Jornal do vestibulando - 1519

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Jornal do Vestibulando

ENSINO, INFORMAÇÃO E CULTURA

JORNAL ETAPA – 2016 • DE 15/09 A 28/09

ENTREVISTA

Depois de um ano de preparação sua nota subiu 23 pontos na 1a fase. Caio Silva Teixeira entrou na Poli, no curso de Engenharia Elétrica. Ao terminar o Ensino Médio ele fez 47 pontos na 1a fase da Fuvest. Depois de um ano no cursinho subiu a pontuação para 70. Um ano em que conseguiu se organizar nos estudos e superar defasagens nas matérias de Exatas, principalmente em Matemática. Ao ver seu nome na lista de aprovados não sabia se chorava ou ria: “Foi um êxtase, uma sensação incrível”.

Caio Silva Teixeira Em 2015: Etapa Em 2016: Engenharia Elétrica – USP

JV – Quando e por que você escolheu Engenharia como carreira? Caio – Sempre tive tendência para Exatas e todo mundo falava que eu tinha que fazer Engenharia. Aqui no Etapa pesquisei as várias grades curriculares e vi que como engenheiro eu posso atuar em prol da sociedade. Quero participar de projetos que beneficiem pessoas necessitadas. Projetos, por exemplo, para ajudar idosos, cadeirantes, deficientes físicos, com o uso de tecnologia. Sou um entusiasta de tecnologia.

Além da Fuvest, você foi aprovado onde mais? Fui aprovado na UFABC, pelo Enem, para o curso de Ciências e Tecnologia.

Como você conheceu o Etapa? Eu fiz os Desafios daqui, no 5o e no 9o ano. Participei da preparação para a Olimpíada Brasileira de Matemática aqui também. Acabei vindo para cá.

Você prestou Fuvest ao terminar o Ensino Médio? Prestei. Não fui para a 2a fase, acertei 47 questões, fiquei longe da nota de corte. Acho que isso prova que um ano bem feito vale bastante a pena, dá para subir a nota.

Você estava animado no começo do ano passado? Eu estava bem animado porque queria fazer o cursinho muito bem feito e conseguir talvez até escolher para onde ir. Comecei muito animado,

ENTREVISTA

Caio Silva Teixeira CONTO A Sereníssima República – Machado de Assis

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Conseguiu voltar com essa força? Sim. Eu descansei bastante nas férias. A cabeça principalmente. E no segundo semestre eu procurei cuidar de mim, o que não tinha feito no primeiro semestre – dormia pouco, comia mal, muito chocolate, muita porcaria. Passei a cuidar de mim e deu certo, meu ânimo aumentou. Quando precisava descansar, eu descansava.

Você mudou a alimentação e o tempo de sono. Manteve o tempo de estudo? No segundo semestre as matérias ficam um pouco mais complexas, dedicava um pouco mais de tempo para estudar, principalmente Exatas, que eram as minhas matérias prioritárias na 2a fase. No início eu estudava sempre lendo a apostila e fazendo os exercícios de todas as matérias do dia. E qualquer dúvida eu ia ao plantão. Aí comecei a testar várias maneiras de estudo, algumas davam certo, outras não. Comecei a dormir mal, chegava em casa cansado, queria estudar, mas não adiantava.

Você chegava em casa a que horas? Dependia do dia e das matérias. Em média, saía daqui às 6 horas, 6 e meia e rapidinho chegava em casa.

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Sim, eu ficava aqui porque era melhor para mim. Em casa eu não conseguia estudar. Ficava na Sala de Estudos. Principalmente perto de algum plantão que no dia eu sabia que ia precisar. Tinha muita dúvida em Física e Matemática. Matemática era minha pior matéria. Ia direto para os exercícios. Qualquer dúvida, eu lia a apostila. Se não entendesse, entrava no Plantão Virtual. Se ainda restasse dúvida, ia consultar os plantonistas.

Esse era o seu método em todas as matérias? Isso em Exatas. Em Humanas era diferente, eu lia as apostilas. Nas matérias de Exatas eu preferia já tentar os exercícios.

Em Biológicas era como em Humanas? Em Biologia eu ia muito bem e lia a apostila. Ela é completa, tem todos os detalhes necessários e conversa muito bem com os exercícios. Eu ia bastante em Geografia porque coloquei na cabeça que tinha que me destacar em alguma matéria que não fosse de Exatas. Aí escolhi Geografia como principal e sempre conversava com o plantonista sobre atualidades. Passei a ir bem em Geografia nos simulados e na Fuvest também tive uma nota bem razoável. Principalmente as aulas de Geopolítica me ajudaram muito, até a escolher minha carreira.

Você tinha mais base em quais matérias? Eu tinha mais base na escola em História, Geografia e Biologia. Aqui, eu ia bem em Física porque os

POIS É, POESIA

ARTIGO

Parlamentarismo e presidencialismo

Você ficava de segunda a sexta-feira até umas 6 da tarde mesmo?

Em quais matérias você ia mais ao plantão?

Como era seu método de estudo?

Antigas e muito valiosas

ENTRE PARÊNTESIS

Cesto de pães

mas antes das férias do meio do ano estava exausto. Foi uma época difícil, mas coloquei na cabeça que nas férias eu ia descansar e voltaria em agosto com força total.

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Luís Vaz de Camões SERVIÇO DE VESTIBULAR

Inscrições

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ENTREVISTA

professores são ótimos. Faziam entender muito bem com poucas palavras. Achava mágico.

No final de semana você estudava? No sábado eu fazia as matérias que não tinha conseguido fazer na semana, dava uma revisada. Às vezes eu pegava só uma matéria, ficava uma horinha estudando e estava bom. No domingo eu só descansava.

Você fazia os simulados? Nunca perdi os da Fuvest. Eu gostava dos simulados pela condição que eles dão para escolher uma sequência de exercícios na prova e de controlar o próprio tempo. Eu sempre fazia em quatro horas, quatro e meia. Não ia muito bem porque não buscava acertar as 90 questões, mas fazer o que eu podia, fazer o meu melhor dentro da estratégia que eu tinha escolhido para aquele simulado.

Como eram essas estratégias? Eu testei muitas maneiras. Testei começar por Português, via que meu desempenho em Português melhorava, mas meu desempenho em Geografia caía. Tentei Geografia e depois História, meu desempenho melhorava nas duas, mas em Português caía. Aí meio que achei o equilíbrio, fazer numa certa ordem e deixar as questões em branco para depois.

