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Jornal do Vestibulando
ENSINO, INFORMAÇÃO E CULTURA
JORNAL ETAPA – 2017 • DE 04/05 A 17/05
CURSO – ENGENHARIA POLI
“O que a gente está cultivando é para a vida inteira.” Paula Sayuri Miyashiro Cassitas entrou na Poli, no curso de Engenharia Civil. Aqui ela conta como se preparou para os vestibulares e sua rotina de estudos durante o ano de cursinho. Entusiasmada com a faculdade, pretende praticar esportes e conhecer os grupos de Extensão para definir as atividades extracurriculares que fará junto com as aulas da graduação.
Paula Sayuri Miyashiro Cassitas Em 2016: Etapa Em 2017: Poli – USP
JV – Além da Fuvest, você prestou outros vestibulares?
Como você se saía nos simulados da 1a fase da Fuvest?
Paula – Prestei Engenharia na Unicamp e, pelo Enem, manifestei interesse na UFABC. Minha irmã fez Etapa e indicou. E tive vários amigos que estudaram no Colégio Etapa.
Ficava no C mais, próximo do B. No começo do ano a nota era mais alta porque eu estava um pouco mais tranquila. Cheguei a tirar 70, 72. No final do ano deu uma diminuída, tinha mais matéria acumulada. No meu último simulado acho que tirei 65, 63.
Qual era sua expectativa no começo do curso no ano passado?
Para a Poli, o que você achava desse desempenho?
Como conheceu o Etapa?
Eu estava empolgada, achava que ia dar tempo de fazer tudo, todas as apostilas, todos os exercícios, ler todos os livros. Logo vi que não estava conseguindo acabar todos os exercícios e o cansaço foi pegando. Mas, aos poucos, acabei me adaptando.
Como era seu método de estudo no ano passado? Quando podia, ficava estudando no Etapa até umas 9 horas da noite. Se estava muito cansada, ia para casa depois das aulas.
Em quais matérias você ia mais ao Plantão de Dúvidas? Acabei indo mais em Física e Matemática. Eu me arrependi de não ter dado tanta importância à Redação durante o ano. Fiz as do RPE, as dos simulados e uma ou outra das que o professor indicava. Mas não fiz nenhuma que era opcional.
Em Redação, qual era seu resultado nos simulados? C menos, C mais. Nunca fui muito bem.
ENTREVISTA
1
PARA PENSAR
Dourar a pílula CONTO
Clara dos Anjos – Lima Barreto
Em casa você conseguia estudar?
2 3
Para descansar, o que você fazia? Não tinha nenhuma atividade fora porque eu queria focar mesmo no estudo. Não queria chegar ao final do ano e não passar. Eu queria dar tudo e saber que no final estaria com a consciência limpa, mesmo se não conseguisse passar.
Fazia exercícios de Matemática, Física e Química. Mesmo com sono, era o que eu conseguia fazer sem dormir. Pelo menos isso. Ia dormir às 11, 11 e meia.
Você teve que abrir mão de alguma atividade por causa do vestibular?
No final de semana você estudava?
E como era sua relação com os colegas?
Sábado eu fazia o RPE [Reforço para Engenharia]. Chegando em casa tentava fazer os exercícios do Reforço. Domingo tinha o simulado. Eu procurei vir a todos. À tarde tentava adiantar o estudo para as provas do colégio, ou lia os livros da Fuvest.
Os momentos de relaxamento eram com meus amigos. Almoçava com eles. Entre as aulas eu também ficava conversando com eles. Isso tornava muito mais agradável o ambiente e eu conseguia suportar toda a pressão dos estudos.
O que você achou das aulas do RPE?
Você treinou regularmente Redação?
Paula Sayuri Miyashiro Cassitas
Nunca tive certeza de que ia conseguir.
não consegui acabar a prova – faltaram umas 10 questões. Esse era um problema que eu tinha que resolver. Os simulados foram decisivos. A Fuvest foi a primeira prova em que eu saí no tempo certo. Foi bem satisfatório.
Nas aulas do RPE me sentia muito mais segura para perguntar, tirar todas as dúvidas que tivesse. Era muito bom o contato com o professor, tinha mais liberdade.
Você usava o simulado para seus estudos? O simulado foi essencial para controlar o tempo de prova. Eu sempre tive muita dificuldade. Inclusive, no ano em que prestei como treineira
ARTIGO Pequenas empresas paulistas desenvolvem novas estratégias de combate ao vírus Zika VOCÊ SABIA QUE...
Dom Quixote
Eu jogava tênis e tive que parar. Parei com festas também.
Você conseguiu ler todas as obras obrigatórias da Fuvest? Faltou ler A cidade e as serras. E também algumas partes de Sagarana.
Você assistiu às palestras sobre os livros? Assisti a todas e antes da Fuvest revi on-line.
Qual a importância das palestras? Você tem uma visão mais completa da obra e começa a entender direito as passagens.
SOBRE AS PALAVRAS
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“Pode tirar o cavalo da chuva” SERVIÇO DE VESTIBULAR
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Inscrições
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ENTRE PARÊNTESIS
Mais um de vestibular
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2
CURSO – ENGENHARIA POLI
O problema é que eu acabei lendo muitas coisas depois de assistir às palestras, o que me prejudicou. Se eu pudesse refazer o ano, leria os livros antes de assistir às palestras. Entenderia muito melhor a obra. Por isso tive que reassistir on-line.
No segundo dia, na prova geral, qual foi sua nota?
O que você fez nas duas semanas de férias em julho?
Tirei 79.
Eu usei o tempo para ler os livros. Consegui ler três livros e meio, fiquei um pouco mais tranquila para ler os restantes no segundo semestre.
Você prestou Fuvest, Unicamp e Enem. Em qual você achava que tinha mais chance de aprovação?
Fui melhor, tirei 73.
E no terceiro dia, com questões das matérias prioritárias para Engenharia: Matemática, Física e Química? Olhando essas notas, foram o que você esperava? Fiquei bem feliz com o segundo dia porque consegui duplicar a nota que tirei como treineira.
Era o que você esperava? Eu esperava ir um pouco melhor. Eu queria ter mais margem da nota de corte, que eu achava que seria 60 pontos.
