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Jornal do Vestibulando
ENSINO, INFORMAÇÃO E CULTURA
JORNAL ETAPA – 2016 • DE 18/08 A 31/08
ENTREVISTA
“Não era um sonho só meu, era um sonho da família inteira.” Daniel Pinheiro Tassi entrou na USP em Relações Internacionais, carreira que escolheu no 2o semestre do ano passado. Fez o cursinho junto com o Ensino Médio. Dedicou-se muito a superar dificuldades que tinha em matérias de Exatas. Apesar do tempo restrito, criou uma rotina de estudos que se estendia aos finais de semana. Foi aprovado na Fuvest e Unesp.
Daniel Pinheiro Tassi Em 2015: Etapa Em 2016: Relações Internacionais – USP
JV – O que o levou a escolher Relações Internacionais como carreira? Daniel – O processo de escolha foi bem difícil. Meu pai é advogado e entrei no Etapa querendo Direito. Nas palestras sobre profissões eu vi que não era o que eu realmente queria e passei para Economia, mas percebi que tem muita Exatas e eu não sou muito bom nessa parte. Aí vi que Relações Internacionais agrupava tópicos de que eu gostava.
Quando você mudou para Relações Internacionais? Eu tomei essa decisão em agosto, quando fui à feira de profissões da USP. Eu tinha um certo medo em relação ao mercado de trabalho porque em Relações Internacionais você não tem uma formação específica em uma área. Mas, conversando com um aluno do 3o ano, ele disse que muitas pessoas pensam que é só diplomacia, mas a carreira é ampla, com uma área de atuação enorme. Então eu perdi o medo.
Além da Fuvest, que vestibulares você prestou? Prestei Unesp para Relações Internacionais, Unicamp para Economia, porque não tem RI lá, e Enem.
Pelo Sisu, com a nota do Enem, você procurou vaga em que curso? Para ficar em São Paulo, escolhi Farmácia na USP. No cursinho eu gostei bastante de Química e Biologia, então era uma segunda opção.
ENTREVISTA
Daniel Pinheiro Tassi CONTO
Vestida de preto – Mário de Andrade ARTIGO O uso da bioinformática no estudo de doenças complexas
Em Farmácia você foi aprovado também?
E em Humanas?
Sim, fui aprovado em Farmácia na USP pelo Sisu e em Relações Internacionais pela Fuvest.
Em Humanas eu lia os resumos. Se tivesse dificuldade em uma matéria, dava uma lida na apostila.
Você começou o ano confiante? Eu não estava muito confiante. Sabia que todas as carreiras que me atraíam eram bem concorridas, mas fui indo, eu não deixaria de prestar esses cursos por causa disso.
Como era seu método de estudo?
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Física era a prioridade maior, depois Química. Matemática vinha na terceira posição e Biologia em quarto.
Eu focava mais nas matérias de Exatas, em que tinha mais dificuldades. Como não tinha muito tempo chegava em casa depois da aula e estudava Exatas e também Biológicas. Só mais para a 2a fase eu dei uma estudada maior na parte de Humanas.
Você treinava Redação?
Quais eram suas maiores dificuldades?
Não fiz todos. Chegou um momento no primeiro semestre em que eu acumulei muita matéria para estudar e tive que abrir mão de simulados.
Organizar minha rotina de estudos do Etapa. No início foi difícil conciliar escola e cursinho. Tanto que eu entrei aqui tirando notas boas nos simulados e depois foi piorando porque não conseguia acompanhar. No segundo semestre, depois do período de férias, eu voltei mais motivado e consegui encontrar minha rotina de estudos.
Qual era sua rotina? Eu chegava em casa e fazia os exercícios da parte de Exatas – fazia tudo da matéria do dia – e também de Biológicas. Exercícios escritos eu fazia só os de Exatas. Eu sabia que os exercícios escritos são os mais difíceis e se conseguisse fazer esses exercícios conseguiria resolver tranquilo os da 1a fase da Fuvest. No fim de semana eu dava uma revisada na teoria.
Árvores ARTIGO Guimarães Rosa: poeta dos sertões, criador de língua
Eu fazia uma vez por mês, mas não conseguia trazer para o plantão por causa do tempo. Às vezes eu mostrava para o meu pai. Ele dava uma avaliada, me ajudou bastante nessa parte.
Você fez todos os simulados?
Você estudava em casa ou no Etapa? Em casa.
Em média, quanto tempo você estudava por dia? Uma hora e meia, duas horas. Chegava em casa umas 7 e meia e estudava mais ou menos das 8 até as 10 horas.
No final de semana o que você fazia? No primeiro semestre, no sábado tinha o JADE de manhã e simulado à tarde. No final do primeiro semestre e no segundo semestre eu estudava todo fim de semana. No domingo ficava das 10 da manhã até umas 6 da tarde estudando.
POIS É, POESIA
ENTRE PARÊNTESIS
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Quais matérias tinham prioridade maior em seus estudos?
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Augusto dos Anjos – (1884-1914) SERVIÇO DE VESTIBULAR
Inscrições
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ENTREVISTA
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Nos simulados, quais eram seus resultados? Eu comecei com C mais, no final do primeiro semestre caí para C menos. No segundo semestre comecei com C menos e fui aumentando para C mais. Cheguei a tirar A em Humanas, em uma prova do Enem e outro em Redação.
Você leu as obras obrigatórias indicadas pela Fuvest?
No segundo dia, na prova geral, você tirou quanto? Minha nota foi 56,25. Eu estava esperando uma prova mais fácil, mas eles puxaram muito.
E no terceiro dia, das matérias prioritárias da carreira, Geografia e História? Tirei 58,33, na faixa do esperado. Eu sabia que seria uma prova difícil, porque eles pegam tópicos bastante específicos e aí é complicado.
O que você faz na empresa júnior? A empresa trabalha com projetos de internacionalização, análise mercadológica, é mais uma consultoria. Eu trabalho na diretoria financeira e jurídica, cuido da parte de contratos, fluxo de caixa. Fora isso, a gente está fazendo projeto de internacionalização de uma joalheria.
Você participa de mais alguma atividade?
Você assistiu às palestras sobre os livros?
Fiquei em 20o lugar. De 48 vagas.
Na Atlética eu pratico alguns esportes, tênis e tênis de mesa. Estou na bateria também. No segundo semestre eu quero participar do Educar para o Mundo, um coletivo de extensão universitária que trabalha na questão da imigração em São Paulo, em oficinas de centros de referência aos imigrantes, explicando a legislação, tudo mais, inserindo os imigrantes na nossa cultura.
Vi todas as palestras.
Como soube de sua aprovação na Fuvest?
Até agora, do que você mais gostou no curso?
Qual é a importância das palestras? As palestras destacam os pontos que passam despercebidos pela gente, e os professores também falam das partes mais importantes dos livros.
Eu estava com meus pais em casa. Quando vi o resultado eu não acreditei, saí gritando... E ainda foi na turma do diurno, em que eu achava que não ia entrar. Foi uma alegria indescritível. O fato de ter passado na USP é incrível.
Nas férias, o que você fez?
O que você sentiu naquele momento?
