Jornal do Vestibulando - 1514

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Jornal do Vestibulando

ENSINO, INFORMAÇÃO E CULTURA

JORNAL ETAPA – 2016 • DE 16/06 A 29/06

ENTREVISTA

Entrou em Direito-USP. Pela Fuvest em 75o lugar e pelo Enem em 10o lugar. Thais de Lima Dantas entrou na São Francisco tanto pelo Enem quanto pela Fuvest. Ela fez o cursinho junto com o Ensino Médio e curso técnico em Informática, mas sua preferência era pela área de Humanas. Escolheu Direito. Aqui ela conta como se preparou para os vestibulares, fala de seus primeiros tempos na faculdade e diz que o cursinho foi um divisor de águas na sua vida.

Thais de Lima Dantas Em 2015: Etapa Em 2016: Direito – USP

JV – Como foi a escolha da carreira de Direito? Thais – Sempre me identifiquei bastante com Humanas. Mas no Ensino Médio ain­ da estava um pouco indecisa entre Enge­ nharia da Computação e alguma carreira de Humanas. Fiz curso técnico em Informática da Federal, vi que não era para mim. Acabei indo para Humanas e, nessa área, a carrei­ ra que eu mais gostei foi Direito. No Painel das Profissões, que teve aqui no Etapa no ano passado, eu conversei com o pessoal do Mackenzie e da USP e decidi de vez.

Além da Fuvest, você prestou outros vestibulares? Prestei Unicamp para Economia e fiz o Enem. Passei na USP pelo Enem e pela Fuvest. Pelos dois. Como a matrícula pelo Sisu era antes, acabei entrando pelo Enem. Minha vaga na Fuvest ficou para outra pessoa.

Como era sua rotina de estudos? Assistia a todas as aulas no cursinho, ia para o colégio e à noite estudava as matérias do Etapa em casa, até 10 e meia. Às vezes, fica­ va no colégio estudando com o pessoal até umas 9 horas.

Você fez reforço para Humanas?

Sim. No meio do ano, quando bateu o can­ saço, estudava menos, uma, duas horas por dia. Mas quando foi chegando a época dos vestibulares eu peguei um gás mesmo.

Como o reforço ajudou?

Como era seu método de estudo? Eu priorizava as matérias em que eu tinha mais dificuldade.

Em quais matérias você tinha mais dificuldades?

Por que prestou Economia na Unicamp? Era minha outra opção. Se não passasse em nada, cogitaria ir para a Unicamp.

Quais eram as matérias em que você tinha mais facilidade?

Como estava o seu ânimo no começo do ano passado?

Humanas em geral. Inglês, porque tinha feito curso antes. Incrivelmente, algumas partes de Física, tinha facilidade em fazer os exercícios.

ENTREVISTA

Thais de Lima Dantas CONTO Tempo da camisolinha – Mário de Andrade

A própria Física. No colégio eu não curtia muito. Matemática e Química também. Pas­ sei a gostar muito de Química.

Pais & filhos SOBRE AS PALAVRAS

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ARTIGO

A arte medieval e a arte renascentista

Você passou a gostar de alguma matéria no cursinho?

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“Bater as botas”

Sim, fiz o JADE nos sábados de manhã. O JADE me ajudou muito porque pegava coi­ sas que a gente não tinha tido tempo de ver durante as aulas. As aulas durante a semana são mais expositivas, os professores passam mais o conteúdo, a matéria. O JADE é bem focado em exercícios e isso foi muito bom.

No sábado à tarde você continuava estudando? Eu fazia os simulados. Quando não tinha si­ mulado, ia para o Plantão de Dúvidas. Levava as dúvidas que tinha acumulado durante a semana. Ficava aqui até umas 4 horas.

Durante a semana você chegava a consultar o Plantão? Às vezes tinha as duas primeiras aulas vagas no colégio e então ficava aqui no Plantão.

Em que matérias o Plantão mais ajudou você? Toda semana eu levava minhas redações aos plantonistas. As dicas que eles dão são mui­ to boas, valem muito. Em Matemática tam­ bém eu ia bastante.

MAS, MÁS, MAIS

ENTRE PARÊNTESIS

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O trabalho de conclusão de curso me tomou bastante tempo. Outra dificuldade foi a cor­ reria. Não dava tempo de almoçar, tinha que levar marmita, comia rapidinho antes da aula.

Conseguiu manter esse ritmo até o fim do ano?

Matemática, na parte de Geometria Espacial. Não conseguia enxergar direito as figuras. Era mais essa parte. E um pouco em Química.

Entrei no Etapa com gás total. Fazia tudo que os professores pediam, tudo. Levava muito a sério. Durante o ano inteiro foi assim. Mas perto do meio do ano bateu um pouco o can­ saço. Acho que é normal. O grande problema foi realmente conciliar o colégio com o Etapa.

Quais foram as principais dificuldades que você enfrentou no ano passado?

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Distância SERVIÇO DE VESTIBULAR

Inscrições

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ENTREVISTA

Como você treinava Redação? Acho que fiz todas as redações das apostilas. Eu fazia redação toda semana. Quando foi chegando a época do Enem eu fazia todo dia. Treinando Redação você vai vendo onde pode melhorar. Seu vocabulário vai ficando melhor.

Em que faixa você ficava nos simulados? C mais. Uma vez ou outra, principalmente nas redações, eu ficava no B. Nunca tirei A. No começo do ano tirava muitos C menos. Fui evoluindo, no final do ano tirava C mais, B.

Você leu os livros indicados pela Fuvest como obrigatórios?