Mas a nota de corte caiu para 55 e você acabou 9 pontos acima... Era essa a margem que eu queria. Fiquei tranquila depois que vi a nota de corte. a
Na 2 fase, qual foi seu desempenho no primeiro dia, em Português e Redação? Tirei 55 na nota geral. Em Redação tirei 53. Fiquei decepcionada. Na prova, fiquei até o último segundo, tentei escrever o máximo que podia.
O que você pode dizer a quem está no cursinho agora?
Como foi quando você viu que tinha sido aprovada na Poli?
Como fica marcado o ano passado para você?
Não tinha caído a ficha do que isso representava, o que significava entrar na USP. Quando mostrei para meus pais, eles me trouxeram um jornal e a camisa da Escola Politécnica que eles já tinham comprado para mim sem saber se eu tinha passado. Fiquei chorando, vendo os presentes e vestindo a camisa da Poli. Fiquei muito feliz.
Fica registrado com muito carinho, apesar de todo esforço e desgaste. Conheci os melhores professores da minha vida e fiz amigos que vou guardar com muito carinho. Eles foram muito importantes.
Na 2a fase o que você priorizou foram as matérias que não estudou ao longo do ano?
Fiz 64 pontos.
Não tenho ainda noção do que eu quero. Preciso estudar melhor. Tem um grupo de Extensão que é de Finanças e Consultoria – muito interessante. Talvez acabe indo para essa área.
Fiquei em 38o lugar.
697 pontos e 551o lugar na carreira.
Na Unicamp, como se classificou na sua opção de Engenharia?
Como foi seu desempenho na 1a fase da Fuvest?
Na Engenharia Civil, já existe alguma área que você pretende seguir?
Minha dica é para dar o seu melhor, o que você pode, sem se comparar com os outros. Para mim funcionou só focar em mim e no que eu podia fazer. Outra coisa, às vezes as pessoas chegam num momento em que acham que não vão aguentar mais fisicamente. E eu acho que não funciona assim. Se você persistir, vai aguentar.
Qual foi sua pontuação e classificação final na Fuvest?
Na Fuvest. Era a prova para a qual eu mais tinha me preparado. Fiz todos os simulados da Fuvest, conhecia o tipo de prova da Fuvest, li os livros obrigatórios da Fuvest, fazia as redações estilo Fuvest.
Foi. Biologia, História e Geografia.
Júnior. E muitos grupos de competição internacional. Tudo muito interessante. Estou planejando experimentar e ver do que gosto mais.
Você acha que está diferente de quando começou no cursinho?
Foi muito legal. Eu estava muito feliz, muito orgulhosa de passar na faculdade, de olhar o ambiente, que eu achei muito bonito.
Acho que amadureci. Esse negócio de conhecer seus limites, conhecer as suas dificuldades, saber lidar com problemas. Saber lidar com seus sentimentos, seu psicológico, não se deixar abater.
Teve trote? Foi tranquilo?
O que você tira de lição dessa experiência?
Teve e foi bem divertido.
Que quando você quer mesmo uma coisa maior, vale a pena deixar de fazer algumas coisas de que gosta. O que a gente está cultivando é para a vida inteira.
E seu contato com a Poli na matrícula?
Do que você já conheceu na Poli até agora, do que gostou mais? Tudo é muito incrível, na verdade. O Cepê está me impressionando muito. Como eu gosto de esportes, quero fazer todos. E estou achando muito legais os grupos de Extensão. Muitos são voltados para a área social, independente de qual é sua Engenharia. Tem também a Poli
O que mais você quer dizer para nossos alunos? As pessoas precisam ter consciência de que é preciso aprender a lidar com os medos, a insegurança. E fazer o que te faz feliz.
PARA PENSAR
Dourar a pílula
(Folha de S.Paulo, 25.02.2007.)
1. O que significa a expressão “dourar a pílula”? 2. Na fala do jornalista, há uma pequena troca vocabular que colabora com a graça da tira. Explique-a.
RESPOSTA
1) Tentativa de tornar mais agradável aquilo que é ruim. 2) Normalmente, os jornalistas dizem: “E, agora, as notícias (ou novidades, manchetes) do dia”; palavras essas de significado neutro – pode haver notícia boa ou ruim, etc. Quando o jornalista da tira diz: “E agora as catástrofes de hoje!”, fica subentendido que nada de bom será noticiado.
CONTO
3
Clara dos Anjos Lima Barreto
O
carteiro Joaquim dos Anjos não era homem de serestas e serenatas, mas gostava de violão e de modinhas. Ele mesmo tocava flauta, instrumento que já foi muito estimado, não o sendo tanto atualmente como outrora. Acreditava-se até músico, pois compunha valsas, tangos e acompanhamentos para modinhas. Aprendera a “artinha” musical na terra de seu nascimento, nos arredores de Diamantina, e a sabia de cor e salteado; mas não saíra daí. Pouco ambicioso em música, ele o era também nas demais manifestações de sua vida. Empregado de um advogado famoso, sempre quisera obter um modesto emprego público que lhe desse direito à aposentado ria e ao montepio, para a mulher e a filha. Conseguira aquele de carteiro, havia quin ze para vinte anos, com o qual estava muito contente, apesar de ser trabalhoso e o orde nado ser exíguo. Logo que foi nomeado, tratou de vender as terras que tinha no local de seu nascimen to e adquirir aquela casita de subúrbio, por preço módico, mas, mesmo assim, o dinheiro não chegara e o resto pagou ele em prestações. Agora, e mesmo há vários anos, estava de plena posse dela. Era simples a casa. Tinha dois quartos, um que dava para a sala de visitas e outro, para a de jantar. Correspondendo a um terço da largura total da casa, havia, nos fundos, um puxadito que era a cozinha. Fora do corpo da casa um barracão para banheiro, tanque, etc.; e o quintal era de superfície razoável, onde cresciam goiabeiras maltratadas e um grande tamarineiro copado. A rua desenvolvia-se no plano e, quando chovia, encharcava que nem um pântano; entretanto, era povoada e dela se descortinava um lindo panorama de montanhas que pareciam cercá-la de todos os lados, embora a grande distância. Tinha boas casas a rua. Havia até uma grande chácara de outros tempos com aquela casa característica decorada de azulejos até a metade do pé direito, um tanto feia, é fato, sem garridice1, mas casando-se perfeitamente com as anosas mangueiras, com as robustas jaqueiras e com todas aquelas grandes e velhas árvores que, talvez, os que as plantaram, não tivessem visto frutificar. Por aqueles tempos, nessa chácara, se ha viam estabelecido os “bíblia”2. Os seus cân ticos, aos sábados, quase de hora em hora, enchiam a redondeza. O povo não os via com hostilidade, mesmo alguns humildes homens e pobres raparigas simpatizavam com eles, porque, justificavam, não eram como os pa dres que, para tudo, querem dinheiro. Chefiava os protestantes, um america no, Mr. Sharp, homem tenaz e cheio de uma eloquência bíblica que devia ser magnífica em inglês; mas que no seu duvidoso portu
