Jornal do vestibulando - 1528

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Jornal do Vestibulando

ENSINO, INFORMAÇÃO E CULTURA

JORNAL ETAPA – 2017 • DE 06/04 A 19/04

CURSO – DIREITO/USP

“Matemática sempre foi um problema para mim.” Giovanna Alves Goes cursou o Extensivo no ano passado e entrou na São Francisco depois de um grande susto – passou no corte para a 2a fase. Aqui ela conta como se preparou no cursinho e superou dificuldades, principalmente em Matemática, uma das matérias prioritárias para a 2a fase de Direito.

Giovanna Alves Goes Em 2016: Etapa Em 2017: Direito – USP

JV – Desde quando você pensa em Direito como carreira? Giovanna – Desde o 1o ano do Ensino Médio. Sempre gostei muito da parte de Humanas e acabei escolhendo Direito, até pelo mercado de trabalho, para abrir mais portas.

Além da Fuvest, você prestou outros vestibulares? Prestei Unesp, Mackenzie, Faculdade de Direito de São Bernardo e o Enem.

O que motivou você a vir se preparar para os vestibulares no Etapa?

Como era a sua rotina? Eu acordava às 5 da manhã, saía de casa às 5 e meia e chegava aqui umas 6h40, 6h50. Tinha aulas até meio-dia e meia, almoçava, depois ia para a Sala de Estudos. Ficava lá até as 7 horas da noite, todos os dias, sem exceção. Na Revisão eu comecei a ficar mais tempo ainda, até as 9, 10 horas da noite, para terminar tudo mesmo.

Você chegava em casa a que horas? Quando saía daqui às 7 horas eu chegava umas 9 horas, por aí, porque o trânsito do horário de pico era bem pesado.

Vários amigos meus estudaram aqui e as referências foram sempre boas. Foi a melhor decisão que eu tomei na minha vida.

Em casa você ainda estudava um pouco mais?

Você se formou no Ensino Médio em que ano? Prestou vestibular direto?

Você praticamente morava no Etapa e só ia para casa dormir?

Eu me formei em 2015, prestei Fuvest e não fui tão bem.

Exatamente. Até brinquei que iam construir aqui um puxadinho para mim.

Como estava o seu ânimo no começo do ano passado, ao vir para o Etapa?

Com esse ritmo, você conseguia descansar?

Eu estava bem animada. Aqui é um ritmo diferente, você tem que se acostumar com o ritmo de estudo, mas eu comecei no pique.

Você conseguiu manter esse pique durante todo o ano? Um pouco antes das férias de julho eu estava cansada, porque ficava aqui a tarde inteira para estudar e tinha o desgaste do trânsito, de vir para o cursinho e voltar para casa. Mas depois das férias eu entrei no pique de novo.

ENTREVISTA

Giovanna Alves Goes CONTO

O ladrão – Mário de Andrade ARTIGO Pesquisa abre caminho para diagnóstico precoce de Alzheimer

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Geralmente eu lia um pouco as obras obrigatórias antes de dormir.

Descansar era ficar com peso na consciência, eu achava que para a Fuvest deveria estar sempre estudando. Geralmente, na volta para casa eu lia alguma coisa que não tinha dado para ler à tarde, estudando aqui, ou lia as obras e revistas de atua­ lidades.

Você tinha mais dificuldade em quais matérias? Matemática sempre foi um problema para mim, eu tinha um atraso grande e sabia que precisava correr atrás. É uma das matérias prioritárias na

VOCÊ SABIA QUE...

As grandes navegações

Quais as prioridades no seu estudo? Eu estudava mais tempo Matemática. Por exemplo, se tinha História e Matemática em um dia, eu ficava mais tempo na parte de Matemática, revendo exercício, fazendo tudo com calma, ia ao plantão. Em História eu tinha mais tranquilidade, lia, fazia resumo, resolvia alguns exercícios.

Em Matemática você pegava os exercícios indicados na aula? Eu pegava o que os professores mandavam fazer.

Se surgia alguma dúvida, você ia ao plantão? Sim, sempre. Eu fui muito ao plantão.

Em quais outras matérias você recorria ao Plantão de Dúvidas? Eu fui bastante também em Física e Química. Área de Exatas. Em Humanas, nem tanto. Os plantonistas são muito bons, ajudavam bastante.

Em quais matérias você tinha mais facilidade? Sempre tive mais tranquilidade com História e Geo­grafia, sempre levei bem as duas.

Como era seu método de estudo? Pegava a matéria do dia. Estudava a matéria, fazia resumos e exercícios.

Você colocava os resumos no fichário? Sim, colocava no fichário junto com as anotações dos professores. Eu usava fichário por professor, consegui me organizar melhor assim, achei mais fácil.

PARA TREINAR SEU INGLÊS

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POIS É, POESIA

Castro Alves (1841-1871)

São Francisco, no terceiro dia da 2a fase, junto com História e Geografia.

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Math problem SERVIÇO DE VESTIBULAR

Inscrições

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CURSO – DIREITO/USP

Você estudava também no fim de semana?

Se não entrasse na São Francisco, qual seria a sua opção?

Sábado de manhã eu fazia o JADE. Depois, de vez em quando eu ia até o Centro Cultural e passava a tarde lá. Domingo de manhã eu ainda estudava um pouco. E à tarde descansava.

Eu iria para a Faculdade de Direito de São Bernardo. Passei em 2o lugar lá e estava muito próxima de conseguir uma bolsa de 100%.

Você fazia os simulados?

Qual foi sua nota no Enem?

Fazia todos. Sempre no sábado à tarde.

Nos simulados, quais eram os seus resultados? Nos simulados Fuvest eu ficava no C mais e no B. Fazia 66, 68, era nessa faixa.

Para Direito, você achava que estava legal essa faixa? Na palestra no início do ano foi dito que era tranquilo nessa faixa. Eu queria sempre fazer mais, mas achava que estava bom.

Como é que você utilizava os simulados em seus estudos? Eu refazia os simulados no que tinha errado. Geralmente corrigia os simulados no domingo de manhã.

Você assistiu às palestras de Literatura? Todas.

E leu as obras literárias indicadas pela Fuvest? Só Iracema eu não reli completo. Tinha lido há muito tempo. No 8o ano do Fundamental.

Qual a importância de, além de ler as obras, assistir às palestras? Na obra você tem a ideia do enredo, da forma como está escrito, consegue perceber alguma coisa sobre a escola literária, mas a palestra dá os caminhos que você não percebe sozinha, detalhes, interpretação, contexto histórico. Tudo você pega na palestra.