No segundo dia é a prova geral, com sete matérias. Você tirou quanto?

do do Direito, Teoria Geral do Direito Penal e Economia Política.

Com todo mundo que conversei foi um con­ senso, foi a prova mais difícil. Mais difícil que o terceiro dia. Tirei 51,56. Saí da prova sabendo que não tinha ido bem.

De qual matéria você está gostando mais?

Como foi no terceiro dia, das prioritárias – Matemática, História e Geografia? Fui bem em História e Geografia, mas Ma­ temática me pegou. Também estava muito difícil. Caíram análise combinatória e geo­ metria, onde estavam minhas maiores difi­ culdades. Tirei 56,25.

Li todos. Não assisti a todas as palestras de Literatura, mas vi tudo pela internet, até as que eu já tinha assistido no cursinho.

Na escala de zero a 1 000, qual foi sua pontuação?

O que as palestras acrescentam?

E sua classificação na carreira?

Nas palestras os professores enfocam os as­ suntos mais cobrados, que você até lê e às vezes passam desapercebidos. Nas provas, dificilmente um examinador vai cobrar enre­ do. Geralmente cai uma questão de contexto, interpretação. As palestras ajudaram.

O que você fez nas férias do meio do ano? Tirei uma semana de folga, para descansar. Na outra semana estudei, fazendo exercí­ cios, para voltar ao cursinho já no pique.

Em qual vestibular você achava que tinha mais chance de ser aprovada? Achava que entrar pelo Enem seria mais difí­ cil que passar pela Fuvest. São menos vagas e a concorrência é muito alta. Sempre acre­ ditei mais na Fuvest. Na Unicamp também, mas a Unicamp não era muito minha opção.

Você foi aprovada para a São Francisco pelo Enem e pela Fuvest. Qual foi seu desempenho no Enem? Minha média final no Enem ficou em 757,68. Tirei 960 na Redação.

Você fez alguma preparação específica para o Enem? Eu me preparei fazendo as apostilas com exercícios do Enem. Quando via que não ia ter tempo para fazer todos os exercícios de uma apostila, aí pegava Fuvest e Unicamp. É difícil alguém ir bem na Fuvest e não ir bem no Enem.

Na Fuvest você fez quantos pontos na 1a fase? Com bônus fiz 72 [corte foi 59].

Foi conforme seu resultado nos simulados? Os simulados eram bem mais difíceis que a prova. Fui melhor na Fuvest.

Para a 2a fase você mudou alguma coisa em seu método de estudos? Foquei bem mais em Humanas, zerei o ca­ derno de História.

E Matemática, que também é prioritária para a São Francisco? Também foquei muito em Matemática. Sa­ bia que poderia ser meu diferencial.

Quais foram suas notas na 2a fase? Primeiro dia, prova com questões de Português e Redação. Tirei 66,5 na prova. A nota de Redação foi 83. Redação foi uma surpresa.

722,9 pontos. 75º lugar pela Fuvest. Pelo Enem entrei em 10º lugar. Havia 47 vagas na São Francisco oferecidas pelo Sisu.

Como você soube de suas aprovações para a São Francisco? O resultado pelo Enem saiu no dia 18 de janeiro. O resultado na Fuvest eu vim ver no Etapa, no dia da lista. Foi uma expectativa como se eu não tivesse passado ainda. Vim e peguei a camiseta.

Como você reagiu nas duas ocasiões? Foram sensações diferentes porque na mi­ nha opinião o nível de dificuldade na Fuvest é muito maior. Quando vi que também tinha passado na Fuvest foi uma sensação de de­ ver cumprido. Dei o meu melhor e deu certo no final. Tanto no Enem quanto na Fuvest, quando vi os resultados, meio que passou um filme na minha cabeça, toda a correria que tive. Você quer gritar, quer extravasar, mas ao mesmo tempo quer chorar. É um misto de emoções incríveis. Como um pro­ fessor do Etapa disse, talvez essa seja a pri­ meira vez que você conquista alguma coisa por você mesmo. É lógico que tem a ajuda dos professores, da família e tudo mais, mas é uma sensação única. É sua vitória.

Você já conhecia a São Francisco? Quando vinha para o Etapa de ônibus eu passava em frente. Eu olhava e falava, vou entrar, vou entrar. Vir de ônibus era uma es­ pécie de incentivo. Achava muito bonita e realmente é muito bonita. Mais bonita por dentro do que por fora. E via também todos os professores renomados que saíram de lá, juristas. É um consenso entre os alunos que a história do Brasil se confunde com a história da São Francisco.

Como foi a matrícula? No dia do Sisu eu fui com minha mãe, foi na Cidade Universitária.

Não foi na São Francisco? Não. Foi legal até para conhecer a Cidade Uni­ versitária. O pessoal da São Francisco estava lá, me pintaram toda, muito legal. E no dia da Fuvest não ia fazer a matrícula, mas fui tam­ bém. A bateria da São Francisco estava lá.

O que você tem de matérias neste primeiro semestre? Sete matérias. Teoria Geral do Direito Priva­ do, Direito Romano, Teoria Geral do Estado, Direito Constitucional, Introdução ao Estu­

Uma matéria que é difícil um estudante de Direito não gostar é Direito Penal. Todo mundo se apaixona por Direito Penal. É uma matéria muito dinâmica. Mas eu parti­ cularmente gosto muito de Direito Privado, que é o Direito Civil.

Que matéria está sendo mais difícil? Teoria Geral do Estado, não só pelos pro­ fessores, que costumam ser muito rígidos. A matéria é bem técnica mas é bem legal também.

