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Jornal do Vestibulando
ENSINO, INFORMAÇÃO E CULTURA
JORNAL ETAPA – 2016 • DE 19/05 A 1o/06
ENTREVISTA
Na Medicina USP, pela Fuvest: 7o lugar na Pinheiros. Pelo Enem: 4o lugar em Ribeirão Preto. Fernando de Lima Monteiro fez o Ensino Médio e curso técnico em Informática junto com o cursinho. Aproveitou todo o tempo para superar suas defasagens. Bem-sucedido, recomenda aos estudantes do cursinho que aproveitem ao máximo o que o Etapa oferece e que mantenham a confiança.
Fernando de Lima Monteiro Em 2015: Etapa Em 2016: Medicina – USP/Pinheiros
JV – Quando você escolheu Medicina? Fernando – Eu fiz Técnico em Informática mas já pensava em Medicina antes de começar o técnico. Sempre pensei, mas decidi mesmo do Ensino Fundamental para o Médio. Ficava pesquisando as grades, achava legal. O curso técnico como uma complementação – acho muito importante saber informática. Mas queria mesmo Medicina.
Além da Fuvest, você prestou quais vestibulares? Unifesp, Enem, Unicamp, Unesp.
Pelo Sisu, com a nota do Enem, você concorreu à vaga em qual faculdade? Medicina da USP em Ribeirão. Coloquei a Federal de Viçosa como 2a opção. Passei em Ribeirão.
Você foi aprovado nas outras? Na Unicamp eu não fiz a 2a fase. Na Unesp, na minha posição acho que dava para passar, mas tinha que declarar interesse. Não declarei, isso foi depois da lista da Fuvest. Na Unifesp, na classificação ampla, fiquei no 63o lugar. Nas cotas, 2o lugar.
Quando entrou no cursinho você já tinha ideia da concorrência em Medicina? Eu sabia que era uma coisa bem difícil. Por isso vim para cá.
ENTREVISTA
Fernando de Lima Monteiro CONTO
Romantismo – Artur Azevedo ARTIGO Se cumprido, Código Florestal ajudará país a zerar emissões por desmatamento em 2030
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E você acreditava em suas possibilidades de ser aprovado no vestibular mais concorrido do país? Eu não achava que tinha tanta chance de passar direto. Achava que o primeiro ano no cursinho seria mais para cobrir defasagens que eu tinha e me preparar melhor para um outro ano.
Como foi que você iniciou sua preparação aqui? Estava meio receoso. Mas logo me acostumei com o ritmo e o estudo fluiu. No começo não dava tempo para estudar tudo, tinha que selecionar o que era mais importante. A partir de maio fui pegando o jeito.
Como era seu método de estudo? À noite eu fazia exercícios de Exatas. De Biológicas e Humanas, pegava no final de semana o que não conseguia estudar durante a semana, porque tem que ler muitos tópicos. Química eu deixava também para o final de semana, para ler a teoria com calma.
Qual era sua rotina durante a semana? Acordava às 6 horas, chegava no Etapa umas 7 horas, ficava até meio-dia e meia, ia para a Federal. A aula lá começa à 1 e 15, ficava até as 6 horas, chegava em casa às 7 horas, jantava e ficava estudando. Menos na segunda-feira, quando saía às 8 e meia da noite, por
ARTIGO Estudo estima eficiência em campo de insetos que parasitam pragas agrícolas
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POIS É, POESIA
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Olavo Bilac – (1865-1918)
Como você acompanhava as aulas do cursinho? Nas aulas eu prestava atenção em tudo que o professor falava, anotava tudo, mesmo o que ele não colocava na lousa. E também tentava fazer bastante exercício para não levar tanta coisa para casa.
Durante a semana, quanto tempo você estudava? Acho que umas duas horas e meia por dia.
Como você estudava no final de semana? No sábado de manhã tinha o Reforço. À tarde tinha simulado. Domingo eu estudava o dia inteiro. Quando tinha simulado eu estudava só de manhã.
Como eram as aulas do RPM? O RPM tinha exercícios escritos e testes bem mais difíceis, que eu demorava mais para fazer.
Em que pontos você tinha mais dificuldade? Dificuldade mesmo era com Redação e Humanas. Em Química também tinha defasagem.
Você treinava Redação? Eu fazia as que o professor indicava e as dos simulados e do Reforço.
SOBRE AS PALAVRAS
ENTRE PARÊNTESIS
Promoção de sorvetes
causa do curso técnico. Nesse dia chegava em casa depois das 9 horas.
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Entrar com o pé direito SERVIÇO DE VESTIBULAR
Inscrições
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ENTREVISTA
Você levava suas redações ao Plantão de Dúvidas?
Sisu também achava que dava para pegar alguma coisa.
Como foi no dia da matrícula?
Levei poucas vezes, mas nessas vezes aproveitei bastante.
Durante o ano você tinha mais preocupação com a 1a ou com a 2a fase da Fuvest?
Neste primeiro semestre na Medicina, o que você tem de matérias?
Nos simulados, como você ia na Redação? Eu ia mal, C menos.
Durante o ano, quais foram suas dificuldades? Acho que foi conciliar o curso técnico, porque além do cursinho tinha o TCC para me formar na Federal. O TCC era o ano inteiro. Tinha que fazer uma pré-apresentação em setembro e entregar em novembro.
Qual o período mais tranquilo para você no ano passado? Tranquilo, acho que só dezembro.
E qual foi a época mais pesada? Foi em junho, antes das férias. E também em setembro, porque juntou um monte de coisas.
Como você resolvia as dúvidas com exercícios?
Com a 2a. Quando fiz Fuvest como treineiro, tirei em torno de 50 na 2a fase. Achava bem difíceis as questões escritas.
Quantas questões você acertou na 1a fase da Fuvest 2016? 77 questões.
Era o que você esperava? Foi dentro do esperado. Nos simulados eu costumava fazer 75 pontos.
Para a 2a fase você mudou alguma coisa nos seus estudos? Não. Mas estudei bastante Literatura, em que estava meio atrasado. Acho bem difíceis aquelas questões escritas de Literatura da Fuvest. Não fiquei só revisando matéria, fiz muitas provas anteriores.