Como foi seu desempenho nos simulados? Sempre fiquei em C menos e C mais. Tirei um B em matérias de Humanas no Enem e chegava a tirar B em Redação. Quando tirava C menos, pegava a prova e ia de questão em questão para ver o que tinha errado. Eu não quantificava os exercícios, eu qualificava. Sempre fui de querer um estudo qualitativo.

Você treinava Redação? Eu cometi um erro durante o ano que foi fazer poucas redações, mas as redações que fazia, levava ao plantão. Depois da 1a fase eu meio que me assustei e fiz as redações de novo. Também fiz redações de provas antigas, levava ao plantão.

Você leu as obras literárias indicadas pela Fuvest como obrigatórias? Já tinha lido na escola e aqui assisti às palestras. Achei sensacional. Nunca achei que ia ter tanta coisa por trás dos livros. Vi as palestras e assisti de novo no site. Fazia anotações e até li outra vez alguns trechos dos livros.

Qual a diferença entre só ler a obra e além de ler assistir às palestras também? Assistir à palestra é como ler a obra pela visão de outra pessoa. O professor aponta um trecho da obra que para você é só um trecho, mas ele mostra em cada linha informações muito importantes. E você começa a enxergar o livro de outra forma e até desejar ler a obra outra vez.

Você fez quantos pontos na 1a fase da Fuvest? 70 pontos. O corte foi 60.

No ano anterior você tinha feito 47. O que achou desse resultado, 10 pontos acima do corte? Eu tinha muito medo de não subir. Foi uma coisa de dia, de saber. Usei a semana pré-Fuvest a meu favor. Descansei, fiz tudo para chegar na

prova 100%, com a mente organizada e focada na prova. No dia da prova cheguei animado e fiz o melhor que podia.

Como foi então a semana anterior à prova? Peguei muito leve. Antes da Fuvest, um professor falou: “Você estudou o ano inteiro e vai gastar três horas e meia, quatro horas na prova? Não, você vai até o fim, cinco horas de prova. Nem que seja para resolver aquele último exercício que você não está conseguindo, mas no fundo você viu aquilo em algum lugar. Não desista. Você tem que pensar que ali tem que ser sua melhor prova, não é mais um simulado. Aqui você fez simulado para poder chegar na prova com o melhor que conseguiu”.

Para a 2a fase mudou alguma coisa no seu estudo? Mudou porque eu fiquei um pouco acomodado. Não esperava essa nota, achava que ia ser bem mais baixa. Isso foi um grande erro. E me afetou. Comecei a cair de rendimento e não conseguia voltar aos exercícios, principalmente porque agora eram escritos. Minha solução foi pegar provas dos anos anteriores e fazer.

Como você foi na 2a fase? No primeiro dia eu fui bem, tirei 60 nas questões de Português e 76 na Redação. Deu média 68.

No segundo dia, na prova geral, qual foi sua nota? Foi uma prova mais difícil que nos anos anteriores, principalmente Matemática. Não deu tempo de fazer tudo. Minha nota foi 62,8.

E no terceiro dia, das matérias prioritárias da carreira, Matemática, Física e Química? A prova foi mais fácil que nos anos anteriores. Fui razoavelmente bem, tirei uma nota alta, 83,33.

Na escala de zero a 1 000, qual foi sua pontuação? Foi 729 e consegui classificação boa para o meu curso.

Como você ficou sabendo de sua aprovação na Fuvest? Vim até aqui. Corri esse risco, cheguei com um amigo. Na hora que vi meu nome foi um êxtase, não sabia se chorava, se ria. Uma sensação incrível. É a “primeira conquista” que a gente faz sozinho. Não tem como esquecer.

O pessoal da Poli já estava no Etapa, com bateria e tudo? Eles cortaram um pouco meu cabelo, me jogaram tinta, organizaram pedágio. Foi bem legal. Conheci já alguns veteranos meus.

O que você tem de matérias neste segundo semestre? Cálculo II, Física II, Álgebra Linear II, Mecânica I e as matérias de Elétrica. Estou tendo Algoritmo e Estrutura de Dados, Laboratório de Programação Orientada a Objetos e Introdução à Engenharia Elétrica.

De qual matéria você está gostando mais? Estou gostando muito de programar. Algoritmos e Laboratório de Programação são minhas favoritas. Introdução à Engenharia Elétrica tem uma dinâmica muito legal. Gostei bastante.

O que você destaca na Poli? Destaco a parte humana. As pessoas são legais, você conhece gente nova, gente de diferentes tipos, do Brasil inteiro, de fora do Brasil. Isso traz uma grande diversidade de pensamentos. Na parte de infraestrutura, os prédios são bem cuidados, tem segurança, banheiro limpo, lanchonete, wi-fi em todo lugar. Tem salas de estudos, com tomadas e tudo. Muito legal.

Você está participando de alguma atividade fora das aulas? Eu participei de algumas reuniões da Atlética, gostei bastante, participei de algumas decisões que eles tomaram. Participei também do campeonato dos bichos, o BichUSP, joguei handebol. Muito legal porque foi a primeira vez que vesti a camisa da Poli. Bateria apoiando, emocionante.

O que você pode dizer a quem está se preparando para prestar vestibular este ano? É importante conhecer seus limites, seus pontos fortes, seus pontos fracos. Você tem que ter seu próprio ritmo, suas próprias decisões. E, mais importante, se cuidar, como já falei. Seu único instrumento na prova é sua mente. Se a sua mente estiver cansada, não vai ser a sua melhor prova. Você tem que estar consciente disso e descansar.

Como fica marcado para você o ano passado? Foi um ano difícil, mas foi um ano legal. Uma época muito boa, de muito aprendizado. Usei o ano para aprender a ter minhas responsabilidades. Isso se reflete na faculdade também. Tudo o que aprende no cursinho, não só Física, Matemática, você vai usar lá: como buscar seus próprios estudos, como se relacionar com as pessoas. O Etapa me ajudou a crescer como pessoa.

Você tem saudade de alguma coisa do ano passado? Tenho muita saudade dos professores. Eles são ótimos, têm ótima didática. Sinto falta principalmente dos professores de Física.

Como foi na matrícula?

O que você tira dessa experiência no cursinho?

A festa da matrícula foi muito tranquila. Você não precisava fazer nada. Eu quis pular na lama, pulei, fiz tudo que podia. Não precisava nem raspar o cabelo se não quisesse. Eu raspei.

