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Jornal do Vestibulando
ENSINO, INFORMAÇÃO E CULTURA
JORNAL ETAPA – 2016 • DE 01/09 A 14/09
ENTREVISTA
“As coisas podem parecer muito difíceis, mas você tem que persistir. A sensação de superação é muito grande.” Debora Narumi Demitrol Setoue tinha por meta entrar no curso de Medicina USP ou na Paulista [Unifesp]. Depois de tentar duas vezes veio para o Etapa. Fez o cursinho em período integral – Medicina Total – e conseguiu a aprovação que buscava. Aqui ela conta sua história de renúncia, persistência, superação e sucesso final.
Debora Narumi Demitrol Setoue Em 2015: Etapa Em 2016: Medicina – USP
JV – Quando você decidiu fazer Medicina? Debora – Eu sempre quis fazer Medicina. No 3o ano do Ensino Médio pesquisei outras carreiras, mas não teve jeito, não me enquadraria em nenhuma.
Além da Fuvest, você prestou outros vestibulares? Prestei Unicamp, Unesp e Unifesp. Fiz também o Enem e manifestei interesse pela Federal do Paraná. Fui aprovada em todas.
A Pinheiros era sua primeira opção? Era. Eu prestei Unesp e Unicamp mais como um aquecimento para Fuvest e Unifesp, que eram meu foco.
O que motivou você a vir estudar aqui? Já conhecia o método Etapa de preparação para olimpíadas, que eu tinha feito como um reforço ao meu estudo de Matemática. Sabia que era muito bom. Gosto muito do método daqui. Aí decidi.
Como era seu método de estudo? No Etapa eu estudei muito, muito mesmo. No Medicina Total a aula era das 7 e 5 da manhã até 15 para as 4 da tarde, de segunda a sexta-feira. Depois eu continuava aqui até 9 da noite, porque tinha acesso ao Plantão de Dúvidas. Não adianta, tem coisas que você não consegue resolver sozinha. Como eram muitas aulas, eu escolhia cinco matérias por dia, duas mais difíceis e três mais fáceis. Fazia primeiro as três mais fáceis e depois fazia as duas mais difíceis. Fazia isso todo dia. Acumulava as dúvidas até sexta-feira e no fim de semana refazia as questões. As que não conseguia resolver, levava ao plantão.
ENTREVISTA
Debora Narumi Demitrol Setoue CONTO Último beijo de amor – Álvares de Azevedo
Nas cinco matérias que estudava por dia, você resolvia os exercícios escritos e os testes? Eu sabia que tinha de matar tudo nas prioritárias da carreira Medicina: Física, Química e Biologia. Coloquei Matemática também no bolo porque na Unifesp entrava como prioritária. Fazia tudo dessas quatro matérias. Nas de humanas, fazia todos os testes e tentava fazer todas as escritas. Nas escritas, via o que eu sabia ou não sabia, lia todas as respostas e acrescentava nas minhas anotações aquilo que eu não sabia.
No fim de semana continuava nesse ritmo? Continuava. O sábado era como um dia da semana normal, só que sem aula. Ou seja, eu tinha um tempo maior para ver as questões que não tinha conseguido fazer, antes de levar para o plantão. E fazia os simulados.
No domingo você pegava mais leve?
Português.
Por causa de Redação?
Você tinha alguma atividade para relaxar?
Em quais matérias você ia mais ao Plantão de Dúvidas?
Também por causa de Gramática. Na Fuvest, no terceiro dia, das matérias prioritárias, os candidatos à Medicina vão muito bem, é fato. Você tem duas saídas: ou vai bem nos dois primeiros dias ou vai muito bem um dia e pode segurar em outro. Falei: “Tenho que ir bem no primeiro dia”. Minha nota no primeiro dia fez diferença. Acho que errei só uma questão e meia na prova de Português.
Além de Português, em quais outras matérias você recorria ao Plantão de Dúvidas? Geografia e História. Era muito raro ir ao plantão em Biologia, Física, Química e Matemática.
Como você treinava Redação? Fazia duas por semana. Uma redação eu fazia durante a semana, a outra eu jogava para o final de semana. Desde o começo do ano, eu pegava temas do próprio Etapa e procurava, em vestibulares antigos, temas que me soavam mais difíceis.
Moedas
O suicídio de Vargas
Eu gosto muito de ler. Quando estava muito cansada, eu lia jornal ou pegava os livros da leitura obrigatória.