Eu continuei estudando e comecei a pegar um ritmo. Não era um ritmo que eu conseguisse manter depois, mas peguei um ritmo.
É gratificante você dar orgulho para sua família, muito gratificante. No dia parece que a Terra virou paraíso. Uma sensação muito boa. Não era um sonho só meu, era um sonho da família inteira, eles estavam comigo desde o início, sempre me apoiando.
A grade curricular ter matérias de que eu realmente gosto é muito interessante. Eles pegam tópicos como União Europeia, eu amo esse tópico e espero conseguir trabalhar lá um dia. Eles trabalham com coisas em que eu tenho muito interesse. Tanto que na votação da saída do Reino Unido da União Europeia eu fiquei a madrugada inteira lendo na internet. Trabalhar com uma coisa que você gosta de estudar é gratificante.
Não consegui ler todas. Não li Til e Memórias de um sargento de milícias. Eu me arrependo muito, perdi ponto por causa disso. As questões que eu mais errei na 1a fase foram as baseadas nos livros. Li todos os resumos, mas mesmo assim a leitura das obras é imprescindível.
Você teve que abrir mão de alguma atividade para se preparar para os vestibulares? Abri mão do inglês. Fazia à noite, depois das aulas. No ano retrasado eu estudava à tarde, depois mudei para a manhã. Seria muito cansativo fazer escola, cursinho e inglês. Não dava.
Você já voltou a fazer inglês? Estou achando mais interessante começar outras línguas. Faço francês na Poli. No Poliglota.
Você prestou USP, Unicamp e Unesp. Onde você achava que tinha mais possibilidades de ser aprovado? Na Unesp. Tem o curso de RI em Franca e em Marília. Eu prestei para Franca. Sabia que tinha mais chance porque a prova da Unesp, digamos, seria um pouco mais fácil do que as outras, e também tinha reserva para escola pública. Na Unesp eu passei em 6o lugar.
Quantos pontos você fez na 1a fase da Fuvest? Com o bônus de escola pública fiz 65. A nota de corte foi 60. Saí da prova achando que não ia passar. E me surpreendi quando saiu o resultado. a
Para a 2 fase você mudou alguma coisa no seu método de estudo? Eu dei prioridade para as matérias de Humanas, porque sabia que a prova do terceiro dia, com Geografia e História, pega assuntos mais aprofundados.
Na 2a fase, no primeiro dia a prova é de questões de Português e Redação. Como você foi? Eu estava achando que seria meu pior dia porque, além de dormir mal naquela noite, tinha as questões de Literatura, em que teria dificuldade, e a Redação, em que também eu não estava muito confiante. Mas foi o meu melhor dia. Por incrível que pareça, tirei 63 na prova. Na Redação tirei 76.
Na escala de zero a 1000, qual foi sua pontuação? Com o bônus fiquei com 677,7 pontos.
E sua classificação na carreira?
Como foi no dia da matrícula? Os veteranos foram muito receptivos. A gente meio que fez uma rodinha de conversas, apresentação e tal, foi muito legal. Aí eu percebi que não estou estudando com os melhores de São Paulo, estou estudando com os melhores do Brasil, tem gente do país inteiro lá, por causa do Sisu. Também fiquei impressionado com a quantidade de pessoas que já são formadas e estão no curso, como segunda graduação.
O pessoal que está fazendo a segunda graduação em Relações Internacionais, que graduação eles fizeram antes? Tem duas pessoas de Medicina, dois engenheiros, tem um jornalista da Globo, formado pela ECA, um em Cinema, Artes Cênicas. Bem variado.
Como foi o seu primeiro semestre na faculdade? É um mundo novo, no início eu fiquei bastante deslumbrado e tive um pouco de dificuldade para organizar a rotina de estudos. Mas aos poucos fui conseguindo. As matérias são bastante interessantes, os professores incentivam você a pesquisar e a fazer iniciação científica.
Quais matérias você teve? Tive cinco matérias: Instituições de Direito, Métodos Empíricos de Pesquisa I, Microeconomia, Introdução à Ciência Política para Relações Internacionais e História das Relações Internacionais. A base do curso é formada por essas matérias. São quatro pilares que eles falam que o curso tem: História, Direito, Ciências Políticas e Sociologia, e Economia.
Além das aulas, você está participando de outras atividades na USP? Estou participando da empresa júnior. RI-USP Júnior.
O que você destaca na parte humana e na parte de infraestrutura do Instituto de Relações Internacionais? Da parte humana, os veteranos são muito prestativos, me ajudam sempre. Eu sinto que estou num lugar livre de preconceitos e tudo mais. E a parte física é fora de série. É um prédio novo, bem equipado, tem projetor em todas as salas, ar condicionado. O instituto está bem equipado, com certeza.
Qual é a sua maior motivação para continuar em Relações Internacionais? Eu acredito em uma visão mais cosmopolita do mundo. Acredito que não devem existir fronteiras. Isso se enquadra perfeitamente com minha visão de mundo e me dá suporte para estudar agora e trabalhar com isso futuramente.
Como ficou marcado para você o ano no cursinho? Foi um ano de autoconhecimento e de amadurecimento. Também foi um ano de união com meus colegas, sempre a gente estava se ajudando. Então, foi um ano fora de série. Uma luta difícil, complicada, mas no final tudo valeu a pena.
Dá para sentir saudades do ano passado? Eu sinto falta da didática dos professores daqui, porque eles realmente são muito bons, fora de série. É até complicado sair do Etapa, onde tudo é bom, as matérias são bem explicadas e ir para um lugar em que você vai enfrentar outras dificuldades.
O que você diz a quem vai prestar vestibular este ano? Quais são suas dicas para a reta final? Eu acho importante organizar a rotina de estudos e não desanimar, ser resiliente sempre. De vez em quando eu ia mal no simulado, mas é bola pra frente, é lutar e vai indo. Tem uma frase do Winston Churchill de que eu gosto muito: “O sucesso é ir de fracasso em fracasso sem perder o entusiasmo”.Toda vez que você perder, ou se sentir derrotado, levante e lute mais forte.
