Jornal do Vestibulando 1510

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Jornal do Vestibulando

ENSINO, INFORMAÇÃO E CULTURA

JORNAL ETAPA – 2016 • DE 21/04 A 04/05

ENTREVISTA

Pegou firme o estudo e sua pontuação disparou! Letícia Mancuzo de Almeida entrou na Poli em Engenharia Elétrica e em outras 3 universidades públicas. Como treineira, fez 36 pontos na Fuvest. Ela fez cursinho com o colégio e conseguiu fazer sua pontuação disparar para 79 pontos. Pretende obter a dupla diplomação em instituição internacional e na Poli. Além de seguir fazendo doutorado – talvez no exterior.

Letícia Mancuzo de Almeida Em 2015: Etapa Em 2016: Engenharia Elétrica – USP

JV – Quando você escolheu Engenharia como carreira? Letícia – Minha irmã, cinco anos mais velha, está no último ano de Engenharia Química e falava que Engenharia é legal. Fui pesquisar e gostei bastante.

Além da Fuvest, você prestou outros vestibulares? Prestei Unesp para Engenharia Mecânica, Unicamp para Engenharia Elétrica e com o Enem manifestei interesse por Engenharia Elétrica na UFSCar. Fui aprovada em todos.

Você estava na dúvida entre Elétrica e Mecânica? Eu sempre dizia que queria fazer Elétrica. Pesquisei, vi vários vídeos, gostei bastante. Também gosto bastante da parte da Mecânica.

Ao entrar no cursinho você estava animada? Estava. Eu sou meio determinada. Minha irmã passou direto e eu queria passar direto também.

No ano passado, qual era sua rotina? Chegava no cursinho às 7 horas, saía da aula ao meio-dia e meia, à 1 hora já estava na Sala de Estudos. Ficava aqui até as 6 horas, quando ia para o colégio. No final do ano, depois da 1a fase da Fuvest, quando estava muito cansada ia para casa dormir um pouco antes de estudar.

ENTREVISTA

Letícia Mancuzo de Almeida CONTO

Um homem célebre – Machado de Assis ARTIGO Zika: o vírus que pegou o país de surpresa

Você ficava sempre na Sala de Estudos? Tinha dia que eu ficava aqui, tinha dia que eu ia para casa, tinha dia que eu ia ao Kumon ajudar minha mãe – ela tem uma unidade. Ia uma vez por semana. Trabalhava a tarde inteira, das 2 horas até umas 10 para 7, quando ia para a escola. Às vezes tentava terminar meu trabalho rápido para conseguir uma meia hora de estudo.

Como era seu método de estudos? Os professores daqui são muito bons, eu estudava o que eles recomendavam. Sempre estudava as matérias do dia e fazia as lições de casa que eles mandavam. Isso foi bem produtivo. Tentava fazer tudo no dia mesmo e não ficava atrasada.

No fim de semana você estudava? No sábado, fazia o RPE de manhã. À tarde eu resolvia os exercícios do Reforço e estudava pontos em que tinha encontrado dificuldade durante a semana. Domingo de manhã fazia simulado e à tarde eu descansava ou ia jogar tênis com meus pais. Era relaxante e fazia esquecer um pouco do vestibular.

Como você aproveitou o Reforço para Engenharia? A aula do RPE é mais voltada para exercícios. Eles dão um tempo para você fazer os exercícios.

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Quem é o pai?

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POIS É, POESIA

Castro Alves (1847-1871)

Física. E Física era bem importante para mim. No colégio meu professor de Física não dava exercício, só teoria. Física sem exercício é difícil. Mas aqui deu para recuperar, eu fazia muitos exercícios. O bom é que eu gostava. Apesar de não saber, eu gostava. Aí era mais fácil estudar.

Com que frequência você treinava Redação? Eu tentava fazer uma por semana. Às vezes eu conseguia, mas mais para o final do ano era uma a cada 15 dias. Acabei não levando todas ao plantão por falta de tempo – seria muito útil ter feito isso.

Nos simulados, quais eram seus resultados? No começo eu estava no C menos. Estudei bastante e subi para o C mais. Depois das férias eu dei um superpique e cheguei a tirar B e até A.

Como candidata a uma vaga na Poli, o que você achava dessas notas? Na palestra inicial do Etapa o professor disse que para a Poli seria bom tirar B e C mais. Eu sempre tentava atingir essas faixas. Ficava triste quando não passava do C menos.

SOBRE AS PALAVRAS

ENTRE PARÊNTESIS

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Em que matérias você tinha mais defasagem?

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Fazer uma vaquinha SERVIÇO DE VESTIBULAR

Inscrições

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ENTREVISTA

Em quais matérias você recorria ao Plantão de Dúvidas?

deu para fazer muita Redação. Tirei 60 e fiquei feliz.

ensinaram a pegar o circular, achei isso bem legal. E os professores também são bons.

Eu ia principalmente para Matemática, Física e Química.

No segundo dia, na prova geral, qual foi sua nota?

Você usava o plantão virtual?

Eu achei que no segundo dia daria para recuperar o primeiro dia. Mas estava difícil e tirei 56.

Além das aulas, há muitas outras atividades na Poli. Você está participando de alguma atividade extraclasse?

Era o que eu mais usava.

Quais foram as principais dificuldades que você teve no ano passado? Como estudava de manhã no cursinho, estudava à tarde por conta e à noite ia para a escola, com aulas das 19 às 23 horas, ficava muito cansada. Ia dormir à meia-noite para estar cedinho aqui. Todo dia, era bem puxado.

Quando o cansaço pesou mais? Antes das férias de julho. Mas depois das férias voltei muito animada.

O que você fez nas duas semanas de férias? Basicamente, dormi. Mas fiz alguns resumos de Biologia, Geografia e História. História, não muito. Na primeira semana dediquei uma hora por dia aos resumos.

Como eram esses resumos? De Geografia eu desenhei muitos mapas da Europa, Ásia, África. Isso ajudou bastante.

Teve alguma época mais tranquila no ano passado? Não. Eu estava muito defasada. Até no começo tinha que estudar bastante.

Você prestou Fuvest como treineira no final do 2o ano do Ensino Médio? Prestei. Fiz 36 pontos na 1a fase.

Prestando Fuvest para valer, quantos pontos você fez na 1a fase? Eu fui bem, achei a prova fácil. Com o bônus minha pontuação foi de 79 pontos. O corte na Engenharia foi 61. Eu fiquei bem confiante.

Nos simulados você ficava em qual faixa de pontos? Só em um eu tirei 72.