Você assistia também às palestras de atualidades? Eu assisti a todas as palestras feitas no Etapa, todas muito boas, ajudaram bastante. Até de Química, teve uma de Química Nuclear, bem legal.

Você treinava Redação? Eu escrevia uma redação por semana. Redação me salvou na Fuvest, tirei 80.

Treinava a técnica, como era na prática?

Eu me surpreendi muito com Matemática, em que tinha dificuldade, tirei 750. Em Português eu tirei 717, se não me engano. Nas outras eu fiquei nos 650, por aí.

Na 1a fase da Fuvest, quantos pontos você fez? A Fuvest estava bem complicada, uma prova fora do normal. Fiquei muito nervosa durante a prova e fiz 55 pontos. A nota de corte no ano anterior tinha sido 59. Terminei a prova achando que não tinha passado. Chorei muito naquele dia.

As notas de corte da Fuvest caíram em 2017, Direito caiu de 59 para 55, justamente a pontuação que você fez. Mas entre a prova e a divulgação das notas de corte se passaram mais de duas semanas. Como você ficou nesse tempo, achando que não ia para a 2a fase? Quando corrigi fiquei bastante chateada, porque você estudou o ano inteiro e quer algum resultado. Eu sei que o nervosismo me atrapalhou, eu ia muito melhor nos simulados. Quando saiu a nota de corte, eu disse: “Nossa, que bom, estou na 2a fase”. Mesmo que tenha sido em cima, é o que estava valendo.

Na 2a fase, como é que você foi? No primeiro dia, em Português e Redação, qual foi sua nota? No primeiro dia eu tirei 68 na nota geral. Em Redação, como disse, minha nota foi 80 – ela me salvou. No segundo dia minha nota foi 67, se não me engano. No terceiro dia a nota caiu um pouco, fui para 50 e pouco.

Na 1a fase você achou que não tinha passado. E na 2a fase, esperava ir melhor? Achei que seria impossível. Eu estava insegura por causa da 1a fase e achei que a 2a fase seria um bicho de sete cabeças. E não foi tanto assim. Fuvest é Fuvest, é difícil, mas foi mais tranquilo do que imaginei. Na 2a fase eles pegaram mais leve.

O tempo. Nas provas você tem que administrar bem o tempo em Redação, ou não dá para fazer o resto. Ainda mais eu que em geral tinha dificuldade com o tempo nas provas.

Você disse que ficou em 2o lugar em São Bernardo. E no Mackenzie?

No Enem você foi bem em Redação também?

Pelo Enem você manifestou interesse por alguma faculdade?

Fui bem, tirei 880.

O que você fez nas férias de julho?

Em 25o.

Sim, eu passei na Universidade Federal de Pelotas.

Como estava dando muito preferência para Exatas, eu me atrasei um pouco na parte de Humanas, principalmente em História. Na primeira semana de férias eu fiz resumos de História e Geografia, na segunda semana não fiz nada, descansei para poder voltar no pique. O último semestre é intenso, você tem que estar com gás.

Como ficou sabendo de sua aprovação na Fuvest?

Você abriu mão de alguma atividade para se preparar para os vestibulares?

O que você sentiu quando viu seu nome?

Sim, eu joguei vôlei dez anos, tive que parar. Não daria para treinar três vezes na semana, a tarde inteira. E tinha jogos aos sábados. Eu não teria condições de fazer e parei. Voltei a treinar agora na São Francisco. Vôlei e também futsal. Futsal eu jogava quando era muito pequena e decidi voltar. O pessoal da Atlética é muito receptivo.

Estava em casa com a minha mãe. Acordei às 5 horas e não consegui mais dormir. Estava muito ansiosa. Quando saiu a lista, pesquisei meu nome, vi que tinha sido aprovada e minha mãe já começou a fazer festa. Vim para cá depois. Nossa, alívio por ter dado certo. É a melhor sensação. A decepção de quando tirei 55 na 1a fase foi muito grande, então foi um alívio quando passei.

Como é que foi no dia da matrícula na São Francisco? É muito bonito aquele prédio! Você se apaixona só de vê-lo.

Teve algum trote? Eles pintaram os calouros, fiquei toda suja de tinta. Depois de uma pequena apresentação da bateria teve o pedágio, a gente saiu pelo centro da cidade.

Como foram os primeiros contatos com o pessoal da faculdade? A São Francisco é muito receptiva, todos vêm falar com você, todos mesmo! Tem muitas extensões, tem San Fran Júnior, Centro Acadêmico... Eles fazem umas barraquinhas para os esportes e umas barraquinhas para as extensões. Você fica até um pouco confusa. Mas eles são muito receptivos, foram uns amores.

Nesse dia em que você conheceu a São Francisco, o que mais chamou sua atenção, seja na parte física ou na parte humana? O que mais me chamou a atenção foi a estrutura do prédio. Como disse, é um prédio muito, muito bonito. Eu já tinha visto por foto, mas quando chega lá e vê mesmo, você fala: “O que eu estou fazendo aqui, não acredito que estou aqui...”. Então é isso, a beleza do lugar e as pessoas que foram muito simpáticas e me deixaram pensando: “Que bom que eu estou aqui”.

O que motivou você a fazer Direito? Eu acho Direito uma das carreiras mais bonitas, por tudo que envolve, a questão mais humana. Nunca me imaginei em outra carreira, nunca tive uma segunda opção. E a USP é a USP. Só pelo pouco que vi das extensões, das propostas, dos alunos, eu acho que tem muito conhecimento para você absorver dentro da USP, então quero usar esses cinco anos para aproveitar mesmo tudo que eu puder.

Que dicas você pode dar ao pessoal que está se preparando neste ano no cursinho, para que aproveitem o melhor possível os estudos? Eu acho que é não desistir, vai valer a pena no final. Apesar do pique com que entrei no cursinho, eu estava meio descrente. Todas as pessoas que eu via entrando na USP eu achava muito inteligentes, muito à minha frente. Com o tempo, você vai percebendo que dá. Então, é manter o foco e fazer tudo certinho. É ser firme.

Como ficou marcado para você o ano passado? Foi um ano em que eu amadureci muito. Com todas as dificuldades, você amadurece muito, muito mesmo. Eu saí outra pessoa.