Eu não queria falar clichês, mas gosto muito de uma frase que eu ouvia, que é: “Milagres acontecem quando a gente vai à luta. Lutar e ter força de vontade é meio caminho andado”.

Você já conhecia a Poli?

Você quer dizer mais alguma coisa aos nossos alunos atuais?

Não conhecia. Depois de toda a burocracia, lá estavam os veteranos esperando você. Eles te querem lá dentro, é incrível a energia que eles trazem, principalmente o pessoal da minha Engenharia. Conheci alguns deles. Os da Atlética também são muito gente fina.

Quero trazer uma reflexão. Ao acordar de manhã, faça uma pergunta: “Por que e para que estou acordando hoje?” E aí faça outra pergunta: “Vale a pena?” Se não valer, tente outra coisa. Se valer, faça o seu melhor.


CONTO

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A Sereníssima República (Conferência do Cônego Vargas) Machado de Assis

M

eus senhores, Antes de comunicar-vos uma descoberta, que reputo de algum lustre para o nosso país, deixai que vos agradeça a prontidão com que acudistes ao meu chamado. Sei que um interesse superior vos trouxe aqui; mas não ignoro também, – e fora ingratidão ignorá-lo, – que um pouco de simpatia pessoal se mistura à vossa legítima curiosidade científica. Oxalá possa eu corresponder a ambas. Minha descoberta não é recente; data do fim do ano de 1876. Não a divulguei então, – e, a não ser o Globo, interessante diário desta capital, não a divulgaria ainda agora, – por uma razão que achará fácil entrada no vosso espírito. Esta obra de que venho falar-vos, carece de retoques últimos, de verificações e experiências complementares. Mas o Globo noticiou que um sábio inglês descobriu a linguagem fônica dos insetos, e cita o estudo feito com as moscas. Escrevi logo para a Europa e aguardo as respostas com ansiedade. Sendo certo, porém, que pela navegação aérea, invento do Padre Bartolomeu, é glorificado o nome estrangeiro, enquanto o do nosso patrício mal se pode dizer lembrado dos seus naturais, determinei evitar a sorte do insigne Voador, vindo a esta tribuna, proclamar alto e bom som, à face do universo, que muito antes daquele sábio, e fora das ilhas britânicas, um modesto naturalista descobriu coisa idêntica, e fez com ela obra superior. Senhores, vou assombrar-vos, como teria assombrado a Aristóteles, se lhe perguntasse: Credes que se possa dar um regime social às aranhas? Aristóteles responderia negativamente, como vós todos, porque é impossível crer que jamais se chegasse a organizar socialmente esse articulado arisco, solitário, apenas disposto ao trabalho, e dificilmente ao amor. Pois bem, esse impossível fi-lo eu. Ouço um riso, no meio do sussurro de curiosidade. Senhores, cumpre vencer os preconceitos. A aranha parece-vos inferior, justamente porque não a conheceis. Amais o cão, prezais o gato e a galinha, e não advertis que a aranha não pula nem ladra como o cão, não mia como o gato, não cacareja como a galinha, não zune nem morde como o mosquito, não nos leva o sangue e o sono como a pulga. Todos esses bichos são o modelo acabado da vadiação e do parasitismo. A mesma

formiga, tão gabada por certas qualidades boas, dá no nosso açúcar e nas nossas plantações, e funda a sua propriedade roubando a alheia. A aranha, senhores, não nos aflige nem defrauda; apanha as moscas, nossas inimigas, fia, tece, trabalha e morre. Que melhor exemplo de pa­ ciência, de ordem, de previsão, de respeito e de humanidade? Quanto aos seus talentos, não há duas opiniões. Desde Plínio até Darwin, os naturalistas do mundo inteiro formam um só coro de admiração em torno desse bichinho, cuja maravilhosa teia a vassoura inconsciente do vosso criado destrói em menos de um minuto. Eu repetiria agora esses juízos, se me sobrasse tempo; a matéria, porém, excede o prazo, sou constrangido a abreviá-la. Tenho-os aqui, não todos, mas quase todos; tenho, entre eles, esta excelente monografia de Büchner, que com tanta sutileza estudou a vida psíquica dos animais. Citando Darwin e Büchner, é claro que me restrinjo à homenagem cabida a dois sábios de primeira ordem, sem de nenhum modo absolver (e as minhas vestes o proclamam) as teorias gratuitas e errôneas do materialismo. Sim, senhores, descobri uma espécie araneída que dispõe do uso da fala; coligi alguns, depois muitos dos novos articulados, e organizei-os socialmente. O primeiro exemplar dessa aranha maravilhosa apareceu-me no dia 15 de dezembro de 1876. Era tão vasta, tão colorida, dorso rubro, com listras azuis, transversais, tão rápida nos movimentos, e às vezes tão alegre, que de todo me cativou a atenção. No dia seguinte vieram mais três, e as quatro tomaram posse de um recanto de minha chácara. Estudei-as longamente; achei-as admiráveis. Nada, porém, se pode comparar ao pasmo que me causou a descoberta do idioma araneída, uma língua, senhores, nada menos que uma língua rica e variada, com a sua estrutura sintática, os seus verbos, conjugações, declinações, casos latinos e formas onomatopaicas, uma língua que estou gramaticando para uso das academias, como o fiz sumariamente para meu próprio uso. E fi-lo, notai bem, vencendo dificuldades aspérrimas com uma paciência extraordinária. Vinte vezes desanimei; mas o amor da ciência dava-me forças para arremeter a um trabalho,