Mudou alguma coisa no seu método de estudo para a 2a fase? Antes eu estudava umas cinco, seis horas por dia. Depois da 1a fase passei a estudar umas três horas, no máximo.

No final do ano você focava mais nas matérias prioritárias do terceiro dia da 2a fase ou estudava tudo? Eu tentei estudar tudo. Pegava bastante prova antiga. Mas estudei mais Matemática, Física e Química porque eu gostava. “Estou cansada, pelo menos vou estudar o que eu gosto”.

Na 2a fase, como você foi na prova de Português e Redação? Em Português eu nunca fui muito boa e tinha estabelecido uma meta de 55 a 60 pontos. Tirei 56. Durante o ano, como eu estava com muita defasagem nas outras matérias, não

No terceiro dia, em Matemática, Física e Química como você foi? Fui bem melhor. Tirei 77,08.

As notas foram de acordo com o que você esperava? No primeiro dia foi de acordo, estava querendo uns 70, e no terceiro dia fui melhor do que esperava.

Na escala de zero a 1 000, qual foi sua pontuação? 648,6.

Como soube de sua aprovação na Fuvest? Eu combinei com um amigo que prestou Medicina vir aqui com ele. Vi que passei, meu amigo também passou.

O que sentiu nessa hora?

Eu pensei em fazer parte do ThundeRatz, que é um grupo de robótica da Poli. Pensei, mas estou estudando bastante e quero ver mais como é a Poli. No 2o ano quero fazer iniciação científica, que é muito puxada – são 20 horas semanais.

O que está achando da Engenharia Elétrica? Na semana de recepção teve um dia especial da Elétrica. Os professores falaram da Elétrica em geral e das ênfases da carreira. Você também pode fazer mestrado em Engenharia Biomédica – eu gostei muito. Acho que vou seguir.

Você pensa em fazer mestrado em Engenharia Biomédica? Sim. O bom é que você fica com dois diplomas, engenheiro eletricista e engenheiro biomédico.

Veio um alívio, eu estava muito estressada. O ano foi bem desgastante.

Isso é para depois de formada. Você pensa em ficar na área acadêmica?

Algum segredo para entrar na Poli?

Eu quero trabalhar em indústria, quero fazer um pouco de tudo para ver do que mais gosto e depois seguir meu caminho. Quero obter o duplo diploma da Poli [para esse fim, a escola mantém convênios com instituições internacionais de Ensino Superior]. Também quero fazer doutorado depois, até no exterior.

Acho que você tem que ter foco. No ano passado eu não saí. Se você acha que é isso que você quer mesmo, tem que se esforçar, tem que estudar. Você não vai entrar do nada. E na Poli você precisa ter um conhecimento prévio de Matemática, Física. Precisa estudar Humanas também.

Você já conhecia a Poli? Só conheci no dia da matrícula.

Como foi esse dia? Levei trote, fui jogada na lama, me pintaram, foi muito divertido.

Esse trote foi tranquilo? Bem tranquilo. Eles só pintam os calouros, mas se você falar que não quer, eles não fazem nada.

Que matérias você tem neste primeiro semestre? Tenho Cálculo Diferencial e Integral, Física Geral e Experimental para Engenharia, Álgebra Linear, PCC, que é Projeto de Construção Civil, tem Química Tecnológica Geral, PA que é só de Engenharia Elétrica, Energia e Ambiente, que é de Materiais, Construção Civil da Engenharia Civil, um pouco da Engenharia Química, um pouco da Engenharia de Materiais. Um pouco de cada.

Dessas matérias, qual você está achando mais complicada? Cálculo.

Que dicas você pode dar a quem vai prestar vestibular no fim deste ano? A pessoa tem que ver o que quer mesmo – por exemplo, se seu grande sonho é entrar na Poli, na Medicina. Aí tem que se dedicar, não tem outra opção. É estudar. Uma dica é andar com o pessoal que está na mesma pegada que você – pessoal que quer mais estudar do que ir para balada.

Como ficou marcado o ano passado para você? Um ano difícil e decisivo. Eu antes estudava só para prova, para tirar nota e pronto. No ano passado é que aprendi mesmo a estudar, a ficar mais horas estudando.

Você está diferente de quando começou no cursinho? Amadureci bastante. Eu tinha uma visão de estudo muito diferente, achava que ia ser mais fácil, que ia estudar um pouco e ia conseguir ser aprovada. Agora sei que é bem importante estudar bastante, se você quer alguma coisa.

Como é a relação com os outros alunos?

O que você tira de lição dessa experiência preparando-se para os vestibulares?

Os veteranos foram muito legais. O pessoal da Elétrica fez um tour pela Poli, pela USP,

Se você quer bastante alguma coisa, se dedica que vai conseguir no final.


CONTO

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Um homem célebre Machado de Assis

–A

h! O senhor é que é o Pesta­na? perguntou Sinhazinha Mota, fazendo um largo ges­to admirativo. E logo depois, corrigin­do a familiaridade: – Desculpe meu modo, mas... é mesmo o senhor? Vexado, aborrecido, Pestana respondeu que sim, que era ele. Vinha do piano, enxugando a testa com o lenço, e ia chegar à janela, quando a moça o fez parar. Não era baile; apenas um sarau íntimo, pouca gente, vinte pessoas ao todo, que tinham ido jantar com a viúva Camargo, rua do Areal, naquele dia dos anos dela, cinco de novembro de 1875... Boa e patusca viúva! Amava o riso e a folga, apesar dos sessenta anos em que entrava, e foi a última vez que folgou e riu, pois faleceu nos primeiros dias de 1876. Boa e patusca viú­va! Com que alma e diligência arranjou ali umas danças, logo depois do jantar, pedindo ao Pestana que tocasse uma quadrilha! Nem foi preciso acabar o pedido; Pestana curvou-se gentilmente, e correu ao piano. Finda a quadrilha, mal teriam descansado uns dez minutos, a viúva correu novamente ao Pestana para um obséquio mui particular. – Diga, minha senhora. – É que nos toque agora aquela sua polca Não Bula Comigo, Nhonhô. Pestana fez uma careta, mas dissimulou depressa, inclinou-se calado, sem gentileza, e foi para o piano, sem entusiasmo. Ouvidos os primeiros compassos, derramou-se pela sala uma alegria nova, os cavalheiros correram às damas, e os pares entraram a saracotear a polca da moda. Da moda; tinha sido publicada vinte dias antes, e já não havia recanto da cidade em que não fosse conhecida. Ia chegando à consagração do assobio e da cantarola noturna. Sinhazinha Mota estava longe de supor que aquele Pestana que ela vira à mesa de jantar e depois ao piano, metido numa sobrecasaca cor de rapé, cabelo negro, longo e cacheado, olhos cuidosos, queixo rapado, era o mesmo Pestana compositor; foi uma amiga que lho disse quando o viu vir do piano, acabada a polca. Daí a pergunta admirativa. Vimos que ele respondeu aborrecido e vexado. Nem assim as duas moças lhe pouparam finezas, tais e tantas, que a mais modesta vaidade se contentaria de as ouvir; ele recebeu-as cada vez mais enfadado, até que, alegando dor de cabeça, pediu licença para sair. Nem elas, nem a dona da casa, ninguém logrou retê-lo. Ofereceram-lhe remédios caseiros, algum repouso, não aceitou nada, teimou em sair e saiu. rua fora, caminhou depressa, com medo de que ainda o chamassem; só afrouxou, depois que dobrou a esquina da rua Formosa. Mas aí mesmo esperava-o a sua grande polca festiva. De uma casa modesta, à direita, a poucos metros de distância, saíam as notas da composição do dia, sopradas em clarineta. Dançava-se.