O que mais chamou sua atenção na São Francisco? A escola é linda, fantástica. Você acha tudo bonito. Biblioteca, salão nobre, as arcadas, o pátio. Na parte humana, os veteranos são muito acolhedores, tratam bem todo mundo. As extensões incluem pessoas que têm coisas semelhantes a você, acho isso muito bacana. Para quem gosta de festas é festa direto. Viajar também, o pessoal vai para campeonatos. Tem espaço para todos na faculdade. O departamento jurídico do XI de Agosto atende pessoas carentes – você já vai lidando com isso desde o 1º ano.

Você participa de outras atividades além das aulas? Existe tanta coisa para fazer que você fica até na dúvida. Estou participando do jornal Arcadas, sou editora da parte de política. No se­ gundo semestre pretendo dar aulas no Arca­ das Vestibulares, que usa o material do Etapa.

Hoje você se imaginaria cursando outra carreira? Eu me apaixonei pelo Direito. Não me ima­ gino em outra carreira. Tudo que aprende na aula você vai pondo em prática. O Direito é uma carreira que abre sua mente.

Como fica marcado para você o ano passado? Eu falo do Etapa para todo mundo. Lembro do cursinho com muita emoção, tenho um carinho muito especial pelo Etapa. Acho que foi um divisor de águas na minha vida. Faria de novo quantas vezes fosse necessário. O Etapa me abriu muitas portas, os professo­ res foram fantásticos, todos muito atencio­ sos, educados. Os plantonistas também.

Você já sabe qual área gostaria de seguir na carreira? Ainda é cedo, mas me interesso pela ma­ gistratura. Direito Tributário é uma área que alguns primos que fizeram Direito seguem e dizem que é muito legal. E estou gostan­ do bastante de Direito Civil. Está em aberto.

O que mais você quer dizer aos nossos alunos? Eu diria para seguir em frente, não desis­ tir. Vai bater o cansaço, você vai ficar triste algumas vezes por não estar fazendo algu­ mas coisas que queria, mas isso é normal. Depois que você entra na universidade é outra coisa. Siga seu sonho, vá até o final que vale muito a pena. E aproveite cada minuto, dos professores, do ambiente, por­ que aqui é muito legal. Tenho um carinho muito grande por este lugar.


CONTO

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Tempo da camisolinha Mário de Andrade

A

feiúra dos cabelos cortados me fez mal. Não sei que noção prematura de sordidez dos nossos atos, ou exatamente, da vida, me veio nessa experiência da minha primeira infância. O que não pude esquecer, e é minha recordação mais antiga, foi, dentre as brincadeiras que faziam comigo para me desemburrar da tristeza em que ficara por me terem cortado os cabelos, alguém, não sei mais quem, uma voz masculina falando: “Você ficou um homem, assim!” Ora eu tinha três anos, fui tomado de pavor. Veio um medo lancinante de já ter ficado homem naquele tamanhinho, um medo medonho, e recomecei a chorar. Meus cabelos eram muito bonitos, dum negro quente, acastanhado nos reflexos. Caíam pelos meus ombros em cachos gordos, com ritmos pesados de molas de espiral. Me lembro de uma fotografia minha desse tempo, que depois destruí por uma espécie de polidez envergonhada... Era já agora bem homem e aqueles cabelos adorados na infância, me pareceram de repente como um engano grave, destruí com rapidez o retrato. Os traços não eram felizes, mas na moldura da cabeleira havia sempre um olhar manso, um rosto sem marcas, franco, promessa de alma sem maldade. De um ano depois do corte dos cabelos ou pouco mais, guardo outro retrato tirado junto com Totó, meu mano. Ele, quatro anos mais velho que eu, vem garboso e completamente infantil numa bonita roupa marinheira; eu, bem menor, inda conservo uma camisolinha de veludo, muito besta, que minha mãe por economia teimava utilizar até o fim. Guardo esta fotografia porque si ela não me perdoa do que tenho sido, ao menos me explica. Dou a impressão de uma monstruosidade insubordinada. Meu irmão, com seus oito anos é uma criança integral, olhar vazio de experiência, rosto rechonchudo e lisinho, sem caráter fixo, sem malícia, a própria imagem da infância. Eu, tão menor, tenho esse quê repulsivo do anão, pareço velho. E o que é mais triste, com uns sulcos vividos descendo das abas voluptuosas do nariz e da boca larga, entreaberta num risinho pérfido. Meus olhos não olham, espreitam. Fornecem às claras, com uma facilidade teatral, todos os indícios de uma segunda intenção. Não sei por que não destruí em tempo também essa fotografia, agora é tarde. Muitas vezes passei minutos compridos me contemplando, me buscando dentro dela. E me achando. Comparava-a com meus atos e tudo eram confirmações. Tenho certeza que essa fotografia me fez imenso mal, porque me deu muita preguiça de reagir. Me proclamava demasiadamente em mim e afogou meus possíveis anseios de perfeição. Voltemos ao caso que é milhor. Toda a gente apreciava os meus cabelos cacheados, tão lentos! e eu me envaidecia deles, mais que isso, os adorava por causa