que hoje declaro, não chegaria a ser feito duas vezes na vida do mesmo homem. Guardo para outro recinto a descrição técnica do meu aracnídeo, e a análise da língua. O objeto desta conferência é, como disse, ressalvar os direitos da ciência brasileira, por meio de um protesto em tempo; e, isto feito, dizer-vos a parte em que reputo a minha obra superior à do sábio de Inglaterra. Devo demonstrá-lo, e para este ponto chamo a vossa atenção. Dentro de um mês tinha comigo vinte aranhas; no mês seguinte cinquenta e cinco; em março de 1877 contava quatrocentas e noventa. Duas forças serviram principalmente à empresa de as congregar: – o emprego da língua delas, desde que pude discerni-la um pouco, e o sentimento de terror que lhes infundi. A minha estatura, as vestes talares, o uso do mesmo idioma, fizeram-lhe crer que era eu o deus das aranhas, e desde então adoraram-me. E vede o benefício desta ilusão. Como as acompanhasse com muita atenção e miudeza, lançando em um livro as observações que fazia, cuidaram que o livro era o registro dos seus pecados, e fortaleceram-se ainda mais na prática das virtudes. A flauta também foi um grande auxiliar. Como sabeis, ou deveis saber, elas são doidas por música. Não bastava associá-las; era preciso dar-lhes um governo idôneo. Hesitei na escolha; muitos dos atuais pareciam-me bons, alguns excelentes, mas todos tinham contra si o existirem. Explico-me. Uma forma vigente de governo ficava exposta a comparações que poderiam amesquinhá-la. Era-me preciso, ou achar uma forma nova, ou restaurar alguma outra abandonada. Naturalmente adotei o segundo alvitre, e nada me pareceu mais acertado do que uma república, à maneira de Veneza, o mesmo molde, e até o mesmo epíteto. Obsoleto, sem nenhuma analogia, em suas feições gerais, com qualquer outro governo vivo, cabia-lhe ainda a vantagem de um mecanismo complicado, – o que era meter à prova as aptidões políticas da jovem sociedade. Outro motivo determinou a minha escolha. Entre os diferentes modos eleitorais da antiga Veneza, figurava o do saco e bolas, iniciação dos filhos da nobreza no serviço do Estado. Metiam-se as bolas com os nomes dos candidatos no saco, e


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CONTO

extraía-se anualmente um certo número, ficando os eleitos desde logo aptos para as carreiras públicas. Este sistema fará rir aos doutores do sufrágio; a mim não. Ele exclui os desvarios da paixão, os desazos da inépcia, o congresso da corrupção e da cobiça. Mas não foi só por isso que o aceitei; tratando-se de um povo tão exímio na fiação de suas teias, o uso do saco eleitoral era de fácil adaptação, quase uma planta indígena. A proposta foi aceita. Sereníssima República pareceu-lhes um título magnífico, roçagante, expansivo, próprio a engrandecer a obra popular. Não direi, senhores, que a obra chegou à perfeição, nem que lá chegue tão cedo. Os meus pupilos não são os solários de Campanela ou os utopistas de Morus; formam um povo recente, que não pode trepar de um salto ao cume das nações seculares. Nem o tempo é operário que ceda a outro a lima ou o alvião; ele fará mais e melhor do que as teorias do papel, válidas no papel e mancas na prática. O que posso afirmar-vos é que, não obstante as incertezas da idade, eles caminham, dispondo de algumas virtudes, que presumo, essenciais à duração de um Estado. Uma delas, como já disse, é a perseverança, uma longa paciência de Penélope, segundo vou mostrar-vos. Com efeito, desde que compreenderam que no ato eleitoral estava a base da vida pública, trataram de o exercer com a maior atenção. O fabrico do saco foi uma obra nacional. Era um saco de cinco polegadas de altura e três de largura, tecido com os melhores fios, obra sólida e espessa. Para compô-lo foram aclamadas dez damas principais, que receberam o título de mães da república, além de outros privilégios e foros. Uma obra-prima, podeis crê-lo. O processo eleitoral é simples. As bolas recebem os nomes dos candidatos, que provarem certas condições, e são escritas por um oficial público, denominado “das inscrições”. No dia da eleição, as bolas são metidas no saco e tiradas pelo oficial das extrações, até perfazer o número dos elegendos. Isto que era um simples processo inicial na antiga Veneza, serve aqui ao provimento de todos os cargos. A eleição fez-se a princípio com muita regularidade; mas, logo depois, um dos legisladores declarou que ela fora viciada, por terem entrado no saco duas bolas com o nome do mesmo candidato. A assembleia verificou a exatidão da denúncia, e decretou que o saco, até ali de três polegadas de largura, tivesse agora duas; limitando-se a capacidade do saco, restringia-se o espaço à fraude, era o mesmo que

suprimi-la. Aconteceu, porém, que na eleição seguinte, um candidato deixou de ser inscrito na competente bola, não se sabe se por descuido ou intenção do oficial público. Este declarou que não se lembrava de ter visto o ilustre candidato, mas acrescentou nobremente que não era impossível que ele lhe tivesse dado o nome; neste caso não houve exclusão, mas distração. A assembleia, diante de um fenômeno psicológico inelutável, como é a distração, não pôde castigar o oficial; mas, considerando que a estreiteza do saco podia dar lugar a exclusões odiosas, revogou a lei anterior e restaurou as três polegadas. Nesse ínterim, senhores, faleceu o primeiro magistrado, e três cidadãos apresentaram-se candidatos ao posto, mas só dois importantes, Hazeroth e Magog, os próprios chefes do partido retilíneo e do partido curvilíneo. Devo explicar-vos estas denominações. Como eles são principalmente geômetras, é a geometria que os divide em política. Uns entendem que a aranha deve fazer as teias com fios retos, é o partido retilíneo; – outros pensam, ao contrário, que as teias devem ser trabalhadas com fios curvos, – é o partido curvilíneo. Há ainda um terceiro partido misto e central, com este postulado: as teias devem ser urdidas de fios retos e fios curvos; é o partido retocurvilíneo; e finalmente, uma quarta divisão política, o partido antirretocurvilíneo, que fez tábua rasa de todos os princípios litigantes, e propõe o uso de umas teias urdidas de ar, obra transparente e leve, em que não há linhas de espécie alguma. Como a geo­metria apenas poderia dividi-los, sem chegar a apaixoná-los, adotaram uma simbólica. Para uns, a linha reta exprime bons sentimentos, a justiça, a probidade, a inteireza, a constância, etc., ao passo que os sentimentos ruins ou inferiores, como a bajulação, a fraude, a deslealdade, a perfídia, são perfeitamente curvos. Os adversários respondem que não, que a linha curva é a da virtude e do saber, porque é a expressão da modéstia e da humildade; ao contrário, a ignorância, a presunção, a toleima, a parlapatice, são retas duramente retas. O terceiro partido, menos anguloso, menos exclusivista, desbastou a exageração de uns e outros, combinou os contrastes, e proclamou a simultaneidade das linhas como a exata cópia do mundo físico e moral. O quarto limita-se a negar tudo. Nem Hazeroth nem Magog foram eleitos. As suas bolas saíram do saco, é verdade, mas foram inutilizadas, a do primeiro por faltar a primeira letra do nome, a do segundo por lhe faltar a última. O nome restante e triunfante era o de um argentá-