Você tem saudade de alguma coisa aqui do Etapa? Tenho saudade dos professores, eles têm uma maneira de ensinar muito gostosa. Eu acho muito legal a descontração na maioria das aulas, você aprende e gosta, tem prazer em vir à aula. O ano é bem pesado, mas assim fica mais leve.

O que você tira de lição de toda essa experiência? Hoje percebo que às vezes eu me coloco uns limites, mas posso ir além. Então, acho que acreditar mais em mim é a maior lição que eu levei do Etapa.

Você quer dizer mais alguma coisa aos nossos alunos atuais? No ano de cursinho você tem que focar mesmo nos estudos. O pessoal brinca, “ah, tem que abrir mão da vida social...”, mas é basicamente isso mesmo, e vai valer a pena no final. É gratificante saber que você conseguiu chegar lá. É bem legal essa sensação.


CONTO

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O ladrão Mário de Andrade

–P

ega! O berro, seria pouco mais de meia-noite, crispou o silêncio no bairro dormido, acordou os de sono mais leve, botando em tudo um arrepio de susto. O rapaz veio na carreira desabalada pela rua. – Pega! Nos corpos entrecortados, ainda estremunhando na angústia indecisa, estalou nítida, sangrenta, a consciência do crime horroroso. O rapaz estacara numa estralada de pés forçando pra parar de repente, sacudiu o guarda estatelado: – Viu ele! O polícia inda sem nexo, puxando o revólver: – Viu ele? – P... Não perdeu tempo mais, disparou pela rua, porque lhe parecera ter divisado um vulto correndo na esquina de lá. O guarda ficou sem saber o que fazia, porém da mesma direção do moço já chegavam mais dois homens correndo. O guarda eletrizado gritou: – Ajuda! e foi numa volada ambiciosa na cola do rapaz. – Pega! Pega! os dois perseguidores novos secundaram sem parar. Alcançaram o moço na outra esquina, se informando com um retardatário que só àquelas horas recolhia. – ... é capaz que deu a volta lá em baixo... No cortiço, a única janela de frente se abriu, inundando de luz a esquina. O retardatário virou-se para os que chegavam: – Não! Voltem por aí mesmo! Ele dobrou a esquina lá de baixo! Fique você, moço, vigiando aqui! Seu guarda, vem comigo! Partiu correndo. Visivelmente era o mais expedito, e o grupo obedeceu, se dividindo na carreira. O rapaz desapontara muito por ter de ficar inativo, ele! justo ele que viera na frente!... No ar umedecido, o frio principiou caindo vagarento. Na janela do cortiço, depois de mandar pra cama o homem que aparecera atrás dela, uma preta satisfeita de gorda, assuntava. Viu que a porta do 26 rangia com meia luz e os dois Moreiras saíram por ela, afobados, enfiando os paletós. O Alfredinho até derrubou o chapéu, voltou pra pegar, hesitou, acabou tomando a direção do mano. O guarda com o retardatário, já tinham dobrado a esquina lá de baixo. Uma ou outra janela acordava numa cabeça inquieta, entre agasalhos. Também os dois perseguidores que tinham voltado caminho, já dobravam a outra esquina. Mas foi a preta, na calma, quem percebeu que o quarteirão fora cercado. – Então decerto ele escondeu no quarteirão mesmo. O rapaz que só esperava um pretexto pra seguir na perseguição, deitou na carreira. Parou. – A senhora então fique vigiando! Grite se ele vier! E se atirou na disparada, desprezando escutar o “Eu não! Deus te livre!” da preta, se

retirando pra dentro porque não queria história com o cortiço dela não. Pouco depois dos Moreiras, virada a esquina de baixo, o rapaz alcançou o grupo dos perseguidores, na algazarra. Um dos manos perguntava o que era. E o moço: – Pegaram! – Safado... ele... – Deixa de lero-lero, seu guarda! assim ele escapa! Aliás fora tudo um minuto. Vinha mais gente chegando. – O que foi? – Eu vou na esquina de lá, senão ele escapa outra vez! – Vá mesmo! Olha, vá com ele, você, para serem dois. Seu guarda! o senhor é que pode pular no jardim! – Mas é que... – Então bata na casa, p... O polícia inda hesitou um segundo, mas de repente encorajou: – Vam’lá! Foram. Foi todo o grupo, agora umas oito pessoas. Ficou só o velho que já não podia nem respirar da corridinha. Os dois manos, meio irritados com a insignificância deles a que ninguém esclarecera o que havia, ficaram também, castigando os perseguidores com ficarem. Lá no escuro do ser estavam desejando que o ladrão escapasse, só pra o grupo não conseguir nada. Um garoto de rua estava ali rente, se esfregando tremido em todos, abobalhado de frio. Um dos Moreiras se vingou: – Vai pra casa, guri!... de repente vem um tiro... – Será que ele atira mesmo! perguntou o baita que chegava. E o velho: – Tá claro! Quando o Salvini, aquele um que sufocou a mulher no Bom Retiro, ficou cercado... Mas de súbito o apito do guarda agarrou trilando nos peitos, em firmatas alucinantes. Todos recuaram, virados pro lado do apito. Várias janelas fecharam. O grupo estacara em frente de umas casas, quase no meio do quarteirão. Eram dois sobradinhos gêmeos, paredes-meias, na frente e nos lados opostos os canteiros de burguesia difícil. Os perseguidores trocavam palavras propositalmente em voz muito alta. O homem decerto ficava amedrontado com tanta gente... Se entregava, era inútil lutar... Em qual das casas bater? O que vira o fugitivo pular no jardinzinho, quem sabe um dos rapazes guardando a esquina, não estava ali pra indicar. Aliás ninguém pusera reparo em quem falara. Os mais cuidadosos, três, tinham se postado na calçada fronteira, junto ao portão entrea­ berto, bom pra esconder. Se miravam ressabiados, com um bocado de vergonha. Mas um sorrindo: – Tenho família. – Idem.