dos elogios. Foi por uma tarde, me lembro bem, que meu pai suavemente murmurou uma daquelas suas decisões irrevogáveis: “É preciso cortar os cabelos desse menino.” Olhei de um lado, de outro, procurando um apoio, um jeito de fugir daquela ordem, muito aflito. Preferi o instinto e fixei os olhos já lacrimosos em mamãe. Ela quis me olhar compassiva, mas me lembro como si fosse hoje, não aguentou meus últimos olhos de inocência perfeita, baixou os dela, oscilando entre a piedade por mim e a razão possível que estivesse no mando do chefe. Hoje, imagino um egoísmo grande da parte dela, não reagindo. As camisolinhas, ela as conservaria ainda por mais de ano, até que se acabassem feitas trapos. Mas ninguém percebeu a delicadeza da minha vaidade infantil. Deixassem que eu sentisse por mim, me incutissem aos poucos a necessidade de cortar os cabelos, nada: uma decisão à antiga, brutal, impiedosa, castigo sem culpa, primeiro convite às revoltas íntimas: “é preciso cortar os cabelos desse menino”. Tudo o mais são memórias confusas ritmadas por gritos horríveis, cabeça sacudida com violência, mãos enérgicas me agarrando, palavras aflitas me mandando com raiva entre piedades infecundas, dificuldades irritadas do cabeleireiro que se esforçava em ter paciência e me dava terror. E o pranto, afinal. E no último e prolongado fim, o chorinho doloridíssimo, convulsivo, cheio de visagens próximas atrozes, um desespero desprendido de tudo, uma fixação emperrada em não querer aceitar o consumado. Me davam presentes. Era razão pra mais choro. Caçoavam de mim: choro. Beijos de mamãe: choro. Recusava os espelhos em que me diziam bonito. Os cadáveres de meus cabelos guardados naquela caixa de sapatos: choro. Choro e recusa. Um não conformismo navalhante que de um momento pra outro me virava homem feito, cheio de desilusões, de revoltas, fácil para todas as ruindades. De noite fiz questão de não rezar; e minha mãe, depois de várias tentativas, olhou o lindo quadro de Nossa Senhora do Carmo, com mais de século na família dela, gente empobrecida mas diz que nobre, o olhou com olhos de imploração. Mas eu estava com raiva da minha madrinha do Carmo. E o meu passado se acabou pela primeira vez. Só ficavam como demonstrações desagradáveis dele, as camisolinhas. Foi dentro delas, camisolas de fazendinha barata (a gloriosa, de veludo, era só para as grandes ocasiões), foi dentro ainda das camisolinhas que parti com os meus pra Santos, aproveitar as férias do Totó sempre fraquinho, um junho. Havia aliás outra razão mais tristonha pra essa vilegiatura aparentemente festiva de férias. Me viera uma irmãzinha aumentar a família e parece que o parto fora desastroso, não sei direito... Sei que mamãe ficara quase dois meses de cama, paralítica, e só princi-

piara mesmo a andar premida pelas obrigações da casa e dos filhos. Mas andava mal, se encostando nos móveis, se arrastando, com dores insuportáveis na voz, sentindo puxões nos músculos das pernas e um desânimo vasto. Menos tratava da casa que se iludia, consolada por cumprir a obrigação de tratar da casa. Diante da iminência de algum desastre maior, papai fizera um esforço espantoso para o seu ser que só imaginava a existência no trabalho sem recreio, todo assombrado com os progressos financeiros que fazia e a subida de classe. Resolvera aceitar o conselho do médico, se dera férias também, e levara mamãe aos receitados banhos de mar. Isso foi, convém lembrar, ali pelos últimos anos do século passado, e a praia do José Menino era quase um deserto longe. Mesmo assim, a casa que papai alugara não ficava na praia exatamente, mas numa das ruas que a ela davam e onde uns operários trabalhavam diariamente no alinhamento de um dos canais que carreavam o enxurro da cidade para o mar do golfo. Aí vivemos perto de dois meses, casão imenso e vazio, lar improvisado cheio de deficiências, a que o desmazelo doentio de mamãe ainda melancolizava mais, deixando pousar em tudo um ar de mau trato e passagem. É certo que os banhos logo lhe tinham feito bem, lhe voltaram as cores, as forças, e os puxões dos nervos desapareciam com rapidez. Mas ficara a lembrança do sofrimento muito grande e próximo, e ela sentia um prazer perdoável de representar naquelas férias o papel largado da convalescente. A papai então o passeio deixara bem menos pai, um ótimo camarada com muita fome e condescendência. Eu é que não tomava banho de mar nem que me batessem! No primeiro dia, na roupinha de baeta calçuda, como era a moda de então, fora com todos até a primeira onda, mas não sei que pavor me tomou, dera tais gritos, que nem mesmo o exemplo sempre invejado de meu mano mais velho me fizera mais entrar naquelas águas vivas. Me parecia morte certa, vingativa, um castigo inexplicável do mar, que o céu de névoa de inverno deixava cinzento e mau, enfarruscado, cheio de ameaças impiedosas. E até hoje detesto banho de mar... Odiei o mar, e tanto, que nem as caminhadas na praia me agradavam, apesar da companhia agora deliciosa e faladeira de papai. Os outros que fossem passear, eu ficava no terreno maltratado da casa, algumas árvores frias e um capim amarelo, nas minhas conversas com as formigas e o meu sonho grande. Ainda apreciava mais ir até à borda barrenta do canal, onde os operários me protegiam de qualquer perigo. Papai é que não gostava muito disso não, porque tendo sido operário um dia e subido de classe por esforço pessoal e Deus sabe lá que sacrifícios, considerava operário má companhia pra filho de negociante mais ou menos. Porém mamãe intervinha com o “deixa ele!” de agora, fati-