guês, se fazia simplesmente pitoresca. Era Sharp daquela raça curiosa de yankees que, de quando em quando, à luz da interpre tação de um ou mais versículos da Bíblia, fun dam seitas cristãs, propagam-nas, en contram adeptos logo, os quais não sabem bem porque foram para a nova e qual a di ferença que há entre esta e a de que vieram. Fazia prosélitos3 e, quando se tratava de iniciar uma turma, os noviços dormiam em barracas de campanha, erguidas no eirado4 da chácara ou entre as suas velhas árvores maltratadas e desprezadas. As cerimônias preparatórias duravam uma semana, cheia de cânticos divinos; e a velha propriedade, com as suas barracas e salmodias5, adquiria um aspecto esquisito de convento ao ar livre de mistura com um certo ar de acampamento militar. Da redondeza, poucos eram os adeptos ortodoxos; entretanto, muitos lá iam por mera curiosidade ou para deliciar-se com a oratória de Mister Sharp. Iam sem nenhuma repugnância, pois é próprio do nosso pequeno povo fazer um extravagante amálgama6 de religiões e crenças de toda a sorte, e socorrer-se desta ou daquela, conforme os transes de sua existência. Se se trata de afastar atraso de vida, apela para a feitiçaria; se se trata de curar uma moléstia tenaz e resistente, procura o espírita; mas, não falem à nossa gente humilde em deixar de batizar o filho pelo sacerdote católico, porque não há quem não se zangue: meu filho ficar pagão! Deus me defenda! Joaquim não fazia exceção desta regra e sua mulher, a Engrácia, ainda menos. Eram casados há quase vinte anos, mas só tinham uma filha, a Clara. O carteiro era pardo-claro, mas com cabelo ruim, como se diz; a mulher, porém, apesar de mais escura, tinha o cabelo liso. Na tez, a filha puxava o pai; e no cabe lo, à mãe. Na estatura, ficara entre os dois. Joaquim era alto, bem alto, acima da média, ombros quadrados; a mãe, não sendo mui to baixa, não alcançava a média, possuindo uma fisionomia miúda, mas regular, o que não acontecia com o marido que tinha o na riz grosso, quase chato. A filha, a Clara, tinha ficado em tudo entre os dois; média deles, era bem a filha de ambos. Habituada às musicatas do pai, crescera cheia de vapores das modinhas e enfumaçara a sua pequena alma de rapariga pobre com os dengues e a melancolia dos descantes7 e cantarolas. Com dezessete anos, tanto o pai como a mãe tinham por ela grandes desvelos e cuidados. Mais depressa ia Engrácia à venda de seu Nascimento, buscar isto, ou aquilo do que ela. Não que a venda do seu Nascimento fosse lugar de badernas; ao contrário: as pessoas que lá faziam “ponto” eram de todo respeito.
O Alípio, uma delas, era um tipo curioso de rapaz, que, conquanto pobre, não deixa va de ser respeitador e bem-comportado. Tinha um aspecto de galo de briga; entretanto, estava longe de possuir a ferocidade repugnante desses galos malaios de apostas, não possuindo – é preciso saber – nenhuma. Um outro que aparecia sempre lá, era um inglês, Mr. Persons, desenhista de uma gran de oficina mecânica das imediações. Quando saía do trabalho, passava na venda, lá se sentava naqueles característicos tamboretes de abrir e fechar, e deixava-se ficar até ao anoitecer bebericando ou lendo os jornais do Sr. Nascimento. Silencioso, quase taciturno, pouco conversava e implicava muito com quem o tratava por “seu mister”. Havia lá também o filósofo Menezes, um velho hidrópico8, que se tinha na conta de sábio, mas que não passava de um simples dentista clandestino e dizia tolices sobre todas as coisas. Era um velho branco, simpático com um todo de imperador romano, barbas alvas e abundantes. Aparecia, às vezes, o J. Amarante, um poeta, verdadeiramente poeta, que tivera o seu momento de celebridade em todo o Brasil, se ainda não o tem; mas que, naquela época, devido ao álcool e a desgostos íntimos, era uma triste ruína de homem, apesar dos seus dez volumes de versos, dez sucessos, com os quais todos ganharam dinheiro menos ele. Amnésico, semi-imbe cilizado, não seguia uma conversa com tino e falava desconexamente. O subúrbio não sabia bem quem ele era; chamava-o muito simplesmente – o poeta. Um outro frequentador da venda era o velho Valentim, um português dos seus sessenta anos e pouco, que tinha o corpo curvado para diante, débito ao hábito contraído no seu ofício de chacareiro que já devia exercer há mais de quarenta. Contava “casos” e anedotas de sua terra, pontilhando tudo de rifões9 portugueses do mais saboroso pitoresco. Apesar de ser assim decente, Clara não ia à venda; mas o pai, em alguns domin gos, permitia que fosse com as amigas ao cinema do Meyer ou Engenho de Dentro, enquanto ele e alguns amigos ficavam em casa tocando violão, cantando modinhas e bebericando parati10. Pela manhã, logo nas primeiras horas, os companheiros apareciam, tomavam café, iam em seguida para o quintal, para debaixo do tamarineiro, jogar bisca11, com o litro de cachaça ao lado; e aí sem dar uma vista d’olhos sobre as montanhas circundantes, nuas e empedrouçadas, deixavam-se ficar até à hora do “ajantarado” que a mulher e a filha preparavam. Só depois deste, é que as cantorias co meçavam.