CONTO
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Vestida de preto Mário de Andrade
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anto andam agora preocupados em definir o conto que não sei bem si o que vou contar é conto ou não, sei que é verdade. Minha impressão é que tenho amado sempre... Depois do amor grande por mim que brotou aos três anos e durou até os cinco mais ou menos, logo o meu amor se dirigiu para uma espécie de prima longínqua que frequentava a nossa casa. Como se vê, jamais sofri do complexo de Édipo, graças a Deus. Toda a minha vida, mamãe e eu fomos muito bons amigos, sem nada de amores perigosos. Maria foi o meu primeiro amor. Não havia nada entre nós, está claro, ela como eu nos seus cinco anos apenas, mas não sei que divina melancolia nos tomava, si acaso nos achávamos juntos e sozinhos. A voz baixava de tom, e principalmente as palavras é que se tornavam mais raras, muito simples. Uma ternura imensa, firme e reconhecida, não exigindo nenhum gesto. Aquilo aliás durava pouco, porque logo a criançada chegava. Mas tínhamos então uma raiva impensada dos manos e dos primos, sempre exteriorizada em palavras ou modos de irritação. Amor apenas sensível naquele instinto de estarmos sós. E só mais tarde, já pelos nove ou dez anos, é que lhe dei nosso único beijo, foi maravilhoso. Si a criançada estava toda junta naquela casa sem jardim da Tia Velha, era fatal brincarmos de família, porque assim Tia Velha evitava correrias e estragos. Brinquedo aliás que nos interessava muito, apesar da idade já avançada para ele. Mas é que na casa de Tia Velha tinha muitos quartos, de forma que casávamos rápido, só de boca, sem nenhum daqueles cerimoniais de mentira que dantes nos interessavam tanto, e cada par fugia logo, indo viver no seu quarto. Os milhores interesses infantis do brinquedo, fazer comidinha, amamentar bonecas, pagar visitas, isso nós deixávamos com generosidade apressada para os menores. Íamos para os nossos quartos e ficávamos vivendo lá. O que os outros faziam, não sei. Eu, isto é, eu com Maria, não fazíamos nada. Eu adorava principalmente era ficar assim sozinho com ela, sabendo várias safadezas já mas sem tentar nenhuma. Havia, não havia não, mas sempre como que havia um perigo iminente que ajuntava o seu crime à intimidade daquela solidão. Era suavíssimo e assustador. Maria fez uns gestos, disse algumas palavras. Era o aniversário de alguém, não lembro mais, o quarto em que estávamos fora convertido em dispensa, cômodas e armários cheinhos de pratos de doces para o chá que vinha logo. Mas quem se lembrasse de tocar naqueles doces, no geral secos, fáceis de disfarçar qualquer roubo! estávamos longe disso. O que nos deliciava era mesmo a grave solidão. Nisto os olhos de Maria caíram sobre o travesseiro sem fronha que estava sobre uma cesta de roupa suja a um canto. E a minha
esposa teve uma invenção que eu também estava longe de não ter. Desde a entrada no quarto eu concentrara todos os meus instintos na existência daquele travesseiro, o travesseiro cresceu como um danado dentro de mim e virou crime. Crime não, “pecado” que é como se dizia naqueles tempos cristãos... E por causa disto eu conseguira não pensar até ali, no travesseiro. – Já é tarde, vamos dormir – Maria falou. Fiquei estarrecido, olhando com uns fabulosos olhos de imploração para o travesseiro quentinho, mas quem disse travesseiro ter piedade de mim. Maria, essa estava simples de mais para me olhar e surpreender os efeitos do convite: olhou em torno e afinal, vasculhando na cesta de roupa suja, tirou de lá uma toalha de banho muito quentinha que estendeu sobre o assoalho. Pôs o travesseiro no lugar da cabeceira, cerrou as venezianas da janela sobre a tarde, e depois deitou, arranjando o vestido pra não amassar. Mas eu é que nunca havia de pôr a cabeça naquele restico de travesseiro que ela deixou pra mim, me dando as costas. Restico sim, apesar do travesseiro ser grande. Mas imaginem numa cabeleira explodindo, os famosos cabelos assustados de Maria, citação obrigatória e orgulho de família. Tia Velha, muito ciumenta por causa duma neta preferida que ela imaginava deusa, era a única a pôr defeito nos cabelos de Maria. – Você não vem dormir também? – ela perguntou com fragor, interrompendo o meu silêncio trágico. – Já vou – que eu disse – estou conferindo a conta do armazém. Fui me aproximando incomparavelmente sem von tade, sentei no chão tomando cuidado em siquer tocar no vestido, puxa! também o vestido dela estava completamente assustado, que dificuldade! Pus a cara no travesseiro sem a menor intenção de. Mas os cabelos de Maria, assim era pior, tocavam de leve no meu nariz, eu podia espirrar, marido não espirra. Senti, pressenti que espirrar seria muito ridículo, havia de ser um espirrão enorme, os outros escutavam lá da sala de visita longínqua, e daí é que o nosso segredo se desvendava todinho. Fui afundando o rosto naquela cabeleira e veio a noite, sinão os cabelos (mas juro que eram cabelos macios) me machucavam os olhos. Depois que não vi nada, ficou fácil continuar enterrando a cara, a cara toda, a alma, a vida, naqueles cabelos, que maravilha! até que o meu nariz tocou num pescocinho roliço. Então fui empurrando os meus lábios, tinha uns bonitos lábios grossos, nem eram lábios, era beiço, minha boca foi ficando encanudada até que encontrou o pescocinho roliço. Será que ela dorme de verdade?... Me ajeitei muito sem-cerimônia, mulherzinha! e então beijei. Quem falou que este mundo é ruim! só recordar... Beijei Maria, rapazes! eu
nem sabia beijar, está claro, só beijava mamãe, boca fazendo bulha, contacto sem nenhum calor sensual. Maria, só um leve entregar-se, uma levíssima inclinação pra trás me fez sentir que Maria estava comigo em nosso amor. Nada mais houve. Não, nada mais houve. Durasse aquilo uma noite grande, nada mais haveria porque é engraçado como a perfeição fixa a gente. O beijo me deixara completamente puro, sem minhas curiosidades nem desejos de mais nada, adeus pecado e adeus escuridão! Se fizera em meu cérebro uma enorme luz branca, meu ombro bem que doía no chão, mas a luz era violentamente branca, proibindo pensar, imaginar, agir. Beijando. Tia Velha, nunca eu gostei de Tia Velha, abriu a porta com um espanto barulhento. Percebi muito bem, pelos olhos dela, que o que estávamos fazendo era completamente feio. – Levantem!... Vou contar pra sua mãe, Juca! Mas eu, levantando com a lealdade mais cínica deste mundo! – Tia Velha me dá um doce? Tia Velha – eu sempre detestei Tia Velha, o tipo da bondade Berlitz, injusta, sem método – pois Tia Velha teve a malvadeza de escorrer por mim todo um olhar que só alguns anos mais tarde pude compreender inteiramente. Naquele instante, eu estava só pensando em disfarçar, fingindo uma inocência que poucos segundos antes era real. – Vamos! saiam do quarto! Fomos saindo muito mudos, numa bruta vergonha, acompanhados de Tia Velha e os pratos que ela viera buscar para a mesa de chá. O estranhíssimo é que principiou, nesse acordar à força provocado por Tia Velha, uma indiferença inexplicável de Maria por mim. Mais que indiferença, frieza viva, quase antipatia. Nesse mesmo chá inda achou jeito de me maltratar diante de todos, fiquei zonzo. Dez, treze, quatorze anos... Quinze anos. Foi então o insulto que julguei definitivo. Eu estava fazendo um ginásio sem gosto, muito arrastado, cheio de revoltas íntimas, detestava estudar. Só no desenho e nas composições de português tirava as milhores notas. Vivia nisso: dez nestas matérias, um, zero em todas as outras. E todos os anos era aquela já esperada fatalidade: uma, duas bombas (principalmente em matemáticas) que eu tomava apenas o cuidado de apagar nos exames de segunda época. Gostar, eu continuava gostando muito de Maria, cada vez mais, conscientemente agora. Mas tinha uma quase certeza que ela não podia gostar de mim, quem gostava de mim!... Minha mãe... Sim, mamãe gostava de mim, mas naquele tempo eu chegava a imaginar que era só por obrigação. Papai, esse foi sem-