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CONTO

gado, de convalescente pela primeira vez na vida com vontades; e lá estava eu dia inteiro, sujando a barra da camisolinha na terra amontoada do canal, com os operários. Vivia sujo. Muitas vezes agora até me faltavam, por baixo da camisola, as calcinhas de encobrir as coisas feias, e eu sentia um esporte de inverno em levantar a camisola na frente pra o friozinho entrar. Mamãe se incomodava muito com isso, mas não havia calcinhas que chegassem, todas no varal enxugando ao sol fraco. E foi por causa disso que entrei a detestar minha madrinha, Nossa Senhora do Carmo. Não vê que minha mãe levara pra Santos aquele quadro antigo de que falei e de que ela não se separava nunca, quando me via erguendo a camisola no gesto indiscreto, me ameaçava com a minha encantadora madrinha: – “Meu filho, não mostra isso, que feio! repare: sua madrinha está te olhando na parede!” Eu espiava pra minha madrinha do Carmo na parede, e descia a camisolinha, mal convencido, com raiva da santa linda, tão apreciada noutros tempos, sorrindo sempre e com aquelas mãos gordas e quentes. E desgostoso ia brincar no barro do canal, botando a culpa de tudo no quadro secular. Odiei minha madrinha santa. Pois um dia, não sei o que me deu de repente, o desígnio explodiu, nem pensei: largo correndo os meus brinquedos com o barro, barafusto porta a dentro, vou primeiro espiar onde mamãe estava. Não estava. Fora passear na praia matinal com papai e Totó. Só a cozinheira no fogão perdida, conversando com a ama da Mariazinha nova. Então podia! Entrei na sala da frente, solene, com uma coragem desenvolta, heroica, de quem perde tudo mas se quer liberto. Olhei francamente, com ódio, a minha madrinha santa, eu bem sabia, era santa, com os doces olhos se rindo pra mim. Levantei quanto pude a camisola e empinando a barriguinha, mostrei tudo pra ela. “Tó! que eu dizia, olhe! olhe bem! tó! olhe bastante mesmo!” E empinava a barriguinha de quase me quebrar pra trás. Mas não sucedeu nada, eu bem imaginava que não sucedia nada... Minha madrinha do quadro continuava olhando pra mim, se rindo, a boba, não zangando comigo nada. E eu saí muito firme, quase sem remorso, delirando num orgulho tão corajoso no peito, que me arrisquei a chegar sozinho até a esquina da praia larga. Estavam uns pescadores ali mesmo na esquina, conversando, e me meti no meio deles, sempre era uma proteção. E todos eles eram casados, tinham filhos, não se amolavam proletariamente com os filhos, mas proletariamente davam muita importância pra o filhinho de “seu dotô” meu pai, que nem era doutor, graças a Deus. Ora se deu que um dos pescadores pegara três lindas estrelas-do-mar e brincava com elas na mão, expondo-as ao solzinho. E eu fiquei num delírio de entusiasmo por causa das estrelas-do-mar. O pescador percebeu logo meus olhos de desejo, e sem paciência pra ser bom devagar, com brutalidade, foi logo me dando todas. – Tome pra você, que ele disse, estrela-do-mar dá boa sorte. – O que é boa sorte, hein?

Ele olhou rápido os companheiros porque não sabia explicar o que era boa sorte. Mas todos estavam esperando e ele arrancou meio bravo: – Isto é... não vê que a gente fica cheio de tudo... dinheiro, saúde... Pigarreou fatigado. E depois de me olhar com um olho indiferentemente carinhoso, acrescentou mais firme: – Seque bem elas no sol que dá boa sorte. Isso nem agradeci, fui numa chispada luminosa pra casa esconder minhas estrelas-do-mar. Pus as três ao sol, perto do muro lá no fundo do quintal onde ninguém chegava, e entre feliz e inquieto fui brinca-brincar no canal. Mas quem disse brincar! me dava aquela vontade amante de ver minhas estrelas e voltava numa chispada luminosa contemplar as minhas tesoureiras da boa sorte. A felicidade era tamanha e o desejo de contar minha glória, que até meu pai se inquietou com o meu fastio no almoço. Mas eu não queria contar. Era um segredo contra tudo e todos, a arma certa da minha vingança, eu havia de machucar bastante Totó, e quando mamãe se incomodasse com o meu sujo, não sei não... mas pelo menos ela havia de dar um trupicão de até dizer “ai!”, bem feito! As minhas estrelas-do-mar estavam lá escondidas junto do muro me dando boa sorte. Comer? pra quê comer? elas me davam tudo, me alimentavam, me davam licença pra brincar no barro, e si Nossa Senhora, minha madrinha, quisesse se vingar daquilo que eu fizera pra ela, as estrelas me salvavam, davam nela, machucavam muito ela, isto é... muito eu não queria não, só um bocadinho, que machucassem um pouco, sem estragar a cara tão linda da pintura, só pra minha madrinha saber que agora eu tinha a boa sorte, estava protegido e nem precisava mais dela, tó! ai que saudades das minhas estrelas-do-mar!... Mas não podia desistir do almoço pra ir espiá-las, Totó era capaz de me seguir e querer uma pra ele, isso nunca! – Esse menino não come nada, Maria Luísa! – Não sei o que é isso hoje, Carlos! Meu filho, coma ao menos a goiabada... Que goiabada nem mané goiabada! eu estava era pensando nas minhas estrelas, doido por enxergá-las. E nem bem o almoço se acabou, até disfarcei bem, e fui correndo ver as estrelas-do-mar. Eram três, uma menorzinha e duas grandonas. Uma das grandonas tinha as pernas um bocado tortas para o meu gosto, mas assim mesmo era muito mais bonita que a pequetitinha, que trazia um defeito imenso numa das pernas, faltava a ponta. Essa decerto não dava boa sorte não, as outras é que davam: e agora eu havia de ser sempre feliz, não havia de crescer, minha madrinha gostosa se rindo sempre, mamãe completamente sarada me dando brinquedos, com papai não se amolando por causa dos gastos. Não! a estrela pequenina dava boa sorte também, nunca que eu largasse de uma delas! Foi então que aconteceu o caso desgraçado de que jamais me esquecerei no seu menor detalhe. Cansei de olhar minhas estrelas e fui brincar no canal. Era já na hora do meio-dia, hora do almoço, da janta, do não-sei-o-quê