Provas da Fuvest?
Baixava todas as resoluções em PDF da área reservada do site do cursinho. Quase tudo dava para resolver assim.
Da Fuvest e da Unifesp. Não estava tão acostumado com a Unifesp.
Você leu as obras literárias indicadas pela Fuvest como obrigatórias?
No primeiro dia tirei 72,5 nas questões de Português e 76 na Redação. Na média, 74,25.
Não li O cortiço, de Aluísio Azevedo. Também não terminei A cidade e as serras, de Eça de Queirós e nem li todos os poemas de Sentimento do mundo, de Carlos Drummond de Andrade. Mas li os resumos de todas as obras.
Na 2a fase, que notas você tirou?
Na prova geral do segundo dia, como foi? Tirei 82,81.
Você fica deslumbrado.
Tive Introdução à Medicina e agora Fundamentos das Ciências Médicas. São várias matérias juntas no novo currículo.
O que está incluído nessas matérias? Em Introdução à Medicina a gente tem muito sobre o papel do médico, como encarar o paciente, não só a doença, mas a pessoa. Aí entram aquelas coisas de primeiros socorros, noções de enfermagem, fundamentos das Ciências Médicas e Bioquímica.
Você está gostando do curso? Estou. A Pinheiros sempre foi minha primeira opção.
Você pretende participar de alguma atividade extra na faculdade, fazer alguma liga? Tem bastante coisa para fazer, mas para o 1o ano não tem muita. Você não tem conhecimento nenhum. Estou dando aulas no MedEnsina [cursinho comunitário mantido pelos alunos da USP que usa material do Etapa].
Que aulas você dá no MedEnsina? Aulas de Matemática.
O que você destaca na Pinheiros, tanto em relação à estrutura quanto ao ambiente? A infraestrutura, por ser uma universidade pública, superou muito as expectativas. Na parte humana você recebe bastante suporte. Eles fazem bastante coisa para a gente aprender ativamente. Não é só o professor ficar ensinando na lousa.
Você assistiu às palestras sobre as obras literárias?
No terceiro dia, das matérias prioritárias da Medicina Pinheiros – Biologia, Física, Química –, qual foi sua nota?
Presencialmente assisti a duas e vi todas as outras pela internet.
83,33.
Alguma surpresa nessas notas da 2a fase?
Qual foi a importância das palestras sobre os livros?
Nunca achei que poderia tirar 76 em Redação.
Você pensa em seguir qual especialização?
Na escala de zero a 1 000, qual foi sua pontuação no exame?
Especificamente ainda não sei. Só sei que não quero ser cirurgião. Quero ser clínico.
912,7 pontos.
O que você gostaria de dizer a quem está no cursinho para Medicina?
Quando lê o livro você conhece o enredo, mas o vestibular vai além disso. O que está por trás, o contexto histórico, o que o autor queria dizer, isso você não pega só lendo. Então é muito importante a palestra.
Como era seu resultado nos simulados? Eu ia melhor nos de testes. Eram mais A e C mais. Às vezes tirava B também. Em Redação era C menos. E no final acho que foi piorando. Mas depois da 1a fase fiquei muito no C mais.
O que você fez nas duas semanas de férias?
Sua classificação na carreira? 7o lugar.
Pelo Enem você foi aprovado também na Medicina USP em Ribeirão. Qual foi sua classificação? 4o lugar.
No Enem, quais foram suas notas?
Li um monte de coisas de História, em que estava atrasado. Só isso e descansei.
Em Linguagem, 750; Redação, 940; Ciências da Natureza, 769; Ciências Humanas, 698,2; Matemática, 967,8. Não esperava.
Com tanta atividade – colégio e cursinho – como você fazia para relaxar?
Ao ver seu nome na lista da Fuvest, o que você pensou?
Para relaxar era só dormir mesmo.
Pensei assim: “Quem diria? Deu certo!”. Fiquei bastante aliviado.
Em quais dos vestibulares você achava que tinha mais chance de ser aprovado? No vestibular da Fuvest que, mesmo sendo o mais difícil, eu tinha mais familiaridade – porque já tinha feito como treineiro. Pelo
Você já conhecia a Pinheiros? Pesquisei todo o possível sobre ela. Mas nunca tinha entrado lá. Só entrei no dia da matrícula.
Para que aproveitem ao máximo o que o Etapa oferece. Mesmo que não passem direto, tudo que aprenderem este ano vai deixá-los mais perto da aprovação depois. Insistam porque é muito bom lá. Se quiserem a Pinheiros, vale a pena o esforço, a dedicação, a persistência. E há outras faculdades muito boas.
Como ficou marcado o ano passado para você? Foi legal, eu gostei dos professores, das aulas descontraídas.
Como tirar o máximo proveito do período do cursinho? Acho que você deve aproveitar as oportunidades e manter confiança em você mesmo. Se eu viesse para o Etapa achando que não seria bem-sucedido, agora ou em dois anos, não teria passado.