Pestana parou alguns instantes, pensou em arrepiar caminho, mas dispôs-se a andar, estugou o passo, atravessou a rua, e seguiu pelo lado oposto ao da casa do baile. As notas foram-se perdendo, ao longe, e o nosso homem entrou na rua do Aterrado, onde morava. Já perto de casa viu vir dois homens: um deles, passando rentezinho com o Pestana, começou a assobiar a mesma polca, rijamente, com brio, e o outro pegou a tempo na música, e aí foram os dois abaixo, ruidosos e alegres, enquanto o autor da peça, desesperado, corria a meter-se em casa. Em casa, respirou. Casa velha, escada velha, um preto velho que o servia, e que veio saber se ele queria cear. – Não quero nada, bradou o Pestana; faça-me café e vá dormir. Despiu-se, enfiou uma camisola, e foi para a sala dos fundos. Quando o preto acendeu o gás da sala, Pestana sorriu e, dentro d’alma, cumprimentou uns dez retratos que pendiam da parede. Um só era a óleo, o de um padre, que o educara, que lhe ensinara latim e música, e que, segundo os ociosos, era o próprio pai do Pestana. Certo é que lhe deixou em herança aquela casa velha, e os velhos trastes, ainda do tempo de Pedro I. Compusera alguns motetes o padre, era doido por música, sacra ou profana, cujo gosto incutiu no moço, ou também lhe transmitiu no sangue, se é que tinham razão as bocas vadias, coisa de que se não ocupa a minha história, como ides ver. Os demais retratos eram de compositores clássicos, Cimarosa, Mozart, Beethoven, Gluck, Bach, Schumann, e ainda uns três, alguns gravados, outros litografados, todos mal encaixilhados e de diferente tamanho, mas postos ali como santos de uma igreja. O piano era o altar; o evangelho da noite lá estava aberto: era uma sonata de Beethoven. Veio o café; Pestana engoliu a primeira xícara, e sentou-se ao piano. Olhou para o retrato de Beethoven, e começou a executar a sonata, sem saber de si, desvairado ou absorto, mas com grande perfeição. Repetiu a peça; depois parou alguns instantes, levantou-se e foi a uma das janelas. Tornou ao piano; era a vez de Mozart, pegou de um trecho, e executou-o do mesmo modo, com a alma alhures. Haydn levou-o à meia-noite e à segunda xícara de café. Entre meia-noite e uma hora, Pestana pouco mais fez que estar à janela e olhar para as estrelas, entrar e olhar para os retratos. De quando em quando ia ao piano, e, de pé, dava uns golpes soltos no teclado, como se procurasse algum pensamento; mas o pensamento não aparecia e ele voltava a encostar-se à janela. As estrelas pareciam-lhe outras tantas notas musicais fixadas no céu à espera de alguém que as fosse descolar; tempo viria em que o céu tinha de ficar vazio, mas então a terra seria uma constelação de partituras. Nenhuma imagem, desvario ou reflexão trazia uma lembrança

qualquer de Sinhazinha Mota, que entretanto, a essa mesma hora, adormecia, pensando nele, famoso autor de tantas polcas amadas. Talvez a ideia conjugal tirou à moça alguns momentos de sono. Que tinha? Ela ia em vinte anos, ele em trinta, boa conta. A moça dormia ao som da polca, ouvida de cor, enquanto o autor desta não cuidava nem da polca nem da moça, mas das velhas obras clássicas, interrogando o céu e a noite, rogando aos anjos, em último caso ao diabo. Por que não faria ele uma só que fosse daquelas páginas imortais? Às vezes, como que ia surgir das profundezas do inconsciente uma aurora de ideia; ele corria ao piano, para aventá-la inteira, traduzi-la, em sons, mas era em vão; a ideia esvaía-se. Outras vezes, sentado, ao piano, deixava os dedos correrem, à ventura, a ver se as fantasias brotavam deles, como dos de Mozart; mas nada, nada, a inspiração não vinha, a imaginação deixava-se estar dormindo. Se acaso uma ideia aparecia, definida e bela, era eco apenas de alguma peça alheia, que a memória repetia, e que ele supunha inventar. Então, irritado, erguia-se, jurava abandonar a arte, ir plantar café ou puxar carroça; mas daí a dez minutos, ei-lo outra vez, com os olhos em Mozart, a imitá-lo ao piano. Duas, três, quatro horas. Depois das quatro foi dormir; estava cansado, desanimado, morto; tinha que dar lições no dia seguinte. Pouco dormiu; acordou às sete horas. Vestiu-se e almoçou. – Meu senhor quer a bengala ou o chapéu de sol? perguntou o preto, segundo as ordens que tinha, porque as distrações do senhor eram frequentes. – A bengala. – Mas parece que hoje chove. – Chove, repetiu Pestana maquinalmente. – Parece que sim, senhor, o céu está meio escuro. Pestana olhava para o preto, vago, preocupado. De repente: – Espera aí. Correu à sala dos retratos, abriu o piano, sentou-se e espalmou as mãos no teclado. Começou a tocar alguma coisa própria, uma inspiração real e pronta, uma polca, uma polca buliçosa, como dizem os anúncios. Nenhuma repulsa da parte do compositor; os dedos iam arrancando as notas, ligando-as, menean­do-as; dir-se-ia que a musa compunha e bailava a um tempo. Pestana esquecera as discípulas, esquecera o preto, que o esperava com a bengala e o guarda-chuva, esquecera até os retratos que pendiam gravemente da parede. Compunha só, teclando ou escrevendo, sem os vãos esforços da véspera, sem exasperação, sem nada pedir ao céu, sem interrogar os olhos de Mozart. Nenhum tédio. Vida, graça, novidade, escorriam-lhe da alma como de uma fonte perene.