4
CONTO
Certo dia, um dos companheiros domi nicais do Joaquim pediu-lhe licença para trazer, no dia do aniversário dele, que estava próximo, um rapaz de sua amizade, o Júlio Costa, que era um exímio cantor de modi nhas. Acedeu. Veio o dia da festa e o famoso trovador apareceu. Branco, sardento, insig nificante, de rosto e de corpo, não tinha as tais melenas12 denunciadoras, nem outro qualquer traço de capadócio13. Vestia-se se riamente, com um apuro muito suburbano, sob a tesoura de alfaiate de quarta ordem. A única pelintragem14 adequada ao seu mister que apresentava, consistia em trazer o cabelo repartido no alto da cabeça, dividido muito exatamente pelo meio. Acompanhava-o o violão. A sua entrada foi um sucesso. Todas as moças das mais diferentes cores que, aí, a pobreza harmonizava e esbatia, logo o admiraram. Nem César Bórgia, entrando mascarado, num baile à fantasia dado por seu pai, no Vaticano, causaria tanta emoção. Afirmavam umas para as outras. – É ele! É ele, sim! Os rapazes, porém, não ficaram muito contentes com isso; e, entre eles, puseram-se a contar histórias escabrosas da vida galante do cantor de modinhas. Apresentado aos donos da casa e à filha, ninguém notou o olhar guloso que deitou para os seios empinados de Clara. O baile começou com a música de um “terno” de flauta, cavaquinho e violão. A polca era a dança preferida e quase todos dan çavam-na com requebros próprios de samba. Num intervalo Joaquim convidou: – Por que não canta, seu Júlio? – Estou sem voz, respondeu ele. Até ali, ele tinha tomado parte no “ter no”; e, repinicando as cordas, não deixava de devorar com os olhos os bamboleios de quadris de Clarinha, quando dançava. Vendo que seu pai convidara o rapaz, animou-se a fazê-lo também: – Por que não canta, seu Júlio? Dizem que o senhor canta tão bem... Esse – tão bem – foi alongado macia mente. O cantador acudiu logo: – Qual, minha senhora! São bondades dos camaradas... Consertou a “pastinha”15 com as duas mãos, enquanto Clara dizia: – Cante! Vá! – Já que a senhora manda, disse ele, vou cantar. Com todo o dengue, agarrou o violão, fez estalar as cordas e anunciou: – Amor e sonho. E começou, com uma voz muito alta, quase berrando, a modinha, para depois arrastá-la num tom mais baixo, cheio de má goa e langor16, sibilando os ss, carregando os rr, das metáforas horrendas de que estava cheia a cantoria. A coisa era, porém, since ra; e mesmo as comparações estrambólicas17 levantavam nos singelos cérebros das ouvin tes largas perspectivas de sonhos, erguiam desejos, despertavam anseios e visões dou radas. Acabou. Os aplausos foram entusiás
ticos e só Clarinha não aplaudiu, porque, tendo sonhado durante toda a modinha, fi cara ainda embevecida quando ela acabou... Dias depois, vindo à janela por acaso – era de tarde – sem grande surpresa, como se já o esperasse, Clara recebeu o cumprimento do cantor magoado. Não pôs malícia na coisa, tanto assim que disse candidamente à mãe: – Mamãe, sabe quem passou aí? – Quem? – Seu Júlio. – Que Júlio? – Aquele que cantou nos “anos”18 de pa pai. A vida da casa, após a festança de ani versário do Joaquim, continuou a ser a mes ma. Nos domingos, aquelas partidas de bis ca com o Eleutério, servente da Biblioteca, e com o Augusto, guarda municipal, acompa nhadas de copitos de cachaça, e o violão, à tarde. Não tardou que se viesse agregar um novo comensal: era o Júlio Costa, o famoso modinheiro suburbano, amigo íntimo do Augusto e seu professor de trovas. Júlio quase nunca jantava, pois tinha quase sempre convites em todos os quatro pontos cardeais daquelas paragens. Tomava parte nas partidas de bisca, de parceirada, e pouco bebia. Apesar de não demorar-se pela tarde adentro, pôde ir cercando a rapariga, a Clara, cujos seios empinados, volumosos e redondos fascinavam-no extraordinariamente e excitavam a sua gula carnal insaciável. Em começo foram só olhares que a moça, com os seus úmidos olhos negros, grandes, quase cobrindo toda a esclerótica19, correspondia a furto e com medo; depois, foram pequenas frases, galanteios, trocados às escondidas, para, afinal, vir a fatídica carta. Ela recebeu-a, meteu-a no seio e, ao deitar-se, leu-a sob a luz da vela, medrosa e palpitante. A carta era a coisa mais fantás tica, no que diz respeito à ortografia e à sin taxe, que se pode imaginar; tinha, porém, uma virtude: não era copiada do “Secretá rio dos Amantes”, era original. Contudo a missiva fez estremecer toda a natureza vir gem de Clara que, com a sua leitura, sentiu haver nela surgido alguma coisa de novo, de estranho, até aí nunca sentida. Dormiu mal. Não sabia bem o que fazer: se respon der, se devolver. Viu o olhar severo do pai; as recriminações da mãe. Ela, porém, preci sava casar-se. Não havia de ser toda a vida assim como um cão sem dono... Os pais viriam a morrer e ela não podia ficar pelo mundo desamparada... Uma dúvida lhe veio; ele era branco; ela, mulata... Mas que tinha isso? Tinham-se visto tantos casos... Lembrou-se de alguns... Por que não havia de ser? Ele falava com tanta paixão... Ofega va, suspirava, chorava; e os seus seios duros estouravam de virgindade e de ansiedade de amar... Responderia; e assim fez, no dia seguinte. As visitas de Costa tornaram-se mais demoradas e as cartas mais constan tes. A mãe desconfiou e perguntou à filha: – Você está namorando seu Júlio, Clari nha?
