de parar tempo lá dentro, vinha cheio apenas pelo terço, quase só lama. Passava de mão em mão pra ser esvaziado longe e a água não se infiltrar pelo terreno do rebordo. Joaquim Prestes perguntou si a água já diminuíra. Houve um silêncio emburrado dos trabalhadores. Afinal um falou com rompante: – Qual... Joaquim Prestes ficou ali, imóvel, guardando o trabalho. E ainda foi o próprio Albino, mais servil, quem inventou: – Si tivesse duas caçamba... Os camaradas se sobressaltaram, inquietos, se entreolhando. E aquele peste de vigia lembrou que a mulher tinha uma caçamba em casa, foi buscar. O magruço, ainda mais inquieto que os outros, afiançou: – Nem com duas caçambas não vai não! é lama por demais! tá minando muito... Aí o José saiu do seu silêncio torvo pra pôr as coisas às claras: – De mais a mais, duas caçamba percisa ter gente lá dentro, Albino não desce mais. – Que que tem, Zé! deixa de história! Albino meio que estourou. De resto o dia aquentara um bocado, sempre escuro, nuvens de chumbo tomando o céu todo. Nenhum pássaro. Mas a brisa caíra por volta das treze horas, e o ar curto deixava o trabalho aquecer os corpos movidos. José se virara com tanta indignação para o mano, todos viram: mesmo com desrespeito pelo velho Joaquim Prestes, o Albino ia tomar com um daqueles cachações que apanhava quando pega-
do no truco ou na pinga. O magruço resolveu se sacrificar, evitando mais aborrecimento. Interferiu rápido: – Nós dois se reveza, José! Desta eu que vou. O mulato sacudiu a cabeça, desesperado, engolindo raiva. A caçamba chegava e todos se atiraram aos preparativos novos. O velho Joaquim Prestes ali, mudo, imóvel. Apenas de vez em quando aquele jeito lento de tirar o relógio e consultar a claridade do dia, que era feito uma censura tirânica, pondo vergonha, quase remorso naqueles homens. E o trabalho continuava infrutífero, sem cessar. Albino ficava o quanto podia lá dentro, e as caçambas, lentas, naquele exasperante ir e vir. E agora o sarilho deu de gritar tanto que foi preciso botar graxa nele, não se suportava aquilo. Joaquim Prestes mudo, olhando aquela boca de poço. E quando Albino não se aguentava mais o outro magruço o revezava. Mas este depois da primeira viagem, se tomara dum medo tal, se fazia lerdo de propósito, e era recomendações a todos, tinha exigências. Já por duas vezes falara em cachaça. Então o vigia lembrou que o japonês de outra margem tinha cachaça a venda. Dava uma chegadinha lá, que o homem também sempre tinha algum trairão de rede, pegado na lagoa. Aí Joaquim Prestes se destemperou por completo. Ele bem que estava percebendo a má vontade de todos. Cada vez que o magruço tinha que descer eram cinco minutos, dez, mamparreando, se despia lento. Pois até não se lembrara de ir na casinha e foi aquela espera insuportável pra ninguém! (E o certo é que a água minava mais forte agora, livre da muita lama. O dia passava. E uma vez que o Albino subiu, até, contra o jeito dele, veio irritado, porque achara o poço na mesma.) Joaquim Prestes berrava fulo de raiva. O vigia que fosse tratar das vacas, deixasse de invencionice! Não pagava cachaça pra ninguém não, seus emprestáveis! Não estava pra alimentar manha de cachaceiro! Os camaradas, de golpe, olharam todos o patrão, tomados de insulto, feridíssimos, já muito sem paciência mais. Porém Joaquim Prestes ainda insistia, olhando o magruço: – É isso mesmo!... Cachaceiro!... Dispa-se mais depressa! cumpra o seu dever!... E o rapaz não aguentou o olhar cutilante do patrão, baixou a cabeça, foi se despindo. Mas ficara ainda mais lerdo, ruminando uma revolta inconsciente, que escapava na respiração precipitada, silvando surda pelo nariz. A visita percebendo o perigo, interveio. Fazia gosto de levar um pescado à mulher, si o fazendeiro permitisse, ele dava um pulo com o vigia lá no tal de japonês. E irritado fizera um sinal ao caipira. Se fora, fugindo daquilo, sem mesmo esperar o assentimento de Joaquim Prestes. Este mal encolheu os ombros, de novo imóvel, olhando o trabalho do poço. Quando mais ou menos uma hora depois, a visita voltou ao poço outra vez, trazia afobada uma garrafa de caninha. Foi oferecendo com felicidade aos camaradas, mas eles só olharam a visita assim meio de lado, nem responderam. Joaquim Prestes nem olhou, e a visita percebeu que tinha sucedido alguma coisa grave. O ambiente estava tensíssimo. Não se via o Albino nem o magruço que o revezava. Mas não estavam ambos no fundo do poço, como a visita imaginou.