– Pode vir alguma bala... – Eu me armei, por via das dúvidas! Quase todas as janelas estavam iluminadas, botando um ar de festa inédito na rua. Saía mais gente encapuçada nas portas, coleção morna de pijamas comprados feitos, transbordando pelos capotes mal vestidos. O guarda estava tonto, sustentando posição aos olhos do grupo que dependia dele. Mas lá vinham mais dois polícias correndo. Aí o guarda apitou com entusiasmo e foi pra bater numa das casas. Mas da janela da outra jorrou de chofre no grupo uma luz, todos recua­ram. Era uma senhora, ainda se abotoando. – Que é! que foi que houve, meu Deus! – Dona, acho que entrou um homem na sua casa que... – Ai, meu Deus! – ... a gente veio... – Nossa Senhora! meus filhos! Desapareceu na casa. De repente escutou-se um choro horrível de criança lá dentro. Um segundo todos ficaram petrificados. Mas era preciso salvar o menino, e à noção de “menino” um ardor de generosidade inflamou todos. Avançaram, que pedir licença nem nada! uns pulando a gradinha, outros já se ajudando a subir pela janela mesmo, outros forçando a porta. Que se abriu. A senhora apareceu, visão de pavor, desgrenhada, com as três crianças. A menina, seus oito anos, grudada na saia da mãe, soltava gritos como se a tivessem matando. A decisão foi instantânea, a imagem da desgraça virilizara o grupo. A italiana de uma das casas operárias defronte, vira tudo, nem se resguardava: veio no camisolão, abriu com energia passagem pelos homens, agarrou a menina nos braços, escudando-a com os ombros contra tiros possíveis, fugira pra casa. Um dos homens imitando a decidida agarrara outra criança, e empurrando a senhora com o menorzinho no colo, levara tudo se esconder na casa da italiana. Os outros se dividiram. Barafustaram pela casa aberta, alguns forçaram num átimo a porta vizinha, tudo fácil de abrir, donos em viagem, a casa se iluminou toda. Veio um gritando na janela do sobrado: – Por trás não fugiu, o muro é alto! – Ói lá! Era a mocetona duma das casas operárias fronteiras, a “vanyti-case” de metalzinho esmaltado na mão, largara de se empoar, apontando. Toda a gente parou estarrecida, adivinhando um jeito de se resguardar do facínora. Olharam pra mocetona. Ela apontava no alto, aos gritos. Era no telhado. Um dos cautelosos, não se enxergava bem por causa das árvores, criou coragem, se abaixou e pôde ver. Deu um berro, avisando: – Está lá! E veio feito uma bala, atravessando a rua, se resguardar na casa onde empoleirara o ladrão. Os dois comparsas dele o imitaram. As janelas em frente se fecham rápidas, bateu uma escureza sufocante. E os polícias, o


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CONTO

rapaz, todos tinham corrido pra junto do homem que vira, se escondendo com ele, sem saber do que, de quem, a evidência do perigo independendo já das vontades. Mas logo um dos polícias reagindo, sacudiu o horrorizado, fazendo-o voltar a si, perguntando gritado, com raiva. E a raiva contra o cauteloso dominou o grupo. Ele enfim respondeu: – Eu também vi... (mal podia falar) no telhado... – Dissesse logo! – Está no telhado! – Vá pra casa, medroso! – Medroso não! O rapaz atravessou a rua correndo, pra ver se enxergava ainda. O grupo estourou de novo pelas duas casas a dentro. – Ele não tem pra onde pular! – Coitado! – Que cuidado! ele que venha! – Falei “coitado”... Nos quintais dos fundos mais gente inspecionava o telhado único das casas gêmeas. Não havia por onde fugir. E a caça continuava sanhuda. Os dois sobrados foram esmiuçados, quarto por quarto, não houve guarda-roupa que não abrissem, examinaram tudo. Nada. – Mas não há nada! um falou. – Quem sabe se entrou no forro? – Entrou no forro! – Tem claraboia? O rapaz, do outro lado da rua, examinara bem. Na parte de frente do telhado, positivamente o homem não estava mais. Algumas janelas se entreabriram de novo, medrosas, riscando luzes nas calçadas. – Pegaram? – P... Mas alguém lhe segurara o braço, virou com defesa. – Meu filho! olhe a sua asma! Deixe, que os outros pegam! Está tão frio!... O rapaz, deu um desespero nele, a assombração medonha da asma... Foi vestindo maquinalmente o sobretudo que a mãe trouxera. – Olha!... ah, não é...Também não sei pra que o prefeito põe tanta árvore na rua! – Mas afinal o quê que foi, hein? perguntaram alguns, chegados tarde demais pra se apaixonarem pelo caso. – Eu nem não sei!... diz-que estão pegando um ladrão. – Vamos pra casa, filhinho!... ... aquele fantasma da sufocação, peito chiando noite inteira, nem podia mais nadar... Virou com ódio pro sabetudo: – Quem lhe contou que é ladrão? Brotou em todos a esperança de alguma coisa pior. – O que é, hein? A pergunta vinha da mulher sem nenhum prazer. O rapaz olhou-a, aquele demônio da asma... deu de ombros, nem respondeu. Ele mesmo nem sabia certo, entrara do trabalho, apenas despira o sobretudo, ainda estava falando com a mãe já na cama, pedindo a bênção, quando gritaram “Pega!” na rua. Saíra correndo, vira o guarda não muito longe, um vulto que fugia, fora ajudar. Mas aquele demônio medonho da asma... O anulou uma desesperança rancorosa. Entre os dentes:

– Desgraçado... Foi-se embora. De raiva. A mãe mal o pôde seguir, quase correndo, feliz! feliz por ganhar o filho àquela morte certa. Agora a maioria dos perseguidores saíra na rua. Nem no interior do telhado encontraram o homem. Como fazer? – Ficou gente no quintal, vigiando? – Chi! tem pra uns deiz decidido lá! Era preciso calma. Lá na janela da mocetona operária começara uma bulha desgraçada. Os irmãos mais novos estavam dando um baile nela, primeiro insultando, depois caçoando que ela nem não tinha visto nada, só medo. Ela jurava que sim, se apoiava no medroso que enxergara também, mas ele não estava mais ali, tinha ido embora, danado de o chamarem medroso, esses bestas! A mocetona gesticulava, com o metalzinho da “vanity-case” brilhando no ar. Afinal acabou atirando com a caixinha bem na cara do irmão próximo e feriu. Veio a mãe, veio o pai, precisou vir mais gente, que os irmãos cegados com a gota de sangue queriam massacrar a mocetona. Organizou-se uma batida em regra, eram uns vinte. As demais casas vizinhas estavam sendo varejadas também, quem sabe... Alguns foram-se embora que tinha muita gente, não eram necessários mais. Mas paravam pelas janelas, pelas portas, respondendo. Nascia aquela vontade de conversar, de comentar, lembrar casos. Era como se se conhecessem sempre. – Te lembra, João, aquele bebo no boteco da... – Nem me!... Não encontraram nada nas casas e todos vieram saindo para as calçadas outra vez. Ninguém desanimara, no entanto. Apenas despertara em todos uma vontade de alívio, todos certos que o ladrão fugira, estava longe, não havia mais perigo pra ninguém. O guarda conversava pabulagem, bem distraído num grupo, do outro lado da rua. Veio chegando, era a vergonha do quarteirão, a mulher do português das galinhas. Era uma rica, linda com aqueles beiços largos, enquanto o Fernandes quarentão lá partia no “Ford” passar três, quatro dias na granja de Santo André. Ela, quem disse ir com ele! Chegava o entregador da “Noite”, batia, entrava. Ela fazia questão de não ter criada, comia de pensão, tão rica! Vinha o mulato da marmita, pois entrava! E depois diz – que vivia sempre com doença, chamando cada vez era um médico novo, desses que ainda não têm automóvel. Até o padeirinho da tarde, que tinha só... quinze? dezesseis anos? entrava, ficava tempo lá dentro. O jornaleiro negava zangado, que era só pra conversar, senhora boa, mas o entregadorzinho do pão não dizia nada, ficava se rindo, com sangue até nos olhos, de vergonha gostosa. Foi um silêncio carregado, no grupo, assim que ela chegou. As duas operárias honestas se retiraram com fragor, facilitando os homens. Se espalhou um cheiro por todos, cheiro de cama quente, corpo ardente e perfumado recendente. Todos ficaram que até a noite perdera a umidade gélida. De fato, a neblininha se erguera, e a cada uma janela que fechava, vinha pratear mais forte os paralelepípedos uma calma elevada de rua.

Vários grupos já não tinham coesão possível, bastante gente ia dormir. Por uma das janelas agora, pouco além das duas casas, se via um moço magro, de cabelo frio escorrendo, num pijama azul, perdido o sono, repetindo o violino. Tocava uma valsa que era boa, deixando aquele gosto de tristeza no ar. Nisto a senhora não pudera mais consigo, muito inquieta com a casa aberta em que tantas pessoas tinham entrado, apareceu na porta da italiana. Esta insistia com a outra pra ficar dormindo com ela, a senhora hesitava, precisava ir ver a casa, mas tinha medo, sofria muito, olhos molhados, sem querer. A conversa vantajosa do grupo da portuguesa parou com a visão triste. E o guarda, sem saber que era mesmo ditado pela portuguesa, heroico se sacrificou. Destacou-se do grupo insaciável, foi acompanhar a senhora (a portuguesa bem que o estaria admirando), foi ajudar a senhora mais a italiana a fechar tudo. Até não havia necessidade dela dormir na casa da outra, ele ficava guardando, não arredava pé. E sem querer, dominado pelos desejos, virou a cara, olhou lá do outro lado da calçada a portuguesa fácil. Talvez ela ficasse ali conversando com ele, primeiro só conversando, até de-manhã... Alguns dos perseguidores, agrupados na porta da casa, tinham se esquecido, naquela conversa apaixonada, o futebol do sábado. Se afastaram, deixando a dona entrar com o guarda. Olharam-na com piedade mas sorrindo, animando a coitada. Nisto chegou com estalidos seu Nitinho e tudo se resolveu. Seu Nitinho era compadre da senhora, muito amigo da família, morava duas quadras longe. Viera logo com a espingarda passarinheira dos domingos, proteger a comadre. Dormiria na casa também, ela podia ficar no seu bem-bom com os filhinhos, salva com a proteção. E a senhora mais confiante entrou na casa. – É, não há nada. Foi um alívio em todos. A italiana já trazia as crianças se rindo, falando alto, gesticulando muito, insistindo na oferta do leite. Pois a italiana assim mesmo conseguiu vencer a reserva da outra, e invadiu a cozinha, preparando um café. A lembrança do café animou todos. Os perseguidores se convidaram logo, com felicidade. Só o pobre do guarda, mais uma vez sacrificado, não pôde com o sexo, foi se reunir ao grupo da portuguesa. Eis que a valsa triste acabou. Mas da sombra das árvores em frente, umas quatro ou cinco pessoas, paralisadas pela magnitude da música, tinham por alegria, só por pândega, pra desopilar, pra acabar com aquela angústia miúda que ficara, nem sabiam! tinham... enfim, pra fazer com que a vida fosse engraçada um segundo, tinham arrebentado em aplausos e bravos. E todos, com os aplausos, todos, o grupo da portuguesa, a mocetona com os manos já mansos, os perseguidores da porta, dois ou três mais longe, todos desataram na risada. Só o violinista não riu. Era a primeira consagração. E o peitinho curto dele até parou de bater. Soaram duas horas num relógio de parede. Os que tinham relógio, consultaram. Um galo cantou. O canto firme lavou o ar e abriu o orfeão de toda a galaria do bairro, uma bulha


CONTO encarnada radiando no céu lunar. O violinista reiniciara a valsa, porque tinham ido pedir mais música a ele. Mas o violino, bem correto, só sabia aquela valsa mesmo. E a valsa dançava queixosa outra vez, enchendo os corações. – Eu numa varsa dessa, mulher comigo, eu que mando! E olhou a portuguesa bem nos olhos. Ela baixou os dela, puros, umedecendo os lábios devagar. Os outros ficaram com ódio da declaração do guarda lindo, bem arranjado na farda. Se sentiram humilhados nos pijamas reles, nos capotes mal vestidos, nos rostos sujos de cama. Todos, acintosamente, por delicadeza, ocultando nas mãos cruzadas ou enfiadas nos bolsos, a indiscrição dos corpos. A portuguesa, em êxtase, divinizada, assim violentada altas horas, por sete homens, traindo pela primeira vez, sem querer, violentada, o marido da granja. Na porta da casa, a italiana triunfante distribuía o café. Um momento hesitou, olhando o guarda do outro lado da rua. Mas nisto fagulhou uma risadinha em todos lá no grupo, decerto alguma piada sem-vergonha, não! não dava café ao guarda! Pensou na última xícara, atravessou teatralmente a rua olhando o guarda, ele ainda imaginou que a xícara era pra ele. E a italiana entrou na casa dela levando