rio ambicioso, político obscuro, que subiu logo à poltrona ducal, com espanto geral da república. Mas os vencidos não se contentaram de dormir sobre os louros do vencedor; requereram uma devassa. A devassa mostrou que o oficial das inscrições intencionalmente viciara a ortografia de seus nomes. O oficial confessou o defeito e a intenção; mas explicou-os dizendo que se tratava de uma simples elipse; delito, se o era, puramente literário. Não sendo possível perseguir ninguém por defeitos de ortografia ou figuras de retórica, pareceu acertado rever a lei. Nesse mesmo dia ficou decretado que o saco seria feito de um tecido de malhas, através das quais as bolas pudessem ser lidas pelo público, e, ipso facto, pelos mesmos candidatos, que assim teriam tempo de corrigir as inscrições. Infelizmente, senhores, o comentário da lei é a eterna malícia. A mesma porta aberta à lealdade serviu à astúcia de um certo Nabiga, que se conchavou com o oficial das extrações, para haver um lugar na assembleia. A vaga era uma, os candidatos três; o oficial extraiu as bolas com os olhos no cúmplice, que só deixou de abanar negativamente a cabeça, quando a bola pegada foi a sua. Não era preciso mais para condenar a ideia das malhas. A assembleia, com exemplar paciência, restaurou o tecido espesso do regime anterior, mas, para evitar outras elipses, decretou a validação das bolas cuja inscrição estivesse incorreta, uma vez que cinco pessoas jurassem ser o nome inscrito o próprio nome do candidato. Este novo estatuto deu lugar a um caso novo e imprevisto, como ides ver. Tratou-se de eleger um coletor de espórtulas, funcionário encarregado de cobrar as rendas públicas, sob a forma de espórtulas voluntárias. Eram candidatos, entre outros, um certo Caneca e um certo Nebraska. A bola extraída foi a de Nebraska. Estava errada, é certo, por lhe faltar a última letra; mas, cinco testemunhas juraram, nos termos da lei, que o eleito era o próprio e único Nebraska da república. Tudo parecia findo, quando o candidato Caneca requereu provar que a bola ex­ traída não trazia o nome de Nebraska, mas o dele. O juiz de paz deferiu ao peticionário. Veio então um grande filólogo, – talvez o primeiro da república, além de bom metafísico, e não vulgar matemático, – o qual provou a coisa nestes termos: – Em primeiro lugar, disse ele, deveis notar que não é fortuita a ausência da última letra do nome Nebraska. Por que motivo foi ele inscrito incompletamente? Não se pode dizer que por fadiga ou amor da brevidade, pois só falta a última letra, um


CONTO simples a. Carência de espaço? Também não; vede; há ainda espaço para duas ou três sílabas. Logo, a falta é intencional, e a intenção não pode ser outra senão chamar a atenção do leitor para a letra k, última escrita, desamparada, solteira, sem sentido. Ora, por um efeito mental, que nenhuma lei destruiu, a letra reproduz-se no cérebro de dois modos, a forma gráfica, e a forma sônica; k e ca. O defeito, pois, no nome escrito, chamando os olhos para a letra final, incrusta desde logo no cérebro esta primeira sílaba: Ca. Isto posto, o movimento natural do espírito é ler o nome todo; volta-se ao princípio, à inicial ne, do nome Nebrask, – Cane. – Resta a sílaba do meio, bras, cuja redução a esta outra sílaba ca, última do nome Caneca, é a coisa mais demonstrável do mundo. E, todavia, não a demonstrarei, visto faltar-vos o preparo necessário ao entendimento da significação espiritual ou filosófica da sílaba, suas origens e fei-

tos, fases, modificações, consequências lógicas e sintáxicas, dedutivas ou indutivas, simbólicas e outras. Mas, suposta a demonstração, aí fica a última prova, evidente, clara, da minha afirmação primeira pela anexação da sílaba ca às duas Cane, dando este nome Caneca. A lei emendou-se, senhores, ficando abolida a faculdade da prova testemunhal e interpretativa dos textos, e introduzindo-se uma inovação, o corte simultâneo de meia polegada na altura e outra meia na largura do saco. Esta emenda não evitou um pequeno abuso na eleição dos alcaides, e o saco foi restituído às dimensões primitivas, dando-se-lhe, todavia, a forma triangular. Compreendeis que esta forma trazia consigo uma consequência: ficavam muitas bolas no fundo. Daí a mudança para a forma cilíndrica; mais tarde deu-se-lhe o aspecto de uma ampulheta, cujo inconveniente se reconheceu ser igual ao triângulo, e então adotou-se a forma de

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um crescente, etc. Muitos abusos, descuidos e lacunas tendem a desaparecer, e o restante terá igual destino, não inteiramente, decerto, pois a perfeição não é deste mundo, mas na medida e nos termos do conselho de um dos mais circunspectos cidadãos da minha república, Erasmus, cujo último discurso sinto não poder dar-vos integralmente. Encarregado de notificar a última resolução legislativa às dez damas, incumbidas de urdir o saco eleitoral, Erasmus contou-lhes a fábula de Penélope, que fazia e desfazia a famosa teia, à espera do esposo Ulisses. – Vós sois a Penélope da nossa república, disse ele ao terminar; tendes a mesma castidade, paciência e talentos. Refazei o saco, amigas minhas, refazei o saco até que Ulisses, cansado de dar às pernas venha tomar entre nós o lugar que lhe cabe. Ulisses é a Sapiência. Extraído de: Machado de Assis – Contos escolhidos, Ed. Núcleo, 1994.

VOCABULÁRIO alcaides: antigos governadores de castelo ou província. alvião: enxadão, picareta. alvitre: sugestão, opinião, proposta, parecer. amesquinhá-la: do verbo amesquinhar – tornar mesquinho, humilhar. argentário: homem muito rico. coligi: do verbo coligir – reunir em coleção, ajuntar (o que está esparso). conchavou: do verbo conchavar – unir, juntar, combinar. desazos: falta de jeito, inaptidões. discerni-la: do verbo discernir – analisar, distinguir, discriminar. epíteto: cognome, alcunha.

espórtulas: gorjetas, gratificações. No texto, significa donativos. filólogo: especialista no estudo da língua em toda a sua amplitude e dos documentos escritos que servem para documentá-la. geômetras: especialistas em geometria. inelutável: invencível, indiscutível. ipso facto: expressão latina que significa por isso mesmo. lustre: o mesmo que lustro, brilho. No texto, (fig.) honra, glória, fama. monografia: dissertação ou estudo minucioso que se propõe a esgotar determinado tema relativamente restrito. parlapatice: vaidade.

pasmo: admiração, assombro, espanto. roçagante: que faz ruído suave, como o vestido de seda; alusão à sonoridade do título. Sapiência: sabedoria. solários: terraços ou outros lugares onde se tomam banhos de sol. tábua rasa: literalmente significa uma superfície plana preparada para receber uma inscrição, porém onde nada se gravou. No texto, fazer tábua rasa significa apagar, eliminar, destruir. talares: que descem até os calcanhares. toleima: tolice.