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CONTO

Em pouco tempo estava a polca feita. Corrigiu ainda alguns pontos, quando voltou para jantar: mas já a cantarolava, andando, na rua. Gostou dela; na composição recente e inédita circulava o sangue da paternidade e da vocação. Dois dias depois, foi levá-la ao editor das outras polcas suas, que andariam já por umas trinta. O editor achou-a linda. – Vai fazer grande efeito. Veio a questão do título. Pestana, quan­do compôs a primeira polca, em 1871, quis dar-lhe um título poético, escolheu este: Pingos de Sol. O editor abanou a cabeça, e disse-lhe que os títulos deviam ser, já de si, destinados à popularidade, ou por alusão a algum sucesso do dia, – ou pela graça das palavras; indicou-lhe dois: A Lei de 28 de Setembro, ou Candongas Não Fazem Festa. – Mas que quer dizer Candongas Não Fazem Festa? perguntou o autor. – Não quer dizer nada, mas populariza-se logo. Pestana, ainda donzel inédito, recu­ sou qualquer das denominações e guardou a polca; mas não tardou que compusesse outra, e a comichão da publicidade levou-o a imprimir as duas, com os títulos que ao editor parecessem mais atraen­tes ou apropriados. Assim se regulou pelo tempo adiante. Agora, quando Pestana entregou a nova polca, e passaram ao título, o editor acudiu que trazia um, desde muitos dias, para a primeira obra que ele lhe apresentasse, título de espavento, longo e me­neado. Era este: Senhora Dona, Guarde o Seu Balaio. – E para a vez seguinte, acrescentou, já trago outro de cor. Exposta à venda, esgotou-se logo a primeira edição. A fama do compositor bastava à procura; mas a obra em si mesma era adequada ao gênero, original, convidava a dançá-la e decorava-se depressa. Em oito dias, estava célebre. Pestana, durante os primeiros, andou deveras namorado da composição, gostava de a cantarolar baixinho, detinha-se na rua, para ouvi-la tocar em alguma casa, e zangava-se quando não a tocavam bem. Desde logo, as orquestras de teatro a executaram, e ele lá foi a um deles. Não desgostou também de a ouvir assobiada, uma noite, por um vulto que descia a rua do Aterrado. Essa lua de mel durou apenas um quar­­ to de lua. Como das outras vezes, e mais depressa ainda, os velhos mestres re­tra­tados o fizeram sangrar de remorsos. Vexado e enfastiado, Pestana arremeteu contra aquela que o viera consolar tantas vezes, musa de olhos marotos e gestos arre­dondados, fácil e graciosa. E aí voltaram as náuseas de si mesmo, o ódio a quem lhe pedia a nova polca da moda, e juntamente o esforço de compor alguma cousa ao sabor clássico, uma página que fosse, uma só, mas tal que pudesse ser encadernada entre Bach e Schumann. Vão estudo, inútil esforço. Mergulhava naquele Jordão sem sair batizado. Noites e noites, gastou-as assim, confiado e teimoso, certo de que a vontade era tudo, e que, uma vez que abrisse mão da música fácil...

– As polcas que vão para o inferno fazer dançar o diabo, disse ele um dia, de madrugada, ao deitar-se. Mas as polcas não quiseram ir tão fundo. Vinham à casa do Pestana, à própria sala dos retratos, irrompiam tão prontas, que ele não tinha mais que o tempo de as compor, imprimi-las depois, gostá-las alguns dias, aborrecê-las, e tornar às velhas fontes, donde lhe não manava nada. Nessa alternativa viveu até casar, e depois de casar. – Casar com quem? perguntou Sinhazinha Mota ao tio escrivão que lhe deu aquela notícia. – Vai casar com uma viúva. – Velha? – Vinte e sete anos. – Bonita? – Não, nem feia, assim, assim. Ouvi dizer que ele se enamorou dela, porque a ouviu cantar na última festa de S. Francisco de Paula. Mas ouvi também que ela possui outra prenda, que não é rara, mas vale menos: está tísica. Os escrivães não deviam ter espíri­ to, – mau espírito, quero dizer. A sobrinha deste sentiu no fim um pingo de bálsamo, que lhe curou a dentadinha de inveja. Era tudo verdade. Pestana casou daí a dias com uma viúva de vinte e sete anos, boa cantora e tísica. Recebeu-a como a esposa espiritual do seu gênio. O celibato era, sem dúvida, a causa da esterilidade e do transvio, dizia ele consigo; artisticamente considerava-se um arruador de horas mortas; tinha as polcas por aventuras de petimetres. Agora, sim, é que ia engendrar uma família de obras sérias, profundas, inspiradas e trabalhadas. Essa esperança abotoou desde as primeiras horas do amor, e desabrochou à primeira aurora do casamento. Maria, balbuciou a alma dele, dá-me o que não achei na solidão das noites, nem no tumulto dos dias. Desde logo, para comemorar o consórcio, teve ideia de compor um noturno. Chamar-lhe-ia Ave, Maria. A felicidade como que lhe trouxe um princípio de inspiração; não querendo dizer nada à mulher, antes de pronto, trabalhava às escondidas; cousa difícil, porque Maria, que amava igualmente a arte, vinha tocar com ele, ou ouvi-lo somente, horas e horas, na sala dos retratos. Chegaram a fazer alguns concertos semanais, com três artistas, amigos do Pestana. Um domingo, porém, não se pôde ter o marido, e chamou a mulher para tocar um trecho do noturno; não lhe disse o que era nem de quem era. De repente, parando, interrogou-a com os olhos. – Acaba, disse Maria; não é Chopin? Pestana empalideceu, fitou os olhos no ar, repetiu um ou dois trechos e ergueu-se. Maria assentou-se ao piano, e, depois de algum esforço de memória, executou a peça de Chopin. A ideia, o motivo eram os mesmos; Pestana achara-os em algum daqueles becos escuros da memória, velha cidade de traições. Triste, desesperado, saiu de casa, e dirigiu-se para o lado da ponte, caminho de S. Cristóvão. – Para que lutar? dizia ele. Vou com as polcas... Viva a polca!