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Minutos antes, poço quase seco agora, o magruço que já vira um bloco de terra se desprender do rebordo, chegada a vez dele, se recusara descer. Foi meio minuto apenas de discussão agressiva entre ele e o velho Joaquim Prestes, desce, não desce, e o camarada, num ato de desespero se despedira por si mesmo, antes que o fazendeiro o despedisse. E se fora, dando as costas a tudo, oito anos de fazenda, curtindo uma tristeza funda, sem saber. E Albino, aquela mansidão doentia de fraco, pra evitar briga maior, fizera questão de descer outra vez, sem mesmo recobrar fôlego. Os outros dois, com o fantasma próximo de qualquer coisa mais terrível, se acovardaram. Albino estava no fundo do poço. Agora o vento soprando, chicoteava da gente não aguentar. Os operários tremiam muito, e a própria visita. Só Joaquim Prestes não tremia nada, firme, olhos fincados na boca do poço. A despedida do operário o despeitara ferozmente, ficara num deslumbramento horrível. Nunca imaginara que num caso qualquer o adversário se arrogasse a iniciativa de decidir por si. Ficara assombrado. Por certo que havia de mandar embora o camarada, mas que este se fosse por vontade própria, nunca pudera imaginar. A sensação do insulto estourara nele feito uma bofetada. Si não revidasse era uma desonra, como se vingar!... Mas só as mãos se esfregando lentíssimas, denunciavam o desconcerto interior do fazendeiro. E a vontade reagia com aquela decisão já desvairada de conseguir a caneta-tinteiro, custasse o que custasse. Os olhos do velho engoliam a boca do poço, ardentes, com volúpia quase. Mas a corda já sacudia outra vez, agitadíssima agora, avisando que o Albino queria subir. Os operários se afobaram. Joaquim Prestes abriu os braços, num gesto de desespero impaciente. – Também Albino não parou nem dez minutos! José ainda lançou um olhar de imploração ao chefe, mas este não compreendia mais nada. Albino apareceu na boca do poço. Vinha agarrado na corda, se grudando nela com terror, como temendo se despegar. Deixando o outro operário na guarda do cambito, José com muita maternidade ajudava o mano. Este olhava todos, cabeça de banda decepando na corda, boca aberta. Era quase impossível lhe aguentar o olho abobado. Como que não queria se desagarrar da corda, foi preciso o José, “sou eu, mano”, o tomar nos braços, lhe fincar os pés na terra firme. Aí Albino largou da corda. Mas com o frio súbito do ar livre, principiou tremendo demais. O seguraram pra não cair. Joaquim Prestes perguntava se ainda tinha água lá em baixo. – Fa... Fa... Levou as mãos descontroladas à boca, na intenção de animar os beiços mortos. Mas não podia limitar os gestos mais, tal o tremor. Os dedos dele tropeçavam nas narinas, se enfiavam pela boca, o movimento pretendido de fricção se alargava demais e a mão se quebrava no queixo. O outro camarada lhe esfregava as costas. José veio, tirou a garrafa das mãos da visita, quis desarrolhar mas não conseguindo isso logo com aqueles dedos endurecidos, abocanhou a rolha, arrancou. José estava tão triste... Enrolou, com que macieza! a cabeça do maninho no braço esquerdo, lhe pôs a garrafa na boca: – Beba, mano.