o café para o marido na cama, dormindo porque levantava às quatro, com o trabalho em Pirituba. Foi um primeiro mal-estar no grupo da portuguesa: todos ficaram com von­tade de beber um café bem quentinho. Se ela convidasse... Ela bem queria mas não achava razão. O guarda se irritou, qual! não tinha futuro! assim com tanta gente ali... Perdera o café. Ainda inventou ir até a casa, saber se a senhora não precisava de nada. Mas a italiana olhara pra ele com tanta ofensa, a xícara bem agarrada na mão, que um pudor o esmagou. Ficou esmagado, desgostoso de si, com um princípio de raiva da portuguesa. De raiva, deu um trilo no apito e se foi, rondando os seus domínios. Os perseguidores tinham bebido o café, já agora perfeitamente repostos em suas cons­ ciências... Lhes coçava um pouco de vergonha na pele, tinham perseguido quem?... Mas ninguém não sabia. Uns tinham ido atrás dos outros, levados pelos outros, seria ladrão?... – Bem vou chegando. – É. Não tem mais nada. Boa-noite, boa-noite... E tudo se dispersou. Ainda dois mais corajosos acompanharam a portuguesa até a porta dela, na esperança nem sabiam do quê.

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Se despediram delicados, conhecedores de regras, se contando os nomes próprios, seu criado. Ela, fechava a porta, perdidos os últimos passos além, se apoiou no batente, engolindo silêncio. Ainda viria algum, pegava nela, agarrava... Amarrou violentamente o corpo nos braços, duas lágrimas rolaram insuspeitas. Foi deitar sem ninguém. A rua estava de novo quase morta, janelas fechadas. A valsa acabara o bis. Sem ninguém. Só o violinista estava ali, fumando, fumegando muito, olhando sem ver, totalmente desamparado, sem nenhum sono, agarrado a não sei que esperança de que alguém, uma garota linda, um fotógrafo, um milionário disfarçado, lhe pedisse pra tocar mais uma vez. Acabou fechando a janela também. Lá na outra esquina do outro quarteirão, ficara um último grupinho de três, conversando. Mas é que lá passava bonde. (1930 – 1941 – 1942)

Nota: este conto é desenvolvimento de uma das croniquetas historiadas que, sob os pseudônimos de Luís Pinho e Luís Antônio Marques, publiquei no “Diário Nacional” de São Paulo em 1931. Extraído de: Contos novos.

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Pesquisa abre caminho para diagnóstico precoce de Alzheimer Karina Toledo, de Foz do Iguaçu

U

ma pesquisa conduzida na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP), com apoio da Fapesp, pode tornar possível o diagnóstico precoce da doen­ça de Alzheimer. Atualmente, ainda não há marcadores biológicos ou exames de imagem disponíveis na rotina clínica para detectar o avanço do processo degenerativo cerebral. O diagnóstico é feito apenas quando já há sinais de declínio cognitivo – basicamente por exclusão de outras condições que causam perda de memória e demência. “Estima-se que quando os pacientes começam a manifestar sintomas de comprometimento cognitivo cerca de 50% dos neurônios já morreram. E, a essa altura, não há muito mais o que fazer. Porém, se conseguirmos detectar o processo degenerativo ainda no início, as chances de estabilizar sua progressão com as drogas hoje disponíveis são muito maiores”, disse à Agência FAPESP Luciana Malavolta Quaglio, professora do Departamento de Ciências Fisiológicas da FCMSCSP. Alguns resultados do trabalho coordenado por Malavolta foram apresentados dia 30 de agosto, em Foz do Iguaçu, durante a 31a Reu-

nião Anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (FeSBE). Em seu laboratório, a pesquisadora sintetizou pequenos fragmentos peptídicos capazes de serem atraídos por um peptídeo maior, conhecido como beta-amiloide, que desempenha papel crucial no desenvolvimento da doença de Alzheimer. Por motivos ainda não totalmente compreen­ didos pela ciência, as moléculas beta-amiloide naturalmente presentes no organismo começam a se agregar umas às outras, formando as chamadas placas beta-amiloidais. Esses agregados se acumulam no cérebro e causam uma série de alterações que, em conjunto com outros fatores, resultam na morte de neurônios. O objetivo da pesquisa de Malavolta é desenvolver biomarcadores capazes de sinalizar em exames clínicos a presença das placas beta-amiloidais no cérebro. “Estamos testando quatro diferentes fragmentos peptídicos – todos com poucos aminoácidos. Enquanto o peptídeo beta-amiloide tem cerca de 42 resíduos de aminoácidos, os nossos têm entre quatro e seis, pois, se forem grandes, não conseguem atravessar a

barreira hematoencefálica (um conjunto de células extremamente unidas que protegem o sistema nervoso central de substâncias potencialmente tóxicas presentes no sangue) e chegar ao cérebro”, explicou Malavolta. O desenho das moléculas foi concluído em 2011. Desde então, em colaboração com cientistas do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein, Malavolta vem aperfeiçoando métodos de radiomarcação, ou seja, de ligar os fragmentos peptídicos a isótopos radioativos – o que possibilita acompanhar a distribuição do composto pelo organismo e realizar exames de imagem. A estratégia é semelhante à dos exames de cintilografia usados para avaliar, por exemplo, a função renal ou cardíaca. Um composto radiomarcado com afinidade pelo tecido de interesse é injetado no organismo. Quando os elementos chegam ao órgão-alvo, as radiações emitidas são identificadas por um equipamento conhecido como câmara de cintilação e transformadas em imagens, que podem ser interpretadas pelos especialistas. A radiomarcação tem sido feita com o radioisótopo tecnécio, elemento que emite radiação gama. Segundo Malavolta, esse isóto-


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po tem sido bastante usado em exames de medicina nuclear para diagnóstico, pois tem meia-vida de seis horas – tempo suficiente para a realização do exame e para o paciente ter alta hospitalar no mesmo dia. “Em média, as técnicas de radiomarcação de forma direta com tecnécio (na qual o radioisótopo é ligado diretamente na molécula) descritas na literatura científica alcançam um rendimento entre 60% e 65% [porcentagem de fragmentos que de fato permanecem ligados ao radioisótopo]. Nós conseguimos valores acima de 90%, o que é considerado bastante satisfatório no campo da medicina nuclear.”