Nas férias do meio do ano você descansou ou continuou estudando? Sempre sobram aquelas rebarbas do primeiro semestre. Eu fazia as coisas, refazia simulados.
Você leu todas as obras obrigatórias indicadas pela Fuvest? Li. Eu já tinha lido nos outros anos. No ano passado, foquei muito em análise das obras, o contexto delas.
Qual a diferença entre só ler a obra e, além de ler, assistir às palestras sobre elas? Assistir às palestras é o momento em que você faz as pontes, os ganchos com o que está acontecendo em cada período. Elas acentuam o que você deve estudar.
SERVIÇO DE VESTIBULAR
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ARTIGO
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Quase 11 da noite.
Sábado eu acordava um pouco mais tarde e começava a estudar por volta das 10 horas. Só parava para almoçar rapidinho. Domingo eu continuava nesse ritmo só quando tinha alguma coisa para resolver.
ENTRE PARÊNTESIS
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Você ficava aqui até 9 da noite. Chegava em casa a que horas?
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ENTREVISTA
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Quando chegou aqui você tinha restrição a alguma matéria? Nunca gostei muito de Geografia Física e de Inglês. Adorava Geografia Política. Só que eu precisava de todas as matérias para passar e dediquei tanta atenção à Geografia Física que diminuiu a rejeição à matéria.
Como você ia nos simulados? Nos simulados de testes eu sempre tirava A. Eu não me preocupava muito com a faixa A ou B, mas tinha uma meta: 80. No simulado em que fiquei fora dessa faixa tirei 76. Uma coisa muito importante: eu corrigia os simulados, porque neles eu via onde estava errando e por que estava errando. Eu gostava também de fazer provas antigas; fiz várias da Fuvest. Na semana da Fuvest, eu fiz todo dia 100 testes da apostila mais uma prova da Fuvest. Marcando horário. Cheguei na Fuvest extremamente aquecida. a
Como você foi na 1 fase da Fuvest? Eu tinha a meta de 80. Tirei 78.
Da 1a para a 2a fase, mudou alguma coisa no seu método de estudo? Eu estudei sempre mais focada na Fuvest e na Unifesp. Mas não deixei humanas de lado.
Qual foi seu desempenho na 2a fase? No primeiro dia tirei 80 na Redação. Na prova, como eles somam as notas das questões e da Redação e dividem, deu 83.
No segundo dia, na prova geral, qual foi sua nota? Tirei 75. O segundo dia foi o momento em que dei uma bambeada. Saí muito chateada.
E no terceiro dia, das matérias prioritárias da carreira? Tirei 98. Eram as matérias de que eu gostava, em que tinha mais facilidade.
Como ficou sabendo de sua aprovação na Fuvest?
Como foi o início das aulas? Na primeira semana de recepção teve jogos, competição, gincana; fomos conhecer o Instituto do Câncer, o Instituto da Criança e o InCor. Teve churrasco, teve feijoada; tivemos algumas festas.
Com relação às matérias, como foi no primeiro semestre? O curso é dado em unidades curriculares. Existem unidades semestrais e unidades anuais. Algumas unidades semestrais não duram o semestre inteiro. Duram um determinado período, a gente faz as provas e já vai para outra unidade. No começo, foi mais um aquecimento, teve o que eles chamam de C Zero, que é um estágio curricular. Você recebe informações sobre a faculdade, os cursos disponíveis, para você se situar, saber onde vai ter aula. A gente fez junto também uma BLS [Basic Life Suport, em português Suporte Básico de Vida], com noções de primeiros socorros. Ensinaram a tirar sangue, um bicho tirou do outro. As aulas são divididas em uma parte teórica e uma parte prática. Quando tem Histologia, que é o estudo dos tecidos, vemos a teoria e depois vamos para o microscópio ver as lâminas.
No primeiro semestre, teve mais alguma coisa? Não dentro da C Zero. A C Zero é leve, realmente uma introdução. Quando começa a C1 é mais paulada. A C1 é quando começam as matérias mesmo. Você vai ver Bioquímica, Fisiologia, Histologia. Aí começam as provas mais difíceis. É muita coisa. Às vezes uma matéria tem 50 páginas para ler. A gente viu na C1, por exemplo, glicose, etapas de reações químicas. E na C2 começamos a ter Anatomia, a mexer com corpos. Na C3, vamos ver sistema digestório.
Do que conheceu até agora na USP, na Pinheiros, o que você destaca na parte humana?