dos operários, e eles estavam descansando jogados na sombra das árvores. Apenas um porém, um portuga magruço e bárbaro, de enormes bigodões, que não me entrava nem jamais dera importância pra mim, estava assentado num monte de terra, afastado dos outros, ar de melancolia. Eu brincava por ali tudo, mas a solidão do homem me preocupava, quase me doía, e eu rabeava umas olhadelas para a banda dele, desejoso de consolar. Fui chegando com ar de quem não quer e perguntei o que ele tinha. O operário primeiro deu de ombros, português, bruto, bárbaro, longe de consentir na carícia da minha pergunta infantil. Mas estava com uns olhos tão tristes, o bigode caía tanto, desolado, que insisti no meu carinho e perguntei mais outra vez o que ele tinha. “Má sorte” ele resmungou, mais a si mesmo que a mim. Eu porém é que ficara aterrado. Minha Nossa Senhora! aquele homem tinha má sorte! aquele homem enorme com tantos filhinhos pequenos e uma mulher paralítica na cama!... E no entanto eu era feliz, feliz! e com três estrelinhas-do-mar pra me darem boa sorte... É certo: eu pusera imediatamente as três estrelas no diminutivo, porque si houvesse de ceder alguma ao operário, já de antemão eu desvalorizava as três, todas as três, na esperança desesperada de dar apenas a menor. Não havia diferença mais, eram apenas três “estrelinhas”-do-mar. Fiquei desesperado. Mas a lei se riscara iniludível no meu espírito: e si eu desse boa sorte ao operário na pessoa da minha menor estrelinha pequetitinha?... Bem que podia dar a menor, era tão feia mesmo, faltava uma das pontas, mas sempre era uma estrelinha-do-mar. Depois: o operário não era bem vestido como papai, não carecia de uma boa sorte muito grande não. Meus passos tontos já me conduziam para o fundo do quintal fatalizadamente. Eu sentia um sol de rachar completamente forte. Agora é que as estrelinhas ficavam bem secas e davam uma boa sorte danada, acabava duma vez a paralisia da mulher do operário, os filhinhos teriam pão e Nossa Senhora do Carmo, minha madrinha, nem se amolava de enxergar o pintinho deles. Lá estavam as três estrelinhas, brilhando no ar do sol, cheias de uma boa sorte imensa. E eu tinha que me desligar de uma delas, da menorzinha estragada, tão linda! justamente a que eu gostava mais, todas valiam igual, porque a mulher do operário não tomava banhos de mar? mas sempre, ah meu Deus que sofrimento! eu bem não queria pensar mas pensava sem querer, deslumbrado, mas a boa mesmo era a grandona perfeita, que havia de dar mais boa sorte pra aquele malvado de operário que viera, cachorro! dizer que estava com má sorte. Agora eu tinha que dar pra ele a minha grande, a minha sublime estrelona-do-mar!... Eu chorava. As lágrimas corriam francas listrando a cara sujinha. O sofrimento era tanto que os meus soluços nem me deixavam pensar bem. Fazia um calor horrível, era preciso tirar as estrelas do sol, sinão elas secavam demais, se acabava a boa sorte delas, o sol me


CONTO batia no coco, eu estava tonto, operário, má sorte, a estrela, a paralítica, a minha sublime estrelona-do-mar! Isso eu agarrei na estrela com raiva, meu desejo era quebrar a perna dela também pra que ficasse igualzinha à menor, mas as mãos adorantes desmentiam meus desígnios, meus pés é que resolveram correr daquele jeito, rapidíssimos, pra acabar de uma vez com o martírio. Fui correndo, fui morrendo, fui chorando, carregando com fúria e carícia a minha maiorzona estrelinha-do-mar. Cheguei pro operário, ele estava se erguendo, toquei nele com aspereza, puxei duro a roupa dele:

– Tome! eu soluçava gritando, tome a minha... tome a estrela-do-mar! dá... dá, sim, boa sorte!... O operário olhou surpreso sem com­ preender. Eu soluçava, era um suplício medonho. – Pegue depressa! faz favor! depressa! dá boa sorte mesmo! Aí, que ele entendeu, pois não me aguentava mais! Me olhou, foi pegando na estrela, sorriu por trás dos bigodões portugas, um sorriso desacostumado, não falou nada felizmente que sinão eu desatava a berrar. A mão calosa quis se ajeitar em concha pra me

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acarinhar, certo! ele nem media a extensão do meu sacrifício! e a mão calosa apenas roçou por meus cabelos cortados. Eu corri. Eu corri pra chorar à larga, chorar na cama, abafando os soluços no travesseiro sozinho. Mas por dentro era impossível saber o que havia em mim, era uma luz, uma Nossa Senhora, um gosto maltratado, cheio de desilusões claríssimas, em que eu sofria arrependido, vendo inutilizar-se no infinito dos sofrimentos humanos a minha estrela-do-mar. Extraído de: Contos novos, 1939-1943.