(ENTRE PARÊNTESIS)

Cesto de pães Um garoto saiu à rua com um cesto de pães para vender. Na primeira casa a freguesa lhe pediu: – Quero a metade do que você tem aí mais meio pão. Na segunda casa a freguesa também lhe pediu:

– Quero a metade do que você tem aí mais meio pão. Na terceira casa a freguesa, para variar, lhe pediu: – Quero a metade do que você tem aí mais meio pão. Com isso os pães acabaram. Pergunta-se: quantos pães havia no cesto?

RESPOSTA x−3 pães no cesto. 4

O que implica x = 7.

x−1 f − 2

x 1 x−1 pães. Depois da 1ª freguesa, o garoto ficou com x − d + n pães, isto é, com 2 2 2 x−1 2 + 1 p pães, isto é, com 2 2

Depois da 2ª freguesa, o garoto ficou com

Seja x o número de pães que havia no cesto.

Mas então os pães se acabaram. Logo

x−7 = 0. 8

pães. Depois da 3ª freguesa, o garoto ficou com

x−3 f − 4

x−3 4 + 1 p pães, isto é, com x − 7 2 2 8


ARTIGO

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Parlamentarismo e presidencialismo Rogério F. da Silva

Formas de organização político-administrativa de um Estado Existem basicamente duas formas pelas quais um Estado pode estar organizado administrativamente: uma forma unitária ou uma forma federada. Diz-se que um Estado é unitário quando as unidades que o compõem possuem pouca autonomia em relação ao governo central; normalmente, as unidades são denominadas províncias. Diz-se que um Estado é federado quando as unidades que o compõem gozam de relativa autonomia em relação ao governo central; normalmente, as unidades são denominadas estados.

Unitarismo, federalismo, presidencialismo e parlamentarismo no Brasil O Brasil no Período Monárquico (1822-1889) foi um Estado unitário organizado sob o regime parlamentarista. No Período Republicano, de uma maneira geral, foi um Estado federativo sob regime presidencialista. As exceções ocorreram entre 1930-1934 e 1937-1945 quando o Brasil se tornou um Estado unitário, extinguindo-se a autonomia estadual, e entre setembro de 1961 e janeiro de 1963, período em que vigorou o regime parlamentarista.

Formas de governo No mundo contemporâneo, têm-se basicamente dois tipos de governo: repúblicas ou monarquias. República é normalmente definida como o sistema de governo em que um ou vários indivíduos eleitos exercem o poder por tempo determinado. Já a monarquia é o sistema de governo no qual o poder é exercido por um monarca, que é um soberano vitalício, comumente hereditário. Modernamente, a maioria das monarquias são constitucionais, isto é, são regidas por uma Constituição que define e delimita as atribuições dos respectivos monarcas, que têm, normalmente, seu poder bastante restringido e exercem quase sempre uma função simbólica. É o caso, por exemplo, do monarca britânico e do imperador do Japão. Atualmente, repúblicas e monarquias são dominantemente parlamentaristas. Entretanto, uma república pode ser também presidencialista.

Parlamentarismo Sob o regime parlamentar (seja monarquia, seja república), há uma distinção no Poder Executivo – a chefia de Estado e a chefia de governo. O chefe de Estado (rei

ou imperador, caso seja monarquia parlamentar; presidente da república, caso seja república parlamentar) representa o Estado nas ocasiões em que este deva estar representado, e por vezes assina atos de praxe referendando decisões do governo ou do Legislativo. A chefia de governo é geralmente exercida por um ministério ou seu porta-voz, denominado “primeiro-ministro” ou “premier” ou “presidente do Conselho de Ministros”. Sob o regime parlamentar, o ministério deve governar de acordo com a maioria parlamentar. Isso significa que a existência do regime parlamentarista deve supor, no mínimo, uma estrutura de partidos políticos organizados que disputem eleições para o Legislativo e, evidentemente, eleições periódicas para o mesmo. Vejamos um exemplo: vamos supor que num certo país, organizado sob regime parlamentarista, haja dois partidos que disputem as eleições: A e B. Suponhamos que tenha sido vitorioso o partido A. Dessa maneira, os representantes do partido A ocuparão a maioria das cadeiras do Legislativo. Caberá ao chefe de Estado chamar o líder do partido A no Legislativo para formar o governo, isto é, compor um ministério. Portanto, a maioria no Legislativo é A, e o governo é de cor política A. Até quando o ministério A ficará no governo? Enquanto mantiver a maioria no Legislativo. Suponha que nas eleições seguintes vença o partido B. Nesse caso, o ministério A deve renunciar, e o chefe de Estado chama o líder do partido vencedor no Legislativo para compor novo governo. Sob o regime parlamentarista, portanto, o governo (o ministério) depende da maioria parlamentar para poder exercer o poder. Esquema de funcionamento do regime parlamentar

Chefe de Estado Poder Executivo Chefe de governo

Poder Legislativo

Presidente da República (se república parlamentar) Monarca (se monarquia parlamentar) Ministério (primeiro-ministro) (expressa a maioria parlamentar)

Minoria parlamentar

Maioria parlamentar

Sob circunstâncias especiais, pode ocorrer uma outra situação. No lugar da renúncia do ministério pode ocorrer a dissolução do Legislativo e a convocação de novas eleições parlamentares e, nesse caso, o resultado das eleições deverá confirmar o ministério no poder ou não.

Presidencialismo Sob o regime presidencialista, o chefe de Estado e o chefe de governo são uma única pessoa: o presidente da República. Além de não haver divisão entre chefia de Estado e chefia de governo sob o presidencialismo, uma outra característica importante desse regime é que a composição do ministério é de competência exclusiva do presidente da República, que o nomeia e o destitui livremente. Os Estados Unidos da América do Norte e o Brasil constituem exemplos de países que possuem regime presidencialista.