Eu vim aqui esperar a lista.
A possibilidade de discussão. Tem vários grupos.
O que sentiu quando viu seu nome na lista?
Você faz parte de algum grupo?
Eu não achava meu nome, de tão nervosa que estava. Foi uma jornalista que achou para mim. O que senti mais foi alívio. Antes de ficar feliz, fiquei aliviada. Depois eu brinquei que queria muito a Paulista, tinha amor pela Paulista. Eu queria ser pediatra e tinha um pediatra que eu conhecia que dava aula na Unifesp. Eu fui várias vezes à Unifesp, era familiar o lugar. Não tinha a mesma ligação com a Pinheiros. Mas quando conheci a Pinheiros, não tem como negar, é tudo mais grandioso.
Meu primeiro semestre foi de conhecer as coisas. Existem muitas possibilidades lá, existe a Med Jr., a empresa júnior da Faculdade de Medicina, que é uma extensão em que você aprende um pouco sobre administração hospitalar. Conheci um pouco de cada liga. Passei pela Atlética, treinei, fiz BichUSP, fui para a Calomed [competição entre primeiranistas de algumas faculdades de Medicina de São Paulo].
Em que modalidade você competiu?
No dia da lista, você saiu com o pessoal da Pinheiros que vem ao Etapa recepcionar os calouros?
Fui com o basquete. Eu tinha uma noção de basquete do colégio. Mas eles são muito abertos, mesmo que você não saiba nada pode ir lá treinar.
Saí. Teve um churrasco na Atlética, fomos para lá. Depois o pessoal nos mostrou a faculdade.
Você ainda está na Atlética?
Como foi no dia da matrícula? Fui com minha mãe. No dia da matrícula é que cai a ficha. Minha mãe falava: “Não acredito”.
Não. O fato de morar muito longe dificulta as coisas. Nesse sentido está sendo uma adaptação também para mim. Alguns treinos são muito tarde, tive de fazer algumas opções.
Hoje você está participando de alguma outra atividade? Sou plantonista no MedEnsina, o curso comunitário dos alunos [que usa material do Etapa]. No 1o ano é só plantão.
Em que área? Normalmente tento pegar Matemática, Física e Português. Fiquei uma semana no Remusp [Recital de Medicina da USP] para conhecer, é um grupo de alunos que tocam e fazem algumas apresentações. Um grupo em que eu pretendo ficar é o Med Dança. E pretendo começar iniciação científica neste segundo semestre e a Liga de Cirurgia Cardíaca. Algumas ligas não são abertas ao 1o ano, só para o 2o ano. E aqui no Etapa estou como tutora do Medicina Total.
Como está sendo essa experiência? Eu tive tutora aqui, que me ajudou muito, e tento fazer um pouco do que ela fez comigo. É uma mistura de orientação didática com emocional, não é só a questão do estudo. Às vezes você está com algum problema, ansiosa, e precisa de alguém próximo, que tenha sua idade para te ouvir. Eu tento tirar as dúvidas práticas, do dia a dia.
Neste segundo semestre, o que você está planejando? O que pretende fazer? Pretendo entrar nos projetos do Instituto da Criança. Isso demanda prova e aprovação.
É a iniciação científica? É. Vou precisar de um tempo para fazer um projeto para o Instituto da Criança.
Você pretende seguir na área de Pediatria? Hoje, sim. Cirurgia Cardiopediátrica. Por isso pretendo fazer a liga. A cirurgia é uma área que sempre me chamou a atenção. E eu gosto de lidar com crianças.
Como fica marcado o ano passado para você? Foi um ano de superação, tanto pedagógica quanto emocional. Foi um ano que eu passei bem pressionada por causa do que tinha acontecido. E foi um ano de amadurecimento.
O que você diz a quem vai prestar Medicina ou já prestou e está aqui de novo? As coisas podem parecer muito difíceis e são difíceis, sempre vão ser difíceis. Mas você tem que persistir. A sensação de superação é muito grande.
Do que você tem saudade do Etapa? Eu tenho saudade do dia a dia. Era uma coisa assim: eu trazia a comida de casa e almoçava com o pessoal. É um ambiente totalmente diferente. Sempre que está com um problema você tem um amigo para conversar.
O que mais você quer dizer para nossos alunos? Não pode desistir. Só depende de você, do quanto você quer. Isso ninguém lhe dá nem pode tirar de você.