CONTO
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Albino engoliu o álcool que lhe enchera a boca. Teve aquela reação desonesta que os tragos fortes dão. Afinal pôde falar: – Farta... é só tá-tá seco. Joaquim Prestes falava manso, compadecido, comentando inflexível: – Pois é, Albino: se você tivesse procurado já, decerto achava. Enquanto isso a água vai minando. – Si eu tivesse uma lúiz... – Pois leve. José parou de esfregar o irmão. Se virou pra Joaquim Prestes. Talvez nem lhe transparecesse ódio no olhar, estava simples. Mandou calmo, olhando o velho nos olhos: – Albino não desce mais. Joaquim Prestes ferido desse jeito, ficou que era a imagem descomposta do furor. Recuou um passo na defesa instintiva, levou a mão ao revólver. Berrou já sem pensar: – Como não desce! – Não desce não. Eu não quero. Albino agarrou o braço do mano mas toma com safanão que quase cai. José traz as mãos nas ancas, devagar, numa calma de morte. O olhar não pestaneja, enfiando no do inimigo. Ainda repete, bem baixo, mas mastigando: – Eu não quero não sinhô. Joaquim Prestes, o mal pavoroso que terá vivido aquele instante... A expressão do rosto dele se mudara de repente, não era cólera mais, boca escancarada, olhos brancos, metálicos,
sustentando o olhar puro, tão calmo, do mulato. Ficaram assim. Batia agora uma primeira escureza do entardecer. José, o corpo dele oscilou milímetros, o esforço moral foi excessivo. Que o irmão não descia estava decidido, mas tudo mais era uma tristeza em José, uma desolação vazia, uma semiconsciência de culpa lavrada pelos séculos. Os olhos de Joaquim Prestes reassumiam uma vibração humana. Afinal baixaram, fixando o chão. Depois foi a cabeça que baixou, de súbito, refletindo. Os ombros dele também foram descendo aos poucos. Joaquim Prestes ficou sem perfil mais. Ficou sórdido. – Não vale a pena mesmo... Não teve a dignidade de aguentar também com a aparência externa da derrota. Esbravejou: – Mas que diacho, rapaz! vista saia! Albino riu, iluminando o rosto agradecido. A visita riu pra aliviar o ambiente. O outro camarada riu, covarde. José não riu. Virou a cara, talvez para não mostrar os olhos amolecidos. Mas ombros derreados, cabeça enfiada no peito, se percebia que estava fatigadíssimo. Voltara a esfregar maquinalmente o corpo do irmão, agora não carecendo mais disso. Nem ele nem os outros, que o incidente espantara por completo qualquer veleidade do frio. Quer dizer, o caipira também não riu, ali chegado no meio da briga pra avisar que os trairões, como Joaquim Prestes exigia, devidamente limpos e envoltos em sacos de linho alvo,
esperavam pra partir. Joaquim Prestes rumou pro forde. Todos o seguiram. Ainda havia nele uns restos de superioridade machucada que era preciso enganar. Falava ríspido, dando a lei com lentidão: – Amanhã vocês se aprontem. Faça frio não faça frio mando o poceiro cedo. E... José... Parou, voltou-se, olhou firme o mulato: – ... doutra vez veja como fala com seu patrão. Virou, continuou, mais agitado agora, se dirigindo ao forde. Os mais próximos ainda o escutaram murmurar consigo: “... não sou nenhum desalmado...”. Dois dias depois o camarada desapeou da besta com a caneta-tinteiro. Foram levá-la a Joaquim Prestes que, sentado à escrivaninha, punha em dia a escrita da fazenda, um brinco. Joaquim Prestes abriu o embrulho devagar. A caneta vinha muito limpa, toda arranhada. Se via que os homens tinham tratado com carinho aquele objeto meio místico, servindo pra escrever sozinho. Joaquim Prestes experimentou mas a caneta não escrevia. Ainda a abriu, examinou tudo, havia areia em qualquer frincha. Afinal descobriu a rachadura. – Pisaram na minha caneta! brutos... Jogou tudo no lixo. Tirou da gaveta de baixo uma caixinha que abriu. Havia nela várias lapiseiras e três canetas-tinteiro. Uma era de ouro. São Paulo, 26-XII-42 (Terceira Versão).