CONTO
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Romantismo Artur Azevedo
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ntão, Rodolfo, decididamente, não te casas com a viúva Santos? – Nem com ela, nem com outra qualquer. E peço-lhe, meu pai, que não insista sobre esse ponto, para poupar-lhe o desgosto de contrariá-lo. O casamento assusta-me; é a destruição de todos os sonhos, o aniquilamento de todas as ilusões. Deixe-me sonhar ainda. Tenho apenas vinte e cinco anos. – Tu o que tens é uma carregação de romantismo e preguiça, que me aborrece deveras. O teu prazer, meu mariola, é andar envolvido em aventuras de novela, desencaminhando senhoras casadas, procurando amores misteriosos e noturnos, paixões de horas mortas, de chapéu desabado e capa. Olha que um dia vem a casa abaixo! Don Juan, quando menos pensava, lá se foi para as profundas do inferno! – Entretanto, observou Rodolfo a sorrir, Don Juan também usava capa, e dizem que quem tem capa sempre escapa. – Ri-te! Ri-te! um dia hás de chorar! E o doutor Sepulveda pôs-se a medir com largos passos nervosos o assoalho do gabinete. De repente estacou, sentou-se, e, voltando-se para o filho: – Que diabo! disse, a viúva Santos é uma das senhoras mais lindas que conheço! Não se diga que te estou metendo à cara um estupor! – Fosse a própria Vênus! – É mais, muito mais, porque a Vênus não tinha duzentos contos de réis em prédios e apólices. – Ora, sou bastante rico, e o senhor, meu pai, não sabe o que há de fazer do dinheiro. A sua banca de advogado rende-lhe uma fortuna todos os anos e eu tenho a satisfação de lhe lembrar que sou filho único. – A minha banca, maluco, há muito tempo não rende o que rendia no tempo em que os cães andavam com linguiças no pescoço. O que te ficou por morte da tua mãe, e o que te posso dar, ou deixar, é pouco para a tua dispendiosa vida de rapaz romântico, anacrônico e serôdio. – Tenho ainda meu padrinho, o general. – Pois sim! Teu padrinho é muito bom, sim senhor, muita festa pra festa, meu afilhado pra cá, meu afilhado pra lá, mas olha que daquela mata não sai coelho. – É extraordinário o interesse que o senhor toma por essa viúva Santos! – Não é por ela, é por ti, pedaço de asno! Vocês foram feitos um para o outro, acredita, e o que mais lhe agrada na tua pessoa é justamente esse feitio que tens, de Antony de edição barata. – Ela nunca me viu. – Nunca te viu, mas conhece-te. Pois se não lhe falo senão do meu Rodolfo! Levei-lhe a tua fotografia, aquela maior... do Pacheco... aquela em que estás tão bonito, que até me parece a tua mãe... – Que tolice! minha mãe com bigodes!
– Os bigodes não, mas os olhos, a boca e o nariz parecem tirados de uma cara e pregados na outra. – Mas se o senhor lhe levou o meu retrato, por que não me trouxe o dela? – Disso me lembrei eu. Infelizmente nunca se fotografou. Se eu lhe apanhasse o retrato, oh! oh! mostrava-to, e estou certo que não resistirias. – O senhor mete-me medo! Para evitar uma asneira de minha parte, hei de fugir da viúva Santos como o diabo da cruz! – Disseste que me interesso por ela; e quando me interessasse? Não é filha de um bom camarada, o Teles, que morou comigo quando éramos estudantes, e se formou em Olinda no mesmo dia que eu? – Não imaginas o prazer que tive quando recebi uma carta de Rosalina – ela chama-se Rosalina – dizendo-me: “Venha ver-me; quero conhecer um dos melhores amigos de meu pobre pai.” – O pai é morto? – Há muitos anos. Morreu juiz municipal nas Alagoas. Deixou a mulher e os filhos na mais completa pobreza, mas os rapazes arranjaram-se no comércio, e lá estão em Pernambuco em companhia da mãe. A Rosalina, essa casou-se com um negociante aqui do Rio, o Santos, que a viu por acaso uma vez que teve de ir a Pernambuco tratar de negócios. O doutor Sepulveda aproximou a sua cadeira para mais perto do filho e comentou: – Alguém disse que a viúva é como a casa que está para alugar: há sempre lá dentro alguma coisa esquecida pelo antigo inquilino. Bem vejo, meu filho: o que te desgosta é esse Santos, esse marido, esse inquilino; pois não tens razão. O casamento de Rosalina foi obra dos irmãos – um casamento de conveniência. A pobre rapariga sacrificou-se à felicidade dos seus. O coração entrou ali como Pilatos no Credo. Oito dias depois de casados, os noivos vieram para o Rio de Janeiro. Seis meses depois morreu o marido, mas antes disso teve a boa ideia de chamar um tabelião e fazer testamento em favor dela. Ofereço-te um coração virgem, meu rapaz; aceita-o, e com isso darás muito prazer a teu pai e ao general, teu padrinho, que consultei a esse respeito, e é inteiramente da minha opinião. Rodolfo ergueu-se, espreguiçou-se longamente, e disse, com os braços estendidos, e a boca aberta num horroroso bocejo: – Ora, meu pai, não falemos mais nisso. E não falaram mais nisso. O doutor Sepulveda foi ter com o general, e contou-lhe a relutância do afilhado. – Mas hei de teimar, seu compadre, hei de teimar! – Não teime. Você não arranja nada. Aquele que está ali não se casa nem à mão de Deus Padre. – É o que havemos de ver, seu compadre, é o que havemos de ver...