Homens que passavam por ele, e ouviam isto, ficavam olhando, como para um doido. E ele ia andando, alucinado, mortificado, eterna peteca entre a ambição e a vocação... Passou o velho matadouro; ao chegar à porteira da estrada de ferro, teve ideia de ir pelo trilho acima e esperar o primeiro trem que viesse e o esmagasse. O guarda fê-lo recuar. Voltou a si e tornou a casa. Poucos dias depois, – uma clara e fresca manhã de maio de 1876, – eram seis horas, Pestana sentiu nos dedos um frêmito particular e conhecido. Ergueu-se devagarinho, para não acordar Maria, que tossira toda a noite, e agora dormia profundamente. Foi para a sala dos retratos, abriu o piano, e, o mais surdamente que pôde, extraiu uma polca. Fê-la publicar com um pseudônimo; nos dois meses seguintes compôs e publicou mais duas. Maria não soube nada; ia tossindo e morrendo, até que expirou, uma noite, nos braços do marido, apavorado e desesperado. Era noite de Natal. A dor do Pestana teve um acréscimo, porque na vizinhança havia um baile, em que se tocaram várias de suas melhores polcas. Já o baile era duro de sofrer; as suas composições davam-lhe um ar de ironia e perversidade. Ele sentia a cadência dos passos, adivinhava os movimentos, porventura lúbricos, a que obrigava alguma daquelas composições; tudo isso ao pé do cadáver pálido, um molho de ossos, estendido na cama... Todas as horas da noite passaram assim, vagarosas ou rápidas, úmidas de lágrimas e de suor, de águas-da-colônia e de Labarraque, saltando sem parar, como ao som da polca de um grande Pestana invisível. Enterrada a mulher, o viúvo teve uma única preocupação: deixar a música, depois de compor um Requiem, que faria executar no primeiro aniversário da morte de Maria. Escolheria outro emprego, escrevente, carteiro, mascate, qualquer cousa que lhe fizesse esquecer a arte assassina e surda. Começou a obra; empregou tudo, arrojo, paciência, meditação, e até os caprichos do acaso, como fizera outrora, imitando Mozart. Releu e estudou o Requiem deste autor. Passaram-se semanas e meses. A obra, célere a princípio, afrouxou o andar. Pestana tinha altos e baixos. Ora achava-a incompleta, não lhe sentia a alma sacra, nem ideia, nem inspiração, nem método; ora elevava-se-lhe o coração e trabalhava com vigor. Oito meses, nove, dez, onze, e o Requiem não estava concluído. Redobrou os esforços; esqueceu as lições e amizades. Tinha refeito muitas vezes a obra; mas agora queria concluí-la, fosse como fosse. Quinze dias, oito, cinco... A aurora do aniversário veio achá-lo trabalhando. Contentou-se da missa rezada e simples, para ele só. Não se pode dizer se todas as lágrimas que lhe vieram sorrateiramente aos olhos, foram do marido, ou se algumas eram do compositor. Certo é que nunca mais tornou ao Requiem. “Para quê?” dizia ele a si mesmo. Correu ainda um ano. No princípio de 1878, apareceu-lhe o editor.


CONTO – Lá vão dois anos, disse este, que nos não dá um ar de sua graça. Toda a gente pergunta se o senhor perdeu o talento. Que tem feito? – Nada. – Bem sei o golpe que o feriu; mas lá vão dois anos. Venho propor-lhe um contrato: vinte polcas durante doze meses; o preço antigo, e uma porcentagem maior na venda. Depois, acabado o ano, podemos renovar. Pestana assentiu com um gesto. Poucas lições tinha, vendera a casa para saldar dívidas, e as necessidades iam comendo o resto, que era assaz escasso. Aceitou o contrato. – Mas a primeira polca há de ser já, explicou o editor. É urgente. Viu a carta do Imperador ao Caxias? Os liberais foram chamados ao poder; vão fazer a reforma eleitoral. A polca há de chamar-se: Bravos à Eleição Direta! Não é política; é um bom título de ocasião. Pestana compôs a primeira obra do contrato. Apesar do longo tempo de silêncio, não perdera a originalidade nem a inspiração. Trazia a mesma nota genial. As outras polcas vieram vindo, regularmente. Conservara os retratos e os repertórios; mas fugia de gastar

todas as noites ao piano, para não cair em novas tentativas. Já agora pedia uma entrada de graça, sempre que havia alguma boa ópera ou concerto de artista, ia, metia-se a um canto, gozando aquela porção de cousas que nunca lhe haviam de brotar do cérebro. Uma ou outra vez, ao tornar para casa, cheio de música, despertava nele o maestro inédito; então, sentava-se ao piano, e, sem ideia, tirava algumas notas, até que ia dormir, vinte ou trinta minutos depois. Assim foram passando os anos, até 1885. A fama do Pestana dera-lhe definitivamente o primeiro lugar entre os compositores de polca; mas o primeiro lugar da aldeia não contentava a este César, que continuava a preferir-lhe, não o segundo, mas o centésimo em Roma. Tinha ainda as alternativas de outro tempo, acerca de suas composições; a diferença é que eram menos violentas. Nem entusiasmo nas primeiras horas, nem horror depois da primeira semana; algum prazer e certo fastio. Naquele ano, apanhou uma febre de nada, que em poucos dias cresceu, até virar perniciosa. Já estava em perigo, quando lhe apa-

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receu o editor, que não sabia da doença, e ia dar-lhe notícia da subida dos conservadores, e pedir-lhe uma polca de ocasião. O enfermeiro, pobre clarineta de teatro, referiu-lhe o estado do Pestana, de modo que o editor entendeu calar-se. O doente é que instou para que lhe dissesse o que era; o editor obedeceu. – Mas há de ser quando estiver bom de todo, concluiu. – Logo que a febre decline um pouco, disse o Pestana. Seguiu-se uma pausa de alguns segundos. O clarineta foi pé ante pé preparar o remédio; o editor levantou-se e despediu-se. – Adeus. – Olhe, disse o Pestana, como é provável que eu morra por estes dias, faço-lhe logo duas polcas; a outra servirá para quando subirem os liberais. Foi a única pilhéria que disse em toda a vida, e era tempo, porque expirou na madrugada seguinte, às quatro horas e cinco minutos, bem com os homens e mal consigo mesmo. Extraído de: Várias histórias