Parlamentarismo no Brasil Monárquico (1822-1889) Na história do Brasil, registram-se duas épocas em que ocorreu o regime parlamentarista: no período Monárquico e na República por um curto período. Durante o Império, a Constituição definia o Brasil como uma Monarquia Constitucional. No período do Primeiro Reinado (1822-1831), a prática parlamentar foi bastante reduzida devido à constante interferência de D. Pedro I na condução dos destinos políticos do país. No Perío­do Regencial (1831-1840), já será mais constante a prática parlamentar, entretanto é no período do Segundo Reinado (1840-1889) que essa prática se consolida, embora se afirme que no Brasil monárquico havia um “parlamentarismo às avessas”. Quer se dizer com isto que o parlamentarismo não era fielmente praticado tal como nos moldes britânicos. O monarca, muitas vezes, interferia abertamente na formação dos ministérios, sendo muitas vezes responsável quer por sua entrada ou por sua saída do governo. Sob um regime parlamentarista percebe-se que, a rigor, essa interferência não deve ocorrer; o chefe de Estado deve ser um elemento apartidário e sua função é simplesmente designar o ministério que representa a maioria parlamentar. Na época do Segundo Reinado é dada importância, nesse con­texto, à Lei de 1847 que cria a presidência do Conselho de Ministros e que, segundo se afirma, consolidou a prática parlamentar no país. Até então, o imperador tinha o trabalho de compor um a um os integrantes do ministério. Com a lei, o imperador passa a designar o presidente do Conselho de Ministros (premier) que, por sua vez, se encarregava de organizar o ministério. O presidente do Conselho de Ministros deveria ser responsável por todo o ministério perante o imperador e a Assembleia Geral (Legislativo). Esse regime parlamentarista existiu até a Proclamação da República no Brasil. Instaurada a república, a Constituição de 1891 definia o Brasil como uma república presidencialista.


ARTIGO Parlamentarismo no Brasil Republicano (setembro 1961-janeiro 1963) Todas as Constituições republicanas brasileiras (1891, 1934, 1937, 1946 e 1967) consagraram em seus textos o re­ gime presi­ dencialista no Brasil. Houve um período, porém, em que foi adotado o parlamentarismo. Jânio Quadros fora eleito para o quinquênio 1961-1966. Assumiu o poder a 31.01.1961 e a 25.08.1961 renunciou ao seu mandato presidencial. Deveria assumir, de acordo com os dispositivos constitucionais, o vice-presidente da República, que na ocasião estava fora do país. Abre-se séria crise política, pois havia setores militares e civis que se opunham à posse do vice-presidente João Goulart, pregando abertamente um golpe de Estado. Outros setores defendem a obediência à Constituição e mobilizam-se contra as manobras golpistas, nomeadamente o então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola. O país chega próximo a uma situação de guerra civil. No Congresso Nacional, adota-se uma “solução de compromisso” para debelar a crise. Goulart seria empossado, mas não teria plenos poderes, e adotava-se mediante o Ato Adicional no 4 à Constituição de 1946 o parlamentarismo no país. A heterogeneidade na composição

do Legislativo refletiu na formação dos ministérios sob a época do parlamentarismo, tornando muito difícil governar o país. Sucederam-se como primeiros-ministros de Goulart: Tancredo Neves, Auro de Moura Andrade (este por 48 horas), Francisco Brochado da Rocha e Hermes Lima. O Ato Adicional no 4 previa um plebiscito no país, ou seja, uma consulta ao eleitorado brasileiro se concordava ou não com o parlamentarismo, mas este devia ser realizado somente no final do mandato de Goulart. Como a crise política era muito grave, foi aprovada a Emenda Complementar Capanema-Valadares, antecipando o plebiscito para janeiro de 1963, o qual, realizado, resultou em um não ao parlamentarismo, restaurando-se, portanto, o presidencialismo no país. A atual Constituição, promulgada em 05.10.1988, previa um plebiscito em setembro de 1993 para decidir-se sobre a forma (monarquia ou república) e o sistema de governo (presidencialismo ou parlamentarismo) a serem adotados pelo país. Antecipado para abril de 1993, o resultado das urnas manteve o Brasil como uma república presidencialista.

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Antes da criação da Presidência do Conselho de Ministros Imperador

Império e estrangeiros desdobrado em 1823 em Império

Conselho de Estado (1823 a 1834)

Ministro

Marinha Guerra

Estrangeiros

Fazenda Justiça

Após a criação da Presidência do Conselho de Ministros Conselho de Estado (restabelecido em 1841)

Imperador

Agricultura, comércio e obras públicas

Presidente do Conselho de Ministros (desde 1847)

Marinha Guerra

Império

Fazenda

Justiça

Estrangeiros

Antigas e muito valiosas Heitor Shimizu

E

sponjas são animais (do filo Porifera) sem sistemas nervoso, digestivo ou circulatório. Como não se movem, dependem da água que passa por elas para obter alimentos e oxigênio. São organismos bastante simples, mas que se destacam por certas peculiaridades. Uma delas é o pioneirismo. Esponjas são os primeiros animais a habitar a Terra, de acordo com diversos estudos, incluindo um feito por pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology e publicado na edição de março da Proceedings of the National Academy of Sciences. Por meio de análises genéticas, o grupo confirmou a existência de esponjas há 640 milhões de anos, cerca de 100 milhões antes da explosão do Cambriano, quando os animais passaram a dominar o planeta. Outra peculiaridade também faz com que as esponjas sejam atraentes como objeto de pesquisa: o fato de terem importante potencial medicinal. Isso se deve à presença nesses animais de compostos químicos que poderão ser usados na produção de medicamentos para combater vírus, bactérias e até mesmo tumores. A descoberta e o desenvolvimento de produtos naturais com potencial bioativo a partir de organismos marinhos é um dos principais focos da pesquisa do grupo do

professor Roberto Gomes de Souza Berlinck no Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da Universidade de São Paulo (USP). “Há muitos organismos marinhos que são fontes de grande diversidade de pequenas moléculas que chamamos de metabólitos secundários, uma vez que não são essenciais para a sobrevivência desses organismos”, disse. “Apesar de não serem muito importantes para esses animais, os metabólitos secundários são fundamentais para a sobrevivência de diversas espécies, nas quais apresentam, por exemplo, função de defesa química ou de proteção contra bactérias”, disse o pesquisador, que coordena o Projeto Temático “Componentes da biodiversidade, e seus caracteres metabólicos, de ilhas do Brasil – uma abordagem integrada”, apoiado pela Fapesp. O grupo de Berlinck descobriu metabólitos em esponjas que resultaram na produção de compostos com atividade contra leishmania e tripanossoma, parasitas causadores, respectivamente, da leishmaniose e da doença de Chagas. “É importante encontrar novas drogas contra essas doen­ças, pois as disponíveis atualmente contra a leishmaniose, por exemplo, estão sendo utilizadas há muito tempo e são bastante tóxicas”, disse.