Ensaios pré-clínicos Diversos testes in vitro e in vivo foram feitos para avaliar a estabilidade dos peptídeos radiomarcados e sua biodistribuição no organismo. Em um dos experimentos, foi comparado um grupo de camundongos sadios e outro geneticamente modificado para desenvolver um quadro semelhante ao Alzheimer. Nesse modelo, para induzir a formação das placas beta-amiloidais no cérebro dos animais, é inserido no genoma do roedor uma mutação dupla na proteína APP (proteína precursora amiloidal), que dá origem ao peptídeo beta-amiloide. Os fragmentos radiomarcados foram injetados nos dois grupos de animais e, após diferentes tempos, os pesquisadores faziam a contagem de radiação em cada um dos órgãos, com auxílio de um contador de radiação gama. “Dependendo do fragmento, observamos que entre 3% e 5% das moléculas radiomarcadas conseguiram de fato chegar até o cérebro dos animais geneticamente modificados, o que é considerado um índice satisfatório. Atualmente, há radiofármacos usados em ou-

tros tipos de diagnósticos nos quais a porcentagem de especificidade fica em torno de 1%”, contou Malavolta. Nos animais controle (sadios), segundo a pesquisadora, as atividades radioativas referentes aos peptídeos radiomarcados ficaram ao redor de 0.5% no cérebro. Nos testes in vitro, o índice de interação dos fragmentos radiomarcados com as células cerebrais dos camundongos com Alzheimer foi de 50%. Já com as células dos camundongos sadios o índice ficou entre 10% e 12%. Ao avaliar a interação dos fragmentos radioativos com as proteínas presentes no sangue dos roedores, o índice ficou em torno de 35% nos dois grupos. “Nesse caso, quanto mais baixo for o índice, melhor, pois uma maior quantidade do

composto fica livre para chegar ao alvo desejado. O resultado do experimento mostra que 65% dos nossos fragmentos peptídicos estão livres para percorrer todo o organismo. Alguns dos fármacos disponíveis atualmente apresentam 95% de interação com as proteínas plasmáticas, ou seja, apenas 5% das moléculas ficam livres e mesmo assim ainda conseguem ter alguma eficiência. Imagina quando se tem 65% do composto livre”, comparou Malavolta. Uma das estratégias que a pesquisadora pretende testar para aumentar a porcentagem de fragmentos radiomarcados que chegam ao cérebro é o encapsulamento em nanopartículas. Alguns testes iniciais já foram feitos. Extraído de: Agência FAPESP – Divulgando a cultura científica, ago./2016.

VOCÊ SABIA QUE... ... Vasco da Gama teve grande importância não só para a história de Portugal como para a própria expansão cultural europeia? Nascido em Sines, Portugal, em 1469, Vasco da Gama foi en­carregado pelo rei Manuel I de abrir uma rota marítima até as Índias (terras produtoras de especiarias) em 1497. O intuito era atenuar a vantajosa posição conquistada pela Coroa espanhola com o descobrimento da América; além, é claro, de fazer uso do Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494 entre os dois países, o qual garantia a Portugal o direito de exploração de praticamente todo o mundo oriental. Por muito tempo acreditou-se que a expedição tivesse margeado a costa africana até chegar ao cabo da Boa Esperança. Hoje sabe-se que Vasco da Gama se valeu de uma sofisticada estratégia para escapar das correntes contrárias do golfo da Guiné: a “volta do mar”, traçado este que aproveitava a hoje denominada corrente do Brasil. Esse nome, aliás, não é por acaso. Alguns historiadores apostam que já nessa viagem os portugueses perceberam evidências de uma nova terra a ser explorada. A chegada das embarcações portuguesas à Índia, em 1498, foi o primeiro contato direto da civilização europeia com a indiana, um marco fundamental para o decorrer da história: estávamos na época das grandes navegações, época essa em que os europeus almejavam descobrir, conquistar e ocupar as mais diversas áreas, seja na África, Ásia ou América.

AS GRANDES NAVEGAÇÕES


POIS É, POESIA

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Castro Alves (1841-1871) Murmúrios da tarde Écoute! tout se tait; songe à ta bien-aimée, Ce soir, sous les tilleuls, à la sombre ramée, Le rayon du couchant laisse un adieu plus [doux; Ce soir, tout va fleurir: l’immortelle nature Se remplit de parfums, d’amour et de [murmure, Comme le lit joyeux de deux jeunes époux. (A. de Musset)

Rosa! Rosa de amor purpúrea e bela! (Garrett)

O ntem à tarde, quando o sol morria, A natureza era um poema santo, De cada moita a escuridão saía, De cada gruta rebentava um canto, Ontem à tarde, quando o sol morria. Do céu azul na profundeza escura Brilhava a estrela, como um fruto louro, E qual a foice, que no chão fulgura, Mostrava a lua o semicirc’lo d’ouro, Do céu azul da profundeza escura. Larga harmonia embalsamava os ares! Cantava o ninho – suspirava o lago... E a verde pluma dos sutis palmares

E tu no entanto no jardim vagavas, Rosa de amor, celestial Maria... Ai! como esquiva sobre o chão pisavas, Ai! como alegre a tua boca ria... E tu no entanto no jardim vagavas. Eras a estrela transformada em virgem! Eras um anjo, que se fez menina! Tinhas das aves a celeste origem. Tinhas da lua a palidez divina, Eras a estrela transformada em virgem!

S enhor! A noite é brava... a praia é toda

[escolhos.

Ladram na escuridão das Circes as cadelas... As lívidas marés atiram, a meus olhos, Cadáveres, que riem à face das estrelas! Da garça do oceano as ensopadas penas O mórbido suor enxugam-me da testa. Na aresta do rochedo o pé se firma apenas... No entanto ouço do abismo a rugidora festa!... Nas orlas de meu manto o vendaval s’enrola...

Flor! Tu chegaste de outra flor mais perto, Que bela rosa! que fragrância meiga! Dir-se-ia um riso no jardim aberto, Dir-se-ia um beijo, que nasceu na veiga... Flor! Tu chegaste de outra flor mais perto!...

Como invisível destra açoita as faces minhas...

E eu, que escutava o conversar das flores,

Senhor! Um facho ao menos empresta ao

Ouvi que a rosa murmurava ardente: “Colhe-me, ó virgem, – não terei mais dores, Guarda-me, ó bela, no teu seio quente...” E eu escutava o conversar das flores. “Leva-me! leva-me ó gentil Maria!” Também então eu murmurei cismando... “Minh’alma é rosa, que a geada esfria... Dá-lhe em teus seios um asilo brando... “Leva-me! leva-me, ó gentil Maria!...” Rio de Janeiro, 12 de outubro de 1869.

Tinha das ondas o murmúrio vago...