ARTIGO

Zika: o vírus que pegou o país de surpresa Ricardo Zorzetto

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estida como uma cirurgiã, a pesquisadora Stella Melo trabalhava em total silêncio em um laboratório de biossegurança da Universidade de São Paulo (USP) na tarde da sexta-feira, 11 de dezembro. No interior de uma cabine na qual só circula ar filtrado, ela semeava células de rim de macaco em garrafas plásticas contendo um líquido rosado nutritivo. Embora usasse máscara, evitava falar para não correr o risco de contaminar o material. Dias mais tarde, aquelas células serviriam para reproduzir o vírus Zika, um agente infeccioso que por décadas foi considerado inofensivo e agora assusta o Brasil e o mundo porque, suspeita-se, está associado ao nascimento de bebês com o cérebro menor que o normal, um problema sem cura conhecido como microcefalia congênita. Na quinta-feira seguinte, dia 17, a virologista Danielle Leal de Oliveira usou parte das células preparadas por Stella para iniciar a cultura de Zika e anunciou em um e-mail: “Inoculei os vírus hoje. Estamos de dedos cruzados para ver se eles crescem”. Danielle e Stella integram a equipe do virologista Edison Durigon, no Instituto de

Ciências Biomédicas (ICB) da USP, e trabalhavam duro para replicar as amostras de Zika recebidas do Instituto Evandro Chagas, no Pará. O objetivo era multiplicar o vírus e compartilhar com grupos do Brasil e do exterior que planejavam estudá-lo. Interessados não faltavam. Desde que o Zika ganhou importância mundial em novembro com os casos de microcefalia, o virologista Paolo Zanotto, colega de Durigon e seu vizinho de sala na USP, não pensa em outra coisa a não ser conter o vírus.

Especialista em evolução dos flavivírus, o grupo a que pertence o Zika, Zanotto sabe que é grande o risco de o vírus se espalhar pelo país – em especial pelo estado de São Paulo, onde se encontra disseminada a população urbana de seu transmissor, o mosquito Aedes aegypti. Ele sabe também que só há chance de conter o Zika com um esforço coordenado de pesquisadores, poder público e população. Por essa razão, ainda em novembro, Zanotto iniciou a mobilização de virologistas, epidemiologistas, médicos e entomologistas de São Paulo e do exterior para estudar tudo o que for possível sobre o Zika. No final de dezembro, 32 grupos paulistas (quase 300 pesquisadores) já haviam aceitado integrar essa rede de investigação do vírus – que recebeu o nome informal de Rede Zika – e vários aguardavam amostras de vírus do laboratório de Durigon para iniciar as pesquisas. Essa pronta reação foi possível porque, no passado, a FAPESP apoiou a criação de laboratórios de virologia em todo o estado de São Paulo que mantiveram forte interação entre si. Muitos deles detêm projetos temáticos ou auxílios regulares financiados pela


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ARTIGO

Fundação e, para reativar o trabalho coletivo do grupo, a FAPESP concedeu pequenos aditivos aos projetos já existentes. Esses aditivos somarão cerca de R$ 550 mil e permitirão complementar o trabalho que já está sendo realizado. Jean Pierre Peron é neuroimunologista e, entre outras coisas, estuda em seu laboratório na USP inflamações no cérebro provocadas pelo sistema de defesa do próprio corpo. Ele é um dos que aderiram à Rede Zika e está com sua equipe preparada para começar ao menos dois experimentos. Em um deles, Peron planeja injetar o vírus diretamente no cérebro de camundongos, com dois objetivos. O primeiro é deixá-lo se multiplicar e gerar mais amostras para suas pesquisas e a de outros grupos. O segundo, e mais importante, é verificar se o próprio vírus lesa o cérebro ou se os danos decorrem de um ataque exacerbado do sistema de defesa contra o Zika. Imagens do cérebro de bebês que nasceram com microcefalia e são filhos de mães possivelmente infectadas por Zika na gravidez, em geral, mostram pequenos círculos brancos bem próximos uns dos outros, como as contas de um colar. Segundo neurologistas, são sinais de calcificação, uma espécie de cicatriz que se forma em áreas lesadas do cérebro e ocorrem também em bebês cujas mães tiveram infecção por citomegalovírus ou toxoplasmose na gestação. No caso do Zika, não se sabe se essas calcificações são provocadas pelo vírus ou são uma lesão secundária, resultado de um super ataque das células de defesa ao invasor. Também não se sabe ainda como o vírus chega ao cérebro, como foi observado em um bebê do Ceará que nasceu com microcefalia e morreu minutos após o parto. Foi a partir de amostras de vários tecidos dessa criança que o virologista Pedro Vasconcelos e sua equipe conseguiram isolar no Evandro Chagas, centro nacional de referência em virologia, as amostras de Zika enviadas para São Paulo. A suspeita principal é de que o vírus – assim como outros dos quase 60 da família

Flaviviridae, a mesma do vírus da dengue e da febre amarela – se desenvolva melhor em células do sistema nervoso. Um segundo experimento planejado por Peron pode ajudar a confirmar a preferência do Zika por células do tecido cerebral e a traçar o caminho percorrido pelo vírus até o sistema nervoso central. Ele e sua equipe estão prontos para inocular o vírus em camundongos fêmeas prenhes e acompanhar o que ocorre com os fetos. “Isso vai permitir verificar se o vírus chega até o cérebro dos fetos e se causa lesão, morte ou microcefalia”, disse Peron em uma visita ao laboratório de Durigon na tarde em que Stella preparava as células para multiplicar o Zika. O trabalho de Peron com os roedores deve ser complementado pelos experimentos da bióloga Patrícia Beltrão Braga com células humanas. “A primeira coisa que precisamos saber é se, de fato, o vírus infecta células humanas do sistema nervoso e qual tipo de morte celular ele provoca”, diz Patrícia. Com base nas informações que circulam entre os pesquisadores e na extrapolação do que se conhece sobre outros flavivírus, o Zika deve invadir as células do tecido cerebral, mas ainda não se sabe quais nem como. Essa informação pode no futuro orientar os médicos sobre qual terapia adotar para tentar conter o vírus ou os danos que ele pode causar – por ora, no entanto, ainda não há medicamento seguro para combater o Zika. Patrícia deve analisar os efeitos do vírus sobre células humanas usando uma tecnologia inovadora. Ela vai usar células-tronco adultas extraídas do dente de leite de crianças e reprogramá-las quimicamente para se transformarem em células mais versáteis, capazes de originar diferentes tecidos. Cultivadas em uma matriz tridimensional, essas células, ao receberem os estímulos químicos certos, originam os diferentes tipos de células do sistema nervoso central e se organizam em camadas, como se fossem cérebros microscópicos – alguns têm o tamanho da cabeça de um alfinete.

(ENTRE PARÊNTESIS)

Quem é o pai? Dois homens, Pedro e Paulo, acompanhados de seus filhos Jorge e João, compram livros. Cada livro tem um desconto, em reais, igual ao número de livros comprados. Cada família (pai e filho) teve um desconto de R$ 65,00. Pedro comprou 1 livro a mais do que Jorge, e João comprou apenas 1. Como se chama o pai de João?