ARTIGO

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história da arte foi feita até agora em função da ideia de que o Renasci­ mento marca uma aproximação deci­ siva e definitiva na representação verdadei­ ra do mundo exterior. Essa atitude necessita ser analisada sob dois prismas: 1. A experiência espacial do Renascimento se deu dentro de uma mudança estru­ tural da sociedade europeia (econômica, social e política) e, portanto, está vincu­ lada à representação que os homens daquela época, com aqueles problemas específicos, faziam do mundo. Pode ser uma representação verdadeira do mundo para a sociedade que surgiu no século XV: verdadeira porque correspon­ de à nova estrutura social e aos novos conhecimentos científicos; verdadeira relativamente à época em que surgiu, e não para toda a humanidade, em todos os tempos e todos os espaços. 2. A ideia de uma representação verdadei­ ra do mundo exterior implica uma noção de espaço em si, um universo dado de uma vez por todas, sempre o mesmo para o homem de qualquer lugar e qual­ quer tempo. Ora, esse espaço ideal, que seria simplesmente reinterpretado de diversas maneiras pelos vários movi­ mentos artísticos, não existe. O espaço não é uma rea­lidade em si: é a expe­ riência do homem com o seu meio am­ biente, e, nesse sentido, o homem está sempre criando espaços novos, e não simplesmente visualizando de modo di­ ferente o mesmo espaço. Em que consiste basicamente a grande diferença entre a pintura medieval (tanto a gótica quanto a bizantina) e a pintura renas­ centista?

O espaço para a pintura medieval é ­la de grandeza: tornou-se necessário quadri­ qualitativo, isto é, as figuras e os obje­ cular atela e calcular quase matematicamen­ tos se dispõem em função das qualida­ te a posição e a distância dos corpos repre­ des que possuem dentro de uma certa sentados. simbologia (em geral, simbologia religiosa) e o tamanho é determina­ do pelo valor da figura, e não pela sua distância física em relação às ou­ tras. Assim, Cristo pode estar duas vezes maior do que um outro perso­ nagem do quadro não porque este se encon­ tra em segundo plano, mas porque Cristo lhe é superior na hierarquia de valores religiosos. Na pintura renascen­ tista, a representação es­ pacial se estrutura com base nas relações físicas e matemáticas entre ob­ jetos e figuras, sem se preocupar com qualquer outra conotação: é, por­ tanto, um espaço quan­ titativo, que se preocupa em determinar as pro­ porções e as distâncias entre as figuras e não suas relações morais. Uma das consequên­ cias da nova visão foi que os corpos, não tendo mais existência separa­ da en­ quanto grandezas abso­ lutas, deviam ser coorde­ nados com outros corpos no mesmo campo de vi­ são, numa mesma escaSimone Martini, Cristo no caminho do calvário, c. 1340.

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A arte medieval e a arte renascentista


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Fra Angelico, A anunciação, c. 1440-1450.

A cor no Renascimento tenta emancipar­ -se das tradições expressionistas e emble­ máticas para aderir plenamente à figura e ao objeto representado: é uma cor que se quer natural. A bidimensionalidade que havia vi­go­rado na pintura medieval, isto é, o plano, dei­

xa lugar à tridimensionali­dade – o espaço da tela se torna um espaço ilu­soriamente “real”, pois tem uma terceira dimensão, a da profundidade, conseguida pelas linhas de perspectiva. Os corpos evoluem nesse espaço como corpos pesados, consisten­ tes, quase escultóricos.

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O espaço medieval, que era sucessivo (num mesmo quadro havia vários espaços com grandezas diferentes), deixa lugar a um espaço unitário, regido pelas leis da perspectiva, descobertas nessa mesma época. O tempo na pintura medieval era tam­ bém plural, isto é, um mesmo quadro tra­ tava de assuntos que se desenrolavam em períodos diferentes; o tempo na pintura renascentista passa a ser unitário, ou seja, a figura representada num momento único de sua ação. Disso decorre que a multiplicidade de ações que aconteciam em tempos e es­ paços diferentes num quadro medieval de­ saparece e é substituída por uma só ação acontecendo em um só tempo e num só espaço. O foco visual, que na pintura medieval era sucessivo e plural, isto é, o olho do es­ pectador devia percorrer sucessivamente as várias cenas apresentadas, torna-se úni­ co e imediato, pois tudo está subordinado a um tema central, que é captado globalmen­ te num só olhar do espectador. A cor na pintura gótica era geralmen­te expressionista, isto é; não represen­tava a coloração natural do objeto pin­ ta­ do, mas os sentimentos que este pro­vo­cava; a cor na pintura bizantina era emblemática, havia uma cor – tipo para cada figura represen­ tada, que também dependia de tradição pictórica, e não de imitação da coloração natural dessa figura.

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Andrea Mantegna, S. Tiago conduzido ao suplício, c. 1455.

Andrea Mantegna, S. Tiago conduzido ao suplício, c. 1455. (Desenho à pena)


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Sandro Botticelli, O nascimento de Vênus, c. 1480.

Pietro Lorenzetti, O nascimento da virgem, c. 1342.

Finalmente, a estilização das figuras na pintura medieval vai ser substituída pela busca da expressão natural dos corpos na pintura renascentista.

do grande desenvolvimento; às vezes, no mesmo quadro, os pintores do Pré-Renas­ cimento apresentam características da pin­ tura medieval e daquela que será chamada renascentista. Na Itália e nos Países Baixos do Sul (tam­ bém chamados Flandres) é que se desen­ volvem as pesquisas em torno do novo es­ paço pictórico. Fonte: Acervo Etapa.