VOCABULÁRIO alvar: estúpido, ingênuo. asperejou: (do verbo asperejar) tratar alguém com aspereza, repreender. átimo: num instante. bijuís: espécies de abelhas. bocarra: aumentativo de boca. caçamba: balde preso a uma corda para tirar água do poço. cioso: cuidadoso, interessado. desempenado: forte, galhardo, aprumado.
esbarrondar: romper, desmoronar. goradas: (do verbo gorar) frustrar, malograr. hol: (forma aportuguesada da palavra inglesa hall ) vestíbulo, átrio. idolatria: amor, paixão exagerada. leviano: o mesmo que leve. mamparreando: (do verbo mamparrear) enganar, perder tempo. rompante: (variação de rompente) ação violenta, impetuosa, ditada por sentimento de fúria ou de raiva.
samora: (variação de saburá) resíduo do pólen, substância amarela agridoce existente nos alvéolos da colmeia. sobresteve: (do verbo sobrestar) parar, deter-se, não prosseguir. sorna: escuro, indolente. trabucando: (do verbo trabucar) trabalhar com afinco, labutar. veleidade: pretensão, fantasia, quimera.
Biografia Mário Raul de Morais Andrade (1893-1945) nasceu e morreu em São Paulo. Desde muito jovem, ligado à poesia, era admirador de Vicente de Carvalho e publicou um livro parnasiano, Há uma gota de sangue em cada poema, em 1917. Diplomouse pelo Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, onde passou a lecionar História da Música. Em 1922, participando da Semana de Arte Moderna, lançou o livro de poemas Pauliceia desvairada. Daí em diante a sua atividade literária foi intensa. Foi diretor, em 1934, do Departamento Municipal de Cultura de São Paulo e um dos colaboradores em sua instauração. Organizou uma discoteca pública. Em 1938, no Rio de Janeiro, lecionou Estética na Universidade do Distrito Federal. Voltou a São Paulo em 1940, na qualidade de funcionário do Serviço do Patrimônio Histórico. Morreu de repente, no dia 25 de fevereiro de 1945, em plena atividade intelectual.
SOBRE AS PALAVRAS
Lágrimas de crocodilo É uma expressão popular bastante usada para se referir a choro fingido. Surgiu de um fato que acontece com os crocodilos: quando ingerem um alimento, fazem forte pressão contra o céu da boca, comprimindo as glândulas lacrimais, o que faz com que lacrimejem enquanto mastigam.