– Eu, mamãe! Nem penso nisso... – Está, sim! Então, não vejo? A menina pôs-se a chorar; a mãe não falou mais nisso; e Clara, logo que pôde, mandou pelo Aristides, um molecote da vizinhança, uma carta ao modinheiro, relatando o fato. Júlio morava na estação próxima e a situação de sua família era bem superior à da sua namorada. O seu pai tinha um emprego regular na Prefeitura e era, em tudo, dife rente do filho. Sisudo, grave, sério, ia até a imponência grotesca do bom funcionário; e não seria capaz de admitir que a namorada do filho dançasse na sua sala. Sua mulher não tinha o ar solene do marido, era, po rém, relaxada de modos e hábitos. Comia com a mão, andava descalça, catava intrigas e “novidades” da vizinhança; mas tinha, apesar disso, uma pretensão íntima de ser grande coisa, de uma grande família. Além do Júlio, tinha três filhas, uma das quais já era adjunta municipal; e, das outras duas, uma estava na Escola Normal e a mais moça cursava o Instituto de Música. Tiravam muito o pai, no gênio sobran ceiro20, no orgulho fofo da família; e tinham ambição de casamentos doutorais. Mercedes, Adelaide e Maria Eugênia, eram esses os seus nomes, não suportariam de nenhuma forma Clara, como cunhada, embora desprezassem soberanamente o irmão pelos seus maus costumes, pelo seu violão, pelos seus plebeus galos de briga e pela sua ignorância crassa21. Pequenas burguesas, sem nenhuma for tuna, mas, devido à situação do pai e terem frequentado escolas de certa importância, elas não admitiriam para Clara, senão um destino: o de criada de servir. Entretanto, Clara era doce e meiga; ino cente e boa, podia-se dizer que era muito superior ao irmão delas pelo sentimento, ficando talvez acima dele, pela instrução, conquanto fosse rudimentar, como não podia deixar de ser, dada a sua condição de rapariga pobríssima. Júlio era quase analfabeto e não tinha poder de atenção suficiente, para ler o entrecho de uma fita de cinematógrafo. Muito estúpido, a sua vida mental se cifrava na composição de modinhas delambidas22, recheadas das mais estranhas imagens que a sua imaginação erótica, sufocada pelas conveniências, criava, tendo sempre perante seus olhos o ato sexual. Mais de uma vez, ele se vira a braços com a polícia por causa de defloramentos e seduções de menores. O pai, desde a segunda, recusara inter vir; mas a mãe, D. Ignez, a custo de rogos, de choro, de apelo – para a pureza de sangue da família, conseguira que o marido, o capitão Bandeira, procurasse influenciar, a fim de evitar que o filho casasse com uma negrinha de dezesseis anos, a quem o Júlio tinha feito mal. Apesar de não ser totalmente má, os seus preconceitos junto à estreiteza da sua inteligência, não permitiram ao seu coração que agasalhasse ou protegesse o seu infeliz neto. Sem nenhum remorso, deixou-o por aí, à toa, pelo mundo...
CONTO O pai, desgostoso com o filho, largara-o de mão; e quase não se viam. Júlio vivia no porão da casa ou nos fundos da chácara onde tinha gaiolas de galos de briga, o bicho mais hediondo, mais repugnantemente feroz que é dado a olhos humanos ver. Era a sua indústria e o seu comércio, esse negócio de galos e as suas brigas em rinhadeiros23. Barganhava-os24, vendia-os, chocava as galinhas, apostava nas rinhas; e com o resul tado disso e com alguns cobres que a mãe lhe dava, vivia e obtinha dinheiro para ves tir-se. Era o tipo completo do vagabundo doméstico, como há milhares nos subúrbios e em outros bairros do Rio de Janeiro. A mãe, sempre temendo que se repe tissem os seus ajustes de contas com a polícia, esforçava-se sempre por estar ao corrente dos seus amores. Veio a saber do seu último com Clara e repreendeu-o nos termos mais desabridos25. Ouviu-a o filho respeitosamente, sem dizer uma palavra; mas, julgou de boa política relatar, a seu modo, por carta, tudo à namorada. Assim escreveu: “Queridinha confesso-te que on tem quando recebi a tua carta minha mãe viu e fiquei tão louco que confessei tudo a mamãe que lhe amava muito e fazia por você as maiores violências, ficaram todos contra mim, é a razão por que previno-te que não ligues ao que lhe disserem, por isso peço-te que preze bem o meu sofrimento. Pense bem e veja se estás resolvida a fa zer o que lhe pedi na última cartinha. Saudades e mais saudades deste infeliz que tanto lhe adora e não é correspondido. O teu Júlio.” Clara já estava habituada com a redação e ortografia do seu namorado, mas, apesar
de escrever muito melhor, a sua instrução era insuficiente para desprezar um galan teador tão analfabeto. Ainda por cima, a sua fascinação pelo modinheiro e a sua obsessão pelo casamento tiravam-lhe toda a capacidade crítica que pudesse ter. A carta produziu o efeito esperado por Júlio. Choro, palpitações, anseios vagos, esperanças ne voentas, vislumbres de céus desconhecidos e encantados – tudo isso aquela carta lhe trouxe, além do halo de dedicação e amor por ela com que Clara fez resplandecer, na imaginação, as pastinhas do violeiro. Daí a dias, fez o prometido, isto é, deixou a janela do quarto aberta para que ele entrasse no aposento. Repetiu a façanha quase todas as noites seguintes, sem que ele se demorasse muito no quarto. Nos domingos, aparecia, cantava e seme lhava que entre ambos não havia nada. Um belo dia, Clara sentiu alguma coisa de estra nho no ventre. Comunicou ao namorado. Qual! Não era nada, disse ele. Era, sim; era o filho. Ela chorou, ele acalmou-a, prometen do casamento. O ventre crescia, crescia... O cantador de modinhas foi fugindo, deixou de aparecer amiúde; e Clara chora va. Ainda não lhe tinham percebido a gra videz. A mãe, porém, com auxílio de certas intimidades próprias de mãe para filha, des confiou e pô-la em confissão. Clara não pôde esconder, disse tudo; e aquelas duas humil des mulheres choraram abraçadas diante do irremediável... A filha teve uma ideia: – Mamãe, antes da senhora dizer a pa pai, deixa-me ir até à casa dele, para falar com sua mãe? A velha meditou e aceitou o alvitre26: – Vai!