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CONTO
pre insuportável, incapaz duma carícia. Como incapaz de uma repreensão também. Nem mesmo comigo, a tara da família, ele jamais ralhou. Mas isto é caso pra outro dia. O certo é que, decidido em minha desesperada revolta contra o mundo que me rodeava, sentindo um orgulho de mim que jamais buscava esclarecer, tão absurdo o pressentia, o certo é que eu já principiava me aceitando por um caso perdido, que não adiantava milhorar. Esse ano até fora uma bomba só. Eu entrava na aula do professor particular, quando enxerguei a saparia na varanda e Maria entre os demais. Passei bastante encabulado, todos em férias, e os livros que eu trazia na mão me denunciando, lembrando a bomba, me achincalhando em minha imperfeição de caso perdido. Esbocei um gesto falsamente alegre de bom-dia, e fui no escritório pegado, esconder os livros na escrivaninha de meu pai. Ia já voltar para o meio de todos, mas Matilde, a peste, a implicante, a deusa estúpida que Tia Velha perdia com suas preferências: – Não caso com bombeado – ela respondeu imediato, numa voz tão feia, mas tão feia, que parei estarrecido. Era a decisão final, não tinha dúvida nenhuma. Maria não gostava mais de mim. Bobo de assim parado, sem fazer um gesto, mal podendo respirar. Aliás um caso recente vinha se ajuntar ao insulto pra decidir de minha sorte. Nós seríamos até pobretões, comparando com a família de Maria, gente que até viajava na Europa. Pois pouco antes, os pais tinham feito um papel bem indecente, se opondo ao casamento duma filha com um rapaz diz-que pobre mas ótimo. Houvera rompimento de amizade, mal-estar na parentagem toda, o caso virara escândalo mastigado e remastigado nos comentários de hora de jantar. Tudo por causa do dinheiro. Si eu insistisse em gostar de Maria, casar não casava mesmo, que a família dela não havia de me querer. Me passou pela cabeça comprar um bilhete de loteria. “Não caso com bombeado”... Fui abraçando os livros de mansinho, acariciei-os junto ao rosto, pousei a minha boca numa capa, suja de pó suado, retirei a boca sem desgosto. Naquele instante eu não sabia, hoje sei: era o segundo beijo que eu dava em Maria, último beijo, beijo de despedida, que o cheiro desagradável do papelão confirmou. Estava tudo acabado entre nós dois. Não tive coragem pra voltar à varanda e conversar com... os outros. Estava com uma raiva desprezadora de todos, principalmente de Matilde. Não, me parecia que já não tinha raiva de ninguém, não valia a pena, nem de Matilde, o insulto partira dela, fora por causa dela, mas eu não tinha raiva dela não, só tristeza, só vazio, não sei... creio que uma vontade de ajoelhar. Ajoelhar sem mais nada, ajoelhar ali junto da escrivaninha e ficar assim, ajoelhar. Afinal das contas eu era um perdido mesmo, Maria tinha razão, tinha razão, tinha razão, que tristeza!... Foi o fim? Agora é que vem o mais esquisito de tudo, ajuntando anos pulados. Acho que até não consigo contar bem claro tudo o que sucedeu. Vamos por ordem: Pus tal firmeza em não amar Maria mais, que nem meus pensamentos me traíram. De resto a mocidade raiava e eu tinha tudo a aprender.
Foi espantoso o que se passou em mim. Sem abandonar meu jeito de “perdido”, o cultivando mesmo, ginásio acabado, eu principiara gostando de estudar. Me batera, súbito, aquela vontade irritada de saber, me tornara estudiosíssimo. Era mesmo uma impaciência raivosa, que me fazia devorar bibliotecas, sem nenhuma orientação. Mas brilhava, fazia conferências empoladas em sociedadinhas de rapazes, tinha ideias que assustavam todo o mundo. E todos principiavam maldando que eu era muito inteligente mas perigoso. Maria, por seu lado, parecia uma doida. Namorava com Deus e todo o mundo, aos vinte anos fica noiva de um rapaz bastante rico, noivado que durou três meses e se desfez de repente, pra dias depois ela ficar noiva de outro, um diplomata riquíssimo, casar em duas semanas com alegria desmedida, rindo muito no altar e partir em busca duma embaixada europeia, com o secretário chique seu marido. Às vezes meio tonto com estes acontecimentos fortes, acompanhados meio de longe, eu me recordava do passado, mas era só pra sorrir da nossa infantilidade e devorar numa tarde um livro incompreensível de filosofia. De mais a mais, havia a Rose pra de-noite, e uma linda namoradinha oficial, a Violeta. Meus amigos me chamavam de “jardineiro”, e eu punha na coincidência daquelas duas flores uma força de destinação fatalizada. Tamanha mesmo que topando numa livraria com The Gardener de Tagore, comprei o livro e comecei estudando o inglês com loucura. Mário de Andrade conta num dos seus livros que estudou o alemão por causa duma emboaba tordilha... eu também: meu inglês nasceu duma Violeta e duma Rose. Não, nasceu de Maria. Foi quando uns cinco anos depois, Maria estava pra voltar pela primeira vez ao Brasil, a mãe dela, queixosa de tamanha ausência, conversando com mamãe na minha frente, arrancou naquele jeito de gorda desabrida: – Pois é, Maria gostou tanto de você, você não quis!... e agora ela vive longe de nós. Pela terceira vez fiquei estarrecido neste conto. Percebi tudo num tiro de canhão. Percebi ela doidejando, noivando com um, casando com outro, se atordoando com dinheiro e brilho. Percebi que eu fora uma besta, sim agora que principiava sendo alguém, estudando por mim fora dos ginásios, vibrando em versos que muita gente já considerava. E percebi horrorizado, que Rose! nem Violeta, nem nada! era Maria que eu amava como louco! Maria é que amara sempre, como louco: oh como eu vinha sofrendo a vida inteira, desgraçadíssimo, aprendendo a vencer só de raiva, me impondo ao mundo por despique, me superiorizando em mim só por vingança de desesperado. Como é que eu pudera me imaginar feliz, pior: ser feliz, sofrendo daquele jeito! Eu? eu não! era Maria, era exclusivamente Maria toda aquela superioridade que estava aparecendo em mim... E tudo aquilo era uma desgraça muito cachorra mesmo. Pois não andavam falando muito de Maria? Contavam que pintava o sete, ficara célebre com as extravagâncias e aventuras. Estivera pouco antes às portas do divórcio, com um