II Dois dias depois, Rodolfo sentia-se abalado pela insistência paterna, e estava quase disposto a pedir ao doutor Sepulveda que o
apresentasse à viúva Santos, quando o correio urbano lhe trouxe uma carta concebida nos seguintes termos: “Rodolfo – Se não é medroso, esteja amanhã, quinta-feira, às 8 horas da noite, no largo da Lapa, junto ao chafariz. Ali encontrará uma senhora idosa, vestida de preto, com o rosto coberto por um véu. Faça o que ela indicar. Trata-se de sua felicidade.” A carta escrita com letra de mulher, em papel finíssimo, não tinha assinatura, e exalava um delicioso perfume aristocrata. Rodolfo leu-a, releu-a três vezes, e guardou-a cuidadosamente. Ocioso é dizer que a viúva Santos varreu-se inteiramente da sua imaginação, excitada agora pelo misterioso da aventura que lhe propunham. Foi ao largo da Lapa. Por que não havia de ir? Poderia recear uma cilada? Ora! no Rio de Janeiro não há torres de Nesle nem Margaridas de Borgonha. Já lá encontrou a velha, junto do chafariz. Ela foi ao seu encontro, cumprimentou-o, e, dirigindo-se a um coupé estacionado a alguns passos de distância, abriu a portinhola e com um gesto convidou-o a entrar. Rodolfo não hesitou um segundo; entrou; a velha entrou também, e o coupé rodou na direção do Passeio Público. – Aonde vamos? perguntou ele. A velha disse-lhe por gestos que era muda, e abaixou os stores. Rodolfo percebeu que o carro entrou na rua das Marrecas, e dobrou a dos Barbonos; depois não pôde saber ao certo se tomou a rua dos Arcos ou a de Riachuelo. As rodas moviam-se vertiginosamente. De vez em quando dobravam uma esquina. Dez minutos depois, o moço ignorava completamente se se achava em caminho de Botafogo ou de Vila Isabel, da Tijuca ou do Saco do Alferes. Quis levantar um store. A velha opôs-se com um gesto precipitado e enérgico. Ele caiu resignadamente no fundo do carro, e deixou-se levar. Ora, adeus! A viagem durou seguramente uma hora. Quando o coupé estacou, a velha ergueu-se, tirou um lenço da algibeira, e tapou os olhos do moço, que se deixou vendar humildemente, sem proferir uma palavra. Ela ajudou-o a descer, e levou-o pela mão, sempre de olhos tapados, como Raul de Nagis nos Huguenotes. Pelo cascalho que pisava e pelo aroma que sentia, Rodolfo adivinhou que estava num jardim, caminhando em deliciosa alameda. Depois de andar cinco minutos, guiado sempre pela mão encarquilhada da velha, esta murmurou baixinho: – Adeus, seja feliz! – e afastou-se. Ao mesmo tempo, uma voz argentina, uma voz de mulher que parecia vir do alto e soou musicalmente aos seus ouvidos, disse-lhe: – Desvenda-se, Rodolfo. Ele arrancou o lenço dos olhos. Estava efetivamente num jardim, defronte de uma das partes laterais de um belo prédio moderno. A lua, iluminando suavemente aquele magnífi-
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CONTO
co cenário, batia de chofre na sacada em que se achava uma mulher vestida de branco com os cabelos soltos. – Onde estou eu? perguntou ele, e olhou para o horizonte, a ver se algum morro conhecido o orientava. Nada! – nos fundos da casa erguia-se, é verdade, um morro, mas tão próximo e tão alto, que o moço do lugar em que se achava, não lhe podia notar a configuração. – Onde estou eu? repetiu. Por única resposta a mulher de cabelos soltos deixou cair uma escada de seda, cuja extremidade ficou presa à sacada; e Rodolfo subiu por ela com mais presteza do que o faria o próprio Romeu. Ao entrar na alcova, fracamente iluminada pela meia-luz de um bico de gás, ficou
deslumbradíssimo. Estava diante de um prodígio de formosura! O pasmo embargou-lhe a fala; quis soluçar um madrigal, e não teve uma palavra, uma sílaba, um som inarticulado! – Amo-te, disse ela com uma voz que mais parecia um ciciar de brisa; amo-te muito, Rodolfo, e quero que também me ames. – Oh! sim, sim... quem quer que sejas... eu amo-te, e... Uma gargalhada o interrompeu. Era o doutor Sepulveda que entrava na alcova e dava mais luz ao bico de gás. – Meu pai! – Teu pai, sim, meu romântico. Era esse o único meio de te fazer cá vir. Ora aqui tens a viúva Santos. Agora recuas, se és homem!
O casamento ficou definitivamente tratado naquela mesma noite.
III No dia seguinte o doutor Sepulveda, nadando em júbilo, foi ter com o general e contou-lhe tudo. – Então? não lhe dizia, seu compadre? – Ora muito obrigado! respondeu o outro com a sua rude franqueza de velho militar; por esse processo você poderia casá-lo até com a Chica Polka! Extraído de: Contos de Artur Azevedo. Disponível em: <www.dominiopublico.gov.br>.
ARTIGO
Se cumprido, Código Florestal ajudará país a zerar emissões por desmatamento em 2030 Elton Alisson
Amazônia. Só precisa cumprir a que já tem”, disse Gilberto Câmara, pesquisador do Inpe e coordenador do projeto, durante o encontro. Os pesquisadores fizeram projeções sobre como o novo Código Florestal poderá influenciar o uso futuro da terra no país, levando em conta políticas internas e a demanda mundial e nacional por produtos agropecuários brasileiros, além do potencial produtivo de cada região e as restrições ambientais. foto: Leandro Negro/Ag. FAPESP
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Brasil pode zerar em 2030 suas emissões de gases de efeito estufa causadas pelo desmatamento da Amazônia se o Código Florestal for cumprido. A conclusão é de um estudo realizado por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em parceria com colegas dos Institutos de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e Internacional para Análises de Sistemas Aplicados (IIASA, na sigla em inglês), da Áustria, além do Centro para Monitoramento da Conservação Mundial do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP-WCMC). Resultado do projeto REDD-PAC, financiado pela International Climate Initiative, do Ministério do Ambiente da Alemanha, com apoio da Fapesp, por meio do projeto “Land use change in Amazonia: institutional analysis and modeling at multiple temporal and spatial scales”, o estudo foi apresentado durante dois encontros realizados nos dias 6 e 7 de outubro, na sede da Fundação, sobre temas debatidos durante a 21a Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (COP21), realizada em dezembro, em Paris. Os resultados do estudo contribuíram para embasar as metas de redução voluntária de emissões de gases de efeito estufa (INDC, na sigla em inglês) que o Brasil levou à COP21, apresentadas pela presidente Dilma Rousseff no final de setembro, em Nova Iorque, durante a Conferência das Nações Unidas para a Agenda de Desenvolvimento Pós-2015. “O Código Florestal poderá ajudar a zerar as emissões de gases de efeito estufa pelo desmatamento da Amazônia se for cumprido. O Brasil não precisa mais de legislação ambiental para conter o desmatamento da
Estudo apresentado no auditório da Fapesp foi realizado por pesquisadores brasileiros e do exterior e embasa proposta que o país levou à COP21.