“Estudamos detalhadamente vários dos compostos antiparasitários que descobrimos, como alcaloides, e temos realizado análises in vivo e in vitro sobre os mecanismos por meio dos quais esses compostos apresentam atividades farmacológicas”, disse Berlinck. Metabólitos encontrados pelos pesquisadores na esponja da espécie Monanchora arbuscula, coletada na costa sudeste do Brasil, levaram ao isolamento de uma série de alcaloides – guanidinas e pirimidinas – com ação antiparasitária contra Trypanosoma cruzi e Leishmania infantum. “E é importante ressaltar que esses compostos afetam especificamente esses parasitas e não o organismo humano, o que é uma vantagem no tratamento das doenças causadas por eles”, disse Berlinck. Extraído de: Agência FAPESP – Divulgando a cultura científica, abr./2016.


POIS É, POESIA

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Luís Vaz de Camões Já é tempo, já, que minha confiança Se desça de uma falsa opinião; Mas Amor não se rege por razão; Não posso perder, logo, a esperança.

G rão tempo há já que soube da Ventura A vida que me tinha destinada, Que a longa experiência da passada Me dava claro indício da futura.

S e as penas com que Amor tão mal me trata

A vida sim; que uma áspera mudança Não deixa viver tanto um coração, E eu só na morte tenho a salvação; Sim; mas quem a deseja não a alcança.

Amor fero, cruel, Fortuna escura, Bem tendes vossa força exp’rimentada; Assolai, destruí, não fique nada! Vingai-vos desta vida, que inda dura!

E se o tempo, que tudo desbarata, Secar as frescas rosas, sem colhê-las, Deixando a linda cor das tranças belas Mudada de ouro fino em fina prata;

Forçado é logo que eu espere e viva. Ah! dura lei de Amor, que não consente ~ a alma que é cativa! Quietação nu

Soube Amor da Ventura, que a não tinha, E, porque mais sentisse a falta dela, De imagens impossíveis me mantinha.

Também, Senhora, então vereis mudado O pensamento e a aspereza vossa, Quando não sirva já sua mudança.

Se hei-de viver, enfim, forçadamente, Pera que quero a glória fugitiva De uma esperança vã que me atormente?

Mas vós, Senhora, pois que minha estrela Não foi melhor, vivei nesta alma minha, Que não tem a Fortuna poder nela.

Ver-vos-eis suspirar por o passado, Em tempo quando executar-se possa No vosso arrepender minha vingança.

***

***

Permitirem que eu tanto viva delas, Que veja escuro o lume das estrelas, Em cuja vista o meu se acende e mata;

Extraído de: “Sonetos”, Obras completas, Lello & Irmão Editores, Porto.

SERVIÇO DE VESTIBULAR Universidade Metodista de São Paulo (Umesp) Período de inscrição: até 27 de outubro de 2016. Presencial ou via internet. Endereço da faculdade: Rua Alfeu Tavares, 149 – Rudge Ramos – São Bernardo do Campo – SP – CEP: 09641-000 – Telefone: (11) 4366-5000. Requisito: taxa de R$ 80,00. Cursos e vagas: consultar site www.metodista.br Exame: dia 30 de outubro de 2016.

Centro Universitário de Adamantina (UniFAI) Período de inscrição: até 19 de outubro de 2016. Presencial ou via internet. Endereço da faculdade: Rua Nove de Julho, 730 – Centro – Adamantina – SP – CEP 17800-000 – Telefone: (18) 3502-7010. Requisito: taxa de R$ 20,00. Cursos e vagas: consultar site www.fai.com.br Exame: dia 23 de outubro de 2016.

Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) Período de inscrição: até 31 de outubro de 2016. Somente via internet. Endereço da faculdade: Rua Quatá, 300 – Vila Olímpia –

São Paulo – SP – CEP: 04546-042 – Telefone: (11) 4504-2400. Requisito: taxa de R$ 200,00. Cursos e vagas: consultar site www.insper.edu.br/vestibular/inscricao/ Exame: dia 15 de novembro de 2016.

Universidade de Araraquara (Uniara) Período de inscrição: até 07 de outubro de 2016. Presencial ou via internet. Endereço da faculdade: Rua Carlos Gomes, 1 338 – Centro – Araraquara – SP – CEP: 14801-340 – Telefone: 0800-55-65-88. Requisito: taxa de R$ 25,00. Cursos e vagas: consultar site www.uniara.com.br Exame: dia 15 de outubro de 2016.

Fundação Cásper Líbero Período de inscrição: até 30 de novembro de 2016. Somente via internet. Endereço da faculdade: Avenida Paulista, 900 – Bela Vista – São Paulo – SP – CEP: 01311-100 – Telefone: (11) 3170-5757. Requisito: taxa de R$ 140,00. Cursos e vagas: consultar site www.casperlibero.edu.br Exame: dia 11 de dezembro de 2016.

Jornal do Vestibulando

Leituras obrigatórias: • Boca de ouro – Nelson Rodrigues. • Claro enigma – Carlos Drummond de Andrade. • Contos novos – Mário de Andrade. • Mayombe – Pepetela. • Memórias póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis. • Sagarana – João Guimarães Rosa.

Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) Período de inscrição: até 07 de outubro de 2016. Somente via internet. Endereço da faculdade: Rua Imac. Conceição, 1 155 – Prado Velho – Curitiba – PR – CEP: 80215-901 – Telefone: (41) 3271-1515. Requisito: taxa de R$ 110,00. Cursos e vagas: consultar site www.vestibular.pucpr.br Exame: dia 16 de outubro de 2016. Leituras obrigatórias: • Contos de Belazarte – Mário de Andrade. • Dom Casmurro – Machado de Assis. • Felicidade clandestina – Clarice Lispector. • Inocência – Visconde de Taunay. • Muitas vozes – Ferreira Gullar. • O pagador de promessas – Dias Gomes. • São Bernardo – Graciliano Ramos.

Jornal ETAPA, editado por Etapa Ensino e Cultura REDAÇÃO: Rua Vergueiro, 1 987 – CEP 04101-000 – Paraíso – São Paulo – SP JORNALISTA RESPONSÁVEL: Egle M. Gallian – M.T. 15343


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