caso escandaloso por demais, com um pintor de nomeada que só pintava efeitos de luz. Maria falada, Maria bêbada, Maria passada de mão em mão, Maria pintada nua... Se dera como que uma transposição de destinos... E tive um pensamento que ao menos me salvou no instante: si o que tinha de útil agora em mim era Maria, si ela estava se transformando no Juca imperfeitíssimo que eu fora, si eu era apenas uma projeção dela, como ela agora apenas uma projeção de mim, si nos trocáramos por um estúpido engano de amor: mas ao menos que eu ficasse bem ruim, mas bem ruim mesmo outra vez, pra me igualar a ela de novo. Foi a razão da briga com Violeta, impiedosa, e a farra dessa noite – bebedeira tamanha que acabei ficando desacordado, numa série de vertigens, com médico, escândalo, e choro largo de mamãe com minha irmã. Bom, tinha que visitar Maria, está claro, éramos “gente grande” agora. Quando soube que ela devia ir a um banquete, pensei comigo: “ótimo, vou hoje logo depois de jantar, não encontro ela e deixo o cartão”. Mas fui cedo demais. Cheguei na casa dos pais dela, seriam nove horas, todos aqueles requififes de gente ricaça, criado que leva cartão numa salva de prata, etc. Os da casa estavam ainda jantando. Me introduziram na saletinha da esquerda, uma espécie de luís-quinze muito sem-vergonha, dourado por inteiro, dando pro hol central. Que fizesse o favor de esperar, já vinham. Contemplando a gravura cor-de-rosa, senti de sopetão que tinha mais alguém na saleta, virei. Maria estava na porta, olhando pra mim, se rindo, toda vestida de preto. Olhem: eu sei que a gente exagera em amor, não insisto. Mas si eu já tive a sensação da vontade de Deus, foi ver Maria assim, toda de preto vestida, fantasticamente mulher. Meu corpo soluçou todinho e tornei a ficar estarrecido. – Ao menos diga boa-noite, Juca... “Boa-noite, Maria, eu vou-me embora...” meu desejo era fugir, era ficar e ela ficar mas, sim, sem que nos tocássemos sequer. Eu sei, eu juro que sei que ela estava se entregando a mim, me prometendo tudo, me cedendo tudo quanto eu queria, naquele se deixar olhar, sorrindo leve, mãos unidas caindo na frente do corpo, toda vestida de preto. Um segundo, me passou na visão devorá-la numa hora estilhaçada de quarto de hotel, foi horrível. Porém, não havia dúvida: Maria despertava em mim os instintos da perfeição. Balbuciei afinal um boa-noite muito indiferente, e as vozes amontoadas vinham do hol, dos outros que chegavam. Foi este o primeiro dos quatro amores eternos que fazem de minha vida uma grave condensação interior. Sou falsamente um solitário. Quatro amores me acompanham, cuidam de mim, vêm conversar comigo. Nunca mais vi Maria, que ficou pelas Europas, divorciada afinal, hoje dizem que vivendo com um austríaco interessado em feiras internacionais. Um aventureiro qualquer. Mas dentro de mim, Maria... bom: acho que vou falar banalidade. Extraído de: Contos novos.
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O uso da bioinformática no estudo de doenças complexas Karina Toledo
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erramentas de bioinformática têm sido usadas por pesquisadores da Universidade Federal do ABC (UFABC) e da Universidade de São Paulo (USP) para modelar redes de interação entre genes, desvendar relações funcionais e, dessa forma, identificar potenciais alvos para o tratamento de doenças complexas, como esquizofrenia, autismo e câncer. Avanços nessa área foram apresentados pelo professor do Centro de Matemática, Computação e Cognição (CMCC) da UFABC David Corrêa Martins Junior, no dia 31 de março, em Columbus, Estados Unidos, durante a programação da Fapesp Week Michigan-Ohio. O evento, que terminou no dia 1o de abril, teve o objetivo de fomentar a colaboração entre pesquisadores paulistas e norte-americanos. Parte dos resultados também foi publicada em artigos nos periódicos Information Sciences e BMC Bioinformatics. “Uma mesma doença complexa pode se manifestar de formas muito diferentes em cada paciente, com diversos graus de gravidade. O objetivo desse tipo de estudo é poder oferecer um tratamento individualizado, considerando essas particularidades”, explicou Martins Junior em entrevista à Agência FAPESP. Os estudos são baseados tanto em dados clínicos – de expressão gênica, interação entre proteínas e metilação de DNA – depositados em bancos públicos, como em dados de pacientes atendidos por colaboradores, como, por exemplo, a professora Helena Brentani, do Instituto de Psiquiatria da USP, que trabalha com portadores de autismo. Conceitos da teoria de grafos e de redes complexas, aliados a ferramentas de bioin formática, permitem, por exemplo, comparar em portadores de uma determinada doença e em indivíduos controle a expressão dos genes e sua centralidade nas redes gênicas. Também é possível comparar dados de pacientes com a mesma doença, mas com diferentes graus de gravidade, ou, ainda, avaliar como a expressão dos genes e a estrutura de uma rede gênica em uma mesma pessoa se modifica em diferentes contextos e momentos. A ideia é tentar desvendar como os genes estão
conectados e como esse circuito controla as diversas funções celulares. “Quando não sabemos a função de um gene, podemos tentar comparar a expressão dele ou a estrutura de sua vizinhança na rede gênica com outros que apresentam um sinal parecido e cuja função é conhecida e, assim, formular hipóteses. Se temos um gene-alvo e queremos saber em que medida a sua expressão depende do sinal de outros genes, podemos usar ferramentas como inferência de redes gênicas ou priorização gênica”, contou Martins Junior. Segundo o pesquisador da UFABC, genes que já foram associados a doenças em estudos anteriores podem servir como ponto de partida para as análises. “Podemos avaliar quais outros genes estão mais associados a eles em termos de expressão e em termos da estrutura conectiva. Provavelmente eles também estarão envolvidos na doença em questão”, disse. Em um trabalho desenvolvido durante o dou torado de Sergio Nery Simões no programa de pós-graduação em Bioinformática da USP, foi desenvolvida uma ferramenta chamada Neri (Network Medicine Relative Importance), que integra dados de expressão gênica, redes de interação entre proteínas e dados de estudos de associação (genes sabidamente associados a uma determinada doença) para identificar novos genes que também podem estar associados à enfermidade em análise. “Fizemos um estudo de caso usando bancos de dados públicos de esquizofrenia e vimos que muitos dos genes obtidos pela ferramenta Neri estavam associados à chamada via glutamatérgica, responsável pela transmissão e recepção de neurotransmissores durante as sinapses neuronais. Tal via é bastante citada na literatura como associada à doença. Isso sugere que outros genes identificados pela ferramenta também têm potencial para estar relacionados com a esquizofrenia”, explicou Martins Junior. As pesquisas do grupo são apoiadas pela Fapesp por meio de dois Projetos Temáticos – um coordenado por João Eduardo Ferreira no Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP e outro por Roberto Marcondes Cesar Junior, também no IME-USP. Há ainda um Auxílio
à Pesquisa – Regular coordenado por Raphael Yokoingawa de Camargo no CMCC-UFABC.