Para isso, eles adaptaram um modelo econômico global, chamado GLOBIOM – desenvolvido pela IIASA para fazer projeções de mudanças de uso da terra no mundo causadas pela competição entre agricultura, pecuária e bioenergia –, para construir um mapa de uso da terra no Brasil no ano 2000. O mapa combina informações sobre vegetação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com dados fornecidos pela
Fundação SOS Mata Atlântica, além de mapas de cobertura de terra fornecidos pelo sensor MODIS, do Inpe, e estatísticas de produção agropecuária e de florestas plantadas do IBGE. Com base nessa combinação de dados, o modelo fez projeções do uso da terra no Brasil até 2050. A fim de validar o modelo, os pesquisadores compararam as projeções de taxas de desmatamento e de produção agrícola no Brasil no período de 2000 a 2010 com dados oficiais do IBGE. As diferenças entre os dados do IBGE e as projeções feitas por meio do modelo foram menores do que 10%, afirmou Câmara, que é membro da coordenação do Programa Fapesp de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG). “O Prodes [projeto do Inpe que realiza o monitoramento por satélites do desmatamento por corte raso na Amazônia Legal] calculou que, em 2010, foram desmatados 16,5 milhões de hectares na Amazônia Legal, enquanto o modelo estimou que foram 16,9 milhões de hectares”, comparou.
Projeções até 2050 A fim de estimar como o novo Código Florestal pode influenciar o uso da terra no Brasil entre 2020 e 2050, os pesquisadores fizeram projeções de diferentes cenários. Um dos cenários não considerou a aplicação do Código Florestal. O segundo cenário foi concebido levando em conta a plena aplicação do Código, que estabelece que não poderá haver mais desmatamento ilegal no país e prevê a recuperação de áreas de reserva legal,
ARTIGO assim como o repasse de quotas de reserva ambiental por quem tem mais quotas de florestas do que reserva legal, além da anistia de pequenas fazendas e a obrigatoriedade do cadastro rural ambiental para regularizar as propriedades rurais. Num terceiro cenário, considerou-se que somente produtores agrícolas poderiam comprar quotas de reserva ambiental. O quarto cenário, também com o Código Florestal, foi projetado supondo que somente os pequenos produtores agrícolas teriam que recuperar suas reservas legais. E, no quinto cenário, excluiram-se as quotas de reserva ambiental. As projeções indicaram que, em um cenário de plena aplicação do Código Florestal, o reflorestamento no Brasil poderá chegar a 11 milhões de hectares até 2050. “O número mais conservador seria da ordem de 10 a 12 milhões de hectares recuperados. Não por acaso, foi esse último número que o Brasil apresentou em sua INDC”, disse Câmara. Em relação à produção agropecuária, em todos os cinco cenários projetados a área cultivada no Brasil crescerá nas próximas décadas, saltando de 56 milhões de hectares em 2010 para 92 milhões de hectares em 2030, podendo chegar a 114 milhões de hectares em 2050. Em contrapartida, as terras destinadas à pastagem poderão ter uma diminuição significativa nas próximas décadas, caindo de 10 milhões de hectares em 2030 comparado com 2010 e mais 20 milhões de hectares até 2050, indicaram as projeções. O modelo considerou dados do Ministério da Agricultura que estimam, a cada ano, a redução de, aproximadamente, 1 milhão de hectares destinados à pecuária como consequência da melhoria das práticas e aumento da produtividade. “O Código Florestal e a legislação ambiental não são fatores limitantes ao crescimento da agropecuária brasileira”, avaliou Câmara. De acordo com as projeções, a aplicação plena do Código Florestal também poderá con-
tribuir para uma maior redução das emissões totais de gases de efeito estufa pelo Brasil. A combinação de reflorestamento com redução do desmatamento, por força do Código Florestal, poderá fazer com que as emissões por desmatamento no Brasil cheguem a 110 milhões de toneladas de CO2 em 2030 – uma queda de 92% em relação a 2000 quando dois terços das emissões de CO2 do país eram provenientes, principalmente, do desmatamento da Amazônia. Com isso, o país passaria a zerar suas emissões por desmatamento a partir de 2030, apontou Câmara. “A redução do desmatamento está comprando o tempo para o Brasil tornar sua matriz energética mais limpa e conseguir descarbonizar sua economia. A diminuição das emissões de gases de efeito estufa pelo país depende, agora, do uso de combustíveis renováveis, e não mais da Amazônia”, avaliou Câmara.
Matriz energética Na avaliação de Glaucia Mendes Souza, professora do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP) e membro da coordenação do Programa Fapesp de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN), a meta estipulada na INDC brasileira de aumentar a participação da bioenergia na matriz energética brasileira para, aproximadamente, 18% até 2030, com o objetivo de diminuir as emissões do setor de energia, é muito conservadora e pouco ambiciosa. “Só de etanol de cana-de-açúcar o Brasil já produz 18% e estamos com um potencial ocioso no setor, com várias usinas falindo por terem se endividado com a sinalização de que o etanol poderia aumentar sua participação na matriz energética brasileira”, disse Souza durante um workshop sobre a COP21 para jornalistas, realizado no dia 6 de outubro, na Fapesp. “Não há desculpa para o Brasil, país reconhecido como pioneiro no uso de bioenergia, não estar usando mais combustível renová-
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vel – principalmente etanol de cana-de-açúcar – em sua matriz energética”, afirmou.
Biodiversidade O estudo coordenado por Câmara também avaliou o impacto da implantação do novo Código Florestal na diminuição da perda de biodiversidade no Brasil. De acordo com as projeções dos pesquisadores, o Código pode contribuir para reduzir o número de espécies ameaçadas no Brasil e de perda de hábitats. As principais áreas sob ameaça de perda de hábitats, segundo o estudo, são a Caatinga – que poderá perder até 2050 mais de 51% de suas florestas intocadas e importantes para biodiversidade, mas que atualmente não estão protegidas – e o Cerrado, que poderá perder mais de 20% de sua área total também de grande importância para a biodiversidade, aponta o estudo. “Temos muito mais incertezas do que certezas em relação a como a biodiversidade, em toda a sua complexidade, será afetada pelas mudanças climáticas”, disse Luciano Verdade, professor da USP e membro da coordenação do Programa Fapesp de Pesquisas em Caracterização, Conservação, Restauração e Uso Sustentável da Biodiversidade (BIOTA), durante o evento sobre a COP21 realizado na Fapesp no dia 7 de outubro. “Mas já sabemos que não só as mudanças climáticas, como também o uso da terra, causam alterações no padrão de distribuição e de abundância de espécies selvagens. O que é difícil avaliar, ainda, são os impactos da interação desses dois fatores – as mudanças climáticas e de uso da terra – na biodiversidade”, afirmou Verdade. O relatório “Modelling land use changes in Brazil: 2000-2050”, resultado do projeto REDD-PAC, pode ser acessado em <www. redd-pac.org>. Adaptado de: Agência FAPESP – Divulgando a cultura científica, out./2015.