ARTIGO
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Ora pois, uma língua bem brasileira Carlos Fioravanti Reprodução
A
possibilidade de ser simples, dispensar elementos gramaticais teoricamente essenciais e responder “sim, comprei”, quando alguém pergunta “você comprou o carro?”, é uma das características que conferem flexibilidade e identidade ao português brasileiro. A análise de documentos antigos e de entrevistas de campo ao longo dos últimos 30 anos está mostrando que o português brasileiro já pode ser considerado único, diferente do português europeu, do mesmo modo que o inglês americano é distinto do inglês britânico. O português brasileiro ainda não é, porém, uma língua autônoma: talvez seja – na previsão de especialistas, em cerca de 200 anos – quando acumular peculiaridades que nos impeçam de entender inteiramente o que um nativo de Portugal diz. A expansão do português no Brasil, as variações regionais com suas possíveis explicações, que fazem o urubu de São Paulo ser chamado de corvo no Sul do país, e as raízes das inovações da linguagem estão emergindo por meio do trabalho de cerca de 200 linguistas. De acordo com estudos da Universidade de São Paulo (USP), uma inovação do português brasileiro, por enquanto sem equivalente em Portugal, é o r caipira, às vezes tão intenso que parece valer por dois ou três, como em porrrta ou carrrne. Associar o r caipira apenas ao interior paulista, porém, é uma imprecisão geográfica e histórica, embora o r desavergonhado tenha sido uma das marcas do estilo matuto do ator Amácio Mazzaropi em seus 32 filmes, produzidos de 1952 a 1980. Seguindo as rotas dos bandeirantes paulistas em busca de ouro, os linguistas encontraram o r supostamente típico de São Paulo em cidades de Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná e oeste de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, formando um modo de falar similar ao português do século XVIII. Quem tiver paciência e ouvido apurado poderá encontrar também na região central do Brasil – e em cidades do litoral – o s chiado, uma característica hoje típica do falar carioca que veio com os portugueses em 1808 e era um sinal de prestígio por representar o falar da Corte. Mesmo os portugueses não eram originais: os especia-
Almeida Júnior, O violeiro, 1899. Pinacoteca do Estado de São Paulo.
listas argumentam que o s chiado, que faz da esquina uma shquina, veio dos nobres franceses, que os portugueses admiravam. A história da língua portuguesa no Brasil está trazendo à tona as características preservadas do português, como a troca do l pelo r, resultando em pranta em vez de planta. Camões registrou essa troca em Os Lusíadas – lá está um frautas no lugar de flautas – e o cantor e compositor paulista Adoniran Barbosa a deixou registrada em diversas composições, em frases como “frechada do teu olhar”, do samba “Tiro ao Álvaro”. Em levantamentos de campo, pesquisadores da USP observaram que moradores do interior tanto do Brasil quanto de Portugal, principalmente os menos escolarizados, ainda falam desse modo. Outro sinal de preservação da língua identificado por especialistas do Rio de Janeiro e de São Paulo, dessa vez em documentos antigos, foi a gente ou as gentes como sinônimo de nós e hoje uma das marcas próprias do português brasileiro. Célia Lopes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), encontrou registros de a gente em documentos do século XVI e, com mais frequência, a partir do século XIX. Era uma forma de indicar a primeira pessoa do plural, no sentido de todo mundo com a inclusão necessária do eu.
Segundo ela, o emprego de a gente pode passar descompromisso e indefinição: quem diz a gente em geral não deixa claro se pretende se comprometer com o que está falando ou se se vê como parte do grupo, como em “a gente precisa fazer”. Já o pronome nós, como em “nós precisamos fazer”, expressa responsabilidade e compromisso. Nos últimos 30 anos, ela notou, a gente instalou-se nos espaços antes ocupados pelo nós e se tornou um recurso bastante usado por todas as idades e classes sociais no país inteiro, embora nos livros de gramática permaneça na marginalidade. Linguistas de vários estados do país estão desenterrando as raízes do português brasileiro ao examinar cartas pessoais e administrativas, testamentos, relatos de viagens, processos judiciais, cartas de leitores e anúncios de jornais desde o século XVI, coletados em instituições como a Biblioteca Nacional e o Arquivo Público do Estado de São Paulo. A equipe de Célia Lopes tem encontrado também na feira de antiguidades do sábado da Praça XV de Novembro, no centro do Rio, cartas antigas e outros tesouros linguísticos, nem sempre valorizados. “Um estudante me trouxe cartas maravilhosas encontradas no lixo”, ela contou.
(ENTRE PARÊNTESIS)
O caracol teimoso RESPOSTA O caracol levará três dias para chegar ao alto do muro.