Enquanto que eu tropeço... um grito ao [longe rola... “Quem foi?” perguntam rindo as solidões [marinhas.

[caminhante. A treva me assoberba... Ó Deus! dá-me um [clarão!

***

E uma Voz respondeu nas sombras triunfante: “Acende, ó Viajor! – o facho da Razão!” . . . . . . . . . . . . . Senhor! Ao pé do lar, na quietação, na calma Pode a flama, subir brilhante, loura, eterna; Mas quando os vendavais, rugindo, passam [n’alma,

Larga harmonia embalsamava os ares.

O coração

Quem pode resguardar a trêmula lanterna?

Era dos seres a harmonia imensa,

O coração é o colibri dourado

Torcida... desgrenhada aos dedos da lufada

Vago concerto de saudade infinda! “Sol – não me deixes”, diz a vaga extensa, “Aura – não fujas”, diz a flor mais linda; Era dos seres a harmonia imensa! “Leva-me! leva-me em teu seio amigo” Dizia às nuvens o choroso orvalho, “Rola que foges”, diz o ninho antigo, “Leva-me ainda para um novo galho...

Das veigas puras do jardim do céu. Um – tem o mel da granadilha agreste, Bebe os perfumes, que a bonina deu. O outro – voa em mais virentes balças, Pousa de um riso na rubente flor. Vive do mel – a que se chama – crenças –, Vive do aroma – que se diz – amor. Recife, 1865.

Leva-me! leva-me em teu seio amigo.” “Dá-me inda um beijo, antes que a noite [venha! Inda um calor, antes que chegue o frio...“ E mais o musgo se conchega à penha E mais à penha se conchega o rio... “Dá-me inda um beijo, antes que a noite [venha!”

Pelas sombras

Bateu-me contra o rosto... e se abismou na [treva, Eu vi-a vacilar... e minha mão queimada A lâmpada sem luz embalde ao raio eleva. Quem fez a gruta – escura, o pirilampo cria! Quem fez a noite – azul, inventa a estrela clara! Na fronte do oceano – acende uma ardentia! Com o floco do Santelmo – a tempestade [aclara! Mas ai! Que a treva interna – a dúvida

Ao Padre Francisco de Paula C’est que je suis frappé du doute. C’est que l’étoile de la foi N’éclaire plus ma noire route: Tout est abîme autour de moil (La Morvonnais)

[constante Deixaste assoberbar-me em funda escuridão!...

***

E uma Voz respondeu nas sombras triunfante: “Acende, ó Viajor! a Fé no coração!...” Curralinho, 5 de junho de 1870.

Extraído de: “Espumas flutuantes”. In: Obra completa. Ed. Nova Aguilar, 1976.


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PARA TREINAR SEU INGLÊS

Math problem SAM & SILO/Dumas

RESPOSTA

Se x é o número de livros que custam 0,25, então o número de livros que custam 0,40 deve ser x + 2. Temos 0,25x + 0,40(x + 2) = 4,70. Resolvendo, obtemos x = 6. Logo, temos 6 livros de 0,25 e 8 livros de 0,40.

SERVIÇO DE VESTIBULAR Universidade Estadual de Goiás (UEG) Período de inscrição: até dia 17 de abril de 2017. Somente via internet. Endereço da faculdade: Rua 82, 400 – Palácio Pedro Ludovico Teixeira – Goiânia – GO – CEP: 74088-900 – Telefone: (62) 3201-5334/5335. Requisito: taxa de R$ 90,00 para o curso de Arquitetura e Urbanismo e R$ 80,00 para os demais cursos. Cursos e vagas: consultar site www.ueg.br Exames: • dia 07 de maio de 2017 – Prova de habilidades específicas para Arquitetura e Urbanismo. • dia 21 de maio de 2017 – Provas objetivas e Redação.

Universidade Federal de Uberlândia (UFU) Período de inscrição: até dia 19 de abril de 2017. Somente via internet. Endereço da faculdade: Avenida João de Ávila, 2 121 – Santa Mônica – Uberlândia – MG – CEP: 38408-144 – Telefone: (34) 3239-4411. Requisito: taxa de R$ 117,00. Cursos e vagas: consultar site www.ingresso.ufu.br

Exames: dias 03 e 04 de junho de 2017. Leituras obrigatórias: • A metamorfose – Franz Kafka. • Clara dos Anjos – Lima Barreto. • Destino: poesia – Ítalo Moriconi. • Felicidade clandestina – Clarice Lispector. • Menino do mato – Manoel de Barros. • O filho eterno – Cristóvão Tezza Record. • O santo e a porca – Ariano Suassuna. • Terra sonâmbula – Mia Couto.

Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein Período de inscrição: até dia 03 de maio de 2017. Somente via internet. Endereço da faculdade: Av. Prof. Francisco Morato, 4 293 – Butantã – São Paulo – SP – CEP: 05521-200 – Telefone: (11) 2151-1001. Requisito: taxa de R$ 160,00. Cursos e vagas: consultar site www.vestibular.pucsp.br Exame: dia 21 de maio de 2017. Leituras obrigatórias: • A cidade e as serras – Eça de Queirós. • Claro enigma – Carlos Drummond de Andrade. • Iracema – José de Alencar.

Jornal do Vestibulando

• Sagarana – João Guimarães Rosa. • Memórias póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis.

Universidade Regional do Cariri (Urca) Período de inscrição: até dia 18 de abril de 2017. Somente via internet. Endereço da faculdade: Rua Coronel Antônio Luiz, 1 161 – Pimenta – Crato – CE – CEP: 63100-000 – Telefone: (88) 3102-1212. Requisito: taxa de R$130,00. Cursos e vagas: consultar site www.urca.br Exames: dias 24 e 25 de junho de 2017. Leituras obrigatórias: • A cidade e as serras – Eça de Queiroz. • Big jato – Xico Sá. • Bom crioulo – Adolfo Caminha. • Ferrolho de abismo – Geraldo Urano. • Os papéis do inglês – Ruy Duarte de Carvalho. • Romanceiro da Inconfidência – Cecília Meireles. • Sonetos – Luís de Camões. • Triste fim de Policarpo Quaresma – Lima Barreto.

Jornal ETAPA, editado por Etapa Ensino e Cultura REDAÇÃO: Rua Vergueiro, 1 987 – CEP 04101-000 – Paraíso – São Paulo – SP JORNALISTA RESPONSÁVEL: Egle M. Gallian – M.T. 15343


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