Estudo estima eficiência em campo de insetos que parasitam pragas agrícolas Elton Alisson
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m grupo de mais de 30 espécies de vespas do gênero Trichogramma é um dos mais utilizados hoje no mundo em programas de controle biológico por países que são grandes produtores agrícolas, como o Brasil, para combater pragas que atacam culturas como cana-de-açúcar, milho, soja, algodão e tomate. Contudo, a avaliação do desempenho em campo de linhagens de uma mesma espécie dessas vespas, que parasitam mais de 200 es-
pécies de pragas da ordem Lepidoptera – como as lagartas que atacam as lavouras –, é difícil em razão de seu tamanho, de aproximadamente 0,5 milímetro. O tamanho diminuto e o fato de serem parasitoides impossibilitam, por exemplo, marcá-las com um corante antes de serem liberadas em uma lavoura, para verificar posteriormente se fixaram, se dispersaram pela plantação e se estão controlando uma determinada praga que se deseja eliminar.
Pesquisadores da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), em colaboração com colegas da University of California em Riverside, nos Estados Unidos, conseguiram superar essa barreira ao estimar o sucesso em campo da liberação de linhagens de vespas Trichogramma pretiosum Riley, usada largamente no Brasil para controlar pragas da soja e do tomate, usando uma técnica de biologia molecular.
ARTIGO
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Resultado de uma pesquisa de doutorado realizada com bolsa da Fapesp, a aplicação do método foi descrita em um artigo publicado na revista PLoS One. “A técnica de biologia molecular que usamos para estimar o desempenho em campo de linhagens de Trichogramma pretiosum Riley talvez possa ser usada em outras espécies de Trichogramma”, disse Aloisio Coelho Junior, autor da pesquisa, à Agência FAPESP. De acordo com ele, que realizou a pesquisa sob orientação do professor José Roberto Postali Parra, da Esalq-USP, a técnica consiste no uso de fragmentos do DNA mitocondrial como marcadores genéticos para diferenciar linhagens de Trichogramma pretiosum Riley e estimar as que podem ter melhor ou pior desempenho em campo. Para desenvolver a técnica, os pesquisadores sequenciaram e classificaram por meio de um método de análise de laboratório chamado PCR de tempo real os pares de base do DNA mitocondrial das linhagens de Trichogramma pretiosum Riley. Ao fazer isso, observaram que as linhagens apresentavam uma diferença muito nítida em um fragmento da CO1 – gene do DNA mitocondrial –, que possuíam três “tipos raros”, com potencial de serem usados como marcadores genéticos. Com base nessa constatação, eles criaram, por meio de uma série de cruzamentos, 45 linhagens diferentes dos três “tipos” mitocondriais de Trichogramma pretiosum Riley, sendo 15 de cada tipo mitocondrial. “Criamos linhagens puras, marcadas com esses fragmentos de DNA mitocondrial”, explicou Aloisio.
Teste em campo As 45 linhagens do inseto foram classificadas em três categorias – melhor, intermediário e pior –, de acordo com o tamanho médio de sua prole e a proporção de descendentes do sexo feminino, que são fatores determinantes para desempenho do inseto no ataque às pragas agrícolas. A fim de avaliar se os fragmentos de DNA mitocondrial das células do Trichogramma pretiosum Riley poderiam ser usadas como marcadores do inseto para analisar seu desem penho em campo, os pesquisadores fizeram um experimento em que lançaram linhagens de cada uma das três categorias do inseto
com perfis diferentes de DNA mitocondrial em uma plantação de milho para quantificar o quanto eram capazes de parasitar ovos da praga Ephestia kuehniella, conhecida popularmente como traça da farinha. Para isso, eles distribuíam pelo milharal cartelas com ovos da praga e liberavam em um ponto central da plantação as diferentes linhagens de Trichogramma pretiosum Riley previamente classificadas em laboratório de acordo com suas características reprodutivas, sendo que cada uma possuía um “tipo” mitocondrial diferente. Um dia após o lançamento, eles recolhiam as cartelas com os ovos da traça da farinha, traziam para o laboratório e esperavam emergir o Trichogramma pretiosum Riley que parasitou o ovo. Por meio de uma análise com PCR em tempo real, os pesquisadores analisavam o DNA mitocondrial do inseto parasitoide e identificavam a qual linhagem liberada em campo seu perfil da CO1 correspondia. Dessa forma, conseguiram verificar quais parasitaram mais e produziam mais prole no campo, por exemplo. “O DNA mitocondrial serviu como uma espécie de impressão digital do inseto”, comparou Aloisio. Os resultados das análises de DNA mitocondrial indicaram que as linhagens que apresentaram melhor desempenho em laboratório, em termos de fecundidade e proporção de ma-
chos e fêmeas na prole, também foram as que demonstraram maior êxito no parasitismo em campo. Com isso, constataram que a seleção em laboratório demonstrou ser um bom preditor do sucesso de Trichogramma pretiosum Riley em campo e que os marcadores mitocondriais representam uma boa forma de marcação de linhagens de parasitoides. “Essa técnica de marcação pode ser bastante útil para a seleção de melhores linhagens de Trichogramma por biofábricas [empresas que produzem parasitoides para controle biológico]”, avaliou Aloisio. As biofábricas produzem Trichogramma em ovos de mariposa parasitados pelo inseto a partir da seleção de linhagens que demonstram melhor desempenho parasitário em laboratório. Em razão da falta de um marcador, é difícil avaliar se uma espécie de Trichogramma encontrada em uma determinada lavoura foi liberada pelo agricultor ou já estava presente nela e verificar se uma linhagem que apresenta um desempenho ruim em laboratório pode reverter esse quadro em campo, ou até mesmo definir o raio de ação do parasitoide, exemplificou Aloisio. “Por meio dessa técnica de marcação é possível realizar diversos experimentos para responder a essas e outras questões”, avaliou. Extraído de: Agência FAPESP – Divulgando a cultura científica, fev./2016.