RESPOSTA

Patrícia planeja infectar os minicérebros com o Zika e acompanhar as alterações que surgirem. “Minha ideia é avaliar se o vírus prejudica o crescimento das células, a produção de proteínas e a formação de sinapses, que são as conexões entre os neurônios”, diz. “Acredito que os minicérebros devem permitir termos uma resposta rápida para algumas questões”, conta a pesquisadora, que participou da primeira reunião da Rede Zika no início de dezembro. Até aquele momento o Ministério da Saúde havia registrado a presença do vírus em 18 estados, principalmente no Nordeste, onde foram identificados os primeiros casos. E o vírus podia avançar mais. Uma das dificuldades de planejar ações eficientes para conter o vírus é que ainda não se conhece seu padrão de circulação na população brasileira – nem em outras populações. Ninguém sabe com precisão quantas pessoas já foram infectadas no país nem quantos casos novos surgem por mês. Também não há dados sobre a taxa de infecção dos mosquitos e a sua eficiência em transmitir o vírus pela picada. “Com essas informações, poderíamos calcular a capacidade de a infecção se espalhar”, conta o epidemiologista Eduardo Massad, da Faculdade de Medicina da USP, que aderiu à rede. Um modo de começar a conhecer essas variáveis é registrar os casos de infecção em tempo real, para ver como evoluem no tempo e no espaço. Uma das ferramentas necessárias para isso seria um teste de laboratório confiável para identificar infecções antigas por Zika e saber por onde o vírus já passou e quando. A forma atual de fazer esse rastreamento é por meio de exames sorológicos, que detectam anticorpos contra o vírus no sangue. Esse tipo de teste permite saber se uma infecção é antiga ou recente, mas não funciona bem no caso do Zika. É que os anticorpos contra ele são semelhantes aos gerados contra os vírus da dengue, que ocorre em quase todo o país. Extraído de: Agência FAPESP – Divulgando a cultura científica, jan./2016.

João

1

1

(x − 1)2

x−1

Jorge

x2

x

Pedro

Desconto (R$)

No de livros comprados

Temos duas possibilidades (U = N ): i) Pedro é pai de João. Assim, temos a equação:     x2 + 1 = 65 + x2 = 64 + x = 8     V = {8} ii) Pedro é pai de Jorge. Então:     x2 + (x − 1)2 = 65 + x2 − x − 32 = 0   V = Ø Logo x = 8 e Pedro é o pai de João.


POIS É, POESIA

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Castro Alves (1847-1871) Adormecida Ses longs cheveux épars la couvrent tout entière La croix de son collier repose dans sa main, Comme pour témoigner qu’elle a fait sa prière. Et qu’elle va la faire en s’éveillant demain. A. de Musset

– Quem bate? – “O nome qu’importa?

Os fantasmas sem abrigo

Chamo-me dor... abre a porta!

Nem no espaço, nem no chão...

Chamo-me frio... abre o lar!

As almas angustiadas,

Dá-me pão... chamo-me fome!

Como águias desaninhadas,

Necessidade é o meu nome!”

Gemendo voam no ar.

– Mendigo! podes passar!

E enchem de vagos lamentos

“Mulher, se eu falar, prometes

Uma noite, eu me lembro... Ela dormia

A porta abrir-me?” – Talvez.

Numa rede encostada molemente...

– “Olha... Nas cãs deste velho

Quase aberto o roupão... solto o cabelo

Verás fanados lauréis.

E o pé descalço do tapete rente.

Há no meu crânio enrugado

‘Stava aberta a janela. Um cheiro agreste Exalavam as silvas da campina...

O fundo sulco traçado Pela c'roa imperial. Foragido, errante espectro,

E ao longe, num pedaço do horizonte,

Meu cajado – já foi cetro!

Via-se a noite plácida e divina.

Meus trapos – manto real!”

De um jasmineiro os galhos encurvados, Indiscretos entravam pela sala,

– Senhor, minha casa é pobre...

E de leve oscilando ao tom das auras,

Ide bater a um solar!

Iam na face trêmulos – beijá-la.

– “De lá venho... O Rei-fantasma

As vagas negras dos ventos, Os ventos do negro mar! “Bati a todas as portas Nem uma só me acolheu!...” – “Entra! –: Uma voz argentina Dentro do lar respondeu. – “Entra, pois! Sombra exilada, Entra! O verso – é uma pousada Aos reis que perdidos vão. A estrofe – é a púrpura extrema, Último trono – é o poema! Último asilo – a Canção!...” Bahia, 13 de dezembro de 1869.

Baniram do próprio lar.

Era um quadro celeste!... A cada afago

Nas largas escadarias,

Mesmo em sonhos a moça estremecia...

Nas vetustas galerias,

Quando ela serenava... a flor beijava-a...

Os pajens e as cortesãs

Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...

Cantavam!... Reinava a orgia!...

Dir-se-ia que naquele doce instante Brincavam duas cândidas crianças... A brisa, que agitava as folhas verdes,

O Rei coberto de cãs!”

De minha vida as solidões enflora...

– “Silêncio! De longe eu venho... Também meu túmulo morreu.

Mas quando a via despeitada a meio,

Do louco bardo, que Ferrara chora... Sou Tasso!... a primavera de teus risos

É palácio o mausoléu!

E o ramo ora chegava ora afastava-se...

M inh’alma é como a fronte sonhadora

Festa! Festa! E ninguém via

– Fantasmas! Aos grandes, que tombam,

Fazia-lhe ondear as negras tranças!

Os três amores

Longe de ti eu bebo os teus perfumes, Sigo na terra de teu passo os lumes... – Tu és Eleonora...

II

O séc’lo – traça que medra

Meu coração desmaia pensativo,

Uma chuva de pétalas no seio...

Nos livros feitos de pedra –

Cismando em tua rosa predileta.

Rói o mármore, cruel.

Sou teu pálido amante vaporoso,

Eu, fitando esta cena, repetia

O tempo – Átila terrível

Sou teu Romeu... teu lânguido poeta!...

Naquela noite lânguida e sentida:

Quebra co’a pata invisível

Sonho-te às vezes virgem... seminua...

“Ó flor! – tu és a virgem das campinas!

Sarcófago e capitel.

Roubo-te um casto beijo à luz da lua...

P’ra não zangá-la... sacudia alegre

Virgem! – tu és a flor da minha vida!...” S. Paulo, novembro de 1868.

“Desgraça então para o espectro, Quer seja Homero ou Solon, Se, medindo a treva imensa

O fantasma e a canção

Vai bater ao Panteon...