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Clara vestiu-se rapidamente e foi. Rece bida com altaneira27 por uma das filhas, disse que queria falar à mãe do Júlio. Recebeu-a esta rispidamente; mas a rapariga, com toda a coragem e com sangue-frio difícil de crer, confessou-lhe tudo, o seu erro e a sua desdita. – Mas, o que é que você quer que eu faça? – Que ele se case comigo, fez Clara num só hausto28. – Ora, esta! Você não se enxerga! Você não vê mesmo que meu filho não é para se casar com gente da laia de você! Ele não amarrou você, ele não amordaçou você... Vá-se embora, rapariga! Ora já se viu! Vá! Clara saiu sem dizer nada, reprimindo as lágrimas, para que na rua não lhe des cobrisse a vergonha. Então, ela? Então, ela não se podia casar com aquele calaceiro29, sem nenhum título, sem nenhuma qualida de superior? Por quê? Viu bem a sua condição na sociedade, o seu estado de inferioridade permanente, sem poder aspirar a coisa mais simples que todas as moças aspiram. Para que seriam aqueles cuidados todos de seus pais? Foram inúteis e contraproducentes, pois evitaram que ela conhecesse bem justamente a sua condição e os limites das suas aspirações sentimentais... Voltou para casa depressa. Chegou; o pai ainda não viera. Foi ao encontro da mãe. Não lhe disse nada; abraçou-a, chorando. A mãe também chorou e, quando Clara parou de falar, entre soluços, disse: – Mamãe, eu não sou nada nesta vida. <www.dominiopublico.com.br>
VOCABULÁRIO (1) (fig.) elegância. (2) (pop.) protestante. (3) indivíduos convertidos a uma doutrina, ideia ou sistema; adeptos. (4) terraço. (5) modos de cantar ou recitar salmos. (6) (fig.) reunião. (7) cantigas populares acompanhadas de um instrumento. (8) aquele que tem acumulação anormal de líquido seroso em tecido ou cavidade do corpo. (9) provérbios. (10) (pop.) cachaça.
(11) denominação de vários jogos de cartas. (12) cabelos longos e soltos. (13) impostor, trapaceiro. (14) qualidade de pelintra (malvestido), no texto indica modo de trajar. (15) penteado em que os cabelos são puxados sobre o rosto ou testa, formando uma onda. (16) o mesmo que languidez. (17) o mesmo que estrambóticas, esquisitas, estranhas, extravagantes. (18) (fig.) aniversário. (19) membrana branca e fibrosa que reveste os globos oculares e, em sentido posterior,
se continua com a bainha externa do nervo óptico. (20) orgulhoso, arrogante, soberbo. (21) grossa, rude. (22) o mesmo que deslambidas, sem ex pressão, chochas. (23) lugar onde se promovem brigas de galo. (24) do verbo barganhar, trocar, negociar. (25) rudes, grosseiros. (26) lembrança, sugestão, proposta. (27) altivez, soberba. (28) gole, sorvo; no texto, fôlego. (29) preguiçoso, vadio.
Crítica Lima Barreto é, entre nós, na verdade, o tipo perfeito do analista social, mas um analista que combate, que não ficou como Machado de Assis, por exemplo, no círculo de uma timidez intelectual esquiva ao julgamento. Ele não se limita a mostrar todos os fundos da cena, o que vai pelos bastidores da nossa vida; toma partido, assinala os atores que falam a linguagem da verdade, mostra o que há de falso, de mentiroso na linguagem dos outros (...) não tem as delicadezas, as intenções filosóficas de Machado de Assis, veladas pelo sorriso do cético. Antes é um forte, arremete, chicoteia os vendilhões da dignidade nacional. A sua ironia não traz o sombreado pudor da de Stone, é ríspida como a de Swift, ainda mais real, porém, porque não se vale da fantasia, fá-la sentir-se na vida mesma que nos rodeia. Jackson de Figueiredo
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ARTIGO
Pequenas empresas paulistas desenvolvem novas estratégias de combate ao vírus Zika Elton Alisson
As
estratégias de combate ao vírus Zika e ao mosquito Aedes aegypti devem ganhar reforços nos próximos meses. Um grupo de seis pequenas empresas paulistas desenvolverá, com apoio da Fapesp e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), repelentes à base de novos compostos naturais e armadilhas para captura do Aedes, entre outras soluções, a fim de aumentar as barreiras contra o vetor da Zika, dengue, Chikungunya e da febre amarela. As empresas foram selecionadas em uma chamada lançada pela Fapesp e a Finep, com objetivo de selecionar propostas de projetos que visem ao desenvolvimento de tecnologias para produtos, serviços e processos voltados ao combate do vírus Zika e do mosquito Aedes aegypti. “Já vínhamos desenvolvendo o produto, independente de a nossa proposta ser selecionada na chamada. Mas, agora, com recursos da Fapesp e da Finep, o desenvolvimento deverá ser muito mais rápido”, disse Bruno de Arruda Carillo, diretor da DC Química, à Agência FAPESP. A empresa pretende viabilizar a aplicação do ramnolipídeo – um composto produzido por bactérias, como as Pseudomonas aeruginosa – como repelente. A substância já era conhecida como um biossurfactante – um composto de origem natural que possui a capacidade de reduzir a tensão superficial (elasticidade da superfície) de líquidos e emulsionar compostos com diferentes polaridades (eletronegatividade), as polares e as apolares. É utilizado na indústria, principalmente na de produtos de limpeza, como detergentes, por sua capacidade emulsionante – de unir substâncias que não se misturam, como a água e o óleo –, e na de cosméticos, entre outras. Nos últimos anos, contudo, começaram a surgir estudos relatando que a molécula também demonstra ter ação larvicida e repelente. A fim de comprovar essas propriedades propaladas do ramnolipídeo, os pesquisadores da empresa realizaram testes preliminares. Os resultados dos testes
da substância como larvicida para matar larvas do mosquito Aedes aegypti, entretanto, não foram satisfatórios. Com base nessa constatação, a empresa decidiu testar a sua aplicação como repelente. “Fizemos alguns testes iniciais e os resultados foram muito bons. Estimamos que em dois anos consigamos disponibilizar amostras para empresas interessadas a fim de viabilizar a produção de repelentes à base desse composto”, disse Carillo.
Tempo de repelência Um dos maiores desafios tecnológicos para o uso do ramnolipídeo como repelente, de acordo com o pesquisador, é fazer com que apresente ação de repelência pelo mesmo período que as matérias-primas convencionais. A molécula sintética DEET (N,N-Dietil-m-toluamida) usada na composição da maioria dos repelentes comercializados hoje no mercado brasileiro tem ação de duas horas. Já a icaridina – substância derivada da pimenta, que começou a surgir na formulação de repelentes recém-lançados no Brasil – pode ter efeito de até 10 horas, caso a temperatura não seja superior a 30 oC e a pessoa não tenha entrado em contato com água. O problema é que o DEET é tóxico e, por isso, só pode ser reaplicado três vezes ao dia, o que possibilita uma proteção total de até seis horas. Já a icaridina ainda é muito cara, comparou Carillo.