(ENTRE PARÊNTESIS)
Promoção de sorvetes Em um determinado verão, uma fábrica de sorvetes trocava 10 palitos de sorvete por 1 sorvete de palito. Que fração do valor do sorvete (sem palito) é o valor do palito?
RESPOSTA
Sejam S o valor do sorvete sem o palito e P o valor do palito. Como 10 palitos nos dão um sorvete com palito, temos: P 1 = S 9 10P = 1(P + S ) + 9P = S +
POIS É, POESIA
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Olavo Bilac (1865-1918) Nel Mezzo Del Camin...
C heguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha, Tinhas a alma de sonhos povoada, E a alma de sonhos povoada eu tinha... E paramos de súbito na estrada Da vida: longos anos, presa à minha A tua mão, a vista deslumbrada Tive da luz que teu olhar continha. Hoje, segues de novo... Na partida Nem o pranto os teus olhos umedece, Nem te comove a dor da despedida. E eu, solitário, volto a face, e tremo, Vendo o teu vulto que desaparece Na extrema curva do caminho extremo.
O Julgamento de Frineia
M nezarete, a divina, a pálida Frineia,
Comparece ante a austera e rígida [assembleia Do Areópago supremo. A Grécia inteira [admira Aquela formosura original, que inspira E dá vida ao genial cinzel de Praxíteles, De Hiperides à voz e à palheta de Apeles. Quando os vinhos, na orgia, os convivas [exaltam E das roupas, enfim, livres os corpos saltam, Nenhuma hetera sabe a primorosa taça, Transbordante de Cós, erguer com maior [graça, Nem mostrar, a sorrir, com mais gentil [meneio, Mais formoso quadril, nem mais nevado seio.
Estremecem no altar, ao contemplá-la, os [deuses, Nua, entre aclamações, nos festivais de [Elêusis... Basta um rápido olhar provocante e lascivo: Quem na fronte o sentiu curva a fronte, [cativo... Nada iguala o poder de suas mãos pequenas: Basta um gesto, – e a seus pés roja-se [humildeAtenas... Vai ser julgada. Um véu, tornando inda [mais bela Sua oculta nudez, mal os encantos vela, Mal a nudez oculta e sensual disfarça. Cai-lhe, espáduas abaixo, a cabeleira [esparsa... Queda-se a multidão. Ergue-se Eutias. Fala, E incita o tribunal severo a condená-la: “Elêusis profanou! É falsa e dissoluta, Leva ao lar a cizânia e as famílias enluta! Dos deuses zomba! É ímpia! é má!” (E o [pranto ardente Corre nas faces dela, em fios, lentamente...) “Por onde os passos move a corrupção se [espraia, E estende-se a discórdia! Heliastes! [condenai-a!” Vacila o tribunal, ouvindo a voz que o [doma... Mas, de pronto, entre a turba Hiperides [assoma, Defende-lhe a inocência, exclama, exora, [pede,
Suplica, ordena, exige... O Areópago não [cede. “Pois condenai-a agora!” E à ré, que treme, [a branca Túnica despedaça, e o véu, que a encobre, [arranca... Pasmam subitamente os juízes [deslumbrados, – Leões pelo calmo olhar de um domador [curvados: Nua e branca, de pé, patente à luz do dia Todo o corpo ideal, Frineia aparecia Diante da multidão atônita e surpresa, No triunfo imortal da Carne e da Beleza.
Língua Portuguesa
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura: Ouro nativo, que na ganga impura A bruta mina entre os cascalhos vela... Amo-te assim, desconhecida e obscura, Tuba de alto clangor, lira singela Que tens o trom e o silvo da procela, E o arrolo da saudade e da ternura! Amo o teu viço agreste e o teu aroma De virgens selvas e de oceano largo! Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: “meu [filho!” E em que Camões chorou, no exílio [amargo, O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
Biografia Olavo Braz Martins dos Guimarães Bilac nasceu e morreu no Rio de Janeiro. Estudos regulares na terra natal até o quarto ano da Faculdade de Medicina. Tentou estudar Direito em São Paulo, mas desistiu. Acabou no Rio se tornando funcionário público e jornalista, ao lado de sua atividade de poeta. Liderou algumas campanhas cívicas, como a do serviço militar e da educação física. Como nacionalista e patriota, escreveu alguns contos para crianças e a letra do Hino à Bandeira. Eleito Príncipe dos Poetas Brasileiros, aposentou-se como inspetor escolar. Conferencista, colaborou na imprensa não só como poeta, mas como um dos cronistas mais festejados da época. Síntese crítica – O mais lido dos poetas parnasianos, consagrado ainda em vida. Olavo Bilac tinha a habilidade da versificação, o domínio da língua e a paixão pelo equilíbrio formal. Para os críticos mais exigentes, os malabarismos verbais e o gosto pela forma acabaram dando em poesia superficial, com os problemas humanos e sociais em segundo plano. Como “arqueólogo” da língua, um parnasiano puro, Olavo Bilac, quando se dedicou à poesia de cunho patriótico ou à poesia amorosa, foi mais sensível diante do homem como ser problemático. Foi como sonetista que ficou mais conhecido, equiparado a Camões e a Bocage. Para o crítico Antônio Soares Amora, a obra poética de Olavo Bilac é “de refinado acabamento formal e do mais alto valor estético; com justiça o consideram, críticos nacionais e estrangeiros, um dos mais altos valores da poesia em língua portuguesa”. Assis Brasil.
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SOBRE AS PALAVRAS
Entrar com o pé direito A expressão “entrar com o pé direito” surgiu no Império Romano e significa começar bem, dar sorte. Na ocasião de grandes festas, os romanos acreditavam que se entrassem com o pé direito evitariam o agouro. A palavra esquerdo significa, em latim, sinistro. Foi a partir daí que a crença se espalhou por todo o mundo.