Orgulho! desce os olhos dos céus sobre ti mesmo, e

O motim – Nero profano –

vê como os nomes mais poderosos vão se refugiar

No ventre da cova insano

III Na volúpia das noites andaluzas O sangue ardente em minhas veias rola... Sou D. Juan!... Donzelas amorosas, Vós conhecei-me os trenos na viola!

numa canção.

Mergulha os dedos cruéis.

Sobre o leito do amor teu seio brilha...

Byron

Da guerra nos paroxismos

Eu morro, se desfaço-te a mantilha...

– Q uem bate? – “A noite é sombria!”

– Quem bate? – “É rijo o tufão!...

– E tu és Julieta...

Se abismam mesmo os abismos E o morto morre outra vez!

Não ouvis? a ventania

“Então, nas sombras infindas,

Ladra à lua como um cão.”

S'esbarram em confusão

Tu és – Júlia, a Espanhola!... Recife, setembro de 1866. Extraído de: “Espumas flutuantes”, Obras completas, Ed. Nova Aguilar, 1976.


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SOBRE AS PALAVRAS

Fazer uma vaquinha A expressão surgiu no ano de 1920 e significa reunir pessoas e arrecadar dinheiro. Naquela época, os jogadores de futebol não recebiam salário, e, então a torcida juntava dinheiro para recompensá-los. O valor do prêmio era associado ao jogo do bicho e o valor máximo era de vinte e cinco mil-réis. O número 25 no jogo do bicho corresponde à vaca. Daí a expressão “fazer uma vaquinha”.

SERVIÇO DE VESTIBULAR Fundação Getúlio Vargas – São Paulo (FGV-SP) Período de inscrição: até 11 de maio de 2016. Somente via internet. Endereço da faculdade: rua Itapeva, 432 – Bela Vista – São Paulo – SP – CEP: 01332-000 – Telefone: 0800-770-0423. Requisito: taxa de R$ 150,00. Cursos e vagas: consultar site www.fgv.br/processoseletivo Exame: dia 05 de junho de 2016. Leituras obrigatórias: • A rosa do povo – Carlos Drummond de Andrade. • Capitães da Areia – Jorge Amado. • Dom Casmurro – Machado de Assis. • Macunaíma – Mário de Andrade. • Memórias de um sargento de milícias – Manuel Antônio de Almeida. • Morte e vida severina – João Cabral de Melo Neto. • O Ateneu – Raul Pompeia. • O cortiço – Aluísio Azevedo. • Senhora – José de Alencar. • São Bernardo – Graciliano Ramos.

Paulo – SP – CEP: 01302-907 – Telefone: (11) 2114-8000. Requisito: taxa de R$ 100,00. Cursos e vagas: consultar site www.vestibular.mackenzie.br Exame: dia 07 de junho de 2016.

Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) Período de inscrição: até 02 de maio de 2016. Somente via internet. Endereço da faculdade: avenida Madre Benvenuta, 2 007 – Itacorubi – Florianópolis – SC – CEP: 88035-001 – Telefone: (48) 3321-8000. Requisito: taxa de R$ 95,00. Cursos e vagas: consultar site www.vestibular.udesc.br Exame: dia 05 de junho de 2016. Leituras obrigatórias: • Além do ponto e outros contos – Caio Fernando Abreu. • A majestade do Xingu – Moacyr Scliar. • Melhores contos – Salim Miguel. • O cortiço – Aluísio Azevedo. • O santo e a porca – Ariano Suassuna.

Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) Período de inscrição: até 31 de maio de 2016. Vestibular dos cursos de Administração e Economia. Somente via internet. Endereço da faculdade: rua Quatá, 300 – Vila Olímpia – São Paulo – SP – CEP: 04546-042 – Telefone: (11) 4504-2400. Requisito: taxa de R$ 200,00. Cursos e vagas: consultar site www.insper.edu.br/vestibular Exame: dia 12 de junho de 2016.

Universidade Presbiteriana Mackenzie (Mack) Período de inscrição: até 23 de maio de 2016. Somente via internet. Endereço da faculdade: rua da Consolação, 930 – Consolação – São

Universidade Estadual de Maringá (UEM) Período de inscrição: até 04 de maio de 2016. Somente via internet. Endereço da faculdade: avenida Colombo, 5 790 – Jardim Universitário – Maringá – PR – CEP: 87020-900 – Telefone: (44) 3011-4040. Requisito: taxa de R$ 136,00. Cursos e vagas: consultar site www.vestibular.uem.br Exames: dias 17, 18 e 19 de julho de 2016. Leituras obrigatórias: • Antologia poética – Carlos Drummond de Andrade. • Dois irmãos – Milton Hatoum. • Contos novos – Mário de Andrade. • Eu e outras poesias – Augusto dos Anjos.

Jornal do Vestibulando

• Iracema – José de Alencar. • Melhores poemas – Cecília Meireles. • Memórias póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis. • Negrinha – Monteiro Lobato. • O rei da vela – Oswald de Andrade. • Sermões do Padre Vieira – Padre Antônio Vieira.

Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) Período de inscrição: até 11 de maio de 2016. Somente via internet. Endereço da faculdade: rua Guarani – Nossa Sra. do Perpétuo Socorro – Telêmaco Borba – PR – CEP: 84265-150 – Telefone: (42) 3272-1261. Requisito: taxa de R$ 135,00 para concorrente, e de R$ 100,00 para treineiro. Cursos e vagas: consultar site www.cps.uepg.br/vestibular Exames: dias 17 e 18 de julho de 2016. Leituras obrigatórias: • Amar, verbo intransitivo – Mário de Andrade. • A morte e a morte de Quincas Berro d’Água – Jorge Amado. • Livro sobre nada – Manoel de Barros. • O filho eterno – Cristóvão Tezza. • O ovo apunhalado – Caio Fernando Abreu.

Escola Superior de Propaganda e Marketing – São Paulo (ESPM-SP) Período de inscrição: até 17 de junho de 2016. Somente via internet. Endereço da faculdade: rua Dr. Álvaro Alvim, 123 – Vila Mariana – São Paulo – SP – CEP: 04018-010 – Telefone: (11) 5085-4600. Requisito: taxa de R$ 150,00 até o dia 8 de junho; após esta data, taxa de R$ 167,00. Cursos e vagas: consultar site www.espm.br/vestibular-sp Exame: dia 19 de junho de 2016.

Jornal ETAPA, editado por Etapa Ensino e Cultura REDAÇÃO: Rua Vergueiro, 1 987 – CEP 04101-000 – Paraíso – São Paulo – SP JORNALISTA RESPONSÁVEL: Egle M. Gallian – M.T. 15343


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