“Ainda não conseguimos atingir o tempo mínimo de repelência que desejamos, que é de duas horas. Mas estimamos que conseguiremos atingir essa meta por meio de mudanças na formulação do produto, que deverá ser um líquido”, afirmou. Já a Nanomed, uma spin-off (empresa de base tecnológica) surgida na USP, pretende fazer com que o óleo essencial do cravo-da-índia (Eugenia caryophyllata) tenha ação de repelência de oito horas. Para isso, os pesquisadores da empresa pretendem encapsular a molécula em partículas na escala nanométrica (da bilionésima parte do metro) para que a sua liberação seja controlada. Dessa forma, será possível assegurar a atividade de repelência por oito horas, o que não é possível hoje por meio das formulações convencionais. “O óleo essencial do cravo-da-índia é uma substância muito volátil [transforma-se facilmente em gás ou vapor quando exposta ao ar]. Por isso não dura muito tempo em condições normais de temperatura”, explicou Amanda Luizetto dos Santos, diretora da Nanomed. Os repelentes caseiros à base de uma mistura de óleo essencial de cravo-da-índia e álcool, por exemplo, têm ação de repelência de apenas 30 minutos, disse a pesquisadora. A fim de atingir as oito horas de ação de repelência almejada, a empresa pretende encapsular o composto natural em
ARTIGO nanopartículas que romperiam gradativamente, liberando o produto de forma controlada e modulada – a exemplo das nano e micropartículas produzidas hoje para encapsular fragrâncias de amaciantes e produtos cosméticos. “Nosso objetivo é tanto disponibilizar o ativo encapsulado como matéria-prima, como também desenvolver produtos finais à base dele, em creme e aerossol”, afirmou Santos.
Armadilha para mosquito Em vez de repelir o Aedes aegypti, a empresa Bio Controle pretende capturar e prender as fêmeas do mosquito – principalmente as grávidas – em armadilhas para inibir a reprodução e a proliferação do mosquito. Para isso, pretende utilizar compostos químicos sintéticos, como ácidos graxos, que mimetizam os odores dos humanos, além de luz com intensidade e cores específicas, para atrair os mosquitos para as armadilhas.
A ideia é que, ao se aproximar das armadilhas atraídos pelo odor exalado pelos compostos químicos sintéticos liberados de forma controlada, os mosquitos fiquem grudados em uma superfície adesiva que será colocada em torno dos dispositivos. “Já desenvolvemos e comercializamos uma série de armadilhas para o monitoramento e coleta em massa de diversos insetos que atacam culturas agrícolas utilizando feromônios [hormônios sexuais] sintéticos”, disse Mário Yacoara de Menezes Neto, diretor da empresa. “Nosso objetivo, agora, é testar outros compostos químicos sintéticos como atrativos em armadilhas para capturar o Aedes aegypti de forma mais simples e prática”, afirmou. A empresa pretende, com o apoio da Fapesp e da Finep, desenvolver protótipos de armadilhas que possam ser usadas tanto pelos agentes de saúde pública, como também pela população em geral. “Como as armadilhas deverão ser atóxicas, não necessitariam de uma regula-
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mentação específica para serem comercializadas”, estimou Menezes. Por sua vez, a empresa Barth/Inovatech pretende desenvolver um teste de diagnóstico sorológico rápido e de baixo custo para o Zika vírus, utilizando a plataforma Elisa, para disponibilizá-lo, principalmente, ao Ministério da Saúde. Para atingir esse objetivo, os pesquisadores vinculados à empresa estão modificando algumas técnicas de biologia molecular utilizadas no desenvolvimento dos testes de diagnóstico existentes hoje, que elevam o custo do processo. “Um kit de diagnóstico de Zika vírus para 100 amostras desenvolvido por uma empresa estrangeira custa no Brasil hoje entre R$ 4 mil e R$ 6 mil. Pretendemos desenvolver um teste para esse mesmo número de amostras que custe entre R$ 1,2 mil e R$ 1,7 mil”, disse Danielle Bruna Leal de Oliveira Durigon, pesquisadora responsável. Extraído de: Agência FAPESP – Divulgando a cultura científica, fev./2017.
VOCÊ SABIA QUE... ... o romance Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, é um dos livros mais traduzidos do mundo? E que o protagonista da história até mesmo se tornou um adjetivo? Miguel de Cervantes (1547-1616) publicou El ingenioso hidalgo don Quijote de Ia Mancha em 1605. O livro fez tamanho sucesso que angariou até mesmo imitadores que escreveram continuações para as hilárias aventuras do cavaleiro andante. A mais famosa delas talvez seja a de Alonso Fernández Avellaneda – provavelmente um pseudônimo. Para desmascarar esta e outras imposturas, Cervantes publicou a sua própria continuação do romance em 1615. Dom Quixote é uma paródia das aventuras de cavalaria tão em voga no século XVI. O protagonista, de tanto ler essas histórias, acaba um dia saindo de casa decidido a se tornar, ele mesmo, um nobre cavaleiro. A época, porém, não parece favorável a cavaleiros: gestos nobres são raros, inimigos valorosos, idem. Mas o que há mesmo de insólito é a falta de senso crítico no herói. Na falta de inimigos, moinhos de ventos já servem. Na falta de uma linda amada, a “atípica” Dulcineia já basta. Por mais que ele se envolva em aventuras, elas são sempre desmentidas pela dura realidade. O adjetivo “quixote” (ou “quixotesco”) caracteriza o indivíduo sonhador, romântico, nobre, mas meio desligado da realidade. Você conhece alguém que possui inúmeros planos que não são concretizados? Então você conhece um quixote!
SOBRE AS PALAVRAS
“Pode tirar o cavalo da chuva” Significa que algo vai demorar para acontecer. A frase teve origem em cidade do interior, onde o meio de transporte mais utilizado era o cavalo, pois não enguiçava, nem parava por falta de combustível. O cavalo deixava clara a intenção do visitante na chegada: se ele fosse amarrado na entrada da casa era sinal de que a visita seria breve, mas se ele fosse levado para um lugar protegido da chuva e do sol, estava claro que a visita ia demorar. Depois o sentido da expressão se estendeu para desistir de um propósito qualquer.