Análise de redes sociais No mesmo painel dedicado ao tema “Bioin formática e Análise de Dados”, o professor de Ciência da Computação e Engenharia da The Ohio State University Srinivasan Parthasarathy falou sobre como informações coletadas em redes sociais, como o Twitter ou o WhatsApp, podem ser usadas para ajudar a prever ou mitigar problemas relacionados a desastres naturais e epidemias. Em parceria com pesquisadores de diversos países, inclusive brasileiros vinculados à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Parthasarathy coleta e analisa informações de mensagens curtas enviadas durante eventos climáticos extremos, como furacões e enchentes, ou durante surtos epidêmicos e usa o conteúdo para alimentar modelos computacionais. O objetivo é identificar problemas antes que eles se tornem críticos e fornecer informações que possam auxiliar as equipes que prestam socorro no local a planejar estratégias de controle. “Se eu tenho 5 mil pessoas disponíveis para prestar socorro, preciso identificar as áreas mais afetadas e que precisam ser priorizadas. Para isso, usamos essas informações coletadas nas mídias sociais em conjunto com dados físicos que tradicionalmente alimentam os modelos de prevenção de furacão ou de enchentes, como velocidade do vento e pressão atmosférica, que são uma forma mais tradicional de sensoriamento”, contou o pesquisador. O grande desafio, segundo Parthasarathy, é conseguir filtrar as mensagens que realmente são relacionadas com o problema em questão. “Há muito ruído nas redes sociais. Por exemplo, se nosso objetivo é monitorar uma epidemia de dengue em uma determinada cidade, temos de ser capazes de isolar os tuítes que foram originados naquela região e incluir aquela informação em nosso modelo. Essa integração de sensores sociais e físicos pode produzir melhores resultados”, comentou o pesquisador. Extraído de: Agência FAPESP – Divulgando a cultura científica, abr./2016.
(ENTRE PARÊNTESIS)
(Fuvest) Uma floresta tem 1 000 000 de árvores. Nenhuma árvore tem mais de 300 000 folhas. Pode-se concluir que: a) existem na floresta árvores com números de folhas distintos. b) existem na floresta árvores com uma só folha. c) existem na floresta árvores com o mesmo número de folhas.
d) o número médio de folhas por árvore é 150 000. e) o número total de folhas na floresta pode ser maior que 1012.
RESPOSTA alternativa C O número máximo de folhas por árvore é 300 000. Se todas as árvores tivessem números distintos de folhas, deveríamos ter, no máximo, 300 001 árvores. Como há 1 000 000 delas, existem necessariamente árvores com mesmo número de folhas.
Árvores
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ARTIGO
Guimarães Rosa: poeta dos sertões, criador de língua Para muitos entendidos, o maior livro que se escreveu no Brasil foi Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa. Um monumento, embora de gênero diverso, do nível de Os sertões, de Euclides da Cunha. As outras obras desse escritor-diplomata também o projetam entre os maiores de todos os tempos. Guimarães Rosa foi amigo e confidente de Paulo Dantas, o autor deste artigo. Aqui temos um retrato fascinante não apenas do autor, mas do homem de extraordinárias qualidades. Paulo Dantas
H
á anos, num dia nevoento de novembro, 19, por sinal com a folhinha histórica e patrioticamente a assinalar o Dia da Bandeira, num apartamento perto do Forte de Copacabana, nos “gerais da Guanabara”, João Guimarães Rosa morreu. Estava com 59 anos de idade, e havia, na noite de 16 de novembro de 1967, numa festa de glória, tomado posse, na Academia Brasileira de Letras, da cadeira antes ocupada pelo gaúcho João Neves da Fontoura, do qual havia sido chefe de gabinete no Itamaraty. Já mundialmente famoso, graças a traduções dos seus livros em doze países, a notícia da morte de Guimarães Rosa espalhou-se num luto geral. Um jornal paulista abriu, em página inteira, esta manchete: “Morreu o maior escritor”. Tomara posse na ABL numa quinta-feira e no domingo seguinte, perto do meio-dia, ainda abalado pelas emoções sentidas, foi fulminado por um enfarte.
“Tempo bom de verdade só começou com a conquista de algum isolamento.” Assim perderam as letras nacionais contemporâneas o seu maior escritor, o nosso primeiro grande romancista metafísico, autor de Grande sertão: veredas, além de Sagarana, Corpo de baile, Primeiras estórias, Tutameia, etc. Filho de Floduardo Pinto Rosa e Francisca Pinto Rosa; nascido aos 28 de junho de 1908, João Guimarães Rosa era mineiro. Menino introspectivo, criado no ar livre dos sertões, teve infância melancólica, apesar de cercada do carinho familiar. Era míope e gostava de brincar sozinho, estudando os bichos e as plantas, os rios e as matas. Daí, desde cedo a sua predileção pela geo grafia e pela introspecção. Não gostava de falar da sua infância, e numa das poucas vezes que a ela se referiu, declarou-nos: “Mas, tempo bom de verdade, só começou com a conquista de algum isolamento, com a segurança de poder fechar-me num quarto e trancar a porta. Deitar no chão e imaginar estórias, poemas, romances, botando todo mundo conhecido como personagens, misturando as melhores coisas vistas e ouvidas”. “O menino é o pai do homem”. Guimarães Rosa, numa confirmação desse ditado, relembra o seu chão de infância e as suas distrações meninas, entre as quais figurava ainda: “armar alçapões para apanhar sanhaços – e depois tornar a soltá-los. Que maravilha! Puxar sabugos
de espigas de milho, feito boizinhos de carro, brinquedo saudoso: atrelar um sabugo branco com outro vermelho, e mais uma junta de bois pretos – sabugos enegrecidos ao fogo”. E havia o boi de verdade pastando no curral ao lado, boi de cupim curvo, parecendo uma serra talhada, ao crepúsculo. E havia ainda o voo matinal das maitacas de Nhô Augusto. E tantas coisas mais, que o escritor gravou para sempre nas páginas das suas estórias dos campos gerais de Minas, principalmente em Miguilim, uma novela escrita em lágrimas, durante quinze dias e noites, verdadeiro impacto que abre o genial desfile de Corpo de baile, publicado em 1956, em dois grossos volumes.
morrido como embaixador, chefiando no Itamaraty a Divisão de Fronteiras. Tinha vocação de linguista, o que concorreu, decisivamente, para a criação de uma língua nova na literatura brasileira, com uma alquimia verbal, que ia além do laboratório, tornando-se uma espécie de metalinguagem poderosa. Pedindo a João Guimarães Rosa, com quem me correspondi íntima e longamente, uma pequena síntese biográfica sua, recebi o seguinte roteiro: “Imagine que o Guimarães Rosa nasceu em Cordisburgo, zona de engorda de gado, no Vale do Rio das Velhas; completou estudos e tirou o curso de Medicina em Belo Horizonte; clinicou dois anos na roça, em Itaguara, na zona oeste de Minas; andou em duas revoluções; fez concurso para o Itamaraty; foi da Divisão do Cerimonial (naquele tempo se chamava do Protocolo); seguiu para Hamburgo, primeiro posto; lá teve um ano e pouco de paz e dois anos e tanto de guerra, bombardeios aéreos, o diabo; veio, na troca dos diplomatas... E etc., etc.”.
Edições brasileiras da obra de Guimarães Rosa. Romancista e contista, ele criou, além de um mundo seu, uma língua nova e riquíssima.
Antes e depois de Guimarães Rosa Parte da crítica nacional divide a literatura nossa, de ficção, em dois períodos distintos: antes e depois de João Guimarães Rosa, tomado por base o ano de 1956, quando apareceram Grande sertão: veredas e Corpo de baile. Episódios vivos da infância do escritor ainda aparecem, transfigurados, em vários trechos e personagens do seu livro de estreia, Sagarana, contos e novelas, sua obra de feitio mais clássico ou acadêmico, publicada em 1946. O autor estava então no estrangeiro, seguindo a carreira diplomática, também brilhante e destacada, já que Guimarães Rosa falava e escrevia em diversos idiomas, tendo
Edições estrangeiras dos livros de Guimarães Rosa. O seu prestígio de escritor, no mundo inteiro, era igual ao dos maiores.