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O Renascimento propriamente dito co­ meça em fins do século XV e continua até metade do século XVI, quando o Maneiris­ mo e o Barroco iniciam o esvaziamento das formas criadas pelos pintores renascentis­ tas e propõem novas relações espaciais.

O século XV foi um período ambivalente, na medida em que os artistas estavam in­ satisfeitos com as antigas formas de repre­ sentação, mas ainda não tinham construído um outro sistema coerente de relações es­ paciais. É chamado Pré-Renascimento por­que já se prenunciavam as características da pin­ tura do Renascimento. Mas não se deve privilegiar este único aspecto, pois a pintura medieval também alcançou nesse perío­

Hubert van Eyck; Jan van Eyck, Retábulo de Ghent (Adoração do Cordeiro Sagrado), 1430-1432.


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(ENTRE PARÊNTESIS)

Pais & filhos Os senhores André, Bruno, Carlos e Dante são vizinhos e bons amigos. Dois deles são irmãos. Cada um tem um filho: Ênio, Fábio, Glória e Hélio. Uma das crianças é um bebê de poucos meses, e as outras três, bem mais velhas, têm mais ou menos a mesma idade. Você deve descobrir quem é pai de quem, sabendo mais o seguinte: a) Fábio é o melhor aluno da classe. b) Ênio não é primo da Glória. c) O sr. Dante é padrinho do filho do sr. Carlos.

d) Quando vai para o serviço, o sr. Bruno costuma levar sua sobrinha à escola. e) Outro que vai à escola de carona é Hélio, que aproveita o carro do sr. André, quando este leva seu filho.

RESPOSTA 1) Glória não é filha nem de Carlos, nem de André, pois ambos têm filhos (c e e). Ela também não é filha de Bruno, pois é sua sobrinha (d). Logo, Glória é   filha de Dante. 2) Glória, Hélio e Fábio vão à escola (a, d, e); logo, o bebê só pode ser Ênio. Mas Ênio não é filho de Dante (pai de Glória), nem de Bruno (d e b), nem de   André (cujo filho vai à escola). Logo, Ênio é filho de Carlos. 3) Hélio pega carona com André quando este vai levar o filho à escola. Logo, Hélio é filho de Bruno. 4) Fábio é filho de André.

SOBRE AS PALAVRAS

“Bater as botas” Essa frase, indicando que o sujeito morreu, é uma variante das tradicionais “Esticou as canelas”, “Abotoou o paletó”, “Partiu desta para melhor”. O curioso, porém, é que se aplicava apenas ao morto adulto, do sexo masculino, que tinha o costume de andar de botas ou ao menos calçado. O sapato tem sido símbolo de qualificação social ao longo de nossa história. Provavelmente, bate as botas ao morrer alguém de certas posses, ao menos remediado. Outros mortos apenas esticam as canelas ou partem desta para melhor. No segundo caso, partem com estilo, fazendo dupla elipse, já que está subentendido que partiram desta para outra vida, que os comentadores anteveem mais favorável a quem partiu. Dependendo da herança, sua partida é mais favorável para quem ficou. As origens da frase residem no bom trato despendido aos mortos, postos arrumadinhos nos caixões, com o paletó abotoado. Como, porém, as mulheres passaram a usar roupas semelhantes às dos homens, também elas podem abotoar o paletó à triste hora da partida. A pergunta, entretanto, permanece: triste para quem? Sábios, os latinos cunharam outra frase: Requiescat in pace (descanse em paz). E há um emblema para as cerimônias fúnebres, o réquiem (descanso). Um dos mais célebres é o de Mozart.

MAS, MÁS, MAIS [E OUTRAS QUESTÕES GRAMATICAIS]

Distância Usa-se crase antes da palavra distância, se determinada. Por exemplo: Estava à distância de dez metros. Mas se a distância for indeterminada, não se usa crase. Por exemplo: Seguiram-me a distância.

SERVIÇO DE VESTIBULAR Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS)

Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep)

Período de inscrição: até dia 13 de julho de 2016. Pessoalmente ou via internet. Endereço da faculdade: av. Goiás, 3 400 – Barcelona – São Caetano do Sul – SP – CEP: 09550-051 – Telefone: (11) 4239-3200. Requisito: taxa de R$ 50,00. Cursos e vagas: consultar site www.uscs.edu.br Exame: dia 17 de julho de 2016.

Período de inscrição: até dia 24 de junho de 2016. Pessoalmente ou via internet. Endereço da faculdade: rua Rangel Pestana, 762 – Piracicaba – SP – CEP: 13400-385 – Telefone: (19) 3124-1666. Requisito: taxa de R$ 80,00. Cursos e vagas: consultar site www.unimep.br Exame: dia 26 de junho de 2016.

Jornal do Vestibulando

Leituras obrigatórias: • A antologia poética – Vinicius de Moraes. • Capitães da Areia – Jorge Amado. • Dom Casmurro – Machado de Assis. • O cortiço – Aluísio de Azevedo. • Vidas secas – Graciliano Ramos.

Jornal ETAPA, editado por Etapa Ensino e Cultura REDAÇÃO: Rua Vergueiro, 1 987 – CEP 04101-000 – Paraíso – São Paulo – SP JORNALISTA RESPONSÁVEL: Egle M. Gallian – M.T. 15343


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