Um caracol escala um muro de dois metros de altura. De dia sobe um metro, de noite desce meio metro. Quantos dias levará o caracol para chegar ao alto?
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VOCÊ SABIA QUE...
... Vasco da Gama teve grande importância não só para a história de Portugal como para a própria expansão cultural europeia?
AS GRANDES NAVEGAÇÕES
Nascido em Sines, Portugal, em 1469, Vasco da Gama foi encarregado pelo rei Manuel I de abrir uma rota marítima até as Índias (terras produtoras de especiarias) em 1497. O intuito era atenuar a vantajosa posição conquistada pela Coroa espanhola com o descobrimento da América; além, é claro, de fazer uso do Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494 entre os dois países, o qual garantia a Portugal o direito de exploração de praticamente todo o mundo oriental. Por muito tempo acreditou-se que a expedição tivesse margeado a costa africana até chegar ao cabo da Boa Esperança. Hoje sabe-se que Vasco da Gama se valeu de uma sofisticada estratégia para escapar das correntes contrárias do golfo da Guiné: a “volta do mar”, traçado este que aproveitava a hoje denominada corrente do Brasil. Esse nome, aliás, não é por acaso. Alguns historiadores apostam que já nessa viagem os portugueses perceberam evidências de uma nova terra a ser explorada. A chegada das embarcações portuguesas à Índia, em 1498, foi o primeiro contato direto da civilização europeia com a indiana, um marco fundamental para o decorrer da história: estávamos na época das grandes navegações, época essa em que os europeus almejavam descobrir, conquistar e ocupar as mais diversas áreas, seja na África, Ásia ou América.
SERVIÇO DE VESTIBULAR Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
Universidade Estadual de Goiás (UEG)
Período de inscrição: até 18 de abril de 2016. Somente via internet. Endereço da faculdade: rua São Francisco Xavier, 524 – Maracanã – Rio de Janeiro – RJ – CEP: 20550-900 – Telefone: (21) 2334-0000. Requisito: taxa de R$ 60,00. Cursos e vagas: consultar site www.vestibular.uerj.br Exame: dia 12 de junho de 2016.
Período de inscrição: até 17 de abril de 2016. Somente via internet. Endereço da faculdade: rua 82, 400 – Palácio Pedro Ludovico Teixeira – Goiânia – GO – CEP: 74088-900 – Telefone: (62) 3201-5334/5335. Requisito: taxa de R$ 80,00. Cursos e vagas: consultar site www.ueg.br Exame: dia 15 de maio de 2016.
ALGUMAS PALAVRAS SOBRE O “FIQUE ESPERTO” Quem lê mais, entende melhor e sai na frente! __O Etapa desenvolveu o projeto “Fique Esperto” (“Fiquesperto” ou FE). __O FE vem encartado no Jornal do Vestibulando. Serão fornecidas tarefas Você que envolvem leituras atentas e astúcia para encontrar as sutilezas, recebe seu primeiro os subentendidos, os pressupostos, as ambiguidades de um “Fique Esperto” no Jornal do texto. Corrigir erros encontrados em textos de jornais, revistas Vestibulando do dia 22.04. e cartazes. Além dos exercícios, há uma proposta de redação com temas atualíssimos, sempre casados com leituras e interpretações de textos dos mais diferentes gêneros, Junto com o próximo Jornal do Vestibulando, entendimento de tabelas, gráficos, infográficos, etc., tal o primeiro como ocorrem nos exames vestibulares e no Enem.
AGUARDE
__A cada 14 dias há um novo FE com novas tarefas e novas propostas de redação. Os exercícios do FE vão exigir um tempo pequeno, mas serão de extraordinário valor para você. __Considere o “Fique Esperto” algo especial para dinamizar seus neurônios e alongar suas conexões mentais. __Um exercício que tem tudo a ver com tudo, principalmente para sedimentar seu conhecimento de forma segura e geral.
Jornal do Vestibulando
de 2016!
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