Completando melhor as informações pessoais desse descontraído roteiro biográfico, em reportagem literária, informa-nos o escritor Renard Perez: “Por ocasião da Revolução Constitucionalista de 1932, atua como médico voluntário da Força Pública, indo servir no setor do túnel. Encontra-se de novo com o amigo doutor Juscelino, e na pequena localidade
ARTIGO estreitaram as relações de amizade. Trinta e cinco anos depois, ao tomar posse na Academia, quando recebia o abraço do ex-presidente da República – que fizera parte da mesa – Rosa assim lhe responde ao cumprimento: – ‘Com a mão na pala, meu coronel’”.
Oficial médico da Força Pública Posteriormente Guimarães Rosa entra no quadro da Força Pública, por concurso. Em 1934, vamos encontrá-lo em Barbacena, como oficial médico do 9o Batalhão de Infantaria. Aí, a vida calma dá-lhe oportunidade para se entregar melhor aos seus livros. Mesmo sem se descuidar da Medicina retorna ao estudo das línguas. Rosa declarou: “Estudava línguas para não me afogar completamente na vida do interior”. Em 1934 veio para o Rio de Janeiro. Enfrentando um concurso no Ministério do Exterior (tirou 2o lugar) ingressa na diplomacia. É desse tempo um livro de versos, Magna, até hoje inédito, que obteve, em 1936, o prêmio de poesia da Academia Brasileira de Letras, com parecer altamente elogioso do poeta paulista Guilherme de Almeida. Como diplomata, Rosa esteve duas vezes em Paris, representando o Brasil em conferências importantes. Andou noutros países da Europa e, em 1967, esteve no México, como delegado brasileiro ao Primeiro Congresso Latino-americano de Escritores, sendo eleito vice-presidente. Na sua folha de serviços diplomáticos, entre outros destaques, merece ser lembrada a sua atuação na chefia do Serviço de Demarcação de Fronteiras nos importantes casos do Pico da Neblina (1965) e das Sete Quedas, no mesmo ano.
as narrativas deliciosas dos sertanejos, deles fazendo depois personagens. Identificava-se com o material recolhido, sentindo profunda e intimamente a alma cabocla da nossa gente. Fez isto por diversas vezes, entre os quarenta e os cinquenta anos, o período áureo da sua vida. Aproveitava suas férias para a realização dessas viagens, que soube apreciar mais do que as feitas em terras estrangeiras. Homem do mundo e, sobretudo, do sertão, deste fez o maior painel ou mural literário de todos os tempos, fugindo não só do regional, do folclórico ou do simples documentário geográfico. Dizia que não “escrevia sambas, mas sim, sinfonias”, daí o sentido orquestral, universal, musical da sua obra. Do seu tempo como “médico da roça”, guardou fundas lembranças e sofria quando perdia um cliente. Daí ter abandonado a Medicina, fazendo concurso para o Itamaraty. Em 1952, conheceu o Pantanal do Mato Grosso, de lá trazendo a mais bela reportagem transfigurada já feita sobre essa região desconhecida. Trata-se de O vaqueiro Mariano, que João Guimarães Rosa tencionava ampliar num livro.
“Médico da roça”, sofria quando perdia um paciente. Desistiu. Casou-se duas vezes, tendo duas filhas do primeiro matrimônio. Diversas estórias suas têm sido levadas ao cinema, destacando-se, como a de mais fiel adaptação, “A hora e vez de Augusto Matraga”, sob a direção de Roberto Santos. Fisicamente, João Guimarães Rosa, como a sua literatura, era de grande estrutura. Não gostava nem fazia “vida literária”, preferindo antes viver a própria literatura, trabalhando em casa ou nas horas vagas de que dispunha no Itamaraty, nos seus livros bem-elaborados. No fundo, era um tímido que nunca apreciou a vida mundana ou social, a qual foi obrigado a viver por necessidade da sua carreira. Possuía mais amigos noutras rodas, que não de escritores, dando-se muito bem com a gente do povo, a gente simples. Suas viagens aos sertões mineiros para colher material humano para seus livros ficaram célebres e nelas, entre vaqueiros, boiadeiros, jagunços e matutos, fez muitas e inesquecíveis amizades. Principalmente na chamada região do alto Urucuia, um afluente do rio São Francisco, cenário principal do seu Grande sertão: veredas. Viajava acompanhando boiadas e levava, amarrada ao pescoço, uma caderneta de campo, na qual tudo anotava, com lápis afiado. Dormia ao relento e ao pé do fogo, ouvia
Breve relato íntimo Durante um período de mais de dez anos, conheci e convivi com João Guimarães Rosa, na mais profunda intimidade. Amigos fomos; amigos nos carteamos. Chamei-o, sem conhecer, numa carta. Em 1957. Veio a São Paulo, autografou seus livros. Foi homenageado. De corpo presente. Vestido elegantemente como mandava o figurino do Itamaraty, onde era embaixador de carreira, chefe da Divisão de Fronteiras. Brincando inventou uma estória para o porteiro Brás, que sempre me recebia lá, que eu “era um cangaceiro, vindo dos gerais goianos com mais de quarenta mortes nos costados”. O velho Brás me olhava, admirado, com respeito profundo, como que procurando nas minhas roupas simples, vestígios heroicos de tantas mortes imaginárias. Era assim, imaginoso e brincalhão, quando não tinha terríveis depressões. Na intimidade da sua casa, nos gerais da Guanabara, no seu gabinete de trabalho, cercado por aveludados gatos de raça, mostrava-
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-me seus troféus literários. Lia os seus contos, revelava-me seus macetes, mostrando-me sua correspondência (enorme e técnica) com os tradutores. O universo e comando da sua superlinguagem, alada, de rica plumagem. Tudo explicava em verbetes mágicos. Que era vaidoso, “meninão”, como dizia o Cavalcanti Proença, eu não nego, não. Vivia demais dentro da literatura, que era a sua transvida, tresvariada. Muitas vezes era sádico, castigava-me obrigando a lê-lo em voz alta. – Nem a sua voz de aimoré sergipano estraga a beleza do que escrevo. “Depois tremeiam-se lembranças e contralembranças”. Um dia me pregou um susto danado. Fingiu-se de morto, deitado, vestido de preto, de braços cruzados, enorme no sofá do Itamaraty. “Deus é paciência. O diabo é o contrário.” – Morri, Dantas. Quero o meu “opus” de amor, igual ao que V. escreveu sobre Euclides. Sorríamos. Conversávamos sobre mulheres, molecagens, descontraimentos. Nesses momentos fui uma espécie do seu “psiquiatra popular”, um secretário de ferro, coberto com diademas de luz. Levantava seu moral. Voltava para São Paulo; as cartas se sucediam. Mais de vinte, todas maravilhosas, diferentes, rosianas, que reunidas em volume, com a reportagem da estória da nossa amizade, com o título de Sagarana emotiva (...). Euclidianamente falando defino a obra de João Guimarães Rosa como “um fabuloso fabular de agruras”, contendo no bojo profundas e tremendas ternuras e identificações com a vida sertaneja, que ele soube captar e transmitir ao leitor. Carlos Drummond de Andrade, num poema, classificou-o como um mágico, e Manuel Bandeira, noutro, confirmou a densidade desse mago, em “tudo por tudo” o nosso ficcionista mais profundo. Os ditos de Riobaldo, o grande jagunço que narra a epopeia de Grande sertão: veredas, tornaram-se provérbios populares, transformando-se em epígrafes nas paredes. Aqui mesmo, na redação de História, num quadro, figura este belo dito: “Deus é paciência. O diabo é o contrário”. Sabendo dar a tudo que escrevia aquele inevitável toque metafísico, João Guimarães Rosa era um grande preocupado com os mistérios da criação, com os problemas místicos ou religiosos. Há, em toda a sua obra, um denso sentido fáustico. Espécie de James Joyce, de Cervantes ou de Goethe caboclo, a esses gênios da humanidade foi pela crítica comparado. Mesmo em vida conheceu a glória e, dentro dela, em pleno clima de apoteose, morreu como que fulminado num clarão, com a imprensa e a crítica inteira do Brasil e do estrangeiro tecendo-lhe os maiores louvores, através de análises exaltadas ao fabuloso mundo que soube criar, como escritor realmente de gênio e substância, dos maiores que já tivemos em todos os tempos. Extraído de: revista História, n. 30.