SERVIÇO DE VESTIBULAR Pontifícia Universidade Católica – Paraná (PUC-PR) Período de inscrição: até dia 26 de maio de 2016. Somente via internet. Endereço da faculdade: rua Imac. Conceição, 1 155 – Prado Velho – Curitiba – PR – CEP: 80215-901 – Telefone: (41) 3271-1555. Requisito: taxa de R$ 110,00. Cursos e vagas: consultar site www.vestibular.pucpr.br Exame: dia 05 de junho de 2016. Leituras obrigatórias: • Contos de Belazarte – Mário de Andrade. • Dom Casmurro – Machado de Assis. • Felicidade clandestina – Clarice Lispector. • Inocência – Visconde de Taunay. • Muitas vozes – Ferreira Gullar. • O pagador de promessas – Dias Gomes. • São Bernardo – Graciliano Ramos.
Pontifícia Universidade Católica – Minas Gerais (PUC-MG) Período de inscrição: até dia 24 de maio de 2016. Somente via internet. Endereço da faculdade: av. Dom José Gaspar, 500 – Coração Eucarístico – Belo Horizonte – MG – CEP: 30535-901 – Telefone: (31) 3319-4444. Requisito: taxa de R$ 105,00. Cursos e vagas: consultar site www.pucminas.br Exame: dia 12 de junho de 2016.
Pontifícia Universidade Católica – Rio de Janeiro (PUC-RJ) Período de inscrição: até dia 31 de maio de 2016. Somente via internet. Endereço da faculdade: rua Marquês de São Vicente, 225 – Gávea – Rio de Janeiro – RJ – CEP: 22451-900 – Telefone: (21) 3527-1000. Requisito: taxa de R$ 170,00. Cursos e vagas: consultar site www.puc-rio.br/vestibular Exame: dia 19 de junho de 2016.
Pontifícia Universidade Católica – Rio Grande do Sul (PUC-RS) Período de inscrição: até dia 27 de maio de 2016. Endereço da faculdade: av. Ipiranga, 6 681 – Partenon – Porto Alegre – RS – CEP:
90619-900 – Telefone: (51) 3320-3557. Requisito: taxa de R$ 100,00. Cursos e vagas: consultar site www.pucrs.br Exames: dias 11 e 12 de junho de 2016.
Pontifícia Universidade Católica – São Paulo (PUC-SP) Período de inscrição: até dia 09 de junho de 2016. Somente via internet. Endereço da faculdade: rua Monte Alegre, 984 – Perdizes – São Paulo – SP – CEP: 05014-901 – Telefone: (11) 3670-8000. Requisito: taxa de R$ 80,00. Cursos e vagas: consultar site www.vestibular.pucsp.br Exame: dia 19 de junho de 2016. Leituras obrigatórias: • A cidade e as serras – Eça de Queirós. • Memórias de um sargento de milícias – Manuel Antônio de Almeida. • Memórias póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis. • Sentimento do mundo – Carlos Drummond de Andrade. • Vidas secas – Graciliano Ramos.
Instituto Federal Fluminense (IFF) Período de inscrição: até dia 25 de maio de 2016. Somente via internet. Endereço da faculdade: rua Dr. Siqueira, 273 – Parque Dom Bosco – Campos dos Goytacazes – RJ – CEP: 28030-131 – Telefone: (22) 2726-2800. Requisito: taxa de R$ 50,00. Cursos e vagas: consultar site www.inscricoes.iff.edu.br Exames: • 1a Fase: dia 26 de junho de 2016. • 2a Fase: dia 14 de agosto de 2016.
Instituto Federal Minas Gerais (IFMG) Período de inscrição: até dia 06 de junho de 2016. Somente via internet. Endereço da faculdade: av. Prof. Mário Werneck, 2 590 – Buritis – Belo Horizonte – MG – CEP: 30575-180 – Telefone: (31) 2513-5132. Requisito: taxa de R$ 50,00 para candidatos a cursos técnicos e de R$ 70,00 para os de nível superior.
Jornal do Vestibulando
Cursos e vagas: consultar site www.ifmg.edu.br/vestibular Exame: dia 03 de julho de 2016. Leituras obrigatórias: • A normalista – Adolfo Caminha.
Universidade de Caxias do Sul (UCS) Período de inscrição: até dia 05 de junho de 2016. Somente via internet. Endereço da faculdade: rua Francisco Getúlio Vargas, 1 130 – Petrópolis – Caxias do Sul – RS – CEP: 95070-560 – Telefone: (54) 3218-2100. Requisito: taxa de R$ 170. Cursos e vagas: consultar site www.ucs.br Exame: dia 26 de junho de 2016.
Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) Período de inscrição: até dia 02 de junho de 2016. Endereço da faculdade: av. Independência, 2 293 – Bairro Universitário – Santa Cruz do Sul – RS – CEP: 96815-900 – Telefone: (51) 3717-7300. Requisito: taxa de R$ 70,00. Cursos e vagas: consultar site www.unisc.br Exame: dia 11 de junho de 2016.
Fundação Educacional Inaciana “Pe. Sabóia de Medeiros” (FEI) Período de inscrição: até dia 1o de junho de 2016. Somente via internet. Endereço da faculdade: av. Humberto de Alencar Castelo Branco, 3 972 – Assunção – São Bernardo do Campo – SP – CEP: 09850-901 – Telefone: (11) 4353-2900. Requisito: taxa de R$ 90,00. Cursos e vagas: consultar site www.fei.edu.br Exames: dias 11 e 12 de junho de 2016.
Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG) Período de inscrição: até dia 22 de maio de 2016. Somente via internet. Endereço da faculdade: rua Humberto Mallard, 1 355 – Santos Dumont – Pirapora – MG – CEP: 39270-000 – Telefone: (38) 3749-6950. Requisito: taxa de R$15,00. Cursos e vagas: consultar site www.ifnmg.edu.br/vestibular Exame: dia 19 de junho de 2016.
Jornal ETAPA, editado por Etapa Ensino e Cultura REDAÇÃO: Rua Vergueiro, 1 987 – CEP 04101-000 – Paraíso – São Paulo – SP JORNALISTA RESPONSÁVEL: Egle M. Gallian – M.T. 15343