SERVIÇO DE VESTIBULAR
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Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) Período de inscrição: de 08 até 19 de maio de 2017. Somente via internet. Requisito: taxa de R$ 82,00. Mais informações: consultar site enem.inep.gov.br/participante Exames: dias 05 e 12 de novembro de 2017.
Universidade Presbiteriana Mackenzie (Mack) Período de inscrição: até 24 de maio de 2017. Somente via internet. Endereço da faculdade: Rua da Consolação, 930 – Consolação – São Paulo – SP – CEP: 01302-907 – Telefone: (11) 2114-8000. Requisito: taxa de R$ 100,00. Cursos e vagas: consultar site www.mackenzie.br Exame: dia 06 de junho de 2017.
Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-C) Período de inscrição: até 21 de maio de 2017. Somente via internet. Endereço da faculdade: Rua Marechal Deodoro, 1 099 – Centro – Campinas – SP – CEP: 13010-920 – Telefone: (19) 3735-5900. Requisito: taxa de R$ 90,00 para os candidatos às vagas dos cursos de Administração, Direito, Jornalismo e Psicologia; taxa de R$ 45,00 para os candidatos dos demais cursos. Cursos e vagas: consultar site www.puc-campinas.edu.br Exames: dia 02 de junho de 2017 – prova específica para o curso de Direito; dia 03 de junho de 2017 – prova geral.
Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP) Período de inscrição: até 10 de maio de 2017. Somente via internet. Endereço da faculdade: Rua Itapeva, 432 – Bela Vista – São Paulo – SP – CEP: 01332-000 – Telefone: 0800 770 0423. Requisito: taxa de R$ 150,00.
Cursos e vagas: consultar site www.fgv.br/processoseletivo Exame: dia 04 de junho de 2017. Leituras obrigatórias: • “A hora e vez de Augusto Matraga” (do livro Sagarana) – João Guimarães Rosa. • Capitães da Areia – Jorge Amado. • Claro enigma – Carlos Drummond de Andrade. • Macunaíma – Mário de Andrade. • Memórias de um sargento de milícias – Manuel Antônio de Almeida. • Memórias póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis. • O Ateneu – Raul Pompeia. • O cortiço – Aluísio Azevedo. • Til – José de Alencar. • Vidas secas – Graciliano Ramos.
Universidade Estadual de Maringá (Uem) Período de inscrição: até 10 de maio de 2017. Somente via internet. Endereço da faculdade: Av. Colombo, 5 790 – Jd. Universitário – Maringá – PR – CEP: 87020-900 – Telefone: (44) 3011-4040. Requisito: taxa de R$ 146,00. Cursos e vagas: consultar site www.vestibular.uem.br Exames: de 16 a 18 de julho de 2017. Leituras obrigatórias: • Antologia poética – Carlos Drummond de Andrade. • Contos novos – Mário de Andrade. • Dois irmãos – Milton Hatoum. • Eu e outras poesias – Augusto dos Anjos. • Iracema – José de Alencar. • Negrinha – Monteiro Lobato. • Melhores poemas – Cecília Meireles. • Memórias póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis. • O rei e a vela – Oswald de Andrade. • Sermões do Padre Vieira – Padre Antônio Vieira.
Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) Período de inscrição: até 22 de maio de 2017. Somente via internet. Endereço da faculdade: Rua Imac. Conceição, 1 155 – Prado Velho – Curitiba – PR – CEP: 80215-901 – Telefone: (41) 3271-1515. Requisito: taxa de R$ 65,00 até o dia 11 de maio de 2017, após essa data, taxa de R$ 90,00. Cursos e vagas: consultar site www.vestibular.pucpr.br Exame: dia 28 de maio de 2017. Leituras obrigatórias: • Obras literárias: __ Contos de Belazarte – Mário de Andrade. __ Felicidade clandestina – Clarice Lispector. __ Inocência – Visconde de Taunay. __ O pagador de promessas – Dias Gomes. • Obras de Filosofia: __ O princípio responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização tecnológica – Hans Jonas. __ Apologia de Sócrates – Platão. __ Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens – Jean Jacques Rousseau.
Universidade Regional de Blumenau (Furb) Período de inscrição: até 15 de maio de 2017. Somente via internet. Endereço da faculdade: Rua Antônio da Veiga, 140 – Itoupava Seca – Blumenau – SC – CEP: 89012-900 – Telefone: (47) 3321-0200. Requisito: taxa de R$ 90,00. Cursos e vagas: consultar site www.acafe.org.br Exame: dia 11 de junho de 2017. Leituras obrigatórias: • As fantasias eletivas – Carlos Henrique Schoereder. • Auto da Compadecida – Ariano Suassuna. • Esaú e Jacó – Machado de Assis. • Olhos d’água – Conceição Evaristo. • Quarenta dias – Maria Valéria Rezende.
(ENTRE PARÊNTESIS)
Mais um de vestibular Se a semana tivesse apenas cinco dias, de segunda a sexta-feira, e se o dia 1o de julho de um certo ano fosse terça-feira, o dia 1o de janeiro do ano seguinte seria: a) segunda-feira c) quarta-feira e) sexta-feira b) terça-feira
d) quinta-feira
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RESPOSTA Alternativa A Precisamos saber que julho, agosto, outubro e dezembro têm 31 dias, e setembro e novembro, 30 dias. Logo, 1o de janeiro é o 185o dia a partir do dia 1o de julho. Terça-feira: 1o dia, 6o dia, ... ; quarta-feira: 2o dia, 7o dia, ... ; quinta-feira: 3o dia, 8o dia, ... ; sexta-feira: 4o dia, 9o dia, ... ; segunda-feira: 5o dia, 10o dia, ... . Como 185 é múltiplo de 5, vemos que o 185o dia seria uma segunda-feira.
Jornal do Vestibulando
Jornal ETAPA, editado por Etapa Ensino e Cultura REDAÇÃO: Rua Vergueiro, 1 987 – CEP 04101-000 – Paraíso – São Paulo – SP JORNALISTA RESPONSÁVEL: Egle M. Gallian – M.T. 15343