POIS É, POESIA
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Augusto dos Anjos (1884-1914) Solitário
Como um fantasma que se refugia
Na solidão da natureza morta, Por trás dos ermos túmulos, um dia, Eu fui refugiar-me à tua porta! Fazia frio e o frio que fazia Não era esse que a carne nos conforta... Cortava assim como em carniçaria O aço das facas incisivas corta!
Predeterminação imprescritível Oriunda da infra-astral Substância calma Plasmou, aparelhou, talhou minha alma Para cantar de preferência o Horrível!
Quando a promiscuidade aterradora Matar a última força geradora E comer o último óvulo do ventre!
Na canonização emocionante, Da dor humana, sou maior que Dante, – A águia dos latifúndios florentinos!
Apocalipse
Sistematizo, soluçando, o Inferno... E trago em mim, num sincronismo eterno A fórmula de todos os destinos!
Os séculos efêmeros e nota Diminuição dinâmica, derrota Na atual força, integérrima, da Massa.
Mas tu não vieste ver minha Desgraça! E eu saí, como quem tudo repele, – Velho caixão a carregar destroços –
O lupanar
Levando apenas na tumbal carcaça O pergaminho singular da pele E o chocalho fatídico dos ossos!
Prenderam para sempre, nesta rede, Dentro do ângulo diedro da parede, A alma do homem polígamo e lascivo?!
Minha finalidade
Turbilhão teleológico incoercível,
Que força alguma inibitória acalma, Levou-me o crânio e pôs-lhe dentro a palma Dos que amam apreender o Inapreensível!
Ah! Por que monstruosíssimo motivo
Este lugar, moços do mundo, vede: É o grande bebedouro coletivo, Onde os bandalhos, como um gado vivo, Todas as noites, vêm matar a sede! É o afrodístico leito do hetairismo, A antecâmara lúbrica do abismo, Em que é mister que o gênero humano entre,
Minha divinatória Arte ultrapassa
É a subversão universal que ameaça A Natureza, e, em noite aziaga e ignota, Destrói a ebulição que a água alvorota E põe todos os astros na desgraça! São despedaçamentos, derrubadas, Federações sidéricas quebradas... E eu só, o último a ser, pelo orbe adiante, Espião da cataclísmica surpresa, A única luz tragicamente acesa Na universalidade agonizante! Extraído de: Eu e outras poesias, Livraria São José, Rio de Janeiro, 1965.
SERVIÇO DE VESTIBULAR Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Período de inscrição: até 1o de setembro de 2016. Somente via internet. Endereço da faculdade: Campus Universitário Zeferino Vaz – Barão Geraldo – Campinas – SP – CEP: 13083-970 – Telefone: (19) 3521-7000. Requisito: taxa de R$ 160,00. Cursos e vagas: consultar site www.comvest.unicamp.br Exames:
• 1a Fase: dia 20 de novembro de 2016. • 2a Fase: dias 15, 16 e 17 de janeiro de 2017. Leituras Obrigatórias:
• A hora e vez de Augusto Matraga – Guimarães Rosa. • Amor – Clarice Lispector. • Caminhos cruzados – Érico Veríssimo. • Coração, cabeça e estômago – Camilo Castelo Branco. • Lisbela e o prisioneiro – Osman Lins. • Memórias póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis. • Negrinha – Monteiro Lobato. • O cortiço – Aluísio Azevedo.
• Poemas negros – Jorge de Lima. • Sonetos – Luís de Camões. • Terra sonâmbula – Mia Couto. • Til – José de Alencar.
Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) Período de inscrição: até 15 de setembro de 2016. Somente via internet. Endereço da facul dade: praça Marechal Eduardo Gomes, 50 – Vila das Acácias – São José dos Campos – SP – CEP: 12228-900 – Telefone: (12) 3947-5732. Requisito: taxa de R$ 140,00. Cursos e vagas: consultar site www.vestibular.ita.br Exames: dias 13, 14, 15 e 16 de dezembro de 2016.
Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest) Período de inscrição: de 19 de agosto a 08 de setembro de 2016. Somente via internet. Endereço da faculdade: rua Alvarenga, 1 945/1 951 – Butantã – São Paulo – SP – CEP: 05509-004 – Telefone: (11) 3093-2300. Requisito: taxa de R$ 160,00. Cursos e vagas: consultar site www.fuvest.br
Jornal do Vestibulando
Exames:
• 1a Fase: dia 27 de novembro de 2016. • 2a Fase: dias 08, 09 e 10 de janeiro de 2017. Leituras Obrigatórias:
• A cidade e as serras – Eça de Queirós. • Capitães da Areia – Jorge Amado. • Claro enigma – Carlos Drummond de Andrade. • Iracema – José de Alencar. • Mayombe – Pepetela. • Memórias póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis. • O cortiço – Aluísio Azevedo. • Sagarana – Guimarães Rosa. • Vidas secas – Graciliano Ramos.
Universidade do Estado do Amazonas (UEA) Período de inscrição: até 31 de agosto de 2016. Somente via internet. Endereço da faculdade: av. Djalma Batista, 3 578 – Flores – Manaus – AM – CEP: 69005-010 – Telefone: (92) 3214-5772. Requisito: taxa de R$ 50,00. Cursos e vagas: consultar site www.uea.edu.br Exames: dias 23 e 24 de outubro de 2016.
Jornal ETAPA, editado por Etapa Ensino e Cultura REDAÇÃO: Rua Vergueiro, 1 987 – CEP 04101-000 – Paraíso – São Paulo – SP JORNALISTA RESPONSÁVEL: Egle M. Gallian – M.T. 15343